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PENGUIN & COMPANHIA DAS LETRAS ADAM SMITH A MAO INVISIVEL GRANDES IDEIAS u. @ Canon A mao invisivel ‘ADAM sai nasceu em 1725 em Kirkaldy, na Esedcia, Con- siderado o pa da economia modema e o mais importante ted rico do liberalismo econémico,estudow no Balliol College, na Universidade de Oxford, foi por muitos anos professor de filosofia moral na Universidade de Glasgow. Uma das peinci- pais figuras, ao lado de David Hume, da Iustragdo escocesa, @ auror de Uma investigagdo sobre a maturesa e a causa da riqueza das nacdes, ou simplesmente A riqueza das nagies, sua obra mais conhecida, na qual procurou demonstra que 3 prosperidade das nagdes resulta da atuagio de individuos que, rmovidos sobretudo pelo seu proprio ineresse (slfintevest), ‘promovem o crescimento econdmico e a inovagio teenolgica, [A partir de 1778 vorna-se comissiio da alfandega escocesa, fem Baimburgo, onde ver a falecer em 1790, PAULO GEIGER nasceu no Rio de Janeiro, em 1935. Formou- seem design pela Escola Superior de Desenho Industrial, da Universidade do Fstado do Rio de Janeiro. editor de obras de referencia e tabalhon como editor executivo, entre outras, das enciclopéias Delta-Larousse, Delta universal, Barsa, Mi. zador internacional e,entte outros, dos dicionsrios Koogan Larousse, Caldas Aulete, Auréli, Aulete digital, B ainda ta ator do inglés edo hebraico, do qual verteu para 0 portugues ‘obras de Ams Or e David Grossman, Adam Smith A mao invisivel Traducdo de PAULO GEIGER PENGUIN Conran DS aT Copyright © 2015 by Penguin — Companhia das Latest Penguin ad the asoisted logo and tae dre aereaistered andor uorevsteed wademrks of Penguin Books Limited andor Penn Group (Usa Ibe, Used with perio, Published by Compania das tates in association with Penguin Group (USA In. Graf atualicede segundo o Acondo Ortgsiio da Lingus Portuguesa de 19904 gue enon om vigor mo Bas om 2005. revo onscteat ‘The Ivisbie Hand "Ral Looeiro, Claudia Wares Osralda Taghavi Fitho svvistortenica linda Cher Konig ‘Ana Maia Basbous “ane Psion Dal gers de Cato ne Paige) Chaar rcs dott na ‘Ante sviaie/ Adam Smiths ro Palo Geis, sgh iets Cope “Tel cgi The oie and osm coon Tadic para alog auon boul "Todo dics dst igo reservados 3 ua Handees Polina, 795 32 “elton: tt 3767-3500 Foxe) 3707-3501 "wi penguincompenhis come smaompanhiadistratcombe “www blopdacompaahicom be Sumario A divisio do teabstho (0 principio da divisio do trabalho (0 principio do sistema mercantl [estrigges & importacio de mercadorias, ‘A rracionalidade das restrigBes Os sistemas agricolas 4 5s % es 1 A divisdo do trabalho ‘© maior progresso na capacidade de produgio do traba- Iho, ea maior parte do talento, aptidio e ritério com os 4quais ele € conduzido ou aplicado em toda parte, pare ‘com ter sido o efeito da divisio do trabalho. (0s efeitos da divisio do trabalho nas atividades em _geral da sociedad serio mais facilmente compreendidos se considerarmos de que maneira essa divisao atua de forma especifica em algumas manufaturas. Comumen- te, supde-se que ela tenha avancado a0 mais alto grau em manufacuras menores; nfo talver que esteja real- mente mais presente nestas do que em outras de maior importancia; mas nestas manufaturas menores, que se destinam a suprir as pequenas demandas de ndo mais, que um reduzido geupo de pessoas, o niimero total de trabalhadores ter necessariamente de ser pequeno; ¢ 05 que sio empregados em cada diferente setor podem ser reunidos com frequéncia no mesmo local de trabalho” c estar todos a um s6 tempo a vista de um observador. Nas grandes manufaturas, a0 contrario, que se desti- nam a suprir as altas demandas de um elevado con- * “Workbouse” no original, “easa de trabalho", que pode se refere, neste contexto, a um lugar onde pessoas pobres viviam. ‘ceram mantidas com dinheiro public, e onde compulsoria- mente trabalhavam. (N.T.) tingente de pessoas, cada diferente setor emprega um niimero tio grande de teabalhadores que € impossivel reuni-los todos num mesmo local de trabalho, Rara- mente seri possivel ver, ao mesmo tempo, um nime- ro maior do que o dos empregados que trabalham num tinico setor. Embora em tais manufaturas, portanto, © trabalho possa de fato ser dvidido em um niimero mui to maior de partes do que nas manufaturas de menor porte, essa divisio nao é tio dbvia assim e, por conse- suite, tem sido muito menos observada. Tomemos, pois, um exemplo de uma manufatura de pporte muito pequeno, mas na qual tenha sido frequente~ mente observada a divisio do trabalho: a atividade do fabricame de alfinetes; um trabalhador ado adesteado para essa ocupagio (que a divisio do trabalho transfor ‘mou numa atividade especific}, nao familiarizado com (uso da maquinaria nela empregada (cuja invengio foi provavelmente suscitada por essa mesma divisao do tra- batho), mal poderia ralvez, usando toda a sua aptidio, fazer um alfinete por dia, €certamente nao conseguiria fazer vinte. Mas da maneira com que essa atividade € hoje conduzida, nfo 56 todo esse trabalho constitu uma atividade especifica como também é dividido em certo niimero de setores, dos quais a maior parte é composta igualmente de atividades especifcas. Um homem desen- rola o fio de ago, outro o faz ficar reto, um rerceiro 0 corta, um quarto Ihe faz uma ponta, um quinto 0 es merila para receber a cabeca; fazer a Cabeca requer trés la no alfinete é uma atividade es a5 branquear 0 alfinete, outra; até mesmo embalar ‘5 alfinetes num papel & uma atividade por si mesma; a importante atividade de fazer um alfinete €, dessa forma, dividida em cerca de dezoito operagées difezen tes, que, em algumas manufaturas, so realizadas por pessoas distintas, embora em outras, is vezes, © mes mo homem realize duas ou trés delas. Conheci uma pe- ‘quena manufatura desse tipo que empregava apenas dea homens, e onde alguns deles, consequentemente, reali- zavam duas ou trés operagdes diferentes cada um. Mas apesar de serem muito pobres, e portanto s6 sofrivel- mente equipados com a maquinaria necesséria, eles po- diam, quando se esforcavam, produzir entre si cerca de doze libras’ de alfinetes por dia. Uma libra pode conter até 4 mil alfinetes de tamanho médio. Essas dez pessoas, portanto, podem produzir entre clas até 48 mil alfine- tes por dia. Assim, pode-se considerar que cada pessoa, produzindo uma décima parte de 48 mil alfinetes, pro- dduz 4800 alfinetes. Mas se tivessem trabalhado separada «c independentemente, ¢ sem que nenhuma delas tivesse sido treinada para essa atividade especifica, com certe= 2a nao poderia, cada uma delas, produzir vinte, talvez rem mesmo um alfinete por dias ou seja, com certeza io a 240* parte, talvez nem mesmo a 4800" parte da quantidade que slo agora capazes de atingir, como con sequéncia de uma divisio do trabalho e da combinagao apropriada das diferentes operagoes. Em qualquer outro oficio ou manufatura, os efeitos da divisio do trabalho sio semelhantes a esses verifica- dos nos de porte bem pequeno, ainda que, em muitos eles, o trabalho ndo possa ser 120 subdividido, nem re~ duzido a uma simplicidade to grande de operacio. No tentanto, a divisio do trabalho, quando pode ser imple- mentada, acarreta, em cada oficio, um ineremento pro- porcional da capacidade produriva. A separacao entre as diferentes atividades e os diferentes empregos parece ter ocorrido em consequéncia dessa vantagem, Essa se- paragio, inclusive, € geralmente levada ao extremo nos paises que desfrutam de um grau mais alto de industriali- zagio progresso; aquilo que constitui o erabalho de um linico homem numa sociedade em estigio rudimentar € * Uma libra equivale acerca de 450 gramas de alfinets. (8-1) normalmente dividido entre virios numa mais desenvol- vida. Em toda sociedade desenvolvida, um agricultor em geral nao & nada além de um agricultor. O manufator, nada além de um manufator. O trabalho necessério para produzir qualquer manufarurado completo é quase sem- pre dividido entre um grande nimero de trabalhadores, Como siio numerosas as diferentes atividades em cada setor da manufarura do linko e da li, desde os que cul- tivam a fibra © a Id até os que branqueiam e amaciam © lino, ou os que tingem e dio acabamento ao tecido! De fato, a natureza intrinseca da agricultura néo admie tantas subdivisbes do trabalho, nem uma separacio tio completa entre uma atividade e ourra, tal como 0 faz a :manufatura. Eimpossivel separae tio inteiramente a ocu- pacio do criador do gado de engorda da do cultivador dle trigo como se pode fazer comumente com relacéo a do carpinteiro et do ferreico. O fandeiro © 0 tecelio sio quase sempre pessoas distintas; mas o arador, 0 grada- dor, o semeador e 0 ceifador do trigo so frequentemente a mesma pessoa. Como esses diversos tipos de trabalho ‘ocorrem em diferentes estagOes do ano, seria impossivel que um homem fosse empregado de mancira constante em qualquer um deles. Essa impossibilidade de estabe- lecer uma separacio tio completa de todas as diferen tes etapas do trabalho aplicado na agricultura é talvez 0 motivo pelo qual o incremento da capacidade produtiva do trabalho nesse oficio nem sermpre acompanha o ritmo de seu incremento na manufatura. Com efeito, as nagées mais opulentas em geral superam todos os seus vizinhos tanto na agricultura quanto na manufatura, mas normal- mente destacam-se mais por sua superioridade nesta do ‘que naquela. Em geral, suas terras sio mais bem culti- vadas, e por terem mais trabatho e mais recursos apli- cados nelas, produzem mais do que seria esperado em proporcio & extensao das rerras e fertilidade do solo. Mas essa superioridade na produgio raramente excede, ‘em termos proporcionais, a superioridade do trabalho € dos recursos aplicados. Na agricultura, 0 trabalho nos paises ricos nem sempre é muito mais produtivo do que nos paises pobres; ou, pelo menos, nunca é tio mais pro- ddutivo quanto habitualmente é no caso da manufatura. Portanto, considerando © mesmo nivel de qualidade, 0 ‘igo dos paises ricos nem sempre chegaré mais barato no mercado do que o dos paises pobres. O trigo da Polonia, levando em conta o mesmo nivel de qualidade, € to ba- ‘ato quanto o da Franga, a despeito da maior opuléncia e igrau de desenvolvimento desta ltima. O trigo da Fran- 62, nas provincias produtoras de tal cereal, € tio bom quanto o trigo da Inglaterra, ¢ na maioria dos anos tem aproximadamente o mesmo prego que este, embora, em ‘opuléncia e desenvolvimento, a Franga talvez sea inferior Inglaterra, Os campos de trigo da Inglaterra, contudo, sio mais bem culkivados que os da Franga, e considera-se ‘que os campos de trigo da Franca s20 mais bem culti- vvados que os da Polénia. Mas embora um pais pobre, a despeito da inferioridade de seu cultivo, possa em certa medida competir com um pais rico quanto ao baixo pre- {g0.€ & boa qualidade de seu cereal, ele nao pode preten- der ser tio competitivo no que tange a suas manufaturas, pelo menos se essas manufacuras forem compativeis com (© solo, o clima e a lacalizagio do pais rico. As sedas da Franga sio melhores ¢ mais baratas que as da Inglaterra porque a manufatura da seda, 20 menos no atual regime de altas taxas sobre a importagio da matéria-prima para © produto, nio é to compativel com o clima da Inglaer- ra quanto 0 é com o da Franca. Mas os equipamentos as 13s em estado bruto da Inglaterra sao incomparavel ‘mente superiores aos da Franca, ¢ também muito mais baratos para 0 mesmo nivel de qualidade. Na Poldnia, sabe-se, sio raras as manufavuras de qualquer tipo, com cexcegao de algumas manufacuras domésticas eudimenta- res, sem as quais nenhum pais pode bem subsistir. Esse grande incremento na quantidade de atividades ‘que, em consequéncia da divisio do trabalho, 0 mesmo nimero de pessoas & eapaz de realizar deve-se a tréscit- cunstincias diferentes; primeiro, ao aumento da aptidio de cada trabalhador em particular; segundo, & economia do tempo que comumente se perde a0 se passar de wm tipo de ocupacdo para outros ¢,finalmente, a invengao dde um grande niimero de maquinas que facilitam e abre- viam 0 trabalho, e permitem que um homem realize a tarefa de muitos. Primeiro, a melhora na aptidio do teabalhador vai inevitavelmente aumentar a quantidade de trabalho que cle pode realizar; e a divisio do trabalho, ao reduzie a atividade de cada homem para uma inica operacao sim ples, e a0 fazer dessa operagio a tnica ocupagio em sua Vida, vai necessariamente aumentar muico a aptidio des- se trabalhador. Um ferreiro comum, que, embora acos- tumado a manejar o martelo, nunca foi empregado para fazer pregos, se em alguma ocasido especifica for obriga- doa tenté-lo, difcilmente, estou convencido, sera eapaz de fazer mais de duzentos ou trezentos pregos por dia, ¢ ‘mesmo estes serio de muito ma qualidade. Um ferreito {que se acostumou a fazer pregos, mas cuja tinica ou prin

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