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CAPÍTULO 2
TRATAMENTOS TÉRMICOS
2.1 – GRANULAÇÃO GROSSEIRA
Antes de abordarmos sobre os tratamentos térmicos, convém dizer algo a respeito de dois
fenômenos que ocorrem a temperaturas elevadas: o crescimento dos grãos e a recristalização
dos grãos deformados por um trabalho mecânico.
Quando o aço, durante o aquecimento, atravessa a zona crítica, ocorrem, em ordem inversa
os fenômenos que se deram durante o esfriamento.
Um aço que permanecer muitas horas a alguns graus acima da zona crítica, pode adquirir
uma textura de grãos grandes da mesma forma que um aço que tiver permanecido pouco
tempo a temperaturas elevadas (sem contudo ultrapassar a linha SOLIDUS).
Pelo resfriamento (como já foi dito anteriormente) os grãos de austenita transformam-se em
grãos de perlita e ferrita, ou de cementita, cujas dimensões e disposições dependem em parte
do tamanho que tinham os grãos de austenita que lhes deram origem.
O crescimento dos grãos pode também ser estimulado por certas impurezas tais como o
silício e o fósforo, quando em teores mais altos do que os habitualmente tolerados.
Outros elementos, como por exemplo o níquel, retardam esse fenômeno.
A granulação grosseira torna o material quebradiço porque a coesão entre os grãos é afetada
pela concentração de impurezas nos seus contornos e, com aumento da granulação há um
aumento dessa concentração devido à diminuição da área desses contornos.
As fissuras também se propagam mais facilmente no interior dos grãos graúdos em virtude
dos planos de clivagem serem mais extensos.
Por isso, entre os aços de igual composição, os de grãos mais finos possuem melhores
propriedades mecânicas. A figura 17 mostra com bastante clareza, a influência da
temperatura e do tempo sobre o tamanho dos grãos.
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Figura 16
Um aço superaquecido, isto é, que apresenta granulação grosseira, pode ser “regenerado”,
isto é, pode retornar sua granulação normal, mediante tratamentos térmicos adequados. Mas
no aço “queimado” sua regeneração não é mais possível, visto que, o superaquecimento,
ocorreu a temperaturas vizinhas da linha SOLIDUS. O aço torna-se quebradiço,
apresentando, às vezes, oxidação nos contornos dos grãos: o aço então diz-se “queimado”.
Os trabalhos mecânicos realizados a quente (forjamento, laminação, etc.), acima da zona
crítica, permitem a recristalização dos grãos deformados sob a forma de novos pequenos
grãos de modo que, terminado o trabalho mecânico, o material não apresenta grãos
deformados. O aço pode, por isso, ser deformado sucessivamente sem perder suas
propriedades plásticas. Como no decorrer das operações a peça vai resfriando, é preciso que a
temperatura de aquecimento seja inicialmente de 200º a 300ºC acima do limite superior da
zona crítica do aço que se está trabalhando.
O tamanho dos grãos tem importância extraordinária nas propriedades de certas peças, não só
de aço, mas também de outros metais. Quando precisa-se obter peças estampadas, como por
exemplo o refletor do farol de um automóvel, se a granulação for grosseira, a superfície
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ficará rugosa como casca de laranja, e não uma superfície perfeitamentamente lisa como seu
acabamento exige.
Os próprios pára-lamas e partes da carroceria necessitam de um aço com tamanho de grãos
adequados para que as chapas de aço tenham a ductilidade que a estampagem profunda
requer.
Figura 18
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Figura 19
A têmpera consiste, em regra, no aquecimento da peça até acima da zona crítica, seguido de
um resfriamento rápido em água, óleo, etc. Seu objetivo é, em geral, aumentar a dureza do
aço e tornar mais elevado o seu limite de escoamento e sua resistência à tração, à compressão
e ao desgaste. A resistência elétrica também se eleva. Em consequência da têmpera,
diminuem porém, a resistência ao choque, ao alongamento, à estrição, a dutilidade, etc.
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A têmpera dá ainda aos aços duros a faculdade de manter melhor o magnetismo, isto é,
conservar-se imantado mais fortemente, depois de submetido a um campo magnético. Por
isso, são de aço temperado os imãs permanentes, as agulhas das bússolas, etc.
O revenido consiste em reaquecer a peça temperada até uma temperatura conveniente, abaixo
da zona crítica, e esfriá-la novamente. É praticado com o intuito de corrigir certos defeitos da
têmpera, quando se manifesta uma dureza, ou fragilidade, excessivas ou quando se receiam
tensões internas perigosas. Com o revenido diminuem-se progressivamente a dureza, o limite
de resistência, o limite de escoamento, mas aumenta o alongamento, a estrição e a resistência
ao choque.
2.3 - RECOZIMENTO
O recozimento apaga, por assim dizer, as texturas resultantes de tratamentos térmicos ou
mecânicos anteriormente sofridos pelo material porque, ao se passar pela zona crítica, este se
recristaliza sempre sob a forma de grãos normais de austenita, qualquer que seja a textura que
apresente antes de atingir a referida zona, no aquecimento. Portanto, com esse tratamento, os
aços readquirem suas propriedades e texturas normais.
Para o recozimento ser bem feito, torna-se necessário levar em conta os seguintes fatores:
a) Aquecimento
É preciso que as peças sejam aquecidas quando possível, uniformemente e que, acima da
zona crítica não fiquem partes da peça a temperaturas muito mais altas que outras. O
aquecimento ou resfriamento desigual pode entortar as peças.
b) Temperatura de recozimento
Para cada teor de carbono existe uma temperatura a mais adequada, que é da ordem de
50ºC acima do limite superior da zona crítica.
c) Tempo de permanência a essa temperatura
Convém esperar pelo menos alguns minutos no caso de peças pequenas ou delgadas até
que sua textura tenha passado integralmente a uma solução sólida homogênea. Nas peças
maiores, mais grossas, deve-se esperar ainda que a parte central atinja a temperatura
desejada. Recomenda-se, para isso, 20 minutos de permanência a temperatura para cada
centímetro de espessura da peça.
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d) Atmosfera do forno
Se a atmosfera do forno for oxidante, isto é, tiver tendência para formar muita casca de
óxido nas peças, procura-se diminuir o acesso de ar. A mesma providência se impõe no
caso de peças grandes que precisam permanecer muito tempo no forno, ou de peças cuja
descarbonetação superficial possa ser um inconveniente. A descarbonetação superficial
prejudica, seriamente, nos casos de arestas de corte, superfície de estampas, molas,
engrenagens, pois as partes que contêm menor teor de carbono endurecem menos pela
têmpera.
e) Esfriamento lento
Este se consegue deixando as peças pequenas esfriar no forno. As peças grandes podem
ser imersas na cal em pó, areia seca, cinza ou qualquer meio que assegure um resfriamento
lento, desde o momento em que saem do forno. Esse esfriamento deve ser tanto mais lento
quanto maior for o teor de carbono. Os aços de baixo teor de carbono, cerca de 0,3%,
podem ser esfriados ao ar tranquilo; os de teores mais alevados devem ser esfriados no
forno, especialmente se forem peças pequenas. Peças volumosas e compactas, embora
com teor alto de carbono, podem muitas vezes ficar expostas ao ar tranquilo sem ser
inconveniente, em virtude da lentidão com que sua temperatura cai.
Figura 20
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O endurecimento que essas velocidades de resfriamento poderão produzir nas citadas peças,
dependerá das características de temperabilidade do aço que cada uma é feita, isto é,
dependerá da sua composição química, quantidade e distribuição de inclusão, etc.
Na prática, o problema não pode ser solucionado de modo rigoroso, pois cada aço tem
característica de temperabilidade própria e exigiria a determinação de um diagrama de
transformação exclusivo para ele. Traçam-se, então, diagramas para aços de uma certa
categoria, e esses diagramas são utilizados para representar aproximadamente, o
comportamento dos aços dessa categoria.
Nos tratamentos com resfriamento contínuo observa-se uma transição gradual de dureza
entre as partes endurecidas e as não endurecidas. Pode-se então adotar o meio dessa faixa de
transição como o limite da zona endurecida.
Figura 21
A espessura da parte endurecida recebe o nome de profundidade de endurecimento, e se
fixarmos as condições de resfriamento (dimensões e forma da peça e meio de têmpera),
ela pode ser utilizada como uma indicação da temperabilidade do material).
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Figura 22
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Os aços doces e extra-doce não endurecem pela têmpera e os valores obtidos são também
muito variáveis. Na figura abaixo, é apresentado um exemplo prático do que acaba de ser
exposto: o tratamento térmico de enxadas calçadas. A lâmina aquecida até cerca de 800ºC,
é parcialmente mergulhada na água. Com esse tratamento a faixa temperada endurece
apenas na camada constituída por aço com teor de carbono mais alto. A parte de aço doce
praticamente não endurece por serem insuficientes não só o teor de carbono (0,1 a 2%),
como também a temperatura de têmpera para esse aço.
A lâmina é em seguida submetida a um revenido para atenuar a fragilidade da região
temperada.
Figura 23
2.6.4 – Têmpera dentro da zona crítica
Dentro da zona crítica, quer no aquecimento, quer no resfriamento, há sempre a presença de
austenita e um outro constituinte que é a ferrita ou a cementita, conforme o teor de carbono
do aço. Se a têmpera se der nessa ocasião, encontrar-se-ão na peça temperada, além dos
constituintes comuns da têmpera (martensita, ou martensita e troostita), áreas de ferrita ou
de cementita, as quais praticamente não se alteram pelo resfriamento brusco.
A questão do deslocamento da zona crítica para cima, no aquecimento, e para baixo, no
resfriamento, assunto já abordado, tem aqui uma importância capital.
As figuras 25, 26 e 27, mostram um exemplo baseado em resultados experimentais de um
estudo feito com aço comum de cerca de 0,5% de C. As duas temperaturas A e B, feitas
respectivamente nas temperaturas de 700 e 735ºC, deram origem as texturas representadas.
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Figura 24
Figura 25
Figura 26
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Na figura 26 vê-se a rede de ferrita, que estava formada em torno da austenita no momento
de têmpera, ao passo que na figura 27, nota-se, pelos contornos côncavos da ferrita, que
esta, estava sendo absolvido pela temperatura.
Se a têmpera tivesse sido feita a 735ºC, a textura seria totalmente martensítica, porque a
essa temperatura o aço ainda estaria acima da zona crítica e, portanto, austenítico.
Por outro lado, se a têmpera B tivesse sido feita a 700ºC, a textura do aço continuaria
inalterada, isto é, constituída de ferrita. A dureza BRINELL no primeiro caso seria da
ordem de 660 e no segundo, aproximadamente 200.
Os aços temperados dentro da zona crítica não apresentam grande interesse prático,
porque a dureza atingida é menor e em geral irregular. O motivo que nos leva a abordar o
assunto com certa minúncia é a necessidade de chamar a atenção não só para a influência
de pequenas variações de temperatura como quando a temperatura de têmpera possa estar
entre os limites em que pode variar a zona crítica. É preciso saber se essa temperatura foi
atingida por aquecimento ou resfriamento de temperaturas acima da zona crítica.
2.7 – REVENIDO
A têmpera modifica profundamente as propriedades dos aços; algumas delas tomam valores
altos: a dureza, a resistência à tração, etc. Nas outras como a resistência ao choque e o
alongamento, caem a valores muito baixos. Além disso, o material fica com tensões internas
apreciáveis. O revenido é o tratamento que vem corrigir esses inconvenientes, restituindo ao
aço grande parte das propriedades perdidas sem afetar muito aquelas visadas pela têmpera.
A resiliência (capacidade de armazenar energia na fase de deformação elástica), a flexão ou a
torsão e a resistência ao choque, são elevadas notadamente pelo revenido. Por esta razão
costumam ser temperadas e revenidas quase todos os tipos de molas. Assim podem suportar
cargas e deformações maiores do que com qualquer outro tratamento, sem se romper e,
retirada a carga, voltar praticamente a forma primitiva.
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Figura 27
O conjunto A representa 3 molas de forma idênticas, feitas do mesmo aço, sendo a
primeira, temperada (T); a segunda, temperada e revenida (TRv) e a terceira, recozida
(Rc). Antes da experiência, elas eram do mesmo comprimento.
Submetidas a uma pequena carga, as três se alongam igualmente (conjunto B) e,
descarregadas, voltam ao tamanho inicial.
Aplicando-se-lhes uma carga maior, da ordem do escoamento da mola recozida, esta se
alongará muito mais do que as duas primeiras, cujas distensões serão iguais. Retiradas as
cargas, verificar-se-á (conjunto C) que as duas primeiras voltaram ao seu comprimento
inicial, enquanto a mola, no estado recozido, apresenta uma deformação permanente
bastante pronunciada, o que desaconselha o seu uso para esse fim.
O conjunto D mostra o que sucede com as duas primeiras, quando sujeitas a cargas ainda
mais elevadas: a mola temperada e revenida começa a distender-se um pouco mais do que
a temperada, em virtude de um pequeno escoamento das fibras externas, ao passo que a
mola simplesmente temperada, rompe-se bruscamente.
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Do conjunto D (figura 28) depreende-se também que, para cargas dessa ordem, a mola
temperada exige um esforço maior do que a revenida para alongar-se igualmente.
Removida a carga da mola revenida, notar-se-á um pequeno alongamento permanente que,
na maioria dos casos, não chega a inabilitá-la para seu uso, a deformação permanente que
ela agora apresenta, não aumentará se ela for submetida a cargas inferiores àquelas que a
causou.
A quebra prematura da mola temperada provém do seu baixo alongamento que não
permite escoamentos para redistribuição de tensões, de modo que os pontos solicitados na
superfície rompem, produzindo zonas com concentrações de tensões ainda maiores devido
a redução de secção junto as fissuras. Isto ocorre particularmente nos casos de flexão e de
torsão nos quais as tensões máximas se localizam nas fibras externas da peça. Defeitos
como pequenas trincas estorvam a fratura que, uma vez iniciada, se prolonga
instantaneamente a toda secção.
O aço revenido, além de apresentar tensões residuais consideravelmente menores, possui
certa capacidade de alongar-se e, assim, antes de a fibra mais solicitada romper-se, ela se
alonga, descarregando parte das tensões às fibras vizinhas menos solicitadas.
2.7.1 – Cores do revenido
Aquecendo-se em presença do ar, uma peça de aço limada, polida, ou simplesmente
esmerilhada, verificamos que se forma na sua superfície uma película de óxido que, no
início, é muito fina e decompõe-se, à luz, de modo a dar uma certa coloração à peça. Esta
coloração que ocorre entre mais ou menos 220 e 320ºC para os aços carbono, depende da
espessura da película a qual, por sua vez, é função da temperatura da peça.
Pode-se assim, avaliar aproximadamente a temperatura que está atingindo o aço ou a que
atingiu, pois a coloração que correspondente à temperatura máxima, permanece depois de
resfriado. Essas cores aparecem nos aços comuns em qualquer estado; são chamados “cores
do revenido” porque dão indicações úteis nesse tratamento. Nos aços-liga com certa
resistência à oxidação, essas cores aparecem em temperaturas mais elevadas, conforme o
seu grau de inoxidabilidade.
Em certas ferramentas, como os ponteiros com que são desbastados os blocos de granito, os
operários aquecem numa forja e, temperam somente a ponta em água fria. Logo que a
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ponta se esfria, passa-se uma parte desta, rapidamente, no esmeril para obter uma superfície
do metal isenta de óxido. O calor armazenado no corpo da ferramenta vai pouco a pouco se
propagando até a ponta temperada que sofre, com isso, um revenido cuja temperatura pode
ser acompanhada pelas cores que, sucessivamente, apresenta a parte recém-esmerilhada.
Atingida a temperatura desejada, mergulha-se a peça toda em água, esfriando-a depressa
para que o revenido não prossiga. Esta operação não tempera o corpo da peça porque nesse
momento já está abaixo da zona crítica.
A tabela a seguir dá uma relação aproximada entre a temperatura e a coloração
correspondente.
As cores do revenido são válidas para um tempo determinado da ação do calor. Um
aquecimento demasiadamente prolongado, efetuado a temperatura de revenido
relativamente baixa, produz quase os mesmos efeitos que um aquecimento breve a
temperatura de revenido alta.
São as chamadas cores do revenido, às vezes, empregadas nas oficinas onde se procede a
têmperas seguidas de um revenido a baixa temperatura.
CORES PARA FORJAR CORES PARA REVENIR
Cores - Temp. em graus Cores - Temp. em graus
CELSIUS CELSIUS
Castanho escuro 550º Amarelo pálido 200º
Castanho amarelado 630º Amarelo palha 220º
Rubro escuro 680º Amarelo escuro 230º
Rubro cereja escuro 740º Castanho 240º
Rubro cereja 770º Carmim 250º
Rubro cereja claro 800º Castanho violeta 260º
Rubro claro 850º Púrpura 270º
Rubro muito claro 900º Violeta 280º
Laranja 950º Azul escuro 290º
Amarelo 1000º Azul 300º
Amarelo claro 1100º Azul claro 310º
Branco amarelo 1200º Azul cinzento 320º
Branco 1300º Cinzento 330º
Estas cores aparecem em toda Estas cores aparecem na superfície do
a massa do metal metal
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Figura 29
No caso da dureza BRINELL, as curvas da figura 30 apresentada exemplificam o exposto.
Os valores aí representados devem ser interpretados da seguinte maneira:
• a curva dos aços temperados representa a dureza máxima que se pode obter com
cada aço. Tratando-se de aço carbono, esses valores são alcançados pela têmpera de
peças pequenas em água. Para certos tipos de aço-liga, esses valores podem ser obtidos
em peças maiores.
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• a curva dos aços recozidos é válida para os aços comuns em peças de qualquer
tamanho porque sempre é possível resfriar lentamente tanto uma peça grande como uma
pequena. Representa um valor aproximado porque só estão aí considerados os teores de
carbono. Os teores de manganês, silício e fósforo e o tamanho dos grãos introduzem
pequenas alterações nesses valores.
• a curva das durezas mínimas se refere ao estado completamente coalescido. Essa
curva se afasta mais dos valores dos aços recozidos, para aços com teores mais elevados
de carbono, porque então há mais carboneto para coalescer. Para os aços carbono, os
valores entre duas primeiras curvas podem provir dos seguintes tratamentos: têmpera
branda (martensita e troostita); têmpera dentro da zona crítica (martensita e ferrita);
têmpera com tempo insuficiente de aquecimento (martensita e ferrita); têmpera e
revenido (sorbita); normalização (troosto-perlita) e encroamento (grãos deformados) ou
combinações desses tratamentos. Excluída a presença de elementos de liga, cuja
interferência às vezes complica a investigação da causa da dureza, as demais causas
apontadas, inclusive possível heterogeneidade provenientes de concentrações locais, são
em geral, detectáveis pelo exame metalográfico.
2.10 – COALESCIMENTO
Quando a temperatura de revenido se aproxima muito da zona crítica e permanece muitas
horas na sua vizinhança, as pequenas partículas de cementita agrupam-se em partículas
maiores, formando glóbulos de cementita, facilmente visíveis ao microscópio. Diz-se então
que a cementita está coalescida ou esferoidizada.
Este fenômeno pode ser acelerado fazendo a temperatura oscilar em torno de 723ºC,
porque as partículas finas se dissolvem em menos tempo do que as grossas e, no
resfriamento subsequente, a cementita vai se depositar sobre os restos das partículas mais
grossas. Esta oscilação aplicada aos aços recozidos também conduz ao mesmo resultado.
O coalescimento chega a reduzir a dureza do aço, às vezes, a quase metade da que possui no
estado recozido. Isto permite uma economia apreciável na usinagem de aços de elevado
teor de carbono (principalmente os extra-duros, hipereutetóides), pois o esforço exigido
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para essas operações se torna muito menor, podendo, além disso, serem executadas
freqüentemente com ferramentas comuns, em máquinas mais leves.
Os aços coalescidos quando reaquecidos para serem recozidos, normalizados ou
temperados, precisam permanecer acima da zona crítica mais tempo do que o normalmente
exigido, por ser a dissolução dos carbonetos no estado globular, mais demorada.
2.11 – AÇOS RÁPIDOS
Quando discorremos sobre o revenido dos aços comuns, tivemos ocasião de mostrar como a
dureza, que o aço adquirira pela têmpera, diminuía com a temperatura do aquecimento.
Esta é a deficiência mais séria que apresentam as ferramentas feitas de aço comum cujo
corte, durante o trabalho, está sujeito a aquecimento de algumas centenas de graus, como
por exemplo, ferramentas de torno, de plainas, dentes de serra, brocas, etc.
Como o trabalho muito intenso aquece o corte da ferramenta, é necessário executar o
trabalho mais lentamente para dar tempo a dissipação do calor, ou então prover uma
refrigeração com água ou óleo solúvel, etc., para evitar o aquecimento acima de 100ºC.
A ferramenta que perdeu o corte por desgaste em trabalho normal, pode ser reafiada e com
isso readquirir sua eficiência primitiva. Se, porém, a ferramenta perdeu o corte porque
aqueceu demais, então não adianta reafiá-la pois o aço perdeu sua dureza e, nesse caso, é
preciso primeiro temperar de novo a ferramenta.
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Figura 30
O desenvolvimento de aços-liga, especialmente os com cromo e tungstênio, trouxe uma
contribuição muito valiosa para o aperfeiçoamento das ferramentas. Esses aços têm a
propriedade de só perderem a dureza que adquiriram pela têmpera, quando atingem
temperaturas da ordem de 650ºC. Por isso, as ferramentas feitas desses aços permitem
um trabalho mais rápido porque o aquecimento não os afeta tanto. Daí o nome de aços de
corte rápido ou simplesmente aços rápidos como são conhecidos. Um aço rápido de
emprego muito generalizado é denominado aço 18-4-1, em cujo composição entram 18%
de tungstênio, 4% de cromo e 1% de vanádio. Há ainda vários outros tipos de aços nos
quais intervém também o molibdênio e o cobalto como elementos de liga.
Convém não confundir esses aços com os metais duros como o WIDIA, CARBOLOY,
MITIA, etc., que não são aços, mas pó de carboneto de tungstênio duríssimo, aglomerado
por meio de cobalto por sintetização (processo especial na “metalurgia de pó”).
2.12 - TRATAMENTOS PARA ENDURECIMENTO SUPERFICIAL
Na construção de máquinas, é freqüente precisar-se de peças dotadas, simultaneamente, de
uma boa resistência ao choque e uma dureza muito elevada para resistir ao desgaste, como
os dentes de engrenagens de certas matrizes para estampagem, pinos móveis, eixos,
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articulações esféricas, etc. Essas duas propriedades são incompatíveis pelo menos nos aços
carbono.
Mas, como a dureza que interessa é sempre a superficial, basta que a peça tenha essa
qualidade apenas nessa parte. Isto se consegue com auxílio do processo que, em linhas
gerais, vai ser descrito a seguir e que se denomina genericamente, cementação.
a) Cementação
O aço acima da zona crítica, além de dissolver no estado sólido mais carbono, tem
também a propriedade de absorver este último em contato com substâncias capazes de
cedê-lo (cementos).
Esta propriedade, utilizada com certas precauções em peças feita de aço doce, permite
elevar o teor de carbono junto a sua superfície e assim, aumentar a dureza da camada
periférica, conservando, entretanto, dúctil o interior da peça, cuja composição não se
altera. O teor mais conveniente a atingir junto à superfície é o eutetóide (0,8%).
Na cementação pelo carbono empregam-se em geral, cementos sólidos; mas quando se
visa a introduzir no aço também o nitrogênio, ou somente este, empregam-se cementos
líquidos (cianetos fundidos), gases carbonetantes ou nitretantes.
Os cementos sólidos são constituídos geralmente de carvão de madeira moído, não muito
fino, misturado com certos carbonatos. Estes têm ação meramente catalítica na
cementação, aumentando a proporção de CO em relação ao CO2.
Um cemento simples citado na literatura técnica e freqüentemente tomado para termo de
comparação, é o conhecido por cemento de CARON, cuja composição é de 40% de
carbonato de bário e 60% de carvão vegetal.
Como a cementação pelo carbono é uma operação demorada, exigindo em geral, algumas
horas, a permanência acima da zona crítica (900 a 1000ºC) durante esse tempo produz no
material uma granulação grosseira (superaquecimento). É pois, necessário regenerar a
textura da peça cementada, isto é, tornar sua granulação mais miúda por meio de uma
normalização.
A camada periférica é agora mais dura e está em condições de ser endurecida ainda mais,
se for submetida a uma têmpera. Para isso, reaquece-se a peça a cerca de 770ºC e
tempera-se.
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Figura 31
Como a penetração do carbono é influenciada pela composição química do aço, é
necessário que este esteja entre determinados limites para que se obtenha uma
cementação satisfatória. Tem influência importante o próprio carbono já existente e o
manganês, cujos teores devem ser baixos. Certo teor de níquel é muitas vezes desejado,
porque este elemento atenua o crescimento exagerado dos grãos pela longa permanência
acima da zona crítica, além de aumentar a tenacidade do material.
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