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As metamcr‘oses da questo social ik Conds protetiia, condigdo opersria, condicio salarial: trés formas dominantes de cristalizacio das telagées de traba tho na sociedade industrial, e também tr8s modalidades das relag6es que o mundo do trabalho mantém com a sociedade slobal. Se, esquematicamente falando, elas se sucedem, seu encadeamento no é linear. Quanto a questi aqui levantada do estatuto da condigio de assalariado enquanto suporte de identidade social de integragio comusitiria, apresentam s0- bretudo trés de suas figuras irredutveis, A condigio proletiria representa uma situagéo de quase- exclusio do corpo social. O proletirio é um elo essencial no processo de industralizagao nascents, mas esté condenado a ttabalhar pata se reproduzir e, segundo a expressio jf citada dde Auguste Comte, “acampa na sociedade sem se encaixar”. Sem diivida, nio viria ao espirito de nenlum “burgués” dos inicios da industializacSo ~tampouco, em sentido inverso, 0 ddenenhum proletério ~ comparar sua situasio com ados ope- titios das primeiras corcentragées industriis quanto a0 modo de vida, habitasi0, educagio, lazer. Mais do que da hierarquia, twata-se entio de considerar urm mundo clivado pela dupla opo- sigio do capital e do trabalho, da seguridade-propriedade e da vyulnerabilidade de massa. Clivado mas também ameagado. A “questio socal” éentao, exatamente, a tomada de conscigncia cde que essa fratura central, posta em cena através das dese as AS METAMORFOSES NA QUESTAO SOCIAL a «es do pauperismo, pode levar & dissciagSo do conjunto da Sociedade. ‘Arelagio da condicio operivia com a sociedade conside- sada come um todo é mais complexa. Consttuit-s uma nova relagio salariale, através dela, o salério deixa de sera ret buigio pontual de uma arefa,Asseguraditeitos, di aceso a subvengbesextratrabaho (doeneas, acidentes,aposentadoria) «permite uma participacio ampliada na vida social: consumo, habitago, instrugio até mesmo, a partir de 1936, laze. Ima gem, dessa ver, de uma integracio aa subordinagio. Porque até os anos 1930, momento em que tal configuragio se cis taliza na Franca, 3 condigio de asslariado corresponde essen. Bid 8, * J. Le Goff, Du silence a parle, op cit, p. 112. CE ea Eel, i confrontation sociale en Franca, 1956-1387, op. ce a4 ASOCIEDADE SALARIAL auorza as coaies opestis (1884), Porm tas congue to ttmincidencia dies sobre sexrataradoprdpsiocontato de wakalho, gualmente durante muito tempo, as negocigs tnvte os emptegadotes © cletiv dos traalhadores qe = teram Inga no sio das empresa em feral por ocasio de ma prev ou de uni ama de greve~ a0 tem nena Valorrtdico. Alt de 25 de mango de 1919 € ue, aps 4 Sproximagio devida a "unio gras" © parcipas ano ins ee ds um ax ewe cola. As dspoigs expla pela convenso ‘revalecem sobre ay do cena individual de trabalho. Léon DDogutexa ua filosofamediatament: O con elev € ua toa ia ten nov inteiramente estranha as categoras tradicionais do direito civil. & ‘uma conveng@o-lei que regula as relagbes de duas classes sociais. ate sje dren i abo rpinelcnletpmdo os devroser nd {oven cones nid enecstombro dees props Com fet, a comenso cava snap o fea empregadorem prepa da denn liberal do cotrsto de tax SOR Girtpedat adres ale indvel ru empro Benefcase ds dsposigGesprevnts pea convensaocoleia, SR apiayao desl! fn um primero momento, mito dcepitonante plo fato da repayhtncs manfestada 20 me sho tempo pela classe opera peo patos, em extat mum process de negociago. Fas tices apalavra um “afemismo) dos “parestor scsi” para nepocir™ explicam {Dag Les rasformation pnts de dot pro, Pts 1920 43, cta La Gols Du see apr. ce. 108 “prs ua anv docontero sei isi que expli ss m tans ptrnal quan sina parscncarum rod sobre a deen ‘presto emt eG Breuna Sele, ba confrontation selie on Prance op ctype Le 2 Sobre nea ida rae meas Gacrs Mundial seu spiesnnament log apis ort ree EN rine “Guere ct seoemane en ance, BLI9IS" fr Le ell de et op et. as [AS METAMORFOSES NA QUESTAO SOCIAL ‘ papel desempenhado pelo Estado para implantar procedi~ Imentos de negociagio. Desde os esforcos de Millerand, em. 1900, paca criat conselhos operdrios®, é realmente 0 Estado «que parece ter tido um papel decisivo na constituigio do direito do trabalho. Pelo menos aré que uma patte da classe operaria, que aderiu 3s reformas (como objetivo privilegiado ou coma etapa de um processo revolucionério), entra em cena para im- por seu ponto de vista. O ano de 1936 representa, sob esse aspecto, uma estréia histOrica: a conjungio de uma vontade politica (0 governo do From Populaire com uta maioria so- & simiand, Le salir, olution soil et le mownsie, oP cits tL pe 151, Bor io que a remunarao datas format detain deve tet ‘otras desgnasees: "vencimentor, “aun de esto”, “emoluments, Spratficgio de nso" ee, mas do "salon 8 tad 9173. "id, BATE tid, p17 41 AS METAMORPOSES NA QUESTAO SOCIAL formagées até 1975, data que pode ser tomada para matcata rei sede sacl : ‘Creseimento macigo da proporgio dos asalariados na po- pulagio ativa em primeiro laga: representa menos da metade (4996) desea populagio em 1931, pero de 8340 em 1975. Em simerosabsolutos, quando se incliem os operétios agricola, snimero dos trabalhadores bragais ci de 9 milldes e 700 mil para8 milles€ 600 milyem compensagio,o total dos opetatios ‘oragrcolas sumentou ligeramente, de 7 milhes © 600 mil para § milhies ¢ 200 mil. Mas a transformagio essencial da ‘composicio da populagio ativa é.0 aumento dos asalarades ‘nio-operirios, ram 2,7 milldes em 1931; so 7,9 milhSes em 1975, Portato, seu nimero quasealeancou o dos operitios (¢ ‘onultapassou amplamente depois). Mas também sio considerd- vei as transformagies interas a esse grupo. Ainda que os dados «statsticosndo permitam comparagées de precsio absoluta (as- sim, mesmo que se contem entéo cerea de 125.000 “peritos © téenicos, as caegorias de “quadros médliose de quadrossupe- flores” no existem nos anos 30), pode afirmar que a grande ‘maioria dos assalariados no-operitios eram pequcnos empre= szados dos setores piblico e privado, cujo status, se nio era considerado superior ao dos operiios, permanecia, em geral, ‘mediocre. Em 1975, entretanto, os “simples empregados” re- presentam menos da metade dos asslatiados nio-operérios, dliante de 2.700.000 “quadtos médios” ¢ 1.380.000 “quadros superiores”: sio esses grupos que representant um salariado de gran alto que conheceram o aumento mais considerével Gerace ss em 1975 a Yer” a paride qu a condo sail compo degrade, Mis alm do fat do gon opinion een 36 ‘Soventden depois dum cro typo (ti 6 Soe pegn sunente de ‘odo mato sigan apenas 1976), 1975 topes us dat ch ‘moda, porque mimerosevantaneatesexatcos Examen conan iento de tansigdo. Timber se pode observa que € em 1973 due 3 eli oper cess memo Fang Xp da omen 3 Pini fonts utiliza agui, be come, sv meng cont nis dsm seauptss L-Thévenot"Lescatégrssocaesen 1978: Leersion lsat, Heomome ce stiiqurs, 191, jul-agost de 1977, Bat 452 ASOCIEDADE SARI, Assim, as mudangas inyentariadas pels estaiticatradurem ‘uma transformagio esencial da estruturasalril Se, em nime- 10, 0 salariado operirio mais ou menos xe manteve, sua posi ‘0, nesaestrurrasolaral, fundamentalmente se degatow. Em primeiro lugar, porque a classe operiria perdeu, seria possvel dizer, etratosalatial que he ra inferior quanto a0 status social, ao salério is condigées de vida, Os opertios agricolasrepresentavam, ainda no ineio dos anos30,um quar to dos trabalhadores bragas eram mais da metadc em 1876). Em 1975, praticamente desapareceram (375.000). A classe ‘opertia representa desde enti, abate da pirtmie salaried de fato, base da pitimide social. Fm contrapartida,acima dela desenvolveram-se ndo sé um salariado empregado que pode nio st amide, segundo a expresio consigrada, senso ue “proletariado de colarinho braneo”™™—, massobretudo um eos Lebaupin, “Les aaes de 19509 1975 Economie dats, 15113 jhoraoato de 1979 Sellen, Ls ales on France, Pats FOR 1979; Mi, Vere, Le ton onrier, Pati A. Colin, 19884 Sele, “Les sds co dente ri, “Cae aie cont ‘uate, J-D. Reynaud, Grayer, Panga Ee oueh, Pos {is Docameniation angie, 1981. Nata de fonts hemopencay face de refer par os anos 30 poe ara de 1931 1336; asa conse specs dn duke oii ue espe apenas es © cresimemt de cont de aslrndos da india linen de ss lone peincpnis x redo da poses ntpenetes 9 Plo tural Sobre tio pont, ef Slits Les oandeon Punce,op cle 40, gue itera grade resend campsino nario ede «Sie on 4 pps a sols rae ome ‘meron quanto em 1860), Dino rests oe om desu camp pero $50 os operon agrcolac noo agricors mbm o flier sre doe dos, mar os fos de atlas anes dos fits de acer fost, bar ips alc on io wn ae peri pe "epescnay caren motto, uma felt promoo sola: Ma ae o's recaamenc te eo condo opera tome an os Figen agua em gue see quando ne pode“ kvl oma {hlse ca por mobibae descendents "0 mundo dos emoresados ¢ sing, prniplmente apa Prima tera Manip naivate i bah eee ieeeaee anccaneree (a dguinde nrever aparece to ic do seta, opel 256 coltvise ember, 0 gu vere marca om esd 43 AS METAMORFOSES NA QUESTAO SOCIAL salariado *burgués". O salariado operatio cotteorisco,entio, de ser submerso numa concepeio cada vez mais extensiva da ‘condigio de assalariado e, a0 mesmo tempo, esmagado pela proliferacio de situagbes slariais sempre superiotes sua. Em odo caso, despossuido do papel de “atrativo” que pode de \ sempenhar para a constituigéo da condigao de asalatiado. “A anise da promogio da condigso de assalarindo dosanos 130 aos anos 70 confirma essa progressiva desttuigso da classe periria, Lae Boltanski mostrouw a dificuldade com gue um “salariado burgués” tinha comegado a se impor segundo wma Igica da dstingdo que aprofunda sa diferenga em relagio 38 caracteristieas do salariado operstio. Nessa ocasio, foi apre- sentado um nove episédio da oposigao entre o trabalho assa- lariado e 0 patriménio, que jf havia marcado 0 séeulo XIX no romento das discusses sobre o seguro obrigatério: forga da tradigio tornande diffil pensar posigGes respeitéveis que ni0 sejam assentadas sobre a propriedade ou sobre o capital social vinculado aos “oficios” eas profissGes liberais, Assistese assim 41 curiosos esforsos pata fundar a respeitabilidade de novas posigbes salariais sobre tum “patriménio de valores que so, de fate op alors das aes médias, oat de nai ‘2 poupanga, a heranga, uma modesta abastanga, a vida sObria, 2 ombderagio™ A situagio €entio mas confused medida {que muitas dessas posigées salariais de alto grat sio primeira ‘cupadas por filhos de familia detentoras de um pattimdnio. ‘Tiram les sua respeitablidade de sua ocupagio ou de sua herana? Essas duas dimensbes sio difceis de dissociat. Uma {satus scial Como aitos persis, empreyado das rans ofan de ‘Soprtamemos on do extn dafbeicaprde spans do isco Chipegado ue eietiao de abelln, espace de mibempeetador de seu cemprezido. 1 bade J, Lecordien Las clases moyenne en marche, Pars 19505. 382, ido po ana tats opp. 1D roe 9 it eli dese tent de 4950 apretetando © eam tom que a ecatura ddosanos 1930, mpenlada em scar a alidade dua clase més" (Coca de A Desguest Clases moyenes fangs, et, programme, ‘ngonation, Pa, 1999). ase ASOCIEDADE SALARIAL ere rnrerond es ce eee eee sg sender econiy eos hee Se ees de junho de 1936”. Afirmagao de uma posigio “média” entre Se eae os See otc rm abn spr heer mercurian Se eee ep ena sea eet arses cere ered Cece Clo Ges et ca se hierarquia dos salarios e, ao mesmo tempo, um regime de Beg lt oa sore rs Soria a soar te ds smelter eee ee eer fore aalat waa caeeeen ee Ses Serer ene aml- Deter cmo iat oer eemeeyienn re o aoe ae eee cae nee ond a Seer es penn mercies ee Ee ee ey ee Ingénieurs et Cadres”"). Gado por L. Hota, Les cadet, op cit, p 107, tid, p. 106 tip. 239 455 ' [AS METAMORFOSES NA QUESTA SOCIAL Paralelamente a essa transformagio da estrutura salarial dlas empresas, 0 descavolvimento das atividades “tercirias” est na origem da prolferagio de um salaiado nio-operirio: | tmuliplicagio dos servigos no comércio, nos bancos, nas ad- Iministragdes das coletividades locals edo Fstado (6 a Fduca- {io Nacional conta perto de um milhdo de agentes em 1975), abertura de novos setores de atividade, a comunicagio, a pu- blicidade”.. A maioria dessasatividades so atividades assa- lariadas. A maioria também supera em remuneragio © em prestigio o salaiado operirio\ Desde 1951, Michel Collin pinta uma “classe operéria assalariada” jé muito complexa, ‘que comprecnde alguns empregados, os funcionsrios mé: fs chefeé de escritdrio, os quadeos, os agentes de mando in termedisrio, or técnicos, os engenbciros™. "Nao 36a condigSo operiria €contornada e dominada por uma gama cada ver mais diversifcada de atividadessaariais, \ mas sua coeréncia interna enftentadificuldades. Fm 1975, ‘ontam-e mais our menos 40% de opersrios qulificados, 40% ‘de operirios especalzados e 20% de operiios nio quaifca- dos. A parte das mulheres erescou para constituir 22,99 da populagio operata, sabretado nos empregos subqualificados {46,696 dos nao qualificadossio mulheres). Quase um operi rio em cinco éimigrante. O desenvolvimento do setorpibico {am quarto do conjunto dos assalariados) fortalece um outro tipo de clivagem: os empregados do Estado, das coletividades locas e das empresas nacionalizadas beneficiam-se, em geral, de um extatuto mais estivel do que aqueles do stor privado}O ‘A cscingo entre as aida pris agricola ecundias (nd tsa) tees (servis) fot totrodunda por C. Clark, The Conditions ‘of atomic Progr Lanes, Macrae, 1940, epopalaizose ma Fane ‘Ghats da obra de jean Fours. O desenvolvimento econdmico esol adr pelo deenvolriment das aides eclras, Mas alm do stor Seon onc samt, pdesx Mee mg Indu qe nba importnca cada Ver aot, rat-ae de catego ‘inpreger do sctor tad qoe nao suo dleamenteprocaas oma fis dos daelgzaos, dos contadores.- 7M Colic, ouuie fang, xi si condition oni, Pasi, ie sions ourrites, 1951, 2 parts cap. 1 456 -ASOCIEDADE SALARIAL tema da segmentagdo do mercado do trabalho, isto &, distingio uae nln pris ¢ tabnlindors ines apace no inicio dos anos 70". Sem divida, a unidade da classe operdria, nunca foi realizada: por volta de 1936, as disparidades entre diferentes categorias de trabalhadores quanto sua qualificagio, 20 Seu status piblico ou privado, & sua nacionalidade, 3 sua im- planeacio em grandes indiistrias ou em pequenas empresas ttc deviam ser grandes também. Mas, entio, parecia estar em ‘eurso um processo de unificagio através da tomada de cons- ciéncia de interesses comuns e da oposicdo ao “inimigo de classe". Porém, por razdes que sero evocadas, desde antes da ddécada de 70, ssa dinimica parece quebrada, deixando a con- ddicio operdria entregue 3s suas disparidades “objetivas”™™ ‘Uma outea mudanga, sublinhada com menos freqQiéncia, sem divida tem uma importincia maior ainda para explicar astransformagoes da condicio opersria considerada no longo prazo. Uma pesquisa de 1978 ~ mas 0 movimento comegou bem antes ~ que, dentre outras, incide sobre o “principal tipo de trabalho efetuado” pelos operarios constata que os que se dedicam a tarefas de fabricagio representam apenas mais de ‘um terco da populago operiria”. Em outros termos, uma iaioria de operdrios dedics-se a tarefas que poderiam ser cha- ‘madas de infraprodutivas, do tipo manutengio, entrees, em= efit, orema emerge nos Estados Unidos durant o anos 60 eencontra auignia na Fangs nor anor 70,¢6 ML}. Pore, "On the Job Taiingin the Daa! Labour Market’ in AR. Weber (ed), Public and Private Mampnoer Toles, Madeon, 1969, e ML. Ploe,“Dualsm inthe Labour Maske, em done, 1 1978, Fao minha canal dE Thompuon sz «qu um dase soci no apenss mn dado" ou ua cles de dads mplios Ef Inicadi saver de uma dings coltva que se foriano confit (EEE. ‘Thompson, La formation declare oui nla, oct) "AcE Molin Wl, Les condos de aval dose de cute statues 118 janeiro de 1980 Ea rmadanes (Yortemente hada 0 decide forma mate adcionis do wabalho ‘peri, Asin os minis qe err 50000 em 1980, nso vo am dos 160.000 em 1975; as operztas do weror eel pasaram de 1,5 eailhio a 2001000 sv mesmo psn fe Sly, "Leal: erosanes et ier™ ela et p48), “7 AS MBTAMOREOSES NA QUESTAO SOCIAL balagem, servigosdeguardaete.,owaatividadesmaispréximas da concepcio ¢ da rflexio do que da execusio, do tipo con- trole das miquinas, egulagens, testes, manutencao, estudos, dorganizagio do trabalho. “Trarase de uma mudangaconsideravel, se no da realidad de todas as formas do trabalho operitio, pelo menos da repre- sentagio dominante que Ihe era dada na sociedade industrial, © opetitio aparece af como 0 homo faber por exccléncia, aquele que transforma diretamente a natureza através de seu trabalho. O trabalho produtivo encarna-se num objeto fabri- cado, Para a tradigéo da economia politica inglesa, bem como para 0 marxismo, 0 trabalho € esencialente a produsio de bens materias, ites, consumiveis™. A atividade de fabricacio prestase als, a duas leitras opostas. Pata Halbwachs, por xemplo, evidencia 6 cariter limitado da condigio operiria {que “36 se encontra em relagio com a natureza € no com os hhomens, permanece isolada em face da matéria, choca-se ape~ nas com as forgasinanimadas”. £ por isso que aclasse operiia ppatece “uma massa mecinica einerte””. Marx, ao contrat faz dessa atividade de tansformagio da natureza pr6prio do hhomem, afonte de todo valor, ¢ funda, assim, o papel demiir- sico que atibui ao proletariado. Mas € provavel que um ‘outro ~bem como Simiand, conforme foi vsto~ refiram-se & coneepgio do trabalho opersrio que prevalecia no inicio da industrializagio € que comesa a se tornar obsoleta com 03 progressos da divisio do trabalho. O trabalho operirio deixa de ser o paradigma da produgio das “obras™. CLE Lane, “Teva concept ow nosion multidimersionnel, tur an- tere, 8 10, 1392, 2, Flava a clase cuits nae devi, op tp 138). XML ber em 2H. Ateah es La contion de Phomone meme, op. cea, crea a confasio env otialho obra queria arated elles see trabalho no peed moderno, no sem Mana xs Locke e Adam Sth. orem, praca aeacenar que Hata Arendt pode eaborar ex cies za vale do sada XX, ino ape gas dol sos de arsformain da coped doable nisl taleomocmergian elo dansko. 456 ASOCIRDADE SALARIAL Essas transformagdes em profundidade, tanto do trabalho operirio quanto do lugar que acupa no seio da condigio de assalariado, no podem deixar de abalara concepgao do papel {gue era atribuido 3 classe operiria na sociedade industrial. Poderd ela conservar a centralidade que, simultaneamente, he ‘emprestam os que exaltam seu papel revolucionario € 08 que ‘a pereebem como wma ameaca para a ordem social? O debate testi Iangado desde o final dos anos 50, e Michel Crozier éum imeiros a proclamar que “acabs-se a era do proletaria- do”: “Ua fase de nova historia social deve ser definitivamente encerrada, a fase religiosa do proletariado””. Entretanto, a sorte ndo esta langada completamente, por- ‘que as transformagées da condicio opersria podem dar lugar 1 duas interpretagdes aparentemente opostas. Uma “nova clas- ‘se operatia” seria constituida através do desenvolvimento das formas mais recentes que a divisio do trabalho assume. Mas, ‘6s novos agentes que desempenham um papel cada vex mais decisive na producio, operirios das indistrias “de ponta”, mentotes mais do que executores, ténicos, desenhistas, qu dros, engenhelros ete. continuam a ser destitutdos do poder de decisio e do essencial dos beneficios de seu trabalho pela ‘organizagio capitalista da produgio. Ocupam assim, no que serefere aoantagonismo de lasses, uma posieio andlogaaque- lado antigo proletariado esio, de agoraem diante, os herdei- ros privilegiados para retomar o empreendimento de transformagio revolucioniria da sociedade que a classe ope- rria tradicional, seduzida pelas sereias da sociedade de con- sumo e enquadrada por aparelhos sindicais e politicos reformist, abandonam™. arguments “Qu'e-ce qu a clase oustefangaise™ mero especial jimctafevercira-margo de 1989, p. 35-0 debate ¢retomado com a emer- {lnc do gema da “nova came opera clo mimero especial da Rese Irangaize den scenes patigues, vol XXII, 3, jnho de 1972, prcicule- frente oatgo de]-D. Reynaud, "La pourcle classe ouvir, a echnologe ehincie® 2 CL, Seoge Mallet, La nouelle classe ont, Pais, Le Sel, 1966, 49 AS METAMORFOSES NA QUESTIO SOCIAL Tnversament, a tese do “aburguesamento” da classe ope- ritia apéia-e na elevagio geral do nivel de vida que atenaa ‘os antagonismos socais. O “desejo de itegrar-se mim socie dade onde prima a busca do confortoe do bem-estar™" leva Ja classe openria a dissolver-se progressivamente no mosaico das classes médias. Realmente, ssas dss posigées opostas séo complemen- tares, pelo menos quanto ao fata de que a mola propulsora de sun argumentagio € mais politica do que socolégia. Serge ‘Mallet superestima o peso desas novas camadasslarias ite ddustriis™. Sobretudo, superestima a eapacidade da classe ‘petra em representar papel de “atrativo” para esas cate sorias novas que se afiemam através das transformagies dt produso(partcularmente,o desenvolvimento daautomagio, tema prviegiado na Sociologia do Trabalho dos anos 60). No ‘entanto, desde 1936, a CGT tinha feito a amarga experigncia Uo “desafeto dos téenicos em relagéo a0 movimento operi- rio", Por volta de 1968, com rarasexcegbes, a andlise dos conflitossociais, mesmo “novos”, mostra que 0 principal to- pismo dos técnicos, quadrose engeneiroslevacosadefende- em seus interesses especificos, passando pela manutengso da diferenciago sociale pelo espeito da hierarquis, mais do que a fechar com as posigdes da classe operiria\ A no ser que tenham fortes convieg6es poliieas. Masjustamente: a convie- sio que subentende a exaleagio do papel histrico da “nova classe operiris” na década de 60 €de esstncia politica. Tata-se "G. Dupe, Lascie fangs, Paria A. Clin 1964. tera sobre sa emit da marcha paras abindnis ed poteose dae lanes médias € plesrca. Podeat tomar obra de jan Fours, partuarmete Let Tent Gloriuss, Paris, yar 1979, como sua melhor argue. 5 Um estudo da dead de 70 estima qu a proporeto dos oprstoe da Inds que correspond a este peri sea de S06 (ChB Hugues, Get, FE Reray, SCs empois industriel. Nace. Formation. Recrtemene, C2 Drs ci Cente eds de empl 4, 1973). "8, Wino relacrio que encamisha & CGT ape at preves de 1936, ‘Rérarques sels eneignements rer dex conte du Nosy Lat cm dln ore op 460 ASOCIEDADESALATUAL, de salvaguardar a chama da revolugio ¢ de no desesperar; pio mais Billancourt, mas a CFDT ¢ o PSU". Porém, 0 discurso oposto que proclama a dissolugio da condicio operaria na nebulosa das classes médias parece su- bbentendido pelo desejo, também ele mais politico do que cien- 20, de exorcizat definitivamente os contftos sociais. Ea ideologia de todos os que proclamam o fim das ideologias. Perscrutam com avidezo apetite de consumo da classe operitia ‘econstatam com saisagio enfraquecimento dosinvestitnen- tos politicos esindiesis!*. Mas omitem frisae que, a despeito da incontestivel melhoria de suas condigies de existéncia, a classe operaria nao se dissolveu, absolutamente, nas classes médias. As pesquisas desenvolvidas nos anos $0 e 60 confir- mam a persisténcia de um particularismo operstio e de uma ‘rugies sofistieadas cuja abstragso munca encontra a realidade social que pretendem traduzir. Jean Fourastié, um mestre na ma- téria,calculou com erudigio que “um OE, comecando por volta, de 1970 e permanecendo toda sua vida OF, tera conquistado, antes de completar 60 anos, um poder de compra supetior 20 ‘que terd ganho desde sua entrada em servigo um conselhei de Bstado qqte se apasentasse hoje” Seria fascinante encon= ‘Un das mangesmaisiporeanes em visa pate dosfigranes «dan lcs no takai mas pnoson ci eevaereaen Mas ‘ASerolvinen de nova forma dongs nal no sai 3 Seige nem poesia deers aay em cpl no neat ‘& memagam.£ poel compara com neta ans Sentral, des ‘Squniortjruerersprsnamemacaracteaen er sbalalo Sin ic se ser open, We Lacon oor ps cy Re nhs Leal a Ene de Min 197 MA Lignew Ligon, Lourie ajo opi p26. Tease de tom facts dee de nop dee vi ora eae Sfnelittsem gucorisaladoeceomam spererpin qe es asada ‘Eucuatms wal o opera *Camimbeelcum pobretalo" ener ermal er 10 J.-M. Rainville, Conditiom owuriére et integration sociale, op. cit, p. 15. Rout Les Tent lores op ip. 247 40 ASOCIEDADE ALAA, ‘rar, em 1995, esse feliz OF e perguntarlhe o que pensa de tal ajuste tendo como referéncia uma posigae de conselheito de Estado". A transformacio decisiva que amadureceu ao longo dos anos 50 ¢ 60 nao &, pois, nem « homogeneizacio completa da, sociedade, nem o deslocamento da alternativa revalucionétia sobre um novo operador, a “nova classe operstia”. O que se deu foi, sobretudo, a dissolugio dessa alternativa revohucio- nia ea redistribuigSo da contfitualidade social conforme um modelo diferent daquele da coiedade de ches a Sociedade salarial. Dissolugdo da alternativa revolucionétia: a realidade his- ‘rica da classe operiria no € redutivel a um conjunto de smodos de vida que se descrever, de curvas de salérios que se comparam, ou um folelore popilista que se lamenta, F tam- bbém uma aventura que durow um pouco mais de um século, ‘com seus altos e baixos, marcada por tempos fortes ~ 1848, a ‘Comuna, 1936, 1968 talver ~ que patecem antecipar uma “organizagfo alternativa da sociedade, © enfraguecimento da conviogio de que a histbria social padi desembocar em um lugar, 0 que Crozier chama desde 1959 “a fase religiosa do proletariado", nao tem uma data rigorosamencedefinida. Mes- ‘io em seus momentos de gl6ria sempre foi sustentada apenas por uma minoria opericia'” e sempre pode ressurgie pontual- imente, fazendo reviver, como flashes, ripidas explosbes que evocam a “juventude da greve”"” e despertam utopias ador- "Para se te ua iin de at€ onde pode evr o fscni plas curv de ‘escent, pase le ioe, divertor ou iano se soba de ean Fourasie, Le ciation de 1995, Pacis PUR, 1970 8Minora de gensasem 1936 esa dsamplie do movimento menos ‘de 2 miles para milsses de salar operrioe fenbnen cisca™ iment paisiense qc foram junio de 1848 ea Contna, Ma sincere ot ar: cam looper quay o tae ota em jn st ropas mins combatvn da Cat ue darian © subirbio Saint Antoine eam formadas po ovens opestine. Ao mes ferypo eno entanto, no de 1848,» Comins de Parte 1936 Verna Inaméra de ods ms cls "1M, ero, Jenese dele grve, Pais, Le Sel, 1984, 40 AS METAMORFOSES NA QUESTAO SOCIAL rmecidas!", Entetanto, tornou-se cada vex menos acreditéel {que um dia serdo insttucionalizados os amanhis que canta, ‘Aoscilagio entre revolugio e reforma, que sempre percorres © movienento operiro, vem fxarse com insisténci cadaver thaior no segundo pélo, eaclivagem entre “eles” ends” deixa {de alirmentar um imaginatio da mudanga radical. Deseneanto {do mundo social, redurido a uma unidimensionaldade sem tanscendéncia: as tansformagées sociais no so mais deci. , na década de 60, assiste-se 3 “transformagio de uma classe operiria extensa renovada,incorporando cadaver mais tempregados”™. Paralelamente, devido a mecanizagio do tra- bualho de escritsrio, empregado raramente petmancceu como tum colaborador direto do patrio. O “colarinho branco” das grandes fois ou dos escrtérios de empresas sofre coergies Semelhantes as dos opetirios. A evolusio dos sitios marea ENE Aplin, A. Bender, Ler mtmorpbores del soit sli, oP. cing. 8. ” AS METAMORFOSES NA QUESTAO SOCIAL a mesma tendéncia homogeneizacio™. A generalizagio do falirio mensal, que se deu em 1970, sanciona essa evolucio: 6 estatuto profissional dos operirios que se tornaram mensa- listas é, praticamente, copiado do estaturo dos empregados'™. Entretanto, deve-se sublinhar uma élkima vex que as ine contestiveis melhorias de que se beneficiaram 0s grupos po- palares, ou que conquistaram, nio apagaram completamente seu partcularismo. Como diz Alfred Sauvy, “todo organismo socal que deve e deformar, muda de proporgio, 0 faz mais facilmente por adicio do que por subtragao”*”. Em especial, 1 adigio" de novas camadassalariais acima do salariado ope- ‘tio nao “suprimiu” todas as earacterfsticas que faziam dele ‘6 modelo do salariado alienado. Seria necessério, aqui, atua- linar com dados do inicio dos anos 70 obalango, esbogado por volea de 1936, dos indices da integracio diferencial das classes populares em matéria de consumo, habitagio, modo de vida, participacio na educagio e na cultura, direitos sociais. Mas isso iria exigie ao menos um capitulo que mostraria que, sob todas essasrelagdes, as categorias populares ainda estio muito longe de ter recuperado seu atraso’"*. Contudo, o que imports * Caleladoe com bate no fice 100 em 190, os ganhos médioe dos mpeegadoschogivam 0 lndies 2486 em 1960 do peri, = 3048 (I Bunel, La monsualation, ane forme rangule, Pars ions o- vices, 1973, p90. "0 puinciiadamensalinasSo dos opertrinsdiluga sum acordo psi, sna, no dia 20 de abl de 1370, pelos spats patroats © pelos ‘Sneatos de stalarndes. Fs neds eachde as operris as Yasranens thos sseaaiados pagoe mensalmente em maténa de leeags, dena ‘mau de daca deaporenatonacte, De modo mak prafenda, oslo ‘operini deea dears rerbugs deta dem trabalho portal para oe: ‘ursea contapartda de um pgamentoplbal do sempo. Em 1963, 10,696 ‘los opereton en mensaltas asa 3% em 1971 ¢a82,5% ein 77 (cE Sele Ler sarc on Princ, op ct, p 110). 1". Suny "Développement Sonomigue er épartionprofesionndllede Ia population’, Revue deconomie plitgue, 1956, p- 372. 1 Eneontraae a JoD. Reynaud ¥. Grafimeyer, Frans ui tecvoust, pcm nt de ges andi specs ering ls soon sont em mata de ends, patriminio, dpiomas, aces 3 ‘arse solser mobiladercilte Acstgorar oper igre ea ASOCIEDADESALARIAL aqui ésobretudo o fato de que, a despeito dessa subordinasio, ‘esics grupos estio inseridos no continuum das posigdes que consttuem a sociedade salariale podem por iso nso se inter- cambiar mas, sim, compararse diferenciando-se, A onipresenga do tema do consumo durante esses anos — a “sociedade de consumo" ~ expressa perfeitamente 0 que se poderia chamar de principio de diferencagéo generalzada © consumo comanda um sistema de relagbes entre as catego- riassociais, segundo o qual os objetos possuldos s80 08 mar «adores das posigbes soviais, os “indicadores de uma classi- ficagio”™®, Compreende-se, a partir disso, que seu valor seja sobredeterminado: o que 0s sujeitos péem em jogo af nio & sua aparéneia mas sua identidade: Manifestam, através do que consomem, seu lugar no conjunto social. Analogia do sagrado numa sociedade de agora em diante sem cranscendéncia, © consumo de objetos significa, no sentido forte do termo, 0 valorintrinseco deum indvidio em funsio do lugar que ocupa 1a divisio do trabalho. O consumo é base de um "eomézcio” no sentido do séeulo XVII, isto € de uma troce civilizada através da qual os sujitos sciais se comunicam. ‘Sem pretender propor uin panorama exaustivo da socie- dade salarial, deve-se ao menos marear o lugar de um slimo bloco que sera chamado de periférico ou residual. A relative integracio da maioria dos trabalhadores,traduzida, dentre ow- tros, pelo salirio mensal, cava uma distincia em relagéo a uma forga de trabalho que, em vista desse fato, € marginalizada: tratarse das ocupagées instiveis, sazonais,intermitentes"!. Ee ‘tris dos fucionios, oeupam reguarmeote ss dtimas posigoes (alto ‘quand sio consderadar algunas estegoras de apiularse de natives, Ur opetio apicolr en ide extngso ea poplagSe do “qusro mn: Altace oui volar) CEJ ailad, La soit de consconmation, Pas, Devod, 1970. OM, Ai, A Dende Les manos de sci ide, cia. MCE |. Bune, La mencuaition, une forme rangi’, ot p. 192 1 as [AS METAMORFOSES NA QUESTAO SOCIAL ses “rabalhadores periféricos"™® estéo entregues 3 conjuntu: ‘a. Sofrem prioitariamente os contragolpes das vatinges da ddemanda de mao-de-obra. Constiutdos majoritariamente por imigrantes, por mulheres e jovens sem qualificagio, por tra: balliadozes de uma cera idede e que sia incapazes de acon. panhat as “reconversdes” em curso, ocupam as posigdes mais [Penosas ¢ mais precdtias na empreso, tem os saliios mais bai= X08 € sio 0s menos cobertos pelos ditetos socials. Acampam nas fronteras da sociedade salatial muito mais do que dela ssicipam integralmente! Assim, no momento mesmo em que {ndin opine snsoldcsbse ose aprofene ‘cio dos rabalhadores, principalmente dos eabalhadores br. sais, uma linha divissria entre grupos vulneriveis, cnja condi- 40 embraa do antigo proletaiado, ema maria que parece solidamenteengajada num processo de amplaparticipagio nos beneficios do progresso social e econémico. Enéretanto, antes do fim dos anos 70, a especificidade e a importincia desse fenémeno sio mal percebidas, Para os defensores do progres. 40, 2 fendmeno faz parte da dindmica domninante que arasta ‘conjunto da sociedade paraa opuléncia. Os que se interessam pelo assunto, por razdes essencialmente politias, vem nele 4 prova da perpetuagio da exploragio dla classe opersria en quanto tal" A importincia dessa clivagem no seio da socie- dade salarial s6 apareceré mais tarde, com o interesse provacado pela tematica da precatiedade. Enfim, € possivel aproximar ~ sem confundi-las ~ essas simnagBes “periférieas” daquelas das populagbes que nunca en: traram na dindmica da sociedade industrial. E 0 que se chama_ *Paraltamene astrbalossobressegmentaso do mercado dota, 4 sea do “traalhador peritec” surge nos Extados Unidos no ma ees de 60, cf D. Morse, The Perper! rer, Nova York, Condi University Pras 1369. "6, dacdes da épca sobre a "pauperizagioreltiva” oa “paupe seat ble pera Dene mara ea ae te-pleno-emprego, no momento em que sure, era tomes da Feaientaio da case opis € reassess de persitecidat (artigo L 900-1 do Codigo do Tesh), Chao B, Frio, Potection sci slaristion de la mad oer: pat le cas frais, ese etn Clas Ezondmits, Universe Pars Xe, Pris, 1995 sr AS METAMORFOSES NA QUESTAO SOCIAL |/apésa grande greve dos mineiros, em 1963)Pierre Massé pro- ;punh, em jancito de 1964, que por ocasifo da preparagto de cada plano, o Comissariado fosse encarregido, paraelamente ao planejamento tradicional em volume, deapee- fentac uma programacio indcativa em valor. Eta ma fara com ques evidenciassem orientagbes para as grandes massas de rends, especialmente a dos salvos, das subvengbes soca, dla cend agyeolne dos eros, assim como ascondigoes de eaui- itbsioenirea poupanga eo investinento de um lado, as despesaspablieas de outro lado (..] A partic de orientagies, nuais,o governo podeta cecomendar uma axa de progressio para cua categoria de renda™, A politica de rendas nunca seré concretizada, pelo menos rio sob esta forma. A evolugio dos salitios de 1950 a 1975 mostra que as disparidades permaneceram mais ou menos constants, © até com uma tendéncia ase aprofundarem (dis- tncia de 3,3 entre quadros superiores e operirios em 1950; de 3,7, em 1975™), Pode-se entio falar de uma repartigio dos feutos do ctescimento? Sit, desde que nfo x entenda sso ‘como redugao das desigualdades. Globalmente,a evolugio dos salirios acompanhou a da produtividade,e todas as categorias beneficiaram-se disso, sem, entretanto,alteraro leque das hie~ rarquias, Contudo, ainda que se tenha tornado possvel ragas 08 resultados do crescimento, essa progtessio nio foi um efeito mecinico deles. O desenvolvimento econdmico foi to- ‘mado em estruturas de regulagSo juridieas. Alis, quando a dlindtnica econémica comega a Se exauris, a conssténcia desse sistema de regulagao atenua, num primeiro momento, 0 efei- tos da crise. © acordointerprofissional asinado no dia 14 de Ciao in Seles, Lat conftaton sociale on France, op its. 217 ca une apresenagdo das ambngoes da poles de rena, cf . Cote Les ques des vente leurs aspects static, Gendba, BI, 1968. > Gi.6.Banslor, A Lebeapin, "Les sabites de 19503 1975", Economie statistiques, 113, abo agosto de 1979, Ooo m smentsdosbaizos ‘alisios em 1368 cot, sabrewdo, © aumento do SMIC (350 om Pais ¢ 586 piney), as que reeupersem parte una depradagso aero rm seid soe nova eros zo ASOCIEDADESALARIAL ‘outubro de 1974 garante a indenizagio do desemprego total pelo valor de 9096 do salio bruto no primeiro ano, 20 passo ‘que 0 desemprego parcial indenizado pela empresa com © porte dos fundos pablicos"™. Os dispositivos partiios de gitantia,engajanda a responsabildade do Estado, permitiam pensar ainda que existia um quase-dieito ao emprego,n0 mo- mento mesmo em que a sineagéo comesava a se degiadar tio, realmente existia uma poderosa sinergia entte 0| «rescimento econdmico com scucorolitio, oquase‘pleno-em- prego, eo desenvolvimento dos dtcitos d trabalho eda prote- Gio social. A sociedade slaial parecia seguir uma taje6ria fcendente que, num mesmo movimento, assegurava o entiques imento cole e promevia uma melhor reparicSo das opor- funidades e das garantias. Entretanto, para no tomnar esta ‘xposigdo muito pesada e conserva fio condutor da argumen- taco, me ative as protegbesdivetamenteligadas 20 trabalho. A mesma montagem “desenvolvimento ceonbmico-egulages es {xtais” ston nos dominios da educago, da sade pablia, do Plaejanieno dos recursos, do urbanism, das politias reativas Mama. Globalmente, as performances da sociedade sara Parecir em via de suprimiro dct de mtegagdo que havin ‘ateado inicio da sociedade industrial através do creseimento de conse doses 3 propia on mora decent ‘maior pariipagdo na cultura eno lazer, dos avangosnarelza-|, ‘io de uma maior igualdade de oportunidades, 2 consolidagao, fio ditcito do trabalho, a extensio das protege soca, a su- pressio dos bolsdes de pobreza etc. A questio social parecia Eisolverse na crenga no progresoindefinido. ssa trjerria€ que fos iaterrompida. Quem, hoje, afimaria aque varios para um sociedade mals acolhedora, mais abers, Sraalhando para tedusir a desigualdadese para maximizar os provegSes? A propria idéia de progreso perdeu sua cocsio. 3 ]-D, Reyna, Les iat les proms Eta, op. cl ps MAS, en unt ig na Eder go sect porno deseo decowengoes pts asia ESSohso de 1938, tbe sobs prs dos poderes publics do acordo Seca a Ace e 2 Une). 493

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