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MOTE

(...)
O ltimo laboratrio, repetia para mim mesmo. A ltima oficina. Um pouco perdido,
eu agarrava essas palavras como se minha conscincia se recusasse a aceit-las.
Contudo ao mesmo tempo minha cabea se pusera em movimento, tomada por um
turbilho louco, com as paradas e os retornos bruscos prprios do estado febril. No
rdio a voz continuava a discorrer, porm eu j no a ouvia mais. A ltima oficina do
mundo, falei em voz alta dessa vez, como para arrancar meu esprito de seu torpor. J
corria perigo. Era preciso aproveitar antes que fosse tarde demais. Antes que casse
em runas, fosse recorberta pela areia ou pelo vu do esquecimento.
Eu me surpreendi andando pelo quarto em todas as direes. Gostaria de pensar mais
demoradamente sobre esse caso, porm era impossvel. Meus Deus, precisamos nos
apressar!, dizia para mim mesmo. Precisamos ir para l o quanto antes. Descobrir esse
laboratrio antigo. Milenar. Ver de perto como no microscpio, ouvir como no
estetoscpio a maneira pela qual era produzida a cera, a medula homrica, depois,
dali, nos bastaria um passo para decifrar o prprio enigma de Homero.
Silncio!, ordenei-me logo. Nenhuma palavra sobre isso a ningum. Tirando Max
Roth...
Minha cabea continuava fervilhando. J no era um crebro, e sim alguma coisa
parecida com as cataratas do Nigara. Como isso ainda no havia ocorrido a
ningum? Ia analisar e estudar in loco o mecanismo milenar que produzia esse
material mgico. E o milagre se realizava ainda em nossa poca, enquanto eles, em
Manhattan, Paris, Dublin, a milhares de quilmetros desse local, continuavam se
dedicando a discusses estreis.
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