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‘Aury Lopes Je Goldschmidt, James. Problemas juridicos y politicos del Proceso penal. Barcelona, Bosch, 1935. Goldschmidt, Werner. Dikelogla - La ciencia de la justicia. Buenos Aires, Depalma, 1986. Gomez Orbaneja, Emilio. Comentarios a la ley de enjui- ciamiento criminal. 2 tomos. Barcelona, Bosch, 1951. Guamieri, Jose. Las partes en el proceso penal. Trad. Cons- tancio Bemaldo de Quirés. México, Jose M. Cajica, 1952. Lopes Jr, Aury. Sistemas de investigagao preliminar no processo penal. Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2001. Rubén Castillo, Juan. "Garantias en el Seno del Proceso Penal USA". Palestra apresentada no curso Investigar, Acusar, Juzgar, promovido pelo Colegio de Abogados de Madrid e a Universidad Complutense, em 16 de julho de 1998. Publicada na Revista Otros{~ do Colegio de Abogados de Madrid — ne 141, de setembro de 1998, pp. 30e ss. Simmel.“O dinheiro na cultura moderna (1896)". In: Simmel a modernidade. Jessé Souza e Berthold Oélze (org.). Brasilia, UnB. Streck, Lenio Luiz. Tribunal do jiri ~ simbolos & rituais. 38 Edigao. Porto Alegre, Livraria do Advogado, 1998. Vallejo, Valéria Inacio. “Necréfilos". In: Jornal Agora. Rio Grande, 14 de setembro de 2001, p. 2. Zaffaroni, Eugenio Raul. “Desafios do Direito Penal na Era da Globalizagao”. In: Revista Consulex. Ano V, n® 106, 15 de junho de 2001. Consideragées sobre as Incongruéncias da Justiga Penal Consensual: retérica garantista, pratica abolicionista Salo de Carvalho" Parte I- O pensamento abolicionista: origens politico-criminais dos modelos consensuais de justiga penal Desde a década de sessenta, 0 discurso abolicionista advoga a contrago-eliminagao do sistema penal/carceré- rio. As propostas vao desde a eliminagao do modelo de jus- tiga penal até alternativas aos regimes de apartacao. ‘Como vertente teérica direcionada a construir discur- 0 critico do sistema penal, as correntes abolicionistas mul- tiplicam-se, pois, segundo Sherer, “hay poco consenso en- tre los autores que puedem ser considerados ‘abolicionis- tas’. Fundamental, portanto, definirmos preliminarmente © que entendemos por abolicionismo e como concebemos 0 movimento. Concordamos com Luigi Ferrajoli quando considera abolicionistas “solamente quelle dottrine assiologiche che contestano come illegittimo il diritto penale, o perché non ammettono moralmente nessun possibile scopo come giusti- ficante delle afflizioni da esso arrecate, oppure perché repu- tano vantaggiosa I'abolizione della forma giuridico-penale *Advopao. Meste (UFSC) Dost (UFEE) om Dio, Profesor do Ci Programa de Doute (OPO) ~ Sevilla 1 Shoerer, Sebastian. Hecia ol aboticionisme, p. 20. v9 Salo de Carvalho dolla sanzione punitiva e la sua sostituzione con mezzi pe- dagogici 0 strumenti di controlo di tipo informale e imme- diatamente sociale" ? Diferem-se, portanto, das doutrinas criminolégicas substitucionistas convergentes com 0 corre- cionalismo positivista que, ao pretender encontrar substi- tutivos penais, relogitimam o discurso da ressocializagao (discurso da nova defesa social). © abolicionismo congregaria autores, principalmento 08 do norte da Europa (escandinavos e holandeses), que, partilhando do modelo sociolégico critico da década de sessenta e setenta, comungam propostas politico-crimi- nais estruturadas na premissa da radical contragao/substi- tuigdo do sistema penal por outras instancias resolutivas A dificuldade de precisa conceituagao do abolicionis- mo parte fundamentalmente da questao de se apresentar ao exterior mais como ‘movimento’ do que como ‘escola’. A indagagao acerca de ser sua producéo doutrinaria, subs- ‘trato suficiente para consolidagao de teoria ou modelo paradigmatico, levou Scherer a afirmar que 0 mero fato de existir importante literatura sobre 0 abolicionismo nao 0 converteria em paradigma no sentido khuneano. Prefere 0 autor referit-se ao abolicionismo como uma ‘teoria sen- sibilizadora’, ou seja, “una ‘teoria’ que tenga la posibilidad y el objetivo de transcender los modelos, clasificaciones y presunciones tradicionais, pero sin presentar pruebas aca- badas do estas nuevas ideas ni el inventario de sus proprias herramientas conceptuales y metodolégicas" 3 Fundamental demonstrar, pois, que o movimento abo- licionista integra amplo rol de projetos de tutela de direitos estruturados a partir de uma matriz paradigmatica comum, (paradigma da reacdo social), a qual possibilitou a des- Consideragies sobre as Incongruéncias da Justiga Penal ‘Consensual: retérica garantista,pritica aboliconista construgao teérico-académica do modelo penalégico do tratamento (paradigma etiolégico). Em se tratando de movimento essencialmente negati- vo, ou seja, de descontrugao da base mitolégica sobre a qual 6 estruturado o Direito Penal, 0 abolicionismo caracte- riza-se pela estrutura plural e polissémica de suas manifes- tagdes tebricas. Dentre as imimeras formas de manifestacao do proje- to, situaremos nosso estudo seguindo a tipologia proposta por Zaffaroni distinguindo quatro variantes no conflitan- tes: (a) a tendéncia estrutural-historicista de Michel Fou- cault; (b) a variante marxista de Thomas Mathiesen; (c) @ concepgao fenomenolégico-historicista de Nils Christie; ¢ (d) a perspectiva fenomenolégica de Louk Hulsman. LI. O estrutural-historicismo de Foucault: fundagées discursivas Michel Foucault, “embora ndo possa ser considerado um abolicionista no sentido dos demais autores’,5 é a pri- meira referéncia tedrica contempordnea constitutiva deste saber contracultural. A andlise das estruturas de poder proporcionadas por ele, principalmente a relativa ao esta- belecimentos carcerdrios, confere enormes subsidios ao movimento, A andlise foucaultiana sobre a questo carceraria, rea- lizada no capolavoro Vigiar ¢ punir, possibilitou a constru- go de um saber critico que potencializou o discurso aboli- cionista. Direcionando o trabalho do autor ao saber penal, podemos constatar dois especificos de anélise. O primeiro versa sobre a criminologia tradicional e o segundo sobre as estruturas capilares de poder. 4 Zaffaroni, Eugenio Ral. Em busca das penas perdidas,p. 98. 5 Zaffaroni, Eugenio Rail. Ob. ct. p. 101 a1 Salo de Carvalho A primeira decorréncia, extremamente itil para enten- dermos o discurso da criminologia oficial, é a constatacao de que todo sistema de poder se legitima através de um discurso cientifico. Portanto, 0 papel da criminologia tradi- cional ~ administrativizada e medicalizada (clinica) - foi 0 de justificar as praticas punitivas através do discurso res- socializador. A (te)orientacao ocorrida na criminologia etio- logica, antevista por Liszt no Programa de Marburgo ¢ por Rocco na proluséo sassarena mas acentuada com a crise imposta pelo paradigma da reagdo social,® justifica plena- mente essa hipétese. Independente do fato de sua desqua- lificagao cientifica em relagdo as demais ciéncias correla- i -administrativizado e correcio- nalista impée-se, invisivelmente, como discurso subliminar na fase legislativa de graduacao e na fase judicial de comi- nago da pena, para solidificar sua importéncia no momen- to executive. ‘A segunda conseciiéncia do discurso foucaultiano é a do romper com a idéia de ‘sistema’ punitive. Advoga 0 autor que as relagées de poder nao podem ser visualizadas om uma estrutura macroscépica. A relagao de poder ocor- reria complexamente em niveis quase imperceptiveis, ¢ de forma assistemética, por manobras, téticas, técnicas e fun- cionamentos invisiveis que néo permitem ao investigador a apropriagao do objeto. Nao existiria um sujeito ou institui- ‘go possuidora do poder, pois “onde hé poder ele se exerce. Ninguém 6, propriamente falando, seu titular; e, no entanto, ele sempre se exerce em determinada diregéo, com uns de um lado e outros do outro; ndo se sabe ao certo quem o detém; mas se sabe quem néo 0 possui”7 ric Carvalho, Salo. Pona o garantias: uma leiture do Forrajlino Brasil, p. 69 usque 81 shel Oz inteloctuais eo poder: convarsa do Michel Foucault © Gilles Deleuze, p- 75. 132 Consideragies sobre as Incongruéncias da Justiga Penal Consensual: retérica garantista, prtica aboliionista, A constatagao da transferéncia (passagem) da puni- 40 a vigilancia disciplinar, conduz exatamente a esta dife- renciagao entre os niveis de exercicio de poder na socieda- de: 0 poder atua sobre 0 corpo social de forma constante e imperceptivel. © enfoque foucaultiano sobre a estrutura social sua relagao com a forma de punir, gera radical mudanga no interior do discurso da criminologia critica, que passaré a exigir ruptura com as instancias formais de controle social. Nesse sentido, como legado, apresentam-so as propostas de Hulsman, Christie e Mathiesen, principais divulgadores das idéias abolicionistas na atualidade. LIL A acepgéo marxista de Mathiesen Em 1972, Thomas Mathiesen, professor da Universida- de de Oslo, publicou a primeira parte da obra The politics of abolition, cuja edicéo completa chegou ao piiblico em 1974, Segundo o autor, naquele momento a abolig&o, ou ao menos uma drstica redugdo do tamanho e quantidade dos modelos carcerdrios noruegués, holandés e belga, era rela- tivamente possivel. Esta utopia concreta descrita pelo autor fomentou a criagéo da Organizacdo Norueguesa Anti- carcerdria (KROM), © escopo do movimento foi centralizado na aboligéo do cércere, negando, inclusive, propostas substitutivas (penas altemativas), dado o temor de que estas “se podrian ‘transformar fécilmente en nuevas estructuras carcelérias con funciones similares a las de las propias cérceles".® A roposta era estabelocer uma ‘revolucéo permanente’, sem limite a priori, fomentando reformas negativas de curto prazo para nao obstaculizar o abolicionismo. Nao remode- Jaro sistema de penas, mas manter 0 sistema oficial abrin- 8 Mathiesen, Thomas, La politica del abolcionismo, p. 110 Salo de Carvalho do-o progressivamente (v.g. melhoramento de condigées de vida, ampliagao do regime de visitas, aumento da constén- cia e do periodo de saidas temporérias et coetera). Do fundamento da aboligéo do modelo carcerério, Mathiesen reivindica processo de moratéria na construgao de novas instituig6es prisionais a partir de oito conclusées: a) a criminologia e a sociologia j4 demonstraram que 0 obje- tivo de melhora do detento (prevengao especial) é irreal, sendo constatavel efeito contrario - destruigao da persona- lidade e a incitagio da reincidéncia; b) o efeito da priséo no que diz respeito & prevengao geral é absolutamente incer- 10, sendo possivel apenas estabelecer alguma relagao entre a dissuasio © as politicas econémicas e sociais; c) grande parte da populacao carceréria ¢ formada por pessoas que praticaram delitos contra a propriedade, ou seja, con- ) a construgao de novos ) 0 sistema carcerério, enquanto instituicdo total, tem caréter expansionista, ou seja, susci- ‘ta novas construgées; f) as prisdes funcionam como formas institucionais e sociais desumanas; g) o sistema carcerario produz violencia e degradacao nos valores culturais; 6 h) © custo econémico do modelo carcerérrio é inaceitavel. ‘Assim, “Jos argumentos de prevencién individual, di- suacién general, posibilidades de probibicién, irreversibili- dad de la construcién, del cardter expansionista del sistema carcelario, humanitarismo, valores culturales ¢ economia, todos apunta contra la construcién de més cérceles. Los argumentos funcionam conjuntamente. Aunque algunos por separado no sean suficientes, juntos respaldam firmemente una moratoria por mucho tiempo". ‘Atualmente, embora percebendo a tendéncia mundial no sentido oposto ao da aboligao, Mathiesen reflete sobre os escudos protetores da priséo, mecanismos que teriam '& Mathiesen, Thomas. Ob cit. p. 124 194 CConsideragdes sobre as Incongruéncias da Justiga Penal Consensual: retorica garantista, prética aboliconista, por fungéo ocultar sua irracionalidade. Antevé, pois, for- mas de destrui-los e, dessa maneira, desmontar as institu- ges que protegem. Os escudos seriam formados pelos agentes da administracdo carcoraria, pelos cientistas £0- ciais (intelectuais e pescuisadores da criminologia oficial — clinica) e pelos meios de comunicagao, Sustenta o autor que os administradores conformam a mais central instancia de tutela da instituigao. Seu siléncio, derivado da cooptacdo, lealdade ou disciplina, agrega-se ao dos cientistas sociais (criminélogos) que, se nao esto silen- ciosos, apenas murmuram protestos. Entretanto, a grande problematica deriva da ocultacéo e distorcao da realidade prisional operada pelos meios de comunicagao. A conver- géncia desses fatores impediria a visibilidade do barbaris- ‘mo da instituigéo - “as pessoas nao sabem quéo irracionais 840 nossas pris6es. As pessoas sao levadas a acreditar que as rises funcionam. A irracionalidade verdadeira da priso 6 um dos segredos melhor guardados em nossa sociedade. Se o segredo fosse revelado, destruiria as rafzes do sistema atual ¢ implicaria 0 comego de sua 30 Admitindo que a possibilidade de encarcerar alguns individuos ainda permaneca, Mathiesen sustenta duas te- ses que entende reduziriam drasticamente a necessidade do cércere ¢ do sistema penal como um todo: politica social ¢ descriminalizagao das drogas. E fato notério que grande parte da populagao carcerdria 6 composta por pessoas que praticaram crimes contra o patriménio.1? Sabe-se que a agao 10 Mathiesen, Thomas. A caminbo do século 2 aboiggo, um sono impos: sivel?, p. 277. 11 No Brasil, sound informagses do tlio censo penitencria - aimulga- fem anos com grande aumento de desemprege verifica-se aumento nas taxas de crimes contra 0 patriménio, Salo de Carvalho na area social reduz essa espécie de criminalidade - “a guerra contra o crime deveria tornar-se uma guerra contra a pobreza”.!2 Jé a tese politico-criminal da descriminalizagao das drogas atingiria, segundo o autor, 0 centro do crime organizado “neutralizando o mercado ilegal ¢ reduzindo drasticamente a quantidade de crimes”. Todavia, a proposta mais desconstrutora do atual modelo penal é a referente as formas de apoio as vitimas. Compensago financeira pelo Estado, sistema de seguro simplificado, apoio econémico em casos de luto, abrigos Protetivos e centros de apoios seriam fundamentais para modificar 0 sistema. Sustenta Mathiesen que as vitimas nao recebem absolutamente nada do sistema atual, e pro- de uma guinada de 180 graus: “ao invés de aumentar a unigéo do transgressor de acordo com a gravidade da transgresséo, o que 6 basico no sistema atual, eu proporia 0 aumento do apoio & vitima de acordo com a gravidade da transgresséo”."4 Ao contrério de uma escala de punicées, uma escala de apoio. A teoria abolicionista de Mathiesen agrega uma con- cepgao materialista da sociedade. Diferentemente de Foucault, que trabalha na perspectiva invisivel e impercep- tivel do poder, Mathiesen elabora seu modelo desde a con- cepgao de estruturas sociais, visualizando na estrutura produtiva capitalista o poder repressivo. A abolicéo daque- las implicaria a derrocada destas. Afirma Zaffaroni que 0 autor pode ser considerado 0 estrategista do abolicionis- mo, basicamente pela idéia de revolugéo permanente e sem limites. Sustenta que "sua tética abolicionista encon- tra-se estreitamente vinculada a um esquema relativamen- 42 Mathiesen, Thomas. Ob. cit. p. 276 13. Idem. 1 Th.ibdem, p.276. 198 Consideragées sobre as Incongrusncias da Justiga Ponal ‘Consensual: retrica gavantiste, pritica abolicionista te simples do marxismo, o que, no entanto, néo retira 0 inte- esse de suas considerag6es taticas”.15 ( grande problema desta concepgao estruturalista é 0 entendimento de que o poder é visivel (palpével), nao transcendendo as instituigdes. Trabalha, pois, com as no- gées marxistas classicas de infra-estrutura econdmica ¢ superestrutura legal seré implacdvel na critica ao modelo proposto por Ma- thiesen, afirmando ser ingénua, pouco consistente e nada frutifera a sua fundamentagéo metodolégica materialista, gerando uma andlise irreal no que diz respeito ao poder, sua manifestagao e as formas de detecté- LUI. O modelo fenomenolégico-historicista de Christie A matriz abolicionista na vertente de Nils Christie, parte da maxima na qual o sistema penal e, principalmen- te, a pena, sdo estruturas de controle social encarregadas de produzir sofrimento e impor dor. Assim, “los sistemas sociales deberian construirse de manera que redujeran al minimo Ja necesidad percibida de imponer dolor para lograr ja do autor 6 baseada em formas de redugao 40 minima de sofrimento, buscando opgées aos castigos e nao castigos opcionais como sao as sangdes penais alternativas e/ou substitutivas. Assim, as criticas de Christie atingem tanto as teorias penalogicas positivis- tas (ideologia do tratamento) quanto os modelos neoclassi- 15 Zalfaroni, Eugenio Raul. Bm busca das penas perdidas, p. 99, Sobre a fundamentacian motodologica del enfoque abelicio Sistema de justicia penal: una comparacién de lax ideas de Mathioson © Foucault, p. 74 17 Christie, Ms. Las limites del dotor, p. 1, Salo de Carvalho cos (ideologia utilitarista). Parte da dentincia explicita ao sistema do tratamento, abordando seus principais temas: instituigdes, método e periculosidade. O autor segue os postulados do paradigma da reacéo social e fundamenta a desconstrugéo do modelo etiolégico om trés premissas: a) 08 ‘contros de tratamento’ do delingtiente so similares, quando ndo idénticos, aos cérceres comuns; b) os ‘métodos ciontificos' sao inexitosos, pois nunca impediram a reinci- éncia; e c) os conceitos — como o de periculosidade - s40 absolutamente isentos de predicagao. Logo, “la ideologia del tratamiento nos evé al castigo escondido, a la imposi- cién secreta de dolor, al hacer creer que ofrecia una cura 0 terapia".3® Conclui serem gémeas as ideologias da prevengéo especial © da prevengao goral, visto que, se o tratamento tem por objetivo modificar o delingiente, “la disuasién 6s un intento de cambiar la conducta de la gente. En ambos casos es un dolor com un propésito. Se supone que tiene lu- gar algiin tipo de modificacién de la conducta”.*9 Os mo- delos ideolégicos sustentar-se-iam sobre falsas imagens do homem, da sociedade e das formas de resposta ao crime. Para 0 autor, um dos grandes problemas do sistema penal 6 a aplicagéo de modelos classificatérios binérios, nos quais a oposicao entre atos corretos ou incorretos, @ pessoas culpadas ou inocentes, produz a destruico dos lagos comunitérios horizontais da sociedade. A solugao para o problema do sistema penal estaria na composicao de estruturas de justiga participativa e comunitéria, mais préximas dos sistemas privatistas do que do modelo processual ¢ sancionatério criminal. Nes- ses sistemas, as formas de instrumentalizar e sancionar Christie, is. Ob. et, p. 63. 19 I tbdom, p36 138 Consideragées sobre 9s Incongruéneias da Justign Penal ‘Consensual: retérica garantist, prétics aboticionista abdicariam da privagao 0/ou restrigao da liberdade, assu- mindo a reparagao ou indenizagao como ideal para respon- der 0 conflito. Nota que “en Jos tiltimos ands hemos observado un mayor interés por la aplicacin de medidas no penales, como una alternativa al castigo, la mayorla de las cuales se basa en discusiones directas entre las partes, que con fre- cuencia terminam en acuerdos de reparacién del dafio cau- sado. Este cambio va desde el uso monopélico de la pena ‘por parte del estado hacia los intentos por permitir que las partes tengan oportunidad de encontrarse y buscar por sf mismos formas de reparar el dario. Estas ideas en conjunto se llaman ‘ideas abolicionistas’, aunque algunas veces se la encuentra bajo denominaciones como ‘descarcelacién 0 descriminalizacién”.2 Desde a percepgao das relagdes sociais como intera- ges comunitérias de pessoas, Christie nega o que deno- mina ‘falsa imagem’ do conflito operada pelo direito penal, direcionando seu modelo de controle social & cons- trugdo de organismos locais informais de manejo do con- fito. Assume a informalizagéo baseado na afirmagao de que a estatizacéo do conflito vitimiza novamente o sujeito passivo, ao impedir sua participagao na resolu- Ao do caso. A tinica saida seria a (re)incorporagao da vitima, colocando-a em posigéo de igualdade proces- sual com o réu, auferindo-Ihe capacidade de negocia- ao na busca de compensagao ~ “la compensacién de la victima es una solucién sumamente obvia que ha usado Ja mayoria de la gente del mundo en la mayorla de las situaciones”.1 20. Christie, Nils. Las imagenes del hombre en ol derecho penal maderno, 139 Salo de Garvallo LIV. A fenomenologia de Hulsman Louk Hulsman, um dos principais pensadores da teo- ria politica abolicionista, entende ser ontolégico 0 proble- ma do sistema criminal. Diferentemente do modelo propug- nado por Mathiesen, entende fundamental um absoluto radical cambio nas estruturas de controle social, abando- nando gradualmente todos sistemas formais, néo somente © cArcere, para otimizar modelos informais societarios (comunitérios) de resolugao de conflitos. Segundo o autor, o modelo de justiga penal é: a) extre- mamente incontrolavel; b) distribuidor de sofrimento des- necessério; c) substancialmente desigual e d) expropriador dos direitos dos cidadaos diretamente envolvidos no confli- to, principalmente das vitimas. Sustentado pela afirmagao na qual “o sistema penal 6 especificamente concebido para fazer mal” #2 Hulsman descreve as fungoes de seletividade, etiquetamento ¢ estigmatizacao operadas pela incidéncia arbitraria, © ndo-paritaria como quer a tradicional doutrina liberal, do modelo nos diferentes estratos sociais. Ao avaliar as cifras ocultas da criminalidade, formula a hipétese central das razdes do abolicionism lizacao efetiva é um evento raro e excepcional”.® Sustenta que os conflitos existem mas, ao contrério do que se pensa, 0 resolvidos em esferas alternativas e informais, distan- tes da justica criminal. Leciona que “a grande maioria de eventos criminalizé- veis (‘sérios’ e ‘menores’) pertence, assim, a cifra negra. To- dos esses eventos séo, portanto, lidados fora da justiga cri- 22 oleman, Louk. Fenas pardidae,p. 88. 23 Hulsman, Louk. Temes ¢ conceltos numa abordagem abolicionista da jus: tiga criminal, p. 208. 24 Sabre tema confoiro primero capitulo, intitulade A cia negra, dacbra de Thompson, Auguste. Quam s4o os criminosos? 140 Consideragées sob (Consensual: retéria ‘minal. Digo ‘lidados’ de propésito, porque ndo devemos co- ‘meter 0 erro de pensar que 0 que néo é in acto néo esté in mundo. 0 fato de néo sabermos que se ‘lidou’ com alguma coisa ndo significa que ndo se ‘dou’ com ela (...). Quase to- dos os eventos probleméticos para alguém (uma pessoa, uma organizagéo, um movimento) podem ser abordados num processo legal de uma forma ou de outra (justiga crimi- zal, civil ou administrativa), mas muito poucos deles sé0 realmente abordados desta forma, como mostram a cifra negra e outras formas de justica” 2° Hulsman sustenta que a limitagdo das situagdes pro- blemédticas & terminologia utilizada pela justiga penal (cri- me) 6 uma forma diversa de compreensao dos fatos e de providenciar resolugées. Afirma serem inimeras as possi- ilidades de acortamento © do reagdes possiveis além da Punigdo como, por exemplo, a compensagao, a mediacéo, a conciliagdo, a arbitragem, a terapia, a educacéo, entre outras. E que a restrigao, ou privilégio, do sistema penal pela coergao punitiva faz com que a aco de resposta a0 problema seja uma agao unilateral e arbitraria. A primeira orientacao proposta pelo autor a radical modificagdo da linguagem penal (abolicionismo académi- co). Somente com este cambio haveria possibilidade de alcangar verdadeiras alternativas, pois, “chamar um fato de ‘crime’ significa excluir de anteméo todas estas outras Jinhas; significa se limitar ao estilo punitivo ao estilo puni- tivo da linha socioestatal, ou seja, um estilo punitivo domi- nado pelo pensamento juridico, exercido com uma distancia enorme da realidade por uma rigida estrutura burocrética. Chamar um fato de ‘crime’ significa se fechar de antemao nesta opeao infecunda, Para mim néo existem nem crimes nem delitos, mas apenas situagées problematicas” 2 A pri- 25 Hulaman, Louk. Ob. cl, pp. 203-208, 26 Mulsman, Louk. Ponas perditas, pp. 100-101 Salo de Carvalho meira estratégia para alcancar 0 abolicionismo seria, pois, pela mudanga da linguagem. Tal modificacao pemitiria maior tolerncia com modelos culturais diferenciados e a construgao da situacéo problemética como um acidento, um fato da vida, um caso fortuito. A conseqiiéncia positiva seria a néo-segregagéo maniquaista da sociedade entre vitimas e criminosos, rompendo com a estrutura ideolégica dos modelos de defesa social estruturados sob 0 principio do bem e do mal. Posto isto, alcancar-se-iam condigées de modificacéo de toda estrutura penal que, principiando pela ampla des- criminalizagdo © descarcerizagao, deixaria de lado seu aspecto limitado e formal para adotar modelos informais e flexiveis de processualizagéo e penalizagéo. A comparagao proposta tem como contraponto étimo os modelos de justi- ga civil e administrativa. Entendendo ser imprescind{vel “devolver as pessoas envolvidas o dominio de seus conflitos",27 Hulsman vé nos sistemas civeis e administrativos modelos de flexibilizagao processual e penalégica que possibilitariam a vitima e ao imputado didlogo face to face na busca de resolugao do pro- blema intorindividual - “esta flexibilidad tiene muchas ven- tajas. Aumenta mediante negociaciones, las posibilidades de dar un significado comin a las situaciones probleméti- cas”.28 Negaria, assim, 0 fato de o Estado se apropriar — roubar, nas palavras de Christie - do direito da vitima e estigmatizar os réus. esta forma, a estratégia néo seria somente a gradual e constante aboligao da coergao criminal, mas do préprio. sistema de justiga penal, substituindo-o pela estrutura. informal e flexivel da justica civil e administrativa. Todavia, 29 Chuistie, Nils. Las limites del dolor, p. 126. wa Consideragées sobre as Inc ‘Consensual: Yetérica garant 4 Justiga Ponal ica abolicionista advoga Hulsman que antes de mais nada é necesséria uma espécie de ‘converséo coletiva’, no sentido metaférico do termo, pois “a aboligdo é, assim, em primeiro lugar, a aboli- 40 da justiga criminal em nés mesmos: mudar percepgoes, atitudes e comportamentos".% Quanto a sua fundamentagéo da politica abolicionista, tanto Folter®! como Zaffaronis? entendem que Hulsman nao nos oferece uma completa e explicita estrutura metodol6gi- ‘ca como faz, por exemplo, Mathiesen. Contudo, pelo fato de © autor construir suas criticas na realidade mesma do sis- tema, tomando sua disfuncionabilidade visivel ao leigo © impondo sensibilidade ao leitor quando busca a revitaliza- go da estrutura social, poderfamos afirmar que hé uma clara indicagao direcionada ao enfoque fenomenclégico. Uma fenomenologia mundana, néo idealista, que nos faz sens{veis a interpretagdo das experiéncias vividas ¢ ao fato de ser a criminalizacdo apenas uma entre as intimeras for- mas de resolugao de conflitos. Uma fenomenologia ecolégi- ca, de raiz crista, expressa pela orientagéo de aproximar- nos do problema mesmo. Parte II - O garantismo penal e a critica aos modelos de justiga penal consensual © garantismo juridico-penal, entendido desde a pers- pectiva critica do direito, ndo se apresenta apenas como alternativa viével aos modelos de criminalizagao excessiva e punicéo desproporcional, mas, também, como modelo alternativo ao proposto pela teoria abolicionista. 1 Louk, Temas ¢ conceitos numa aborcagem aboliioniste da jus- tiga criminal, p. 212 32 2affarom, Eugenio Ravi. Sm busca das penas perdides: a parda de logiti- ‘midade do sistama panal,p. 98. Salo de Carvaito E mister ressalvar, desde j4, que negamos terminante- mente as criticas demonizadoras do modelo politico-crimi- nal abolicionista. Entendemos que as varias matizes do abolicionismo: a) so extremamente titeis e importantes para a avaliagao fenomenolégica da (in)eficdcia do sistema penal; b) seus fundamentos teérico-doutrinarios, ancora- dos no paradigma da reagao social, sao irreversiveis, do onto de vista académico, na cié: gumas de suas propostas, fundamentalmente aquelas que dizem respeito & abolicao da pena privativa de liberdade cumprida em regime carcerério fechado, aos processos de descriminalizacao e a negativa da ideologia do tratamento, sao vidveis como projeto pol Porcebemos, assim, 0 abolicionismo na perspectiva de Alessandro Baratta, ou seja, como uma utopia orientadora de extrema importéncia heuristica, Nao hé mudanga sem utopia, e no momento em que o homem renuncia a utopia acaba por renunciar sua prépria condigéo humana. Este dado 6 importante para que nao ocorra o enclausuramento da teoria aqui proposta. E que entendemos como um dos grandes problemas das teorias abolicionistas a possibiliade de converso do sistema formal de controle processual penal em modelos desregulamentados de composicao dos conflitos, que ten- dem a reeditar esquemas pré-contratuais (sociedade primi- tiva) e/ou formar modelos disciplinares (panoptismo social), ou ainda a criagao de instancias formais civil-admi- nistrativas isentas das garantias tipicas do proceso penal. O primeiro modelo revela um estado isento de legalidade limites as liberdades, configurando um modelo de resposta irracional a violagéo dos direitos, ou instaura modelos pe- dagégicos de higienizacéo sociopolitica de sociedades de 33° Apud Zaffaroni, Bugenio Rail, BI sistema penal en los paises de América Latina, p. 224. Consideragées sobre as Incongruéncias da Justica Penal Consensual: retseica garantista, prética abolicionista tecnologia maximizada e total. O segundo modelo, admi- nistrativizado, acaba por ser um dos modelos vigentes na estrutura processual contempordnea (modelos anteriores e supervenientes ao proceso penal de cognigo), e represen- ta sistema de extrema violncia aos direitos fundamentais. Percebe-se que a critica desenvolvida pelas correntes abolicionistas indicam a necessidade de erradicagao do sistema penal fundamentalmente em decorréncia: a) das ilegalidades produzidas pelo préprio poder, fruto das viola- c6es dos direitos fundamentais dos individuos submetidos ao sistema (réus © condenados); e b) do fato de o Estado, que detém o monopélio do direito de punir, apropriar-se de um ‘direito’ legitimo da vitima. ILI. Sobre o papel da vitima no processo penal Quanto ao papel da vitima no processo penal, concor- damos com o diagnéstico apresentado que, em realidade, nao 6 exclusivo do pensamento abolicionista mas de toda tradic&o processual penal da modernidade: o Estado toma como seu direito de outrem. A ligéo de Juan Montero Aroca 6 precisa: “(...) puede decirse que el Estado produjo una cierta ‘expropriacién' de los derechos subjetivos pena- Jes, de modo que éstos no existen en manos de los parti- culares” 34 Apesar de correta anamnese, discordamos, com o prognéstico polftico-criminal abolicionista, ou seja, a ne- cessidade de devolver a vitima o seu direito expropriado. Nao obstante, séo cada vez mais comuns os elogios aos modelos de justica penal consensual, a tendéncia de tomar a vitima sujeito do processo, tudo indicando uma nova fase 34 Aroca, Juan Montero. Princpios del proceso penal una explicacién basa- dda nla raz, p22. 148 Salo de Carvatho de ‘privatizagao do proceso penal’; acusatéria privada germanica do mediet Nao podemos olvidar, fundando nossa matriz, que a principal conquista da modernidade foi a reducao do poder de resolugéo do caso penal, aplicagdo da pena e execugao da estrutura Estado gondarme, ce decir hacia su génosis, con sistemas de control social (que sélo fancionan cuando un interés real, que el Bstado hace proprio lo Consideragées sobre as Incongruéncias da Justiga Penal Consensual: retérica garantita, prética abolicionista da sangao em uma ‘inica figura: o Estado. Tal perspectiva esta posta como conditio sine qua non de civilidade em todos os filésofos do iluminismo, ou seja, 0 homem, abdi- cando do ito de resolver 0 conflito individualmente (autotutela), confere este poder-dever a um terceiro impar- cial que atua como substituto (processual). Dai porque jurisdigao nada mais 6 do que “atividade substitutiva da dos membros da comunhéo social, pelo Estado, através dos agentes do Poder Judiciério — juizes e tribunais" *? ‘A légica da ergumentagao esta no fato de que o sujei- to envolvido com 0 conflito nao tem ‘capacidade de subli magao’, ou seja, de sair do préprio conflito e, ao observé-lo de fora, verificar imparcialmente a esposta adequada a0 caso. Pelo contrario, entendemos que pelo fato de estar intrinsecamente envolvido na contenda, acaba por interna- lizar desejos de vinganga, respondendo irracionalmente (desproporcionalmente) ao agressor. Lembrando novamente Juan Montero Aroca, “Ja cons- tatacién de la existencia de los monopolios [crimi Jum crimen sine lege -; penal ~ nulla poena sine legge ~ jurisdicional - nemo damnetur sine legale iudicium ~ @ de execugo das penas] nos lleva a una conclusién inicial que Esa conclusién puede enun- ridica material penal entre Jos que han intervenido en la comisién del delito, bien como autor bien como victima, y 2) El ofendido, y menos el perju- dicado, por el delito no son titulares de un derecho subjetivo a que al autor de! mismo se le imponga una pena. La aplica- cién del Derecho penal hé sido asumida en exclusiva por el Estado, de modo que los particulares no tienen derechos subjetivos de contenido penal”? logério Lauria. Jurisdigto, aedo o procasso pional,p. 8 38 Aros, Juan Montero. Ob. eit, pp. 21-22 (9.0). Salo de Carvalho Assim, no 86 entendemos que o Estado deve realizar a expropriagao do “direito” (natural) da vitima, como esta nao tem, e nem deve ter, interesse penal. Leciona Afranio Silva Jardim que, “é de todos sabido que a aplicacéo de uma determinada sangao penal nao esté voltada para @ satisfacéo retributiva da vitima, embora se possa reconhe- cer como natural sua vontade de ver punido o agressor. A pena néo tem a funcdo de reparar o dano, nao tem cardter reparatério" 88 Propugnar reparabilidade do dano pela via processual penal é (con)fundir as esferas de ilicitude e os graus quan- titatives © qualitativos entre os ilicitos criminais © os , administrativa, tributaria, trabalhista et coe- dogmética penal, ao elaborar a estrutura propedéu- demais ilicitos fundamentalmente pela sangao aplicada. Partindo da correta premissa de que nao hé diferenciaco ‘ontolégica entre as condutas, isto é, que nao existe condu- ta penal, civil ou administrativa em si mesma, estabelece 0 contraponto pela reagdo estatal imposta. Demonstra Antolisei que todas as tentativas de encontrar critérios substanciais na diferenciagao dos ilicitos resultaram fra- cassadas.9 Assim, ensina Frederico Marques, que é no valor extrinseco, nas conseqiiéncias do ilicito, que distin- guimos sua natureza,4 concluindo que “o ilicito civil provo- 38 Jardim, Afténie Siva, Apo penal publica: principio da obrigatoriedade, forged, ou a dbrigagéo de indonizar, ou a abrigagao de restitul, ov a de 148 Considoragses gobre as Incongruéncias da Justiga Penal Consensual: retérics garantsta,prética abolicionista ca uma coagao patrimonial, e 0 ilicito penal uma coagao pes- soa!" #2 No mesmo sentido, Heleno Fragoso constata que “o ois a sancao propria deste tiltimo 6 apenas reparatéria (restituigéo, ressarcimento, execugao coativa, nulidade)" + Em realidade, o que a doutrina lecio- na 6 que, muito embora seja uma escolha arbitréria do legislative, é precisamente a irreparabilidade do dano que estabelece entre as ilicitudes civil e penal. Temos, pois, que se hd pos- sibilidade de reparagéo do dano, a via penal nao a ade- quada, devendo-se, ao contrério de privatizar o conflito pe- nal, desctiminalizar a conduta, substituindo sua coloracao juridica. Tudo para evitarmos a comercializagao do delito através da sangao penal, efeito visualizado por Geraldo Prado ~ "(...) 0 novo Estado minimo busca resolver conten- das penais na perspective da comercializagao dos interesses em jogo, promovendo solugdes reativas ao crime que, inde- endentemente da fragilidade das estruturas processuais ‘que séo colocadas disposicao do acusado, conduz a preva- Jente posi¢éo juridica processual dos ofendidos individuals ao lados da previsdo de sangées penais de inequivoco cara- ter reparatério individual, como é 0 caso, no direito brasilei- 10, da pena de prestagéo pecuniéria (art. 43, inc. Il, do Cédigo Penal)" 4 Légico que, ao nao vermos o processo penal como ins- trumento adequado para satisfazer a vitima e buscar a laragao da nulidadie do ato o feito penal, a contrério, pode determinar 2 a 4 Salo de Carvalho reparagao do dano, néo propugnamos uma absstencao esta- tal na sua tutela, Todavia, a agao nao pode ocorrer no inte- rior do necessério processo penal, que diz respeito funda- mentalmente & tutela do réu. Ressalte-se: 0 processo penal é revestido de uma instrumentalidade garantista, da a defesa do imputado/réu contra os poderes piiblicos @/ou privados desregulados, e néo da vitima, Alids, desde o plano empfrico-sociolégico, téo presen- ‘te nos argumentos abolicionistas, poderiamos afirmar que trazer a vitima ao processo é deflagar processo de revitimi- zagao, potencializando novamente os efeitos da lesao sofrida anteriormente, pois se 0 escopo do processo 6 a reconstrugéo de um fato pretérito no mais passivel de ‘experimentagao para solucionar o caso penal, ao proporcio- nar tal experiéncia & vitima, estariamos fazendo com que ela rovivesse aquele momento de dor e angustia. Cabe ao Estado, em sua esfera social, em sua faceta intervencionista, tutelar a vitima, dai porque sao interes- santes as propostas de Mathiesen quando viabiliza meca- nismos de apoio, sempre ptiblicos, baseadas em compen- sago financeira e sistemas de seguro puiblicos, aumentan- do a tutela ao ofendido de acordo com a gravidade da transgressfo. Perceba-se, porém, que estamos tratando aqui de direitos sociais, de intervengao estatal. Nao podemos confundir escopo de garantia dos di- reitos individuais do réu no processo penal com o interesse social de protegao & vitima ~ direitos de segunda geracio. stiga social via processo das, so interesses diver- terior do proceso penal, sos: 12) garantia do réu, no instrumentalizados pela jurisdi¢ao, contra a autotutela e contra 0 abuso de poder do Estado; 22) tutela da vitima, no interior dos direitos sociais, instrumentalizados pela Administragéo Pilblica, como forma de prestago estatal positiva, Daf porque a maxima garantista “direito penal 160 Consideragées sobre a2 Incongruéncias da Justis ‘Consensual: retérica garantista, prética abot minimo, direito social maximo” tem adequagéo plena ao problema. ‘Temos que a proposta de resgate da vitima, além de representar uma privatizacao (comercializagao) do proces- so penal, passa por uma visdéo romantica do ser humano como capaz de diélogo em momentos de crise. De uma visdo ingénua do homem e de suas perversées. Dai porque, em nossa opinido, incompreensiveis os modelos de justiga negocial que vém sendo introduzidos, gradativamente, em nosso sistema processual, sob a justificativa imediata de valorizar a vitima no processo e, mediata, de proporcionar celeridade na reparagio do dano. Outro ponto que merece destaque é a minimizagao dos direitos do réu nos modelos consensuais de justiga penal. Geraldo Prado, ao avaliar a estrutura dos juizados especiais criminais, observa, com a propriedade que Ihe & peculiar, que “entregar & justiga consensual a tarefa de dar solugao a conflitos de menor significado social importa ape- nas em deslocar o conflito sem extrair disso nenhum prove!- to quanto coesdo do grupo comunitario. Pelo contrério, 0 resultado a longo prazo podera consistir na erosdo dos pro- cedimentos de protegao das pessoas em face dos abusos de poder".45 No mesmo sentido Aury Lopes Jr: “a partir da compreensao do proceso como instrumento de protegéo e garantia [do réu], deve ser rechagado o sistema de justia negociada - plea negotiation — pois configura a degenera- a0 do processo e até mesmo uma perigosa alternativa a0 processo".6 ‘Nao obstante, na tentativa de manter ao maximo nos- ‘sas (in)coeréncias, tenha-se presente que somos partidé- ios da tese de Lenio Streck em relagao a inconstitucionali- dade do assistente de acusagao no processo penal, dado ao 4S th. ibdom, p. 260, 46 Lopes Jr, Aury. OD. cit, p. 22. Salo de Carvalho fato que “néo 6 temerério dizer que a assisténcia ao Mi- nistério Péblico é um resquicio da privatizacéo do processo penal”*? — apesar da faldcia sempre invocada de que o inte- esse néo & penal mas sim dos efeitos civis da conde: ao -, entendendo, de igual forma, com Afranio Silva dim, imprescindivel um sério debate sobre 0 vetusto insti- tuto da aco penal privada ~ “(...) ousamos asseverar que a manutengéo da ago penal de exclusiva iniciativa privada é fruto de uma viséo privatistica do Direito e do Proceso Penal. Somos que o instituto da representacao jé atenderia 0s ponderéveis interesses que se procura tutelar através da agéo privada” #8 ILIL Da ‘informalizagao’ dos procedimentos: tendéncia & administrativizagao e & composigao civil © segundo argumento abolicionista 6 baseado na afirmagdo que o sistema penal néo respeita os direitos fundamentais de indiciados, réus ¢ apenados, visto que, ao contrario de garantir, produz sua leséo (ilegalidades toleradas). Entendemos que existem alguns equivocos na afirma- tiva. Obvio que comungamos das idéias que véem na estru- tura penal um sistema que, principalmente na América Latina, deflagra um genocidio gradual e progressivo. To- davia, procuramos ver o problema desde outro local, desen- volvendo uma espécie de discurso estratégico de reducao de danos, uma utopia do possivel na atual estrutura pe- nal/penitenciaria, 47 Streck, Leni, Tribunal do jr: simboos @rtuais, p. 108 48 Jardim, Afrénio Siva. Ob. cit. p. 27. 152 Consideragées 5 Consensual: Incongruéncies da Justia Ponal yarantista, pritica abolicionista Interessante perceber que toda critica criminolégica {as violagdes de direitos no ‘proceso penal’ centraliza-se icos: atividade policial (inquéri- al) ¢ atividade executiva (sistema penitenciério). ‘Temos, novamente, como correta a anamnese. Entretanto, cremos que a percepgao é um tanto quan- to equivocada, dado ao fato que, substancialmente, estes dois momentos especificos de intervengao estatal no con- tole social sao pautados pelo viés administrativo, ¢ néo jurisdicional. Séo momentos em que nao hé verdadeiramen- te processo penal, mas sim procedimentos administrativi- zados (inquisitivos) que sao, em esséncia, autoritérios tondentes & lesdo de direitos, pois inquisitivos. ‘Vejamos os ensinamentos de Tucci quando verifica a no auto-executividade do poder de punir: “sendo exclusi- vos do Estado 0 poder-dever de punir e 0 poder-dever de tutela juridica processual, torna-se necessério o desdobra- mento em Estado-Administra¢éo, como titular do interesse punitivo, e em Estado-jurisdigéo, ou mais simplesmente, Estado-juiz, como titular da potestade-encargo jurisdicio- inal. Assim sendo, imposta aquele autolimitagao no tocante 4 consecugéo do seu interesse punitivo, somente pela atua- ‘géo dos érgdos deste pode ser realizado 0 Direito penal. E a atividade desempenhada pelos agentes do poder Judicié- rio ~ juizes e tribunais -, com esse objetivo, é sem duvida, substitutiva da dos érgdos da Administracao, que, impedi- dos de efetiva-la diretamente, devem pleitear, m cosso adequado, a aplicacao das normas penais Em sendo o Estado-Administracéo titular da preten- sao punitiva, a jurisdigao atua como limitador da auto-exe- cugao da pena, isto 6, como beliza e garantia dos direitos do pélo débil da relagdo que 6 o imputado-réu-condenado. 49. ‘Nice, Rogézio Lauria. Ob cit, pp. 1212 13 Salo de Carvalho Socorremo-nos mais uma vez nas ligdes de Afranio Silva Jardim quando nota na jurisdicizagao do poder puni- tivo do Estado notério fruto do avango civilizatério da humanidade: “(..) ao exigir que a pretensdo punitiva seja submetida ao crivo processual, o Estado de Direito fez uma sébia opgao em prol da seguranga e da justiga. Sem dtvi- da nenhuma, seria mais eficaz a repressdo penal se a pena fosse aplicada administrativamente. Entretanto, dtivida também néo hé de que, se assim fosse, se estaria instau- rando 0 império do medo a da prepoténcia. Assume-se, deliberadamente, o risco concreto de absolver alguns cri- minosos, mas nao se assume o risco de condenar inocentes. Sob certo aspecto, o processo penal representa mais uma forma de autolimitagao do Estado do que um destinado & persecucdo criminal. Pelo principio nulla poena sine judicio, o Estado hé de submeter a sua preten- so punitiva ao crivo do Poder Judiciério, tendo o énus de alegar e provar determinada prética delituosa, assegura- dos constitucionalmente a instrugao criminal contradit: @ 0 principio da ampla defesa (...). A partir do principio nulla poena sine judicio, com a subseatiente proibicao de autotutela @ de autocomposi¢ao, o processo criminal se constitui no ultimo instrumento permitido para a solugao da lide penal” 50 E que é da natureza dos procedimentos administrati- vos, que orbitam na esfera do direito processual penal \quérito e execugao penal), regerem-se pela inquisito- rlalidade, O inquérito policial, p. ex., em decorréncia de sua natureza prevalentemente administrativa, néo com- porta as garantias fundamentais do modelo acusatério, como 0 contraditério, a ampla defesa, a publicidade, a presungéo de inocéncia, o duplo grau de jurisidiga quisitos minimos do processo penal no Estado Demo- 50 Jardim, Aftinio Siva. Ob. elt, p. 18, 64 CConsideragées sobre as Incongruéncias da Justiga Penal Consensual: retériea garamtsta, prética abolicionista cratico de Direito).5! Igualmente no que tange a execugao penal, estrutura hibrida na qual os direitos ¢ garantias do apenado ficam subordinadas as praticas administrativas (disciplina carceraria ¢ laudos criminolégicos).5? Represen- tam, dessa forma, momento no qual inexiste controle eficaz e substantivo, vislumbrado somente nas estruturas judicia- lizadas. Desde este ponto de vista, a alternativa abolicionista de tornar o controle (mais) administrative, nega 0 avanco teptesentado pelo diteito e processo penal da modernida- de, pois instauram sistemas desregulamentados e sem 0 devido controle jurisdicional. E que em sendo o direito pe- nal © processual mecanismos essencialmente limitativos, sua abolicéo implicaria o desaparecimento destes limites impostos pelo Estado ao sou proprio poder de punir. Limi- tes estes ausentes nas fases pré (inquérito) e pés (execu- ¢40) processual. Abdicar do processo penal em prol do direito adminis- trativo seria abdicar do ico momento do controle formal em que garantias sao minimamente respeitadas. A critica as tendéncias administrativistas e privativistas que esto sendo gradualmente transportadas ao sistema penal é exatamente pelo fato de romperem com os princi garantidores do direito penal e processual penal. Frise-se, novamente, que os dois momentos administrativizados do sistema penal (inquérito policial e execugao penal) nos dao todos os argumentos possiveis para negar esta tendéncia e G1 Sabre os problemas do inquétio nativo,p. 28. 52 Neste sentido, conferr Carvalho, Salo. Ds necessdade de afetivagio do sistema acuraterio na procasso co execupéa penal, © Prado, Geraldo. A fexecucdo penal @o sistema aousatério, artigos presentes nesta obra, 155 Salo de Carvalho reivindicar a plenitude das garantias penais ¢ processuais, decorrente do direito do acusado a jurisdicao. Pense-se, ainda, & guisa de exemplificagao, nas criticas dogmaticas que se tem realizado em relagéo aos procedimentos de apuraco do ato infracional, no que tange a responsabilida- de do menor. Alega-se, por mais paradoxal que pareca, que, mesmo sendo mais estigmatizante, ao dar natureza penal ao ato infracional estariamos garantindo ao menor direitos materiais ¢ processuais minimos que estao ausen- tes no Estatuto da Crianga e do Adolescente.5? Ferrajoli nota que “i sistem! punitivi moderni si avvia- _no ~ grazie alle loro contaminazioni poliziesche e alle rottu- re pitt o meno eccezionali delle loro forme garantiste - a tra- mutarsi in sistemi di controlo sempre pid informali e sempre ‘meno penali”.®* A crise do direito penal exposta hoje pelas correntes criticas se deve exatamente as tendéncias desre- gulamentadoras, desjudicializadoras ¢ desformalizadoras. Institutos como transag&o © composicao penal, baseados om técnicas de diversificagéo, mediagao ¢ desjudiciariza- go do processo e da sanco penal, aliados As sangoes © a0s processos cada vez mais administrativizados, acabam sendo trazidos ao nosso direito penal e processual penal esfacelando sua estrutura e rompendo com as minimas garantias constitucionais. Sob a argumentacao de maior dinamizagao da politica criminal, maximizagao da eficdcia do Poder Judiciério, cele- ridade na aplicacéo da sangao e relegitimagao da vitima, tem-se como efeito a criagao de um sistema administrativi- 153 Neste sentido, importante a letura de Mendes, Emilio Garcia. Adoles- ine, Oadolesconta infratore o Estatuto da Criana o do Adolescente: uma ‘abordagem garantista;e Oliveixe, Ma. Cristina Cardoso Moroira. OBCA & ‘sistema recursal no processo para apuragée de infragdo penal: um pro Consideragées sobre as Incongruéncias da Justiga Penal Consensual: retérica garantista, prética abolicionita zado e/ou privatizado na resolugao dos conflitos, carente das histéricas garantias fundamentais, além de absoluta- mente hipertrofiado, Assim, nao obstante sua ineficdcia, visto que os postulados sAo alienigenas e estranhos & nossa tradigao, acabam lesando os princfpios estruturais do sistema matriz, Geraldo Prado nota acuradamente essa regresséo pro- z cessual quando comenta a redug&éo de complexidade do direito processual penal legitimada pela Constituigao Fe- Geral (art. 98, 1). Segundo 0 doutrinador carioca, a Lei dos Juizados Especiais Criminais nao se limitando a obedecer © perimetro tragado na Lei Maior (procedimento oral ¢ sumarissimo, com a possibilidade de transagao), incorpo- row a informalidade, celeridade e economia processual (art. 62, Lei n® 9.099/95). Alerta, desta forma, que “a filosofia da deformalizagao dos procedimentos, antes de ser uma rebe- 1i0 ao formalismo exagerado ¢ imotivado, em busca dessa maior fluidez e flexibilidade na hermenéutica constitucional, pode ensejar a redugdo da eficacia das garantias que depen- dem, justamente, da observacao de procedimentos” 5 Concluimos, juntamente com 0 maior icone do pensa- mento garantista atual, que “quizd lo que hoy es utopia no son las alternativas ao derecho penal, sino el derecho penal mismo y sus garantias; la utopia no es el abolicionismo, lo es el garantismo, inevitablemente parcial e imperfecto” 5° Referéncias bibliograficas Antolisei, Francesco. Manuale di diritto penale: parte gene- ale. 148 edigao. Milano: Giuffré, 1997. 55 Prado, Geraldo. Sistama acusatério: a conformidade constitucional das processuais penais, p. 63. 56 Ferrall, Luigi Bl derecho penal imo, p. 44 157 Salo de Carvalho Aroca, Juan Montero. Principios del proceso penal: una explicacién basada en la razén. 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Uma recente leitura do texto de Salo de Carvalho (2002) - Consideragoes sobre as Incongruéncias da Justia Penal Consensual: Retérica Garantista, Prética Abolicionista - motivou-nos a enfrenta- la, no nivel em que aqui seré proposta. ‘Trata-se, pois, de aproveitar uma oportunidade ~ nova- mente fomentada por Salo de Carvalho — para propormos algumas linhas iniciais de enfrentamento de um tema que consideramos como de indeclindvel importancia para 0 avango critico (e portanto complementar e transdisciplinar) + Professor Adjunto da Universidade Catélica de Pelotas (Escolas de Serv g2 Social e Direito), responsével pela disciplina de Sociologia Juridica fe Sociaia pela Universidad del Museo ddoa de "justia" na esfera penal ~ voje-so 0 contetido e a bibliografia {journos a crenga na necessidade desta discusego num

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