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EXCLUSAO SOCIAL: UM ENFOQUE MULTIDIMENSIONAL Epuarpo G. Casto! Luctaxe Citapivorro, Desrée Timota & Grastera Cartan Resumo Na presente uigo autores discurem o que ees ‘hamam a “unatnmia da zxclsdo, que eaatictieam com) ‘uma nba crags mo planeta, que divide todo em duns pares. parti dase sui cuda urn dots sarah fs anaes: © comesam desse mado ox processon de incusiateelusio, Este fenomena e sere mati bi fra que dsingue a presente civilians, que asus” ‘esencadeia ws comprtamenras de Tata ¢ eontonto es lentes ex todas a el ues que avers puree Stcessivos desdabramenion leva, mo ean, & tal vada di telidade, que an pessoas terrinare por pee ‘der o “nore”. dando lugura uma vivéncis de catia © ‘100 com ed de pape em ue "ineluidas” se se ‘em “exclutdos" cos “eccluldes,"ncludos” Palasraschaves eiclasta social, erutur bike tna, Abstract (thie ace che author diseuse wha they call ‘the “enseomy” ofthe cxefuion. wich is Purr a stfine acd a the planer. that divides the whale in 80. ‘pure. Then sneapon/nicpceulriceareatinbuted (cach ‘one an the process of tctasiniexclosi bests Ths phenomenon i insert im the binary marti htt hancrerizes the present ciation and uchaias ti lind cenrromariaa bebaviory evident fal dhe cules ac make puro her Successive divisions feed, however, to the lvinszration the elit; ope eel hae doe“ not = fst an! sensations oF alesion and chaos ape th ge of tole: the “inched” feel ther are “encladed™ iach Keyword social entision. bir srt, i aloe Tilt ay Depaamenc Se Pico ss Unive le Fede de Sine Slur Bl Abusbalsiea.e Ini Cotes de Cio de Prelwis ‘ieee Feral de Sata Mati, 1 Introdugio. Com este trabalho pretendemos com: partilhar algumas inquietagdes ¢ reflexdes originadas na pritica comunitaria’ cm uma Pequena localidade no segundo distrito do muniefpio de So Vicente, no Rio Grande do Sul, chamada Sio Miguel, Sio Miguel é um povoado rural, de aproximadamente trinta © cineo familias, sitaade na ladeira do cerro de mesmo nome, 18 kmanordeste da sede do muniefpio, que por sua vez se encontra a aproximadamen- te 400 km da capital do estado. Trata-se de uma regido de minifiindios, j@ que as pro- priedades nio passam de uns poucos hecta- res, onde seus danoy realizam cultivos de subsisténcia, A comuinicagsio com outras lo- calidades realiza-se através de estadas de cchilo, se bem que boa parte das habitantes fica A margem delas e-em cempos de chuva permanecem isolados. A maior lagdo, euja média etiria sieua-se © 30 anos, vem tim baixo nivel de alfabeeti- domino Pr ebm rt ‘ana Taal din om Sn Vented St S18. 22) seve meen. lon dw ase poexie Ne fon Eve tDepinarent de Tseng a FSM pela Kole Dretenbacie pac tien de dts Serena dite fae profenuees da Ecole Municipal de Sav Miguel ‘cto le EATATEEC Sb Vcc MUS Ilda En {4 Sine Ottis Manali mob da comand de Sho zagdo (sem instrugio ot com o print in- completo) ¢ sua renda mensal encontra-se em tarno de 300 reais, sendo que marido € mulher trabalham, geralmence, em ativida- dey vinculadas a agricultura, As familia nem sempre “fegularmente constituidas rém uma média de quatro filhos -com um leve predominio masculino- € vivem em casas modestas de 60m? ¢ de até trés dor mitories em média, Seus hibitos de vida so simples: a alimentaglo & a base de arror, feijaa, carne ¢ legumes. Goscam de mate de bebidas aleodlicas. Em suas horas livres jogam bocha, realizam rodeos, vio a festas. assistem televisio, visitam os vizinhos, par ticipam de atividades religiosas, Quando perguntados sabre 0 que fariam diferente se pudlessem comegar de novesua vida, mais da metade responde que sua vida € boa as- sim como esti, Nao obstante, quando se pergunta se gostariam que seus filhos tra- balhassem no que eles crabalham, as respos- ay slo eategGrieas: numa proporgio de 0.74 dizem que ni, tanto pela baixa remunert- 20 quanto pelas dificuldades inerences & atividade. O que é valorizado pela comunidade? Seu lugar de vida (30 dos 35 entrevistados afirmam gostar do lugar onde viver); seus Vizinhos (33 dos 35 afirmam se darem bem parcial ou totalmente= cam os outros mo= radores, senda que 32 destes dizem que também os outros as reconhecem com pat= te da comunidade); 2 amizade. unio, companheirismo; honestidade, trabatho, sade, amor da famili servigos, Coisas mate! n, ainda que em geral sio men- cionadas cm segundo lugar: casa maior, pro- priedades, automovel, eletrodoméstico: de que coisas nio gostam? De fofo- cas, brigas, consumo excessive de Alea. alvez, como ocorte freqitentemente, por que elas fazem parce da paisazem diéria, isto & porque ma comunidade ha pessoas que gostam delas. Com relacto 4s maiores nevesvidades da comunidade, so mencionadas em pri- meito lugaras vinculadas a satide (posto de satide, atendimento odontoldgico}, depois aquelas vinculadas ao transporte, as extra das, 4 eletrificagao rural. Solughes? Exceto ito respostas que indicam uma posigio proativa, no sentido de teconhecer possibi- lidades nos préprios moradares (“unio da Comunidade”, “pessoas se envolverem e participarem mais com a comunidade”, “ajudaria com alguma solugi pressdes vinculadas a sol ucties mais especi- Ficas), 0 resto dirinta e tFés respostas) mes tra uma atitude reativa, no sentide de de- positarem cerceirasas solugoes (“zoverno”, “prefeitura”, “poder piiblico” ) ou simples- mente as negam (“nada se pode fazer”, “fica 6 em promessa”, ete.) ‘Com estes dados genéricos extraidos de um questionario-encerramos 4 apresen- tagio desta populagio, que serviri de apoio para nossa reflexdo tedrica, Previamente, no entanto, desejariames complementar estas informagaes com impressbes pessoais, surgidas do contaca com membros da comu- nidade: além da simplicidade, os morado- res parecem compartithar um eGdigo moral e de honestidade semelhante aos origina dos na concepgio catélica -crista em geral- nna qual 0 roubo co crime esto preibidas © a obediéncia As figuras que cepresentam autoridade (seja por fungio ou por dade) € valorizada. Os costumes ¢préprios) apare- em como nitido parimetro de compora- menta ¢ 0 respeito aos us0y familiares ¢ co munitirios & exigido aos menores. A socia- lizagio se estabelece a partir de ideias com- partilhadas sobre o que é “bom” ¢ “mau”, © 1 filhos que se afastam do modelo sio se- veramente punidos. Gontinua sendo tema tabu aquele vineulado a sexo €-0s pais rha- nifestam comportamentos ambivalences quando 0 assunto € tratado na escola, pois tém dificuldades em entender que uma questo para “adultos” tenha que ser con- versada cons as criangas. Se tivéssemos que sinterizar a visto de mundo que parece pre- dominar nesta comunidade dirfamos que em casi a erlanga deve aprender a obedecer ¢ 4 calaborar com seus pais. na escola deve aprender a lee, eserever, ¢ “fazer contas” € quando se tornar adulto deve procurar ser um trabalhador honesto. Ainda que existam muitas diferengas de opiniio, a maioria pa- [exeLusko Sota: Ut ENFOGLE MUTTIDAMENSIONAL tece pensar que o passado era melhor, no sentido de que havia mais respeito, obedi- Encia, uniao da familia, menos violéncia, menos dificuldades para trabalhar ¢ para viver, E a partir deste contexto que analisa- remos o problenta psicolégico da exclusio, 2. A inesgotiivel dialétien daewel- sie, Encramos em Sto Miguel pela porta da escola, Chegamox a cla a partir de in- quietagées da extensionista da EMATER- RS, associadus « preocupagdes apresenta- das pela seeretaria de educagio do Munici- pio: tratava-se de uma regio esquecida pe~ los servigos piiblicos (mais de um rergo da populigio nfo tinha luz nem dgua corren- te), abandonada a sua propria sorec. na qual além da pobreza, precariedade de fontes de trabalho edo analfaberismo, produziam-se situagdes psicolégicas © sanicirias de risco: desmotivagio da mulher rural, auséncia pro- longada dos homens (devido ao trabalho ser em regides distantes, voleando para casa mente nos finais de semana), desinteresse das criangas pela escola, falta de acompa- nhamento dos pais nas tarefas propostas pelos professores © eonseqitente fracasso escolar dos fithos, alto indice de transtornos vizinha.. censionista ¢ Secretaria de Educe- fo pensavam ser necessario fhzer "alguma coisa", porém nio tinham claro o que, Sua visto, 2 qual foram somanda-se outras de téenieos da érca edueacianal da prefeitura, era que as comunidades da regito deviam incorporarse a um processo de superagio das limitagdes para nio eontinuar, impocen- tes, sofrendo ay conseqiiéncias de uma rea- lidade adversa, Dada complexidade da situagio des- rita e os limitados reeursos. dispaniveis, decidiu-se iniciar com um erabalho fo zado na escola e em seu ambito de inserca0 gcogrifica para chegar progressivamente 4 as comunidade, conhecer sua versio © seus projetos, escuticla © acompanhiela se as- sim o desejassem-,em sua caminhada, Assim foi como chegamos a escola, Assim foi como nos sentamas com a direto- 11 ¢ 08 professores para discutir os proble- mas sécio-educacionais do lugar, ‘Também les percebiam a comunidade como desin- eressada ¢ no. participativa, estavam an- ‘gustiados pela falta de resposta de alguns Pais, justamente aqueles cujos filhos apre- dentavam mais problemas, Frente a este abandono, os professores também se senti im impotentes. A evasio escolar, por stia vez, era vivida como fracasso pessoal, mas, Principalmente, como fracasso do sistema escolar, Dealguma maneira a exclusio dos alu- nose dos pais também excluia a cles, os pro- feessores: cram cles que estavam errados?, eam eles os incamperentes? Como fazer para que os pais partici- pem mais, “se coloquem ao lado dos pro- essores" para quueseus filhos possam apren- der melhor? E interessante constatar que ao falar de exclusio freqiientemenre se comega com uma pergunta. Se isco € assim, taivez 0 se- redo para entender o problema da exclu- ssio seja entender ox sentidos das pergun- tas. E pari entender 0 sentido das pergun- tas, nada melhor que analisar # consergd0 destas, Qual € a forma geral adorada pelos perguntas sobre exclusio? Parece=nas pos- sivel diferenciar ts estruturas brisicas: 1. Porque A (sjeito au coletivo)e no B (sujeito cur coletiva)? 2. Por que A (sujeito 0 Fara de N (sitwagao)? 3.Por que A (sujeito ou coletivoh ndo possui X (objeto ou beneticio)? coletive) esta Nos trés casos, A é 0 disetiminado ¢ e X as condigdes privilegiadas que no sett conjunto passaremos a denominar Z Desta mancira, podemos simplificaras per guntas sobre a exclusio através de sua fo ma mais geral: ® Por que A nio pertence (possui, & tem, etc. Esta andlise descobre a “anatomia” da exclusaio: 4) trata-se sempre de um ata de dis criminagao ou diferenciagio de um todo b) entre pefo menos clas partes, ©) a partir de eritérios de valor (justi- ga, bondade, inteligéncia, ete.) (diseri- ‘minantes)

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