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GUIDO MANTEGA A LEI DA TAXA DE LUCRO: A TENDENCIA DA QUEDA OU A QUEDA DA TENDENCIA? * “ na polémica que vem se desenrolando recentements entre 05 partidarios de uma reformulagao da teoria marxista da acumulagdo de capital @ 08 postulantes da validez dessa teoria. Agradego a todos que me estimularam com suas criticas e sugestées, especialmente a Paulo Singer, Frederico M. Mazzucchelli, Luciano Coutinho e Gabriel Cohn. Este trabalho baseii INTRODUCAO nate ay < S 2° aX A lei da queda tendencial da taxa de lucro tem ocupado 3 um lugar de destaque nas discussdes sobre acumulagdo de capital entre os autores vinculados ao pensamento marxista. § A importancia dessa lei advém do fato de constituir, pelo oa menos para uma das correntes de interpretagdo, o substrato 4 tedrico principal para a interpretago dos movimentos do capital. Boa parte do discenso entre esses pensadores a respeito da inter- pretacéo das crises do capitalismo, do progresso técnico e da inter- vengao estatal na economia, reflete as divergéncias na interpretagdo dessa lei. Ja na célebre polémica de Lénin com Rosa Luxemburgo sobre as razGes do imperialismo, encontra-se subjacente a discusséo sobre a influéncia da lei da queda tendencial da taxa de lucro no destino de acumulagdo de capital. Apesar de muito antiga essa discussio continua suscitando polémicas entre os autores mais credenciados na drea de influéncia do materialismo histérico, fato que vem constatar sua relevancia e atualidade, tornando essa questdo uma das principais controvérsias sobre a teoria marxista da acumu- lagdo de capital. Computando apenas os autores que se consideram seguidores da teoria marxista da acumulacdo de capital ou os que permanecem em sua periferia, procuramos alinhar, a grosso modo, de um lado, alguns dos postulantes de uma reformulagdo e atualizagéo da teoria marxista da acumulagao: Paul Baran e Paul Sweezy, Joan Robinson, Joseph Steind] e Geoff Hodgson; e do outro lado, os partiddrios da atualidade e validez das leis de acumulacado desenvolvidas principalmente em O Capital: Paul Mattick, David S. Yaffe e Mario Cogoy.! Note-se que na segunda tendéncia que chamaremos “ortodoxa” existe uma homogeneidade de posicdes que nao se verifica na primeira tendéncia que chamaremos de “reformuladora”. Os integrantes desta ultima tendéncia tém como ponto em comum o fato de refutar a validade de parte das leis marxistas de acumulagdo e, fundamentalmente, da lei da queda tendencial da taxa de lucro na andlise do capitalismo em seu estaégio monopolista. O objetivo deste trabalho é reconstituir a controvérsia sobre a lei da queda tendencial da taxa de lucro, referi-la 4 sua fonte original e derivar algumas conclusdes. 1. Nosso primeiro passo serd examinar a lei da queda tendencial da taxa de lucro como foi desenvolvida em O Capital. Essa é, segundo Marx, “a mais importante lei da economia politica moderna e a lei essencial para o 29 entendimento das relagdes mais intrincadas. E a lei mais importante de um ponto de vista histérico”.? Segundo essa lei, a medida em que a acumulagdo capitalista se desen- volve, o capital dispendido em meios de produgao (capital constante) se eleva proporcionalmente mais rapidamente que o capital dispendido em forga de trabalho (capital varidvel), que vai pOr em acdo esses meios de produgao. Isso implica em que © mesmo numero de trabalhadores, a mesma quantidade de forca de trabalho empregada por um capital varidvel com um volume de valor dado, pora em movimento, num mesmo lapso de tempo, em seguida ao desenvolvimento dos métodos de produgéo, uma massa sempre maior de meios de trabalho, de maquinas e de capital fixo de todo o tipo, ordenard e consumiré produtivamente uma quantidade cada vez maior de matérias-primas auxiliares e, conseqiientemente, fard funcionar um capital constante com um volume e valor em perpétuo aumento. A progressiva diminuic¢ao relativa do capital varidvel em relacdo ao capital constante é idéntica 4 elevagéo progressiva da composi¢o organica do capital social médio. A produtividade do trabalho do ponto de vista material é expressa pela composicao técnica do capital. A composigio orginica do capital é a com- posigdo em valor, 4 medida em que esta for determinada pela sua composi¢ao técnica ¢ espelhar as suas mudangas.* Com o desenvolvimento da produtividade social do trabalho, a com- posigdo organica do capital tende a crescer, mas nao tio rapidamente como a composigao técnica do capital, pois a elevagao da produtividade do trabalho deprecia o valor do capital constante e impede que este se eleve na mesma proporc¢do do aumento de sua massa.’ E a elevacdo da composigao organica do capital que ocasiona a queda da taxa de Jucro, M x - . F A taxa de lucro opp? relagdo entre a massa de mais-valia e 0 capital m? total empregado para obté-la, pode nao diminuir chegando mesmo a aumentar a medida que a elevagao da produtividade do trabalho e a diminuigéo do trabalho necessdrio 4 reprodugao do trabalhador permitem a elevagao da taxa de mais-valia a ponto de sobrepujar o efeito da elevagdo da composigéo organica do capital. Mas existem barreiras além das quais é impossivel, tendo em vista uma dada quantidade de forga de trabalho, tanto aumentar 0 tempo de trabalho absoluto, como diminuir o tempo de trabalho necessdrio 4 reprodugao da forca de trabalho uma vez que cada trabalhador nao pode trabalhar mais do que 24 horas por dia, assim como o tempo de trabalho necessdrio nado pode ser menor a zero. Eis os limites naturais da extragdo da mais-valia. A medida em que a taxa de mais-valia se aproxima desses extremos, diminui o seu efeito neutralizador de elevago da composi¢ao organica do capital, e a taxa de lucro tender a cair. 30 A acumulagao de capital se caracteriza, por um lado, pelo aumento do sobre-trabalho, ou seja, pela diminuigdo do trabalho necessario e, por outro, pela diminuigdo da quantidade de forga de trabalho empregada para por em acéo um mesmo capital. Cada um desses fendmenos modifica em sentido oposto a taxa de lucro. Enquanto a elevagao da taxa de mais-valia tende a aumentar a taxa de lucro, a diminuigdo da quantidade de forga de trabalho, o fator pelo qual a taxa de mais-valia é multiplicada na obtengdo de sua massa, pressiona a taxa de lucro para baixo. Portanto, a lei da queda da taxa de lucro nao se expressa de forma absoluta pois ao lado das causas que a provocam, alinham-se forgas que se contrapSem a sua queda. Por isso, a lei geral vai se manifestar, na maioria das vezes, como uma simples tendéncia. Uma das principais forgas que age no sentido de atenuar 0 efeito da lei da queda da taxa de lucro é, como foi visto, o aumento do grau de exploragéo da forga de trabalho. Isso pode ocorrer tanto através do prolongamento e intensificagao do trabalho (aumento da mais-valia absoluta) como através da elevagdo da produtividade do trabalho que acarreta a diminuigao do valor do trabalho (aumento da mais-valia relativa). Enquanto a mais-valia absoluta é tipica do perfodo em que a introdugio das maquinas possibilita 0 aumento das horas de trabalho, a mais-valia relativa é a forma de apropriacao privilegiada no perfodo monopolista. A elevacdo da mais-valia relativa é obtida pela diminuigao do valor da forga de trabalho, isto é, pela redugdo do valor das mercadorias que fazem parte dos meios de reprodug§o do trabalhador. Isso é obtido pela elevagdo da produtividade nos ramos de atividade que fornecem bens de saldrios e os meios de produgdo para produzi-los. Esse aumento de produtividade pode ser de tal monta a permitir, a0 mesmo tempo, a elevagdo da taxa de exploracao e uma melhora no nivel de vida dos trabalhadores. A taxa de saldrios pode crescer e, conseqiientemente, a cesta de valores de uso consumida pela forga de trabalho, desde que esse aumento se dé a um ritmo menor que o cresci- mento da produtividade do trabalho. Tem-se pois, ao mesmo tempo, uma melhora do nivel de vida dos trabalhadores ¢ um sobre-trabalho maior para 0 capital. Outro fendmeno que, segundo Marx, tem 0 efeito de contrabalangar a queda da taxa de lucro é a queda do valor dos elementos do capital constante. A elevacao da produtividade social do trabalho age nao s6 no sentido de diminuir 0 valor dos bens de saldérios como também barateia os elementos do capital constante. Portanto, apesar de aumentar a massa de meios de produgio a ser posta em agao por uma dada forga de trabalho, a elevagio do valor do capital constante em relagdo ao capital varidvel nao acompanha a elevagdo da massa dos meios de produgao pois esta encerra um valor menor. 31 A freqiiente renovacao tecnoldgica da producao capitalista, fruto da concor- réncia entre os capitais, acarreta a constante desvalorizagéo dos equipamentos existentes, enfraquecendo a elevagao da composi¢ao organica do capital total. A medida em que se produzem os equipamentos existentes num tempo de trabalho social menor, as maquinas antigas passam a ter apenas o valor das novas maquinas e, portanto, sofrem uma depreciagao. O comércio exterior, 4 medida em que possibilita a diminuigéo do valor do capital constante e do capital varidvel, devido 4 obtengado de matérias-primas e bens de saldrios mais baratos, se constitui em outro fator de desaceleragéo da queda da taxa de lucro. Quer em se tratando de simples obtengéo de matérias-primas baratas, quer por intermédio de comércio vantajoso (0 chamado “intercambio desigual”), 0 comércio exterior possibi- lita a elevacdo da taxa de lucro dos paises desenvolvidos. A absorgao da mais-valia externa vai engordar a massa de lucro, elevando assim a taxa geral de rentabilidade dos grandes capitais. Por fim, resta citar a derradeira causa contrabalancante, mencionada por Marx, diretamente vinculada 4 luta de classes. Trata-se da redugdo dos saldrios abaixo do seu valor. Isso pode ocorrer tanto ante uma superpopulagao telativa, criada, por exemplo, pela elevagéo da produtividade do trabalho, como por uma cortelagéo de forcas desfavordveis aos trabalhadores. Um grande exército populacional de reserva pode criar a disputa por empregos, com a conseqiiente pressao para baixo nos saldrios, assim como um governo forte e/ou a fraca organizacao politica dos trabalhadores pode impor salarios abaixo do nivel de subsisténcia. Em ambos os casos elevar-se-4 a taxa da mais-valia, possibilitando 0 aumento da taxa de lucro. Note-se que esta causa “nao tem nada a ver com a andlise geral do capital”, para usar as palavras de Marx, devendo ser computada apenas quando a anilise atingir outro nivel de concretude. Em face das forgas contrabalangantes, a lei da queda da taxa de lucro deverd se manifestar como simples tendéncia, uma vez que essas forcas tendem a impedir o seu afloramento, No desenrolar da. acumulagao de capital, a simples ameaca de queda da taxa de lucro faz com que a acumulacao se realize a taxas cada vez maiores, pois o capital vai procurar compensar a queda da rentabilidade por unidade de capital, por meio do aumento da massa de mais-valia. Portanto, deverd ocorrer uma absorgao cada vez maior de capital varidvel. Assim, a massa de mais-valia cai em termos relativos mas cresce em termos absolutos. 2. Para Paul Sweezy® as leis de acumulacdo marxistas devem sofrer uma reformulagéo antés de propiciarem a andlise do capitalismo monopolista. Essa inadequagao tedrica, diz Sweezy, se prende ao fato de que, quando 32 Marx desenvolveu o seu sistema tedrico, a acumulag4o ocorria numa estrutura capitalista concorrencial. Com o advento do capitalismo monopolista, sur- giram tendéncias na acumulagéo que conduziram a novas situacgdes e problemas que Marx nao analisou e nao podia analisar a cem anos atrds.’” Segundo Sweezy, a lei da queda tendencial da taxa de lucro é valida apenas para 0 capitalismo concorrencial. Esse perfodo, que vai do inicio do século XVIII até pouco mais da metade do século XIX (quando Marx escrevia O Capital), se caracterizava pela transigéo da manufatura para a mdquino- fatura, ou seja, pela substituigéo de homens por m4quinas, de trabalho vivo por trabalho morto. No perfodo concorrencial, diz Sweezy, mesmo que a taxa da mais-valia tenha aumentado sensivelmente devido aos incrementos de produtividade, nao ha divida que a composiga0 organica do capital elevou-se muito mais, causando a diminuigéo da taxa de lucro. Porém, diz ele, no capitalismo monopolista no se trata mais de substituir trabalho manual por méquinas, mas de substituir méquinas e processos menos produtivos por mdquinas e processos mais produtivos. Dai nao se poder concluir, a priori, pela ocorréncia da elevagao da composigo organica e pela queda da taxa de lucro, pois nao existem condigdes de se prever os rumos que vai tomar o desenvolvimento tecnologico. Além do que, diz ele, os constantes incrementos de produtivi- dade vao causar outros tanto aumentos da taxa de mais-valia, suficientes para eliminar totalmente 0 efeito das eventuais elevagdes da composigao organica do capital. Dessa forma pode nao haver diminuigao da taxa de lucro. Por outro lado, 0 capitalismo tende a adotar técnicas produtivas que diminuam o valor-capital dos meios de produgao. Portanto, mesmo sem o concurso dos efeitos benéficos (para o capital, naturalmente) da elevagao da taxa de exploragdo, a taxa de lucro nao deverd decrescer pois 0 crescimento da composico organica, impulso descencional basico daquela, sera neutrali- zado. Sweezy refere-se 4 nogao que alguns tedricos da chamada escola de Cambridge utilizaram para contestar a lei da queda da taxa de lucro: trata-se das “capital saving innovations”. As principais conclusdes de Sweezy sao: a) . © constante aumento da taxa da mais-valia, verificdvel no capitalismo monopolista, elimina 0 efeito de qualquer elevacio da composigéo organica do capital; b) no periodo monopolista, as mudangas tecnolégicas so “inovagdes poupadoras de capital”, havendo pois uma freqiiente diminuigao ou, pelo menos, estabilidade da composi¢ao organica do capital.® Sweezy ent@o sugere a substituicgdo, no capitalismo monopolista, da lei da queda tendencial da taxa de lucro, pela lei da elevagao do excedente (surplus). 33 Sweezy diz ainda que a anilise feita por Marx da lei da queda tendencial da taxa de lucro apéia-se numa falsa premissa: a manutencao de uma taxa de mais-valia constante. E com esses mesmos argumentos que Joan Robinson procura refutar a explicacéo marxista da lei da queda tendencial da taxa de lucro.? Robinson afirma que “a lei da queda tendencial da taxa de lucro, em Marx, € entéo uma simples tautologia: se a taxa de exploragdo é constante, a taxa de lucro baixa quando o capital por trabalhador aumenta. Essa propo- sigao apresenta uma forte contradigdo com o restante da demonstragao de Marx. Pois se a taxa de exploragdo tende a se manter num nivel constante, os saldrios reais tenderdo a se elevar quando aumentar a produtividade. A forga de trabalho receberd uma proporgdo constante de um todo em elevagao. Marx s6 pode demonstrar uma queda tendencial dos lucros abandonando sua argumentacao habitual de uma tendéncia dos saldrios reais a se manterem em um nivel constante. Ele parece ter negligenciado esse ilogismo, pois nao faz nenhuma mencao da tendéncia a elevagdo dos salarios reais implicita na sua teoria da taxa de lucros, quando ele estuda essa lei”.!° A ilustre economista inglesa prossegue sua critica a Marx afirmando que, apesar dele considerar a possibilidade de elevagao da taxa de exploracdo, no capitulo sobre “As causas que contrabalangam a lei”,!! esta causa contrabalangante, assim como as outras, tém, na explicagdo de Marx, sua eficacia limitada e, portanto, nao é suficiente para suprimir a lei da queda da taxa de lucro. Segundo ela, essa concepgdo é mais um equivoco de Marx pois “o aumento da taxa de exploragd0 que ocorre devido 4 elevagdo da produtividade nao tem limites porque a produtividade pode crescer ilimitada- mente e, se 0 salario real permanecer constante, a taxa de exploragdo acom- panhard a elevagao da produtividade.!? Deduz-se de sua andlise que Robinson recrimina o fato de Marx ter introduzido, segundo ela, a mobilidade da taxa de exploragio como um fator exdgeno, algo a parte do aumento da composicao orginica do capital (essa recriminagao est4 explicitamente formu- lada no texto de Sweezy de 1942), “Um aumento de produtividade reduz o valor das mercadorias e 0 valor da forga de trabalho, em se considerando os saldrios reais constantes. Assim v (capital varidvel) tende para zero e . (taxa de mais-valia) tende a infinito, admitindo-se os saldrios constantes”.'? Em sintese, para Robinson, a andlise marxista da lei da queda tendencial da taxa de lucro é incorreta pois baseia-se em hipdteses contra- ditérias dentro do préprio esquema tedrico marxista. Josef Steindl compartilha, se bem que nao tio explicitamente como Robinson, da critica 4 suposta hipdtese incorreta de Marx de que a taxa da 34 mais-valia seria constante.'* Mas sua critica ndo enfatiza esse aspecto, pois no mesmo texto ele recrimina a abordagem de Robinson a respeito da andlise marxista da distribuigdo da produgdo entre assalariados e capitalistas. Steindl mostra claramente que Marx, ja no livro I de O Capital concebera uma taxa de mais-valia em funcdo da elevagao da produtividade do trabalho. A despeito disso, Steind] aponta como uma das deficiéncias da andlise marxista da lei do lucro, a atribuigdo de limites para o crescimento da taxa da mais-valia. Para ele, a taxa de exploragao pode crescer ad infinitum, 0 suficiente para eliminar o efeito da elevagdéo da composicéo organica. Mas o que vai eliminar a possibilidade de diminuigdo da taxa de lucro, segundo Steindl, sao as tendéncias na estrutura técnica que vem operando justamente na diregdo oposta a elevagdo da composigado organica: o emprego de menos capital em relagdo a uma dada produgao. Justificando que sua interpretagdo se bascia em anialises concretas, Steind| afirma que “‘o incremento (da composigdo organica), se houve, nao pode ser da ordem de grandeza requerido para tornar a lei relevante”.'S A questdo principal em relagdo a lei da queda tendencial da taxa de lucro, diz ele, é a seguinte: se essa tendéncia for concebida como uma queda efetiva da taxa de lucro, tendo lugar na realidade, em conseqiéncia da estrutura do capital, sua interpretagdo estd incorreta. Por outro lado, se essa lei for concebida como uma tendéncia potencial, isto ¢, que permanece em estado latente e nunca se realiza, mas que nem por isso deixa de ser impor- tante, essa interpretagdo estard correta. Nesse caso, diz Stcindl, pode-se dizer que os capitais ndo efetuam, na realidade, certas mudangas na estrutura do capital, porque elas conduziriam a um declinio da taxa de lucro.'® Os autores mencionados, como se pode observar, compartilham um certo numero de idéias em comum, suficientes para, mantidas as devidas tessalvas, serem qualificados como uma corrente de pensamento, com uma interpretagao peculiar do comportamento da taxa de lucro. Existem ainda um sem namero de autores com adesdo total ou parcial a essas criticas da andlise marxista da lei da taxa de lucro, as quais é supérfluo mencionar em vista da repetic¢ao das idéias, Resta apenas, antes de passarmos ao exame das concepgdes opostas 4 essa corrente de pensamento, mencionar, rapidamente, um autor que acrescenta alguns novos elementos a essa “controvérsia”. Trata-se de Geoff Hodgson que em seu artigo “The Falling Rate of Profit” '’, apés sua adesdo aos principais argumentos mencionados, define a Jei da queda tendencial da taxa de lucro como apenas uma das intimeras forcas que agem na acumulagdo de capital, sem possuir mais importancia que as outras forgas. Hodgson procurou nortear seu trabalho pelos pressupostos de que a andlise marxista da acumulacdo nao pode ser tomada ao pé da letra, pois carece de atualizagdo. Ele sugere, por exemplo, 35 que a composic¢ao técnica do capital é um conceito indefinido na teoria do valor. Como comparar, diz ele, a composi¢ao técnica de um periodo histérico com a composi¢ao técnica de outro perfodo histérico? De que forma relacionar m4quinas de uma época com mAquinas de outra época apenas a nivel de seus caracteres fisicos? Portanto, como mensurar a variagdo da composicio técnica em se substituindo uma maquina por outra? Enfim, como comparar a massa fisica de trabalho de perfodos diversos e, portanto, qualitativamente diferentes? Essas questées que, segundo Hodgson, perma- necem sem resposta na teoria do valor-trabalho, sio fundamentais para a explicagio do comportamento da taxa de lucro. Para Paul Mattick, o mais proeminente dos “ortodoxos”, 0 equivoco de Sweezy deve-se 4 incompreensio do aspecto primordial da teoria marxista da acumulacao de capital: 0 conceito de capital. A légica que rege essa categoria chave para a andlise do capitalismo, diz ele, nao é suscetivel 4s modificagdes que ocorrem no modo de produgdo capitalista como quer Sweezy."® Seja qual for a forma que adquire o capitalismo (concorréncia ou monopélio), prossegue Mattick, o capital continuard sendo a relag&o social que expressa uma dada relagao entre trabalho vivo ¢ trabalho morto, entre condigdes de producio e forga de trabalho. Segundo Mattick, a substituigaio feita por Sweezy da lei da queda tendencial da taxa de lucro pela lei da elevagao do “excedente” (surplus), significa desvirtuar a categoria capital e esquecer que a produgao de valor é a forma que adquire a produg&o de riquezas no capitalismo. Portanto, no capitalismo monopolista, o capital continua sendo a categoria central de andlise, 0 que em outras palavras quer dizer que a andlise marxista, apesar de feita na fase concorrencial da acumulagao, de forma alguma se restringe a esse perfodo, principalmente em seus aspectos mais gerais e abstratos. A lei da queda tendencial da taxa de lucro nfo se restringe ao capitalismo concor- rencial ou ao capitalismo monopolista pois se depreende da anidlise do capital em sua forma mais geral. Ao substituir a mais-valia pelo “excedente” e defini-lo como a diferenga entre © que a sociedade produz ¢ 0 custo dessa produgdo, Sweezy, segundo Mattick, estaria ocultando o essencial do conceito de mais-valia: a relagao capital-trabalho assim como a contradigo entre a produgdo material e a produgao em valor. Portanto, diz Mattick, na concepgdo de Sweezy ocorre, no capitalismo monopolista, um crescente aumento do excedente. Segundo Mattick isso é a mesma coisa que dizer que no capitalismo monopolista vai haver um grande crescimento da massa de mercadorias e que, portanto, nesse aspecto, a andlise de Sweezy estaria de acordo com a andlise de Marx. Masa nogao de excedente nao capta o que vai suceder com 0 valor, e muito menos 36 © comportamento da taxa de lucro, pois nao é a massa de mercadorias que determina a taxa de lucro. E assim, segundo Mattick, a nogao de excedente econdmico (potencial e de mercadorias, ou seja, 0 subemprego permanente de recursos e a super- produgo de mercadorias),!° exprime a lei da queda tendencial da taxa de lucro em sua manifestacado concreta, sem no entanto explicéd-la. Em Le marxisme et le capitalisme monopoliste de 1967, Mattick diz que “‘... segundo Marx, o capital investido em meios de produgao eleva-se relativamente mais depressa que o capital investido em forga de trabalho. Partindo do pressuposto de que a mais-valia nao passa de sobre-trabalho, a redugao do tempo de trabalho em relagéo 4 massa crescente de capital produtivo provoca uma queda da taxa de lucro, pois essa taxa é relacionada ao capital total, ou seja, 4 soma de capital investido em meios de produgao ou capital constante, ¢ do capital investido em forga de trabalho ou capital variavel””.2° Essa definigao da lei em questdo foi posteriormente completada em Marx e Keynes publicado em 1969: “sob a 6tica do capitalismo, um ganho de produtividade ndo tem sentido ao menos que produza um aumento de mais- -valia expressa em valor de troca. Eis que esta necessita de um crescimento da taxa de exploragdo, da “taxa de mais-valia”, a qual transforma por sua vez a relagéo do tempo de trabalho necessdrio ao tempo de sobre-trabalho. Essa transformacao pode resultar seja de um alongamento da duragao do trabalho, seja de uma reducdo do tempo de trabalho requerido para cobrir o valor de troca da forga de trabalho. Tudo parece indicar, no entanto, que existe, na expansdo em sistema fechado um nivel a partir do qual se torna impossivel aumentar o nimero de trabalhadores, de prolongar a duragdo do trabalho e de reduzir ainda mais a fragdo de tempo de trabalho durante o qual os trabalha- dores produzem seus meios de subsisténcia”.”* Seguindo os passos de Mattick, David S. Yaffe? sustenta a validez da lei da queda tendencial da taxa de lucro para todos os est4gios da produgao capitalista. O objetivo primordial da produgao capitalista, diz ele, é a produ- ao da mais-valia. Por isso, os aumentos de produtividade que ocorrem na produgao capitalista tém sentido somente quando permitem a elevacao (ou manutengao) da mais-valia. A ampliagéo da acumulagao capitalista, diz ele, salvo casos excepcionais, induz a constantes mudangas no processo técnico do trabalho. “Desde que, diz Yaffe, a continua acumulagdo sob as condigdes de produgao capitalista logo ultrapassa os limites da populagao trabalhadora existente, isto é, desde que o dia normal do trabalho tem seus limites fisicos e sociais, tem lugar a transicao da produg@o da mais-valia absoluta (extensao 37 do dia de trabalho) para a producao da mais-valia relativa (decréscimo de parte necessdria do dia de trabalho pela elevacdo da produtividade social do trabalho)”. Essa mudanga, diz Yaffe, vem geralmente acompanhada pelo aumento da intensidade do trabalho como forma do capital obter mais valor por unidade de tempo. Mas como a elevagao da intensidade do trabalho tem também limites fisicos e sociais, a maneira principal de se aumentar a mais- ~valia, sob as condig6es de produgao do capitalismo desenvolvido, é a elevagao da produtividade do trabalho, através da mudanga tecnoldgica. Do ponto de vista da produgdo material, diz Yaffe, a elevagdo da produtividade do trabalho significa a elevacéo da composicao técnica do capital. A elevagao da composigao técnica, devido aos aumentos da produtivi- dade do trabalho, implica na elevacao da composigao em valor do capital. Portanto, diz Yaffe, a elevagéo da composi¢ao orginica do capital, com a conseqiiente tendéncia 4 queda na taxa de lucro, é algo que se deduz direta- mente do conceito de capital. “O conceito de capital é contraditério. Por um Jado temos capital como valor em processo, como valor tentando se expandir sem limites e, do outro, temos a populacao trabalhadora, a base limitada dessa expansdo. Portanto, o capital precisa, por um lado, tentar tornar-se tao independente quanto possivel dessa base no seu processo de expansao; isso significa tentar reduzir o tempo de trabalho necessdrio a. um minimo através da elevacao da produti- vidade do trabalho. Por outro lado, ele precisa expantir a base de sua expan- so, isto é, a forga de trabalho disponivel para a exploragao”.”* A solugio dialética para essa contradigdo, diz Yaffe, é aumentar a escala de produgao através da substituicao de trabalho vivo por trabalho objetivado na forma de méaquinas. E assim, para Yaffe, a lei da queda da taxa de lucro advém da contra- digo que se verifica ja na andlise do capital em abstrato, entre a forca de expansao do capital e os limites de sua expansio: a forga de trabalho. A lei da queda tendencial da taxa de lucro é imanente 4 produgao capitalista fazendo parte das tendéncias gerais e necessdrias desse modo de produzir. Essa lei est4 inscrita na categoria basica da produgao capitalista: o conceito de capital. A natureza intima do capital se depreende de sua forma mais geral e abstrata. O capital em geral, abstraido na concorréncia e de suas formas particulares de manifestagao, é valor em processo, é o processo de apropriagao da mais-valia. E 0 movimento que o dinheiro (equivalente geral) percorre no processo de sua valorizacao. O processo de determinagdo do concreto consiste em se extrair do abstrato indeterminado as miltiplas determinagOes de realidade concreta. 38 No decorrer desse processo a andlise deve percorrer diversas etapas ou niveis de concretude. E nisso que consiste 0 método da abstragao —- concretizagao, contido na prdtica, em O Capital e explicitado no Prélogo a Contribuigdo a Critica da Economia Politica. O modo de o pensamento se apropriar do real consiste em se mediatizar as categorias em sua forma mais geral e abstrata com as determinagGes intermediarias, até se guarnecer cada categoria com todas as suas determi- nagdes pertinentes. Note-se que essa nado é a génese do real mas apenas a forma pela qual a realidade é reproduzida no pensamento. Cabe aqui esclarecer 0 estatuto tedrico das categorias ou das abstragdes em pauta. Nao se trata de “‘abstragdes formais”, categorias resultantes da “produgdéo” do conhecimento (que advém da metodologia althusseriana), mas sim de abstrag6es reais, ou seja, de categorias constituidas pela pratica produtiva. Assim, quando se afirma que o capital é a categoria predominante do modo de produgdo capitalista pretende-se dizer que essa categoria é expressao da relac4o social fundamental desse modo de produzir. O capital em geral é uma abstragao real que designa a relago estabelecida entre os detentores do monopolio dos meios de produgdo e a forga de trabalho despojada das condigdes de sua reprodugio. A lei mais geral do capitalismo indica que © capital vai procurar se apropriar da maior quantidade possivel de trabalho nao pago, isto é, de mais- -valia. Como a mais-valia expressa a exploragao do trabalho, o aumento da apropriacao da mais-valia representa um aumento da exploracao. Porianto, no modo de produgio capitalista é inerente ao conceito de capital a tendéncia ao aumento da’exploragdo do trabalho. Um dos fatores que permitem a‘elevacao do grau de exploragao é 0 aumento da produtividade do trabalho que diminui o valor da forga de trabalho. Trata-se da mais-valia relativa. Esse movimento de elevagdo da produtividade do trabalho vinculado a elevacdo da exploragdo encontra expressdo na concorréncia entre os capitais. Note-se porém que é importante distinguir as leis imanentes 4 produgao capitalista, as tendéncias mais gerais e necessdrias do capital, de suas formas de manifestagao. Assim, o aumento da mais-valia relativa por intermédio da elevagio da produtividade do trabalho nao aparece necessariamente como o motivo que impele o capitalista 4 agéo e nem tampouco como objetivo imediato da concorréncia entre os capitais. “Se um capitalista, individualmente, barateia camisas (que fazem parte dos meios de reprodugao da forga de trabalho) elevando a forga produtiva do trabalho, nao tem ele necessariamente em mira reduzir em determinada porcentagem o valor da forca de trabalho e conseqiientemente o tempo de 39 trabalho necessdrio, mas na medida em que, por fim contribui para esse resultado, concorre para elevar a taxa da mais-valia. As tendéncias gerais e necessdrias do capital devem ser distinguidas de suas formas de manifes- tacdo”.?5 Observe-se que os motivos que compelem o capitalista individual 4 acao nao coincidem imediatamente com a légica do capital em geral. Em decor- réncia, a taxa da mais-valia, parametro basico de determinagao do comporta- mento do capital em geral, nao é a categoria determinante do comportamento de cada capitalista individual. A categoria imediatamente condicionante do comportamento do capita- lista individual é a taxa de lucro também individual. Esta categoria apesar de ser uma decorréncia da taxa de exploragao nao é idéntica a ela. Para o capita- lista individual importa a obtengdo do lucro maximo independente do que acontega com a produtividade do trabalho e com a taxa da mais-valia. Porém, assim procedendo os capitalistas individuais acabam provocando a elevagdo da produtividade do trabalho e a elevagao da taxa de exploragao. E assim que © incessante aumento da mais-valia, a tendéncia mais geral e necessdria do modo de produgao capitalista (inscrita na sua categoria dominante — O Capital), se expressa no movimento dos capitais particulares. Faz-se necessdrio bater varias vezes na mesma tecla para salientar uma armadilha que costuma fazer muitas vitimas mesmo entre os autores vincula- dos ao pensamento marxista. Trata-se do erro de se extrair as tendéncias gerais do capital diretamente de suas formas concretas de manifestagdo sem o minimo exercicio de abstracao. E 0 caso, por exemplo, de se analisar 0 lucro a partir da concorréncia e dos pregos de mercado. Esse procedimento resultar4 na classica conclusio de que o lucro é uma porcentagem que se adiciona ao “valor” do produto e, portanto, fica obscurecido o vinculo existente entre o lucro e a mais-valia. Por esse motivo nao se pode analisar a lei da queda tendencial da taxa de lucro imediatamente atraves da concorréncia. Deve ser percorrida uma trajetéria metodolégica onde as fases analiticas devem ser respeitadas, Ao analisar 0 conceito de mais-valia relativa Marx disse: “nao examina- remos agora o modo como as leis imanentes da produgao capitalista se mani- festam no movimento dos capitais particulares, como se impOem coercitiva- mente na concorréncia e surgem na consciéncia de cada capitalista sob a forma de motivos que o impelem 4 agdo. Mas desde ja, estd claro: a andlise cientifica da concorréncia s6 é possivel depois de se compreender a natureza intima do capital do mesmo modo que s6 podemos entender o movimento aparente dos corpos celestes depois de conhecer seu movimento verdadeiro que nao é perceptivel aos sentidos”.?° Assim, em primeiro lugar, deve-se verificar como a lei da queda 40 tendencial da taxa de lucro esta inscrita no préprio conceito de capital e pode ser apreendida a partir dele. O capital vai procurar aumentar a quantidade de trabalho nfo pago pela elevagao da produtividade do trabalho de modo a diminuir o valor da forga de trabalho. Eis a forma com que 0 capital provoca a elevagdéo de sua com- posic¢ao organica. Como a taxa de lucro é diretamente proporcional 4 taxa da mais-valia e inversamente proporcional 4 composigdo organica do capital, uma elevagado da produtividade do trabalho excita ao mesmo tempo estas duas categorias expondo a taxa de lucro a duas forgas contrapostas. Por um lado, a elevagio da produtividade do trabalho deve-se 4 elevagéo da composigao organica do capital que arrasta a taxa de Jucro para baixo, por outro lado, a elevagao da produtividade do trabalho (desde que relacionada com a reprodugéo da forga de trabalho) induz ao aumento da taxa da mais-valia a qual impulsiona a taxa de lucro para cima. Essas duas forcas que se digladiam geram uma tensio que se constitui numa contradig&o permanente no seio da taxa de lucro. Vé-se pois que, imanente ao conceito de capital, encontra-se ndo somente a lei da queda da taxa de lucro como também 0 seu oposto, fazendo com que a lei da queda seja na verdade a lei da tendéncia 4 queda da taxa de lucro. “E impulso imanente e tendéncia constante do capital elevar a forga produtiva do trabalho para baratear a mercadoria e, como conseqiiéncia, 0 proprio trabalhador”.?7 Note-se que as duas forcas opostas, no limite, nado podem ser simétricas, caso contrario nao se definiria uma diregdo para o fenémeno. Na tensao entre essas forgas uma deverd prevalecer: justamente a que pressiona a taxa de lucro para baixo. Essa prevalecéncia toma consisténcia 4 medida em que 0 grau de desenvolvimento das forgas produtivas atinge niveis mais elevados. Como tentaremos demonstrar adiante, existe uma espécie de correlagdo entre © estdgio de desenvolvimento das forgas produtivas e a taxa de lucro, No perfodo em que o modo de produgao capitalista é “‘progressista” a taxa de lucto tende a se elevar, enquanto no perfodo em que a produgao para o capital torna-se inibidora do desenvolvimento das forcas produtivas, a taxa de lucro tende a declinar. Porém, vale repetir, as tendéncias gerais e necessérias do capital devem ser distinguidas de suas formas concretas de manifestacao. E preciso pois examinar como as leis imanentes 4 produgdo capitalista (neste caso a lei da queda tendencial da taxa de lucro), se manifestam no movimento dos capitais particulares. Trata-se de atingir 0 concreto ou seja, apreender o modo em que © capital vai combinar a apropriagdo da mais-valia absoluta com a mais-valia relativa. 41 Nesse caso a andlise deve levar em conta as condig6es materiais com que se defronta o capitalismo. A disponibilidade de forga de trabalho, por exemplo, vai ser um fator preponderante na determinacdo do estimulo em dirego 4 mais-valia relativa. A escassez da forga de trabalho, em relagéo a um dado volume de capital, é um impecilho fisico 4 expansdéo da mais-valia absoluta, Uma demanda de trabalho superior a sua oferta traz conseqiéncias catastr6ficas para 0 capital, pois a elevacao dos saldrios que daf decorre atinge diretamente o lucro do capitalista. Nessas circunstancias é desejavel, para o capital, 0 aumento da produtividade do trabalho com a aplicagao de técnicas capital intensive, Naturalmente tais circunsténcias condizem com situagGes em que as forcas produtivas nao tém condigées de criar um excedente relativo de trabalho. Ante a situagdo de um grande exército industrial de reserva ou seja, quando houver um maior desenvolvimento das forgas produtivas, o capital poderd optar tanto pela expansio da mais-valia relativa como da absoluta. Deve-se ressaltar que nao estamos considerando o que se poderia chamar de variagdes de curto prazo na disponibilidade de forga de trabalho. Caso contrdrio deverfamos analisar 0 constante movimento oscilatério da disponi- bilidade de forga de trabalho devido aos ciclos de acumulagao. Na verdade, estamos preocupados com as tendéncias gerais da disponibilidade de forga de trabalho que estdo intimamente relacionadas com o desenvolvimento tecno- J6gico. Desde que a lei da queda tendencial da taxa de lucro depende da apropriacdo da mais-valia e dos rumos do progresso técnico, ambos determi- nados pela trajet6ria da acumulagdo, somente uma andlise minuciosa das formas de apropriacao privilegiadas pelo capital determinaré a forma de manifestagao dessa lei. Voltando as criticas dos “reformuladores”, segundo eles Marx e seus seguidores “‘ortodoxos” se equivocaram ao analisar a lei da queda tendencial da taxa de lucro pois adotaram as seguintes hipéteses erroneas: a) a taxa de mais-valia é constante; b) a taxa de mais-valia é finita ou insuficiente; c) a composigao organica é crescente. Os reformuladores afirmam que a andlise da lei da queda tendencial da taxa de lucro nao pode adotar, como premissa basica, uma taxa de mais-valia constante, no que estamos de acordo. Qualquer andlise superficial da acumu- lado capitalista rechagaria essa hipdtese. Nao se pode concordar porém com a afirmagao de que essa hipotese seja a viga mestra da explicagéo de Marx sobre o assunto. Realmente, a andlise marxista da lei da taxa de lucro opera, 42 numa primeira etapa, com a admissdo de uma taxa de mais-valia constante. Mas em seguida Marx substitui essa premissa pela hipdtese de uma taxa de exploragao varidvel. Trata-se de um procedimento metodolégico amplamente difundido principalmente em economia e jd usado por Marx em outras ocasides. Veja-se por exemplo o capitulo do livro I sobre “A lei geral da acumulagdo de capital baseado na suposigéo de uma composigao organica do capital constante (a reprodugao simples). Em seguida, a reprodugao simples se converte em reprodugdo ampliada, justamente devido ao crescimento da composiga0 organica. Nao resta dtivida que a forma de exposi¢ado do Livro III (de O Capital) deixa um pouco a desejar devido a seu cardter de esbogo. Como é sabido, a terceira parte de O Capital estava inacabada quando da morte de Marx e por mais que Engels se tenha esforgado para preencher as lacunas, ainda se nota o cardter provisério de muitas questdes. Os trés capitulos sobre a lei da queda da taxa de lucro nao sdo excegGes a essa regra. Nao obstante, de modo geral, essa questdo est satisfatoriamente explicitada, especialmente se a falta de clareza de certas passagens for superada pela visdo de conjunto da obra de Marx. Portanto, a critica dos “reformuladores”, e principalmente de Joan Robinson, 4 suposta contradigdo entre, por um lado a suposicdo marxista de uma taxa de mais-valia constante (ou seja, salérios reais em ascengao devido aos aumentos de produtividade), na andlise da lei do lucro e, por outro lado, a suposigdo de saldrios reais constantes (a nivel de subsisténcia) e, portanto, uma taxa da mais-valia em ascenga0, no restante da obra de Marx, nao se sustenta. Acrescente-se que Marx nao considerava os saldrios reais constantes a nivel de subsisténcia, como quer Robinson. Na concepgao de Marx, os saldrios reais poderiam crescer com os aumentos de produtividade, porém a um ritmo inferior 4 elevagdo da produtividade do trabalho, o que implicaria pois na elevagao da taxa de mais-valia. Na verdade, o destino da taxa da mais-valia serd resolvido em face de situagdes concretas, vale dizer, na pugna entre as classes antagOnicas. O segundo aspecto discutido pelos “reformuladores” é 0 cardter finito ou insuficiente da taxa da mais-valia. Estes discordavam veementemente que essa taxa tenha limites fisicos definidos, como na interpretagdo marxista. A taxa da mais-valia ®@,. a relagdo entre a mais-valia (m) periodica- mente fornecida em média pelo trabalhador individual e o capital variavel (v) adiantado periodicamente para compra de uma forga de trabalho individual, expressa a proporgdo entre o trabalho excedente e o trabalho necessario. A medida em que se eleva a produtividade do trabalho nos setores que tém a ver com o valor da forga de trabalho, ocorre um aumento do trabalho 43 excedente em detrimento do trabalho necessério. Partindo-se de uma jornada de trabalho com 10 horas de duragdo, por exemplo, a taxa da mais-valia tem como ponto de minimo a situacao na qual essas 10 horas sao necessdrias para a reproducao do trabalhador, quando a taxa da mais-valia é nula. A taxa da mais-valia atinge seu ponto maximo quando a forga de trabalho se reproduz por algum milagre da natureza e todas as 10 horas de trabalho se constituem em excedentes. Neste caso, na formula 7 , 0 numerador atinge seu maior valor enquanto o denominador se aproxima de 0 e a taxa da mais-valia tenderé ao infinito. Portanto, diriam os “reformuladores”, esté provado que a taxa da mais-valia pode crescer infinitamente impedindo sempre a queda da taxa de lucro. Mas como o numerador da taxa de lucro é a massa da mais-valia e esta é o resultado do produto entre a taxa da mais-valia e 0 ndmero de trabalhadores empregados a uma dada taxa, a andlise nado pode desprezar este segundo elemento. Isto porque justamente enquanto a taxa da mais-valia cresce, 0 mimero de trabalhadores diminui. Portanto, uma andlise bem a gosto de boa parte dos “reformuladores” deveria concluir o seguinte: Se m cresce e v tende a zero, Lim. a = + infinito (0). Mas como M (massa da mais-valia) = = x Ve Se a tende a infinito (cc) e V tende a zero, Lim. M= 0 pois M= 0 x 0=0. Mas em se observando a massa da mais-valia em termos do produto entre a fragio de trabalho -ndo pago contida numa jornada de trabalho e a quantidade de jornadas de trabalho, as coisas ficam mais claras, Neste caso, nao ha dividas quanto ao limite da fragéo de trabalho nao pago contida numa jornada de trabalho: esta nado pode ser superior a toda a jornada de trabalho que por sua vez também tem seus limites fisicos e sociais. Admita-se a situagdo em que numa jomada de trabalho de 10 horas, 0 trabalho necessario seja de 9 horas e portanto com uma taxa de mais-valia de 11%. Caso ocorra uma elevacdo da produtividade do trabalho em 10 vezes, entdo o trabalho necessério passa a ser 0,90 horas (54 minutos) e a taxa da miais-valia ascende a 1011%. Se houver um sucessivo aumento na pro- dutividade do trabalho também em 10 vezes, o trabalho necessirio passa a ser 0,09 horas (aproximadamente 32 segundos) e a taxa da mais-valia 11011%. Esses aumentos de produtividade podem ser observados no quadro da pagina seguinte: 44 Elevagdo da Trabalho Trabalho Taxa Fragdo de Trabalho Produtividade Necessdrio Excedente da Excedente numa do Trabalho Horas Horas Mais-valia Jornada de Trabalho db 9 1 11% 0,10 ou 10% 10 2 0,9 91 1011% 0,91 ou 91% 10 3) 0,09 9,91 11011% 0,991 ou 99,1% 10 4). 0,009 9,991 111011% —0,9991 ou 99,91% lim+ 0 limt lim 100% 'Vé-se pois que 4 medida em que ocorre um-grande desenvolvimento das forcas produtivas, os aumentos de produtividade vao causar variagdes na taxa da mais-valia com efeitos cada vez menores na elevagdo da massa da mais-valia. Observa-se que a grande elevacdo na taxa da mais-valia pouco Tepresenta em termos de acréscimo da massa da mais-valia, 4 medida em que a fragdo do trabalho excedente passa a constituir quase toda a jornada de trabalho. Assim, um aumento de produtividade de 10 vezes, na situagao da linha —3—, faz a taxa da mais-valia crescer de 11011% para 111011%, mas a fragao de trabalho nao-pago contida numa jornada de trabalho pouco se altera, crescendo de 99,1% para 99,91%. Deve-se salientar mais uma vez que a medida em que a produtividade do trabalho aumenta, deverd diminuir a quantidade total de horas trabalhadas, o fator que multiplicado pela fragao de trabalho excedente contida numa jornada de trabalho resulta na massa da mais-valia. Deduz-se pois que existe uma certa relacdo entre o grau de desenvolvi- mento das forgas produtivas e 0 efeito contrabalancante exercido pela taxa da mais-valia nos confrontos da taxa de lucro. Nos primérdios do capitalismo, quando a produtividade do trabalho é ainda reduzida, prevé-se taxas de mais-valia diminutas. Nessa situagdo os saltos de produtividade vao produzir um diferencial consideravel nao sé da taxa de mais-valia como da fragdo de trabalho excedente. Mas, 4 medida que as forgas produtivas atingem graus 45 elevados de desenvolvimento, ocorreréo pequenas alteragGes na fragdo de trabalho excedente, apesar dos continuos aumentos na taxa da mais-valia. Pode-se concluir pois que a taxa da mais-valia, como forga contra- balancante da queda da taxa de lucro, tem o seu raio de alcance limitado. E de se prever que no capitalismo concorrencial, apesar das grandes imobilizag6es de capital proporcionadas pela passagem da manufatura para a maquinofatura, as elevagdes da composi¢o organica sejam satisfatoriamente compensadas pelos grandes aumentos na taxa da mais-valia. Nesse perfodo da acumulacdo de capital, ocorre a substituigao da forga humana por forca motriz, 0 que possibilita a introdugdo de mulheres e criangas no trabalho industrial, com um custo salarial bem menor que 0 dos homens. A introdugdo de méquinas além de propiciar a elevacdo da produtividade, permite a ampliac¢déo da jornada de trabalho. Portanto, é preciso muita cautela em se afirmar, como faz Sweezy, que no capitalismo concorrencial haveré uma queda constante na taxa de lucro. Deve-se ressalvar que conduzimos nossa argumentagao em termos de casos limites e que portanto, entre esses extremos, existe um enorme “intermezzo” no interior do qual essas categorias véo se movimentar e produzir resultados muitas vezes diversos das tendéncias que se podem inferir dos casos mais gerais. Resta examinar 0 significado das inovagdes poupadoras de capital. Para haver o barateamento do capital constante é preciso ocorrer a elevagéo da produtividade do setor produtor de bens de capital. A elevagdo da produtivi- dade do trabalho é, como jé foi mencionado, a diminuigdo do trabalho ineorporado num produto. Deve-se salientar que toda produtividade é sempre produtividade do trabalho e nao produtividade do capital, pois este, per se, nao pode ser mais produtivo ou menos produtivo a nado ser como mera expresso da produtividade do trabalho.” E preciso pois atentar para 0 fetichismo do capital. Uma inovagéo poupadora de capital ndo é pois, nada mais do que o barateamento do capital constante através da elevagdo da produtividade do trabalho no setor de bens de capital. Portanto, 0 primeiro passo dessa inovagao serd a elevacdo da com- posicao organica do capital do setor que produz o capital constante. A medida que todo o setor produtor de bens de capital (Setor I) elevar sua produtividade, ocorre um barateamento geral do capital constante. Note-se que, do ponto de vista do capital como um todo, as inovagdes nao séo poupadoras de capital mas poupadoras de trabalho, ou seja, menos tempo de trabalho é necessdrio para a producdo do capital constante.» Por- tanto, as inovagdes poupadoras de capital nao devem ser levadas em conside- ragao na andlise do capital em geral, devendo porém ser computadas na andlise do relacionamento entre os setores, como uma das forgas que pode 46 retardar a queda da taxa de lucro. Talvez, para suprimir 0 rango ideolégico que acompanha essa expressdo, convém utilizar o termo elevagao da produti- vidade do Setor 1. Hodgson argumentou a favor das inovagdes poupadoras de capital afirmando que essas inovagdes podem ser divididas em 2 espécies: “aquelas que conduzem 4 reducao na composi¢ao organica do czpital pela redugdo do valor do estoque de capital constante relativo ao produto e aquelas que conduzem a uma tal redugao na taxa do fluxo de capital constante. Exemplos da primeira espécie incluem 0 mais eficiente uso das construgdes e das maquinas. Na segunda espécie esta incluido 0 uso mais eficiente de matérias- -ptimas”.*! Perguntarfamos a Hodgson como vai ocorrer 0 uso mais eficiente dos equipamentos e das matérias-primas? Descartando de inicio as melhoras devidas a fatores naturais como por exemplo, a descoberta, por acaso, de uma jazida com maior teor mineral que as anteriores, como também deixando de lado a hipdtese de uma maior racionalizag4o dos equipamentos j4 existentes (pois partimos do pressuposto que 0 modelo opera no grau maximo de aproveitamento e racionalidade dentro de condigGes dadas), a unica resposta que vislumbramos é o aumento na produtividade do trabalho na obtengdo das matérias-primas e dos equipamentos, através do desenvolvimento cientifico. Por outro lado, Hodgson pés em relevo um problema muito importante para o desenvolvimento do materialismo hist6rico. Trata-se da andlise dos meios de produgdo do ponto de vista fisico. Infelizmente, Marx nao estabe- leceu os parametros de comparago entre os meios de produgio, fruto de tecnologias diferentes, assim como de trabalho distintamente qualificado. A anilise marxista estabeleceu as comparagdes apenas em termos de valor. Como comparar, por exemplo, a massa de meios de produgao que é posta em ago por uma certa quantidade de trabalho, sem se apelar para as caracteris- ticas fisicas do equipamento como peso, massa ou volume? Como comparar as massas de trabalho de perfodos diferentes e, portanto, produtos de estégios culturais diversos? Talvez a solucdo deva ser tentada em termos de relacdo massa de meios de produgdo e massa de produtos. Caso se produzam exatamente os mesmos produtos, com meios de produgao diferentes, poder-se-ia arriscar uma com- patagao desse tipo. Porém, uma das caracteristicas da produco capitalista, principalmente no estégio de produgdo em larga escala, é justamente a constante modificagdo das caracteristicas dos produtos. Antes de passarmos 4 andlise dos “ortodoxos”, faz-se necessério um breve comentério a respeito de Baran e Sweezy. Indubitavelmente esses autores deram uma contribuigdo inestimavel ao desenvolvimento da ciéncia econémica moderna, especialmente nas andlises do capitalismo monopolista norte-americano. Mas o brilho de suas anélises concretas nao se repetiu no 47 enfoque das categorias mais gerais do capitalismo. Existe um evidente equivoco desses autores sobre o significado de certas categorias basicas do modo de produgao capitalista, com uma certa tendéncia 4 a-historicizagdo dessas categorias (alids, um habito muito comum na economia burguesa) e com o descaso das relagdes sociais expressas por elas. Nesses termos, a categoria mais-valia pode ser substitufda vantajosamente pela categoria excedente, pois o que importa para esses autores é 0 volume de mercadorias. Uma anilise desse tipo atesta.a incompreensio da abordagem metodoldgica e do estatuto tedrico das categorias contidas em O Capital. Mas passemos a palavra aos autores: “A estagnacdo da ciéncia social marxista, sua pouca vitalidade e proveito, ndo podem ser explicados por nenhuma hipétese simples. Estéo em jogo causas objetivas e subjetivas, e separd-las e atribuir-lhes os devidos pesos seria uma tarefa dificil. Mas ha um fator importante que, acreditamos, pode ser identificado e isolado e em seguida (pelo menos em principio), remediado: a andlise marxista do capitalismo ainda se baseia, em Ultima andlise, na suposi¢ao de uma economia em regime de concorréncia” *? Para eles, “continua sendo certo que nem Lénin nem qualquer de seus seguidores procurou explorar as conseqiiéncias do predominio do monopélio sobre os principios prdticos e as leis do movimento da economia capitalista subjacente”. E assim esses autores chegam 4 conclusao de que “‘Nesse setor, O Capital de Marx continuou reinando soberano” *° ¢ acrescentarfamos que continuou e continuard a despeito deles. Os autores mencionados na precdria qualificagao de “‘reformuladores” possuem varios pontos em comum e sobretudo recusam-se a atribuir qualquer poder explicativo, no tocante 4 acumulacaéo de capital, 4 lei da queda tendencial da taxa de lucro. Quando muito admitem a existéncia de uma forga com nenhuma relevancia no confronto das outras forgas em agdo na acumulagao do capital. Os “ortodoxos”, no entanto, procuram justamente sustentar a impor- tancia dessa lei e sua vinculagdo ao conceito de capital. Paul Mattick, indubi- tavelmente a figura de maior destaque dessa corrente de pensamento, tentou demonstra-lo diversamente nos livros citados. Por um lado, ele salientou a importancia do aumento do capital constante como causa principal do decréscimo da taxa de lucro, e por outro lado, ele apontou a tendéncia 4 escassez relativa da forca de trabalho como a razao desse decréscimo. David Yaffe construiu sua explicagfo da taxa de lucro, alicergada nessa segunda explicagao de Mattick. Seguindo os passos deste ultimo, David Yaffe parte da premissa de que a lei da queda tendencial da taxa de lucro advém do conceito de capital. Essa lei, prossegue ele, que mantém suas determinag6es inalteradas em todos os estdgios do capitalismo, deve ser derivada, em primeiro lugar, das deter- 48 minagdes do capital em geral. No entanto, no decorrer de sua andlise, Yaffe foi infiel 4s premissas basicas e ao método de exposi¢fo que ele préprio designou. Como se pode observar, a caracterizagdo da lei da queda tendencial da taxa de lucro em Yaffe, esté calcada na contradi¢do entre o capital, o valor tentando se expandir sem limites e a populacdo trabalhadora, base limitada dessa expansdo, Portanto, ao invés de demonstrar como essa lei é decorrente do conceito de capital em sua determinagao mais geral, Yaffe confronta a lei da queda da taxa de lucro imediatamente com a escassez de forga de trabalho, um dado que s6 deve ser computado nas anilises de situagdes concretas, E assim ele se perde em meio a uma abundancia de contradigdes imagindrias que © conduzem 4 confuso entre as tendéncias gerais dessa lei e suas formas concretas de manifestagao. Dessa forma, Yaffe fica impedido de analisar corretamente as manifes- tagdes da lei em questo no est4gio monopolista da produgao capitalista. Como foi visto, o impulso basico para a busca da mais-valia relativa e, portanto, para o aumento da produtividade do trabalho, existe independente da disponibilidade da forga de trabalho. A escassez da forga de trabalho apenas vai acentuar a apropriacdo da mais-valia relativa. Talvez a confusao de Yaffe tenha origem no fato de ele nao ter utiliza- do apenas a forma mais acabada dessa lei em Marx. Observa-se pelas notas de rodapé de seu trabalho que Yaffe desenvolveu seu raciocinio baseado sobre- tudo nos Grundrisse e nas Teorias sobre a mais-valia, Se um dado capital, diz Marx, numa passagem das “Teorias” mencionada por Yaffe,** se valoriza a uma taxa média de lucro de 10% ao ano, no fim de 20 anos esse capital ter4 crescido 7 vezes. Por outro lado, os estudos de Malthus, diz Marx, indicam que a populagao nao pode mais do que duplicar em cada 25 anos. Dai Yaffe deve ter concluido que a escassez relativa do trabalho, ante o crescimento do capital, se constitui no principal fator de incremento da produtividade do trabalho e, portanto, da composigao organica do capital. Vé-se que Yaffe fundamenta sua argumentacdo numa constatagdo empirica de Marx que data dos primérdios da Revolugao industrial. Por ai Yaffe, sem o minimo exercicio de abstragao, extrai as “‘determinagGes gerais” diretamente da situagdo empirica do capital no século XIX. Se por um lado nas Teorias e nos Grundrisse existe uma interpre- tago que leva 4gua ao moinho de Yaffe, em O Capital, nos capf{tulos sobre a taxa de lucro, essas passagens foram suprimidas. Como se sabe, as Teorias (Na verdade, as Teorias foram elaboradas simultaneamente ao Livro I de O Capital. De qualquer forma, elas so anteriores aos capftulos de O Capital que tratam da lei da queda tendericial da taxa de lucro) e os Grundrisse sfo textos anteriores a O Capital e em grande medida constituiram a matéria 49 bruta para a sua elaboragdo. Deve-se reconhecer que essa relacao da forga de trabalho com a taxa de lucro nao estd explicita em O Capital, 0 que da inargem a interpretagdes erréneas. Pode-se deduzir porém, da obra de Marx, que © crescimento da populagdo e o crescimento da forca de trabalho industrial nao é a mesma coisa. Num sistema capitalista em desenvolvimento, a taxa de acumulacao pode exceder facilmente a taxa de crescimento da populacao pois, a esta vem se somar os pequenos proprietarios expropriados pelo capital, assim como os imigrantes do campo. Isso significa que 0 proprio ritmo de acumulagao influi no crescimento da forga de trabalho disponivel para © capital.** Mas voltando a Yaffe, ao admitir, na andlise, segundo ele abstrata, a escassez de forga de trabalho como contradi¢do localizada no conceito de capital em geral, ele estd introduzindo um dado objetivo, relativo 4 oferta concreta de forga de trabalho no periodo concorrencial. Conclui-se que a andlise de Yaffe é contraditéria, pois depreende-se de sua andlise concreta que a lei da queda tendencial da taxa de lucro nao advém do conceito de capital, mas requer a interferéncia de um fato concreto: a escassez de forga de trabalho, fendmeno tipico do capitalismo concor- rencial. E assim, Yaffe oferece numa bandeja argumentos para a critica de Sweezy e seus companheiros. Este, como foi visto, afirma que os conceitos marxistas “por serem provenientes do perfodo concorrencial”, séo inadequa- dos para a andlise do estégio monopolista. Entre esses conceitos supostamente esclerosados figura, com destaque, a lei da queda tendencial da taxa de lucro. E na generalizagdo de interpretagdes como as de Yaffe que os criticos do marxismo encontram sustentacao para seus argumentos. Nossa discusséo sobre a lei da queda tendencial da taxa de lucro procurou, até agora, com poucas excegdes, situar-se no nivel mais geral de abstragdo, para que se pudessem localizar as rafzes mais profundas dessa lei. Por isso, a andlise se conduziu pelo enfoque do capital em geral. Para se detectarem as formas concretas de manifestagdo dessa lei é preciso incorporar a essas generalidades, as determinagGes mais especificas, deixadas de lado no ptimeiro momento da andlise. Mudando-se o enfoque do capital em geral para a situagGo de varios capitais, o fator chave de entendimento do fenémeno passa a ser a concor- réncia intercapitalista. Na producao capitalista, os diversos ramos produtivos operam com composigdes organicas de capital diferentes. Isso significa que capitais da mesma magnitude mobilizam quantidades diferentes de forga de trabalho. Em se partindo da hipétese provisoria de uma taxa de exploracao idéntica para todos os setores, as composigGes organicas diferentes geram massas 50 desiguais de mais-valia e, portanto, taxas de lucro diferentes entre os diversos setores produtivos. A concorréncia intercapitalista tende a eliminar essas desigualdades, pressionando no sentido de uma taxa geral de lucro para toda a producdo de um sistema econdmico. Essa tendéncia 4 equalizagdo se explica pela livre circulagdo dos capitais entre os diversos ramos produtivos. Os capitais abandonam os setores produtivos com menores taxas de lucro para se instalar nas inddstrias mais rentaveis. S@0 essas constantes migragdes do capital que produzem a tendéncia 4 nivelagao da taxa de lucro. A taxa geral de lucro {a relaga0 entre a massa de mais-valia gerada por um sistema econdmico como um todo e o capital empregado para tal producao) provoca a transferéncia de valor dos setores produtivos de menor composi¢ao organica do capital para os de maior composi¢ao organica. Essa transferéncia se dé via fixagao dos pregos de producao. A redistribuigao do valor faz-se na proporgao do desvio dos precos de producao, dos valores das mercadorias.> Note-se que a soma dos pregos de produgao de todas as mercadorias produzidas nos diversos setores produtivos é igual 4 soma do valor dessas mercadorias. Portanto, a explicagao em abstrato da lei da queda tendencial da taxa de lucro pode (e deve) ser feita ao nivel de concretude de valor, ou seja, na situagdo em que se abstrai tanto a concorréncia entre os capitais como as situagGes especificas que assume a luta entre trabalhadores e capitalistas, sem nenhum prejuizo pata a andlise. Na luta concorrencial, os capitais individuais vao procurar diminuir os custos de seus produtos. Isso pode ser obtido através de técnicas de produgdo que impliquem numa diminuigéo da soma de trabalho dispendido na fabricagio de um produto. Se por um lado, a elevacéo da composi¢a0 organica média (a relagéo entre todo o capital constante e o capital varivel total) de um sistema capita- lista induz a taxa média de lucro ao declinio, por outro lado, a elevagdo da composi¢éo organica do capital individual com o barateamento de seu produto, permite a elevagao de rentabilidade desse capital. “O capitalista que emprega métodos de produg4o mais aperfeigoados, diz Marx, mas que nao sao ainda generalizados vende abaixo do prego de mercado mas acima de seu prego de produgao pessoal, assim a taxa de lucro aumenta para ele até que a concorréncia compense essa vantagem’.*7 Naturalmente, “‘nenhum capitalista emprega com boa vontade um novo método de produgao seja qual for a propor¢ao na qual ele aumenta a produtividade e a taxa da mais-valia, do momento em que baixar a taxa de lucro. Mas todo novo método de produgdo desse género diminui o prego das mercadorias. Originalmente pois, 0 capitalista vendé-las-4 acima do prego de producdo, talvez até acima de seu valor. Ele embolsa a diferenga existente 51 entre os custos de produgio de sua mercadoria e 0 prego de mercado das outras mercadorias cujos custos de produgo sao mais elevados. Ele pode fazé-lo porque a média de tempo de trabalho social requerido para produzir essas mercadorias é superior ao tempo de trabalho exigido pelo novo método de produgao. Seu processo de produgdo é superior 4 média dos processos sociais. Mas a concorréncia o generaliza e o submete 4 lei geral. Entdo inter- vém a queda da taxa de lucro — .. . — queda que é pois totalmente indepen- dente da vontade dos capitalistas... Desde que 0 novo modo de produgao comega a se espalhar, fornecendo assim a prova efetiva que essas mercadorias podem ser produzidas a um custo menor, os capitalistas que trabalham nas velhas condigGes de produgio sao obrigados a vender seus produtos abaixo de seu prego de produgao total porque o valor dessas mercadorias baixou, e 0 tempo de trabalho requerido na sua produgao é superior ao tempo de producao social”.** Vé-se pois que a elevagao da produtividade do trabalho é desejada pelo capital individual, pois implica, de imediato, na elevagdo da lucratividade, forga motriz da produgao capitalista. O periodo concorrencial pode ser caracterizado como o estégio do capitalismo em que a acumulagao de capital é feita por varios capitais médios € pequenos, onde a diferenca entre os valores e os pregos de mercado dos produtos é ditada pelos mecanismos de equalizacéo do lucro. O grau incipiente de concentragao e centralizagaéo do capital limita a existéncia de monopélios ¢ restringe as possibilidades de socializagéo da produgao. Dessa forma, a inovagdo tecnoldgica € limitada pelo tamanho dos capitais. Nessas condigGes, a expansao do capital deverd ser principalmente quantitativa, pela expansio e intensificacao da jornada de trabalho. Se a velocidede de expansio do capital for maior que 0 crescimento da forga de trabalho, haverd escassez telativa desta Ultima. O exército industrial de reserva, por ser diminuto, € facilmente esgotado nos auges dos ciclos de acumulagao. A procura maior de trabalho em relagao 4 sua oferta, impulsiona os saldrios para cima, compri- mindo a taxa da mais-valia e ocasionando a queda na taxa de lucro. Nessas circunstancias, 0 impulso ao desenvolvimento tecnolégico é diretamente proveniente da escassez relativa da forca de trabalho. E justamente 0 fato de a expansdo do capital ser essencialmente quantitativa que condiciona o impulso para a expansdo qualitativa. Portanto, nos primérdios da acumulagéo de capital, a lentidao da elevagdo da composigao organica fazia a acumulacado depender do crescimento da populacao trabalhadora. No capitalismo concorrencial, 0 progresso técnico, segundo os ditames do capital, procura direcionar-se no sentido da expans4o da mais-valia relativa. Mas o pequeno volume de capital nas maos de cada capitalista individual 52 restringe as transformagGes tecnoldgicas ¢ faz com que a reprodugao ocorra principalmente pela expansdo da mais-valia absoluta. Atingindo um certo grau de concentragdo e centralizagao do capital a concorréncia se redefine. Agora, um pequeno numero de grandes concen- tracgSes de capital passam a ditar as regras do jogo. No perfodo monopolista os grandes capitais utilizam 0 monopdlio tecnolégico como mecanismo basico para a obtengdo de superlucros. Dado o grau de sofisticagao tecnolé- gica atingido pela produgao capitalista, as inovagdes técnicas demandam um montante cada vez maior de investimentos para sua consecucao. O poderio financeiro das grandes empresas concede-lhe a exclusividade das inovagGes técnicas no ambito privado. Cria-se assim um mecanismo de concentraga0 das inovagdes tecnoldgicas pelo qual as grandes empresas detém a exclusividade em determinados ramos produtivos que se tornam os mais lucrativos, relegando os pequenos e médios capitais aos setores mais arte- sanais. . Analisando a descontinuidade tecnolégica do perfodo monopolista, Paolo Sylos Labini diz: “‘o aspecto caracteristico do processo de concentragao reside exatamente no fato que ele cria descontinuidades tecnoldgicas nao despreziveis. Somente as maiores empresas podem aplicar certos métodos — ndo somente métodos técnicos mas também métodos organizativos — somente elas podem gozar de certas economias de escala”.°? Por outro lado, para se estabelecer num mercado, uma grande empresa deverd realizar, na sua implantagdo, vultuosas despesas, nao s6 para tornar o seu produto conhecido como também para conquistar a confianga dos clientes. E preciso muito dinheiro para constituir uma organizacao de vendas capaz de competir com a organizacao de vendas das firmas concorrentes.” No capitalismo monopolista, os pregos de mercado nao sdo mais ajustados pela oferta e procura e pela livre circulagdo dos capitais entre os setores produtivos. Agora, as barreiras impostas pelo volume m{nimo de capital e 0 monop6lio tecnolégico separam 0 campo de atuago dos grandes @ pequenos capitais. Por um lado, temos um grande niimero de pequenas empresas que vo se situar nos ramos produtivos com as menores composigdes organicas do capital. Sdo justamente esses setores que requerem inversdes iniciais menores e operam com tecnologia menos sofisticada. Por outro lado, os setores produtivos com alta composigdo orginica, produgdo em grande escala e tecnologia mais sofisticada vao se constituir no campo exclusivo de atuacao dos grandes capitais. Como nao existe a livre circulag’o de capitais dos setores concorrénciais pata os setores monopolistas, nado mais ocorre a tendéncia 4 equalizacdo da taxa de.lucro para a economia como um todo. Agora, essa perequacao vai 53 Ocorrer apenas no interior de cada compartimento estanque.*! Ou seja, os pequenos capitais podem fluir livremente dentro de seu compartimento, em busca das taxas de lucro mais elevadas assim como aos grandes capitais esta franqueado 0 acesso a qualquer setor produtivo de alta composica0 organica. Poder-se-ia contra-argumentar que as patentes industriais impediriam a livre circulagéo no compartimento monopolista mas sabe-se que, na pratica, esses mecanismos restritivos tem uma eficdcia muito limitada, podendo ser facil- mente burlados. No estaégio concorrencial do capitalismo os diferenciais de taxas de lucro sao devidos principalmente aos atritos da concorréncia e tem um cardter transit6rio. A facilidade de circulacdo elimina os ganhos excepcionais de qualquer setor pela pronta afluéncia de capitais de outros ramos. Mas no capitalismo monopolista, instituem-se diferenciais de taxas de lucro perma- nentes. As grandes e médias empresas vao obter constantemente taxas de lucro mais elevadas que os pequenos capitais. Enquanto no capitalismo concorrencial os pregos sao fixados pelos mecanismos da perequacao da taxa de lucro, no estégio monopolista a exis- téncia de grandes concentragGes de capitais ao lado de um grande nimero de pequenos capitais impede a perequagdo entre todos os capitais. Agora é como se o sistema econdmico estivesse dividido em dois compartimentos onde, no compartimento formado pelos pequenos capitais continue havendo uma concorréncia de pregos, isto é, os capitalistas se digladiam para diminuir os custos das mercadorias e assim poder vendé-las a pregos menores que seus concorrentes. Por outro lado, no compartimento monopolista, as empresas vao procurar aumentar sua produtividade para diminuir seus custos, mas nao com 0 intuito de rebaixar os pregos das mercadorias, mas apenas procurando elevar sua margem de lucratividade. Assim, se os pregos do com- partimento monopolista ndo chegam a ser constantes nao possuem a elastici- dade dos pregos do compartimento concorrencial que tendem a cair. Os Precos monopolistas tem de ser suficientemente elevados para assegurar aos grandes capitais uma taxa de lucros maior que a do compartimento concor- rencial. Por isso, os ptegos monopolistas deverao’ ser superiores aos pregos de produgao que seriam estipulados pela equalizagéo do lucro de todos os capitais, enquanto os precos do compartimento concorrencial deverao estar abaixo desses supostos precos de produgao. E através desse diferencial de pregos que se estabelece um mecanismo de transferéncia de valor dos pequenos capitais ou setores concorrenciais para os grandes capitais, ou compartimentos monopolistas. Convém salientar que o estd4gio monopolista nao significa o fim da concorréncia entre os grandes capitais. No capitalismo monopolista, a estru- tura do mercado é oligopolista, isto é, um punhado de grandes empresas 54 continuam se degladiando pelo mercado. Portanto, mesmo os pregos adminis- trados de monopdlio se restringem a certos limites em vista da concorréncia. As grandes empresas nao vao manter precos excessivamente elevados para nao atrair novos concorrentes. Na fase superior do capitalismo, 0 progresso técnico deve adaptar-se aos preceitos do capitalismo monopolista. Isso significa que a necessidade de manutengdo do monopélio tecnolégico, assim como o imperativo de melhorar os produtos em face da concorréncia, ou mesmo a busca de taxas de lucro mais elevadas, vai requerer um constante e acelerado desenvolvimento tecnolégico. Agora 0 progresso técnico nao estd mais atrelado 4 escassez da forga de trabalho como no periodo concorrencial, mas norteia-se principal- mente pelas necessidades de concentracao e centralizagdo do capital. A maior velocidade de modificag&o tecnoldgica, possibilitada pelo novo estagio de acumulagdo, ou seja, a mais rapida expansdo da mais-valia relativa, assegura a criagao de um exército populacional de reserva que tende, numa perspectiva a longo prazo, a eliminar os problemas de escassez relativa de forga de trabalho. Portanto, a propria ocorréncia do crescimento do exército populacional de reserva no capitalismo monopolista atesta a independéncia do progresso técnico em face da forga de trabalho. Superadas as barreiras da escassez da forga de trabalho que se inter- punham 4 valorizagao do capital no periodo concorrencial, agora o desenvol- vimento tecnolégico sera menos pressionado na diregdo de técnicas capital intensive, podendo ocorrer sobretudo pelo aumento da produtividade do setor de bens de capital, provocando as j4 mencionadas capital saving innovations. Se por um lado, o estégio monopolista do capitalismo em certo sentido nao pressiona tanto no sentido da elevagao da composi¢ao organica devido aos grandes saltos de produtividade no setor de bens de capital, por outro lado, 0 progressivo distanciamento entre a producdo e a realizagéo das mercadorias implica numa nova forga deprimente da taxa de lucro. O estdgio monopolista de acumulagdo se fez acompanhar por uma grande expansdo das atividades de circulacdo do.capital, ou seja, da ampliagdo do capital comercial em relagdo as outras formas de capital. A medida em que a acumulagao atinge proporgdes monopolistas, amplia-se o trabalho impro- dutivo necessdrio 4 reprodugdo do sistema. O aumento necessario das ativi- dades de circulagdo do capital em relagdo as atividades de producdo, fazem crescer 0 peso relativo do capital comercial. Este é posto em acdo por trabalho improdutivo e, portanto, ndo adiciona valor 4 massa de mais-valia gerada pelo capital industrial. Vé-se pois que a ampliagdo do capital comercial significa uma pressdo para baixo na taxa de lucro. 55 O aumento do capital comercial implica na elevagdo do montante de capital em relagdo ao qual a massa de mais-valia produzida pelo capital industrial deve ser relacionada para a obtengdo da taxa de lucro. Vé-se pois que o capital comercial vem a constituir-se num dos fatores preponderantes da diminuigéo da taxa de lucro. Infelizmente, essa questao nao foi aprofundada em O Capital pois os capitulos desse livro sobre a lei da queda tendencial da taxa de lucro abordam a questao apenas do ponto de vista da produgao. Nota-se pois a auséncia da andlise dessa lei em termos de circulagao e dessa forma fica prejudicada a visio do con- junto do processo de valorizago do capital. Mas o pior é que muitos teéricos marxistas, por considerarem a lei da taxa de lucro satisfatoriamente equacionada em Marx, nao avancaram um passo na resolugao dos pro- blemas em aberto. Do que foi discutido acima poderiamos definir a lei da queda tendencial da taxa de lucro como uma tendéncia sempre presente em toda a extensao do modo de produgdo- capitalista, seja de forma manifesta ou veladamente através de seus efeitos. Diz-se que ela esta sempre presente pois ou se manifesta explicitamente ou indiretamente através do empenho do capital para neutraliz4-la. Dessa forma, essa lei pode nao se manifestar nas estatisticas mas imprime sua marca na orientagdo dos passos do sistema. E ela portanto que explica, segundo a tradigao leninista, certos passos da acumulagdo capitalista como por exemplo, o imperialismo. Na etapa monopolista do capitalismo, os grandes capitais desbordam as fronteiras do Estado-Nagdo premidos pelas exigéncias intrisecas 4 reprodugao em escala ampliada. A formaco de cartéis internacionais e o surgimento das . chamadas empresas transnacionais tém como objetivo principal elevar as taxas de lucratividade do capital dos paises imperialistas. A localizagéo de campos alternativos de investimento, com composigdes organicas menos elevadas, ou a obtencao de matérias-primas e bens de saldrios mais baratos, para diminuir os custos de produgao, torna-se um expediente imprescindivel para a continuidade da acumulagado de capital. Com a ampliagao da divisio do trabalho, o ciclo de reprodugdo do capital passa a se efetuar em escala internacional. Ao “intercémbio desigual” vem se juntar uma nova pratica de obten¢do de maior lucratividade para os paises imperialistas: a exploragao da forga de trabalho mais barata e a obtengdo de matérias-primas a custos reduzidos, ambos utilizados nos préprios locais de disponibilidade, isto é, nas col6nias e nos paises subdesenvolvidos. Os grandes capitais vao encontrar nos paises atrasados grandes contin- gentes de forga de trabalho, em quantidade superior 4 sua demanda que, além de possuir um nivel de subsisténcia bem inferior aos seus companheiros de 56 classe dos paises imperialistas, se constituem numa constante pressdo para baixo de seus proprios saldrios. Via de regra, esses paises sao controlados por regimes autoritérios os quais coibem a organizaco auténoma do proletaria- do, enfraquecendo o seu poder de barganha com o capital. Cada tipo de atividade externa vai exercer um efeito diferente nas taxas do lucro do pais imperialista. No caso da exportacao de capital, os investimentos no exterior conseguem obter taxas maiores de lucratividade, permitindo a esses capitais a elevagao de sua taxa média de lucro. Por outro lado, a obtengao de matérias-primas e bens de saldrios mais baratos no exterior, diminui o capital total necessério a uma dada produgao nos paises imperialistas, seja devido 4 diminuigao do capital constante, como por meio da redugao do trabalho necessario, pois 0 barateamento dos bens de salarios reduz o valor da forga de trabalho. Nessa situagado, caso o capital constante diminua em maior proporgéo que o capital varidvel, ocorre a diminuicgaéo da composi¢ao em valor do capital e vice-versa, caso 0 capital constante diminua menos que o capital varidvel. Além dessas modificagdes na taxa de lucro advindas das atividades imperialistas, é preciso distinguir ainda as modificagdes que podem ocorrer na composigdo organica do capital, em vista das oscilagdes de mercado, crédito e inflagdo, bem como as variagdes tesultantes diretamente da luta de classes tais como um forte sindicalismo que consegue pressionar os saldrios para cima. © alto grau de monopolizagao que atinge a producao capitalista permite as grandes concentragSes de capital abocanhar a parte do ledo da mais-valia, deixando apenas as migalhas para os médios e pequenos capitais. Isso implica num crescente distanciamento entre as taxas de lucro dos grandes € pequenos capitais. Assim, os efeitos da lei da queda tendencial da taxa de lucro tendem a recair nas costas dos pequenos capitais. O agigantamento dos capitais faz com que parte do capital que era investido diretamente na produgio seja aplicado a juros. O carater proibitivo para OS pequenos capitais de boa parte das atividades industriais e as parcas perspectivas de lucro do pequeno investimento industrial, incita os capi- talistas menos afortunados 4 aquisigao de agGes das grandes companhias. Assim, a difusdéo das sociedades por ages viabiliza o financiamento do capital com taxas médias de rentabilidade menores que as taxas de lucro do capital industrial e, ao mesmo tempo, permite a manutengdo de taxas de lucro mais elevadas para uma parcela do capital industrial. Podem ocorrer ainda, numa mesma empresa, taxas de lucro diferentes: por um lado, uma grande massa de pequenos acionistas contentase com taxas de rentabilidade dimjnutas e, por outro lado, um punhado de grandes acionistas que, por intermédio de cléusulas contratuais ou de altos salarios, obtém taxas de rentabilidade bem mais elevadas que as dos seus sécios 57 minoritarios. Nesse caso, a empresa pode operar com taxas de rentabilidade inferiores 4 taxa de lucro industrial média. 4. Tanto Sweezy como Hodgson procuraram corroborar suas hipéte- ses sobre a taxa de lucro e a composigao organica do capital nos poucos estudos empiricos existentes sobre essa questdo. O trabalho freqiientemente utilizado € 0 de Joseph Gillman‘? sobre a composigdo organica do setor manufatureiro dos E.U.A. Gillman presume ter demonstrado que no decorrer dos trés decénios que vao de 1923 a 1952, a composi¢ao organica das manufaturas norte- -americanas caiu de 4,2 para 3,6 (ou seja, em 14%) enquanto a taxa da mais- ~valia, no mesmo perfodo, subiu de 1,21 para 1,32 (ou seja, em 9%). Desde que os préprios Sweezy e Gillman reconhecem textualmente a dubiedade dessa pesquisa em face dos critérios adotados, resta acrescentar que mesmo que essa pesquisa estivesse rigorosamente de acordo com as categorias marxistas, pouco se poderia concluir a respeito das tendéncias da taxa de lucro sem acoplar a esses resultados os movimentos do capital americano principalmente fora de suas fronteiras geograficas. Esses dados 86 poderiam ter alguma relevancia per se, apenas em se tratando de uma economia fechada, sem relagdes com outros paises. Cogoy*? contrapde a esses dados os resultados do trabalho de Paul Bairoch™ que acusam uma elevagdo do capital por pessoa empregada tanto na Alemanha, no periodo de 1950 a 1970, como nos Estados Unidos, no periodo de 1879 a 1953. Segundo Bairoch, o capital por pessoa empregada nos E.U.A. sofreu a seguinte evolugdo: Capital por pessoa empregada: em ddlares de 1929. 1879 1764 1889 2702 1899 3655 1909 5040 1929 7530 1948 6543 1953 7859 FONTE: P. Bairoch, op. cit., pag. 63. 58 LT «vu spe ces snnaertss sateen gpeaartsieearn’siaejutteanamsinsmmmantsinasamlaiil Na Alemanha, a intensidade de capital (imobilizagdo bruta de capital a precos constantes por pessoa -empregada), para a indistria como um todo, aumenta no periodo de 1950-55, 1955-60, 1960-65 e 1965-70 respectiva- mente em 1,8%, 21,9%, 36,8% € 27,1%.45 Cogoy cita ainda as conclusdes de Ernest Mandel as quais indicam que nos Estados Unidos, no periodo de 1919 a 1952, o valor da produgdo de bens durdveis (Setor 1) quintuplicou, enquanto o valor da produgao de bens de consumo (Setor II) apenas triplicou nesse mesmo periodo. Dai a conclusio de que os bens de capital produzidos pelo Setor I e que equivalem A parte fixa do capital constante passam a ter maior incidéncia que os bens de consumo que, a grosso modo (fazendo abstragio do consumo capitalista), equivalem ao capital varidvel. Segundo Mandel, isso indicaria © aumento da composigao organica do capital. Note-se porém que mesmo esses dados estao longe de serem a exata expressio da composic¢ao organica, como o proprio Cogoy reconhece. De certa forma, as criticas enderegadas a Gillman poderiam servir também para as conclusdes de Mandel. Ao menos que este incluisse, em suas conclusdes, a parte da produgao do Setor I e Il que se dirige ao mercado externo, seus dados também conduziram a enganos. Suponha-se que, para 0 perfodo abordado por Mandel, a econcmia americana apresentasse a tendéncia a, por um lado, apenas exportar bens de capital e, por outro, a exportar capital sob forma monetéria para produzir bens de consumo no exterior. Neste caso, seria um equivoco afirmar que o maior crescimento do Setor I sobre o Setor II significaria uma elevacéo da composigdo organica, pois boa parte da produgao de bens de capital iria constituir o capital constante de outros paises. Por outro Jado, Hodgson procura refutar os dados empiricos de Cogoy e Mandel pois, segundo ele, a relagdo capital por homem empregado oculta a elevagéo da produtividade. Hodgson sugere que em lugar dessa relagdo se adote a relacdo capital por homem empregado sobre o produto por homem empregado, utilizada por S. Kuznets*” que sem sombra de davidas é mais adequada para se observarem as alteragdes na taxa de lucro. O certo é que todos os estudos empiricos sobre essas questdes deixam muito a desejar quanto a preciséo e fidelidade as categorias marxis- tas. Outra questdo deve ser ressaltada: qualquer estudo empirico de longo prazo que nao levar em conta as desvalorizagdes ciclicas que sofre o capital constante chegaré a conclusdes erréneas. Isso porque a queda na taxa de lucro nao se apresenta de forma absoluta e linear. Esta pode mesmo se manter em estado latente durante certos perfodos para se manifestar de maneira acentuada nos periodos de crise. 59 A lei da queda tendencial da taxa de lucro expressa uma das contradi- g6es mais importantes do capitalismo: “eis em que consiste a contradigao: © sistema de producao capitalista implica numa tendéncia a um desenvolvi- mento absoluto das forgas produtivas, sem levar em conta o valor e a mais-valia que essas tltimas encerram, nem as relagGes sociais, no quadro das quais tem lugar a producao capitalista, enquanto que, por outro lado, o sistema tem por objetivo a conservagdo do valor-capital existente em sua valorizagao (ou seja um aumento sem cessar acelerado desse valor)”.*® O desenvolvimento das forgas produtivas provoca a elevagdo da composic¢ao organica do capital. Quanto mais diminui a taxa de lucro, mais © capital vai elevar a produtividade do trabalho para poder obter uma massa de lucro maior, que compense a sua menor taxa. E assim suces- sivamente, agudizando a contradigdo valor-de-uso, valor-de-troca da mer- cadoria. “Uma vez que a mais-valia relativa cresce na razo direta do desenvolvi- mento da produtividade do trabalho, ¢ que o valor das mercadorias varia na raz4o inversa desse desenvolvimento, uma vez que 0 mesmissimo processo barateia as mercadorias e eleva a mais-valia nelas contida, fica solucionado o mistério de o capitalista, preocupado apenas em produzir valor-de-troca, esforgar-se continuamente para baixar o valor-de-troca das mercadorias”.“° Portanto, a lei da queda da taxa de lucro é a expressio da contradigao entre o crescimento incondicional das forgas produtivas e as relacgdes de producdo capitalista. “A verdadeira barteira da producao capitalista é o proprio capital: 0 capital e sua valorizacao por si proprios aparecem como ponto de partida e ponto final, motor e fim da produgdo; a produgdo nado é mais que uma produgdo para o capital e nao o inverso: os meios de produgao nao sao os simples meios de dar forma, alargando sem cessar, ao processo da vida em beneficio da sociedade de produtores. Os limites que servem de quadro intransponivel 4 conservagao e a valorizagao do valor-capital repousam sobre a expropriagio e © empobrecimento da grande massa dos produtores; eles entram pois sem cessar em contradi¢ao com os métodos de produgdo que o capital deve empregar necessariamente para seu proprio fim, e que tendem a promover um crescimento ilimitado da produgao, um desenvolvimento incondicional das forgas produtivas sociais do trabalho a fazer da produgao um fim em si. O meio — desenvolvimento incondicional da produtividade social — entra perpetuamente em conflito com o fim limitado: valorizagao do capital existente”.°° Quando o conflito entre os fatores antagOnicos vem 4 luz, irrompe a crise. Isso ocorre justamente quando a taxa de lucro desce a niveis muito baixos. 60 Este trabalho sobre a “controvérsia” da lei da queda tendencial da taxa de lucro no pretendia mais do que um balango da situagéo da “critica da economia politica” sobre essa questao. Infelizmente, os ‘trabalhos examinados permitem concluir que essas andlises n@o conseguiram it muito além do que ja tinha sido formulado por Marx. Na verdade, quase todos os problemas continuam em aberto, além de outros que se adicionaram com o avangar da acumulagao. Por outro lado, os trabalhos dos “reformuladores”, boa parte dos quais abortados pelo falso entendimento das premissas bdsicas do materialismo histérico, quando no alicergados em terrenos pantanosos, contribuiram mais para apontar os abusos “dialéticos” de algumas interpretagdes “ortodoxas” do que propriamente para avangar a questéo, mesmo que fosse por meio de sua negacfo. Por outro lado, os “ortodoxos” também fizeram pouco progresso em relagéo a O Capital. Estes dltimos foram, algumas vezes, tao zelosos dos principios fundamentais do materialismo histérico a ponto de deixar seu velho mestre em sérios embaragos. Um dos seus erros foi considerar a obra de Marx completa sobre a questao. Infortunadamente, a teoria da lei da queda tendencial da taxa de lucro em O Cupital restringe-se a0 momento da produg&o, néo dando mais do que os primeiros passos para a andlise da circulagdo e, portanto, do processo de reprodugao do capital como um todo. Num periodo em que o capital comercial cresce vertiginosamente em importancia, e quando o Estado passa a exercer um numero cada vez maior de atividades econémicas, enfim, quando o trabalho improdutivo necessario 4 manutengao do sistema capitalista, atinge proporgdes consideraveis, torna-se temerdrio concluir sobre o destino da taxa de lucro sem ter em conta essas mudangas. O trabalho improdutiyo tem crescido tanto em relacdo ao trabalho produtivo que muito provavelmente ele ird constituir-se numa das causas principais para a queda da taxa de lucro e 4 medida em que 0 capitalismo se desenvolve so: mais e mais necessdrios certos dispéndios de circulagao para a tealizagao da mais-valia. E 0 caso, por exemplo, dos gastos com propaganda. Por outro lado, ao recrudescer a contradigao capital-trabalho, o Estado deve expandir seu corpo de instituigdes mantenedoras da “ordem e seguranga” para garantir as condigdes de reprodugao do capital. Isso implica num aparato juridico-repressivo a ser sustentado pelo trabalho produtivo. Todos esses itens vinculados as necessidades da realizacéo da mais-valia e o aparato estatal afiangador das condigGes de reprodugao do capital, devem ser computados no denominador da taxa de lucro. Seria de grande valia para a resolugdo de certos impasses da lei da taxa de lucro, a concretizagéo de estudos empiricos que superassem as inadequa- gGes tedricas dos trabalhos realizados até agora. Naturalmente, essa tarefa se 61 depara com uma gama de problemas intrincados de dificil solugao. A simples observancia dos valores das empresas individuais conduz a dedugGes erréneas pois estes nao incluem, por exemplo, o desenvolvimento cientifico ou os gastos em educagao que realiza o Estado. Deve-se mencionar ainda, um fator com muita influéncia no destino das modificagGes tecnol6gicas e, portanto, na taxa de lucro. E a situagao da luta de classes. O fortalecimento dos sindicatos e dos partidos operdrios nos paises mais avangados tende a pressionar a taxa da mais-valia para baixo ao mesmo tempo que incentiva a elevagéo da composicao organica do capital. Com respeito a relagdo entre a luta de classes e a lei da queda tendencial da taxa de lucro deve-se salientar que nossa abordagem, apesar de inteira- mente baseada na relagdo entre as duas classes fundamentais do modo de producao capitalista, procurou abstrair as manifestagdes concretas da luta de classes. Naturalmente, esse procedimento pode dar margem a interpretagdes “economicistas” que atribuam ao proprio processo produtivo, do ponto de vista estritamente econémico, a capacidade de produzir transformag6es sociais estruturais. Para uma andlise economicista o capital encontraria cada vez mais obstaculos estritamente econdmicos para se valorizar, tais como uma grande queda na taxa de lucro até o ponto de desencadear uma violenta crise que poria fim ao capitalismo. Para que nao pairem dividas a esse respeito deve-se “esclarecer que seguramente as grandes transformagées sociais no terao. como sujeito nenhum automatismo econdmico ou algum tipo de evolugdo natural, mas serao fruto da agdo politica das classes em confronto. NOTAS (1) Naturalmente, existem intimeros outros autores que desenvolveram os problemas da acumulagdo de capital e se identificam com essa posigao tedrica. Mas pata os fins deste trabalho, julgamos suficiente abordar apenas estes autores, seja porque eles reproduzem satisfatoriamente a teoria de O Capital sobre a questdo, como também porque eles so os contendores dos “reformuladores” numa polémica que vem se desenrolando atualmente. (2) Marx, K. — Grundrisse der Kritik der Politischen Oekonomic, Dietz Verlag — Berlim 1953, pag. 634, citada por David S. Yaffe — “The Marxian Theory of Crisis, Capital and the State” in Economy and Society — vol. 2, n° 2, maio de 1973. (3) Marx, K. — Le Capital - Editions Sociales — Paris 1957, Livro III, vol. I. pag. 226. (4) “A composicao do capital se apresenta sob um duplo aspecto. Na relacao de valor, ela é determinada pela proporcdo segundo a qual o capital se decompée em parte constante (0 valor dos meios de produgao) e em parte varidvel (0 valor da forga de trabalho). Na relagdo material, tal como ela funciona no processo de produgio, todo o capital consiste em meios de producao e forga de trabalho em aco, e sua 62 (5) (6) @ (8) (9) (10) ql) (12) (13) a4) as) (16) an (18) ay) composigao é determinada pela proporgdo que existe entre a massa dos meios de produgdo empregados e a quantidade de trabalho necessaria para pé-la em agdo. A primeira composigao do capital é a composi¢do-valor, a segunda é a composicao técnica. Enfim, para exprimir a intima ligago que ocorre entre uma e outra, chamaremos composicao orginica do capital sua composigao em valor, na medida em que ela depende de sua composigao técnica e que, conseqiientemente, as mudangas advindas nesta se refletem naquela”. K. Marx, Le Capital ~ op. cit. — Livro I, vol. Il, pag. 54. Marx, K. — Theories of Surplus-Value — Progress Publishers Moscow — 1969 ~ Part II, pag. 379. Nao faremos referéncia explicita a Paul Baran apesar de, como é notério, seu Ponto de vista coincidir com Sweezy. Essa omissio se deve ao fato de termos utilizado, para a focalizagdo do pensamento de Sweezy sobre-a lei da queda tendencial da taxa de lucro, trabalhos posteriores 4 morte de Baran. Indubitavel- mente, boa parte dos pontos de vista que Sweezy defende nesses textos é fruto do trabalho conjunto desses autores. Sweezy, Paul -- “Quelques problémes de la theorie de I'accumulation du capital” in Temps Modemes — janeiro de 1974, pag. 1216. Ver também sobre o assunto P, Baran e P. Sweezy — Capitalismo Monopolista, Zahar Editores, 1974. Deve-se ressaltar que estamos nos baseando no texto mais recente de Sweezy sobre essa questio, que data de 1974. Por outro lado, em Teoria do Desenvolvi- mento Capitalista, de 1942, existe uma explicagéo complementar sobre a lei da queda da taxa de lucro. Nesse livro ele sugere que a referida tendéncia existe e é causada pela propensao a elevagdo dos salérios reais. Como a acumulacdo de capital tende a demandar cada vez mais trabalho, antes ou depois, essa procura vai Provocar aumentos salariais e, portanto, a taxa de lucro deverd cair. Nesse caso, 0 capital procurara substituir trabalhadores por maquinas e a composigao organica crescerd. Porém Sweezy suprimiu essa explicagdo no texto de 1974. Note-se que nao existe nenhuma diferenga relevante entre a andlise e a critica dessa lei, em Sweezy e em Robinson. Coincidentemente, os trabalhos desses autores sobre essa questo foram publicados exatamente no mesmo ano. Tanto The Theory of Capitalist Development De Sweezy como An Essay on Marxian Economics de Robinson foram publicados em 1942. Robinson, Joan — Essai sur I'economie de Marx — Ed. Dunod, Paris 1971, pag. 29. Marx, K. -- O Capital, op. cit., Livro III, Tomo I, Capitulo XIV. Robinson, Joan — op. cit., pag. 31. Robinson, Joan — op. cit., pag. 31. Steindl, J. — Maturity and Stagnation in American Capitalism, cap. XIV. Steindl, J., op. cit., pag. 241. Steindl, J., op. cit., pag. 241. “The Falling Rate of Profit” — New Left Review n9 84, abril de 1974. Mattick, Paul - “Le marxisme et le capitalisme monopoliste” in “Intégration Capitaliste et Rupture Ouvriére” — Etude et Documentation Internationales, Paris 1972. “Excedente econdmico efetivo, isto é, a diferenga entre o produto social efetivo de uma comunidade e 0 seu efetivo consumo” ... “O excedente econdmico potencial é a diferenga entre o produto social que poderia ser obtido em um dado meio natural e tecnolégico, com auxilio de recursos produtivos realmente dispo- 63 (20) Qi) (22) (23) (24) (25) (26) (27) (28) (29) (30) (1) (32) (33) (34) (35) (36) (37) (38) (39) (40) (41) (42) (43) (44) (45) (46) (47) (48) (49) (50) niveis, € 0 que se pode considerar como consumo indispensavel”. Paul Baran - A Economia Politica do Desenvolvimento, Zaha Editores, 1972, pig. 74 € 75. Mattick, P., op. cit., pag. 115. Mattick, P, — Marx et Keynes, Editions Gallimard, Paris 1972, pag. 75. “The Marxian Theory of Crisis, Capital and State”, in Economy and Society, vol. 2, n9 2, maio de 1973. Yaffe, D., op. cit., pag. 15. , op. cit, pag. 18. . ~ O Capital, Livro I, vol. | — Editora Civilizagio Brasileira, 1968, pag. 363. Marx, K., idem, pig. 364. Marx, K. - O Capital, Livro l, vol. I, Ed. Civilizagdo Brasileira, 1968, pig. 387. Marx, K. - © Capital ~ Bd. Civilizagao Brasileira, 1968, Livro 1, vol. 2, pag. 721. “Desde que o trabalho vivo ~ através da troca entre capital e trabalho — é incor- potado ao capital, e aparece como uma atividade que pertence ao capital, do Momento em que © processo de trabalho se inicia, todo o poder produtivo do trabalho social aparece como o poder produtivo do capital ... Entio o poder produtivo do trabalho social e sua forma especial aparece agora como poder produtivo e forma do capital ... Aqui estarnos uma vez mais ante a perversdo da relagdo, que j4 tivemos com o dinheiro, chamada fetichismo”. K. Marx — Theories of Surplus Value, op. cit., vol. I, pag. 389. Veja-se a respeito D. Yaffe, op. cit, pag. 21. Hodgson, G., op. cit., pag. 61. Baran, P. e Sweezy, P. — Capitalismo Monopolista, Zahar Editores, 1974, pag. 14. Baran, P. e Sweezy, P., idem. Marx, K. ~ Theories of Surplus-Value, op. cit., Parte Ill, pag. 298. _ Ver a esse respeito J. Steindl, op. cit., pag. 233. Ver a esse respeito K. Marx — O Capital, Livro III, Segunda Segdo — “A trans- formago do lucro em lucro médio”. Marx, K. — Le Capital, op. cit., Livro IM, Cap. XII, pag. 244. Marx, K. — Le Capital, op. cit., Livro Ill, Cap. XV, pag. 276. Labini, P. S. — Oligopélio e Progresso Técnico - Piccola Biblioteca Einaudi Turin, 1972, pag. 65. Labini, P. S., op. cit, pag. 88. Na verdade o compartimento monopolista é proibitivo para os pequenos capitais mas 0 compartimento concorrencial é franqueado aos grandes capitais. Gillman, J. — “The Falling Rate of Profit”, New York, 1958. Cogoy, M. — “‘Baisse du Taux de Profit et Theorie de !' Accumulation — Réponse a Paul Sweezy” in Temps Modernes — ja. 1974, pag. 1249. Bariroch, P, — “Révolution industriélle et sous-développement”, Paris, 1964 in Mario Cogoy, op. cit.. Cogoy, M. — Baisse du Taux de Profit et Theorie de l'Accumulation ~ op. cit., pag. 1250. Mandel, E. — “Marxistische Wirtschaftstheorie” Francfort, 1971, in Mario Cogoy — Baisse ..., op. cit., pig. 1250. Kuznets, S. — Capital in the American Economy ~ Princeton, 1961, in Geoff Hodgson, op. cit. Marx, K. — Le Capital, op. cit., Livro Ill, Cap. XV, pag. 262. Marx, K. ~ O Capital — Livro I, vol. I, Edit. Civilizagao Brasileira, pag. 368. Marx, K. — Le Capital, op. cit., Livro Il, Cap. XV, pag. 263.

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