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o's de Lemos Martins & Macalena Over) (20:4) Comunicgéo ber american’ o desofos de Iterecionaizocio Centro de Estos de Comuiceioe Socisads, Universidade do Mino ISBN 978-989-8600-29.5 1989-1997 Reflexées sobre direcdo de arte: aspectos técnicos e artisticos GILKA PADILHA oF VARGAS ailkavargas@ gmail.com Pontificia Universidade Catélica do Rio Grande do Sul Resumo © presente artigo aborda aspectos relacionadas as competéncias e especificidades técnicas e artisticas da direcao de arte no processo de construgio da imagem cinematogréfica. Discorre sobre sua participagao na concep¢ao da materialidade e consequente visualidade. Veremos como, por meio de volumes, disposicao de elementos, cores, texturas, linhas de fuga e profundidade espacial, acaba por realizar um trabalho que ultrapassa a viabilizagao do registro, estabelecendo criacao visual que apresenta base conceitual ¢ pléstca eficazes. Para alcangar tal resultado, & preciso que o diretor de arte encontre um ponte de equilibrio entre seus aspectos, tdenicos e artisticas; & necessdrio que © espaco criado seja tecnicamente adequado para 0 ‘olho da camera’ e que, além de ser 0 suporte da narrative, provoque no espectador uma experiéncia estética. Deve exercitar sua capacidade de criar, gerarideias, solugées, metaforas visuais, adaptando-se aos diferentes universos diegéticas, ce caracteristicas do projeto. Palavras-Chave: Imagem cinematografica; diregdo de arte; aspectos artisticas; aspectos técnicos Criar & proprio do artista [...] 0 criador auténtico nao é somente um ser dotado; € um homem que soube ordenar, tendo em vista sua finalidade, todo um conjunto de atividades das quais a obra de arte é o resultado' (Matisse, 1983), O que é necessario, em termos de tempo e espaco, para situar o espectador em relago a histéria? Qual o seu contexto, seu género, sua natureza psicolégica? Quem so seus personagens? Quais cores e texturas methor servirdo ao visual desejado para o filme? Que impacto emocional pretende provocar? Essas sao questées essenciais a serem discutidas pela direcdo de arte com o diretor e 0 diretor de fotografia; é a partir delas e de suas respostas, aliadas as infor- mages ¢ indicacdes contidas no roteiro, que se inicia sua participacao no processo de construcao da imagem cinematografica que, além de sua materialidade, constitua o universo diegético necessario a narrativa. Alicercada nessas respostas, a direcao de arte comeca a desenvolver sua concepgio, tanto dos ambientes como do visual dos personagens. Sanz (2010) assinala que uma histéria pode ser contada de diversas maneiras e 0 diretor de arte deve considera-las, a fim de oferecer diferentes opcdes ao diretor. FO atign nfo esti paginado Como, efetivamente, transpor a escrita do roteiro para a materialidade, utili- zando elementos visuais que tragam em si significados, sentidos, estados psicolé- gicos, unificando a linha estética de um filme? Eugenio Caballero, em entrevista 20 jornal El tiempo (2009), sustenta que o diretor de arte “[...] deve ser um técnico para saber como resolver todas as ideias que concebe, se sao possiveis ou no, como vai alcangé-las e com qual or¢amento. Deve conseguir realizar tudo o que concebe e também conceber pensando em como concluir seu projeto”. Isto é, além dos aspec- tos artisticos, ao criar o projeto visual, o profissional deve considerar a viabilidade de sua concretizacao e, também, se tecnicamente desempenhara sua funcio de “espaco da narrativa para o olho da camera’ Zavala (2008: 17) vai além: [..] © diretor de arte tem a sua disposicao ferramentas que deve conhecer € saber manipular para criar espagos e objetos que respondam a um plano geral de imagem para um filme; conceitos e técnicas sao indispensdveis para abordar 0 trabalho da arte a fim de ultrapassar o nivel pratico que, em si mesmo, nfo pode garantir 0 éxito do departamento da arte de uma producao. E necessario que domine os conhecimentos relativos a linguagem cinemato- grafica, para que possa utilizar de forma adequada os seus elementos de trabalho; objetos, cores, volumes ~ materiais plasticos e pictéricos. Para os autores Agel e Agel (1965: 57),"[...] 0 valor de um diretor de arte é dado por sua flexibilidade [..."; © profissional ndo pode permitir que as qualidades artisticas 0 fagam esquecer a competéncia técnica; deve considerar os elementos cinematograficos especificos, como colocar méveis e objetos de facil movimentagao, prevendo “[...] os movimen- tos de cémera e os deslocamentos dos atores; conhecer [...] os efeitos especiais que pouparao a construcao de um decorado (maquetes, etc.) e considerar a quali- dade sonora que se deseja obter’. A cada trabalho sao utilizados novos equipamen- tos, e é imprescindivel que o profissional busque informacées e acompanhe tais transformacées. Além do conhecimento técnico especifico - movimentos de cAmera, enquadra- mentos, diferentes captacdes, lentes, montagem -, ha a necessidade de o diretor de arte integrar o conhecimento relativo a diferentes areas. Como observa Sadoul (1959), deve possuir vasta cultura, pois,a qualquer momento, pode deparar-se com um roteiro que the exija a criagao de diferentes ambientes, de diferentes épocas. E essa criacao inclui, além do espaco fisico, arquiteténico, o mobiliario, os objetos e os acessérios. Sao diversos e variados os fatores utilizados para a concepcao do visual de um ambiente e de um personagem, tais como nogdes de histéria, artes plasticas, arquitetura, historia da arte, histéria do mobilidrio, histéria do figurino, semiética, psicologia, sociologia, antropologia, estética. E, se nao os tiver, o diretor de arte deve disponibilizar-se a procurar quem os tenha, reconhecer a necessidade de constante estudo, renovacao, aprendizado e desenvolvimento de sua capacidade de observa- 40. Todas essas varidveis contribuirdo, de alguma forma, para que se estabelegam 0 Tadugdo dos rts utillzados neste artigo fl realizada pela autora Camano eae ert de rac Lae sd Conese Mud Comune bere anecans 1980 ambiente e a estética adequados, com cada elemento exercendo sua funcao, tendo © seu préprio significado e sentido dentro do filme. Butruce (2005: 37), referindo-se a pesquisa, afirma que é “importante fonte de informagGes visuais especificas e de ambito histérico, possibilitando a ampliagdo da escolha de elementos adequados & inten¢ao visual do filme’, Para LoBrutto (2002), a realizacao da pesquisa constitui um intenso momento de conhecimento, que acaba por nutrir o profissional, proporcionando a este criar conceitos e metéforas, desco- brir aos poucos o potencial do projeto. Acreditamos que esse seja 0 periodo em que o diretor de arte realmente se aproprie do roteiro e do projeto, pois mergulha no universo apresentado, buscando méveis e objetos, descobrindo modelos de vestudrio que harmonizem com deter- minado ambiente. E quando passa a conhecer melhor o personagem e a narrativa. E importante assinalar que a pesquisa nao é estanque; a qualquer questionamento que surja, mais uma ramificago de busca é aberta. Lobrutto (2002) ressalta que a pesquisa é uma ferramenta itil no processo de criagao, ndo devendo, entretanto, tornar-se um instrumento limitador. O diretor de arte deve manter-se atento ao que se lhe apresenta, pois, dependendo do projeto proposto, uma determinada época pode aglutinar diversos momentos histéricos e ser reinventada em termos visuais, contendo em si mesma metéforas ou concei- tos a serem descobertos. Para Patrizia von Brandenstein (apud Ettedgui, 2001: 95), 6 imprescindivel possuir uma grande capacidade de observagao e, também, saber adaptar aquilo que observa as caracteristicas do filme. “Deve sentir uma grande curiosidade pelo mundo: por como as coisas sao feitas, por como se encaixam umas s outras. O resto pode-se aprender com o tempo, mas deve levar consigo esse desejo de conhecer as coisas’. Dan Weil (cit. em Ettedgui, 2001: 189), por sua vez, complementa: ‘[...] abra os olhos e olhe atentamente ao seu redor. Tudo 0 que 0 rodeia é material de referéncia ao qual, talvez, devera recorrer algum dia’ A cada trabalho realizado, a cada universo criado, novos conhecimentos sio adicionados ao seu saber, o que acaba por desenvolver, estimular sua capacidade de gerar ideias para traduzir visualmente a esséncia dramatica e conceitual do filme e conceber de forma adequada o entorno necessario para a narrativa cinematografica ‘Quanto maior seu repertério visual (e aqui incluimos filmes, artes plasticas, fotogra- fia), maior o leque a sua disposico no momento em que, tendo um roteiro, possa apontar uma referéncia, encontrar um ponto de partida para a criacao de diferentes metaforas, ambientes e caracterizacdes. Além disso, ao discutir com o diretor e o diretor de fotografia, nada melhor do que imagens para mostrar seu ponto de vista. Sob o prisma de LoBrutto (2002), diretores de arte pensam visual mente. Como primeiro estagio da criagdo, apés 0 estudo do roteiro, a compreensao da intengao visual do diretor e a pesquisa de referéncias, temos 0 inicio do processo de conceber um projeto no qual todos possam visualizar 0s espagos, os ambientes, as cores, as texturas, 0 visual dos personagens e todos os elementos a serem materializados Para isso, esse profissional dispde de varios instrumentos: desenhos, croquis, fotos, oman ec ercare efes e enacona -La de t deCanese Made Camu e-aeria 1991 plantas, maquetes, esquemas, planithas, que the proporcionarao elaborar 0 seu projeto proposto para o filme. Ao ler 0 roteiro, o diretor de arte realiza sua andlise técnica’, constituida por uma lista dos ambientes, com informacées detalhadas de cada um deles e também dos personagens. A partir disso, passa a elaborar sua concepgao para o visual do trabalho e, com a colaboragao de sua equipe, desenvolve as ideias propostas pelo roteiro e pelo diretor. Cada profissional desenvolve sua prépria maneira de montar um projeto. Além do material acima listado por LoBrutto (2002), diretor de arte pode inserir amostras de materiais como tecido (cortinas, estofados ou almofadas) ou algum material dife- renciado que pense utilizar; detalhamento, nos croquis ou nas plantas, da existén- cia de paredes méveis; indicagdes de aberturas. Quando da utilizaao de locagées, podem constar as modificacées e adaptacées a serem realizadas. Também podem ser incluidas imagens de filmes como referéncia, que apresentem cor, clima, figurino ‘ou maquiagem que remetam ao visual desejado pelo diretor para os personagens. E de posse desse material que o diretor de arte dialoga com diretor, diretor de fotografia, figurino, maquiagem, cabelo, producao de objetos, cenografia, direcao de produgao, produgao de locagao, indicando qual a sua concepcao para o traba- tho. Trata-se de um documento extremamente dindmico ao qual sao acrescentadas observacées, sugestdes e mudancas ao longo do processo da pré-produ¢ao; sao adicionadas novas informagées referentes aos elementos de trabalho da direcao de arte; é constantemente discutido e redirecionado, conforme as necessidades do trabalho. £ a base para que a diregao de arte planeje e organize as etapas de sua realizagao. 0 departamento da arte tem seu trabalho alicercado na proposta estabe- lecida por esse projeto, o que é fundamental para a unidade visual do filme. Zavala (2008: 13) resume a importancia do projeto dizendo que [...] a estruturagao visual [..] permite sua apresentacao a possiveis produtores e colaboradores, cria sintonia entre a equipe criativa e permite o trabalho unificado durante a pré-producao” A configuracao mais corrente do departamento da arte no Brasil € composta pelos seguintes profissionais: diretor de arte, assistente de direcao de arte; cendgrafo com sua equipe: cenotécnico, carpinteiros, pintores, serratheiros, escultores; produto- res de arte, de abjetos, de armas, de animais, de veiculos; figurinista com sua equipe: assistente, produtor de figurino, aderecista, costureira, camareira, passadeira; maquia- dor; cabeleireiro; técnico de efeitos especiais e pesquisador. Dependendo da producao a ser realizada, o numero de profissionais sofre alterages; cada equipe é constituida a partir das caracteristicas e necessidades de cada filme. O que existe ¢ uma equipe basica, pensada de acordo com os custos, as estruturas e os métodos de trabalho. Existem aspectos técnicos e artisticos envolvidos no processo de criagio que devem ser utilizados de forma a nenhum dos dois preponderar. Contudo, como admi- nistré-los para criar 0 universo da histéria e dos personagens com tal equilibrio? (ormalmente Teta uma lstagem de todos os locals objetos condos no roteto a cada sequéncla,o que & denom- nado andisetéeiea"(uttuce, 2005: 78). Com re aera ees anaconda de Cane Made Camano ee-anria 1992 Diferentes autores enfatizam distintos aspectos vinculados a direcdo de arte e ao seu proceso criativo, argumentando que ela pode enfocar com mais intensidade algumas caracteristicas: expressivas, estéticas, plasticas, dramaticas, psicoldgicas, metaféricas, narrativas ou potticas. Jacob (2006: 52) parte da premissa de que a direcao de arte contribui na cria~ ao da imagem cinematografica, sendo responsavel por sua composicao, que realiza por meio dos volumes, da disposicao de elementos, das texturas, das linhas de fuga, da profundidade espacial, trabalho que ultrapassa a viabilizagdo do registro, “[...] constituindo uma criagao visual com base conceitual e plastica eficazes” De acordo com Jacob (2006), baseando-se nas condicées da narrativa, da psico- logia dos personagens e do significado intencional e tematico, a direcdo de arte conceitua, realiza e apresenta solugdes plasticas capazes de atender as demandas estéticas do filme. Solugdes essas essenciais para o estabelecimento da ligacao afetiva como suporte fisico transformado em suporte visual, uma vez que a plastici- dade provoca afetos no espectador, gerando uma experiéncia estética Temos dois pontos importantes assinalados pela autora (2006): a criacdo visual ligada diretamente a narrativa, sustentando-a, e a plasticidade criada e utilizada visando provocar, de alguma forma, 0 espectador. Existem varias escolhas a serem feitas quando da concepcao dessa visualidade. Dependendo do ponto de vista do diretor e de suas intengdes ou do género, a direcdo de arte pode investir de forma mais acentuada: em seu viés de suporte da narrativa ou na provocacao de sentidos pelo uso da plasticidade. Jacob (2006: 51) enfatiza ainda que a direcao de arte ¢ elemento de construcao da unidade plastica para o filme, devendo, por meio da criagao de imagens visuais expressivas e plasticas, fazer com que estas oferecam “[...] dados ao espectador, direcionando-o para 2 compreensao da diegese”. Tendo em mente o filme como um todo, o diretor de arte deve manter sua unidade estética ao longo da narrativa, coordenando cores e texturas de ambientes, figurinos, maquiagem, cabelo e objetos a fim de evitar contrastes incoerentes. Varios diretores de arte discorrem sobre os aspectos apontados por Jacob (2008), e Ettedgui (2001: 9) é um deles. Abordando 0 trabalho da diregio de arte pelo viés estético, sustenta que: [.-J consiste em destilar uma concepeao visual a partir dos aspectos tematicos, emocionais e psicolégicos que transpirem do roteiro. Esta concepcao se torna 0 fator decisivo em todas as escolhas estéticas que concernem ao diretor de arte, tais como aderecos, a massa e 0 volume dos ambientes. [..] as locagées, as cores, tecidos e texturas de cada um dos decorados. Para dotar o filme de uma estética global, todos estes elementos devern harmonizar entre si e evocar uma atmosfera adequada a historia e aos personagens. Félix Murcia, em entrevista para Cuadernos de documentacién multimedia (1998: s.p), assinala que por meio da cenografia, do figurino e de tudo o que é visto na tela, a direcao de arte da forma ao projeto plastico de um filme, no qual “|... constam todos os componentes que pertencem a cena, desde o menor e mais insignificant detalhe (como, por exemplo, a caneta colocada sobre a mesa), |... oman ec ercare efes e enacona -La de t deCanese Made Camu e-aeria 1993 Gorostiza (2002: 9) complementa a colocacao anterior dizendo que: [..J 0 diretor de arte & 0 profissional que cria todos aqueles elementos que so vistos ao redor dos atores em um filme, sendo que sua responsabilidade vai desde a concepgao dos espacos nos quais transcorre a ago até a escolha dos menores objetos que os personagens utilizarao, passando pela transformagao da realidade, adequando-a as necessidades de um roteiro pré-determinado, 0 qual poder enriquecer ou methorar gracas ao seu trabalho. E fundamental que o profissional tenha consciéncia da totalidade do filme, acrescentando detalhes coerentes, tanto em termos de ambientes como de objetos, de figurinos, de maquiagem, de cabelo e respectivos aderegos. Em Agel e Agel (1965: 55), Alexander Trauner argumenta que a direcao de arte deve “[.. extrair do modelo os principais detalhes caracteristicos e fazé-los ressaltar, prescindindo daquilo que nao acrescente algo a atmosfera do filme [...)° € comum assistirmos a filmes que reconstituem ambientes, executando um perfeito trabalho de pesquisa, localizando 0 espectador no tempo e no espaco, sem adicionar-thes simbolismos. Como resultado, temos ambientes utilizados como pano de fundo, vinculados mais intensamente verossimilhanca. Butruce (2005) enfatiza que a direcao de arte pode, além de conceber um cenério verossimil, torna- -lo significante. No € necessario que se limite a trazer ao espectador a nogéo ou atmosfera de determinado fato historico; pode construir um espaco com a estrutura- ao de determinada visualidade que proporcione o questionamento desse momento histérico, Desse modo, desempenha “um papel de reflexao sobre o que representam esses espacos. [...] constréi entdo um espaco que ganha sentido dentro de seus préprios constituintes, e no apenas como mera informagao a ser confrontada” (Butruce, 2005: 19). Para Casetti e Di Chio (1996: 166), 0 cinema apresenta a tendéncia “para a criagao, e no para a reproducao; para a falsificacao e nao para o registro; para a ilusdo e nao para a reconstituicao’. Butruce (2005: 19) acrescenta: [..J] a diregdo de arte e suas técnicas, notoriamente falseadoras do real como forma de restituir, nao sua natureza tiltima mas sua esséncia conceitual, partici- pam assim de um movimento mental da obra e nao somente de uma operagao de registro, [..] Se ingressam em um projeto realista, o fazem conscientemente como uma operacao que visa restabelecer e nao apenas recolher esse real obje~ tivado pela representacao, J& em 1959, Bandini e Viazzi sustentavam que o fato de registrar diretamente averacidade existente quase nunca constitui arte e, por isso, deve-se sempre consi- derar “a possivel revelacao de novas estruturas figurativas, que, superando os inevi- taveis esquemas realistas, chegam a constituir 0 Unico caminho magico que conduz & poesia das imagens” (Bandini & Viazzi, 1959: 35). Referem que podemos definir e diferenciar a condicao artistica de uma obra ao examinar atentamente os valores que a compéem, partindo de dois pontos opostos: da subjetivagao inspiradora que delimita e determina 0 mundo poético do artista; e da “[..] objetivagao que revela a postura existencial, a maneira precisa de ver o universo em seu conjunto ou em suas Camano be oneae det de rac Lae sd Conese Mad Comuna bere anecans 1994 partes e na interpretacdo dos aspectos fenomenoldgicos que concernem ao artista como construtor" (Bandini & Viazzi, 1959: 24), Para LoBrutto (2002), a direcao de arte tem como fungao primordial encontrar uma ideia conceitual e uma conexao postica entre contetido e estilo visual, interpre- tando visualmente as histérias, tanto na materialidade da ambientacao quanto por meio de metaforas poéticas. E fundamental que o diretor de arte saiba ler um roteiro em sua visualidade; tomando-o literalmente, pode obter um resultado preciso, técnico mas sem alma; ao simplesmente ilustré-lo com imagens, nao estabelece uma relacao tematica entre a historia, os personagens e seus ambientes. Deve ter a capacidade de conceber ideias, perceber e reconhecer as relacdes dramaticas exis- tentes, procurar encontrar 0 potencial visual do filme e decidir o que sera expresso no ambiente fisico. De acordo com o autor (2002), 0 método de alcangar um conceito de desenho e uma conexao postica entre contetido e estilo visual define o trabalho da direcao de arte; cabe a ela transpor de forma criativa a"...] gama de estados psicolégicos gera- dos pela narrativa e pelo ponto de vista do diretor” (LoBrutto, 2002: 27). Pode fazer isso obedecendo as regras de estilo que pertencem ao periodo no qual a histéria se passa, estabelecendo metaforas coerentes a ele. Transpondo um objeto ou uma imagem de seu significado comum para substituir ou simbolizar aspectos da narra tiva, proporciona complexidade poética histéria. Essas metéforas visuais sublimi- nares apresentam camadas sutis de imagens posticas que podem transmitir ideias, conceitos e significado na narrativa; podem ser complexas e ter sua compreensao em diferentes niveis, mas, na maior parte das vezes, o espectador facil mente \é 0 significado latente. Distintas das palavras intangiveis na poesia que evocam diver- S05 significados e imagens simbélicas na mente do leitor, imagens em filmes so concretas, visiveis. So varios os caminhos que podem ser sequidos, diferentes processos de cria- do artistica so vivenciados; cada diretor de arte estabelece o seu, tendo em mente © que 0 roteiro “pede’, mantendo-se atento a narrativa, ao filme como um todo e aos pequenos detalhes que o constroem, além da visualidade pretendida pelo diretor. E de suma importancia que o diretor de arte tenha consciéncia de que cada producao cinematografica tem a sua peculiaridade. Dependendo do que é desejado visualmente, do género e de sua narrativa, 0 seu trabalho deve ser feito objetivando uma concep¢ao da direcao de arte adequada a proposta da visualidade do filme. Deve ser capaz de criar um mundo “verdadeiro’, um recorte no tempo e no espaco, uma atmosfera que servira como suporte para a narrativa, estabelecendo uma referéncia estética propria e emoldurando o trabalho dos atores, devendo ter presente que esse mundo sera “desenhado pela luz do fotégrafo e que a cAmera passearé dentro dele para registra-lo de diversos angulos. Sempre considerando que, como refere Zavala (2008), 0 cinema faz com que 0 espectador tenha a sensacao de presenciar algo real no tempo, cria um “efeito de realidade’ estabelecido com o espectador um pacto e este aceita que, na tela, ocorrem fatos que so percebidos como reais. Camano be oneae det de rac Lae sd Conese Mad Comuna bere anecans 1995 Desse modo, torna-se testemunha do que acontece, independentemente de quantas vezes assista ao mesmo filme. © pacto com o espectador é “sagrado’, devendo a direcdo de arte cuidar para nao rompé-lo, a fim de no lembra-lo de que esta vendo um filme, para o qual 0 “realismo” dos sets, ainda que se trate de madeiras pintadas que mostrem sua condigao, como em O gabinete do Dr. Caligari, nao deve ser perturbado com algum descuido (fita crepe em uma parede, uma fuga de Luz entre as tapadeiras) ou um erro (como um penteado mal feito [...) (Zavala, 2008: 40). Para criar esse mundo verdadeiro, sob a coordenagao e supervisao da direcao de arte, diversos profissionais executam suas tarefas. Como o departamento da arte efetiva a concepcao feita pelo diretor de arte, é fundamental que este conheca a capacidade criativa, a flexibilidade e a qualidade final do trabalho de cada um de seus componentes. A direcdo de arte cabe refletir, discutir, acompanhar e adaptar o seu fazer a todas as caracteristicas que cada projeto apresenta, escolhendo os siste- mas e os modos de producao mais adequados as realidades estéticas, dramaticas e econémicas. Realizar a direcdo de arte de um filme vai além de montar um cenério ou decorar uma locacao ja existente, ou vestir um ator conforme a moda da época ou reproduzir um esteredtipo. E preciso conhecer, tecnicamente, 0 resultado final que sera obtido depois do registro realizado pela camera; isso é necessario para selecionar materiais, desde os de construcao até os tecidos a serem utilizados pelo figurino, passando também pelos produtos da maquiagem. Esse conhecimento, essa bagagem técnica ser mais um instrumento a servico da arte. Sdo importantes a verossimithanga, a unidade estética, a coeréncia visual entre ambiente e personagem, o estabelecimento de metaforas poéticas que possam transmitir 0 que o roteiro diz ea leitura que o diretor faz dele. 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