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CAPITULO 1Y ARISTOTELES (~ 384 - ~ 322) E A POL{TICA (0) carder distntio, que fax de. sosadade Dumene unm comunldade’ (Hoban) blrasqal fhmente superior bs eutrns socidades atkmals & (be sim ultio da exisindia en comin 6 nel contigo ds polis. éon oats Nascido em Estagira na Macedbnia, e no obstante ser filha de um mético, preferin Arist6teles pr to servico da filosofia en- tendida em sentido amplo, antes que da medicine, suas exiraordi- ‘érias faculdades de andlise ¢ sistematizagao. Veio para Atcnas em 367, com 17 anos, fer brilbamtissima figura na Acaderiia de Platio, onde ensinou; entregouse a miltiplas © eruditas investiga. ges © reunia um considerdvel nimezo de documentos, Sua evolu- ‘Gio intelectual, cujas fascs precisas deram lugar as mais engenhosas onjeeturas, nénhama das quais & bastante convinceate, levou-o a ‘bertarse-daintiuineta do Mestre muito admirado e entado (rejltando, nolsdamente, « fundamental teoria das Td¢ias"). Vinte anos de- pois, deixow Atenas, indo fixar-se em Assos, oa Troade, ¢, mais adiante, em Mitilene, na itha de Lesbos, ensinando © investigando rinueiosamente a3 cigneias naturals, Em ~ 343, chamavi-o Filipe da Macednia & sua capital, Péla, para confiarihe a educacio de seu filhe Alexandre, com ‘13 anos de idade, Quando ecte, em 335, sucede a seu pal Aritteles retorna a Atenas, ande funda’ © Ticeu, que entra em séria concorréncia com a Academia, nessa = ‘Donde ¢ dito eapettuose stribuiéa a Platio; “Ariatitles inyea- Ho contre’ née fal como os plninbea invest eeatra a mdegalisha anisrOreLes & A porkica ot poca diiidy por Xeadcrates (Platéo havia morta em ~/ 347). Mis em -~ 303 mone Aleeandre, queso tamara coaheeido coma 0 Gronde ¢ conguistara @ Asia. © meteco AditGtce, protepda de ‘Anipatro (repeats da Macedonia —o comandante-chele das copts ‘macedénias na Gréea), corre pevigo na Atenae sublevada contra © jgo estangeio, Dep de 13 anor mareadoe pelo pregrsio 49 {iteu e pele feradidade dt dovising do seu fundador, foge Aris ‘oreles para Calis, nai Ge Eubdia, onde more, em 322, d6 Aocnga, aos @ aa? ‘Beara Atiactcles uma obra prodgios, encilopéiicn, mas cuss parte publicadas por ec, dtas “erotics”, so pera & ‘uj partes onserendag, das “esoirieny” on "acroumitas", 10 2 de Seopa didico tal como A Police, mm ito Hvros « ie ‘ala, telletom toda a impotsgaa ds noteg do aula adapladas a6 ‘sino ora. Notas ora ineompicis, ora relocadss,ordenadas por meses qus viersm depois do propio Mestre, da aividade flostica de Articles, deide'a ested em Aston 86 o fim de suas mlas no Lice (0 que cnsinava o estagita noses oito leas dads, fer ‘antes de idus,observages ¢ flor? Nada menos do que aquio que constitu a seus clon a primi day éncrs, = clchela “QUE ‘etinica™ por exerlénca, em matéra de comportement humans, 2 gus ordenava e coordenava a5 divers partes 60 ediiio,® Die {ertntemente de Platt, © mais de. une vor opendo-s® a Paid, ines sem poder abjuray « sa diva orginal, Smenso, para com @ Mestre ingompardvel cebrigavirdc Aisieles sobre = pats eu) 92 ‘A CIDADE-EStkDO males, desde a Repiibiica (c mais ainda desde as Leis), se havial agravado de um modo singular: Essa pélis, ele a justificava © 2 talecia dando-lhe como fundaniento uma teoria que, a partir de instante, se tornaria a teoria cléssica da comunidade velava um certo nimero de ideais da vida ci buseados imperativamente, bases ésico-potiticar da Cidade-Fstav E se a descricio, inacabada, da Cidade ideal, bem conhesida da classilicapio das Consttuigdes ou regimes poll ticos ia permitir a AristGtcles fazer uma pastagem, dectsiva para a Glencia polities, do ideal & realidade, Cumpre-nos catender d sealie clade das Cidades existentes com as suas Conslituigdes ecpiricns, 438 suas eategorias sociais em confronte; a complexidade infinite de fincionameato das suas estruturas internas; as suas revolugoes. den mocrétieas ou oligérquicas; todas as suas pesturbagdes © mudangas necivas decorrentes da busca de uma terapéutica. nessa época que 0 autor da Politica desenvolve toda o seu talento, libertase de ftdo idealisme platénico, © pode por 20 service do seu tempera mento proprio, realista ¢ concreto, os seus dons excepcionas de observador, de pesquisador realmente cientifico, eiente tanto dos fe. ulteapassada da Cidade ideal) preconi= tar, a éptica do equilfbrio, um tipo de Constituigho eonsidertda como geralmente @ mais prética e, nesse sentido, desefivel, © a me, thor, nas modostes condigées da realidade, A TEORIA DA COMUNIDADE PortTica ‘Acs Cinicos, aos Cirensicos bem como aos Sotistas radtcais, a todos esses negidores do espirto civico, replica AristOteles: ‘no, a comunidads politica, a pdlis, no ¢ fruto do attificio, nio ¢ proe duto da eonvengio arbitrdtia. “Ela € 9 coroamento nattiral ¢ neces. sérlo de ‘um desenvolvimento progressive, em que cada una das fasts sucessivas § ela prépria natural ¢ necesséria, A familia, pric meira comunidsde constituida pela natureza para. satisfazer a¢ ne. Sessidades do dia-a-dia, sucedeu a aldsia, comunidade formada de Vétias familias com vistas & satisfagdo de necessidades que j4 n&o so, meramente quotidianas. Por fim, a comunidade formada de Parias aldcias & a Cidade. 6 ela possui a autérkeia, a faculdade de bastar a si mesma, a independéncia eeondmica, Somente a Cidade constitul uma sociedade perfeita, soments a Cidade é um “fato de ARISTOTELES B A PoLtIca 93, hnatureza”, tal como as comunidades precedentes que cla engloba, leva ao seu nivel superior, de cera forma transfigura e das quais 6a causa final, pois a cidade é 0 fim dessa comunidades, oa naturess de uma tise é 0 set finn; porquanto o que cada coisa 4, depois de aleangar © seu pleno desenvolvimento, dizemos que esté af a naturesa da coisa, {anto para um Komem como para um eavale ou wind familia; disso, a causa final, o fim de ums coisa € 0 geu melhor bem, 2 8 auio-muficiéneia 6 a0 mesmo tempo, um fim e um bem por exeeléncia.* Segundo a filasofia finalista (“teleol6gica") do autor, 0 Todo civieo &, sssim, néo 86 alguma coisa a mals que a soma’ dos seus componenies, mas também thes é anterior, porque estes encontram nels o seu fim (@ postanto a sua natureza) a0 cabo do desenvolvi mento. Da mesma forma que 0 carvalho & anterior 4 bolota (cujo fim, cuja natureza 6 desenvolver-se até chegar a cervalho) a Cidade € anterior 4s suas partes; individuos, familias, aldeias, Nela, 08 individuos, também transfigurados, encontram {acul- dades novas, uma vida nova ¢, a0 mesmo tempo, uma identidede, 4 de cidadios, politaz, membros da pélis. Essa vinculagio é o fim natural do desenvolvimento individual; ela dé ao homem 0 seu verdadeiro sentido, permite-Ihe realzar’a sua natureza verdadcira, pois o homem & por esséncia, um ser destinado a s6 viver plena~ mente, a 36 desabrochar em sua plenitude na pélis: & um zéon pollidn, um animal politico (segundo a lamentavel tradugio on sagrada). Pode-se dizer, retomando a imagem precedente, que no € menos natural para q’ser humano desenvolver na Cidade as suns mais altas possibilidades do que para a bolota deseavolver-se até chegar a carvalho. Bstaa consideraedes mostrem portanto que a Cidade fox parte das realidades que existem nsturalmente, @ que @ homem 4 por natura um animal politien; e que aquele que deixa de perteneer ‘a uma cidado, por inatinto © no gmagas & deterisinada cireuna ‘Hineia, ou é um sor degradado ou superior ao autres homens. (.-+) 4 on brute ow wm deus. (...) que ¢ homem seja um animal poli leo em grau mals elevada quo a sbslhas ou todos as outros ani- nals que vivem em estado grogério é um fato evidente: com efeito, podemos dizer que nstureza nada faz om vo, e 6 0 homem, ‘nbre todos ox unimais, possai o dom da palavea. 5 Essa natureza humana que se exprime plenamente na polis € uma naturéza moral. Seo homem € 0 tinico que possui o dom da oF ‘A CIDADE-ESTABO palavra, ele 6 também 0 tnico, entre © outros animais, que sabe discernir 0 bem do mil, o juste do injusto, © que tem o sentimento das ontras nordes morais. 2 de tais sentimentos compartilhados por todos que pracede, depois da familia, a Cidade, Esta nfo poderia ser simplesmente uma alianga ofensiva e defensiva entre os indi vviduos, mas apenas a promessa que cles fazem uns aos outros de uma toca de servigos. A Cidade nio se reduz a uma comunidade de Iugar, onde os homens se acham associados para prover & exis: téncia material. Ela é, essencialmente, uma astociacdo para viver bem, para viver em comum da melhor maneira possivel, tanto mo- ral como materialmente, para realizar a felicidade ¢ a virtude nao 36 de todos em conjunto como de cada membro em particular numa Vida perfeila ¢ independente, AristOteles formula 0 prinet pio de que “a comunidade pollen tem em visia a realizagio do tom, e no apenas efetivar a vida em soeiedade”.* Isso equivale a dizer que, para ele, em principio, tal como para Platio, a poltica ¢ a ética nfo formam duas categoriss sepa-_ Tadas. Se 0 Soberano Bem da Cidade ¢ 0 do individuo constitver, por uma questio de método, 0 objeto de estudos distintos, nem por isso deixam de ser intimamente soliddrios, A Cidade é um orga- nismo, mas um organismo moval, portanto dotado de conscigncia, ‘Sua consciéncia ¢ sua moralidade so podem exisiir entre seus mem bros, cujo fim eoineide com 0 seu. 2 neles que a Cidade experi. ‘menta tais ou quais sentimentes, que ela aprova ow condena. Erica superior, moral soberana, tal & a politica, pois, segundo a rica a Nicdmaco, esse tratado de moral paralelo a tratado de politica (e, “num sentido, os dois”, observa E, Barker, “nao passam de um 36 tatado eujo tema é a ciénca politica na acepsio ma's elevada do termo”), obter ¢ preservar o bem da Cidade & alguma coisa de superior.’ E se o bem & desejével mesmo quando tem por objeto um ‘nico individuo, 6 mais belo e mais divino quando tem por objeto a Cidade. ? Em consideragdes preliminares a uma busca da Constituiglio ideal, enuneia Aristételes duas questdes estreitamente associades a essa relagio entre a politica ¢ a étiea, A primeira prende-se 20 ‘modo de vida mais desejdvel para individuo; a segunda, a0 fim supremo da atividade esratal Deve © individuo preferir a vida de cidadio, vida ativa, vida prética, que exige a sabedoria pritica, phrdnésis, ou a vida contem- plativa, liberta das sujeigdes exteriores, que seria, segundo alguns, apenas a vida filoséfiea, © que requer a sabedoria tebrice, sophia? Afirma AristOteles, na Erica, a supotioridade da sophia, que 6 a melhor parte do intelecto, que é ciéneia relativa 4s realidades mais ARISTOTELES B A POLITICA 95 é i Sativa, alias — © eujo resultado ¢ a preeminéncia da vida contemplativa, Vida segundo o intelecto, que & divina se eomparada a vida hu- Jana: © individuo deve fazer tudo para viver “do scardo com 2 firte mais nobre que hi nele”.® A Consttuicio ideal €, pois, @ fue assegura 20 cidado esse modo de vida mais deselével, E notivel o tom platbnieo dessas considerages, mas (tal como evela um atilado comentador), no basta que © contemplative te- hha o seu lugar na Cidade ideal para que seja respeitado o espirito io esquema platinico. A propria distincia que Aristételes coloca fire 2 ago e a contemplacio liquida na realidads 0 pletonismo dh Repélblica “ao mesmo tempo em que Ihe salva as aparéncias”. © {ilésofo nfo é senfo o omamento da Cidade arlstotélica, & qual fh sophia nio é absolutamente necesséria, ao passo que esse AI6- fofo era © préprio fundamento, o chefe mais absoluia (porque otentor da mais alta sabedoria), a. lei viva da Cidade platénica. Qual é 0 fim supremo da atividade estatal? Respondem alguns f dominacio, a expansio pela guerra, a escravizagio dos povor Nizinhos, Aristételes. insurge-se contra tal resposta, em nome d= Jjstiga, em nome também de uma saudavel eiéncia do poder: 1 tarefa do legislador sensato considerar, yera uma Cidade, ‘uma familia de poves ou qualquer outra comunidade, como 0 eseravo, 0 que o leva a afirmar a cxisténcia de uma ceria co Tmunidade de interesse “e de amieade” entre ambos. Aconselha, por fim (referindosse, & verdade, & Cidade ideal), que se faga fescravos entreverem a liberdade como recompensa, 0 que equival ‘2 supor, em contradigio com a teoria professada, que a sua natu rez no os toma ineapazes de desfruté-la, E & certo que Aristételes, fem seu testamento, ordenou a libertagéo imediata de alguns seus préprios escraves, prevendo para a adolescéncia a dos filho! destes tltimos, se na época fizerem jus & liberdade, ARISTOTELES E A POLITICA 7 Incocténcias, contradigées? Tomos de admitir, com M. Defoure hy, Que, se Arist6teles € 0 defensor da escraviddo, nao deixa de f6r também o seu reformador. ‘Cumpre-nos também, ao examinar a teoria aristotélica, excl ecor as relages entee a eseravidio e a liberdade na pélis, ‘Célebres. si estas linhas do Contrato social de Rousseau: Batre op gregue, todo © que Incombla ao povo fazer, le 0 Eexin por si mesmo, pols eatava sempre reunide na égore. Vivia rhum clima atneno, nao eta de modo slgum ambieioso e, contando Com eseravos para substitutlo no trabalho, a sua grandé oeupagio. ran liberdade, (...) Como?! A liberdade 36 se mantém com o fepoio dn escravidde? ‘alvez, Ox dois excesses co toeam. Tudo ue, de qualquer forma, nfo existe na natureza ofereee seus incon Venientet e & sociedade clvil mais do que todo @ resto. certo que a liberdade democrética de Atenas (por exemplo) je mantinha em parte apo‘ada na eseravidio. Mas a generalizagio jegundo a qual os escravos faziam os trabalhios do povo & erréuca, pois a massa pobre, que €€m Atenas como na maior parte das ficmocracias) represéntava a miiotia, nia possula escraves, por Ihe faltar diaheizo para compri-los e sustenté-los: eram substituldos fla mulher o pelos filhos. Se estimarmos a populagtio de Atenas fi 50 mil cidadfos ¢ 100 mil escravos, ou seja, 0 dobro, seria eiramentc falso acrediter que cada cidadio fosse proprietirio de ois escravos ou mesma de um $6, euja posse o teria convertido ium senhor de largos Stios", Hvis os escravos empregados pi- 8, 0§ que trabalhavam como operdrios nas fabricas © nas mir Ns, 05 escraves domésticos dos lares mals ricos. Qualificar uma iémocracia grega, invocando a cscravidio, de aristocracia de fato 1 mesmo de oligarquia de fato seria igualmente inexato, pelo me os no plano social, Basta pensarmos na assembléia do povo em fenas tal como a viam os olhos eriticos de Séerites, com 08 seue ipateiros, pisoadores, pedrciros, yendedores ambulantes, belehio- 61 Em compensagio, 0 que & Figorosamente verdadeito é que nO Jano politico (onde o escravo absolutamente nao cxistiay “Yo ci- lidéo, por mais pobre que seja, & uma personagem privilegiada © idadania, por mais insignificante que seje o seu possuidor, jé & ima fungao".»? Por isto, a pélis podia parecer a ndo-conformistas nis como os Cinicos) © monopélio de privilegiados (nada hospi- leita tanto a escravos como a metecos, e a pretensa liberdade ca podia parecer um logro que se devia rejeitar em favor da ladeira Liberdade, 2 do Sabio que se basta a si mesmo na ampla imprecisa Cosmépolis. 98 A CIDADE-ESTADO ARISTOTELES B A POLITICA 99 fico, pretendia, 20 cviticar a concepeao desenvolvida na Rep 0, 40 refutéela de maneira tio inflamada (mesmo que nem sem- pertinente), contraper a uma forma de unidade que julgava Wiinisiodo material, insuficientemente elevada, uma forma mais 4 mais alta e, por conseguinte, aquela a que a Cidade devia jar, Em vez de uma falsa unidade, defendia uma wnidade 2, AS BASES BTICO-POLITICAS DA CIDADE A. primeira € a unidade. Ninguém ignora o furor de unidade civiea que coasumia P tao na época da Repiiblfca ¢ a nostalgia que ele conservou sempl do ideal de entéio. Ora, Aristételes, em paginas eflebres, rik Vigorosamente 0 comunismo platOni¢a (timbrando em esquecer, bom que se digs, que na verdade sé se wata de um semicomual mo). Lemos em Aristétcles, é certo, que a Cidade tem por reduzir & unidade a multiplicidade dos individuos © das asso« convertendo-os em comunidade ou sociedade percita, Mas ela, naturezi, ndid possui de modo algum a unidede absoluta que to © outros Ihe atribuem: tio absoluta que, tal como as proprit dades, também as mulheres © as criangas sojam comuns. Esquea Plato que hé no homem dois motivos predominantes de soli € de amor: 0 sentimento da posse © a exclasividade do afeto. C individuo preccupa-se muito com 0 que Ihe perience, mas nao grande aten¢o ao que pertence a todos. Que grande estimulo negligéncia penser que haverd sempre outra pessoa para cuidar um ser ou de uma coisa! No sistema da Repiblica, todos os pal olhario todas as etianges com igual indiferenga, ninguém sent mais 0 prazer de mostiar-se, gragés aos bens que possui, agradavel © itil a0s outros, Plato também se esquece, segundo sew discipula rebelde, que a Cidade se compoe nio apenas de uma pluralidade de ind ‘viduos, “mas ainda de elementos “especifieamente distinto:”, © d que € a diferenciagio deles que permite, entre esses elementos toda a natureza de trocas com que se nutre se fortaleee 0 Te social. © maior bem para a Cidade, em que pese ao autor d Repiiblica, esti ai & mio no que 2 toma “una” de forma tio uta, to excessive. A unidade assim coneebida, que elimina diferengas em vez de concilié-las, toma-se um fogo’ voraz e deletéci Para ele, a fonte dessa unidade (antes de tudo interna) esté listiga @ ma amizade que devem imperar entre os membros da it Qual 0 sentido de justiea? Entendea Arist6teles de um modo inteicamente diverso da~ ile exposto por Platio na Reptiblica Fstabelece distingéo, o que nio fazia seu mestre, entre justiga Dimpleta e justica particular. ‘A justica completa & a virtude perfeita, a soma das virtudes, ous as virtudes reunidas numa $6"? Mas com a sessalva de que rata da virtude exercada em proveito do préxime. Aquele que [possui nio se limita a aplieé-la apenas aos seus negécios pessosis.. Ilc-sc obrigedo a realizar agoes Weis aos outros, sejam cles go- mantes ou simples membros da Cidade. Tarefa diffeil e d.gna Ip admiregio! Como diz 0 provérbio; “A justica contém em sf das as virtudes.” * B evidente 9 vinculo com a concepgéo ética da Cidade, comu- lidide moral que tem por fim a vida boa, o bem, regido pela lei, wesio desse fim: a Ici, que forma um 36 todo com a obrigaséic bral, a lei eédigo moral ‘da comun'dade. nesse sentido que se mia justo Aquele que obedece A lei e que © justo, dikaion, se Jsine como aquilo que & eonforme a lei: legalidade — sendo’ile- ilidade 0 injusto, 0 que nos ensina a Etice @ Nicdmaco. ¥4 Mas & palavra “just'ga” tem ainda uma acepgtio mais restrita que se refere a Cidade considerada como uma associagao de mens. iguais: tratase de manier © principio de igualdade. Na liea dessa justica particular, define-se como justo 0 que € con me A igualdade, sendo o injusto » des'gualdade; © denomina-se No aquele que, cm resptito & igualdade, s6 sc apodera da pari i@ Ihe cabs. O principio é que cada qual zecebe 0 que the @exafamente como se com ume sinfonia se quisesse produit um Wevido. Eo que s¢ Ihe deve 6 duplo: 6, de um lado, 0 que a co- ‘imico som, ou redusir um ritmo a um unico pé. 18 wunidade est obrigada a distribuir a cada um em honras, riqué- nidade, @ do mesmo mode a cidade, moat osaa unidada nie dl sor absolute, pois no caminho para a tinldade existe uum ponta al do qual ndo avers mais cidade, ow além do qval a cidade, ms continuando 2 Verso do Tegnis (I, 147): En dd dikaioeting? oullebdin pés'areté Arist6teles, que se casou, que teve filhos, acreditava no val “Iii, citado por Axinsteles (tien @ Niesmaco, V, I, 15). (N- do T.) da vida em familia, a0 contidrio de Platio. E, num plano mi 100 A CIDADE-ESTADO. zas, privilégios diversos em troca do que cada um traz (em vite tude, em recursos) como contribuigio para o objetivo moral comm, B, de outro lado, a corres, a reiificago pelo juiz [dikasiés], cle vil ou crimin tenga dele emanada, do qualquer dano causado a um individuo, No primeiro caso, em que estio em causa as relagées entre @ cO- munidade ¢ cada um de sous membros, fala Aristoteles de justiga distributiva. No segundo, que diz respeito & esiera das relagdes sntre 0s. cidaddos, ele fala de justica corretiva ou retficativa, ‘Temos af og dois ramos da justige particular (ArisiStcles diseute também se nfo cabe acrescentar um icreeire ramo, denominado justi¢a eo ‘mutativd, que poe em jogo a troca dos serviges © 0 conceito de reeiprocidade #9) A. justiga distributiva € a que mais interessa a politica, no sentido de que cada forma de governo esti ligada escotha de lum eritério espécifico que determinaré a distribuigfo justa © que serd esta ou aquela espécie de meri. Os democratas identificardo esse mérito com a condigio de homem livre; os adeptos da oligarquia, com a riqueza ou com a nobreza de nascimeato; os partidérios da aristocracia, com a vit tude [areié]. O que se deve considerar bem & que’a verdadeira, nogio do justo implica um sistema de proporgdes que permite. lwatar com igualdade o que ¢ igual ¢ desigualmente o que é desi- gual, Porque “0 justo é alguma coisa de igual (...) contudo nig para todos, mas para aqueles que sfo iguais"; ¢ 0 desigual, que 40s defensores da oligarquia parece ser alguma coisa de justo, “0 € com fit, nio o sendo porém para todos, mas apenas para) agueles que 380 desiguais". “Importa eonsiderar no somente as, colses que se io de partilhar, mes Ievar em conta também as pessoas com suas diversidades, seus mérites muito desiguais, suas contribuigdes extremamente desiguais para o objetivo moral com mum. “Que vantagens desiguais", diz ainda Anistételes, “sejam, conferidas a iguais ¢ vantagens dessemelhantes a semelhantes-é algo, contréria & natureza, e nada do que contraria a natureza é bom,") Reconhecemos af, em oposigio & igualdade simples ou “arity mética", a igualdade proporcional ou “geométrica” da Constituiglio platBnica das Zeir (oposipio que voltsré a ser encoatrada em re= lagdo a igualdade civica, tal como a verd Aristoteles).. Evitemos, porém, assimilar a justiga aristotélicg em geral & tooria da justica na Repiidlica, pois que grande é, na verdade, a diferenga de perspectiva. Toda a énfase de Plato concentra-se ‘no dover de cada individuo, segundo as suas aptiddes particulares, para de qualquer ruptura de igualdade em detrimento de uma dis partes numa transagéo. E também a reparagio, por sem ARISTOTELES E A POLfTICA 101 vom a Cidade perfeita. Ele chégava a uma hicrarguia de catego- iss sociais, cada uma das quals estava associada a0 desempenlho fstrito dé uma fungda especifica, e devia dar A Cidade rigorosa- mente 0 que Ihe era devido, tal coma determinava 0 principio de tupecializacdo, Arist6teles, no entanto, concede a justiga distribu- fiva, que se aparta da justiga completa ou total — distingao essa que’ Platao no faz nem Ihe eumpre fazer —, como um equilibrio de dircitos e deveres, segundo 0 principio da igualdade entendido do modo que st conhect. Incumbe a cada qual dar, mas também reeeber o que the & de ece. Jé mio se trata, como na Repitiica, de uma hierarquia de classes com uma hierarquia de deveres, sob o governo absolute da gia do Bem. ** jo sob a forma do(s) direito(s) que me- A amizade acompanha a justiga Em toda comunidade, esto presentes ao mesmo tempo a jus- ica ¢ a amizade, Essas duas virludes parecem relacionar-se com ‘6; mesmos objetos © pertencer as mesmias pessoas, Por naturez, ft justiga cresee com a amizade, tim smbas a mesma extensio, Sem avida Aristételes coloca a justiga, considerando-a em seus aspectos diversos, como fundamento da associagio politica. Mas onde esté 4 justiga se acha também a amizade, pailia. E, na Btica, o filésofo hega a afirmar que, se os homens estio unidos pela amizade, no pprecisam da justisa, a0 passo que, mesmo sendo justos, nfo po- Morio prescindir dal amizade. Insiste no valor do vinculo que esta epresenta na Cidade ¢ declara que, mais do que a prépria justiga, ela atrai ax atengdes dos Legisiadores, pois estes. procuram fazer lriunfar a concérdia sobre a disedrdia: ora, a concérdia, de ceria maneira, assemelba-se & amizade. Na Politica, repote Aristotcies uc esta é “o maior de todos os bens", porquanto redue precisa Mente ao minimo os riscos de dissensoes. Anotaram os comentadores que © prego philla é muito mal Lraduzido pelo nosso yocdbulo “amizade", Sea sentido é muito mais amplo, Apliea-se as “ligagdes humanas em geral”, de sorte ue as palavras: Benevoléncia, benefieéncia, fitantropta, human'da- le, sociabilidade, ou (mais grosseiremente, mas com certa fidelix Wile) aliruismo, podem ser utilizadas pelo tradutor. ‘A’ philia, seja qual for o equivelente adotado, € a reserva de lor humano, de afetividade, de arrcbatamento’ e generosidade (icima da fria'imparcialidade € da rigorosa justica ou da eqiiidade), fp simenta © evi companeimo busi] nd sa a8 Ge jude: ¢ isso ndo s6 através das festas, divertimentos © jogos como al A CIDADE-ESTADO. também através das provagies. A philia 6 Asnteressado que totna postive concila, come meas ae teles, a propriedade privada dos bens @ 0 uso coleth ae frutos, de conformidade com o provérbio —relomido pele ay da Pottiea para apoiar sua tese opesia a Patio dD 0 4 ‘tudo ¢ comum” entre amigos. E 6 ainda a philfa que cle saw contra a comunidade das eriangas da cidade platOnica, onde 0 ji nko poderd dizer de forma alguma: “meu filho”, nem a teu pif. Tal cons sure att inden ia 2 Hl itetinvelneate se dud caus’ or membros da com ice, ft de vinko doce misturada a wma. gr ‘Na repablica imaginada por Platio ja ao 6 mls nesestn &s pessoas se preocupem mas com 2 Cults, come eer seus filhos, ov um filo com 0 pai, on um itmao come inoee © império da tei & a contribuigio om tibuigdo mais se “consuclnaimno” dos tempos vindowres 2 °° Atte jabe-se que ligacio intima ‘une a justia Ccom § eta) Ash, ebdigo moral da comunidade polities, no sentte de que {aprime os imperativos eternas da moralidadet "A Ie, expressao ta im da vezio: “uma razio livre de deselo”, desplda ‘das pein Segas que transformam 0 individuo em presa sus, e realmebte Pessoal! A lei que, sendo razio e moralidade, § em docoreoen Ratural, do mesmo modo que a péls, forma superior vida oa também natural! Desse modo, 0 império da Ici serd ao. mean tempo 0 impétio da. razio, sem que isso impega seja a lei homologada ou motificada poster mente pelo pow. # sobre tu) 20 Logisiador que ineneh tanta 12g, els educasio, a substincia dessas leis no espirito dos cidayaoss rm (itite, de nada serve possuir as melhores leis, mesmo. que paltcndee pees cars de cidadios, se estes altimos ndo esti- subme 0s © @ uma eduiagao presenies ich cites 2 uma edueac&o presentes no espitite Presentes no espirito da Constituipd F iuicd... porque € evidente A Ieis devem ter por modelo a Constivsiga ae) 0 a Constituiggo, para bem ou mal, Soa Constiuiggo for carreta, elas serio “necessaianente be ‘ogo, por exemplo, ardia tanto na Pérsia como em Atenas). Aris~ ARISTOTELES BA POLITICA 103 1", mas se a Constituicio tiver uma forma aberrante, elas serio siariamente injustas. O império da lei traz como postulado a jndacle da lei. 1 preciso tempo para que uma boa lei se enratze no espirite co © se tore habitual: dai por que Arist6teles, tal como o Pla- 0 das Leis, desconfia da mudanga: seus possivels benelicios zo idoriam cOmpensar os inconvenientes da instabilidade. ‘Ao carétcr reconhecido como natural da Ici, que deriva do yiter natural da Cidade, © artiicialismo dos Sofisias — como, ir exemplo, em Licofroa, aluno de Gérgias — opunha as variagier jlinitas das. prescrigées juridicas segundo o tempo e 0 lugar; obje~ Wya cle que a natureza desconhecia essas variagies, que 2s suas tinkam em toda a parte a mesma forga e rim imutéveis (o Woleles nao podia eludir esse velho problema do direito natural, Wihksion phusikén, ¢ do dircito legal ou positive, dikaion nomikén, Admite (um eélebre trecho da Liéca) que muitas preser ¢5e ia lei so meramente convencionais. Por exemplo, que 0 resgate is um prisioneiro aleance esta ou aquela some, ou que se deve ocriicar aes deuses uma cabra e nao dois camnciros, eis 0 que, \\ principio, & perfeitamente indiferente. Mas, uma vez editeda, a Fegra se impde. Isso néo equivale a dizer (esclarece Aristoteles) uc 0% Sofistas tenham razo em negara existincia de todo e qual- fuer direito natural. Esquecem-se de que @ propria naturcza co= fihece variagées em suas leis: dessa mancira, a mio direta & por htureza superior & esquerda, € no entanto’é sempre possivel a Alguém “tornar-se ambidestro™. ‘Todas as coisas humanas, mesmo lis que se devem & naturcza, estéo submetidas & mudanca. Somen- We no mundo dos deuses pode existir a total imutabilidade, Isso ‘do impede que, ao lado do direito Iegal, do justo Iegal, se revele ‘vm direito natural, um justo natural “gue tem em toda’a parte & mesma forga © nfo depende desta ou daquela opinido”, ¢ cuja es- abilidade, sem ser absoluta, & relativamente maior. Basta que se ena bom othe para discenir o elemento de diteito natural a0 lado do clemento positivo, a despeito da variedade das Cidades que acar- cia a diversidade dos direitos positives e a diversidade das interpre~ fuses do direito natural. Agrade ou nfo a0s Sofistas, Naiureza ¢ Convengao coexistem, da mesma forma que lei eserita’e lei costu- mmcira, para dar todo a seu relevo ¢ toda a sua riqueza & nogao do impétio de tei. Q imétodo denominade diaporemética (de aporia, aporia, ficuldade, problema), G0 grata Aristoteles, leva-o a. discutir ex tensamente, pesando ‘os argumentos pro ¢ contra, dando a impressio tod ‘A CIDADE-ESTADO ARISTOTELES BA POLITICA 0s © segundo aspecto da discussio tem por abjeto a autoridade Incumbida de suprir a impoténcia ou a lacuna da lel, por omissio ou qualquer outro motivo. Amies de chegar a solugio (um cesto fiimero de magistrados guardiges ¢ ministros das leis), Aristoreles, fegundo © método diaporemidtico, propde © examina duis outras solugSes, correspondentes a dois extremos: de hesitar, ladeando ¢ voltando a Iadear em todés os séntidos iticuldades que ele constréi para si mesmo, a questio cléssica saber quem serd soberano na Cidade e se mais vale ter govern pelo melhor homem ou pélas melhores leis, Q autor, em alguns momentos, mostra-se the dosconcerlante que certos comentadores viramese tentados pr em diivida o sea Veredicto final em fa do império da lei, da lei soberana, da lei que governa, ¢ ndo de um kamera. Néo de um homem, porque a sua alma, seja ele qual for, std sujeita a todos os acidentes da paixio; porque ele cederd sempre a tentagio de governar no seu prOprio interessé, de violet 4 igualdade ¢ portanto a justiga em seu praprio proveito, de tornar se, em suma, “um tirano”, N&o de um homem — pelo menos nal ‘medida em que a Cidade se compde de individuos semelhantes. en= tre sie quo, por uma necessidade natural, devem possuir os mes: mos direitos ¢ © mesmo valor: € entéo “contrério “& natureza que tum nico homem seja 0 seakor absoluto de todos os cidadios™. Contudo, a generalidade da lei impede-a de abranger todos os casos particulares, Hi portante necessidade de certo numero de magistrados, mas estes n30 serio mais do que guardides © mini. tor das leis, ¢ as suas decisSes 86 sexio irvecortiveis. nos eases em que as leis, pela sua prOpria generalidade, sejam radiealmente im- ppotentes para se pronuaciar de maneira precisa, A mio ser nessa hipotese, a discussio (cuida o autor da Politica) mostra com uma clareza inexcedivel que é nas leis que deve residir a autoridade soberana. Dois aspectos desta diseussio merecem uma breve andlise. primeiro reside na eliminagao sucessiva de diversas solugdes para o problema do poder soberano na Cidade. Quer esse pod: esieja nas mios dos pobres que dele se utilizam contra os bens: dos ricos; ou nas maos da maioria que dele so serve contra o$ bens da minoria; ou nas mios de um Urano que, abusando de sua maior forga, comete violéncias contra seus inimigos — nenhuma dessas solucbes € consemtinea com a justica, Quer ele esteja nas) mios da minoria e dos ticas que, procedendo da mesma forma que os outros, se poem a pilhar os bens da mulkidie ¢ a despoji- Ta deles, tem-se uma solugio nao menos injuste. Quer etse poder se tome monopdlio das pessoas eminentes que dele se aproveitam para afastar todes 0s demais das honeas ¢ dos cargos civicos, e © resto da populagio que se ve numa situagéo indigna: injustiga sob © manto da arislocracial “Seri entio melhor confiar o poder 4 um $6 individuo, 0 mais virtuoso de todos?”: sob 0 manto da realezs, ampliar ainda mais a exclusio precedente. Mas, poe outro Indo, nas matérias em que a lei é impotente para devidir ou para decidie como conven, devese dar a time Palavra a um s6 homem, ao homo perfeite, ou a todo o corpo de Edadaea? Com efeite, em. nosios dins so os cidaddos reunides em fesembléies que Jalgem, deliberam, ¢ todas as guss devises versam Sobre casas capecificos. Ore, tomado individuslmente, qualquer ‘membro da astembléia possui, em comparagio, menor. méritot dy qe o housern perfeito: mes 4 Cidade ¢ constituida de um grande bumere de individuos, oo mesmo modo que or banquetes com des- pesus divicidae edo melhores que aqucles oferecides por ume a6 peesvo, a multidie & quase sempre melhor juiz do que wm unico hromem, qualquer que seja cle E acreseenta o autor que a multidiéo spresenta ainda a vunta- gom de estar menos exposta A corrupgio; a massa de cidadaos, fompardvel a uma grande quantidade de gua em relapio a uma peauens, deixa-se menos facilmente corromper do que pequenc jlimero (argumento esse rétomado, ¢ tornado cldss.ca, em favor io sufrégio universal dos tempos modemes). Da mesma forma, fm s6 individu € muito suscetivel de se deixar empolgar pela fGlera ou por qualquer outra paixio que altere o seu julzo, ao fusso que dificilmente se admitieé que “todos se deixem ao mesmo Tempo arrastar & célera © ao erro”, Eq discussdo. prostegue setsa Linha, sugerinds ainda a hipé- ose de uma aristocracia extraida dda matoria, © eomposta de ho- Jens “de alma vietuosa” que se assemelham 20 Gnieo homem per ito... & preferivel nao buscar nessas engenhosas e Age's varia Be © pene potuado do ssagiia, Eve peat. rere ise no seu veredicto final: ¢ a lei que seina, © nfo um homem, § nis virios homens. E, com a ei, reina a’ impessoatidade, que fom por condigde a generalidede, sendo o conjunto abrandado pela yeocupacco com os casos singulares, como a justica pela equi lade. ~ Durante 2 leitura, 0 leitor pode notar tudo 0 que, nese do- nic, o autor da Politice devia ao autor das Leis, © Observemos, finalmente, que, se a lei reina, a parte da Cous- IiWisio de que ela emana deve ter a primazia. E € isso efetivar ente que ocorte, 106 ‘A CIDADE-ESTADO ARISTOTELES E A POLirICA 107 Aristtles cistingue trés “partes” numa Con stitwigéo, © aie. rma que, quando elas se acham em bom estado, a Constiuigio tambbem” se encontra necessriamente em ‘vom estado. (acrescenta que ar Constiiygey Gigerem uimas cas ovtras pela moncira dite Tie coma ada ina det pres id organs) A pel faa deliver sclvoicelGogecton orimraiy af eopiads’' ai quel rape 36 apis a ec, «he administra justign, Na ngoagem atu, somos tentados a tadurt: poder legislative, pods crest, poder. ja Diganes com Arse, emt wos ando da’ primeira “parte": parte defberante oa deliberatis Gleramcy aie 2a Mecie Somnamente a gue © pe fam © deans ain poms Ten, eesnda staal more, de exo de anit, cite os git © exe ha-lies #9 contas% & ola realmente (0 autor insite neste pont fe neste ponto} 0 Drderroberae,ripremo da Censtueto. Quan 2 seguida sad 1 aida ery do ut a dtniio ddh Mo name oe Jeraturas deve sex atrbuldo, sobretudo a todos esses offcios a que fs eeg o per de dees sbte mais vdterminedas, sco pando de um poder de decidir e de dar ordens, e especialmen Te ce poleh pox det ordcar 6.0 ue ane ewreienes 3 a rice, do mai" i a Nia tereln “parte? ekamina Articles o poder ou o element to judiviério; de tudo 0 que expe vamos reer apenas uma obser vagio agoda, relaiva As juredigges de matureza,pofrear Aris Toles responssbiica a sua “organizagao defsitusa” plas dssensoes © mudangas de regime. 1g chamar cidado Aquele a quem assiste a faculdade de vir a Pre cee as foncoes judicidrias, legislatvas ¢ governamentais, E do- fomise-se Cidade a coletividade dos cidadios assim definidos: por pia ossibiidade, por essa ocagio, o cujo nimero ¢ sufickinis wen Brsegurar a referida Cidade a plena indspendéncia ou audr~ cia. Quem 2 e deve ser eldadéo? A questio de saber quem 2 ae ito eidulao depende da, Constituigio, ou seja, da forma de, sever: tie avexist@ncia de vétias fOrmas de governd implica a exsténcis Hie varias espécies de cidadios, De tal modo que os trabalhadares fhanuais (homens Hives, evidentemente) de diversas eategoriss, 3°. amos operitios, braceiras goram da cidadania nam certo nimer® le constiwigdes, Mas nio (apressa-se em esclareser 0 autor) nas Consttuigdes de tipo aristoeritico que distribwem as honras see con rnade:. "Pots ado € posivel entreparse 8 prética da, vide fvando se Teva uma vida de apericio ou de (rabalnador Orgs Hh por que a resposta & questio de saber quem, no melhor Be ereb que se possa imaginar, dave ser cidadio & emitide sem quale fuer hesitagdo, Nic somente as péstoas que excculam wm ofic'e fhecanico, mas ainda 08 comerciantes e até 8 Tavradores estao 6l Miuidos da, cidadania aa Cidade ideal: as duas primeires cate fori em decorréncia da, sua vida “sem nobreza ¢ contra # V poe a altima, por lhe faltar Jacér tanto para o desenvolvimento Mh vitude como para 0 exercicio de uma atividede polis. MMos, como essa exigéncia da virtude retorna sempre, qual é pois, exaromente viride que se impde ao cidadéa & ave dle = Pipers em sua atvidade? & ou nfo a mesma que a viride do ho fom de bem? Responide Aristtcles, na Btiee, que “sem davida” set um ow wom de bem e scr um bom cidadio desta ou daquela Cidade nfo ei soisas idénticas. Na Politica (onde volta a examinar esse tema Fins vezes), cle Ine dedica no Livro HIM varias péginas de ume ivcussao orlentada pelo méiodo diaporemético, cujo texto apresene MNimerosas dificuldades ¢ eujo pensamento mal ordenade ¢ muito WW de acompanhar, De moncira muito aproximada, podemos umi-lo afirmando que, “de wma forma geral”, ndo ha identidade fire a virtude perfeita do homem de bem e a virtude retativa do jom cidadao. (De uma forma geral”: pois 0 cave da Cidade ideal deve set sto de parte: Aristételes, ao discorrer sobre o modo de vida qve Jove asseyurar a ConstituigSo ideal, conclu. desta mancira: “Vé-se Jiramente que a mais perfeita das vidas deve por forca ser @ maine sn Buen sie foadamento que cums consi, 6 itn vérias ¢ delcadas quesiGes: 0 que é um cidadio? quem Sti Fattia stor ape ete we eo oaferiaeet co oad a igualdade ¢ a liberdads do

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