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ot a ae ‘Copyright © by, Sandra C. A. Pelegrini ‘Nenhuma pare desta publicagdo pode ser gravade, ‘armazenada em sistemas eletrOnicos, fotocopiada, reproduzida por meios mecinicos ou ouros quaisquer sem autorizagto prévi da editors. Primeira edigfo, 2008 1" reimpressto, 2009 : | Conselho editorial: Danda Prado Cleide Aimeida Coordenagao editorial: Alice Kobayashi Coordenagiio de produstio: Roseli Said Projeto grifico e editoracto: Digitexto Servigos Graficos Revisio: Maristela Nobrega Capa: Fernando Pires Sobre Lundu, de Rugendas, 1835 Dados Internacionais de Catalogasio na Publicagio (CIP) (Cémara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Pelegrini, Sandra C. A. ‘O que 6 patriménio cultural imaterial / Sandra C.A. Pelegrini, Pedro Paulo A. Funari ~ ‘Slo Paulo : Brasiliense, 2008. ~ (Colegéo primeiros passos ; 331) ISBN 978-85-11-00149-5 3. Cultura - Brasil 4. Cultura popular - Brasil L Funari, Pedro Paulo A.. IL. Titulo. I. Série. 08-06126 DD > 306.40981 {indices para catdlogo sistemitico: 1, Patriménio cultural imaterial 306.40981 |_ editora e lvraria brasilienso Rua Morato Coelho, 111 ~ Pinheiros (CEP 0417-010 ~Sa0 Paulo ~ SP. ‘wor ediorabrsilieng.com.br | Poster 134 ¢ Pedro Paulo A. Funari, 2008 C. % O PATRIMONIO IMATERIAL E A CONVENGAO DE 2003 Desde a sua criagéo em 1945, a Unesco tem assumido a tarefa de atuar como um expoente vigi- lante e promotor de melhorias nas condigées sociais @ populacdo mundial. Para isso, procura fomentar a interlocug&o e a cooperagao intelectual entre os pai- ses membros, promover a troca de experiéncias e a propagac&o de projetos inovadores do ponto de vis- ta do bem estar social e da partilha de pesquisas e conhecimentos. O\érgio tende também a disponibi- lizar lineamentos Sonics e metodoldégicos para os Estados membros visando embasar os rumos de seu desenvolvimento. — No que tange as politicas preservacionistas — conforme jé.comeéntamos — a “Convengéo do .-~> Patrim6nio” (1972) voltou-se a identificagao, prote- 40 e preservagdo do patriménio material da huma- nidade (arqueoldgico, artistico, edificado, natural e 4 ‘Sandra C. A. Pelegrini & Pedro Paulo A, Funari Paisagistico)~Desde entio, essa convengéo vem i entando os principais instrumentos das poli- ticas publicas de Proteg&o aos bens patrimoniais. — A“Convengo para a Salvaguarda do Patriménio Imaterial” ~ formulada em 2003 —dedicou-se, exclusi- vamente, a probleméatica que envolve o Patriménio cultural imaterial—Assim, no primeiro pardgrafo do artigo segundo desse documento, 0 patriménio imate- rial ou intangivel foi alcunhado como: — [...] praticas, representagées, expressdes, conhe- cimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que shes so. , \)_associados - que as comunidades, os grupos e, ° em alguns casos, os individuos reconhecem como, i Parte integrante de seu Patriménio cultural | (Convengao para a Salvaguarda do Patriménio Imaterial, 2003, p. 1). — Desse Ponto de vista, o patriménio material transmitido de geragao a gerag&o € conceituado a partir da perspectiva da alteridade: Ele é considera- do alvo de constantes “recriagdes” decorrentes das mutagdes entre as comunidades e os grupos que convivem num dado espago social, do meio ambiente, das interagSes com a natureza e da pré- Pria histéria dessas populagées = aspectos funda- <> pip O que é Patriménio Cultural Imaterial a mentais para o enraizamento ou o sentido de per- tenga que favorece “o respeito A diversidade cultu- ral e & criatividade humana”. Evidentemente, esse “pacto internacional” rati- ficou a “Recomendagéo sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular” (1989) ea “Declaragéo Universal da Unesco sobre a Diversidade Cultural” (2001), além dos instrumentos internacionais refe- rentes 4 matéria dos direitos humanos de 1948 e 1966 (mencionados anteriormente). | O mérito dessas duas convengées e a importan- cia delas como instrumentos normativos na defesa da patriménio cultural devem ser reconhecidos. No entanto, ‘no’ préambulo da Convengao de 2003, a Unesco reconhece que os processos de globalizagao e de transformagao social, presentes na contempo- raneidade, oferecem “condigdes propicias para um didlogo renovado entre as comunidades”, mas “geram também, da mesma forma, o fendmeno da intolerancia, assim como graves riscos de deteriora- 40, desaparecimento e destruigéo do patriménio cultural imaterial”, em fung&o da caréncia de instru- ‘Mentos e meios para sua salvaguarda. Nessa diregdo, salienta ainda que as iniciativas de individuos ou comunidades, em particular dos “indigenas”, tendem a desempenhar uma fungdo prioritéria na esfera da produgao, recriag&o e manutengdo de tais bens, cor- roborando para o fomento da diversidade cultural. | | | | | 6 Sandra C. A. Pelegrini & Pedro Paulo A. Funari Ainda que esse documento nao tenha explici- tado claramente ps critérios para o reconhecimen- to do patriménio imaterial, apontou indicios no sentido de o acautelamento de bens dessa nature- za tornar-se “compat com os instrumentos internacionais di com os imperati vos de respeito muituo entre comu- nidades, grupos “Props no e do desenvolvimen- direitos humanos existentes e to sustentdvel”-Propés, no pardgrafo segundo, do artigo segundo, | que o patriménio intangivel se manifestava, em particular, nos seguintes campos: a) tradigdes e expressdes orais, incluindo 0 idioma como veiculo do patriménio cultural imaterial; b) expressdes artisticas; | ©) praticas sociais, rituais e atos festivos; 4) conhecimentos e praticas relacionados & natu- reza e ao universo; e) técnicas artesanais tradicionais (Convengio para a Salvaguarda do Patriménio Imaterial, 2003, p. 1). = Por essa via, recomendava a adogdo de medi- das aplicadas a investigacao, identificagéo, docu- mentagao, protec&o, valorizacao, revitalizagao dos O que é Patriménio Cultural Imaterial 49 bens intangiveis e sugeria que a transmissdo desses bens ocorresse “essencialmente por meio da educa- go formal e ndo-formal” . — Com vistas 4 obteng&o de maior eficdcia das ag6es em prol do patrim6nio imaterial, essa conven- gao aconselhou a formagéo de um “Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Patri- m6nio Cultural Imaterial”, constituido por Estados membros da Unesco, eleitos em Assembléia Geral da organizagéo. Mohamed Bedjaui, da Argélia, foi o primeiro presidente desse comité que contou coma colaboragéo de O. Faruk Logoglu, da Turquia, e quatro vice-presidentes oriundos do Brasil, Etidpia, India e Roménia. Entre os demais paises que inte- gram © comité, constavam representantes da Bél- gica, Bulgdria, China, Emirados Arabes Unidos, Esténia, Gab&o, Hungria, Japao, México, Nigéria, Peru, Senegal, Vietna, Madagascar, Albania, Zam- bia, Arménia, Zimbaébue, Camboja, Macedénia, Marrocos, Franga e Costa do Marfim. Por seu turno, a “Convengéo do Patriménio” (1972) prescreveu sem subterfiigios e de forma dire- ta os principais critérios norteadores da selegdo dos bens culturais e naturais na Lista do Patriménio Mundial. Entre os quesitos necessdrios & inclusdo nessa lista, destacou a excepcionalidade, a antigui- 50 Sandra C. A. Pelegrini & Pedro Paulo A. Funari dade do bem e sua caracteristica como “obra notd- vel do génio criativo humano”. A convengdo tam- bém determinou que esses bens deviam [...] constituir (...) manifestagao de um inteream- bio considerdvel de valores humanos durante um determinado periodo ou em uma érea cultural especifica ou; contribuir com “um testemunho nico ou pelo menos excepcional de uma tradi- 40 cultural ou de uma civilizagao existente ou jé extinta” ou; “ser exemplo destacado de um tipo de construgao, ou de conjunto arquiteténico, tecnoldgico ou paisagistico que ilustre uma ou mais etapas significativas da histéria da humani- dade” ou; constituir exemplo destacado de habi- tat, estabelecimento humano tradicional ou de uso na regio, que seja representativo de uma ou mais culturas ‘ou; estar associado direta ou indiretamente com acontecimentos ou tradigées vivas, com idéias ou crengas, ou com obras artis- ticas ou literdrias de excepcional valor universal L...] (Convengao do Patriménio, 1972). O documento ainda deixava explicito que o cri- tério da autenticidade dos bens e a forma como eles estivessem sendo protegidos e administrados eram igualmente importantes para 0 processo continuo O que é Patriménio Cultural Imaterial 5 de preservagéo. Para manter o controle sobre as condigées dos sitios protegidos, o referido docu- mento ainda reafirmava a necessidade da apresen- tagdo periddica de informes dos Estados membros da convengao sobre a situag&o dos sitios e centros histdricos, bem como a divulgagao das medidas ado- tadas para preserva-los e a implementacdo de acdes voltadas a despertar o interesse ptiblico em relacio ao patriménio cultural. Por certo, ao definir que o bem cultural para ser digno da lista do patriménio mundial da humanidade devia “estar associado direta ou indiretamente com acontecimentos ou tradigdes vivas, com idéias ou crengas, ou com obras artisticas du literdrias”, a Convengao de 1972 parecia avangar no sentido da compreensdo do préprio conceito de cultura. No entanto, ao enfatizar a necessidade do seu “excep- cional valor universal”, impunha nao somente juizos de valor sobre os bens culturais, considerando sua universalidade um elemento fundamental, como padrdes culturais inspirados na cultura ocidental. Ainda, nessa linha de interpretagao, podemos indagar: o rol de bens patrimoniais reconhecidos pela Unesco corrobora para reafirmar certa dicoto- mia cultural entre os povos “desenvolvidos” e os “subdesenvolvidos”? Se prevalece| o reverencia- mento dos monumentos das civilizagdes dominado- ras, a ascendéncia dos interesses das grandes potén- <> | 7 Sandra C. A. Pelegrini & Pedro Paulo A. Funari cias mundiais e suas elites, qual o atual sentido atri- buido & preservagao dos bens imateriais, & oralidade e As tradigdes populares? | O RECONHECIMENTO DA IMATERIALIDADE, DAS TRADICOES E DOS SABERES A historicidade do tema, os principios definido- res do conceito, as tipologias classificatérias e até as justificativas que motivaram os registros do patri- m6nio nos livros de tombo nacionais e a incluso de bens na lista das obras-primas do patriménio mun- dial da humanidade apontam pistas cruciais para a nossa percepgdo a respeito dos referenciais que informaram (e continuam informando) a selegao e a protegao do patriménio mundial. O estudo classico do patriménio e das politicas de proteg&o implementadas no decorrer do século XX também aponta certas prioridades. Os bens materiais foram apreendidos, por um lado, como bens que recebemos de nossos antepassados e dei- xamos como espélio para os nossos descendentes e, Por outro, como o patrimGSnio coletivo representati- vo para varios grupos ou comunidades. 54 Sandra C. A. Pelegrini & Pedro Paulo A. Funari Se cotejarmos a lista dos bens materiais inicial- mente tomados como obras-primas da humanidade, talvez possamos levantar indicios sobre a proemi- néncia dos referenciais culturais ocidentais na elei- g&o do patriménio mundial. De pronto, a observa- gao atenta dessa lista aponta a significativa impor- tancia atribuida aos bens materiais radicados na Europa, no decorrer do século XX, uma vez que mais de 50% dos bens reconhecidos pela Unesco se encontram no continente europeu e 60% do total de bens listados se situam na Europa e na América do Norte. Além disso, as nog6es de civilidade e cultura que regem os bens tombados na América Central e do Sul, e nos continentes Asidtico e Africano tam- bém apresentam tragos nitidos dos “valores cultu- rais introduzidos pelos europeus” nessas regides. Alids, esse assunto foi introduzido em nosso livro patrim6nio histérico e cultural (2006, p. 27). Curiosamente, essa estatistica se inverte quan- do observamos os registros dos bens imateriais entre 2001 e 2005. Seria um mero acaso 0 fato de que o reconhecimento dos bens imateriais pareca privilegiar as culturas distintas das ocidentais? Seria coincidéncia a expansdo do processo de patrimoni- zagao dos bens dos povos latino-americanos, caribe- nhos, africanos e asidticos no limiar do século XXI? Se, como afirmamos anteriormente, a oralida- de e os conhecimentos tradicionais tomados como O que é Patriménio Cultural Imaterial 55 expressées fundamentais na identificag&o cultural dos povos se tornaram alvo de reveréncia, discussao e protec&o a partir de meados dos anos oitenta do século XX, os apontamentos decorrentes dos sim- Pdsios e das convengées firmados desde a década de 1990 viabilizaram o levantamento de uma listagem do primeiro “lote” de bens imateriais proclamados pela Unesco, em 2001. Contudo, esse arrolamento visou apenas a estimular a candidatura dos bens imateriais espalhados pelo mundo. Efetivamente, apenas no ano de 2003, mediante a promulgagao da “Convengao para a Salvaguarda do Patriménio Cultural Imaterial”, a Unesco conseguiu imprimir algumas diretrizes internacionais para o inventario e acautelamento dos bens intangiveis. Essas normativas se assentaram nos principios norteadores das Cartas Internacionais, referenda- das como prescrigdes imperativas do Direito Internacional, quais sejam a “DeclaracSo Universal dos Direitos Humanos” (1948), 0 “Pacto Internacional de Direitos Econémicos, Sociais e Culturais” (1966) e o “Pacto Internacional de Direitos Civis e Politicos (1966)”, conforme explici- tado no preambulo da “Convencdo para Salvaguarda do Patriménio Cultural Imaterial”, celebrada na Cidade Luz (Paris — Franga), em 17 de outubro de 2003. AS OBRAS MESTRAS DO PATRIMONIO ORAL E IMATERIAL Ao observarmos 0 mapeamento dos bens reali- zado pela prdpria Unesco, em especial o dos bens imateriais proclamados em 2003, vamos detectar que apenas quatro estavam vinculados diretamente a Europa, portanto, mais de 85% dos bens se dividi- ram entre os paises da América Latina e do Caribe, da Africa, dos Paises Arabes, Asia e do Pacifico. Disponivel em www.unesco.org.br 58 Sandra C. A. Pelegrini & Pedro Paulo A. Funari Situagdo semelhante péde ser percebida trés anos antes, quando em 18 de maio de 2001, a Unesco proclamou as primeiras 19 “Obras Mestras do Patriménio Oral e Imaterial da Humanidade”. Nessa lista, constavam os seguintes bens: 1. A lingua, as dangas e a musica de Gafuna (Belize); 2. O carnaval Oruro (Bolivia); 3. O espaco cultural da Fraternidade do Espirito Santo de Congos de Villa Mella (Repdblica Dominicana); 4. O patriménio oral e as manifestagdes culturais do povo Zapara (Equador e Peru); 5. O patriménio oral de Gelede (Benin); 6. A musica de trombetas transversais da co- munidade Tagbana (Costa do Marfim); 7. O espago cultural de Sosso Bala em Niagassola (Guine); 8. A épera Kunqu (China); 9. O teatro Sanscrito de Kutiyattam (india); 10. O teatro Négatu (Japao); IL. O ritual real ancestral e a musica ritual do lugar santo e de Jongmyo (Coréia); 12. Os cantos Hudhud (Filipinas); | O que € Patriménio Cultural Imaterial 59 | 13. © espaco cultural da regio de Boysun (Uzbe- quistao); | 14. A praga de Fna Djamaa (Marrocos); 15. O Mistério de Elche (Espanha); 16. Os cantos polifénicos georgianos (Geérgia); 17. A dpera de marionetes da Sicilia (Itdlia); 18. A fabricag&o artesanal de crucifixos e seu sim- bolismo na Lituania (Lituania); 19. O espago cultural e a cultura oral da Russia (Rdssia). Chama-nos a ateng&o o fato de que entre esses bens imateriais apenas 15,78% correspon- dam ao territdrio europeu. Contudo, nao podemos afirmar que os bens registrados estejam vinculados apenas As “tradigdes populares” ou As praticas res- tritas ao “povo”. O acautelamento de algumas téc- nicas orientais no feitio de objetos (como espadas) nao se restringe aos segmentos populares ou As co- munidades menos favorecidas. Em 2005, observamos certo crescimento do numero de bens imateriais europeus reconhecidos pela Unesco, mas apenas oito bens foram procla- mados, atingindo 18,60% do total. Notavelmente, entre 2001 e 2005, a América do Norte continuou sem ter reconhecido nenhum bem patrimonial 60 Sandra C. A. Pelegrini & Pedro Paulo A. Funari intangivel. Qual a explicag&o para esse desinteresse dos estadunidenses em relagdo aos seus possiveis bens imateriais? As teorias da Antropologia e da Sociologia dao conta de explicar a excessiva valori- zagéo da cultura material e da massificagéo dos gostos e valores? O predominio dos continentes periféricos na luta pela valorizagdo do patriménio imaterial pode ser entendido, provavelmente, como revelador de uma disjungdo, como vimos antes, entre alta e baixa cultura. A cultura arquiteténica e artistica predominante no patriménio cultural material associa+se as elites; a “civilizagdo” esta sobre-representada nos tombamentos da Unesco. Como contraponto, o cardter periférico, popular e simples, por assim dizer, da cultura imaterial favore- ce o predominio do mundo periférico. Nesse contexto, pode-se entender o empe- nho latino-americano na valorizagao do seu patri- ménio. Cabe-nos salientar que entre os bens pro- clamados em 2005, na “Lista das Obras-Mestras do Patrim6énio Oral e Imaterial da Humanidade”, foram arrolados oito pertencentes A América Latina e ao Caribe: 1. O samba de roda do Recéncavo Baiano (Brasil); 2. O espago cultural de San Basilio (Colémbia); 3. Tradiges pastoris e carros de boi (Costa Rica); 4. Danga tradicional Cocolo (Reptiblica Dominicana); O que é Patriménio Cultural Imaterial CT 5. Danga teatral Rabinal Achi (Guatemala); 6. 2001: “La lengua, la danza y la musica de los garifunas” (Guatemala); T. El Giiegiiense (Nicardgua); 8. Arte téxtil Taquile (Peru). ‘Como podemos notar no mapeamento realiza- do pela prépria Unesco, a maioria dos bens intang/- veis reconhecidos na listagem efetuada no ano de 2005 remonta ao continente africano e asidtico: Disponivel em www.unesco.org.br A Africa, os paises drabes, a Asia e os paises do Pacifico remem maior numero de tradicées e express6es, artes tradicionais, praticas sociais, rituais, festivais, espacos culturais e saberes de artis- tas tradicionais reconhecidos internacionalmente. a Sandra C. A. Pelegrini & Pedro Paulo A. Funari Entre esses conhecimentos, se destacam a “Arte de fazer roupa com cortiga ou casca de drvore” (Uganda) e “O conhecimento, o ritual e a pratica social tradicionais dos Kris” (Indonésia). O exame dos registros nos livros de tombo, no futuro, certa- mente poderd embasar pesquisas capazes de apon- tar as transformagées e alteridades culturais ao lon- go dos séculos. A despeito da andlise dos avangos e retrocessos no processo de reconhecimento da pluralidade cul- tural, nunca é demais lembrar que a acepcdo do patriménio intangfvel assentou-se na idéia de que esse patrimGnio se constitui de um conjunto de for- mas de cultura tradicional e popular ou folclérica, ou seja, as “obras coletivas” que emanam de uma cul- tura e se fundamentam nas tradigdes transmitidas oralmente ou a partir de expressdes gestuais que podem softer modificagées no decorrer do tempo por meio de processos de recriag&o coletiva. Mesmo assim, no raro, a preservagdo do patriménio se mantém articulada 4s memérias e identidades das elites dominantes, de modo que os bens reconheci- dos como tal representam apenas os interesses e os jogos de poder desses segmentos. Além disso, como alertamos no volume “Patri- ménio Histérico e Cultural” (2006, p. 10), os valo- res patrimoniais e os juizos de preservacdo se alte- ram com o passar do tempo, pois ambos sdo cons- <> - O que é Patriménio Cultural Imaterial 3 truidos social e historicamente. Se o individuo no decorrer de sua vida passa por transformacées bio- ldgicas, culturais e sociais que o levam a vincular-se a grupos com diferentes faixas etdrias, distintas categorias profissionais ou dispares opgées religio- sas; de fato, as coletividades convivem com perma- nentes processos de interagéo e mudanga. Essa diversidade resulta numa “multiplicidade de pontos de vista, de interesses e de agdes no mundo” que, por sua vez, influencia os valores que definem sua relagéo com o patriménio e o sentido de pertenci- mento de uns agentes sociais em relagdo aos outros, sejam eles homens ou mulheres, criangas ou adultos, jovens ou idosos. CULTURA, EDUCAGAO E CIDADANIA A importancia constitucional atribuida a cultu- ra e sua admissdo no rol de direitos e deveres que compreendem o integral exercicio da cidadania podem ser constatadas na Constituigao Brasileira, promulgada em 1988, e nas emendas constitucio- nais que se seguiram. No artigo 215 dessa Carta Magna fica especificado que o “Estado garantiré a todos a pleno exercicio dos direitos culturais e aces- so as fontes da cultura nacional”. A ele caberé res- guardar “as manifestagées das culturas populares, indigenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatério nacional”, além de dispor sobre a “fixag&o de datas comemo- rativas de alta significacdo para os diferentes seg- mentos étnicos nacionais”. Uma das conquistas mais recentes nesse cam- po diz respeito a implementacao da legislacdo res- 66 Sandra C, A. Pelegrini & Pedro Paulo A. Funari ponsavel pelo “Plano Nacional de Cultura”, garanti- da pela Emenda Constitucional n° 48 (2005), segun- do a qual deve ser privilegiada a “integragdo das ag6es do poder puiblico” em “defesa e valorizagao do patrimSnio cultural brasileiro”; a “produgao, promo- cdo e difusdo de bens culturais”; o respeito a “diver- sidade étnica e regional”; a “formag&o de pessoal qualificado para a gestao da cultura em suas miulti- plas dimensées; enfim, a “democratizagao do aces- so aos bens de cultura”. Com efeito, no artigo 23, a Unido jé tomava para si a responsabilidade de, junto aos poderes estaduais, federais e municipais, “proteger os docu- mentos, as obras e outros bens de valor histdrico, artistico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notdveis e os sitios arqueoldgicos”; e ainda “impedir a evasao, a destruig&o e a descaracteriza- ao de obras de arte e de outros bens de valor histé- rico, artistico ou cultural” e “proporcionar os meios de acesso & cultura, 4 educag&o e a ciéncia”. Nesse sentido, 0 texto explicitava que cabia aos municipios (artigo 30) legislar em favor dos “programas de edu- cagao infantil e de ensino fundamental” (cf Emenda Constitucional n° 53, de 2006) e “promover a pro- tego do patriménio histérico-cultural local, obser- vada a legislagao e a ag&o fiscalizadora federal e estadual”. Por fim, 0 artigo 216 ampliou 0 conceito e os meios de protegao ao patriménio cultural brasi- O que é Patriménio Cultural Imaterial or leiro, no que se referem aos “bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referéncia a identidade, A ago, amemiria dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”. Mas em termos praticos, quais as medidas acionadas pelo Estado para fazer valerem essas disposigdes constitucionais? A Unido, aos Estados e municipios é atribuido pela Constituigaéo da Republica Federativa do Brasil o dever de proteger o patriménio cultural brasileiro, por intermédio de “inventérios, registros, vigilancia, tombamento e desapropriagao, e de outras formas de acautelamento e preservacdo” e de punir aqueles que cometerem “danos e ameagas ao patriménio cultural”. Todas essas tarefas foram atribuidas ao (Iphan), criado na segunda metade da década de 1930, no governo Vargas. A estrutura administrativa desse érgdo, ora vin- culado ao Ministério da Educagao, ora ao de Cultura, sofreu uma série de reestruturacées. Entretanto, ele continua atendendo as disposigdes constitucionais e as recomendacées pertinentes aos compromissos firmados entre os paises signatarios das convengées do patriménio, lideradas pela Unesco e pelos drgios afins. Esses pactos contem- plados nas disposigdes da Constituigéo brasileira regem as agées do Iphan e norteiam as intervengdes ap SOdnis ap eAeIoIUI ep a jesnyjno eJajsa eu Opeisy op jeded oe ojuenb epiAnp werexiep ogu sesAryed Se]aq OF} ep Jesedy * feuoloeu eNIjND ep sazuoy se OSse0e,, OP 2 SIINIIND SOYeJIP SOp O1DIDJaxa OUaI Op Opuas ou seuRses nozwuode ‘oRSinzysuOD ew -SelW ep GZ OsNse OU Oploajeqejsa oe epewos ‘oes “JUep essy ‘sejap opeinsas no sreinjjno-oonsne sagsejsajiuew e sopeulsap saQseoyipa 2 soja -noop ‘sojelgo ‘seiqo sep 2 seoiSqjouDa} 9 svolsnse ‘SBOIJIJUSIO SoQSeLIO sep W]e JOAIA a Jazej Teo ap SOPOU SO 2 ORSsatdxe ap seUO} se jesNyNo o1UQU -lyed OWOd NINsUNSIP OUNIU! {Nd ‘gg¢6] ap ORSINI -SUOD ep 9[Z OSIe Op sacdisodsip se ‘sayue sow -eyoydxe ef OUD Yeapueze e OpuRsIA a}UaUIa}UaeI SOPelID WRJOJ SOJAT] SOWyjN oenb sessq ‘saresn7] sop a sagdeiqajas sep ‘oesseidxq ep SeLUIO{ SYP ‘salaqes Sop o4jsIBayY OP SOJAT] soU SOpeIISI504 OBS JeayeUI BZIINJeU ap SE ‘sepeoldy Sey Sep 2 Sal sejeg sep oquo] ap ‘ooojsiLy Oquio] ep ‘oonsisesrey a oolpessourg ‘oasojoenbuy OqUIO] BP SOJAI] SOU SOpedIfIssEjO ORS selNaTeLU eZaI “NTEU AP SE ‘SI2AJsueIUI a sIgAJSUR) sudg ap O.jSIB0I Op Wedndo as OGQUIO} ap SOJAT] ONO ‘sosayisesq ses “nyno sueq sop ogdseAsasaid 2 ORSuNsIp e ajUeIPeW Opuenze Wad ued] O ‘Isesg Op oeSinzYsUO_D e 2 sreU ~O}DBUISIUI SBQSsNOSIp se WOO eIOUBUOSUCD WY “seoO] Sepeplsoine sejad ou no sopiajoAueasep Woe.es e sresnyjno sew 69 [D}4a] DW] [D4INIIND o1ugwiszog a anb oO wre { @» | -eJ801d a sojafoid so wWauljep anb Japod ap seos ~f9ep selouRsul & sajueUTe seseNDIed soyueduia 2 sassedu ep ovSnjoses e esiA anb (srenpeqsa no srediorunuws) 1eyUawedwoo ovde|siso] ap oede} ~Uewa|du ejed sepejduiaquos seoyioadsa sagqysenb WO @S-e}UOYUOS ‘oNNO Jod ‘soqUsUFeYyUIUTeDUS sie} ered soalyewsou segiped a seziyeq ‘sreuoloeu ® SfeUO}OBUJS}UI SOJUSLUNDOP SoU aseq WOD ‘aDa]eq -e1sa anb Zaa Pun ‘oluguuluyed Op oxSeasaseid ap sosse00Jd sou jelpsousiid jaded un awinsse ueyd] © ‘ope; win sod ‘ag “SOLPIIGOUT so Jeloadsa we ‘SODILUQUODS 2 sooNjod S@SS212}UI WOd as-esedep ‘Ore1 OBU ‘3 OJU@UTeqQUIO} 2 epsenBerjes ap souryd @P OLSEZI}9JNUON & 2 epezeioadsa eiqo-ap-oeus ep : | “UBWAP SOLEIUSAUI ap ORSezIeas e ‘srewopy * sreanyjno sojafod 2 seuessoid ap oyUeUeIoURULY O ered ‘epinby BeINGI4} eYe0e ens ep 03420 Jod soudgp ooUTD aye euNyNd B OJUE@WO},, ap srenpejsa sopunj ap oeSelo ep eysodo.id ep ore Jod ovdenils essa seziuaue opeosng eyue} (¢99Z) Gp aU JeuoIONysuoDd epuewy e (B4oquia ‘aqeses anb someoueuy sosinoas sopeyul] sojad a yeuoioeu OH931449} OsueUs! 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