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A agricultura portuguesa e a Politica Agricola Comum A agricultura portuguesa nao pode ser compreendida sem perceber a sua integrac3o nas politicas comunitarias, que a adesao & Unido Euro- peia implicou. A Politica Agricola Comum (PAC) foi criada para proporcionar aos cida- daos da Uniao Europeia alimentos a precos acessiveis e garantir um nivel de vida equitativo aos agricultores. Passados mais de 50 anos, a Unido Europeia adaptou a PAC as necessidades da sociedade em cons- tante mudanga. Esta parceria entre os agricultores e a Europa foi progre- dindo com o tempo, salientando-se trés fases: A potencializagao do uso do solo agrario . ‘A Unido Europeia foi construida a partir da devastacdo da Segunda Guerra Mundial. Os seis paises que assinaram o Tratado de Roma, em 1957, comprometeram-se a no permitir que a Europa voltasse a passar pela situacao de fome e privacdo do pés-Guerra, Na verdade, até finais da década de 50 do século XX, em alguns paises da Europa ocidental, continuava a verificar-se o racionamento de alguns produtos alimenta- res basicos. Em 1962, entra finalmente em vigor a Politica Agricola Comum, assente em trés principios fundamentais, que constituem o seu primeiro pilar: ‘= mercado unificado (livre circulacdo de produtos agricolas no territ6- rio dos estados-membros); = preferéncia comunitaria (protegéo do mercado interno comunitario face aos produtos importados de paises terceiros a precos baixos e face as grandes flutuagées de pregos no mercado mundial); + solidariedade financeira (todas as despesas e gastos resultantes da aplicagao da PAC séo suportadas pelo orcamento comunitario). 12 pilar daPAC \ Preferéncia | comunitéria \ Mercado Solidariedade f “financeire Criado com a funcao de financiar as medidas proclamadas pela PAC, ‘surge o Fundo Europeu de Orientacao e Garantia Agricola (FEOGA), que, a partir de 1964, passa a ter duas seccdes: «a de Garantia (FEOGA-G), que suporta as despesas decorrentes do funcionamento da componente de precos e mercados; «a de Orientacdo (FEOGA-O), destinada ao financiamento da compo- nente estrutural da PAC. Doc.1 Primeira geracdo da PAC Quando a PAC arrancou, muitos pequenos produtores da geragao do pés-Guerra ainda ordenhavam manualmente as suas vacas e limpavam os terrenos com foices. Para estes, tal como para a so- cied&de em geral, as memérias da escassez e das filas de abaste- cimento alimentar continuavam ainda bem vivas. Os subsidios da PAC ajudou-os a adquirir equipamentos, a renovar infraestru- turas agricolas e a obter melhores sementes e fertilizantes. Com receitas superiores, estariam em condigdes de contrair emprésti- mos bancérios para desenvolver os seus negécios. A producdo ali- mentar aumentou, mas mantinham-se as dificuldades da vida rural. Os agricultores foram envelhecendo e os filhos nao pare- ciam dispostos a seguir 0 mesmo ramo. Fonte: A Politica Agricola Comum — a historia continua, Comissio Europeia, 2012 Entretanto, como resultado da PAC, comeca-se a restaurar a capacidade de autossuficiéncia alimentar da Europa. Contudo, o "muito" tornou-se “demasiado’, resultando dai uma crise de superproducao. Apoiados por precos minimos garantidos, os agricultores atingiram nos anos 70 do século XX um ponto em que estavam a produzir mais alimentos do que era necessario, o que originou excedentes dispendiosos e constrange- dores em termos politicos. {9 de moredictnes) 0 Tote Wie WTB WOO WH WHA TOS 1968 THO WHR WHE TEE Ww2E 2000 2002 (Anon Sie ie Risossstenca) Evolugdo da autossuficiéncia relativamente a determinados produtos agropecusrios na Unido Europela, Fone: Comissio ropa Efeitos da implantagao da 1.* fase da PAC: Assim, a partir do inicio dos anos 80, foram introduzidas medidas desti- nadas a adaptar mais a producao a procura de mercado: ~ sistema de quotas; -aplicacao do set-aside, Set-aside Retirada de 15% de terras da érea de produgao de cereais (setor de producao excedentario na Unigo Europeia), em exploragdes que ultrapassassem, em média, a produgSo de 92 toneladas por ano. Na sequéncia desta Ultima medida, os agricultores eram, assim, com- pensados com um subsidio de valor idéntico ao que obteriam caso as terras estivessem cultivadas. Por outras palavras, 0 agricultor era pago para nao produzir, ao contrario do que se praticava anteriormente. Entretanto, em 1986, sob a pressao do GATT (Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio), no Uruguai Round, iniciou-se uma tentativa de acabar com as protecdes aduaneiras definidas na PAC, para fazer face & continua liberalizacdo do comércio mundial e possibilitar a entrada dos paises em desenvolvimento nos mercados internacionais. Neste contexto, em 1992, devido aos resultados pouco satisfati tidos, implementou-se uma profunda reforma da PAC. Assistiu-se ao reforco de algumas medidas que ja estavam a ser imple- mentadas (como a do set-aside), a par de outras, como: "a concesséo de reformas antecipadas a agricultores com mais de 55 anos; +a atribuigdo de incentivos financeiros a agricultores empenhados em aplicar praticas agricolas pouco poluentes (por exemplo, a agricultura biolégica); =o apoio a reconversao de terras agricolas em areas florestais. Doc.2, Segunda geragfio da PAC Para a segunda geracaio da PAC, a vida dos agricultores foi dife- rente, mas néo foi mais facil. Os que decidiram dar seguimento aos negécios de familia depa- raram-se com uma nova realidade. Os agricultores estavam a produzir em excesso, dando origem a excedentes. Foi lancado um processo de reforma para equilibrar a oferta e a procura. Na dé- cada de 90, a qualidade dos alimentos, a seguranca dos alimentos eo bem-estar animal eram pontos prioritérios na ordem do dia. Foi também uma época em que 0s agricultores tomaram maior consciéneia de outro tipo de responsabilidades, como a protegaio do ambiente e a gestao prudente e sustentavel dos recursos natu- rais. Fonte: A Politica Agricola Comum a histéria continua, Comissao Europeia, 2012 Em conclusao, no ambito da reforma desta politica, a Unido Europeia decide passar do apoio ao mercado ao apoio ao produtor. Perante a per- sisténcia de excedentes e do forte peso das despesas com a agricultura No orgamento comunitério, foi substituido o sistema de protegdo as- sente nos precos por um sistema de ajudas compensatorias aos rendi- mentos (apoios por hectare e por cabeca de gado). Assim, eram atribui- dos subsidios aos agricultores em funcao da dimensao das exploracées e do ntimero de cabecas de gado. A nova PAC passa a centrar-se mais na qualidade dos alimentos. A poli- tica introduz medidas novas para apoiar 0 investimento nas exploracées agrticolas, na formacao, no melhor processamento dos produtos e no marketing. Sao dados passos com vista a protecdo dos produtos alimen- tares regionais ¢ tradicionais. Foi implementada a primeira legislacio europeia em matéria de agricultura bioldgica. Em 1997, a conjuntura internacional, o alargamento da Unido Europeia a0s paises da Europa central e oriental, a preparacdo para a moeda nica, a crescente competitividade dos produtos dos paises terceiros ea nova ronda de negociagdes da Organizaco Mundial do Comercio, con- duziram a uma nova reforma da PAC, no ambito da Agenda 2000. Esta reforma foi a mais radical e a mais global da PAC, desde a sua funda- 40. Proporcionou uma base sélida para o desenvolvimento futuro da agri- cultura na Unido, abarcando dominios econémicos, ambientais e rurais. ‘Agenda 2000 Programa de ago adotado pela Comissao Europeia, em Julho de 1997, no sentido de apresentar um documento conjunto sobre 0 alargamento, a reforma de politicas comuns ¢ o futuro quadro financeiro da Unio Europeia a partir de 2000. Concretamente, a reforma contemplava os seguintes objetivos: sreforcar a competitividade dos produtos agricolas no mercado do- méstico e mundial; =promover um nivel de vida equitativo e digno para a populacéo agricola; *criar trabalho de substituicao e outras fontes de rendimento para os agricultores; = definir uma nova politica de desenvolvimento rural (segundo pilar da PAC); *incorporar na PAC consideragdes de natureza ambiental e estrutural mais amplas; =melhorar a qualidade e a seguranga dos alimentos; = simplificar a legislacdo agricola e a descentralizacao da sua aplicacao, a fim de tornar as normas e regulamentos mais claros, mais transpa- rentes e de mais facil acesso. Os agricultores foram incentivados a ter em conta o mercado e nao ape- nas a produzir desmesuradamente: era necessario comecar a responder as necessidades e novas prioridades dos consumidores, em termos de qualidade e seguranga alimentares. Desta forma, os agricultores passam a ser encarados como protagonis- tas do espaco rural, contribuindo de forma significativa para as econo- mias locais. 0 desenvolvimento rural passa a ser um conceito integrante da PAC, abrangendo o desenvolvimento econémico, social e cultural do territ6rio rural da Unido Europeia. O que esta em causa é a sobrevivencia do meio rural enquanto contexto de vida, profissional e de lazer. Em 2003, sd aprofundadas as metas da Agenda 2000. Em 2007, 0 FEOGA é substituido por dois subsidios: pelo FEAGA (Fundo Europeu de Garantia) e pelo FEADER (Fundo Europeu Agricola para 0 Desenvolvimento Rural). Doc.3 Terceira geracio da PAC A atual geragao de agricultores concilia os papéis de agricultor, protetor da paisagem natural e empreendedor. As reformas tor- naram os agricultores mais orientados para o mercado. Alguns deles processam géneros alimentares nas exploragées agricolas e comercializam-nos a nivel local, estimulando a: economia rural. Os agricultores apoiam as suas comunidades através do turismo rural, da criacdo de novas empresas e de atividades culturais. Ao fazé-lo, contribuem para garantir o futuro das préximas geragdes de agricultores. Fonte: A Politica Agricola Comum ~«@ hist6ria continua, Comissao Europeia, 2012 Desenvolvimento histérico da PAC Na atualidade, a PAC confronta-se com uma série de desafios, que convidam a UE a fazer uma escolha estratégica para o futuro a longo prazo da sua agricultura e das suas areas rurais. Assim, em 2011, 40 apresentados os trés principais objetivos para a futura PAC, a imple- mentar no periodo 2014-2020:

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