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PRINCIPAIS TÓPICOS DA NOVA ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA

*
José Geraldo Pereira Baião

Nosso objetivo neste pequeno texto é expor as principais alterações introduzidas pelo novo
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que entra em vigor, facultativamente, em janeiro de 2009 e,
obrigatoriamente, a partir de janeiro de 2013.
Primeiramente, deve-se observar que não houve mudança em relação à língua portuguesa,
mas sim no registro escrito dessa língua. O Acordo é meramente de caráter ortográfico, não afetando,
portanto, nenhum aspecto da língua falada. Por exemplo, mesmo tendo sido suprimido o trema sobre o "u"
em "tranquilo", a pronúncia do vocábulo continua a mesma, com o "u" sendo pronunciado normalmente,
como antes do Acordo.
Uniformização ortográfica nada tem a ver com uniformização da língua. Mesmo se adotando
uma ortografia praticamente comum, continuarão a existir as diferenças entre as diversas línguas
portuguesas tanto em nível de nações (português de Portugal, de Angola, do Brasil, etc.) quanto em nível
da pluralidade linguística num mesmo país (os falares gaúcho, mineiro, baiano, no caso do Brasil, por
exemplo). Deve-se ter em mente que o Acordo Ortográfico visa a uma padronização unicamente no nível
escrito da língua portuguesa.
Um dos objetivos centrais do Acordo Ortográfico é a criação de uma comunidade de países de
língua portuguesa que se constitua num grupo linguístico expressivo, capaz de ampliar seu prestígio junto
aos organismos internacionais, além, é claro, de unificar e potencializar o mercado editorial de língua
portuguesa em nível mundial.
Vejamos a seguir as principais alterações introduzidas pelo novo Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa:

1) ALFABETO

As letras "k", "w" e "y" passam a integrar oficialmente o nosso alfabeto, que passa a contar com
26 letras. Tais letras aparecem em nossa ortografia com frequência na escrita de símbolos de unidades de
medida, tais como "km" (quilômetro) e "w" (watt), ou na escrita de palavras estrangeiras (e seus derivados),
tais como "show", "Kafka" e "kafkiano", por exemplo.

2) TREMA

Não se usa mais o trema (¨), sinal gráfico colocado sobre o "u" pronunciado e átono dos grupos
"que", "qui", "gue", "gui".
Como era: Como fica:
cinqüenta cinquenta
tranqüilo tranquilo
agüentar aguentar
pingüim pinguim
Como já foi dito anteriormente, a pronúncia desses vocábulos não foi alterada, ou seja, em
todas elas continua-se a pronunciar o "u", mesmo sem a presença do trema.
O trema, porém, permanece nos nomes de origem estrangeira (e seus derivados): Süssekind,
Müller, mülleriano.

3) ACENTUAÇÃO GRÁFICA

Primeiramente, não se deve confundir "acento" com "acento gráfico". O vocábulo "acento"
refere-se à intensidade mais forte com que se pronuncia determinada sílaba e que a destaca, assim, em
relação às outras sílabas numa mesma palavra. Nem todo acento, contudo, é marcado graficamente na
escrita. Na palavra "livro", por exemplo, tem-se a presença de acento na sílaba "li", que é pronunciada com
mais intensidade do que a sílaba "vro", no entanto esse acento não é marcado graficamente. Palavras como
"computador", "apartamento e "tatu" são acentuadas, só não o sendo graficamente.
Assim, não é correto dizer que, com o novo Acordo Ortográfico, acabaram os acentos de
palavras como "jiboia" e "feiura", por exemplo, já que tais vocábulos continuam mantendo as suas sílabas
tônicas ("jiboia" e "feiura") e, portanto, apresentam acentuação. Outro equívoco é chamar o trema de
acento, já que esse sinal gráfico não indica tonicidade e sim prosódia, ou seja não marca a sílaba forte da

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Mestre em Linguística pela Universidade de Brasília, professor e revisor da "Revista do Tribunal Superior
do Trabalho".
palavra, mas sim indica que o "u" deve ser pronunciado (numa palavra como "agüentar", apesar de o trema
aparecer na sílaba "güen", o acento, não marcado graficamente, recai sobre a sílaba tônica "tar").
Seguem-se abaixo as modificações introduzidas pelo novo Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa em relação à acentuação gráfica:

a) Não se usa mais o acento gráfico dos ditongos abertos "éi" e "ói" dos vocábulos paroxítonos
(aqueles cuja tonicidade recai sobre a penúltima sílaba).
Como era: Como fica:
alcatéia alcateia
apóia (verbo) apoia (verbo)
asteróide asteroide
colméia colmeia
estréia estreia
Observação: se o vocábulo for oxítono (tonicidade na última sílaba) ou monossílabo tônico, o
acento gráfico permanece. Ex.: herói, troféu, rói (verbo), chapéus, papéis, dói (verbo), réis.

b) Nos vocábulos paroxítonos, não se usa mais o acento gráfico no "i" e no "u" tônicos quando
vierem depois de ditongo.
Como era: Como fica:
feiúra feiura
maoísta maoista
Observação: se o vocábulo for oxítono e o "i" ou o "u" estiverem em posição final (seguidos ou
não de "s"), o acento gráfico permanece. Ex.: Piauí, tuiuiús.

c) Não se usa mais o acento gráfico no hiato "oo".


Como era: Como fica:
abençôo abençoo
enjôos enjoos
magôo magoo
vôos voos
zôo zoo

d) Não se usa mais o acento gráfico no hiato "eem" que finaliza verbos.
Como era: Como fica:
Eles crêem Eles creem
Eles dêem Eles deem
Elas relêem Eles releem
Elas revêem Elas reveem

e) Não se usa mais o acento gráfico diferencial nos seguintes casos:


- "Para" (verbo)
Como era: Como fica:
Ele pára o carro. Ele para o carro.

- "Polo" (substantivo)
Como era: Como fica:
O navio foi ao Pólo Sul. O navio foi ao Polo Sul.
Ela gosta de jogar pólo aquático. Ela gosta de jogar polo aquático.
Ele foi o pólo das últimas notícias. Ele foi o polo das últimas notícias.

- "Pelo" (substantivo)
Como era: Como fica:
O gato tem pêlos brancos. O gato tem pelos brancos.

- "Pera" (substantivo)
Como era: Como fica:
Ela comeu duas pêras. Ela comeu duas peras.

- "Pelar" (verbo)
Como era: Como fica:
O açougueiro péla o porco. O açougueiro pela o porco.
Eu pélo o gato. Eu pelo o gato.
Permanecem os seguintes acentos gráficos diferenciais:
- "Pôde" (passado), para diferenciar de "pode" (presente)
Ontem ele não pôde vir, mas hoje ele pode.

- "Pôr" (verbo), para diferenciar de "por" (preposição)


Vou pôr o livro na mesa feita por mim.

- Na terceira pessoa do plural dos verbos "ter"/"vir" – e seus derivados, para diferenciar da
terceira pessoa do singular:
Ele tem bons amigos / Eles têm bons amigos.
Ela mantém a palavra / Elas mantêm a palavra.
Ele vem sempre aqui / Eles vêm sempre aqui.
Ela intervém na briga / Elas intervêm na briga.

4) EMPREGO DO HÍFEN COM ALGUNS PREFIXOS

a) Sempre se usa o hífen diante de "h":


anti-higiênico
super-homem
sub-humano

b) Prefixo terminado em vogal:


- com hífen diante de mesma vogal:
contra-ataque
micro-ondas
anti-inflacionário
semi-internato

- sem hífen diante de vogal diferente:


autoescola
antiaéreo
agroindustrial

- sem hífen diante de "r" e "s"; letras que, no entanto, devem ser dobradas:
antirrábico
antirracismo
antissocial
autorretrato
ultrassom

- sem hífen diante de consoante diferente de "r" e "s":


anteprojeto
semicírculo
agronegócio

c) Prefixo terminando em consoante:


- com hífen diante de mesma consoante:
inter-regional

- sem hífen diante de consoante diferente:


supersônico
intermunicipal
subsolo
Observação: com o prefixo "sub" usa-se o hífen diante de palavra iniciada por "r", como
sub-região e sub-raça.
- sem hífen diante de vogal:
interestadual
superinteressante
d) Com os prefixos "ex", "vice", "sem", "bem", "além", "aquém", "recém", "pós", "pré", "pró",
"grã", "grão" usa-se sempre o hífen:
ex-diretor
vice-reitor
sem-terra
bem-humorado
além-túmulo
aquém-fronteiras
recém-publicado
pós-parto
pré-vestibular
pró-aborto
grã-fino
grão-mestre

e) Usa-se hífen com o prefixo "mal" antecedendo vocábulo iniciado por vogal ou "h":
mal-estar
mal-humorado

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Dicionário escolar da língua portuguesa. 2.ed. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 2008.
AZEREDO, José Carlos. Escrevendo pela nova ortografia. Rio de Janeiro: Instituto Antônio
Houaiss/Publifolha, 2008.
BECHARA, Evanildo. A nova ortografia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
__________ . O que muda com o novo acordo ortográfico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
TUFANO, Douglas. Guia prático da nova ortografia. São Paulo: Melhoramentos, 2008.
ZANOTTO, Normelio. A nova ortografia explicada. Santa Maria: Editora da Universidade de Caxias do Sul,
2008.

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