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' DEFENSORIA PUBLICA GERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO REVISTA DE DIREITO DAs DEFENSORIA PUBLICA meena A DEFENSORIA PUBLICA NA CONSTRUCAO DO ESTADO DE JUSTIGA Dioso Ficuerteo0 Morera Nevo *... areflexo sobre uma ordem de liberdade e justiga, {que todos almejamos, no hé de estar ausente das pre- ‘ocupagées em tomo da plenitude da cidadania.” * Jost Nem oa Sevens SUMARIO 1. Introdugao. 2. A sociedade pluralista. 3. O Estado pluriclasse. 4. A ‘ordem juridica valiosa. 5. A diversificago dos interesses. 6. A defesa técni- a dos interesses. 7. As fungdes essenciais a justiga. 8. A plenitude da cidadania. 9. Principios constitucionais da Defensoria Piblica. 10. Os 6rgéos de atuagéo da Defensoria Piblica © seu regime juridico. 11. Conclusées. 4. INTRODUGAO instituigao da Defensoria Publica deve ser considerada no quadro ico contemporaneo. O ilustre magistrado de quem pedi emprestado te epigrafe deste trabalho, assinalou, em palestra repassada de ‘Sabedoria e de experiéncia, no quarto congresso nacional dessa categoria, '& modemidade dessa institui¢go, fruto do avango das ultimas décadas, 0 ue a torna ainda t&o pouco conhecida e t&o pouco trabalhada em doutrina. Essa atualidade, que no s6 ¢ da Defensoria Pablica mas, em geral, das fungdes essenciais a justiga que, em 1988, receberam tratamento Constitucional destacado no capitulo dedicado a organizaco dos Poderes do Estado, prende-se as profundas e vertiginosas modificagSes por que esto Passando a sociedade, o Estado eo direlto nos deoénios finais deste sécuio. Este artigo parte da visdo dessas trés basicas realidades, praticamen- te inextricaveis, aventura-se no campo movedico dos interesses e de sua (A Detensoria Pabca como Insrumento da Caden, palesra em Corum, Mato Grosso do Sul em 17 ‘e setombro de 1902 15 protecdo, sustenta indispensavel a extens&o do conceito de cidadania, si- {tua as fungdes essenciais a justica e, em especial, a Defensoria Pablica no Estado e na Constituigdo, examinando seus érgaos de atuac&o, regime juridico e seus principios constitucionais. ‘Alem da finalidade analltica, ao estudar essa instituig&o, o ensaio se- gue a tonica do mencionado quarto congresso nacional: reivindicar maior aatengao dos politicos e até dos profissionais do direito, em geral, para a Defensoria Publica no contexto das fungSes essenciais a justia, bem como para a ingente necessidade de desenvolver-the toda sua polivalente utilida- de em prol da cidadania e, por conseqdéncia, para a governabilidade de- mocratica da nag&o. 2. A SOCIEDADE PLURALISTA Uma das caracteristicas mais marcantes deste século foi, sem duvi- da, a superaco, simultanea, da sociedade de classes, no plano histérico, e do'monismo, no plano teérico. A nitidez das classes sociais definidas, que chegaram até & segunda revolugdo industrial em constantes embates pela hegemonia, sucedeu-se ‘a dispersdo e 0 esbatimento das inimeras concentragdes de interesses da sociedade contemporanea, composta de grupos ou centros de poder, um dos quais ¢ 0 Estado, que desempenham, reciprocamente, fungdes de con- tengo e de controle. Ao radicalismo das ideologias estatizantes, da mesma forma, opds-se © pluralismo, atacando os sistemas totalitarios por sua excessiva concen- trago de poder na institui¢do estatal. Atribui-se como fonte historica da concepeéo doutrinéria pluralista 0 proprio MONTESQUIEU, que anteviu, com sua preocupago sempre pre- sente com a excessiva concentragao de poder, a crescente importancia dos “corpos intermédios” da sociedade, cuja fungao principal seria a de evitar 0 despotismo. Embora esses corpos intermedidrios fossem a época, ‘@ nobreza € 0 clero, 0 papel que neles via o autor do Esprit des lois ‘semelhante ao que, multiplicadamente, desempenham as miriades de for- ‘mas agregativas das sociezades contemporaneas. Embora o pluralismo também possa assumir, a0 menos em teoria, uma exacerbagdo to radical quanto 0 monismo totalitério, sacrificando os interesses gerais, enfraquecidos a pretexto de sustentar interesses parti cularizados, o equillbrio vem demonstrando uma auspiciosa vitalidade his- (6rica, com uma cada vez mais nitida preocupaggo axiolégicat”. Essa aten¢ao aos valores e as solugSes sociais para harmonizé-los, deslocam 0 fulcro do Direito, que oscilou pendularmente da sociedade, ‘com 0 primado do Direito Civil, triunfante sobre os escombros do absolutis- 16 mo, a0 Estado, com o primado do Direito Publico, vitorioso sobre os exces- ‘sos do individualismo, para situar-se numa posico intermédia, que, como. se examinara adiante, encontra e define novos tipos de interesses valio- ‘sos, além das alternativas publico ou privado, que correspondia a antiga summa divisio romanista. Embora 0 pluralismo possa abranger tantas outras expressdes mais da experiéncia humana, que no apenas a politica — pois se pode falar de pluralismo filos6fico, religioso, estético etc. — todas elas vao depender, em | Gitlima analise, da afirmagao fundamental do pluralismo politico, pois s6 yrantindo-se a pluralidade dos centros de poder, a poliarquia, que se i yrara garantir suas demais manifestagées. i E no é noutro sentido que a Constitui¢éo de 1988 adotou como funda- j mento da propria Republica, o pluralismo politico, éxpressado logo no art. 1.°, V, e desenvolvido em inumeros out is tages especificas consideradas (art. 5. art. 37; art. 58, § 1;°, art. 61, §2.° art. art, 132; art. 133; art. 134; art. 170, IV; ‘sociedade pluralista sem seu consectario: o Estado Pluriclasse. _ 3.0 ESTADO PLURICLASSE - A sociedade que se repartia em duas ou trés classes bem distintas e | Caracterizadas por seus interesses dominantes comuns, correspondia, ne- __Gessariamente, um Estado monoclasse, isto é, aquele que a classe hege- | Monica constituia, para garantir a prevaléncia de seus proprios valores e, na- turalmente, sua perpetuagao na detencao da maxima concentrago de poder. fe as duas ou poucas classes que disputavam a hegemonia para ser réplica em miniatura da propria policracia da sociedade. __ Mas o modelo contemporaneo do Estado pluriclasse, para enfrentar AS Novas situagSes, resultantes da pluralizagdo de interesses e da disputa ‘08 varios centros de poder nele contidos, no s6 passou a se caracte- ela diversificagdo da representagao politica, trazida pelo sufragio al, como pelo novo fendmeno, ainda em curso, de admisso da par- Nos processos de poder politico de toda natureza A participacao politica deixou de ser uma singularidade e, até, uma idade, para ser uma forma de expressao indissocidvel do proprio con- 7 celto de democracia (), estendendo-se desde os processos de criago da lei (legistatura) aos de sua aplicagao executiva (administragao) e contenci- sa (judicatura). Em relago nao exaustiva, pode-se registrar, na Constituig&o de 1988, a especial énfase na participacao politica desde a afirmagao genérica ¢ fundamental do art. 1.°, paragrafo Unico, que, com a palavra ou, entre re. Presentantes eleitos e diretamente, com forca mais copulativa que ad. versativa, define-a suficientemer suas variadas = Pecificas: arts. 1.°, paragrafo ci ional no poderia deixar de condicionar e recondicionar toda a estrutura da ordem juridica, tanto para informé-la de seus valores como para instrumenté-la adequada- ‘mente para dar-Ihes efetividade. 4. A ORDEM JURIDICA VALIOSA Chega-se, assim, ao amago das transformag0es juspoliticas do Esta- do contemporaneo, com a mudanga do proprio conteddo axiologico do Di- Feito, conforme antecipou-se com a digressio sobre o impacto do pluralis- mo (nota 1), Com efeito, a ordem juridica do Estado monoclasse no poderia dei- xar de espelhar fielmarsi2 os valores da classe hegemOnica e, para isso, 0 Conceito positivista do Direito serviu a contento: como nenhum valor pode- tia prevalecer sendo aqueles adotados expressamente na legisla¢o, tudo ‘se reduzia a legalidade. Em outros termos: legalidade e legitimidade eram, por principio, a mesma coisa. Todo o trabalho do intérprete, em conseqdéncia, se resumia a buscar na lei, e apenas nela, a regra a ser aplicada. Distintamente, a ordem juridica do Estado pluriclasse, n&o tendo como submeter a variedade e a cambiancia dos miltiplos valores da sociedade pluralista a geometria do positivismo juridico, diversificou seus fundamen- tos axiologicos para reincorporar 0 esquecido conceito da legitimidade e, até, para deixar-se pervadir pelo da licitude, numa fase mais recente de sua evolugao. ‘A legalidade, como a submissa0 do poder @ vontade da lei, jé havia Produzido, nos primérdios do liberalismo, o Estado de Direito, ainda numa expressao monoclasse. Foram necessérias, todavia, trés guerras mundi- 18 ais, duas quentes e uma fria, o holocausto de milhdes de vidas humanas e ‘0 sacrificio de geragdes, para triunfar a legitimidade, como o conceito de ‘submiss4o do poder a vontade consensual da sociedade, possibilitando a formago do Estado Democritico, Essa longa marcha se acelera, agora, neste final de século e de milé- nio, com a promissora incorporagao da licitude, ja como a submissaio do | poder a moral , Numa etapa capaz de preparar o advento da plenitu- | de ética na pol Estado de Justica j Ter-se-4, com esse passo, dado uma nova e alvigareira oportunidade i de orientar as sociedades humanas para uma convivéncia valiosa, pois a humanidade tem uma natureza moral e, dadas as necessérias condicoes objetivas tendera a seguir os seus principios A Constituigso de 1988 também registra cor lismo ético da ordem juridica nacional por ela inst 86 esta na afirmagao vestibular do Estado de ‘como em todo 0 elenco dos direitos e garar principio geral da reserva legal, do art. | hotocante a administracao publica, A | fio frontispicio da Carta Politica, ao me __tado Democratico, no art. 1.°, caput, mas se reforca em inimeras outros ~ispositivos, como o pardgrafo unico do art. 1.°, oart. 14, expressamente, ~ 2art. 70, no tocante & administrac4o piblica. A lieitude, por fim, embora a ‘Constituicéo no tenha avangado ao ponto de proclamar a construgdo de lum Estado de Justica, esta presente em nada menos que cinqdenta e oito Mengbes a moralidade no seu texto", sendo que dez dedicadas a morali- dade na administragao publica ®. Nao ha duvida, portanto, que mesmo sem a expressa referéncia ao Justiga, como principio fundamental do Estado brasileiro, essa “es- la polar da realidade social’, na imagem de STAMMLER, se faz profusa- te presente na Matriz do ordenamento juridico nacional, no faltando, luer, como adiante se desenvolverd, sua direta invocagao, ao tratar advocacias lato sensu. a constituig&o de um Es- "A DIVERSIFICAGAO DOS INTERESSES O fenomeno sociolégico central nas sociedades pluralistas 6 a multi- © a diversificagao dos interesses, ao mesmo tempo em que a sua passa a ditar novas concentragbes de poder visando a sua res- ‘afirmacao social, promog&o e protegdo. Desaparecida a classica dicotomia, sancionada pela ordem juridica brante vinte séculos, entre interesses privados e pilblicos, oferece-nos, a 19 sociedade poliarquica, um quadro caleidoscépico e fascinante, no qual as novas manifestag6es de interesse refogem 4 geometria da antiga summa divisio e demandam, na pratica, novos sistemas de promogao e protecaoe, na teoria, novas formulagbes destinadas a disc i: Foi, com efeito, a presso dos problemas do dia-a-dia que levaram ao desenvolvimento de solugdes praticas, como a criagdo jurisprudencial das ‘lass actions norte-americanas, que acabaram suscitando as diferencia ‘ges processuais tedricas para a tutela de interesses: primeiramente, para 08 interesses coletivos e, depois, estendidas para os difusos ®. Com 0 tratamento substantivo cada vez mais aperfeigoado dessas novas categorias de interesses, 0 que se verifica afinal é que todas elas convivem e no se excluem, 0 que nao quer dizer que ndo possam se antagonizar entre si, mas essa conflitualidade ¢ a propria marca da coe- xistencia de hoje dos diversos tipos de interesses. O indesejado ndo € 0 conflito mas a sua permanéncia insolucionada Essa diversificagdo dos interesses: pablicos ¢ privados, individu- ais e metaindividuais, e, entre esses, coletivos e difusos, trouxe, como consequéncia, a inanidade do conceito estritamente legalista da ordem ju- ridica para superar os novos tipos de confltos, justificando-se, por mais essa razdo, 0 recurso aos critéiros da legitimidade e da licitude, em novo quadro de referéncia da ordem juridica. Essa célebre evolugo, toda ela ocorrida no espago de pouco mais de um século ® trouxe, também, com ela, uma complexidade maior no ‘emprego dos meios processuais civis para suscitar a tutela jurisdicional dos noves direitos, coletivos e difusos, O cidadéio comum, hoje em dia, no ¢ titular apenas de direitos priva- dos e piblicos, mas compartiha com a sociedade ou com certos segmen- tos dela, indimeros interesses difusos e coletivos, ‘Sua insergo na sociedade civil aumentou; sua participagao na socie- dade politica também; as possibilidades de confito se multiplicaram e as dificuldades, para defender esses miiltiplos interesses, também. © cidadéo Gomum, com interesses bastante limitados no passado, tomou-se, com isso, pluritacetico, expandindo sua esfera de interesses: ‘cada um deles Ihe conferindo um interfacies social, e quanto mais interes- ses tivesse, mais imerso na sua sociedade. E € verdadeira a reciproca, Porque da sua propria participagdo cidada ativa vem a desdobrar-se ainda novos interesses, novos confltos e novas necessidades de protego, num proceso ciclico de integragao sécio-politica E nesse quadro da nova cidadania que a defesa técnica dos interes- ses deixou de ser meramente auxiliar para se tornar essencial, como se expord a seguir 20 6. A DEFESA TECNICA DOS INTERESSES Toda copiosa diversificagao de interesses, produzida na sociedade contemporanea, nada significaria se a eles no houvesse correspondido ‘uma correlata multiplicago de instrumentos legais adequados para sua afirmagao ativa ou passiva Definiram-se, portanto, reservas de poder na sociedade para novas modalidades de provocacdo do Estado, expressamente reconhecidas as pes- ‘8025 fisicas ou juridicas, nacionais ou estrangeiras, cidaddos ou no, confor- me a natureza de cada interesse a ser exercido ou defendido enquanto direit. Essas reservas conformam, assim, mais um aspecto do fendmeno igeral de devolucdo de poder a sociedade civil, a sistole do Estado que, ‘somado ao da complexidade crescente da sua atua¢o e de seu proprio Direito, exigiram a instituigdo de novas fungées de controle de juridicidade. Diversificaram-se, e especializam-se, 20 crescerem em numero, es- sas miltiplas fungSes de controle: caracterizam-se as preventivas © as _ represssivas; as fiscalizatorias e as corretivas, as postulatorias ¢ as ‘consultivas; as parlamentares, as administrativas e as judiciarias; as iversais ¢ as particulares; as concentradas e as difusas etc. - tudo a que nenhum interesse fique desprovido de seus instrumentos de ga- tia, nao importando até que para a mesma tutela de interesses acudis- Thais de uma via opcional de fungao de controle. Ora, é evidente que isso no poderia ter ocorrido sem que se tivesse do uma especial atengao a manutengao da devida igualdade constitu- r por outa, exigindo-se que a defesa de ibém, com um minimo de competéncia onal para que o deslinde da conflitualidade pudesse ocorrer por tivos substantivos e no por eventual desdobramento na qualidade da dos confitantes, | Emconsequiéncia, sempre que se encontre em jogo a defesa de inte- , incluindo 0 exercicio da fungao de controle, seja perante o Poder pidrio, estuario final e inafastavel de todas as controvérsias, com as 383s excegdes constitucionais, seja perante o Poder Legislativo, seja ‘0 Poder Executivo, todo o sistema de controle da juridicidade que a igualdade de tratamento que a todos deve ser dispensada a defesa técnica. Especificamente, essa demanda de defesa técnica torar-se-a manda- Hla quando se trate de acesso a0 Judiciaro, razo pela qual foi arvorado em tipi constitucional, implicito nos arts. 5.°, LV e LXXXIV, 133 e 134. __Em suma, reconhece, a Lei Maior, que s6 € possivel garanti laidade das partes em juizo quando todas estejam tecnicamente assisti- 24 das e como corolério, embora sem similar rigor constitucional, mesmo para atuar perante 0s demais Poderes impde-se 0 resguardo da igualdade dos interesses em confronto. Com efeito, 0 exercicio das fung6es de provoca- {980 de controles extrajudiciais, tampouco podem prescindir, para sua de- sejada eficiéncia, desse minimo de assisténcia ou representago técnica, sem o que se dificulta ou se impossibilita a realizaco da expresso mais lata e, por isso, mais auténtica da justica: pois justica restrita, limitada ou condicionada acaba sendo a sua propria negacdo. Al esta 0 fundamento da moderna caracterizagao constitucional das “Fung6es Essenciais a Justia’, que serao examinadas adiante. 7. AS FUNGOES ESSENCIAIS A JUSTICA A realiz.1¢&0 da justica, em seu sentido mais extenso, tal como hoje a ‘evolugao do tic Ultrapassada a prevaléncia do conceito organico de poder, que acei- tava a divisao do Poder Estatal entre entidades e orgaos diversos, fixa-se, hoje, a doutrina, no conceito funcional, que entende uno, o Poder esséncia, como resultado de uma concentracao sécio-poli vel em seu exercicio, como produto de uma descentralizago jus um quarto complexo organico que, embora no conformando um quarto Poder, recebeu @-seu cargo a fun¢ao essencial de provedoria da justica Perante todos os demais Poderes do Estado. Repise-se que o legislador constitucional nao as instituiu como fun- ges ‘auxiliares”, dispensaveis ou substitulveis, mas como fungées “es- Senciais’, no sentido de serem tao imprescindiveis a existéncia do Estado Democratico de Direito quanto qualquer das demais do mesmo Titulo lV, 0 {que as submete ao mesmo principio da harmonia e independéncia entre as manifestagbes de Poder do Estado, consubstanciado no art. 2.°, da Consti- tuigdo, e algado a clausula pétrea, no an. 60, par. 4. I 22 A essencialidade a justica, insista-se pois, ndo se deve entender que se refira apenas a apo que desempenham perante o Poder Judiciario, ou seja, perante a “Justiga” no sentido organico, mas, verdadeiramente, referida a todos os Poderes do Estado, enquanto diga respeito a realizagao do valor justiga por qualquer deles. Justiga esta entendida, assim, no seu sentido mais amplo, condizen- | tecomtodos os valores que deve realizar o Estado Democratice de Direito, como finalidade ultima do poder na vida social, sem nenhum qualificativo parcializante que possa permitir que se restrinja, de alguma forma, tanto 0 Ambito de atuacao quanto a destinacdo das advocacias dos interesses ‘constitucionalmente garantidos. Aessencialidade deve ser compreendida, em consequéncia, como qualidade das fungdes de controle que thes cabe exercer, entendimento ‘este que venho sustentando coerentemente desde 1989, em sucessivos trabalhos sobre o tema, _____Esse entendimento juspolitico sobre a essencialidade a justiga veio ‘fabonado por SERGIO DE ANDREA FERREIRA, em 1991, nos seguintes e melhores termos: *O que se busca com a atuagao dessas institui- (g6es ¢ a realizagao da justiga, tomando esse termo no apenas no sentido de justica de estri- ta legalidade; de justica jurisdicional mas da justica abrangente da eqiiidade, da legitimida- de, da moralidade’. E insiste, 0 autor, no afa de dissipar dividas quase semanticas: “Nao nos deixemos impressionar com a énfase que alguns dipositivos desse Capitulo IV atribu- em ao relacionamento da atividade dessas insti- {uigbes com a fungo juriadiconal (of. arigos 127, 131, 132 e 134). E claro que a justi¢a, mesmo a abrangente, a compreensiva, se faz, em grande Parte, mediante a provocacdo e a prestago da fungao jurisdicional. Mas no sé através desse meio. E tanto ¢ assim, que a atuacao dessas ins- tituigdes se desenvolve, também, em face de tros Poderes’, suportando, essa corret ¢40, com varios exemplos constitucion: .Em suma, no ceme dessas fungbes essenciais a justica esta a pro- ‘dese valor sintese, na promogdo e defesa dos milltiplos interes- lue o homem desenvolve em sua convivéncia, dentro ou fora do Esta- ticados nos variados tipos de ministérios de uma unimoda advoca- 23 cla de interesses, aqui tomada em seu sentido lato, desdobrada no Capi- tulo IV, Titulo IV, na geral, na da sociedade, na do Estado e na dos neces- sitados. 8. A PLENITUDE DA CIDADANIA Por“plenitude da cidadenia"entendemos a que se constitu como um | dos “fundamentos do Estado Democratico de Direito’, sintetizado por JOSE NERI DA SILVEIRA, a par da dignidade da pessoa humana, e, possivel- se utlizem instrumentos eficazes para sua realizagso" Na mesma linha, sem contudo dizé-lo com a mesma clareza, publi- uma mera garantia de que a deciséo viré a ser, efetivamente, tomada de acordo com o interesse coletivo; entre provimento e decisio democrati- cos ha, portanto, uma relagao de meio para fim. Por outro motivo, AUGUSTIN GORDILLO, apoiando-se em autores como P. L. ZAMPETTI e SANCHEZ MORON, estabelece uma sinonimia entre de- 24 | mocracia e participagao e nos adverte que “todas as sociedades desenvolvidas tém mais sistemas participativos de diferentes tipos que as subdesenvolvidas’ ‘que se convencionou denominar de responsividade, dimensdo ético-pragmatica da ado politica que complementa a ja conhecida responsabilidade politi. Os dois conceitos, ja se tem afirmado, so talvez os mais cruciais na teoria democratica, por trazerem, em conjunto, como realmente o fazem, ‘08 problemas de conciliar a expresso da vontade democratica com a ra- cionalidade da ag&o politica. A partir dessa dicotomia é que se disceme o crescendo de uma das naturais tenses da democracia — entre 0 elitismo, propugnando o gover- no da razo ainda que legitimamente destravejado, ¢ 0 populismo, pro- ‘pugnando 0 governo do desejo, ainda que racionalmente ineficaz.” Acidadania 6, portanto, muito mais que o poder de escolher governan- a elcléncia do sistema de provedoria de justica Insttuldo no Titulo IV, Bpitulo lV, da Constituicdo. _ 0 interesse superior na juridicidade da ago do Estado passa a de- Rider mais de insttutos técnico-juridicos que de institutos sécio-politi- §© que destaca a essencialidade da advocacia lafo sensu. dvogar, ou seja, falar ao lado, ou melhor, falar em lugar de alguém, |Substuicdo da voz do llgo pela do téenico na sustentagao de interes Uridicamente protegidos, ¢ fungo de provedoria de justiga nas rela- imanas, segundo os padres adotados da ordem juridica 0 interesses, em gerald pessoas fscasejurdicas, podem ser providos Jos privados, sob regime contratual civil ou trabalhista (art. 135, CF). pe0e iteresses da sociedade, como um todo, ou de certos segmentos, ente os difusos e os legalmente indisponiveis, inclusive o interes 25 ‘se geral na zeladoria da ordem juridica, devem ser providos pelo Ministério | Pablico, sob regime estatutario (arts, 127 a 130, CF) Os interesses das pessoas juridicas de direito publico, a elas cometi- dos pela lei, devem ser providos pelos advogados do Estado (Procurado- res da Reptblica, ainda hoje, e, futuramente, Procuradores da UniAo, e, ainda, pelos Procuradores da Fazenda Nacional e Procuradores dos Estados do Distrito Federal), também sob regime estatutario (arts. 131 e 132. CF), doart. §.°, LXXIV, CF), devem ser providos pelos advogados dativos do Esta- do, os Defensores Publicos, também sob regime estatutario (art. 134, CF). ‘Todos esses interesses so valiosos, dependendo de inimeros fatores que deverao prevalecer, razo pela qual nao existe nem hierarquia entre eles nem, em conseqdéncia, entre os seus drgdos de provedoria respectivos. Destarte, se algumas das fungSes essenciais a justica merece destaque para a realzacéo da plenitude da cidadania, sem divida al esté a Defensoria Publica, ‘Sem Defensoria Publica, parcela substancial, quica majoritria da socie- dade, estaria condenada mais execravel sorte de marginalizago, além das ue ja sofrem, a econdmica e a social: a marginalizacao politica. Condena- dos, os necessitados, a serem cidadaos de segunda classe, perpetra-se o mais. hediondo dos atentados aos direitos, liberdades e garantias constitucionais, im. 9. PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS DA DEFENSORIA PUBLICA As carreiras juridicas piblicas, que exercitam as fungbes essenciais justiga, preferi denominar de *Procuraturas Constitucionais’, para distingui- las das “Procuradorias’, em geral, que nao tém ra nstitucional (dos Municipios, Territérios, autarquias, fundagées etc.) Embora as Procuraturas constitucionais tenham todas uma raiz co- mum, ao que se conhece, francesa, nos Procuradores do Rei, na época em ue emergiu a distingdo entre os interesses do rei eos interesses do reino. Seu desenvolvimento, até o estddio atual, configurado na Constituigao de 1988, foi muito irregular. Basta lembrar que a distincdo entre a advocacia da sociedade e a do Estado $6 veio a se aperfeicoar organicamente com a nova Carta Politica de ~ conhecimento de exercia ambas as 1988, pois, antes, a Procuradoria Geral da Repit onstituinte, quem fungbes. E nao faltou mesmo, na Assembiéia Naci considerasse um “retrocesso” separar as funcdes em duas procuraturas, ‘como lembra WOLGRAN JUNQUEIRA FERREIRA, comentando o artigo 131 da Constituig&o ‘Também a distingdo entre a advocacia dos necessitados e as duas outras s6 se aperfeigou com a atual Constituico, ‘comum que fosse exercida ora por membros do Ministério Publico, ora por Procurado- tes do Estado, antes de ganhar a necessaria autonomia, quando ndo as- ‘sumida pela Ordem dos Advogados do Brasil, em hipoteses limitadas. Nao obstante, talvez devido a erratica evolugéo, mas, principalmente ‘em razdo da apoucada compreensao do significado juspolitico das fun- ‘ges essenciais a justica, as procuraturas, mesmo na Constituicdo de 1988, feceberam tratamento desigual, embora seja inegavel que o simples re- lependéncia funcional e seu destaque dos Po- dderes do Estado ja tenham representado um notavel avango institucional “O Ministerio Pablico se apresenta, todavia, mais detalhado que as demais uraturas constitucionais, embora inexista, como jé se expos, qualquer tingo valorativa, nas fungdes adstritas a qualquer delas, que o justifi- ‘Ao contrério, ha uma determinag&o comum a todas, que bem defi- jualdade constitucional prevista para essas carreiras: a isonomia de imentos que entre elas deve ser observada ‘”, Tal igualdade se justifica também pelo fato de que as trés procuratu- no defendem interesses hierarquizados entre si. Nenhum interesse ‘supremacia absoluta sobre os demais: a prevaléncia de um interesse qualquer, publico, difuso, coletivo ou privado, depende da natureza de cada € da valoragao atribuida pelo ordenamento juridico. ._, ,. N0.se justifica, tampouco, sob essa dptica, nem que se discrime, em rm jativas e garantias, seja a advocacia privada da advoca- esta, que Se discrimine funcionalmente qualquer das procu- 3s. Ao contrario: o aperfei¢oamento institucional das fungdes enciais a justi¢a ha de seguir a linha apontada pelos principios dessu- dos do ordenamento constitucional, de modo a que se obtenha o maxi- 6 de prestancia de todas elas, na afirmagao de um Estado Democratico Direito. Server, portanto, os principios, que a seguir serdo examina- #80 propésito, de orientar a exegese do Capitulo IV, do Titulo IV, da tituigdio de 1988, segundo toda a linha exposta, de aperfeigoamento tado contemporaneo em diregao a realizacdo plena da justica Pode-se extrair do texto constitucional os seguintes principios: es- clalidade, institucionalidade, igualdade, unidade, organicidade 27 unipessoal, independéncia funcional, inviolabilidade, autonomia ad- ministrativa e autonomia de impulso. A essencialidade esta afirmada na propria designago constitucional das fungSes. Elas no podem deixar de existir, com as caracteristicas e rou- pagem organica que Ihes so proprias, e nem todas ou prejudicadas no seu titucional; explicita, cia Geral da Unio (artigo 131) e da Defensoria Publica, e aos Procuradores de Estado e do Distrito Federal (artigo 132), A igualdade decorre da inexisténcia de hierarquia entre os interes- ses cometidos a cada uma das fungSes essenciais & Justiga ; a igual im- portancia das fungSes determina a igualdade constitucional das procuratu- ras que a desempenham. A unidade, que consiste na inadmissibilidade de existirem instituigdes concorrentes, com a mesma base politica e com chefias distintas, para 0 exer- cicio das fungdes cometidas a cada procuratura, esta explicita no caso do Ministerio Pablico (artigo 127, § 1.°) e também da Advocacia Geral da Unido (artigo 131,§ 1.°), e implicita, para os Procuradores do Estado e do Distrito Federal e para a Defensoria Publica (artigos 132 a 134). A organicidade unipessoal decorre da fundamental e genérica con- digdo de advogado, estabelecida no artigo 133 da Constituigao. Cada agen- te das procuraturas constitucionais 6 um érgao individual, para empregar nomenclatura de MARCELLO CAETANO, com sua natureza institucional li- gada ao cargo, desempenhado com independéncia técnico-profissional. sso ‘esta explicto para os Procuradores dos Estados e Distrito Federal (artigo 132) mas fica implicito para os demais membros das procuraturas constitucionais ®, A independéncia funcional diz respeito a insujeic&o das procuratu- ras constitucionais a qualquer outro Poder do Estado em tudo 0 que tan- ge ao exercicio de suas funcdes essenciais a justi¢a. Mesmo o seu inter-relacionamento segue a propria férmula de independéncia constituci- i4o obstante poderem atuar, em tese, face a qualquer dos Poderes |, no podem a eles se sujeitar nem deles receber influéncia quanto a0 desempenho de suas fungdes. No que respeita a0 Ministério Publico, este principio esta explicito no artigo 127, § 1.°, mas resulta claro da pré- pria sistemdtica constitucional, que esta implicito para as demais procura- turas. Quaisquer vinculagbes existentes com 0 Poder Executivo, no Ambi- to administrativo em que se inserem sem, contudo, o integrarem, nao po- derdo interferir no exercicio das atividades de seus orgaos, tZo-somente segundo sua consciéncia e sua orientagao cientifica. 28 j A inviolabilidade & um consectario da independéncia funcional no que respeita as pessoas dos agentes piblicos das procuraturas consti- tucionais. Assim como nenhum dos Poderes pode interferir no desempe- inho das fungdes essenciais a justia, nenhum deles pode constranger, por qualquer modo, até mesmo pela manipulagao de remuneragao ou de qual- {quer outro direito, o agente nelas investido. O principio ficou explicito gene- ricamente no artigo 135, para todas as fungdes essenciais ajustiga, mas ha garantias especificas, de vitaliciedade e de inamovibilidade, que privilegi- ‘am os membros do Ministério Publico e da Defensoria Publica. Ainda as- sim, a mobilidade dos membros da Advocacia Geral da Unido e das Procu- radorias de Estado e do Distrito Federal nao podera ser arbitraria mas, ao Contrério, sempre com motivag&o transparente, para que no encubra ou mascare atentados a independéncia funcional e a inviolabilidade de seus agentes. ‘A autonomia administrativa consiste na outorga, as procuraturas -_constitucionais, da gesto daqueles meios administrativos necessarios para | garantir-se-thes a independéncia para atuar, mesmo contra os interesses ‘cabe-Ihes zelar pela juridicidade, desenvolvendo seu controle ins- I de provedoria através de atividades consultivas, inclusive ex-off- fiscalizagao “, e de atividades postulatorias, tudo conforme os de competéncia funcional e territorial proprios a cada uma delas. Inco limite & atuagao de defesa da ordem juridica, para essas ins- , 6 pode estar na prépria ordem juridica. A lealdade dos agentes uraturas constitucionais no se dirige aos Governos mas a ordem ndéncia: por isso F de impulso, do qual nao se devem demitir, nem mesmo por sagradar aos agentes de quaisquer dos Poderes, ainda que 0 fe do Poder Executivo, a quem cabe nomear os Chefes institucionais 29 das procuraturas constitucionais (artigo 128, § 1.°; artigo 128, part. 3. arti- go 131, § 1. | | cometidas sem prejuizo ou desnaturamento de su | Ministerio Publico desdobra-se em ramos locais e set | pre garantida a sua independéncia funcional (art. 127, § i Aadvocacia dos necessitados esta tratada, inovadoramente, no art. 434, conformando a Defensoria Pablica, também desdobrada em ramos Jocais (art. 134, paragrafo Unico), com as mesmas garantias constitucio- nais de inviolablidade profissional, as quais se acrescem as que a lei ihe estenda para garantir-he a independéncia necessaria em sua atuago A.aadvocacia do Estado esté tratada constitucionalmente apenas no que se refere a Unido, aos Estados e ao Distrito Federal, nos artigos 131. 4132, No que respeita a Unido, atua precipuamente a Advocacia Geral da Unido e a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, ambos org ‘vos; a previsdo de vinculag&o de 6rgaos @ instituicao central | put) ficou implicita no deferir-se a lei complementar a orgal "‘Subsistema (art. 29 do A.D.C.T.). A advocacia dos Estados-membros e do 40. OS ORGAOS DE ATUAGAO DA DEFENSORIA PUBLICA E SEU REGIME JURIDICO A Defensoria Publica presta “assisténcia juridica integral” (art. 5.°, LXXIV), que ¢ conceito bem mais amplo que o da antiga “assisténcia judici- aria’. Sua atuag&o passou a envolver as duas fungdes caracteristicas da advocacia: a de consultoria e a de representacdo, esta dilatada a extrajudi- cial, no que necessairio for a plena defesa dos interesses de necessitados, ‘S60, portanto, seus membros, advogados, embora impedidos de exer- cer qualquer outra funcéo advocaticia que no aquelas duas, em beneficio dos necessitados (art. 134, pargrafo Unico, in fine): a advocacia consulti- va @ a advocacia postulatoria advocacia consultiva é a expresso preventiva dessas fungdes, destinando-se a evitar o surgimento ou a permanéncia de agresso & or- dem juridica - a injuricidade - como quer que ela se apresente, decorra de ago ou de omisséo , na érbita privada ou pablica. Admite uma forma de atuar passiva, na quai a fungo é provocada pelo interessado, e uma forma ativa, na qual é exercida sem provocagao, em cardter fiscalizatério, ‘A advocacia postulatéria ¢ a expressao privativa das fungdes es- senciais a justiga, destinando-se a suscitar a atuagao de qualquer dos Po- deres do Estado, em especial o Judiciario, para a correg&o da injuridicida- de. Admite, por suposto, uma forma passiva, na qual a fungo é exercida sob demanda do interessado, e uma forma ativa, na qual ela é exercida ex- officio, por imposig&o da lei. © tratamento constitucional dessas fungbes e de seus respectivos Orgaos de atuacao esta definido, em seus lineamentos basicos, no referi- do Capitulo IV, do Titulo IV, da Constituig&o de 1988, sob o sistema a seguir exposto. ‘A advocaoia privada, implicit a consultiva e a postulatoria, esta tra- tada no art. 133, reiterando-se a sua indispensabilidade “a administragao indispensabilidade de sua funcdo ra a profisséo de advogado, a inviolabilidade por seus atos e manifestades, nos limites da lei, que veri a ‘ser 0 estatuto profissional do advogado em seu ministério privado, Aadvocacia da sociedade esté amplamente tratada nos artigos 127 ‘2 130, conformando o Ministério Publico, como instituigo permanente, es- sencial a funcdo jurisdicional do Estado, dai sua atuagdo ser desenvol- vida junto a0 Poder Judicidrio, com raras exceges, como o controle exter- cercar essas atividades essenciais a Justica. Quanto ao regime juridico, que se aplica & Defensoria Publica, recor- @ que o sistema constitucional inaugurado em 1988, na esteira das 5 constituigbes, privilegiou mais as fungdes que as estruturas, se expos A propésito de sua situagao juridico-constitucional, MARIO BERNAR- ESTA, Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, apre- jou uma tese ao XVI Congreso Nacional de Procuradores do Estado, em Porto Alegre (de 29 de outubro a 1.° de novembro de 1990), '@ nova metodologia de classificacao dos agentes pilblicos, que pas- {2 emergir do sistema constitucional inaugurado em 1988, " Nattese, seu autor abandona, desde logo, por inadequada a sistema- ponstitucional adotada. as construgdes classificatérias tradicionais er- ‘sobre diferencas substanciais entre os agentes publicos, como o i natureza do viculo ou o modo de provimento. feito o descarte desses critérios, no perfithados pela Constituicgo, BERNARDO SESTA passa a reconstruir pacientemente 0 novo lema classificatorio a partir do principio da unidade hierarquico-norma- oduzido nas modemas constituicbes. Vale dizer, atendo sua classi- @ apenas aos discrimines adotados pelo legisiador constitucional 20 i as fungBes entre Grgdos e agentes do Estado. 30 31 Residem, portanto, nas competéncias e nas fungdes constituclo- t nalmente definidas, ainda que néo exaustivamente tratadas, os autént | rae e confiaveis eritérios diferenciativos sobre os quais se podem distin. | ‘Quir as diversas categorias de agentes publicos. Com efeito, se todas as competéncias e fungdes constitucionalmente definidas, se dirigem a finalidades especificas, nada mais apropriado que se efinam quais os agentes que tém competéncia e exercem fungSes necessari- 4s, em contraste com os que tém competéncia e exercem fungoes aunliares. ‘86 a partir dessa distingdo - de assento constitucional, repita-se - che- gar-se-é a um elenco fechado de agentes pablicos de existéncia ne- Gesséria e, por exclusdo, a um elenco aberto de agentes piblicos de existéncia contingente. ‘Aexisténcia necessaria prende-se ao exercicio diferenciado de fun- g0es derivadas do Poder Uno do Estado, estritamente vinculadas @ sua > fnalidade e, por isso, com carga de autoridade propria. Neste sentido ¢ lembravel a classificago de HENRI NEZARD, de quase um século, que distinguia 0s fonctionnaires de autorité dos fonctionnaires de gestion °". ‘$80, portanto, as fungdes necessarias - ou essenciais, na linguagem usada - aquelas que tém sua raiz plantada na propria Constituigao, como argutamente ja havia observado OSWALDO ARANHA BANDEIRA DE MELLO, ao lembrar que certas fung5es se distinguem por seu “radical cons- titucional especifico". Vale dizer: no 6 a lel que cria as fungdes, mas a Constituigéio; cabe @ lei apenas a criagdo dos cargos que sejam necessa- ries para desempenha-las. Irrelevante, portanto, como sejam provides ou como sejam regrados ‘esses cargos: tais aspectos ndo tocam ao radical constitucional, que erige Suas respectivas fungdes como necessarias. E este, pois, o critério subs- tancial, introduzido pela Constituicao de 1988, travejado, como se exami- nara, no proprio conceito de Estado Democratico de Direito e com 0 objeti- vo de manté-lo como tal, que deve ser tomado em linha de conta. Nao importa, em consequéncia, se 0 provimento decorreu de eleigao popular, de um concurso pablico, de cooptagao ou de comissionamento {emporario. todos tem em comum, vereadores, deputados, senadores, presidentes da repdblica, governadores, prefeitos, juizes, promotores, ad- Vogados ou procuradores da Uniéo e dos Estados, defensores piblicos, juizes de tribunals superiores providos fora das carreiras, ministros do Su- premo Tribunal Federal, ministros e conselheiros de Tribunais de Contas, ninistros de Estado, secretarios de Estado ou de Municipio, todos tém em ‘comum, repita-se, a sua essencialidade a organizacao dos Poderes do Estado (Titulo IV, C.F.) para que se tenha efetivamente um Estado Demo- cratico de Direito. Ha muito que © Direito Politico deixou de considerar 0 provimento ele- tivo como o critério definitorio do politico: o trago diferenciativo deslocou-se para a indispensabilidade da fungao publica desempenhada Os servidores do Estado acima mencionados $80, todos eles, indepen- dentemente da forma de provimento e do regime @ que se submetam, agen- tes politicos. E 6 sob esse concetto que se ha de entender suas caracteris- ticas institucionais e, sobretudo, funcionais. Neste sentido, com perfeita concordancia, a recentissima classifica- go de SERGIO DE ANDREA FERREIRA, em seus “Comentarios @ Cons- tituigdo de 1988" “A) —Agentes Politicos 0... que Se Se guem: a) no Omissis ... b) omissis ©) coe OmisiS d) Membros do Ministério Pablico, da Defen- soria Pablica, da Advocacia-Geral da Unido e das Procuradorias locais, dos Estados e do Distrito Federal — Titulares de fung5es (cargos) exercidas nas mencionadas instituigbes de prove- doria de justica. Investidura efetiva mediante no- meago por concurs. Os Membros do Ministerio ablico adquirem, ulteriormente,vitaliciedade. Cada um dos conjuntos citados ¢ organizado obrigatori- ‘mente em carreira (arts. 127 a 136 da CF.” J& quanto aos cargos dos Defensores Pablicos, como, de resto, em $80 aos cargos dos exercentes das fungbes essenciais a justiga, inte- ites. das procuraturas constitucionais, os seguintes aspectos: 1. natu- {Juridica; 2. organicidade; 3. autonomia funcional e 4. remunera- fe radical constitucional. “O primeiro aspecto diz respeito & natureza juridica dos cargos aos ‘sero confiadas as fungdes essenciais a justiga em cada uma das aturas, pois, ¢ claro, esses érgB0s contarao, também, com outras Grias de agentes, incumbidas do apoio administrativo. ncia, portanto, se cinge aos cargos, necessariamente de car- 129, § 2°, para o Ministerio Publico, artigo 131, § 2.°, para a ‘Geral da Unido; artigo 132, para os Procuradores dos Estados e 0 Federal, e artigo 134, paragrafo unico, para os membros das arias Publicas) das procuraturas constitucionais. 33 STUDOS JURIDICOS - DPGE CENTRO DEE! BIBLIOTECA Examine-se, em conseqaéncia, a autonomia funcional dos exercen- tes das procuraturas constitucionais. Assentado que se trata de agentes politicos, com autonomia de suas fung6es, resulta evidente que eles n&o poderiam, efetivamente, integrar ‘qualquer dos Poderes. Do contrario, ocorreria submissao no exercicio de delicados poderes politicos, como os de fiscalizago, de consultoria, de promog&o de justica ou de defesa de interesses indisponiveis, a outros agentes pollticos, em seu exercicio, seus atos examinados e questiona- dos. Conformam, portanto, quadros proprios, desvinculados e desarticula- dos com os quadros de quaisquer dos trés Poderes. Outra e no menos relevante decorréncia vem a ser a inexisténciade } subordinagao hierarquica dos agentes politicos das procuraturas constitu- cionais a qualquer autoridade dos Poderes Politicos. Isso no significa ine- xisténcia de precedéncia honorifica mas, como bem esclarece 0 artigo 68, do Estatuto da Ordem dos Advogados, a hierarquia é estranha a instituicao da advocacia. O que existe, so relagSes legalmente definidas, que Sao incompativeis com a subordinagao funcional. Nem mesmo em relagao ‘a0 Chefe dos 6rgos coletivos das procuraturas existe hierarquia funcional apenas administrativa. Por outro lado, no integrando o Poder Executivo, nem estando a ele subordinadas funcionalmente, as procuraturas constitucionais também in- dependem do sistema disciplinar e do sistema remuneratério desse Poder. Finalmente, e como um consectario da autonomia funcional, a remu- neracao dos agentes das procuraturas tem radical constitucional, 0 que implica no estabelecimento de pardmetros remuneratérios a salvo de eventuais press6es pollticas de parte dos Poderes Legisiativo e Executivo. ‘Anorma que estabelece essa salvaguarda politica no tocante a remunera- 40 desses agentes ¢ a isonomia especifica ou isonomia concreta, ins- titulda no artigo 135 da Constituicdo. Seria grosseiro equivoco, tanto inferir-se desse artigo uma isonomia estipendial dos agentes politicos das procuraturas constitucionals com os ‘outros agentes que nao os das magistraturas constitucionais, como enten- der-se que serd-necesséria uma lei especifica para concretizar tal trata- mento isondmico. Aremissao ao artigo 39, § 1.°, CF, nao tem o sentido de estender todo sistema dos servidores piblicos civis &s carreiras das procuraturas, ainda Porque essas devem ser regidas por sistemas proprios, definidos em leis somplementares, mas, apenas, o de absorver a regra isonomica tal como aquele dispositive se contém: “isonomia de vencimentos para cargos de atribuig6es iguais ou assemelhados'.. “ressalvadas as vantagens de card- ter individual e as relativas & natureza ou ao local de trabalho.” 34 | | | Por outro lado, a exigéncia de uma lei especifica que viesse a concre- tizar a isonomia constitucionalmente prociamada, tem repudiado os publi- cistas que se debrucaram sobre o assunto, como’ CELSO ANTONIO BAN- DEIRA DE MELLO na seguinte passagem: ‘afora a isonomia referida no § 1° do artigo 39 e que tera de ser apurada ante a igualdade de atribuigées e semelhanga dos cargos - encarregou-se o proprio Texto Constitucional de definir casos em que ja qualificou de antemao como existente a sobredita igualdade. Sao 0s que constam de seus artigos 135 a 241 Dispe 0 artigo 135 que: “As carreiras disciplinadas neste Titulo apli- ‘cam-se 0 principio do artigo 37, XIl, e 0 artigo 39, § 1°." ‘Ai se estabeleceu, portanto, que as carreiras mencionadas no Titulo IV (Da Organizagdo dos Poderes) so consideradas isonomas. Quais as muitas diferengas, conquanto tenham o aspecto fundamental comum 'serem carreiras juridicas, na Constituigo foram igualadas para fins re- tivos. Vale dizer: entendeu-se bastante o fato de serem privativas e ificas de bacharel em Direito. Dai que, dentro das respectivas érbi- isto 6, da Unido, dos Estados e do Distrito Federal (pois Municipio nao Judiciario nem Ministério Publico) - os servidores integrantes das dis- ntas carreiras referidas estargo todos parificados em vencimentos, respei- lados os escaldes correspondentes em que estejam alocados, tendo em ‘ correspondencia reciproca de seus patamares.” iSo 6 outra a ligo de JOSE AFONSO DA SILVA, ao caracterizar, ia Constituic&o, a concregdo da isonomia das magistraturas com raturas em titulo especifico de seu Curso, com a denominacdo 35 Juridicas e Isonomia Concreta’, do qual permito-me destacar a Passagem, apds definir 0 autor quais as carreiras disciplinadas no ulo IV da Constituigao (magistratura e procuraturas): “A Constituigo as tem como preenchendo os re- quisitos do artigo 39, para o fim de determinar a aplicagSo da isonomia ali estabelecida a seus in- tegrantes, equiparadas, assim, para tal, suas atti- buigdes sem qualquer outra cogitago. Vale di- zer: para essas carreiras, a Constituigdo (artigo 135), assegura, por sie diretamente, a isonomia Néo fora assim, no teria sentido o artigo 135, Bastaria o artigo 39 que ja se compreenderia tam- bem, se ndo houvesse um dispositivo especial para elas. Consoante ja discutimos antes: °O tra- tamento igual - esclarece Petzod - no se dirige a 36 @ as relativas & natureza ou ao local de trabalho" (artigo 39, § 1°, CF), no devem ser computadas ao se considerar os vencimentos dos paradigmados, A esse respeito, tenho esclarecido, em meu Curso de Direito Admi- nistrativo, nas sucessivas edig6es surgidas a partir de 1988, que remu- neracdo ¢ expresso de sentido genérico, tornando obsoleta a controver- tida doutrina que via uma diferenciago substantiva entre o plural e o sin- gular de vencimento 2 _ANDREAFERREIRA, ao comentar os incisos, o limite no leva em conta @ oe 40 efetivamente recebida por ocupante de cargo-paradigma, mas Perceber tem sido empregado quando, exatamente, quis o legisia- referir a valores in these, e n&o in casu;"2 ea, inoonstitucional, em conseqdéncia, o “congelamento” da remunera- dos Ministros de Estado ou dos Secretarios de Estado, pelos Chefes | 92 Poder Executivo, praticada com a finalidade esconsa de iimitar os ven itos dos cargos das procuraturas. ‘es em’situago idéntica”. A Constituigdo, aqui tal como na hipétese da igualdade entre homem e Phos B82, Manipulacdo da competencia, que é atribulda para aumentar- hes ou corrigir-Ihes a remunerago ®, constitu, na verdade, um caso de 9 de poder. Com efeito 0 poder de iniciativa privativa, que detém os hefes do Poder Executivo, para propor ao Legislativo o aumento ou cor. Hao da remuneracao dos cargos pollticos (artigo 61, § 1°, Il, ‘a’ ) ndo He ser desviado com o propésito de reduzir indiretamente os vencimen. #dos cargos titulares das fungbes essenciais a justiga, iscriminag&o ja seria, desde logo, inconstitucional, porque atenta hira a regra isonomica de revisao geral da remuneraco dos servidores licos em sua totalidade, estabelecida no artigo 37, X, da Carta Magna. Quanto a aplicagao do teto de ‘vencimentos (artigo 37, Xil) as carrei- fas que desempenham fungées essenciais a justiga, deve-se ter em conta 0 instituido no inciso anterior (artigo 37, XI), isto é: os maiores vencimen- ‘tos do agente politico das procuraturas ndo poderao ultrapassar “os valo- ‘es percebidos Como remunerago, em espécie, a qualquer titulo", no caso, pelos Ministros de Estado, para a orbita federal, e pelos Secretarios de Estado, seus “correspondentes" nas érbitas estaduais, Mas esse desvio de poder ¢ ainda mais grave, se 6 que se pode po- Isso significa que ha uma diferenga a ser considerada entre vencimen- ‘tos, quando 0 texto constitucional se refere aos estipéndios dos cargos para- digmados, ¢ remunerago em espécie a qualquer titulo, quando se refers ‘em rela¢o aos demais cargos paradigmas do art. 37, XI, da Cons- 208 cargos paradigmas. E claro que a segunda expresso mais ampla que © Chefe do Poder Executivo estaria também violando o principio da a primeira, que leva & concluso de que “as vantagens de carater individual bilidade dos vencimentos dos cargos paradigmados, 36 Essa redugo se dé, insista-se, no nominalmente, mas em termos reais; fol porém nesses termos que 0 legistador constitucional determinou a preservago do poder aquisitivo dos vencimentos e salérios e, sobretudo, | a independéncia funcional dos agentes politicos. Manipular 0 teto do artigo 37, XI, “congelando” a remuneragao dos cargos-paradigmas do Poder Executivo, vem a ser, portanto, trés vezes inconstitucional, transparecendo 0 exerci com o objetivo de discriminar e de reduzir vencimentos e de subjugar, por indireta via, agentes politicos que devem ser independentes em suas fun- (962s € inviolaveis & coagao, numa indevida exploraco dos efeitos perver- ‘sos do estado inflacionario da economia. ‘Tenha-se em conta que esse resultado, de paulatina degradacao dos vencimentos dos agentes titulares de fungbes essenciais a justica, jamais poderia ser alcangado sendo “explorando” os efeitos do processo inflacio- ‘nario. Por outro lado, uma alegavel preocupagio com o erdrio nao poderia se sobrepor a devida preocupagao com a ordem juridica, pois esta é 0 Proprio fundamento da sociedade organizada, inclusive do proprio erério. E, na verdade, nenhum golpe, nenhum acometimento é mais violento, sobre a independéncia e a intangibilidade funcional de agentes com tama has responsabilidades perante a sociedade e o Estado, que o amesquinhar- ‘sethes a remuneracdo e desestimular a convocacao a concurso dos melho- res profissionais do direito para os quadros das procuraturas constitucionais, fato que, quando se trata da Defensoria Publica revela, além de tudo, um ‘sobranceiro elitismo, mouco as desventuras dos marginalizados da fortuna, ll. CONCLUSOES A Defensoria Publica, além de elevar-se como a mais bela das fun- ges essenciais a justica, por ser a que mais plenamente realiza o ideal historico da advocacia aliado ao sentido contemporaneo da cidadania, € também, se assim se pode dizer, “mais essencial", que qualquer das de- mais carreiras co-irmas, do Ministerio Publico e das advocacias do Estado. Pode-se imaginar que os interesses cometidos ao Ministerio Pablico e ‘as advocacias do Estado possam ser mal defendidos; ainda assim o Esta- do sobrevivera. Pode-se conceber, contudo, um Pals em que a sociedade erceba que a justica 86 existe para os favorecidos da sorte? Dificimmente sobreviveriam as instituigSes, pois hoje é reconhecido que © Estado sobreexiste muito mais pelo consenso que pela coereo. Infelizmente nem todos os que tém a responsabilidade pela coisa pu- blica pensam ou, pelo menos, agem com essa convicego. A 2* Carta de Corumbé, aprovada por aclamacao no 4° Congresso Nacional dos Defen- 38 ‘sores Pablicos e 4° Encontro dos Defensores Publicos do Mato Grosso do ‘Sul ®, denuncia graves negligéncias a nivel federal e estaduais em cum- prir as determinagdes constitucionais no tocante a regulamentag&o da car- reira, notadamente o estabelecimento de suas normas gerais ™ @ a im- plantacao das Defensorias Estaduais, capazes de desempenhar a conten- to sua missdo. E inacreditavel que isso ocorra e n&o se dé a Defensoria Publica 0 tratamento condizente com a superior importancia de suas fungdes. E ne- cessario lembrar aqui, a ligéo de JOSE AFONSO DA SILVA quanto a obri- gatoriedade de os Estados as instituirem: “O érgao é caracterizado pela sua fungdo de exprimir uma vontade imputavel a pessoa coletiva’, enquan- to que 0 “agente ¢ um meio colaborador do 6rga0’, “atuando na formacao __ da vontade a manifestar pelos érgaos, ou a dar execugao as decisoes des- "tes, sob sua diregdo e fiscalizagéo" (MARCELO CAETANO, Principios, _ Forense, Rio, 1977, p. 65) — ___No Pals, segundo levantamento do Ministro JOSE NERI DA SILVEI- RA, 0 quadro das Defensorias Pubiicas é realmente desalentador: hoje, a uma populago de 155.562.917 habitantes, ha apenas 8.317 juizes de instancia e, pasme-se, somente 3.209 Defensores Publicos. Apenas um jensor Publico para cada 48.477 brasileiros e dois, para cada cinco jui- Jos de primeira instancia. Sao niimeros incivilizados. E um quadro de denegagao de justiga. Nao se trata apenas da defe- |, que ndo se presta, dos milhares de interesses que deveriam estar co- 0s por Defensores Publicos; nem da falta de orientag&o adequada para omové-los, em favor dos milhées que dela tanto carecem; o que de mais “Grave ocorre 6 o espezinhamento da cidadania da maioria dos brasileiros, ____Seardua ¢ a miso dos Defensores Publicos em suavizar as aspere- da vida dos desvalidos da fortuna, mais drdua ainda se torna quando thes sto negadas as minimas condigdes de atuacdo eficiente. ____& preciso insistir com os que tém o poder de reverter esse quadro e, smo amargurado, recordar a suave licdo de JOSE NERI DA SILVEIRA, Bfensor dos Defensores Publicos, que vai ao imo d'alma dos homens bem ados: “Certamente, sempre é bom dar pétalas d'alma a suavizarem, um pouco, a vida dos que, sem cul- a e sem sandalia, caminham por estradas de espinhos."", Teresdpolis, primavera de 1992 39

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