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6) Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo Ie ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica 0 CONCURSOS Prot. Fabiano Pereira SUMARIO (a) fo) YN Ry lel ate ISTRACAO PUBLICA 64 1. Consideracées ini 2. Evolucao historica 65 3. A responsabilidade objetiva prevista no art. 37, § 6°, CF/1988 69 4. Causas excludentes da responsabilidade do Estado ... 74 5. A responsabilidade civil do Estado em virtude da omissao dos seus agentes 80 6. Situacdes especiais abrangidas pela responsabilidade objetiva 82 6.1. Responsabilidade por dano nuclear 82 6.2. Danos de obra publica ... 83 6.3 Atos legislativos 84 6.4. Atos judi 85 6.5. Coisas ou pessoas sob a responsabilidade do Estado 86 de detento .. 87 7. Responsabilidade civil e prazo quinquenal .. 87 7.1. Atos de tortura .. 89 8. Acdo regressiva em face do agente publico .. 89 il e penal dos agentes publicos causadores do dano ao particular 94 10. Super Revisdo de Véspera de Prova .. 98 100 11. Questées comentadas .. www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 63 oni DOS CONCURSOS 1. CONSIDERAGOES INICIAIS Conforme consagra o caput, artigo 1°, da CF/1988, a Repiiblica Federativa do Brasil constitui-se em Estado Democratico de Direito e, portanto, todos nés (inclusive o préprio Estado) somos regidos por leis que foram criadas para atender as necessidades do povo. Tais leis so necessdrias para que as relacdes juridicas entre os individuos possam ocorrer de forma harménica, jé que todos saberéo, com antecedéncia, quais sdo os direitos e deveres inerentes a cada um para que possamos viver em sociedade. Nesse contexto, o Cédigo Civil brasileiro declara expressamente, em seu artigo 186, que “aquele que, por a¢do ou omisséo voluntdria, negligéncia ou imprudéncia, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilicito”. JA 0 artigo 927, também do Cédigo Civil, prevé que “aquele que, por ato ilicito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repard-lo”. Analisando-se os citados artigos, conclui-se que as vitimas de atos ilicitos podem exigir a reparac3o dos danos morais e/ou materiais que porventura sofrerem em virtude de omissdes ou agées praticadas por outros particulares. Caso no seja possivel efetuar a reparacéio do dano de forma “amigavel”, a vitima poderd, ent&o, recorrer ao Poder Judicidrio, exigindo providéncias do Estado, ou seja, 0 cumprimento da lei. A obrigag&o de reparar os danos/prejuizos causados a terceiros ndo é exclusiva dos particulares, pois incide também em relagao ao Estado. Entretanto, tal obrigacdo n&o é proveniente de contratos celebrados pelo Estado com terceiros, denominada responsabilidade contratual, pois, nesses casos, os possiveis prejuizos se resolvem com base nos préprios termos contratuais. Também ndo se refere @ obrigacéo de indenizar em virtude do legitimo exercicio de poderes em face do direito de terceiros, como ocorre frequentemente no caso da desapropriacéo e, algumas vezes, no caso de servidées. Conforme afirma o professor Celso Anténio Bandeira de Mello, tal obrigacao deriva da responsabilidade EXTRACONTRATUAL do Estado face a comportamentos unilaterais, comissivos ou omissivos, legais ou ilegais, materiais ou juridicos, que a ele sao atribuidos, www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica Prot. Fabiano Pereira 64 Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica Prot. Fabiano Pereira oni DOS CONCURSOS E por isso que, em alguns livros, vocé iré encontrar o presente tépico com © nome de “Responsabilidade Extracontratual do Estado", “Responsabilidade patrimonial do Estado” ou, ainda, “Responsabilidade civil da Administracao Publica", 0 que em nada ira interferir no contetdo que serd apresentado. Antes de passarmos para o préximo item, é necessdrio chamar a sua atengo para 0 fato de que a responsabilidade civil do Estado, pelos danos que seus agentes causem a terceiros, nao se confunde com a responsabilidade civil, penal ou administrativa dos agentes pUblicos responsdveis pelo dano. Além da responsabilizac&o do Estado, que ira ocorrer exclusivamente na esfera civil, o agente publico também poderd ser responsabilizado, mas em trés esferas distintas: civil, penal e administrativa, se for o caso. As responsabilidades civil, penal e administrativa, em regra, séo independentes entre si, podendo, ainda, cumular-se, conforme veremos mais a frente. Em alguns casos, além de o Estado ser obrigado a reparar financeiramente (civilmente) 0 particular pelos danos causados pelos seus agentes, estes ainda podem responder simultaneamente na esfera penal (caso a conduta ou omissdo seja tipificada como crime ou contravencao), administrativa (caso o ato omissivo ou comissivo seja praticado no desempenho do cargo ou func&o e previsto como infracao funcional) e civil, sendo obrigados a devolver aos cofres publicos os valores que foram utilizados pelo Estado para indenizar os danos causados aos particulares. 2. EVOLUCAO HISTORICA Conforme veremos a seguir, vigora no Brasil a responsabilidade objetiva do Estado pelos danos que seus agentes causarem a terceiros, sob a modalidade do risco administrativo. Entretanto, nem sempre foi assim, pois em outras épocas nao era possivel responsabilizar civilmente o Estado, vejamos: 2.1, Irresponsabi jade do Estado Historicamente, por muitos anos, vigorou a maxima de que “O Rei nunca erra” (The King can do no wrong) ou “O Rei nao pode fazer mal” (Le roi ne peut mal faire). www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 65 6) Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica 0 CONCURSOS Prof. Fabiano Pereira Durante esse periodo, notadamente nos regimes absolutistas, 0 Estado NAO PODIA SER RESPONSABILIZADO pelos danos que causasse aos particulares no exercicio das fungées estatais, Entretanto, mesmo durante esse periodo, os individuos nao ficavam totalmente desamparados de protecéo em virtude dos danos sofridos, pois existia a possibilidade de responsabilizacéo individual dos agentes publicos que, atuando com dolo ou culpa, acarretassem danos a terceiros. A responsabilidade, nesse caso, recaia sobre o préprio agente e nao sobre o Estado. Conforme nos informa o professor Diégenes Gasparini, 0 principio da responsabilidade do agente publico, em lugar da responsabilidade do Estado, estava previsto na Constituigdo de 1824, no item 29, artigo 179. No item 29 do artigo 179, 0 préprio Imperador fazia a ressalva de que no estava submetido a qualquer responsabilidade. Apesar da necessidade de vocé ter conhecimento dessa teoria para responder as questdes de concursos, destaca-se que ela esta inteiramente superada, mesmo nos Estados Unidos na Inglaterra, que foram os ultimos paises a abandoné-las, em 1946 e 1947, respectivamente. re Sas (FCC/Assessor Juridico TJ PI/2010) A teoria da irresponsabilidade do Estado, adotada na época dos Estados absolutos, repousava fundamentalmente na ideia de soberania, tendo os Estados Unidos e a Inglaterra abandonado tal teoria respectivamente em 1946 e 1947. Assertiva considerada correta pela banca examinadora. 2.2. Responsabilidade subjetiva do Estado ou Teo da “culpa Segundo essa teoria, o Estado seria equiparado ao particular para fins de indenizacio. Em regra, como os particulares somente podem ser responsabilizados pelos seus atos quando atuam com dole (desejo de causar 0 dano) ou culpa (negligéncia, imprudéncia ou impericia), tais requisitos também deveriam ser demonstrados a fim de que se pudesse responsabilizar o Estado. www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 66 6) Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica 0 CONCURSOS Prof. Fabiano Pereira Tanto 0 Estado quanto o particular eram tratados de forma igualitaria e, sendo assim, ambos respondiam nos termos do direito privado, sendo imprescindivel a demonstrag&o do dolo ou culpa para que ocorresse a responsabilizagao. Essa teoria passou a vigorar no Brasil com 0 advento do Cédigo Civil, de 1916 e, somente em 1946, com a promulgacio da Constituicio, deixou de existir. 2.3. Teoria da Culpa Administrativa ou da faute du service Essa teoria relaciona-se & possibilidade de responsabilizag3o do Estado em virtude do servico pblico prestado de forma insatisfatéria, defeituosa ou ineficiente. Nao é necessario que ocorra uma falta individual do agente publico, mas uma deficiéncia no funcionamento normal do servico, atribuivel a um ou varios agentes da Administracéio, que ndo Ihes seja imputavel a titulo pessoal. Nesse caso, a vitima tem o dever de comprovar a falta do servico (ou a sua prestacdo insuficiente ou insatisfatéria) para obter a indenizac3o, além de ser obrigada a provar ainda uma “culpa especial” do Estado, ou seja, provar que o Estado é responsdvel por aquela “falta” do servico puiblico. O professor Didgenes Gasparini cita alguns exemplos em que ocorrerd a culpa do servigo e, portanto, a obrigaco de o Estado indenizar o dano causado 1° ) Caso devesse existir um servigo de prevencéo e combate a incéndio em prédios altos, mas nao houvesse (0 servico n&o funcionava, nao existia); 2°) O servigo de prevencéo e combate a incéndio existisse, mas ao ser demandado ocorresse uma falha, a exemplo da falta d’dgua ou do emperramento de certos equipamentos (0 servico funcionava mal); 3°) O servico de prevengao e combate a incéndio existisse, mas chegasse ao local do evento depois que 0 fogo jé consumira tudo (9 servico funcion tre Sendo assim, gostaria que ficasse bem claro que a teoria francesa da faute du service se enquadra como hipétese de responsabilidade subjetiva, j4 que compete a vitima provar a “falta do servigo” e a responsabilidade do Estado pela sua prestac3o, posicionamento também defendido pelo professor Celso Anténio Bandeira de Mello. www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 7 Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘Aula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administrago Publica 0 CONCURSOS Prof. Fabiano Pereira Esse também é 0 entendimento do Superior Tribunal de Justiga que, ao julgar o Recurso Especial 703741, declarou que “[...] A responsabilidade civil por omissao, quando a causa de pedir a ago de reparacéo de danos assenta-se no faute du service publique, é subjetiva, uma vez que a ilicitude no comportamento omissivo é aferido sob a hipdtese de o Estado deixar de agir na forma da lei e como ela determina”. No concurso ptiblico para o cargo de Juiz do Trabalho Substituto do TRT da 7? Regido, realizado em 2005, a ESAF considerou incorreta a seguinte assertiva: “A teoria francesa da ‘faute du service’ é enquadrada como hipétese de responsabilidade objetiva”. ree Se (Advogado/CEF 2010/CESPE) Na hipdtese de falha do servico piiblico prestado pelo Estado, é desnecessdria a comprovacéo do nexo de causalidade entre a aco omissiva atribuida ao poder ptiblico e 0 dano causado a terceiro. Assertiva considerada incorreta pela banca examinadora. 2.4. Teoria do risco administrativo Essa 6 a teoria adotada pela Constituicdo Federal de 1988 e, portanto, iremos estuda-la com mais detalhes nos préximos itens. De qualquer forma, vocé jé deve ter em mente que nesta modalidade de responsabilizaco n&o se exige a culpa ou dolo do agente publico, nem a demonstracdo da “falta do servico”. Para que 0 individuo seja indenizado, basta que comprove a existéncia do fato danoso e injusto ocasionado por agao do Estado. © professor Hely Lopes Meirelles esclarece que tal teoria baseia-se no risco que a atividade pUblica gera para os administrados, bem como na possibilidade de acarretar danos a certos membros da comunidade, impondo- Ihes um énus que nao é suportado pelos demais. Sendo assim, para compensar essa desigualdade individual, criada pelo préprio Estado, todos os outros componentes da coletividade devem concorrer para a reparacdo do dano. www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 68 Orit ‘Aula 04 — Controle eResponsablidade civil da Adminis 2.5. Teoria do risco integral Com base em tal teoria, 0 Estado é responsdvel por qualquer dano causado ao individuo na gest&o de seus servicos, independentemente da culpa da prépria vitima, caso fortuito ou forca maior. Para que 0 Estado seja obrigado a indenizar, basta que esteja envolvido no dano causado. Exemplo: se um individuo se jogar na frente de um caminhao de lixo que esté realizando o servico de limpeza urbana, objetivando um suicidio, ainda sim o Estado estaria obrigado a indenizar a familia da vitima, pois 0 caminhao que “passou por cima” do suicida pertence ao Estado. E facil perceber que a teoria do risco integral escapa ao bom senso, pois néo prevé qualquer hipétese de exclusio ou reducéo da responsabilidade do Estado em relagdo ao evento danoso, ao contrario do que ocorre, por exemplo, na teoria do risco administrativo, como veremos adiante. No concurso piiblico para o cargo de Analista da Secretaria de Fazenda do Ceard, realizado em 2007, a ESAF elaborou a seguinte questdo abordando a teoria do risco integral: (ESAF/Analista de Tecnologia da Informagao - SEFAZ CE/2007) A teoria que responsabiliza o Estado pelos danos que seus agentes causarem a terceiros sem admitir qualquer excludente de responsabilidade em defesa do Estado denomina-se teoria a) objetiva. b) subjetiva. ©) da falta do servigo. d) da irresponsabilidade. e) do risco integral. Gabarito: Letra “e” 3. A RESPONSABILIDADE OBJETIVA PREVISTA NO ARTIGO 37, § 6° DA CF/88 © nosso ordenamento juridico patrio, durante muito tempo, oscilou entre as doutrinas subjetiva e objetiva da responsabilidade civil do Estado. Entretanto, a Constituic&o Federal de 1988 decidiu pela responsabilidade civil objetiva do Estado, sob a modalidade do risco administrativo. Sendo assim, para que o Estado seja obrigado a indenizar o dano causado por seus agentes, é suficiente que o particular prejudicado comprove o dano existente e o nexo causal entre a ac&o do agente e o evento danoso. Nao é& www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo Prof. Fabiano Pereira 69 Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica Prot. Fabiano Pereira oni DOS CONCURSOS necessdrio que o particular comprove que o agente pliblico agiu com dolo ou culpa, pois isso ¢ irrelevante para efeitos de indenizacao estatal. © professor Alexandre de Moraes afirma ser necesséria a presenca dos seguintes requisitos para que o Estado seja obrigado a indenizar: ocorréncia do dano; ag&o administrativa; existéncia de nexo causal entre o dano e a acéo administrativa e auséncia de causa excludente da responsabilidade estatal. A possibilidade de responsabilizar o Estado pelos danos que seus agentes causarem a terceiros possui amparo no préprio texto constitucional, mais precisamente no artigo 37, § 6°, da CF/1988, que assim declara § 6°, As pessoas juridicas de direito ptiblico e as de direito privado prestadoras de servicos ptiblicos responderéo pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsdvel nos casos de dolo ou culpa. Para que possamos responder mais facilmente as questdes elaboradas pelas bancas examinadoras, principalmente da ESAF, é necessario que fagamos um detalhamento das informagées que podem ser extraidas do § 6°, do artigo 37, da CF/88. Avante! yo Aiu 6 ueosst No processo seletivo do plano de cargos do Ministério da Fazenda, realizado em 2013, a ESAF considerou correta a seguinte assertiva: "A Constituicéo Federal prevé a responsabilidade objetiva da Administracao Publica, garantindo que as pessoas juridicas de direito publico e as de direito privado que prestem servicos publicos respondam pelos atos de seus agentes que, nessa qualidade, causem dano a terceiros, com direito de regresso contra o responsével nos casos de dolo ou culpa”. 3.1. A abrangéncia da expressdo “as pessoas juridicas de direito pliblico e as de direito privado prestadoras de servicos publicos” Na expresséio destacada acima, devemos incluir como pessoas juridicas de direito publico a Unido, os Estados, os Municipios, o Distrito Federal, as autarquias e as fundagdes publicas regidas pelo Direito PUiblico. Como pessoas juridicas de Direito Privado prestadoras de servicos puiblicos, incluimos as empresas ptblicas e sociedades de economia mista, desde que prestadoras de servicos publicos, e também as empresas privadas, mesmo no integrantes da Administracao Publica, desde que prestem www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 70 6) Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica 0 CONCURSOS Prof. Fabiano Pereira servigos ptblicos, a exemplo das concessiondrias, permissiondrias e autorizatdrias de servicos publicos. Até o més de agosto de 2009, prevalecia no Supremo Tribunal Federal o entendimento de que as pessoas juridicas prestadoras de servicos piblicos nao poderiam ser responsabilizadas objetivamente pelos danos causados pelos seus agentes aos terceiros que nao fossem usuérios do servico ptiblico prestado. No julgamento do Recurso Extraordinario 262.651/SP, em 16/11/2004, de relatoria do Ministro Carlos Veloso, o STF decidiu que “a responsabilidade objetiva das prestadoras de servico publico nao se estende a terceiros ndo- usuarios, j4 que somente o usuério é detentor do direito subjetivo de receber um servigo ptiblico ideal, néo cabendo ao mesmo, por essa raz&o, o énus de provar a culpa do prestador do servico na causac&o do dano.” Desse modo, se um 6nibus pertencente a uma concessionaria de servico ptiblico de transporte coletivo urbano colidisse com um automével particular, a responsabilidade civil daquela seria de natureza subjetiva, isto é, o particular somente seria indenizado pelos prejuizos sofridos se provasse o dolo ou a culpa do motorista da empresa, jé que nao estava usufruindo dos servicos prestados pela mesma. Todavia, no julgamento do Recurso Extraordinério 591.874, em 26/08/2009, de relatoria do Ministro Ricardo Lewandowski, o Supremo Tribunal Federal decidiu que “a Constituigio Federal nao faz qualquer distingdo sobre a qualificaco do sujeito passivo do dano, ou seja, nfo exige que a pessoa atingida pela lesdo ostente a condig8o de usuario do servico”. Desse modo, passou a vigorar no Supremo Tribunal Federal o entendimento de que as pessoas juridicas prestadoras de servicos ptiblicos respondem objetivamente pelos danos que seus agentes causarem a terceiros, inclusive aqueles que n3o estejam usufruindo dos servicos prestados, a exemplo do particular que tem o seu carro atingido por um 6nibus pertencente a concessionaria prestadora de servicos publicos. No concurso piblico para o cargo de Fiscal de Rendas do Rio de Janeiro, realizado em 2010, a ESAF considerou correta a seguinte assertiva: “A responsabilidade civil das pessoas juridicas de direito privado prestadoras de servico publico é objetiva em rela¢do aos usudrios, bem como em relagdo a terceiros n3o usuarios do servico publico”. www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira a 6) Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica ———— Prof. Fabiano Pereira Além disso, n&o se esquega de que as empresas publicas e sociedades de economia mista, exploradoras de atividades econémicas, nao sdo alcancadas pelo § 6°, do artigo 37, da CF/1988. As empresas pUblicas e sociedades de economia mista, exploradoras de atividades econémicas (podemos citar como exemplo a Petrobrés, a Caixa Econémica Federal, 0 Banco do Brasil etc.), respondem pelos danos que seus agentes causarem a terceiros de acordo com as regras do Direito Privado, assim como acontece com os seus concorrentes no mercado. Em virtude de responderem pelos danos causados pelos seus agentes em conformidade com as regras de direito privado, desde ja, é necessdrio que vocé saiba que a responsabilidade de tais pessoas juridicas sera SUBJETIVA, ao contrdrio daquela preconizada no do § 6°, do artigo 37, da CF/1988, que é OBJETIVA, em regra. race rowel (Advogado/CEF 2010/CESPE) Na hipdtese de falha do servico piiblico prestado pelo Estado, é desnecesséria a comprovacéo do nexo de causalidade entre a aco omissiva atribuida ao poder ptiblico e 0 dano causado a terceiro. Assertiva considerada incorreta pela banca examinadora. No concurso publico para o cargo de Procurador do Estado do Amazonas, realizado pela FundacSo Carlos Chagas em 2010, 0 seguinte enunciado foi considerado correto pela banca: “O regime de responsabilidade previsto no art. 37, § 6°, da Constituigao Federal brasileira alcanga os atos praticados por particulares prestadores de servicos publicos, em relagdo a usudrios e também a ndo-usudrios, desde que existente nexo causal entre o evento causador do dano e a atividade objeto de delegagao estatal”. 3.2. A abrangéncia da expresso “pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros” A denominada “teoria do érgéio”, elaborada pelo professor alemao Otto Friedrich von Gierke, declara que os atos praticados pelos agentes publics sdo imputados ao Estado, jé que este nao possui condigdes de se expressar por conta prépria e, portanto, se manifesta através de seus agentes. www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 72 Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica Prot. Fabiano Pereira oni DOS CONCURSOS Sendo assim, quando um agente pubblico, no exercicio de suas fungdes administrativas, pratica um ato lesivo a outrem, é como se o préprio Estado o tivesse praticado e, por isso, deve entdo ser obrigado a indenizar. Para que o ato praticado pelo agente ptiblico possa ser imputado ao Estado, é necessario que exista uma relacdo entre 0 ato € 0 servico, ou seja, é essencial que 0 ato ou acio lesiva tenham sido praticados para o servico ou durante a prestag&o do servico ptiblico. Se a condig&o de agente piiblico tiver contribuido de algum modo para a pratica do ato danoso, ainda que simplesmente lhe proporcionando a oportunidade para o comportamento ilicito, responde o Estado pela obrigacdo de indenizar. Ao referir-se a “agentes”, o constituinte ndo restringiu o alcance do texto constitucional somente aos servidores estatutarios, incluindo também os celetistas (empregados das empresas publicas, sociedades de economia mista e das concessiondrias, permissionérias e autorizatérias de servicos ptblicos), os contratados temporariamente em razdo de necessidade temporaria de excepcional interesse publico, bem como todos aqueles que exercem fungées puiblicas, ainda que transitoriamente e sem remuneracio, incluindo-se os agentes delegados (oficiais de cartério, por exemplo). Fato importante, e que deve ser lembrando no momento da prova, é que os agentes piblicos devem ter atuado na “condigéo de agente” ao causar o dano, pois, caso contrério, nao sera possivel responsabilizar o Estado. Exemplo: suponhamos que um servidor do Ministério da Fazenda tenha acabado de sair do trabalho, chegado em casa estressado e, ao encontrar a empregada doméstica, tenha Ihe desferido varios “tabefes” na cara alegando que precisava descarregar em alguém o desgastante dia de trabalho. Pergunta para nao zerar_a prova: nesse caso, a Unido poderd ser responsabilizada pelos danos que o seu agente causou ao particular? E légico que nao, pois o servidor do Ministério da Fazenda, naquele momento, nao estava no exercicio da funcéo de agente publico. Era apenas uma pessoa como outra qualquer. Pergunta: e se o servidor, no dia seguinte, mas ainda estressado, tivesse se deslocado em um veiculo da Uni&o para fazer um trabalho externo e, a 180 km por hora, colidisse com um veiculo particular. Neste caso, como o servidor dirigia a 180km/h, a Unido poder ser responsabilizada? E claro, pois o servidor estava no exercicio de suas funcdes, independentemente da velocidade de condug&o do veiculo. www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 73 6) Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica 0 CONCURSOS Prot. Fabiano Pereira Os professores Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino chamam a atencgaio para o fato de que é irrelevante se o agente atuou dentro, fora ou além de sua competéncia legal, pois se o ato foi praticado por alguém que se encontrava na condigéo de agente publico j4 é suficiente para a caracterizagéo da responsabilidade objetiva. @ caiu na prova (FCC/Agente Legislative ALSP/2010) A regra da responsabilidade objetiva do Estado exige, segundo a previsao constitucional correspondente, que o dano seja causado por agente puiblico que atue nessa qualidade, sendo considerados agentes publicos os servidores publicos, os agentes politicos e os particulares que atuam em colaborac3o com o poder publico. Assertiva considerada correta pela banca examinadora. 4. CAUSAS EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE DO ESTADO A responsabilidade civil do Estado, conforme apresentada no item anterior, apesar de objetiva, poderé ser abrandada ou afastada integralmente em algumas situagées, vejamos: ‘cali na proval (FCC/Procurador TCE RO /2010) O Estado responde objetivamente pelos danos causados a terceiros por seus agentes. Isto significa dizer que se considera presumida a culpa do agente piiblico envolvido, passivel de demonstracao, no entanto, da ocorréncia de pelo menos uma das excludentes de responsabilidade, como culpa exclusiva da vitima. Assertiva considerada correta pela banca examinadora. 4.1. Culpa exclusiva da vit Ocorre a culpa exclusiva da vitima quando o dano existente & consequéncia de omissao ou acao do préprio particular que sofreu o dano, ou seja, sem a ago ou omissdo da vitima do dano, nao exi © dano. Ora, se © particular deu causa ao dano que sofreu, devera suportar sozinho o prejuizo. www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 7” oni DOS CONCURSOS Exemplo: Imaginemos um individuo que, apés terminar um longo relacionamento amoroso, desgostoso da vida, decide se jogar na frente de um trator de propriedade do municipio, que estava recapeando algumas ruas na cidade. Como consequéncia de tal ato, quebra as duas pernas e tem 10 dentes arrancados da boca. Pergunta: Quem devera ser responsabilizado civilmente pelo tratamento médico e as demais despesas provenientes do ato insano praticado pelo particular? O préprio particular, é claro! Ademais, este ainda pode ser obrigado a ressarcir ao Municipio os possiveis danos causados ao trator. Lembre-se de que no citado exemplo serd afastada a obrigatoriedade de 0 Municipio indenizar o particular porque foi rompido o NEXO CAUSAL, ou seja, © Municipio néo deu CAUSA ao dano, pois foi o particular que se JOGOU embaixo do trator. © Gnus de provar que a culpa é exclusiva do particular ou que este contribuiu com 0 evento danoso recai sobre o Estado (aqui a expresso inclui todas as entidades politicas). Caso este nao consiga provar, deverd indenizar o dano sofrido pelo particular, mesmo ndo tendo sido o responsavel direto pelo prejuizo Em outras circunstdncias, em vez de ser afastada a responsabilidade civil do Estado, poderd ocorrer apenas um “abrandamento” em virtude da culpa concorrente do particular. A culpa concorrente ocorre quando o particular também contribui para o evento danoso, e, portanto, é responsabilizado proporcionalmente ao seu grau de participaco no prejuizo causado, Exemplo: Suponhamos que, em uma via municipal, cuja velocidade maxima seja de 60km/h, um particular esteja conduzindo o seu veiculo a 130km/h. De repente, o particular depara-se com um bueiro destampado no meio da via e, na tentativa de desviar-se do buraco, perde a direc&io do veiculo e colide-se contra um muro, destruindo completamente o veiculo. Perqunta: Neste caso, se o particular ingressar com uma ago judicial exigindo 0 pagamento integral do prejuizo referente ao veiculo, 0 Municipio teria que pagar a integralidade, somente parte ou nao poderia ser responsabilizado pelo dano? E claro que nés n&o conhecemos todos os detalhes do caso, mas, de qualquer forma, j4 sabemos que 0 Municipio foi omisso ao permitir que o bueiro ficasse sem tampa de protecdo, devendo, portanto, ser responsabilizado por isso. Por outro lado, o particular estava conduzindo o vefculo em velocidade superior ao dobro da permitida para aquela via urbana. Provavelmente, se o www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica Prot. Fabiano Pereira 75 oni DOS CONCURSOS particular estivesse em velocidade compativel para o local, o acidente sequer teria ocorrido. Sendo assim, 0 mais sensato & dividir o prejuizo proporcionalmente & participagSo de cada um no evento danoso, j4 que, nesse caso, existiu a denominada culpa concorrente. No concurso piiblico para o cargo de Analista do Banco Central, realizado em 2001, a ESAF considerou correta a seguinte assertiva: “Na teoria do risco administrative, a culpa exclusiva da vitima afasta a responsabilidade do Estado”. 4.2. Caso fortuito e forga maior N&o existe consenso doutrindrio ou mesmo jurisprudencial sobre as definigdes de caso fortuito e forca maior. E para dificultar ainda mais a vida do concurseiro, a divergéncia também se estende a possibilidade de tais acontecimentos serem capazes ou nao de excluir a responsabilidade civil do Estado. Recentemente, o Superior Tribunal de Justica disponibilizou em seu site (www,stj.gov.br) um breve texto através do qual deixou claro que a existéncia de caso fortuito ou forca maior devem ser analisadas em cada caso e, somente apés tal andlise, seria possivel decidir sobre a possibilidade de tais eventos afastarem ou nao a responsabilidade do Estado. Analisemos um _exemplo citado no referido texto apresentado no site do STJ: um motorista esté dirigindo em condigdes normais de seguranga. De repente, um raio atinge 0 automédvel no meio da rodovia e ele bate em outro carro. O raio é um fato natural. Se provar que a batida aconteceu devido ao raio, que & um acontecimento imprevisivel e inevitavel, 0 condutor ndo pode ser punido judicialmente, ou seja: no vai ser obrigado a pagar indenizacéo ao outro envolvido no acidente. Ao demonstrar que a causa da batida nao esté relacionada com o veiculo, como problemas de manutencéo, por exemplo, fica caracterizada a existéncia de caso fortuito ou forca maior. No exemplo anterior, destaca-se que 0 ST) reuniu 0 caso fortuito e a forca maior dentro de um Unico conceito, como se fossem expressées sinénimas, posicionamento também defendido pelo professor José dos Santos Carvalho Filho, ao afirmar que “sao fatos imprevisiveis aqueles eventos que constituem o que a doutrina tem denominado de forca maior e de caso fortuito. Nao distinguiremos estas categorias, visto que hé grande divergéncia doutrindria na www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica Prot. Fabiano Pereira 76 Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica Prot. Fabiano Pereira oni DOS CONCURSOS caracterizagao de cada um dos eventos. Alguns autores entendem que a forca maior & 0 acontecimento origindrio da vontade do homem, como é 0 caso da greve, por exemplo, sendo 0 caso fortuito 0 evento produzido pela natureza, como os terremotos, as tempestades, os raios e os trovées”. Repita-se: De acordo com o entendimento do Superior Tribunal de Justiga, bem como do Professor José dos Santos Carvalho Filho, caso fortuito e forca maior representam a mesma coisa, ou seja, um acontecimento imprevisivel e inevitavel. A doutrina tradicional entende que a FORCA MAIOR caracteriza-se por um evento da natureza, imprevisivel, irresistivel e inevitdvel, tais como enchentes, terremotos, furacées, entre outros. Por outro lado, 0 CASO FORTUITO estaria relacionado a condutas culposas ou dolosas de terceiros, da mesma forma, imprevisiveis, irresistiveis, inevitdveis e independentes da vontade das partes. Podemos citar como exemplo os criminosos arrastdes, guerras, greves ou invasdes a locais publicos. Independente da corrente conceitual que se adote, existe consenso em um Unico ponto: o caso fortuito e o evento de forca maior séo acontecimentos externos 4 atuagdo administrativa, 0 que faz com que a sua ocorréncia, numa situagéo em que houve alguma atuacdo administrativa causando dano para o particular, exclua 0 nexo causal entre a atuaco e o dano. Voltemos ao exemplo do automdvel que foi atingido por um raio. Suponhamos que o veiculo integrasse 0 patriménio da Unido e que, no momento que um agente se dirigia para uma fiscalizago em uma empresa privada, tenha sido atingido por um raio, fato que fez com que o motorista perdesse o controle e atingisse outro veiculo. Ora, neste caso, a Unio nao poderia ser responsabilizada civilmente, pois foi o evento natural (raio) que deu origem ao acidente, quebrando-se assim o nexo causal entre a atuacéo do Estado e o dano causado ao veiculo do particular. Se alguém tem que ser responsabilizado pelo dano, esse seria Sdo Pedro (sem comentérios ...), pois foi o responsavel pelo envio do raio que caiu no veiculo do Estado e que, consequentemente, causou o acidente. Se o veiculo no tivesse sido atingido pelo raio, o acidente nao teria acontecido, www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 7 Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica Prot. Fabiano Pereira oni DOS CONCURSOS X tomenota! Nesse caso, vocé nao precisa se preocupar em definir o evento como de forca maior ou caso fortuito. Volto a repetir: basta que vocé entenda que o prejuizo ao veiculo do particular ocorreu em virtude do raio e no de um “querer” do Estado, pois este nao teve como evitd-lo. Como se nao bastassem todas as divergéncias apresentadas até o momento, é necessério ainda que vocé tenha conhecimento das definicbes dos professores Celso Anténio Bandeira de Mello e Maria Sylvia Zanella Di Pietro, citadas no livro dos professores Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino. Os professores acima entendem que podem ser incluidos como eventos de FORCA MAIOR os eventos da natureza e também os atos de terceiros, desde que imprevisiveis, irresistiveis e inevitéveis e que nao tenham relacao com a atuag&o do Estado. Sendo assim, poderiam ser citados como exemplos de forca maior uma enchente, um terremoto, um arrast&o, uma guerra, etc. Como o Estado nao deu causa aos citados exemplos, n&o ha nexo causal que ligue 0 Estado aos danos sofridos pelos particulares. Portanto, caso o particular tenha sofrido um dano proveniente de forga maior, nado ha possibilidade de atribuir ao Estado tal responsabilidade. Sobre o CASO FORTUITO, os professores entendem que se trata de um evento interno & propria atuaco administrativa, mas que, pela sua imprevisibilidade inevitabilidade, gerou um resultado também totalmente imprevisto e imprevisivel. Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo esclarecem que o caso fortuito seria sempre um evento interno, ou seja, decorrente de uma atuacio da Administracéo. O resultado dessa atuacéo é que seria inteiramente anémalo, tecnicamente inexplicdvel e imprevisivel. Assim, na hipétese de caso fortuito, todas as normas técnicas, todos os cuidados relativos 4 seguranca, todas as providéncias exigidas para a obtencéo de um determinado resultado foram adotadas, mas, ndo obstante isso, inexplicavelmente, o resultado ocorre de forma diversa da prevista e previsivel. Analisando-se 0 posicionamento apresentado pelos professores, conclui-se que 0 caso fortuito nao teria o condo de afastar a reponsabilidade civil do Estado, pois o dano teria ocorrido diretamente de sua atuacéo, apesar de inexistir qualquer culpa no dano existente. www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 78 6) Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica 0 CONCURSOS Prot. Fabiano Pereira Tenho certeza de que vocé deve estar se perguntando: e para responder as questdes de prova, qual posicionamento devo adotar? Essa é uma pergunta dificil de responder. Para ser sincero, ndo tenho visto questdes de Direito Administrativo exigindo a diferenca entre esses dois institutos. De qualquer forma, j4 esta pacificado o entendimento de que o evento de fora maior exclui a responsabilidade civil do Estado. No concurso publico para o cargo de Auditor Fiscal do Trabalho, realizado em 2010, a ESAF considerou incorreta a seguinte assertiva: “Conforme decidiu o Superior Tribunal de Justica, nem a forga maior exclui a responsabilidade civil do Estado”. No mesmo sentido é 0 entendimento da Fundacdo Carlos Chagas, conforme é possivel constatar na seguinte questdo: poe Sere (TRE-SE / Analista Judiciério - 2007 / FCC) A respeito da responsabilidade civil do Estado é correto afirmar: A) em razdo da adogao da responsabilidade objetiva do Estado, a culpa exclusiva da vitima no afasta a responsabilidade civil do Estado. B) a responsabilidade civil do Estado decorre dos danos causados a terceiros por seus agentes, ainda que no estejam atuando no exercicio de suas funcées. C) 0 Estado nao seré responsdvel pela reparacio do dano decorrente exclusivamente de forca maior. D) em razao da adogao da responsabilidade objetiva do Estado, a Administragao Publica ndo tem direito de regresso em relac3o ao agente publico que agiu com culpa. E) a entidade de Administrag&o Publica Indireta, que desempenha qualquer atividade, nunca responderé pelos danos causados a terceiros por seus agentes. Gabarito: Letra C. Em relacéo ao caso fortuito, ainda nao encontrei em provas questdes especificas da Fundac&o Carlos Chagas e/ou ESAF. Todavia, no concurso puiblico para o cargo de Técnico Administrativo da ANAC, realizado em 2012, 0 CESPE considerou egrrada a seguinte assertiva: “O caso fortuito, como causa excludente da responsabilidade civil do Estado, consiste em acontecimento imprevisivel, inevitével e completamente alheio 4 vontade das partes, razéo por que nao pode o dano dai decorrente ser imputado 4 administragao”. www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 79 6) Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica 0 CONCURSOS Prot. Fabiano Pereira 5. A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO EM VIRTUDE DA OMISSAO DE SEUS AGENTES Tenha muita atengdo ao responder as questées de concursos publicos, pois as bancas tendem a elaborar questdes afirmando que a responsabilidade do Estado sempre ser objetiva, o que esté incorreto. Na pratica, os particulares podem sofrer danos em virtude de condutas comissivas (acées) praticadas pelos agentes piblicos, bem como em virtude de omissdes (deixar de fazer) estatais, Ocorrendo quaisquer dessas hipéteses, 0 Estado estaré obrigado a indenizar. Nos danos oriundos de uma agao praticada por agente publico, incluindo os agentes delegados, a responsabilidade seré OBJETIVA, mas, nos danos provenientes de uma omisséo estatal, a responsabilidade passa a ser SUBJETIVA, ou seja, serd necessdrio que o particular comprove 0 dolo e/ou a culpa do Estado na omissao a fim de que seja indenizado. Esse é 0 posicionamento defendido pelo professor Celso Anténio Bandeira de Mello, ao afirmar que a expressdo "causarem" do artigo 37, pardgrafo 6.°, da CF/88, somente abrange os atos comissivos, e n&o os omissivos, afirmando que estes Ultimos somente "condicionam" o evento danoso. © professor ainda destaca que “quando o dano foi possivel em decorréncia de uma omisséo do Estado (0 servico nao funcionou, funcionou tardia ou ineficientemente) € de aplicar-se a teoria da responsabilidade subjetiva. Com efeito, se o Estado no agiu, n&o pode, logicamente, ser o autor do dano. E se nao foi o autor, s6 cabe responsabilizd-lo caso esteja obrigado a impedir 0 dano. Isto é, sé faz sentido responsabilizé-lo se descumpriu dever legal que Ihe impunha obstar o evento lesivo. Deveras, caso o Poder Publico n&o estivesse obrigado a impedir o acontecimento danoso, faltaria razéo para impor-Ihe o encargo de suportar patrimonialmente as conseqiéncias da lesdo. Logo, a responsabilidade estatal por ato omissivo é sempre responsabilidade por comportamento ilicito. E sendo responsabilidade por ilicito, é necessariamente responsabilidade subjetiva, pois n&o ha conduta ilicita do estado que nao seja proveniente de negligéncia, imprudéncia ou impericia (culpa) ou, ent&o, deliberado propésito de violar a norma que o constituia em dada obrigaco (dolo). Culpa e dolo s&o justamente modalidades de responsabilidade subjetiva. Diante desse contexto, & possivel citar varios exemplos em que a responsabilidade do Estado seré subjetiva em virtude de omissées constatadas e provadas: www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 80 oni DOS CONCURSOS Exemplo: Imaginemos 0 caso de uma 4rvore centenéria, com vinte metros de altura e dez metros de didmetro, localizada em uma praca no centro da cidade, Suponhamos agora que, hd varios meses, os moradores préximos & praca esto reivindicando o corte da arvore em virtude de estar infestada de cupins e ameacando cair. Para tanto, foram protocoladas diversas peticées administrativas individuais e coletivas, mas o Municipio nunca tomou qualquer providéncia. Ressalta-se ainda que o risco de queda da drvore também tenha sido noticiado em jornais escritos e televisivos de toda a regio, mas, apesar disso, o Municipio continuou inerte. Imaginemos agora que, num certo dia, um turista resolve parar o seu veiculo debaixo dessa drvore e, para a sua surpresa, a drvore “desaba” em cima de seu carro. Ora, nesse exemplo, esté claro que a drvore somente caiu em cima do carro do turista porque o Municipio foi omisso. Apesar de todas as manifestacdes dos moradores exigindo provid&ncias, o Municipio nada fez. Sendo assim, para que o turista seja ressarcido dos prejuizos causados ao seu veiculo, deverd provar a omissdo do Estado, ou seja, deveré comprovar o dolo e/ou a culpa (negligéncia, imprudéncia ou impericia) do Municipio no evento danoso. Perqunta: Mas como deverd proceder o turista para provar tal fato? Ora, nesse caso ele terd que bater de porta em porta, em toda a vizinhanga, para saber se alguém possui cépia das peticées administrativas que foram protocoladas perante o Municipio, cépia dos jornais noticiando o risco de queda, entre outros, além de poder ainda colher 0 nome de alguns moradores para servirem de testemunhas (prova) no desenvolvimento do processo. Outro exemplo bastante comum em prova é 0 caso de danos provenientes de enchentes, conseqiéncia de chuvas acima da média. Perqunta: Nesse caso, o Estado poderd ser responsabilizado civilmente pelos danos que a enchente causar aos particulares? Depende. Se ficar comprovado que o Estado foi omisso, ou seja, que nao efetuou a limpeza dos bueiros de escoamento da agua, permitindo o acimulo de lixo e, consequentemente, 0 seu entupimento, poderd, sim, ser responsabilizado, desde que o particular lesado comprove o dolo e/ou a culpa do Estado. Nessa hipotese, a responsabilidade do Estado sera SUBJETIVA. Entretanto, se os danos provenientes da enchente ocorreram em virtude do real excesso de chuvas, j4 que recentemente o Estado havia efetuado a limpeza de todo o sistema de escoamento de agua, mantendo-o em perfeitas condigées de funcionamento, teremos ent&o a hipdtese de FORCA MAIOR (ja www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica Prot. Fabiano Pereira a1 6) Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica 0 CONCURSOS Prof. Fabiano Pereira que se trata de um evento EXTERNO, estranho a qualquer atuacdo do Estado) e, portanto, serd excluida a responsabilidade estatal. No concurso piiblico para o cargo de Juiz do Trabalho Substituto do TRT da 7? Regido, realizado em 2005, a ESAF considerou correta a seguinte assertiva: “A responsabilidade do Estado por omissdo caracteriza-se como de natureza subjetiva”. Oc na prova (FCC/Analista Judicidrio TRF 17 Regi0/2011) No inicio do ano, é comum a ocorréncia de fortes tempestades, que, conforme tém mostrado os noticiérios, estéo causando consequéncias avassaladoras em diversas regiées do pais. Quando chuvas dessa natureza provocarem enchentes na cidade, inundando casas e destruindo objetos, 0 Estado responderd se, aliado ao fato narrado, ocorreu omissio do Poder Publico na realizagio de determinado servico. Assertiva considerada correta pela banca. 6. SITUACGES ESPECIAS ABRANGIDAS PELA RESPONSABILIDADE OBJETIVA 6.1. Responsabilidade por dano nuclear O artigo 21, XXI, da Constituigio de 1988, declara expressamente que compete a Unido explorar os servicos e instalagdes nucleares de qualquer natureza e exercer monopdlio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrializagéo e 0 comércio de minérios nucleares e seus derivados, Todavia, na alinea “d" do mesmo dispositivo, consta que a responsabilidade civil por danos nucleares independe da exist&ncia de culpa, ou seja, trata-se de responsabilidade objetiva Informacdo importante e que deve ser assimilada para responder as questdes de prova, refere-se ao fato de que, apesar de a Constituicdo Federal de 1988 no estabelecer expressamente, a responsabilidade civil daqueles que causarem danos nucleares a outrem sera regida pela teoria do risco integral. www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 82 oni DOS CONCURSOS Isso significa que permanecera a obrigac&o de indenizar até mesmo nos casos de inexist€ncia de nexo causal entre a ac&o/omisséo do Estado ou particular e 0 dano causado. Trata-se de uma hipétese excepcional e extremada de responsabilizacao civil, pois no prevé excludentes de responsabilidade, nem mesmo nos casos de culpa exclusiva de terceiros, da vitima, caso fortuito ou de forcga maior. Outra informacéo importante é 0 fato de que até mesmo o PARTICULAR, mesmo néo sendo prestador de servicos piblicos, responderd objetivamente pelos danos nucleares que causar a terceiros. Apesar de ser um tema novo e instigante, penso que essas sao as tinicas informagdes que vocé precisa saber para acertar as questées de concursos relativas a este item, ree es (Advogado/CEF 2010/CESPE) A teoria do risco integral somente & prevista pelo ordenamento constitucional brasileiro na hipétese de dano nuclear, caso em que 0 poder ptiblico seré obrigado a ressarcir os danos causados, ainda que 0 culpado seja o proprio particular. Assertiva considerada correta pela banca examinadora. 6.2. Danos de obra publica A responsabilidade do Estado por danos decorrentes de obras ptblicas pode ser do tipo OBJETIVA ou SUBJETIVA. Quando 0 dano ao particular ocorrer em funcéio do sé fato da obra, a responsabilidade do Estado serd do tipo OBJETIVA, na modalidade do risco administrative, independentemente se a obra est ou estava sendo realizada pelo préprio Estado ou por particulares contratados. Ocorre dano pelo sé fato da obra quando o prejuizo é proveniente da prépria natureza da obra, seja pela sua duracdo, execugéo ou extensdo. Como o Estado foi o responsdvel pela decisSo governamental que originou a realizagdo da obra, ele deve ser o responsdvel por eventuais danos advindos de sua execugao. Conforme esclarece o professor Hely Lopes Meirelles, se na abertura de um tinel ou de uma galeria de dguas pluviais, 0 $6 fato da obra causa danos aos particulares (erro de célculo, por exemplo), por estes danos, responde objetivamente a Administragao que ordenou os servicos; se, porém, 0 dano & www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica Prot. Fabiano Pereira 83 Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica Prot. Fabiano Pereira oni DOS CONCURSOS produzido pela impericia, imprudéncia ou negligéncia do construtor na execugéo do processo, a responsabilidade originaria é da Administragio, como dona da obra, mas pode ela haver do executor culpado tudo quanto pagou a vitima. Esse é um ponto importante e que merece uma maior tengo: se o dano puder ser atribuido ao EXECUTOR da obra, em virtude da ma-execucaio do contrato administrativo, a responsabilidade seré SUBJETIVA, ou seja, deverd ser comprovada a negligéncia, imprudéncia ou impericia do EXECUTOR para que ocorra a sua responsabilizacao civil. Contudo, se o Estado, por algum motivo, decidir indenizar o particular pelo dano sofrido, poderdé propor ac&o regressiva em face do executor para reaver os recursos financeiros utilizados no pagamento. Veja o exemplo de uma questo que confirma o que acabou de ser exposto: @ josin us prove! (Procurador Judicial do Municipio de Recife/2003) Durante a execucao de obra publica, um particular contratado para a realizagéo da construgéo provoca danos a prédio vizinho, de propriedade do préprio Poder contratante. Nessa hipétese, a responsabilidad civil do particular (A) € objetiva, pois a atividade prestada & equiparada a servico publico. (B) depende da comprovacao de seu dolo ou culpa. (©) apenas se caracteriza se nao for comprovada omisséo na fiscalizago da obra, pelo Poder Puiblico. (D) néo se configura, cabendo ao Poder Publico executar as garantias contratuais. (E) depende da constatacéo de vicios que comprometam a solidez e seguranca da edificacao. Gabarito: Letra b. 6.3. Atos Legislativos Como estudamos anteriormente, o Estado responde _ pelos. comportamentos licitos e ilicitos praticados pelos agentes do Poder Executivo que causarem danos a terceiros. Todavia, em regra, os atos legislativos editados pelos representantes do povo no geram responsabilidade para o Estado. Os autores que defendem esse posicionamento afirmam que a aceitacao da possibilidade de responsabilizar 0 Estado por atos legislativos implicaria em retirar a soberania desse Poder. Entretanto, entendo que a soberania do Legislative ndo deixa de existir, da mesma forma que o Executive também é Poder e ndo se cogita de falta de soberania quando o Estado responde pelos atos praticados pelos seus agentes. www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 84 oni DOS CONCURSOS Isso porque o Estado é UNO e as fungdes estatais sio apenas instrumentos utilizados pelo povo a fim de que o poder possa ser exercido de forma igualitéria e mais gil. Dessa forma, o Estado pode sim ser responsabilizado, em algumas situagdes especiais, pelos atos danosos oriundos do Legislativo, da mesma forma que jd 0 é pelos atos do outros dois Poderes. Para responder as questées de prova: Segundo o entendimento da doutrina dominante para “fins de concursos publicos”, atualmente o Estado somente pode ser responsabilizado pela edicéo de leis inconstitucionais ou leis de efeitos concretos. Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica Prot. Fabiano Pereira Apesar de o Poder Legislative exercer parcela da soberania do Estado ao legislar, é necessdrio que tais atos legislativos sejam editados em conformidade com as normas constitucionais, pois, caso contrério, ocorrendo o desrespeito ao texto constitucional, surge a obrigacao de indenizar. E valido ressaltar que, para que o particular possa pleitear indenizacdo em virtude de lei inconstitucional, é necessdrio que exista pronunciamento expresso do Supremo Tribunal Federal. Da mesma forma, as leis de efeitos concretos (aquelas que nao possuem carater normativo, generalidade, impessoalidade ou abstracio - citam-se como exemplos aquelas famosas leis municipais que modificam nomes de ruas), se causarem danos aos particulares, geram para o Estado o dever de indenizar. 6.4, Atos judiciais Assim como ocorre em relagéo aos atos legislativos, a regra é a de que no seré possivel responsabilizar o Estado pelos atos jurisdicionais praticados pelos juizes, desde que no exercicio de suas funcées tipicas (a de julgar). Entretanto, o préprio inciso LXXV, do artigo 5°, da CF/88, apresenta duas excegdes, ao estabelecer que 0 “Estado indenizaré o condenado por erro judicidrio, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentenga’”. O erro judiciério e o excesso de priso acarretar&o indenizag&o por danos materiais (danos emergentes e lucros cessantes), devendo recompor a situacdo anterior do prejudicado, e também por danos morais, uma vez que sdo ébvios www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 85 oni DOS CONCURSOS 0s seus efeitos psicolégicos, em face do ferimento frontal do direito a liberdade a honra, conforme ressalta o professor Alexandre de Moraes. E valido ressaltar que a excecdo prevista no texto constitucional alcanca somente a esfera penal, excluindo a esfera civel. Contudo, a fim de ser indenizado pelos danos sofridos na esfera penal, o particular devera pleitear o seu direito na esfera civel, através de aco judicial propria © caiu na prova Para responder as questées do CESPE: Os atos judiciais no geram responsabilidade civil do Estado (Analista de Comércio Exterior/MDIC 2009/CESPE). Assertiva considerada incorreta pela banca examinadora. 6.5. Coisas ou pessoas sob a responsabilidade do Estado Eis aqui outro ponto polémico e que ja tem despertando a atencdo das bancas examinadoras no momento da elaboracio de questées. Sabemos que, em diversos momentos, o Estado assume a responsabilidade pela “guarda” de pessoas, animais ou coisas, como se verifica, por exemplo, em relacdo aos individuos que cumprem pena em presidios, Aqueles que esto internados em manicémios, aos alunos de uma escola publica, &s mercadorias que foram retidas por algum érgao ou entidade publica que se encontram em depésitos ptiblicos etc. Sendo assim, 0 Estado possui responsabilidade OBJETIVA pelos danos que as pessoas, coisas ou animais sofrerem enquanto estiverem sob a sua “guarda”, exceto se tal dano ocorrer em virtude de caso fortuito ou forca maior, j4 que esses so eventos imprevisiveis e irresistiveis, que fogem ao controle do Estado. © professor Celso Anténio Bandeira de Mello exemplifica tal responsabilidade afirmando que, se um detento fere outro, o Estado responde objetivamente, pois cada um dos presididrios esta exposto a uma situagdo de risco inerente ao ambiente em que convivem e, portanto, o Estado deve zelar pela integridade fisica e moral de cada um deles. Mas, se um raio vier a matar um detento, a responsabilidade desloca-se para o campo da culpa administrativa, deixando de ser objetiva, por inexistir conexao ldgica entre o evento raio e a situagéo de risco vivida pelo desafortunado. A responsabilidade adviré se eventualmente ficar comprovado que as instalagées capazes de impedir 0 evento (para-raios) n&o existiam, foram mal projetadas ou estavam mal conservadas www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica Prot. Fabiano Pereira 86 6) Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica 0 CONCURSOS Prof. Fabiano Pereira 6.5.1, Suicidio de detento Atualmente vigora no dmbito do Superior Tribunal de Justica o entendimento de que “a Administracdo Publica est obrigada ao pagamento de pens8o e indenizagao por danos morais no caso de morte por suicidio de detento ocorrido dentro de estabelecimento prisional mantido pelo Estado Nessas hipéteses, nao é necessdrio perquirir eventual culpa da Administraco Publica. Na verdade, a responsabilidade civil estatal pela integridade dos presidiérios é objetiva em face dos riscos inerentes ao meio no qual foram inseridos pelo préprio Estado (AgRg no REsp 1.305.259-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 2/4/2013). 7. RESPONSABILIDADE CIVIL E PRAZO QUINQUENAL Apesar de o Estado poder ser responsabilizado pelos danos que seus agentes causarem a terceiros, a ago judicial que pode ser proposta com tal finalidade prescreve em cinco anos, contados da ocorréncia do ato ou fato. Tal previs&éo esta expressa no artigo 1° do Decreto 20.910/32: "As dividas passivas da Unido, dos Estados e dos Municipios, bem assim todo e qualquer direito ou ag&o contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for a sua natureza, prescrevem em (cinco) anos, contados da data do ato ou fato do qual se originarem”. A propésito, destaca-se que o prazo de 5 (cinco) anos foi ratificado pelo Superior Tribunal de Justiga no julgamento do recurso especial n° 1.251.993-PR, que ocorreu em 12/12/2012, cujo acérdao ficou assim ementado: DIREITO ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. PRAZO PRESCRICIONAL DA PRETENSAO INDENIZATORIA CONTRA A FAZENDA PUBLICA. PRAZO QUINQUENAL DO DEC. N. 20.910/1932. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. N. 8/2008-STJ). Aplica-se 0 prazo prescricional quinquenal - previsto no art. 1° do Dec. n. 20.910/1932 ~ as agées indenizatérias ajuizadas contra a Fazenda Publica, € nao o prazo prescricional trienal - previsto no art. 206, § 3°, V, do c/2002. O art. 1° do Dec. n. 20.910/1932 estabelece que “as dividas passivas da Uniéo, dos Estados e dos Municipios, bem assim todo e qualquer direito ou acéo contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for a sua natureza, prescrevem em cinco anos contados da data do ato ou fato do qual se originarem”. Por sua vez, 0 art. 206, § 3°, V, do CC/2002 disp6e que prescreve em trés anos a pretensao de reparacao civil. Ocorre que, no que tange as pretensées formuladas contra a Fazenda Publica, deve-se aplicar prazo prescricional do Dec. n. 20.910/1932 por www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 87 Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica Prot. Fabiano Pereira ©) DOS CONCURSOS ser norma especial em relaco ao CC, nao revogada por ele. Nesse aspecto, vale ressaltar que os dispositivos do CC/2002, por regularem questées de natureza eminentemente de direito privado, nas ocasiées em que abordam temas de direito publico, so expressos ao afirmarem a aplicacéo do Cédigo as pessoas juridicas de direito puiblico, aos bens publicos e 4 Fazenda Publica. No caso do art. 206, § 3°, V, do CC/2002, em nenhum momento foi indicada a sua aplicagéo 4 Fazenda Publica. Certamente, no hd falar em eventual omissao legislativa, pois 0 art. 178, § 10, V, do CC/1916 estabelecia 0 prazo prescricional de cinco anos para as a¢ées contra a Fazenda Publica, 0 que nao foi repetido no atual cédigo, tampouco foi substituido por outra norma infraconstitucional. Por outro lado, o art. 10 do referido decreto trouxe hipétese em que o prazo quinquenal nao seria aplicdvel, qual seja, a existéncia de prazos prescricionais reduzidos constantes de leis e regulamentos j em vigor quando de sua edigSo. Esse dispositive deve ser interpretado pelos critérios histérico e hermenéutico e, por isso mesmo, n&o fundamenta a afirmacao de que o prazo prescricional nas aces indenizatérias contra a Fazenda Publica teria sido reduzido pelo CC/2002. Ademais, vale consignar que 0 prazo quinquenal foi reafirmado no art, 2° do Dec.-lei n. 4.597/1942 e no art. 1°-C da Lei n. 9.494/1997, incluido pela MP n. 2.180- 35, de 2001. Precedentes citados: AgRg no AREsp 69.696-SE, DJe 21/8/2012, e AgRg nos EREsp 1.200.764-AC, DJe 6/6/2012. REsp 1.251.993-PR, Rel. Min, Mauro Campbell, julgado em 12/12/2012 (Informativo n° 0512). Apesar de o particular possuir apenas o prazo de 05 (cinco) anos para pleitear indenizagéo em virtude de danos causados pelo Estado, este nao possui prazo para cobrar o ressarcimento de prejuizos ou danos causados ao seu patriménio em virtude de comportamento culposo ou doloso de seus agentes, servidores ou nao, conforme estabelece 0 § 5° do artigo 37 da CF/88: § 5° A lei estabelecerd os prazos de prescricao para ilicitos praticados por qualquer agente, servidor ou nao, que causem prejuizos ao erdrio, ressalvadas as respectivas acées de ressarcimento. © Superior Tribunal de Justiga, em dezembro de 2008, reafirmou que as ages de ressarcimento ao erario por danos decorrentes de atos de improbidade administrativa séo imprescritiveis. A conclusdo da Segunda Turma foi tomada durante 0 julgamento do recurso especial n° 1069779, seguindo, por unanimidade, o entendimento do ministro Herman Benjamin, que foi o relator (0 primeiro juiz do Tribunal a emitir a sua opiniao sobre o processo) da questo. Para o relator, o artigo 23 da Lei de Improbidade Administrativa (Lei n. 8.429/1992) - que prevé 0 prazo prescricional de cinco anos para a aplicacdo das sangdes previstas nessa lei - disciplina apenas a primeira parte do paragrafo 5°, do artigo 37, da Constituigdo Federal, j4 que, em sua parte final, a norma constitucional teve o cuidado de deixar ressalvadas as respectivas agdes de ressarcimento, 0 que € o mesmo que declarar a sua imprescritibilidade. www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 88 6) Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica 0 CONCURSOS Prof. Fabiano Pereira Dessa forma, concluiu-se que prescreve em cinco anos a punicéo do ato ilicito, mas a pretensdo de ressarcimento pelo prejuizo financeiro (pecuniario) causado ao erdrio é imprescritivel. © entendimento é de que o prazo de cinco anos & apenas para aplicacdo de pena (suspense dos direitos politicos, perda da fung&o publica, proibigéo de contratar com o Poder Publico etc.), néo para o ressarcimento dos danos financeiros aos cofres puiblicos. 7.1. Atos de tortura No julgamento do recurso especial n° 1.374.376-CE, que ocorreu em 25/06/2013, a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justica ratificou o entendimento de que “é imprescritivel a pretensdo de recebimento de indenizag’o por dano moral decorrente de atos de tortura ocorridos durante o regime militar de excesSo”. 8. ACAO REGRESSIVA EM FACE DO AGENTE PUBLICO RESPONSAVEL PELO DANO Conforme ja foi exposto, o Estado pode ser responsabilizado civilmente pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros. Sendo assim, caso o particular tenha sofrido algum prejuizo em razéo de uma ag&o ou omissdo de agente ptiblico estatal, deveré exigir o respectivo ressarcimento diretamente do Estado, e no do agente puiblico. Como o Estado responderd objetivamente pelos danos causados pelos seus agentes, a prdpria CF/1988 assegura, na parte final do § 6°, do artigo 37, © direito de o Estado tentar reaver o valor indenizatério que foi pago ao particular, podendo propor contra o agente ptiblico a denominada agéo regressiva. Apesar de tal possibilidade estar prevista diretamente no texto constitucional, é necessério que o Estado comprove em juizo que o agente ptiblico agiu com DOLO ou CULPA ao causar 0 dano ao particular, pois, caso contrario, 0 agente nao serd obrigado a devolver aos cofres publicos o valor gasto pelo Estado, jd que responde SUBJETIVAMENTE. Para que o Estado possa propor a referida ac&o regressiva, primeiramente, é necessdrio que comprove ja ter indenizado o particular, pois essa é uma condicao obrigatéria. Trata-se de um requisito légico, pois, se 0 Estado ainda nao pagou ao particular qualquer tipo de indenizacao, como www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 89 Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica Prot. Fabiano Pereira oni DOS CONCURSOS podera exigir do agente pblico o ressarcimento de um prejuizo que nem experimentou ou sequer sabe o valor? Muito cuidado ao responder as questées de concursos, pois a simples existéncia do transito em julgado de sentenca condenando o Estado a pagar ao particular a indenizagéo, por si sé, néo é suficiente para fundamentar a propositura da acéo regressiva. Pelo menos esse é 0 entendimento do Supremo Tribunal Federal. Além do transito em julgado, é necessério ainda que jé tenha ocorrido o efetivo pagamento ao particular. Vamos citar um exemplo simples, capaz de explicar melhor o que acaba de ser exposto: Exemplo: Suponhamos que uma ambulancia do Estado, conduzida por um agente ptiblico, que trafegava normalmente por uma avenida, tenha se envolvido em um acidente com um veiculo particular, no qual ambos tiveram danos materiais. Como a discusséo entre os motoristas comegou a ficar acalouradada, ambos decidiram contactar a Pericia de Trénsito a fim de que fosse emitido um laudo pericial, declarando as razées que motivaram tal acidente e pudesse ser definida a culpa pelo mesmo Na data combinada para a entrega do laudo pericial oficial, foi divulgado o resultado, todavia, ao analisd-lo, verificou-se a impossibilidade de definicdo da culpa pelo acidente “em razdo das circunstancias do evento”. De posse do referido laudo pericial, o particular ingressou com uma acdo judicial pleiteando do Estado o ressarcimento dos danos causados ao seu automével. Pergunta 1: Neste caso, com base no laudo pericial apresentado pelo Perito, o particular teria direito a receber indenizacdo pelos danos sofridos? Sim, pois a responsabilidade do Estado pelos danos que seus agentes causarem a terceiros, em regra, 6 OBJETIVA, ou seja, dispensa a comprovacao de DOLO ou CULPA. Sendo assim, como o laude pericial nao afirmou que a culpa era exclusiva do particular, ou melhor, sequer definiu de quem seria a culpa, presume-se que seja do Estado. Perqunta 2: Suponhamos que o Estado tenha sido condenado a pagar ao particular R$ 10.000,00 (dez mil reais) em virtude do dano causado pelo motorista da ambulancia. Nesse caso, 0 Estado conseguiré @xito em uma possivel ago de ressarcimento proposta em face do agente ptiblico? www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 90 6) Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica 0 CONCURSOS Prot. Fabiano Pereira No, pois, conforme expresso no laudo pericial, n&o é possivel determinar qual dos motoristas foi o responsavel pelo acidente, muito menos se o agente agiu com dolo ou culpa, e, sendo assim, o Estado é que assumira integralmente © prejuizo Perqunta 3: Suponhamos que, ao ser citado para responder & acdo de indenizac&o proposta pelo particular, o Estado tenha decidido denunciar a lide (incluir_no processo) 0 motorista da ambuléncia, alegando que ele foi o responsavel pelo acidente e, portanto, deveria participar do proceso e ser responsabilizado pelo pagamento do prejuizo causado ao particular. Nesse caso, 0 Estado estaria agindo de forma correta, em conformidade com o entendimento majoritario da doutrina e da jurisprud&ncia? Nao. Segundo entendimento da doutrina e jurisprudncia majoritdrias (adotada pelas bancas examinadoras), ndo pode haver denunciac&o a lide do agente ptiblico, j4 que o pedido do particular em face do Estado esté amparado na RESPONSABILIDADE OBJETIVA. Ja a responsabilidade do agente em face do Estado, esta amparada na RESPONSABILIDADE SUBJETIVA. © préprio Estatuto dos Servidores Publicos Federais (Lei 8.112/90) declara que, ocorrendo danos causados a terceiros, o servidor deveré responder perante a Fazenda Publica mediante AGAO REGRESSIVA (artigo 122, § 2°) e, portanto, ndo hd que se falar em denunciaco a lide. @ caiu na prova! No concurso publico para o cargo de Analista de Controle Externo do TCU, realizado em 2006, a ESAF considerou incorreta a seguinte assertiva: “Tratando-se de dano causado a terceiro, 0 servidor responderé mediante denunciagio a lide”. A propésito, gostaria de destacar que no julgamento do recurso especial n° 1,325,862/PR, de relatoria do Ministro Luis Felipe Salom4o, a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiga decidiu que na hipdtese de dano causado a particular por agente publico no exercicio de sua funcdo, nos termos do art. 37, § 6°, da CF/1988, hd de se conceder ao lesado a possibilidade de ajuizar ago reparatéria diretamente contra o agente causador do dano, contra o Estado ou contra ambos. A decis&o da Quarta Turma do ST) foi proferida em acdo de reparacdo por danos morais, proposta por Procurador do Estado do Parand, que tinha no polo passivo uma Escriva de Vara da Fazenda Publica da comarca de Curitiba/PR. www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira a1 6) Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica 0 CONCURSOS Prof. Fabiano Pereira © Procurador alegava que a servidora, ao promover a publicacéo do resumo de uma sentenca proferida em embargos de execucao em desfavor do Estado do Parand, erroneamente teria incluido a informacao de que o magistrado também havia proferido condenac&o do Estado por litigancia de ma- fé, 0 que efetivamente nao ocorrera Ao propor a aco judicial indenizatéria, 0 Procurador optou por incluir a Escriva (servidora ptiblica) no polo passive da demanda e nao a pessoa juridica a qual ela estava vinculada em razo do exercicio de suas funcdes no TJ PR (Estado do Paranda). Apesar de ter indeferido o recurso apresentado pelo Procurador do Estado, que pleiteava a reforma do acérd8o do TJ/PR que Ihe negou o direito a indenizagéo por danos morais, 2 Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiga, corroborando voto do Ministro Relator, afirmou que “ha de se franquear ao particular a possibilidade de ajuizar a aco diretamente contra o servidor, suposto causador do dano, contra o Estado ou contra ambos, se assim desejar. A avaliagéo quanto ao ajuizamento da ago contra o servidor publico ou contra o Estado deve ser deciséo do suposto lesado. Se, por um lado, o particular abre mo do sistema de responsabilidade objetiva do Estado, por outro também ndo se sujeita ao regime de precatérios”. A deciséo proferida pelo STJ ainda repercutiré bastante nas provas de concursos ptiblicos, principalmente por ser divergente do atual entendimento que prevalece nas duas turmas do Supremo Tribunal Federal. A titulo de exemplo, destaca-se que no julgamento do recurso extraordindrio n° 327.904/SP, cujo acérd&o foi publicado no Die de 08/09/2006, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal assim decidiu: "O § 6° do art. 37 da Magna Carta autoriza a proposicéo de que somente as pessoas juridicas de direito puiblico, ou as pessoas juridicas de direito privado que prestem servicos publicos, é que poderao responder, objetivamente, pela reparago de danos a terceiros. Isto por ato ou omissao dos respectivos agentes, agindo estes na qualidade de agentes ptiblicos, e ndo como pessoas comuns. Esse mesmo dispositivo constitucional consagra, ainda, dupla garantia: uma, em favor do particular, possibilitando-Ihe aco indenizatéria contra a pessoa juridica de direito puiblico, ou de direito privado que preste servico publico, dado que bem maior, praticamente certa, a possibilidade de pagamento do dano objetivamente sofrido. Outra garantia, no entanto, em pro! do servidor estatal, que somente responde administrativa e civilmente perante a pessoa juridica a cujo quadro funcional se vincular." (RE 327.904, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 15-8-2006, Primeira Turma, DJ de 8-9-2006). www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 92 Ponto Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica Prot. Fabiano Pereira No mesmo sentido, assim também decidiu a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, conforme se constata no seguinte julgado: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINARIO. ACAO DE REPARACAO DE DANOS. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO. § 6° DO ART. 37 DA CONSTITUICAO DO BRASIL. AGENTE PUBLICO. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. © Supremo Tribunal Federal, por ocasiéo do julgamento da RE n. 327.904, Relator o Ministro Carlos Britto, DJ de 8.9.06, fixou entendimento no sentido de que “somente as pessoas juridicas de direito ptiblico, ou as pessoas juridicas de direito privado que prestem servigos piiblicos, é que poderéo responder, objetivamente, pela reparagao de danos a terceiros. Isto por ato ou omissao dos respectivos agentes, agindo estes na qualidade de agentes publicos e nao pessoas comuns” (RE 470.996-AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 18-8- 2009, Segunda Turma, DJE de 11-9-2009). Esse também é 0 entendimento de grande parte da doutrina, inclusive de José Afonso da Silva, citado no voto relator do recurso extraordinario n° 327.904/SP. “(...) A obrigagao de indenizar é da pessoa juridica a que pertencer o agente. O prejudicado hé que mover a ac&o de indenizacéo contra a Fazenda Publica respectiva ou contra a pessoa juridica privada prestadora de servico ptiblico, nao contra o agente causador do dano. O principio da impessoalidade vale aqui também (in Comentério contextual & Constituig&o, Editora Malheiros, 2005, p. 349). E ai professor? Como devo me posicionar nas questdes de prova? Bem, se vocé estiver se preparando para questées objetivas, como é 0 caso do concurso da Receita Federal, penso que o mais coerente ainda é adotar © posicionamento do Supremo Tribunal Federal (salvo se a banca fizer referéncia expressa ao posicionamento do STJ). Todavia, se tiver que enfrentar questées discursivas, apresente os dois entendimentos para o examinador. (Advogado/CEF 2010/CESPE) Segundo a jurisprudéncia majoritéria do STJ, nas a¢ées de indenizagao fundadas na responsabilidade civil objetiva do Estado, 6 obrigatéria a denunciacao a lide do agente supostamente responsdvel pelo ato lesivo, até mesmo para que 0 poder publico possa exercer o direito de regresso. Assertiva considerada incorreta pela banca examinadora. © caiu na prova! www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 3 6) Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica 0 CONCURSOS Prof. Fabiano Pereira Outro ponto que merece destaque é o fato de que a aco regressiva, nos termos do artigo 5°, XLV, da CF/88, transmite-se aos herdeiros, até o limite da heranga recebida, ou seja, mesmo apés a morte do agente pubblico, o seu patriménio responde pelo dano. tome nota! ye Ainda nao encontrei em provas questées versando sobre o inicio do prazo Para a propositura da a¢ao regressiva em face do servidor causador de dano a0 particular. Entretanto, é importante esclarecer que o art. 2° da Lei 4.619/65 prevé que “o prazo para ajuizamento da acao regressiva seré de sessenta dias a partir da data em que transitar em julgado a condenagéo imposta 4 Fazenda”, isto é, entendimento que nao estd em conformidade com 0 posicionamento do Supremo Tribunal Federal. 9. RESPONSABILIDADES ADMINISTRATIVA, CIVIL E PENAL DOS AGENTES PUBLICOS Quando o agente piiblico, no exercicio de suas fungdes, praticar alguma irregularidade, algum ato violador do ordenamento juridico vigente, poderé ser obrigado a responder a um processo administrativo, um processo civel e outro na esfera penal, simultaneamente, j4 que essas esferas so independentes entre si. Em regra, néo ha vinculago entre as sangées administrativas, civis e penais e, portanto, elas poderao cumular-se. Da mesma forma, os processos em cada esfera poderéo tramitar isoladamente, nao sendo necessério, por exemplo, aguardar o julgamento da esfera judicial civel a fim de que seja proferida a decisio administrativa. E possivel que exista a responsabilidade civil sem que haja responsabilidade penal ou administrativa. Pode ainda haver a responsabilidade administrativa, sem que ocorra conjuntamente a penal ou civil. Em razéo da independéncia das instdncias, a Administracéio pode aplicar a penalidade administrativa de demiss&o ao servidor, por exemplo, mesmo antes de ter sido julgada a aco penal. Entretanto, caso o servidor seja absolvido posteriormente por sentenca penal que negue que ele seja o autor do possivel crime (negativa de autoria) ou, ainda, que declare a inexisténcia do fato criminoso, deverd ser reintegrado ao cargo anteriormente ocupado, com direito recepcéo de todas as vantagens financeiras a que teria direito se estivesse trabalhando. www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 4 Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica Prot. Fabiano Pereira oni DOS CONCURSOS 9.1, Responsabilidade Civil Segundo o professor José dos Santos Carvalho Filho, a responsabilidade civil 6 a imputac&o, ao servidor, da obrigacdo de reparar 0 dano que tenha causado 8 Administrag8o ou a terceiros, em decorréncia de conduta dolosa ou culposa, de carater comissivo ou omissivo, tratando-se de responsabilidade SUBJETIVA. A obrigag3o de o servidor reparar pecuniariamente o dano causado pode Ihe ser exigida de uma sé vez ou de forma parcelada, sendo possivel 0 desconto de cada parcela nos vencimentos mensais do servidor, desde que com a sua expressa concordancia e nos termos previstos em lei. O Estatuto dos Servidores Publicos Federais (Lei 8.112/90) estabelece que, nos casos de parcelamento, o valor de cada parcela ndo podera ser inferior ao correspondente a dez por cento da remuneracéo, provento ou pensdo do agente publico. 9.2. Responsabilidade penal A responsabilidade penal abrange os crimes e contravengdes imputadas ao servidor, nessa qualidade. Existe a possibilidade, conforme informado acima, de o servidor ser condenado apenas na esfera penal. Entretanto, se 0 ilicito penal acarretar prejuizos a Administracéo, podera também ser condenado na esfera civel pela pratica do mesmo ato, que repercutiu em outra esfera. 9.3. Responsabilidade administrativa A responsabilizagao administrativa poderd ocorrer em consequéncia de condutas comissivas ou omissivas que configurem violacdo as normas previstas no estatuto dos préprios servidores, a exemplo da Lei 8.112/90. Antes de ser condenado na esfera administrativa, deverd ser assegurado ao servidor o direito ao contraditério e a ampla defesa, garantias previstas expressamente no texto constitucional, em processo administrativo préprio. E valido destacar ainda que o servidor condenado na esfera administrativa tem o direito de rediscutir a penalidade aplicada no Ambito do poder judicidrio, que estd restrito & andlise da legalidade, pois ndo pode ter inger€ncia nos critérios de conveniéncia, oportunidade ou justiga dos atos punitivos da Administracao. www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 95 6) Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica 0 CONCURSOS Prof. Fabiano Pereira 9.4. Efeitos da deciséo penal nas esferas civil e administrativa Certamente, este é um dos topicos mais cobrados em concursos publicos, independentemente da banca responsavel pela elaboracao das questdes. Sendo assim, é necessdrio que vocé tenha bastante ateng3o aos detalhes que sero narrados a seguir, para nao correr o risco de errar uma questdo em prova. 1°) A decisdo penal condenatéria $6 causa reflexo na esfera ci Administragéo se o fato ilicito penal se caracterizar também como fato civil. Exemplo: Se um servidor for condenado pela pratica do crime de dano (artigo 163 do CP) contra bem publico, tal decisdo provocard reflexo na esfera civil, pois a Administracdo teve um prejuizo real ao seu patriménio e, portanto, 0 servidor estaré obrigado a reparar o dano. - E valido ressaltar que, em regra, a esfera penal nao vincula a esfera administrativa. 2°) Em se tratando de decisdo penal condenatéria por crime funcional (aquele que tem relacéo com os deveres administrativos), sempre haverd reflexo na esfera administrativa, j4 que tal conduta deverd ser considerada também um ilicito administrativo. Exemplo: Se o servidor é condenado pelo crime de corrupgao passiva (art. 317 do CP), tera implicitamente cometido um ilicito administrativo, como aquele previsto no artigo 117,XII, da Lei 8.112/90 (receber propina, comissao, presente ou vantagem de qualquer espécie, em razéo de suas atribuig6es) e, portanto, deverd ser condenado nas duas esferas. - Nesse caso, a esfera penal ird vincular obrigatoriamente a esfera administrativa. 3°) Se a deciséo na esfera penal afirmar a INEXISTENCIA DO FATO atribuido ao servidor ou a NEGATIVA DE AUTORIA (declarar que o servidor no foi o autor do crime), devera ser reproduzida necessariamente na esfera administrativa, ou seja, caso o servidor seja absolvido na esfera penal nas duas situagdes citadas, deveré também ser absolvido na esfera administrativa, OBRIGATORIAMENTE. - Caso o servidor ja tenha sido demitido administrativamente no momento do transito em julgado da decisdo penal, deverd ser reintegrado ao cargo anteriormente ocupado, apés a anulag3o da demissao. 4°) Se a decisio na esfera penal absolver o servidor por INSUFICIENCIA DE PROVAS quanto a autoria, por exemplo, nao ocorrera a vinculagéo da esfera administrativa e, se as provas existentes forem capazes de configurar um ilicito administrativo, podera entéo ser condenado na esfera administrativa. E o que a doutrina denomina de conduta residual. www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 96 oni Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo a ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica 0 CONCURSOS Prot. Fabiano Pereira - EXEMPLO: Se um servidor for absolvido da suposta pratica de crime de peculato (artigo art. 312 do CP), por insuficiéncia de provas quanto a sua participag3o no fato criminoso, nada impede, porém, que seja punido na esfera administrativa por ter atuado de forma desidiosa, ilicito administrative previsto no artigo 117, XV, da Lei 8.112/90, que constitui conduta residual independente do crime de peculato, 5°) Se o servidor é condenado a crime que n&o tenha relagéo com a fungo publica, nenhuma influéncia haverd na esfera administrativa quando a pena nao impuser a perda da liberdade. Se a privacdo da liberdade ocorrer, surgem duas hipdteses distintas: - Se a privaco da liberdade for por tempo inferior a 04 (quatro) anos, © servidor ficaré afastado de seu cargo ou funco, assegurado o direito de a familia receber o auxilio-reciusao; - Se a privacdo da liberdade é superior a 04 (quatro) anos, ocorrerd a perda do cargo, fung&o ptiblica ou mandato eletivo. Com relagdo a este ultimo, & valido ressaltar que devem ser observadas as regras do artigo 55, VI, combinadas com a regra do § 2° do mesmo artigo, todos eles da Constituicdo Federal de 1988. A decisio final sobre a perda do mandato eletivo fica sob a responsabilidade da CAmara dos Deputados ou Senado Federal, dependendo do caso. www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 7 6) Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘ula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administragio Pablica 0 CONCURSOS Prot. Fabiano Pereira ita fails ola oe 1. A CF/88 adotou a teoria do risco admi trative e nao a do risco integral; 2. A teoria do risco administrativo admite excludentes de responsabilidade em relac&o ao Estado, tais como a culpa exclusiva da vitima, 0 caso fortuito e forga maior; 3. A teoria do risco integral nado admite excludentes de responsabilidade; 4. A responsabilidade civil do Estado pelos danos que seus agentes causarem a terceiro é de natureza OBJETIVA; 5. As pessoas juridicas de direito privado, desde que prestadoras de servicos publicos (como as concessionérias, por exemplo), respondem objetivamente pelos danos que seus agentes causarem aos usuarios ou ndo-usuarios do servigo prestado; 6. As pessoas juridicas de direito privado, quando prestadoras de servicos publicos (como as concessionarias, por exemplo), respondem objetivamente pelos danos que seus agentes causarem aos n&o-usudrios do servico prestado; 7. Segundo o entendimento do Superior Tribunal de Justica, tanto o caso fortuito quanto o even forca maior excluem a responsabilidade civil do Estado; 8. A responsabilidade civil do Estado, em virtude de omissdes que causaram danos aos particulares, € de natureza subjetiva, sendo necesséria a comprovac&o do dolo e/ou culpa a fim de que o Estado seja obrigado a indenizar; 9. A responsabilidade do Estado, ou mesmo do particular, em virtude de danos nucleares, seré sempre objetiva, na modalidade do risco integral; 10. Quando o Estado causar danos ao particular em fungdo da obra publica em si ($6 fato da obra), a responsabilidade civil serd de natureza objetiva; 11. O Estado responde civilmente pelos danos causados aos particulares provenientes de leis inconstitucionais e leis de efeitos concretos; www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 98 6 Preparatério para Técnico do Seguro Social (INSS) - Direito Administrativo ‘Aula 04 ~ Controle e Responsabilidade Civil da Administrago Publica os cONcURSOS Prof. Fabiano Pereira 12. A CF/88, em seu artigo 5°, LXXV, assegura que Estado poderd ser responsabilizado civilmente por atos jurisdicionais em duas hipéteses: erro do judicidrio e quando o individuo ficar_preso além do tempo fixado na sentenca 13. A responsabilidade do Estado, em relacéo aos bens, coisas e pessoas sob a sua guarda, é de natureza objetiva; 14. A prazo para o particular propor aco de indenizagéo em face do Estado prescreve em cinco anos, contados da data do ato ou fato do qual se originarem. Todavia, 6 IMPRESCRITIVEL 0 prazo da Administracao Publica para cobrar 0 ressarcimento de prejuizos ou danos causados ao seu patriménio em virtude de comportamento culposo ou doloso de seus agentes, servidores ou no, conforme estabelece o § 5° do artigo 37 da CF/88; 15. O Estado tem o direito de rearesso contra o agente publico se foi obrigado a pagar indenizac3o proveniente de dano causado a particular em virtude de acéo/omissao do agente ptiblico; 16. A responsabilidade civil do agente ptiblico, em face do Estado, é de natureza subjetiva, portanto, deve ser comprovado que o agente agiu com culpa e/ou dolo; 17. O entendimento da doutrina majoritaria é no sentido de néo ser permitida a _nomeaggo a lide, pelo Estado, do servidor responsdvel pelo dano ao particular; 18. Pela pratica de ato irregular, o servidor pode responder na esfera penal, civil e administrativa, j4 que sdo independentes entre si, entretanto, as sangées aplicdveis nessas esferas podem cumular-se; 19. A absolvicdo do servidor, na esfera penal, por insuficiéncia de provas, no exclui a possibilidade de condenacdo na esfera administrativa em virtude de falta residual. 20. A absolvigéo do servidor na esfera penal, por negativa de autoria ou inexisténcia_do fato, obriga a absolvicdo do servidor também na esfera administrativa. www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Fabiano Pereira 99

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