Nota do Autor. No muito fcil esta espcie de leitura, o sentido das
letras diferente, conforme os desejos do que as pretende decifrar e da mil decees e amargos desenganos. Eu no sei se li bem ou mal; mas certo que depois disso, o livro parece fechado... no descubro carateres novos.
Ouve, lnguida virgem das cidades,
A paixo que me inspiraste. Curvada, como a flor em vaso de ouro, Tu, bela, me encantaste. Eu vi-te assim pendida; a estrela de alva Ao surgir do oriente No nos envia mais saudosos raios Do seu leito fulgente. A virao da tarde, mais amena No bosque, no murmura; A alva aucena, que o vergel enfeita, No tem a cor mais pura. Surges, e magoada Pareces ver as vagas desta vida Na margem debruada. Vejo-te ento ainda, e pensativa, Os lbios entreabertos, Murmurando em sentida linguagem Pensamentos incertos. Vejo-te ainda, as lgrimas ferventes Dos olhos rebentando, E, ao correrem nas faces, indiscretas, Segredos revelando. Que segredo o teu, lnguida virgem, Ideal dos meus amores?
Que imaginas nos sonhos dessas noites
To cheias de fulgores? Que mistrio procuras no ocidente Ao desmaiar do dia? Ou que viso esperas, quando a aurora Com rosas se anuncia? Que oculto sentimento reprimido Te faz ansiar o seio? Que ntima dor, que pensamento acerbo? Que indefinido enleio? Olha, se o corao te pede amores, Virgem, no chores, canta, Para ti que so as flores da vida E a luz que nos encanta. Tu, sim, podes amar; nas sacras aras Dessa chama inquieta, Ateia o sacro fogo com que inflamas O corao do poeta. Tu sim, podes amar; mas eu... se ao ver-te Interrogo o futuro, Uma voz me murmura: Adora, mrtir, Adora, e morre obscuro.
Enfim! enfim! encontrei-te.
Luz h tanto suspirada! Raiaste, aurora fadada De um longo dia de amor! Resplandece, Sol brilhante Da primavera da vida! Surge, surge, estrela querida,
Que to grato teu fulgor!
Se soubesses como ansioso Aguardava este momento, Que h tanto no pensamento Me aprazia em conceber!