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Porqu?... Mas, Deus, perdoa! eu creio! eu creio!

No seu leito de morte o conheci:


Sim, nesse instante de tormentos cheio,
No peito a voz da crena bem ouvi!
E por isso prostrei-me de joelhos,
E os lbios murmuravam a orao,
E cri ento no Deus dos Evangelhos,
E a dvida deixou-me o corao.
Repousa, irmo, sombra do cipreste;
No repousar na terra desventura.
Cruzando o limiar da sepultura.
Dezembro de 1859.
Nota do Autor. Duvidar da verdade desta poesia, era duvidar dos meus
sentimentos mais puros, dos meus mais queridos afetos e nesse caso, no
sei
de palavras que me pudessem justificar.
Calou-se a lira! E a criao nos coros
De menos uma voz aos cus revoa!
Na imensa harpa, em que o universo entoa
Os seus cnticos, de menos uma corda!
Que foi? que nota falta s harmonias?
Que foi? que mo deixou quebrar a lira?
O poeta morreu, o canto expira,
Cessam seus hinos do sepulcro borda!
Morreu o teu cantor, Armamento!
O teu sacerdote ardente, poesia!
Deus, Ptria, a ltima agonia
Gelou a voz que hosanas vos sagrara!
Crente inspirado, os brados do entusiasmo
No lhe esfriou dos homens a indiferena,
E a venenosa taa da descrena
Dos generosos lbios arrojara!
O poeta morreu! E o Sol e os astros

Que ele cantou, e a abbada celeste


De lutuosas trevas se no veste;
E tu, Ptria, que ele amava tanto,
Tu dormes ainda esse gelado sono?!
No te acorda o seu ltimo gemido?
Sente-lhe a morte, se no hs sentido
De animao e glria o eterno canto.
Mas no; os homens veem pasmar o fretro,
Veem do sepulcro alevantar-se a lousa,
E, olhando a nobre cara que repousa,
Quem ? perguntam com cruel frieza.
um poeta, lhes respondem poucos.
Um poeta! palavra incompreensvel!
Por ele a multido passa insensvel,
E a campa desampara com presteza.
E um poeta morreu! listas palavras
Nada vos dizem, povos, que as ouvistes?
No as h mais solenes nem mais tristes.
Oh! nelas refleti um s momento!
No sabeis o que diz a morte do homem
Que se encaminha campa que lhe ergueram
Seguido apenas dos que ainda veneram
O culto da poesia e pensamento?
No ouvis esse dobre, que o lamenta?
como a voz do sculo, que brada:
Chorai, multides, que na cruzada

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