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BRUNO MUNARI DAS COISAS — ONASCEM COISAS eee ee seipesrimrenitt combina | Depécito legal n°217 750/04 ISBN: 972-44.0160-X ‘Tos os dzeto reservados para a lingua portoguesa ‘or Edigdes 70, Lda, Lisbos PORTUGAL EDIGOES 70, Lda Rua Luciano Cordero, 173 -2° Esq. - 1069-157 Lisboa / Portugal Telefs:21 3190240 Fax: 21 3190249 ‘e-mail: ei 70@ mal selepacpt ste bra est protegi pela Les. No pode ser reproduzida, __, 0 todo ou em parte, qualquer qu seja 0 modo utlizado, Inchindo ftoeépiae xerocépia, sem prévia avorizasto do Editor ‘Qualquer transgressio & Lei dos Dirtos de Autor ser passivel aA Produgao sem apropriagéo acg4o sem imposigao prépria evolugao sem prepoténcia La0Tse século quarto antes de Cristo As quatro regras do método cartesiano A primeira consistia em nao aceitar nunca como verdadeira qualquer coisa sem a conhecer evidentemente como tal: isto é, evitar cuidadosamente a precipitagéo € a prevencio; nao incluir nos meus juizos nada que se nao apresentasse tao clara distintamente a minha inteligéncia de modo a excluir toda a possibilidade de diivida. A segunda era dividir o problema em tantas partes quantas fossem necessérias para melhor o poder resolver. A terceira, conduzir por ordem os meus pensamentos, ‘comegando pelos objectos mais simples mais faceis de conhecer, para subir a pouco e pouco, gradualmente, até ao conhecimento dos mais compostos; admitindo uma ordem mesmo entre aqueles que no se prendem naturalmente uns com os outros. Por iiltimo, fazer sempre enumeragées tdo completas e revisdes tao gerais que tivesse a certeza de nada ter omitido. René Descartes 1637 SABER PROJECTAR Projectar é facil quando se sabe 0 que fazer. Tudo se toma fécil quando se conhece o modo de proceder para alcancar a solugao de algum problema, e os problemas que se nos deparam na vida sao infinitos: problemas simples que parecem dificeis porque nao se conhecem os problemas que se mostram impossiveis de resolver. Se se aprender a enfrentar pequenos problemas pode-se pensar também em resolver problemas maiores. O método projectual nfio muda muito, apenas mudam. as areas: em vez de se resolver o problema sozinho, é necessério no caso de um grande projecto aumentar o ntimero dos especialistas e dos colaboradores; ¢ adaptar o método & nova situagao. Neste livro sobre metodologia projectual séo apresentados alguns pequenos problemas ¢ outros mais, complexos, tendo sempre em vista © que se deve fazer para os resolver. Todos 0s exemplos so comunicados ao leitor de acordo com o método seguido para projectar a sua solugao. O conhecimento deste método tomar mais facil © projecto de outros problemas. O leitor nao encontrara neste livro a forma de projectar uma astronave nem outros grandes projectos ilusdrios baseados exclusivamente na livre e incontrolavel fantasia pessoal dos projectistas; mas encontrar exemplos ao alcance de toda a gente que tenha o bom 12 senso de fazer face aos problema reais, aqueles que aparecem normalmente. Um problema comum a todos é, por exemplo, montar casa (como se costuma dizer). Quantas e quantas pessoas nao sabem que méveis s40 adequados, ndo sabem o que ¢ realmente necessério, nao sabem como resolver o problema da iluminagao de um apartamento, de acordo com o que se pretende. Nao sabem quais as cores préprias para cada ambiente; nao sabem como utilizar sem desperdicio o espaco habitdvel. Nao sabem distinguir o objecto certo do objecto errado para um determinado fim. O conhecimento do método projectual, do como se faz: para construir ou conhever as coisas, é um valor © tuxo nio é design la OLUXO O luxo é a manifestagao da riqueza gue quer impressionar o que permaneceu pobre. ‘a manifestagao da importancia que se dé a exterioridade e revela a falta de interesse por tudo ‘© que seja elevaco cultural. E o triunfo da aparéncia sobre a substdncia. O luxo é uma necessidade para muitas pessoas que querem ter um sentimento de dominio sobre os outros. Mas 0s outros se forem pessoas civilizadas sabem que o luxo é fingimento, se forem ignorantes admirario ¢ até talvez invejem os que vivem no luxo, Mas a quem interessa a admiracao dos ignorantes? Talvez.a0s estiipidos. De facto, o luxo é uma manifestagio de estupidez. Por exemplo: para que servem as tomneiras de ouro se dessas torneiras sai uma 4gua inquinada? Nao sera mais inteligente, com o mesmo dinheiro, mandar por um filtro de agua e ter tomeiras normais? O luxo é pois 0 uso errado de materiais dispendiosos sem melhoria das funcdes. E portanto uma estupidez. Naturalmente que o luxo esta ligado a arroganciae a0 dominio sobre 0s outros. Esta ligado a um falso sentido de autoridade. Antigamente a autoridade era o feiticeiro, que tinha ornamentos ¢ objectos que apenas ele podia ter. O rei e 0s poderosos usavam carissimos tecidos ¢ peligas. Quanto mais 0 povo era mantido na ignoréncia tanto mais a autoridade se mostrava coberta de riquezas. E ainda hoje em muitos paises se verificam estas manifestagdes de aparéncias miraculosas. No nosso tempo, porém, entre as pessoas ss, procura-sé ‘0 conhecimento da realidade das coisas nlio a aparéncia. O modelo jé nao € 0 luxoe a riqueza, jd nfo € tanto o ter quanto o ser dizer como Erich Fromm). : A media que oanafebetsmo dininuestordade aparente cai e em lugar da autoridade i surge a autoridade reconhecida. Um cretino sentado num enorme trono podia talvez sugestionar no passado, mas hoje, e sobretudo amanha, espera- -se que nao volte a ser assim. Desaparecerio 0s tronos € as poltronas de luxo para os dirigentes impostos, os méveis especiais para os chefes, 0s cadeirGes de luxo colocados em estrados de mogno, os omamentos, as hierarquias, e tudo o que servia para impressionar. Em suma, quero dizer que o luxo nio é um problema de design. Arroz verde 1 — Moa-se, conjuntamente, uma grande quantidade de Presunto gordo e cebola. 2 — Ponha-se ao lume com um fio de azeite, deixando alourar. 3 — Lavem-se bem alguns espinafres, sequem-se e cortem-se finos. 4 — Cosam-se em bastante 4gua. 5 — Juntem-se ao presunto e & cebola alourada. 6 — Deite-se na mistura um pouco de caldo e tempere-se com sal ¢ pimenta. 7 — Deixe-se ferver mais um pouco. 8 — Junte-se 0 arroz e deixe-se continuar a cozedura, juntando lentamente um pouco de caldo. 9 — Tire-se do lume quando o arroz estiver no ponto. Qualquer livre de cozinha é wm livry de metdolugia projectual, ‘Série deoito recipients: quate panelas quatro tests utlizaveis como assadeiras ou frigideras. Metendo unas nas outa formar um ico objeto, ficil de arrumar € muito funcional. Design Roberto Sambovet. 18 METODOLOGIA PROJECTUAL ‘Em qualquer livro de cozinha se encontram todas as. jindicagGes necessérias para preparar um determinado prato. Estas indicagdes sio por vezes sumarias, quando se destinam a pessoas habituadas a estes trabalhos; ou. mais particularizadas, no que toca 3s indicagdes para cada uma das operagdes, para os que nao tém tanta pratica. As vezes, além de indicarem o conjunto das ‘operagdes necessérias ¢ a sua origem légica, chegam mesmo a aconselhar também o tipo de recipiente mais adequado para 0 prato que se esté a preparar¢ 0 tipo de fonte de calor que se deve usar. O método projectual no 6 mais do que uma série de operagées necessérias, dispostas por ordem légica, ditada pela experiéncia. O seu objectivo é 0 de se atingir o melhor resultado como menor esforco. Projectar um arroz verde ou uma panela para cozer ‘© mesmo arroz, exige a utilizagdo de um método que ajude a resolver o problema. O importante é, nos dois casos referidas, que as operagées necessérias sejam realizadas segundo a ordem ditada pela experiéncia. Nao se pode, no caso do arroz, por o arroz na panela sem Ié ter posto primeiro a 4gua; ou aloirar o presunto ¢ a cebola depois de se ter cozido 0 arroz, ou cozer arroz, cebola & espinafres em conjunto. O projecto num caso destes, frustrar-se-A e tem de deitar-se tudo fora. Também no campo do design nio se deve projectar sem um método, pensar de forma artistica procurando logo a solugao, sem 20 se ter feito uma pesquisa para se documentar acerca do que jé foi feito de semelhante ao que se quer projectar; fe 2 ee leat pa a cpasaucao, sem aE ter precisado bem a sua exacta fungao. Ha pessoas que, perante o facto de terem de observar regras para fazer um projecto, se sentem foe atidade? pe sa ee smota fea todos doidos? iidade? perguntam. a 2 Todos uns robots? Todos nivelados, todos iguais? E recomegam a partir do zero a refazer a experiéncia necessatia para projectar bem. Terao de fazer muitos esforgos para compreender que certas coisas séo feitas antes ¢ outras depois. Desperdigarao muito tempo a ‘orrigir erros que néo teriam cometido se tivessem seguido um método projectual jé experimentado. Criatividade nio significa improvisagao sem método: dessa maneira apenas se faz confusio e se cria nos jovens ailusao de se sentirem artistas livres e independentes.A série de operagies do método projectual é feita de valores objectivos que se tormam instrumentos de trabalho nas como tal. Por exemplo, se eu afirmar que misturando, amarelo-limio com o azul-turquesa se obtém um verde, quer se use témpera, éleo, acrilicos, ou pastéis, estou a afirmar um valor objectivo. Nao se pode dizer: para mim © verde obtém-se misturando o vermelho com 0 castanho. Num caso destes consegue-se um vermelho sujo, em certos casos um teimoso diré que para ele isso ¢ um verde, mas seré apenas para ele e para mais ninguém. O método projectual para o designer niio é nada de absoluto nem definitivo; é algo que se pode modificar se se encontrarem outros valores objectives que melhorem © proceso. E isto liga-se a criatividade do projectista que, a0 aplicar 0 método, pode descobrir algo para 0 2r melhorar. Portanto as regras do método néo bloqueiam a personalidade do projectista mas, pelo contririo, estimulam-no a descobrir coisas que, eventualmente, poderdo ser titeis também aos outros. Infelizmente um modo de projectar muito difundido nas nossas escolas é 0 de incitar os alunos a encontrarem ideias novas, como se devessem inventar tudo desde o principio todos os dias. Desta maneira nio se ajudam os jovens a ter uma disciplina profissional e orientam-se em direcedes, erradas, pelo que quando tiverem acabado 0 curso irdo ter grandes dificuldades no trabalho que tiverem escolhido. E por isso bom fazer uma distingao imediata entre 0 projectista profissional, que tem um método projectual, gragas ao qual o seu trabalho é realizado com precisao ¢ Seguranca, sem perda de tempo; e o projectista roméntico que tem uma ideia «genial» e que procura forcar a técnica a realizar algo de extremamente dificultoso, dispendioso € pouco pratico mas belo. Deixemos pois de parte este segundo tipo de projectista que, para além de tudo, nao aceita conselhos ¢ ajuda de ninguém! E ocupemo-nos do método profissional de projectar do designer. 22 EM QUE SECTORES SE ENCONTRAM PROBLEMAS DE DESIGN Muitos destes sectores da produgio industrial estio exploradissimos, outros esto pouco explorados, em alguns nunca se verificou a intervengio do designer. Tal como acontece na decoracao, sao frequentemente aplicadas demasidas «ideias» ligadas & moda ou ao gosto corrente do ptiblico pelo que nesse caso nao se pode falar de design mas de styling. Estas «ideias novas» serviam de reclamo para os agora famosos Salées do Mével, e varios destes objectos nunca entraram em produgo, ficando apenas como protetipos de reclamo e mais nada. ‘Vejamos alguns destes sectores em que 0 designer pode trabalhar, um de cada vez; e vejamos o que pode valer a pena abordar como projecto. de design) Utilizacao maxima do espago habitavel. Tuminagao dos ambientes segundo a sua utilizacao. Eliminaco dos ruidos. A circulacao do ar e dos cheiros. Os sanitatios. 23 O mével adaptavel a varias fungoes. ‘Oespaco para as criangas. O adequado uso de materiais do ponto de vista do tacto. aquecimento e arrefecimento em relagao a dispersio. Desenhos para tapecarias. Mobilidrio para escritorios, locais ptiblicos, hospitais. pred cores, actistica de um_ o de ambientes especiais como salas de espera, etc. Vestuario Deixando de parte a moda, campo dos estilistas, podemos ver se hd aqui possiveis intervengdes de design. Vestuario desportivo. Roupas para trabalhadores. ‘Sapatos ¢ luvas especiais com fungées especiais. Chapéu-guarda-chuva para pescadores, ete. fateh fechada ¢ aberta. oe 24 ‘Campismo Todo o material de campismo, quando projectado sem Preocupacoes artisticas, € quase perfeito. A economicidade de base e os subproblemas de desmontagem e transporte, garantem um bom projecto. ‘de uma tends dos ‘nGmadas do deserto. Instrumentos de medida Balangas, termémetros, anemémetros € muitos outros instrumentos, podem ser reprojectados segundo o ponto de vista do designer. Ou podem ter outras fungoes nao previstas, como ade estagio meteoroldgica numa escola elementar. 25 Jogos e brinquedos didacticos Jogos ao ar livre paraescolas. Jogos colectivos para praia. Jogos meteorolégicos. Jogos de agua, de ar, térmicos, Spticos, dindmicos. Brinquedos desmontiveis e recomponiveis Idem para informagées artisticas. Museus ¢ exposigées Estruturas especiais para colocagéo de obras de arte. Demonstragdes visuais de técnicas Estruturas leves desmontiveis e recomponiveis para mostras temporérias. Tluminagao de ambientes. Sinalética e estudo dos Apresentacao de modelos € lugdes. Viswalizaglo das 7 harménicas de um perfil desenhado por Leonardo. 26 Luna park Os pavilhdes para o Luna park so montaveis por encaixe e portanto facilmente desmontéveis, transportiveis ¢ montaveis de novo e rapidamente. Ver a sua montagem 6 muito itil para um designer, 6 aprender como se simplificam 0s problemas. Projectar um novo pavilhio de Luna park. Inventar novas atraceées. Efeitos de luz. em movimento transformacées continuas. Modulagio do espaco para facilitar a montagem. 7 Sinalética Sinalizagdes pablicas. Sinalizagdes internas de estabelecimentos ou outros edificios. Simbolos gréficos para comunicar informagées especi: Sinalizagao desportiva. Cinema e televisio itulagdo de programas televisivos. Jago de filmes. Efeitos especiais. Textos, grafismos, diagramas ‘em movimento para filmes técnicos. Animagao de imagens. Uso da luz polarizada. Uso do sintetizador. Formas e cores endégenas. Montagens especiais. Ampressio Impressio serigrifica, Impressdo em diversos materiais. Impressio com cores flutuantes. Exploragao de todos os tipos possiveis de impressio conhecidos, como o monétipo, a xilografia, Tex obi i P ’ ne a agua forte, alitografia, o batik... belccen Xerografias originais. edeuma Série de impressées variadas. fotocopiadora. 30 Tapegarias Projecto de texturas diversas. Elementos matéricos naturais. Texturas mecdnicas extraidas de redes geométricas. ‘A cor adequada aos ambientes, de acordo com 0 objectivo. ‘A cor neutra adaptada a todos 0s objectivos. Mosaicos °. essimétri do mosaico permite muitas ‘combinagées possiveis. Texturas adaptadas aos mosaicos. Decoragées automaticas aproveitando aquilo que na indistria se consideram defeitos de fabrico. Problemas de combinabilidade de novos mosaicos quadrados com a mesma decoragio. Formas diferentes combinaveis entre si. Problemas de baixo relevo. Paredes de mosaicos com espessuras diferentes combinados. Aeon PAN ASS Bolsas ¢ malas arrumaveis, quando vazias, ‘em pouco espago. Oembrulho. 32 Grafismo na arquitectura Os letreiros das lojas. Letreiros de grandes armazéns em vastas superficies. Letreiros publicitérios luminosos. O nome de uma pensio na fachada. Letreiro saliente em bandeira. Letreiro de dimensées varidveis com movimento. Marcas de fabrica ou simbolos muito grandes para serem colocados sobre o edificio. Sinais a distancia. Embalagens Embalagens para liquidos. Para objectos muito frageis € muito volumosos. Para objectos de peso nao uniforme. Para séries de pequenos objectos. Espaco vazio inferior. Para exposicdes nos grandes supermarkets. Com polistirolo, com cartéo, com. para um Tiquido, uttizivel também ‘como recipiente. 33 Iluminagio ‘uma sala de exposigoes. Erandeeiro de nia a vapores de sé. de mercirio para uma montra. Tluminagio aluzde Wood para uma exposicéo de minerais. Um espeeticulo deluz para.um concerto. Luzes estroboscépicas para uma discoteca. Interruptores, re reésiatos, tomadas e fichas oe eee amerdoconcionio —-vornoho ILUMINOTECNICA Actividade editorial Nao apenas 0 projecto grafico da capa de um livro ou de uma série de livros, mas também © projecto do proprio livro como objecto portanto: © formato, o tipo de papel, a cor das tintas em relagéo & cor do papel, a encadernacao, a escolha do caracter tipogrifico de acordo com 0 assunto do livro, a definicao da mancha do texto em relagéo A pagina, 0 local da numeragao das paginas, as paginas de guarda, © caracter visual das ilustragdes ou fotografias que acompanham © texto € assim por diante. Estantes A loja de hortalicas modelada pela medida das gavetas da fruta. A sapataria modelada pelas medidas das caixas de sapatos. Estantes de ferro, madeira, pléstico. Estantes desmontaveis e adaptaveis a varias necessidades. Estantes com materiais semi-trabalhados. Idem para grandes depésitos com carrinhos e ascensores.. 35 Outros problemas se podem déscobrir nas industrias que trabalham materiais diferentes tais como a borracha, 0 vidro, 0 aco inoxidavel, o cobre, a ceramica, oméarmore, os feltros, os tecidos artificiais, os varios sectores das matérias plasticas, ete. ‘Muito frequentemente alguns destes materiais so usados como sucedaneos de materiais naturais e Ou entio faz-se uma produgo que esta rigorosamente dentro dos limites tradicionais e nao se exploram por exemplo, podem projectar-se molduras para quadros, colocdveis da mesma forma que se coloca um pneumatico numa bicicleta: sem pregos. Este tipo de moldura tem uma aderéncia perfeita e portanto nao entra po ‘entre o vidro e a pintura. Tudo se resolve com a maxima simplicidade. ‘Naturalmente a forma destas molduras sera ‘o mais simples possivel ¢ nao uma imitagao das molduras de estilo. ‘Aqui temos um exemplo de moldura para estampas, documentos ou fotografias; 6 estampada numa tinica pega jé de forma quadrada com os cantos arredondados, a medida é de setenta centimetros de lado mas. puxando-a, pode alargar-se alé um metro. 36 Aplica-se sobre uma folha de masonite A qual € fixado um pedago de madeira para penduré-la (visto que nao se pode pendurar a moldura eléstica). A espessura da peca de masonite e do respectivo vidro ficam dentro da seccao da moldura que serve também de amortizador 37 singulares sao por sua vez amplidveis, dar-nos conta de que os problemas de design esto. um pouco por todo o lado, endo apenas na decoracio como aparentemente pode parecer. ‘Vimos assim onde esto e vamos ver agora como se identificam e como se podem abordar para se achar uma solucao. 38 O QUEE UM PROBLEMA PROBLEMA Vv Sovugdo O meu amigo Antonio Rebolini diz: «Quando um problema nao se pode resolver, nao é um problema. Quando um problema se pode resolver, também nao é um problema». E com efeito ¢ verdade. Mas esta afirmacao origina algumas observagées: € necessdrio antes de tudo saber distinguir se um problema é resohiivel ou nao. E para o saber é préciso ter a experiéncia, sobretudo técnica, que tem o meu amigo Antonio. Mas que pode fazer um designer no inicio da sua actividade? Acerca da metodologia projectual existem diversos textos que foram publicados sobretudo para os projectistas técnicos, e alguns sao também aplicdveis ao design, ou seja a esse tipo de actividade projectual que considera também a componente estética do projecto. Os principais autores destes textos sao: M. Asimov Principi di progettazione editora Marsilio 1968, J. C. Jones Un metodo di progetiazione sistematica editora Marsilio 1967, B. Archer Metodo sistematico per progettisti editora Marsilio 1967. «O problema do design resulta de uma necessidade» diz Archer. Isto quer dizer que no nosso ambiente as pessoas sentem a necessidade de ter, 39 por exemplo, uma viatura mais econémica ou ura maneira diferente de dispor em casa 0 espago para as criancas, ov o novo recipiente mais pratico para. Estas e muitas outras so necessidades das quais pode surgir um problema de design. A solucao de tais. problemas melhora a qualidade da vida. Estes problemas podem ser particularizados pelo designer e propostos & industria, ou pode ser a indistria a propor ao designer a resolucao de algum problema. Muito frequentemente porém a indiistria tende a inventar falsas necessidades para poder produzir e vender novos produtos. Neste caso o designer nao deve deixar-se ‘envolver numa operagdo que se destina a0 Iucro exclusivo do industrial e ao prejuizo do consumidor. (© problema nio se resolve por ss; no entanto,contém todas os ‘lementos para asa solucio, & necesirioconhecé-los. Projecto de solugio. e tilizi-loe no 4 E nesta altura que o projectista ird realizar uma experimentagao dos materiais e das técnicas disponiveis para efectuar 0 seu projecto. Muito frequentemente materiais e técnicas sao usados de uma s6 ou de poucas maneiras segundo a tradigao. Muitos industriais, dizem: Nao temos feito sempre assim, para qué mudar? Ao /és, pela experimentagao podem descobrir-se novas utilizagGes de um material ou de um instrumento. Ha anos foi colocado no mercado um produto industrial chamado Fibralin, composto por fibras de raion juntas ‘como um feltro por goma sintética. Este material era fabricado para substituir certos tecidos nos trabalhos de alfaiataria para o forro dos fatos, ¢ era fabricado com diversas espessuras, desde a do papel velino até & do cartio. Tinha um prego baixo e um aspecto agradavel como 0 do papel de seda japonés. Este material, que é ainda fabricado, fixa bem a impressao em serigrafia e eu préprio experimentei essa impressio por varias formas. Com este material projectei pavilhdes tempordrios para exposigdes de produtos industriais. Desde entio este material inventado para as alfaiatarias é usado também, pelas suas qualidades e possibilidades especificas, para pavilhdes e para serigrafias artisticas. Uma experiéncia instrumental é realizada numa copiadora electrostatica, que de copiadora se toma instrumento para produzir imagens originais. E hoje, em varios paises, muitos gréficos usam estas copiadoras para fazer os seus esbogos originais. A experimentagao de materiais e de técnicas e, portanto, também de instrumentos, permite recolher informagées sobre novas utilizagdes de um produto inventado com um tinico objectivo. 58 Depois da recolha dos dados sobre os materiaise sobre as técnica, indicada ‘no esquema por MT, a criatividade dirige experimentagées dos materiais € dos instrumentos para ter ainda outros dads com que estabelecerrelagoes, lieis a0 projecto. 39 Destas experiéncias resultam amostras, conclusdes, informagoes que podem levar 4 construgao de modelos demonstrativos de novas utilizacdes com fins particulares. Estas novas utilizagdes podem destinar-se & resolugao de subproblemas parciais que, por sua vez, em ligagao com os outros, concorrerdo para a solucio global. Como se vé com este esquema metodolégico, até agora nao fizemos qualquer desenho, qualquer esbogo, qualquer coisa que possa definir a solugao. Nao sabemos ainda que forma vai ter a coisa que se quer projectar. Mas estamos todavia seguros de que as hipoteses de possiveis erros so muito reduzidas. Podemos agora comecar a estabelecer relacdes entre os dados recolhides, tentar agupar os subproblemas e elaborar alguns esbogos para a construgao dos modelos parciais. Estes esbocos, sempre em escala ou em tamanho natural, podem mostrar-nos solugdes parciais de agrupamento de dois ou mais subproblemas. Por exemplo, se 0 difusor do candeciro for rigido, pode servir também de interruptor: bastaré premi-lo e a lampada acendera. O redstato pode ser incorporado na base que faz também de casquilho. Pode estudar-se uma forma de encaixe especial que permita facilmente a unio das duas partes. Pode ser necessério estudar uma junta articulavel que permita reduzir 0 volume do candeciro para ser colocado numa embalagem mais pequena do que 0 candeeiro aberto. E assim sucessivamente. Estes esbocos podem ser postos em. prética separadamente ou reunidos no objecto global acabado. Teremos assim um modelo do que poder eventualmente vir a ser a solugio do problema. 9 8-0 =m+3+n<8<+8-2 c ° nes an ‘Da experimentagio, indicada no esquema por E, podem surgir modelos, realizados para demonstrar as possibilidades matéricas ou técnicas a usar no Projecto. 6r Nesta altura torna-se necessdria uma verificagao do modelo, ou dos modelos (pode acontecer que as solucdes possiveis sejam mais do que uma). Apresenta-se 0 modelo em funcionamento a um certo mimero de provaveis utentes e pede-se-Ihes uma opiniao sincera acerca do objecto. ‘Com base nestes juizos faz-se um controle do modelo para ver se se pode modificd-lo, sempre que as observagdes assentem em valores objectivos. Se alguém diz: ‘nao gosto, s6 aprecio 0 estilo do século quinze’, esta ‘observagao é demasiado pessoal e nao é valida para toda a gente. Se, pelo contrério outra pessoa diz: ‘o interruptor é demasiado pequeno’, é preciso ver se é possivel aumenté-lo. Pode-se, neste momento, fazer também um controle econémico para verificar se 0 custo de produgio vai permitir um prego justo na venda do objecto. Com base em todos estes dados posteriores pode-se comecar a preparar os desenhos construtivos, em escala ou em tamanho natural, com todas as medidas precisas ¢ todas as indicagdes necessdrias & realizacao do protétipo. Estes modelos deverio necessariamente sex sujeitos a todo tipo de verificagées para ser contolada a sua Validade. 2 HREM HHH BB Qe Bog t < i 4 Nn 63 Os desenhos construtivos devem servir para comunicar, a uma pessoa que nio esteja ao corrente dos nossos projectos, todas as informacées titeis para preparar um prototipo. Estes desenhos sero executados de maneira clara legivel, em quantidade suficiente para se perceberem bem todos os aspectos, e quando'os desenhos nao chegarem far-se-4 um modelo em tamanho natural ‘com materiais muito semelhantes aos materiais definitivos, com as mesmas caracteristicas, por meio dos quais 0 executor perceberd claramente o que se pretende realizar. © esquema do método que preside ao projecto, ilustrado nas paginas anteriores, nao é um esquema fixo, nao é ‘completo e nao é tinico nem definitivo, é aquilo que a experiéncia ensinou até agora. Fique todavia claro que, embora tratando-se de um esquema elastico, € melhor efectuar, por agora, as operacdes referidas pela ordem indicada: na preparacdo do arroz verde por exemplo no se pode por a panela ao lume sem agua ou preparar 0 condimento depois do arroz estar cozido. Se houver porém alguém capaz de demonstrar objectivamente que € melhor alterar a ordem de algumas operagées, 0 designer esta sempre pronto a modificar 0 seu pensamento face & evidéncia objectiva, ¢ é desta forma que toda a gente pode dar o seu contributo criativo A estruturacao de um trabalho que procura, como se sabe, obter o melhor resultado com o minimo esforgo. ‘6 neste momento podem ser trabalhados 0s dados ecolhidos que tomario forma nos desenhes consrutvos,pariai ou totais. que se destinam a realizar o protétipe 64 eleBemeReg oF-BeQ< Ye DESENHO CONSTRUTIO 4 ) 6 P 4 ESBOGOS E DESENHOS D Ao longo do processo projectual o designer utiliza varios — Seek tee pos de desenhos, desde o simples esbogo para fixar' i al patent prernrapenpeoany ¥ 4s perspectivas, as axonometrias, ao desenho explodido, AD —— Come hoy? as fotomontagens. to Que pater copion? Vejamos alguns exemplos de cada tipo: cae Serta 222 MT~ Qin a bae? v E — pew site bo v M ~ fine v VM — bm, chage para quater v DESENHO CON: era ARROZ VERDI Sse re pratt agutcidar Ps

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