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ANTONIO S. A. GUIMARES.

PRECONCEITO DE COR E RACISMO NO BRASIL

fizera da miscigenao e da ascenso social dos mulatos as pedras fundamentais de sua compreenso da sociedade brasileira. Ou seja, para ser
mais claro, eram fatos estabelecidos, j em 1935, pelo menos entre os
intelectuais modernistas e regionalistas, que: (a) o Brasil nunca conhecera o dio entre raas, ou seja, o preconceito racial; (b) as linhas de
classe no eram rigidamente definidas a partir da cor; (c) os mestios se
incorporavam lenta mas progressivamente sociedade e cultura nacionais; (d) os negros e os africanismos tendiam paulatinamente a desaparecer, dando lugar a um tipo fsico e a uma cultura propriamente
brasileiros.
O quanto essas crenas provinham mais de desejos do que de realidades, refletindo mais ideais do que prticas, notou-o tambm Park, na
mesma introduo6, ainda que reconhecesse se tratar de uma ideologia
nacional7.
O fato que Arthur Ramos tinha razo: as idias de Chicago chegaram Bahia depois das de Herskovits, e se este pode ser incorporado
facilmente tradio inaugurada por Nina Rodrigues, Pierson, no que
pese ter sido antecedido pela histria social de Freyre, iniciava uma nova
sociologia que apenas nos anos 1950 seria retomada.
Seria, todavia, enganoso se eu no apontasse o quanto da antiga problemtica permanecia no novo mtodo e nas novas teorias de Pierson,
presente principalmente na idia de raa (que permitia que os mestios
fossem s vezes subrepticiamente tratados como negros) e na manuteno de explicaes historicistas. Ora, o mtodo historicista de explicao se confunde com o de estabelecimento de verdades fundacionais, e
Pierson, ao utiliz-lo, acaba por bater trs pilares: (a) a existncia original de raas diferentes; (b) a mistura racial ou miscigenao; (c) a mobilidade social de mestios. Pierson atribui esta ltima inexistncia do
preconceito de raa que, facultando a miscigenao, explicaria a ascenso
social dos mestios. Restava, portanto, para entender os preconceitos de

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