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Da Sage + Erich Auerbach = MIMESIS AREPRESENTAGAO DA REALIDADE NA LITERATURA OCIDENTAL "4 2 PERSPECTIVA i ui de resis, Editors Perspective AM 5 Harold Bloom EAD AND WHY esta edo reservados & TDA. rua Cosme Velho, 103 RJ - CEP: 2241-090 4 — Fax: (21) 556-3322 jetiva.com.br Capa na Feith dit Rocha Tegan 0 EletPnica eer fda. a Blob; tradugio deJoséRobeno jen, 001 ISWN 85-3702-347-3 nd why 1.G'Shea, José Robert. I. Treo DD S013 Para Miriam Bratu Hansen ao cy 1. A Cicatriz de Ulisses 0s leitores da Ouistia lembrar-seo, sem divida, éa bem pteparada e emecionanté cent do canto XIX, quando Ulisses Tegresa A casa e Euriléa, sui eetiga uma, 0 reconhece por uma Cicatrz.na coxa. O forajteiro hava granjeado a benevolencia de Penélope; atendendo a disco Je sev protegido, ela ordena a go- vemnanta que lave 06 pli do viandante fatigado, segundo ¢ usual nas velhasestrias como primero dever de hospitalidade. Burks omega s procurar Agua ¢ a nisturar a dgua quente com a {ria, senquanra fala tristement# do ¢enhor ausente, que poderia ter mesma idade do héspede: que talvez tambéss esivesse agora var sgueindo como um pobre forastiro — nisto ela observa # assom~ brosa sernethanga entre o*héspelee 0 ausente — 20 mesmo tempo iiss se lemibra da cieanit ee afasta para a escuridio, a fim de ‘cultar, pelo menos de Penélope, o reconhecimento, jd inevitive, mas ainda indesejdvel pari ele. Logo que a ancid apalpa a cicatiz, eina cais 0 pé na baci, com alegre sobresslto; a dgua transbor- 4, ela quer prorromper em jtbno; com silenciesas palavras’ de Hisonjae de ameaca Ulisse coftém:; ela cobra Animo e reprime 0 setr movimento. Penélop@, cujf atenglo tinha sido desviada do acontecimento, gragas 4 pievidencia de Atenéia, nada percebe. 2 5 MaMesis ‘Tudo isto ¢ modelado com exatiddo ¢ relatado com vaget. Num discurso ireto, pormenorizado ¢ Quente,jambas as mulheres ‘dio a conhecer os seus sentimentos; ndo dbstante tratarse_ de Ssentimentos, um pouco mesclados a consideracdes muito gerais acerca do destino dos homens, aligac2o sinttica entre as partes ¢ perfeitamente claraj nenhum contorno se confunde. Ha, também, = lpco¢ tem atindats para, deci bem orden remente iiuminads, dos utenslios, das) manipulagtes @ dos estos, mostrando todas as articulagtes sintticas; mesmo 10 ‘ramatico instante do reconhecimento nao se deixa de comanicar 420 leitor que com a mio direita que Ulisses pega 2 velha pelo pescogas para impedir-the que fale, enquanto a aproxima de si'com 4 outrs mio. Claramente circunscrites, brlhante ¢ uniformemente iluminados, homens € coisas esto estiticos ou em movimento, dentro de um espaco perceptivel; com ndo menor clareza, expres sos sem reservas, bem ordenadbs até nos momentos de emogdo, aparecem sentimentos¢ ideas 'Na minha reprodugio do incidente, omiti até agort 0 con tetido de toda uma série de versos que o interrompem pelo meio Sto mais de setenta — 0 incidente em si compreende cerca de (quarenta versos antes e quarentta depois da interrupedo. A inter- Tupelo, que ocorrejustamente no mémento em que a governanta reconhece a cicatri, isto é, 0 mofnentd de crise, descreve a forigem da cicatriz, um acidente dos tempos da joventade de Ulises, durante uma caca ao javali por ocasifo de uma visi sev av6 Autélico,{Isto di, antes de tis lla, motivo para infor- mar 0 letor aceréa de Autélico, sud rhoradia, grau de parentesco, catiter, e, de maneira to pormenorizada quto delicioss, seu com: portamento apds 0 nascimento do nity, seave-se a visita de Ulis- 55, jd adolescente; a saudacto, o bahjuete de boss-vindas, 0 sono ¢0 despertar, 2 aida matutina para a cagd, 0 rastejo do animal, a Iuta, oferimento de Ulises por uma fires 0 curativo da ferida, 0 restabelecimento, 0 regresso a ltaca} > prebcupado interrogatorio fos pais; tude & narrado, novamente; tom pereita confacmagio de todas as coisas, nlo ‘deixando nada rio escuro © sem omitir ne- huma dis articulagbes que as lignin eitre si, E sb depois 0 narrador retorna ao aposento de Peilope] e Eurictia, que tinha reconhecido a cicatiz antes da internipt3c, 56 agors, depois dela, eixa cai, assustada, o pena bacia. 7 (0 primeiro pensamento que aco ac leitor moderno, de que fo que se pretende & aumentar a tensid, &, 5¢ nlo totalmente falso, pelo menos ndo decisivo para a expliacls do processo homer Pois 0 elemento da tensfo & muito debil tas pocsias homéricas; das nao se destinam, em todo © seuzistil| a mantet em suspenso © leitor ou ouvinte, Para tanto serid nevessirio, antes de mais nada, que 0 leitor nio fosse “‘distenilido"’;fielo meio que procura polo em “tensio™” — e ¢ justamem® ists 0 que acontece muito freqientemente; também no caso em apregé ocorte isto. O episé- io da caga, narrado com amplidies ammotdsa © sutilmente cons- + ‘A CICATRIZ DE ULISSES 3 truido, com todo © seu elegante deleite, com a riqueza das suas imagens idilicas|fende 2 ganhar 0 leitor totalmente para si, en- ‘quanto 0 ouve ~ 3 fazt-lo esquecer o que acontecera recentemente, durante 0 fava-pz,.LO ndo preenchimenta total do peesente az pare de uma inte ‘que aumenta a tensio ‘mediante 0 retardamento; Enecesiti6 que ela nto aliene da conscincia & rise por cuia solucto. se deve esperar com tensio, para in destruir a suspensto do estado de espirio; a crise ¢ 2 tenslo diver ser mamidas, permanecer conscientes, oum segundo ol 'S8 que Homero,e teremos de volta a isto, nlo conhece segundo planos. (D que ele nos nara € sempre somente presente, ¢ preen the completamente a cena e a conscitncia do letor,\ © que acontece na passagem citada. Quando 2 jovem Euridltia pte o ‘ectm-naccie Ulises no colada avd Autlico, apts © banquete (¢- 401's., a velha Eurcléia, que poucos versos antes tocara 0 pe do viandante, desaparece por completo da cena e da Nossa cons: Gtncia, ‘Goethe e Schiller, que em fins de sbril de 1797 se correspon diam, nao especificamente sobre o episédio aqui em pauta, mas sobre 0 “elemento. retardador'” na poesia homérica em eral, ‘punham-no dietamente 20 Principio da tensio™” — termo esse ‘lo propriamente utlzado, mas clarsmente aludio, quando © procesto retardador€ posto, como processo pico propriamente dito, ‘em oposico 20 tragico(cartas de 19, 21 ¢ 22 de abi). O elemento fetardador, 0 avancareretroceder’* mediante interpolates, tam bom a mim parece estar, na poesia homérica, em contrapoigio 40 ‘enzo impulto para uma meta. Decero Schiller tem rerio quando diz que Hlomero descreve “"meramente a tranqiilaexst@ncia © a3 das coisa segundo a sus naturera"; 8 sua fnalidade estaria “pre Sente em cada tm dos pontos do seu movimento”. Sb que tanto Schiller quanto Goethe, elevam o proceso homerico & categoria de |eida poesia épica em geral eas palavras de Schiller, acima cit dleverm vigorat para o pocta pico em geral, em contraste com 6 teigico. Contudo i, tanto nos tempos antigo como nos modernos, obras éicassignilicativas‘escrtis sem qualquer ‘elemento raar- dador’™ no sentido de Schiller, mas de mancira claramente ca regada de tensio, obras quh, sem diivida, “‘roubam 2 nossa liberda- de emocional’’, 0 que Schiller quer conceder exclusivamente 20 poeta trigico. Além do mais, patece-me improvavel e inverossimil ‘que no, processo citado da potsia homérica tenham tido pape) reponderante a consideragdes ésticas ou mesmo um sentimento, Estttico do tipo admitde por Goethe e Schiller. O eleito &, ser duvida, exatamente aquel por eles descrito, ¢ daqui se deduz também, com efeito, 0 coriceito do épico, que eles proprios, assim como todos os esritores dfcisivamente infuenciades pala Arti dade clssica possuiem. [Mis 2 ferdadeira causa da fmpressio. de retardamento parece-me reid tm outra coi; precisamente, a necessidade do estilo honiérico, de nfo deixar nada do que ¢ ‘mencionado na penumbra a inecabado,| 4 MIMESIS + ‘A digressto acerca da origem da cicatriz nto se diferencia fundamentalmente dos muitos trechos onde uma personagem re ctmvintrodusida, ou uma coise ou um apetrecho que aparece pela primeira vez, Slo descritos pormenorizadamente quanto a sua ‘spice © origem, sinda que seja no auge de wm combate; ou daqueles outros onde se informa, acerca de um deus que aparece, conde estvera recentemente, 0 que fzera por i e por qual caminho Chegara: até 05 propris epitetos parecem-me ser atribuivels, em lltima andlise, & mesina necessidade de exteriorizaclo dos fendme- ‘es. Aqui, € 3 cicatriz que aparece no decorrer da acdo; efnto é ossive para o sentimento homérico deixd-ia emergirsimplesmente 4a escuidio de um passado obscuro; ela deve sar laramente 4 luz, ‘¢com ela, um pouco da juventude do her6if~ da mesma maneira ‘que na Tada, quando o primeiro navio jd arde € os mirmidBes Finalmente se dispdem a sjudar, ha ainds tempo sufciente, nfo 56 ‘para a magnifica comparagio com. os lobes, ila x6 pare order das ‘bandos mirmidonicos, mas timbém para a informaclo pormenot- zade acerea da origem de alguns subalternos (lads, 16, 155 €.). E aro que oeletoesttico assim obtido deve te sido logo notado €, for conseguinte, conscientemente procurado, mas © mais primor= dial deve residir no prépriofnpulso fundamental do estilo homéri- co: representar 0s fendmenos acabadsmente, palpéves visveis em todas as suas partes, claramente defiridos ern suas relagdesespaciais temporais.[O mesmo ocorre coin 0s processospsicolgicos: também deles nada deve ficar ocuto,ou inexpresso) Sem reservas, tem dispostes até nes momentas, de paivlo, as personagens de ‘Homero do a conhecer © sea interiér no teu discursa; 0 que afo dizem 40s outrs, falam part si, de modo @ que 0 leitor 0 saiba. ‘Acontecem muitas coisas espantosss nai poesias homérics, mas nunca tacitamente; Polifemo fala yém Ulises; este fala com os pretendentes, quando comecs a mati-los; protixamente, Heitor ¢ ‘Aauiles falam, antes © apés 2 lila; e sfenhum discurso ¢ tho ‘carregado de medo ou de ira que nélé fltetn ou se desordenem 0s Jnstramentas da aticulapto lgica lig. Isto & vido, nata- gene ov peas aerioe, pr os erect, Os diversos membros dos fendmenes ‘slo restos sempre em clara felacto miitua; um ndmero conside/fvel de conjuncbes, adverbios, particuls e outros instramentos sstitous; toes cleramente del ‘mitados e sutilmente graduados na Sia significacso, deslindam as personagens, a5 coisas € as partes dos acontAcimentos entre si, ¢ 0s ‘vém a hiz pesfeitamente acabados; ‘de misdo que hd wm deséle Jnimersupto,rtmicamente movimentada, das fendmenos, sem que se mostre, em parte alguma, uma {Sima lagmentiria ou sb pst ialmente ilumingda, uma lacuna, via féida, um vislumbre de + protundezas inexplorades. | | | | I | A CICATRIZ DE ULISSES 5 Eeeste desfle dos fendmenes ocorre no primeiro plano, isto, sempre em pleno presente espacial e temporal. Poder se-ia acreditar que as mutes int e avangar ¢ retroceder, & indicada claramente a sua Figura ey 0 mais das vezes, o meio da sia chegada do seu posteriormente como correqlo a uma outra palavea — mas, em {oxo ease, 0 local estava indicado; tratava-se, sem divida, de um Iugar de culto, 20 qual deveria ser conferida uma consesracio especial em conexdo com a olerenda de Abralo, Do mesmo modo ‘ue "de manhi cedo™ nto tem a funedo de Sxar uma delimitarto, temporal, “‘Jeruel, na tera de Morid”” nfo fxa uma delimitacio espacial, pois, em nenhum dos dois cas, conhecemos’o limite ‘posto ~ do mesmo modo que nto sabertos ahora em que Abraio, levansou os olhos nem o lugar de onde parti — Jerue importa no, tanto como meta de uma viagem terrena, na sus relagto geogrdica, com outros lugares, mas por sua especial elecdo, por sua relagdo ‘com Deus, que o determinara como cenério desta ago — por isso precisa ser someado, Na narraglo sparece uma tercira personagem importante, Isoac. Enquanto Deus € Abrado, servos, burros e utenslios 516 simplesmente chamados pelo nome, sem mengio de qualidades ou de qualquer outra espcificacto, Isaac obtém, uma vee, ma sposi ‘fo; Deus diz: “Toma teu fio, teu unico flho’# quem tanto amas, Tsaac,"” Isto, contudo, nfo ¢ uma chracterizaglo de Isaac como pessoa fora ct sua relacto com pa ¢ fora da narrativa; no um desvio, nem uma interupedo Uescrtiva, pois nfo se trata d uma caracterizaclo que delimite Isaac que remeta # sua existinca, como um todo, Ele pode ser belo oi ei; inteligente ou tolo, alto ou baixo, atraente ou repulsivo ~- dada dsto € dito. So aquilo que deve ser conheido a seu respeio auc sgors, dentro dos lites 4a ago, aparece iluminado — pata salestar quio terrvel € a tentaglo de Abrato, e quio consciénie € Deus desse lato. Obser- vase com este exemplo anttetico qual & a sifnifcerto dos adjetivos descritivos e a8 digressbes da poesathomérica; com a sua alusto A existfcia restante da personagem déscrita, tquilo que nto ¢ tora. ‘mente apreendido pela situagi, & sia exfttncia, por assim dizer, absolut, eles impedem a concentrac40 uniliteral do leitor na crise presente; iipedem, mesmo n0 mais Rpantobo das acontecimentos, ‘© surgimento de uma tensdo opressivs. Mas no caso da oferenda de ‘Abralo, a tensio opressiva existe. Q que Schiller queria reservar Para o poeta trigico — roubar-nos'é noiss liberdade de Asim, dirigir numa sb dicecdo e concentrir as hbssas forgas intesiores chiller diz ‘a nossa atvidade") ~ ¢ objido neste relat bibico anes cerament, deve ser consider tic contramos o mesmo contras(é quaio comparamos © em: prego do discurso diceto. No relato bibica também se fala; mas © Aiscurso nlo tem, como em Homers a firiglo de manilestar 00 ‘emerorizar pensamentos. Antes pelo contffio: tem a intengto de aludir a algo implicito, que permaneté inetpresso. Deus da sua cordem em discurso diceto, mas cals seus motives e intengdes, ‘Abrato, a0 receber a order, emudect, edge da mancice que the fora ordenada, A’ conversa entre Abjito ¢ Isaac no caminho 20 local do scrificio no ¢ sendo uma intérrapgto do pesado silencio © serve apenas para torislo mais oprestivo. "Juntos os dois”, Isaac A CICATRIZ DE ULISSES 9 carregando 2 lenha e Abrato, o fogo ¢ 2 fucx, “*caminhavam"” Isaac atreve-se a perguntar, hesitante, acerca da ovelha, € Abralo dt @ resposta que conhecemos. Ali repete’o texto: ““E ambos, juntos, continuaram 0 seu caminho."” Tudo permanece inexpresso. Nao é fil, portanto, imaginar contrastes de estilo mais marcantes do que estes, que pertencem a textos igualmente antigos ‘eépicos. De um lado, fentimenos acabados, uniformemente iia ntdos, definidos temporal e espacialmente, ligados entre si, se: intersticios, num primeiro plano; pensamentos e sentimentos ex ‘ressos; acontecimentos que se desenvolvem com muito vagar & Pouca tensio. De outro lado, s6 ¢ acabado formalmente aquilo que nas manifestagbes interessa & meta dz acto; o restante fica na ‘escuridto. Os pontos culminantes e decisivos para a aclo sto os ‘Unicos a serem saliemados; © que hi entce eles # inconsistente: tempo € espago slo indefinidos € precisam de interpretacao; os ensamentos ¢ 0s sentimentos permanecem inexpressos: 36 sto sugeridos pelo siléncio e por discursos fragmentirios. O todo. dirigido com méxima e ininterrupta tensto para um destino e, por isso mesmo, muito mais unitério, permanece enigmaticoe carregado de segundos planos. Acerca desta tltima expressio, quero expri ‘mir-me com maior clareza, para que ela nlo seja mal comprect- ida, Falei mais acima do estilo homérico como sendo de “‘primeiro plano”, porque, apeser dos muitos saltos para tris ou para diante, deixa agir 0 que é narrado, em cada instante, como presente tinico € puro, sem perspectiva. A gbservacto do texto elolsta mostre-nos ampla e profundamente. dele aparece em cada caso cle Sempre se estende para as proud dades, Mas 0s prOpriog sered humans dos relatos bibicos x40 mais icps em segundos plans 4o que os homéricos; eles tém mais preted guato tp trp, ye et cosctncta Ande due estejam quase sefipre Envolvides nom aconteciment9 que 05 ‘cups por completo, nto se kntregam a tal acontecimento a ponto de perderem a permasfente éonsciéncia do que Ihes acontecera em ‘tro tempo e em outro luga; seus pensamentos e sentimentos tém mais cimadss e slo mis inirincades. O modo de agir de Abraio cexplica'se nto 36 a paitir déquilo que lhe acontece momentanes- sente ou do seu catdier (como o de Aquiles por sua ousadia € corgulho, o de Ulisses for sun asic € prudente previsto), mas a partic da sua histOriaanteror. Ele se lembra, tem permanente consciéncia do que Deis the prometera e do que ja cumprira — ‘o seu interior esté profindaminte excitado, entre a indignacto deses- perada ea esperanca cohfiantt a sua silenciosa obediacia¢ rica em ‘camadas ¢ em planos = ¢ iimpossivel para as figuras homers, Cujo destino estd univdeamehte determinado, © que acordam. toda ‘como se fosse 0 primezo, cair em situagdes internas (20 problemdtivas. As sual emogbes slo violentas, convenhamos, mas aa} MIMESIS + so ambi nls eirompem de neta. Quanta has emcontrane as crs et oo de ah ae 25 Cris em panos St abe aaa Absalio ou de Davi e Joab! Em Homero seria inimaginivel una | msl nm sts cognate ot mma tugrs ne cena nn a seu epllogo (2 Sam. 18 e 19, do assis mae oe sane cama planos, de pr lezas, talvez, abissais, mas também de um sey mn Eis eae ce igs ae ain em na | ban mas rages das vont ea ‘tém efeito constante, agem até sobre Joab que resiste e age sem consider; mu grandest con com or dos eee, Bee segundos planos espaciais quanto os psiquicos atingem uma expres- so ere sem qo mos sgn Cyrene Be ee, ita. mance como Aaulen gue cree Pe ee esse dees aa per ee Ss oan oe ‘encontrivel em Homero, clente entre dois possveis modos de agit; em tado 0 mas, a taliliade dh vida piquien most Te ba Suse ercamento des paintes enquanto oe ox autores deus conse | Stacia eo conto ene meaner PH dt ens Os poermas homéricas, cuja cuftira densorial, linghistica e, stress Pree sa ee Hot za sua imagem do homem, relativamehie stipes; e também 0 sto, | fin geal usar com a reaal ce Vee ‘legria pela existéncia sensivel ¢ tudo fara Mes, @ sua mais alta intenglo ¢apresentar-nos esta alegria. inte lutas v puixdes, BRS c Seis moana eel e ing, pc € ems of hebis na sus mancia belt propia de ance ees {B9, ns aleemot ao wes goad) 6°30 prec ina ‘em insetdoem costumes, pusagens €hecesiades quotidanae E tes nos encantam e catia de tl matgira qe realnente cemar tamas 0 seu viver. Enquanto ouvitios ol lemos 2 sun eae, nos absolutamenteindiferente saber gue tudo ndo pasea de lends, pe ira". A exprobraga\ freqtientemente levantada ntra Homero de que ele seria um fhentit6so nada tira da sua ifcieci: Cle io tem necesidade defer élrde da verdade hse "a do seu relato, a sua realidade ¢ battante forte; emaranhs tpanha-nos em sua red, © isto Ihe basta, Z tstente por si mesmo, no qual somod intrazidos ‘lo ha tampouco outro contetido a nfo ser ele proprio; homéricod nada ocultam, neles nfo Ki nenhum ensinemento € nenhum segundo sentido cult, possvel arlisr Homero, coms © tentamos aqui, mas nfo € possivel intepretto, Tendtnces A CICATRIZ DE ULISSES n posterior, orientadas no sentido do slegbrico, tentaram aplicar as Sas artes exegtticas também a Homero; mas isso a nada levou. Ele resiste a um tal tratamento. AS interpretagdes slo forcadas cstranhas, e nfo se cristalizam num teoria unitiria. As considers bes de cardter gral que Se encontfam ocasionalmente — em nos%o tissdio, por exemplo, 0 verso 360: "pois na desgraga os homens Jogo envelhecern"" — revelam uma tranquilaaceitagse dos dado da cexisténcia humana, porém nlo a necessidade de cismar sobre 0 assunto, e menes ainda, um impuls apaixonado, sea de se levantar contra isto, seja de se submeter com abandono exttico ‘Tudo isto & completamente diferente nos relatos biblices. © ‘encantamento sensorial nto ¢ a sua inteng20, e se, nto obstante, tm um feito bastante vital também no campo sensorial, isto s¢ deve ao fat de que 0s sucessos tics, relgisos,interiores, que s10 ‘05 Unicos que lhe interessam, se concretizam no material sensivel da vide. Porém, 2 intenglo relgiosa condiciona ‘uma existacia absoluta de verdade histrica. A historia de Abraio e de Isaac n20 cestd melhor testifcada do que a de Ulises, Penélope e Euricltia; ambas sio lendiras. Sb que o narrador biblico,o Bloista tinha de acredtar na verdade objetiva da histria da oferenda de Abrato — a persistencia das ordens sagradas da vida repousava na verdade desta histbria e de outras semehantes. Tinke de acreitarnela apaixona- damente— ou entio, deveri ser, como alguns exegetsiluministas sadmitiram ou, talver, alada admitem, um mentiroso conscience, ‘nfo um mentiroso inofensivy come Homero, que mentia para saradar, mas um mentitoso pico consciente das suas metas, que ‘mentia no interesse de jma ptetensio & autoridade absolta. Esta visto iluminista parece psicologicamente absurda, mas mesmo sealevarmos em consderagig, a recto entre o nartador Wblico € 4 verdade do seu relato perminece muito mais apaixonada, muito ‘mais univocemente definida, do que a de Homero. Tinha de oe the fosse exigido por sua fe na verdade da tradigio, 0%, do ponto de vista racionalisia, por seu interesse na sua verossfnilhehies — sefa como for, a sua fantasia iaventiva ou descritiva tstava estritamente delimitade. Sua atv dade devia limita-se a redigir de manciraefetiva a tradicto devota. ‘O que ele produzia, porlanto, nfo vsava, imediatamente, a real dade” ~ quando a sing fx um meio, nunca um fim —, mas a verdade. AS de quem alo acreditasse nela! Pode-se sbrigar muito faiimenté objegbeshistorico-rticas quanto & guerra ie Trbia e quanto aos crores de Ulsses, e ands assim sentir, na leitura de Homero, 0 efito qie ele procurava; mas, quem nto cre ‘a olerenda de Abrato ito poe fazer do relato Ublico 0 uso para © ‘qual foi destinado, £ necessri i mais longe ainda. A pretensto de verdade da Biblia € nto 30 mlito mais urgence que « de Homero, fnas cheue« ser tidnica! exci qualquer outa pretensto. O mundo dos relatos das Sagrada Escrtiras no se contenta com a pretensio de ser uma reaidade historcimente verdadeira — pretende ser 0 ‘ico mundo verdaderd, destinado ao dominio exciusvo. Qualquer ay MIMEsis utro cenrio, quaisquer outros deslechos ou ordens no tém Aisetoalgum ase apresenarindependentemente dele, e sth esorta «ue todos cles, a historia de toda a humanidade, se integriete eco subordinarBo 20s seus quadros. Os relatos das Sagrada Eseitaras slo procuram o nosso favor, como os de Homero, nao nos liscn, jeiam para nos agradar e encantar — 0 que querem ¢ nos dominen, 3 Nos negamos a isto, entio somos rebeldes, Nio se qucia bjetar que isto ir demasiado longe, due nio € relat, aa ‘outrina religions que apresenta estas pretensbes, pois os relatos jstamente nto fo, como os de Homero, mera “redidade" narte 4a, Nelesencarmam-e douttna epromess indssoluvelmente fon. Aides; precisamente por isso tém um carder recbndto.¢ obscure, contém um segundo sentido, oculto. Na historia de Isaac nko ¢ soment interven de Des no prince of, mas também, os elementos fatuis epscologicos no seu interior que permanecer, Bur, trades peas eve, cea de sounds plans justamente por isso que nlo 3 precsam de investigngio profes ¢ interpretacdo, mas até o exigem. Que Deus tente até 0 mais Piedoso de maneira mais terrvel, que a obedicia incondicional seia ania attude possvel perante Ele, mas que tamberr seen Bromessasejainamovivel, por mais que ss suas decisbes paregem dsstinarse a produzir a divida e 0 desespero “estes ste en ensinamentos talver mais importantes Contidgs na historia de lace = mas, por sua cause, 0 texto fca tio pesado, tio caregsde de ontesio, ele contém em si ainda tanta} alusdes acerca ds eatncie ie do homer pledoso, que o crete se ve indar uma e out ¥ Yodos os seus pormenores luz que Into, ha no texto tanta coisa obscure ifeabadh,e como ee ube aoe Deus ¢ um Deus oculto, 0 seu Mi interretativo. cmroses empre novo alimente. A doutrina € b 2eld ta procers de the fninardo estio indssolavelmente ligads ao cariter do rela {ste € mais do que mera “'realidade"* “= eestl, natures, om fous pein de perder x peri lidade, como ocr ios {ue @ interretagto ating tal grau a= hipetiofa que chops decompor orea, a Foner? forma, © texto do relat bibliéo necessita tanto de inerpretacto a partir do sea proprio Yonteido, sua pretensio 4 futridade absolutalevac ainda mais ihge pir eae cain Feit ie nto quer nos fazer esquecer a noses propa realidade dursees Algumas horas, come Flomero, mas siplantile; devemos were #ossa prépria vide no. seu mundo, senilemo-Ros membros da saz estruturahistricoruniversl. Ito se toa eala ver mate deg medida que © nosso mundo vital se afastt do wiando des Esoicac se este mundo, apesar de tudo, mantéin em pe a s08 preterose h sutoridade, ¢imperiono que ele propro'se adipe, através de una teansformactointerpretativa. Isto fol relitivaniente lel roe eon tempo; durante a Idade Média europa tra passive, singe, one. Sentar os acontecimentos biblices como suceson quotilianss eon, Y ‘A CICATRIZ DE ULISSES ftemporineos, para o que o método exesttico fornecia a5 bases. Quando isto = torna impraticve, pla translorrago demasiado profunda do meio ambiente e pelo despertar de uma conscitncia ‘xitica, a pretensto i autoridade corre perigo: o método exegético ¢ desprezado ¢ deixado de lado, os relatos biblicos convertemse em velhas lendas e a doutrina, desmembrada dos mesmos, torna-se uma forma incorpérea que no mais penetra na realidade sensi fou que se voatiliza na exaltagio ‘Como consequéncia da pretensio a autoridade absoluta, 0 tredo exesttico estendeu-se também a outras tradigdes que no ¢ judaica. Os poemas homéricos fornecem um complexo de aconte Gimentos preciso, espacial e temporalmente deimitado; indepen dente dele, concebemse tranqtla ¢ facilmente outros complexos ‘nteriores, simultdneos e posterior. O Velho Testamento, porém, ornece histria univers; comera com 0 principio dos tempos, com a criagdo do mundo, e quer acabas com o fim dos tempos, com ‘ecamprimento da promessa, com a qual o mundo deverd encontrar 1 seu fim. Tudo 0 mais que ainda acontece no mundo sb pode se: ‘apresentado como membro desta estruturs; tudo 0 que disto fica sendo conhecido, ou att interfere com a historia dos judeus, deve ser embutido na estrutura, como parte constitutiva do plano divino; € como isto também sb & possvel pela interpretacio do nove material afuente, = necessdade exegética se estende além dos, ‘campos primitivos da realidade judew-israelita, por exemplo, historia astra, babilonica, perse, romana; a interpretagio num sentido, determinado torna'se um’ método geral de apreensio da realidede; o mundo estranho, penetrando ‘constantemente. como ‘novo no horizonte e que, tal como se apresenta de forma imediata, ¢, em geral, totalmente impraticivel para 0 seu uso no contexto religosojudeo, deve ser interpetado de tal maneira que se encaixe rele, Mas quase sempre ito epercute sobre o contexto qué carece de ampliagdo e de modiicagio. © trabalho interpretativo mais, impressionante desta esptcie ocorreu nos primeiros stculos do CCristianismo, como conseqiéncia da missio entre: pagios, € {oi realizado por Paulo e pelos Pais da Igreja; eles re-interpretaram toda a tradiclo judaica numa série de figuras a prognosticar a sparigio de Cristo, e idicardm a0 Império Romano o seu lugar dentro do plano divino da salvacs0. Portanto, enquanto, por um Ido area do Veo Tetamentoaarece como verdad lena, com pretenses & hegerhonia, estas mesmas pretenstes obrigam-na ‘uma constante modificacio interpretativa do seu proprio contei- do; exe Ste rane itis um desenvlvimento constant & tivo com a vida do hothem ra Europa, ‘R'peetensto& urvesaidade Rstrica ea insitenteclago que constantemente se. redefine em confitos — com um Deus Uinico, oculto, porém iparenie, que dirige & historia universal prometendo e exigindo, confere 20s relates do Velho Testaments uma perspectiva totalménte diferente daquela que Homero poderia possuir. O Velho Testartento # incomparavelmente menos units 4 MIMESIS 2 so copesisto do que os poemas " sente feo de reahoe ~ thas cada tie dees pon entero istriconivesal ‘ind que tears € interpretativo da histéria versal. reetbido alguns elements, dfcimente ea Dela imcerpresgao; © os grupos de com as da Mada © da Odissia, ten mas oe 0s ee Yertial comum que os mantém todos juntos sb um mesmo tose ane fata totalmente a Homero. Em cada uma das grandes fgeres feos esto Ho povco apresenttos 10, seu iment potas eae eee Aauiles — aparecem com uma idade bfe-foada. O ‘proprio Ulises ‘que tanta margem a um desenvolvifnenta historico-vitl, graces a0 Songe tempo narrado € 20s mi acerft da Eleatriz, contase tam- ‘bémidlicamente a innciae adolesceia de Ulises, Mes Penein, be povco mudou nesses vinte anos; ng caso do proprio Ulisse, ¢ tvelhecimento merament fisico ¢ velio pels repetides intecren, fies de Atentia, que » fax aparecer vilho, fu jovem, segundo 6 ‘eswes cada situagdo, Para além do fli, nef sequer se faz alusso utr cose, e, no fundo, Ulisse é, quindo rigresa, exatamente 9 ‘mesmo que abandonars aca duas décdlas aicis. Mas, que cam, no, que destin se interpe entre o ach que sbtene wlieew eens 4 béaglo do. primogénito e © ancito /ujo fho mais amado ot ‘espedacado por uma fera — entre Divx o-harpista, persepuice pelo ciime do seu senhor, € 0 veho sei, ei de intrigns fpatonades,equecido se to por Abia, 8 Suna, sem got lea reconhega! O velho, de quem sabcmos Gomo chegou a set cue é, grovese mais foremente na onmn “omeeee ee » events | A CICATRIZ DE ULISSES i lortemente caracteristico do que 0 jovem; pois s6 no decorter de uma vide rica em lances de fortuna os homens se diferenciamn até a nla caracterzapo; eo Velo Testamenso ros ofeece ese ea ter de histria das personaldades como modelagem daqueles que Deus escolheu para odesempenho dos papéis exemplares. Duramen- te envelhidas pelo seu desenvolvimento as vezes até a decompo ‘lo, ess apresentam um cunho individual que ¢ totalmente ext ‘ho aos heréis homéricos. A estes, 0 tempo sb pode afetar exte slormente, € mesmo isto € evidenciado © menos possivel; em contrase, a5 figuras do Velho Testamento estio constantemente sob a dura férula de Deus, que nto so as criow ¢ escolhet, mas continua 2 modeli-las, dobré-las e amassilas, extraindo delas, sem destrvir a sua esstncia, formas que a sta le difcilmente deixava prever. A objecto de que o histérico-vtal do Velho Testa ‘mento surgia, rouitas vezes, da sintese de diversas personagens lendétias, mio ‘nos etinge; pois esta sintese faz parte do surgimento do tert. E quio mais ampla€ a osclagio do péndulo do seu destino do que aquela dos herbis homéricos! Pois eles sto os portadores da vontade divina, e mesmo assim, sfo faliveis, sujetos a deseraca hhumilhagio —'e em meio a desgraca e & humilhacto manifestase, aneavés das suas agbes ¢ palavras, a sublimidade de Deus. Dif: mente um deles no sofre, como Adio, a mais profunda humilha ‘glo — e dificilmente um deles nio ¢ agratiado pela intervencio ¢ inspiraco pessoais de Deus. Humilhagio exaltagio sto muito ‘mais profundas ou elevadas do que em Homero, e, fundamental ‘mente, andam sempre juntas. O pobre mendigo Ulisses nfo ¢ sento tum disfarce, mas Adio # real e totalmente expulso, Jac € realmen- te um fugitivo e Jost ¢ fealmente lancado num poco e, mais tarde, realmente vendido com¢ escravo. Mas a sua grandeza, que se eleva ds propria humilhacdo,# préxima do sobre-humano e &, também, tum rellexo dz grande/a divina. Percebe-se claramente como amplidio da osclagdo pendular esté em relagf0 com a intensidase da historia pessoal — jt)staménte as situagBes extremas, nas quais somos abandonados ou 120 desespero extrem, nas quais, além de toda medida, hos sentimes felizes ou exaltados, conf fem-nos, quando a superamps, um cenho pessoal que se reco sthece como resultado de um ihtenso desenvolvimento, de uma sca sexistacia. E este cardtef evoltvo confere, alls, quase sempre aos telatos do Velho Testament um cariter histrico, mesmo nos casos em que se trata de tradbes meramente lendéris. Hoomero permanete, com tedo 0 seu assunte, no lendiri, enquanto que 0 assuntd do Velho Testamento, 4 medida que 0 felato avanga, aproxima-te cada vez mais do histories na narracto de Davi ja predomina relao historico. Ali também hi ainda ‘muito de lendério, come, por éxermplo, 08 relatos de Davie Golia; 6 que muito, a bem dir o tssencial, consiste em coisas que os, narradores conhecem por experiencia propria ou através de tes- temunhos imediatos. OP, na maioria dos casos, a diferenca entre lenda e historia €, par# 0 létor wim pouco experiente, ficil de + MaMests y ir. Se €difll distingur, dentro de um relato histrico, 0 verdadeiro do falso ou do parcaimente ilyminado, pois ito requer luma cuidadosa formato histrico-lologiea, €ficl, em geray se pacar a lenda da historia. A sux estrutura ¢ diferente. Mesmo ‘quando a lenda nio se denuncia imediatamente pela presenga de elementos maravthosos, pela repei¢to de motives conhecides, pelo desleteo na focalizagto espacial au temporal, ox, por autres co's semelhantes, pode ser reconhecida rapidamente, © mais das vezes, por sua estrutura, Desenvalve-e de manera excessivamente linea. Tudo o que corrertransversaiment rodo arto, todo © restate, seciidiri, que se insinua nos acontecimentos & mativos princi pais, todo o indecso, quebrado e vaclante, tudo 0 que confunde © claro curso da ago a sinples directo das personagens, tudo iss0 & apagado. A historia que presenciames, ou que conhecemnos através de testemunhos de contemporineos, transcorre de maneira muito ‘menos uniforme, mais cheia de contradighese confusto; 56 quando, numa zona determinada, ela jé produziusesultados, podemas com a sua ajuda, ordend-los de algum modo; e quantas vezes 2 ordem ave assim achamos ter obtido, toma'se novamente duvidesa, quaftas, veres nos perguntamas s¢ aqueles resultados no nos levaram 4 ‘amt ordenacio demasiado simpist do ariginalmente acontecdo! ‘A lenda ordena o assunto de modo untvaco e deciido, destaca-o da sus restante conexto corn 0 mundo, de modo que este nZo pode jmervir de mancia perttadors el 96 eonhece homens unive camente Grados, determinados por pjucos & simples motivos caja integridade de sentimentos e agBes tf pote ser prejadicada. Na Jena dos mirtres, por exemplo, ven} echo se enirentam abst | Dados efances perseguassé un perepuidr nto menes tino ¢ | fardtico; uma sitvagdo tio complicads isto 8, lo verdadeiramente | histérica, como aquela em que se encontrao;“perseguidor’” Pllnio, ‘na famosa carta que escreve a Trajano acercd des cristtos, nlo pode | ser usada em lenda alguma. E este’caso ainda ¢ relativamente simples. Pensese na histria que ndk mesinos estamos vivendo: quem refetir sobre 0 procedimento ds inilviduos dos grupos, amnanos aa nascimente da nacional-sealisiva da Alemanka, 04 0 procedimento dos diferentes povos ¢ Esfados ates e durante a atual_ | serra (1942), sentird como so diftilmehte representiveis os ‘dbjtes histbricos em geri, e como 3k imprbprios paa a lenda; © histoeco contém em cada individao wfha plitora de motivos con | traditérios, em cada grupo uma vacilagfo e on tatear ambiguo; £0 “raramente (como agore, com 2 guerra) Sparece ima situaglo fortu- tamente univeca que pode ser desert de rancia rlativamente simples, mas mesmo esta € subterrantamerte gradvada, e 2 sua ‘univocidade estd quase constantemente"em ptigo,e 05 motivos de todos os perticipantestém tantas camatlis que os slogans propagan- F i ‘Testamento, enquanto se ocupa do aconteeer humano, domina | todos os 10s mbits: lends, relatohistrco e telogi histéica | cxepticn. | ‘Con isto que acabamos de analisar relacions-e também | 0 fata de 0 tenzo grege pacecee também mait limitado mat | exc com referencia so Grevlo ds personages aan das | atividade politica, No processo do reconhecimento, do qual pa ‘mos, aparece, alm de Ulises ¢ de Penélope, a ame Buricitia, uma cescrava comprada outrora pelo pai de Ulises, Laerte. Tal como 0 pastor de porcos Bumeu, ela passou 4 vida a serviga da faalia dos Laerte; tal como Eumeu, estd estreitamente unida a0 seu destino, ‘ama-0s e compartilha os seus interesses e sentimentos. Mas no possui vide nem sentimentos préprias mas sb os dos seus serhores ‘Também Eumeu, ndo obstante ainda se lembre de ter nascido livre ‘epertencer até « uma familia nabre (Cra caubada quando crianca), jd nllo tem, nem na pritica, nem nos sentimentos, vida prépria, cestando inteiramente atado 4 dos seus senhores. Estas das perso: nagens slo, porém, as dnicas que Homero anima para nds e que ‘lo pertencem & clase senhorial. Com isto chega-se & consciéncia de qie & vide, nos poeras hométoos, 14,s¢ deservolve na classe senhorial ~ tudo 0 que porventua viva-além dels s6 participa de ‘modo servigal. A classe senhoral € ainda'tto patrarcal,t20 familia~ sizada com as atividades quotidiafits dé tida econdmicd, que 3S vezes se chega a esquecer seu cafiter de classe. S6 que ainds ¢ ‘nconfundivelmente ums espécie da atisioceacia (audal, cujos ho- ‘mens dividem a vida entre a luta, a Féea, ds deliberagdes no mercado 05 festins, enquanto as mulheres vigiam as criadas em casa. Comno | festrutura social, este mundo & vialmirte imovel; as lutas 3b | fcorrem entre diferentes grupos dis claésés senhorias; de baixo, | sada surge, Mesron quando se ended os aconteimentos do | segundo canto da fade, que terminaim cot o episédio de Tersites, | ‘como sendo um movimento populat — e duvido que isto possa ser | feito em sentido socioldgico, pois trata-se ¢ querreisos de categoria | senatorial, portanto, de pessoas que Sto talnbm membros da clase | ‘enhotial, ainda que membros de ofldiga inferior — o que estes | ‘guerrelros demonstram diante do fevo feunido nfo ¢ sendo sua | propria falta de independéncia ¢ infapacidade de terem iniciativa réprid. Nos relatos patrsticos do Y'lho: Testamento predomins, | também, a constituicto patriaresl, mits cofno se trata de chefes de ; ‘asnilissisolados, némades ou seminéimade’, o quad social parece muito menos estivel; no se sente 2 fortiacio em classes. Logo ue, finalmente, o povo aparece, isto &, apét a saida do Egito, ele se faz sentir sempre na sua mobilidede; amide borbulhando inquie- tamente, e intervém frequentemente nos deontecimentes, seja co- ‘m0 tm todo, seja como grupos inalaes Ou come persanagens que se explem individualmente. As origns da profecia parecem ester na indomével espontaneidade politicc-religiosa do povo. Tem-se @ jimpress2o de que © movimento, eri profundidade, do povo em A CICATRIZ, DE ULISSES 9 Israel-Judé deve ver sido de uma espécie muito diferente ¢ muito mais elementar do que nas préprias democracias acaicas posteio: A historicidade e mobiliade socal mais profundas dos textos 4o Velho Testamento relacionamse, fnalenente, com mais uma Aine diferenca signiicativa:delas surge tum conceito de eso elevado de sublimidae diferente do de Homero, Fate certame ‘io reeiainserir © quotidiano e realsta no sublime e tragico; st reco sera extranho a sea estilo e inconciivel com ele. Vé-se no nosso episéio da cicariz, como a cena casira do ava-és, pinata aprazivelmente, € entreecida na grande, significative sume cena da volta 20 lar. Ito estd Inge, ainds, daqvela regra cs separago dos esis que mais tsde se impora quase por completo, ce que estabelcia que a desrcaorealista do qutiiano ers inconc ldvel com o sublime, ¢ sb teria gar n0 cco ou. em todo caso, cudaosamenteestlizad, no idlco.E canto, Homero esta mit pert dela do que o Velho Testament. Pois os grandes e sublimes acontecimentos ocorrem nos poemas homéricos muito mais excls sivae inconfundivelmente entre os membros de uma classe senho- fal, estes s$0 maios mats intatos na sua herbicasublimidade do ‘qe af figuras do Velho Testamento, que podem ctir muito mais Frofundamente na sua dignidade — pense-se, por exemplo, em ‘Adio, Nod, Davi, Jo =i ¢, finalmente, 0 redlsmo ess representagio da vida qiotidiana, permanecem Sempre, em He 10, no idlicoracifico “2 enqlanto qué, id desde 0 orincpio. nos relates do Velho Testaniento, o sublime, tripico eproblemitico se formar justamente no éxsiro e quotdiano: acontecimentos como ‘que ocorre entre Caim © Abel, entre Not e seus hos, eee Abraio, Sara e Hagar, etre: Rebeca, Jab ¢ Esa, e assim por dante, no sf0 concebiveis no estilo homérco. Isto resulta’ do ‘modo fundamentalmenté diferente como se oriinarn os cots. Nos relatos do Velho Teitamento,o sosego da atvidede quota ra na casa, nen campos e junto aos rebanhes € constamereme sccavado pelos cidmes en torn a elegao e a promessa da bencio, ¢ surge complieagbes inchacebives pars um herbi omic. Para ‘estes, € necessirio um ‘potive palpdvel, claramente exprimivel fara que surjam conflito ¢ inimizade, que resultam em lutaaberta fenquanto que naqueles, 0 lento ¢ constante fogo dos citanes e 4 ligacdo do doméstico com o espiritual, da béncio paterna com 3 bengio divina, conduzem a uma impregnacia da vida quotidians com substincia conftivae,(reqlentemente, 20 seu envenenamen- 1. A sublime intervengdo de Deus age to prfundamente sobre 0 auotdiano qu os dois campos do sublime e de quatidiano sto nto apenas eletivamente inseparados mas, fundamentalmente, insepartees, Comparamos 0s dois textes e, 20° mesmo tempo, os dois cailos que encamam, para obter um ponto de partida para os fossosenssios sobre a representacHo litera da realidad ng cult BD rr y y 12 europtia. Os dois silos representam, na sua oposiclo,tipos | Isicos: por um lado, descrigfo modeladora, ilurinagio unilorme, ligacdo sem intersticios, locucdo livre, predomindncia do primeifo sano, univocidade, limitacto quanto a0 desenvolvimento histrico | ‘quanto 20 humansmente problematico: por vs lado, reale de | certas partes © escurecimento de outras, falta de conex20, efeito sugestivo do técito, multiplicidade de planos, multivocidade e ne- cessidade de interpcetagto, pretensdo & universalidade historica, desenvolvimento ds apresentacto do devir historico e aprofunds- mento do problemi. i © realismo homérico rio pode ser equiparado, certamente, 40 clisico-antigo em geral pois a veparacta desenvolveu sb mais tarde, nto permitia, nos limites do sublime, disso, a cultura grega logo enconttou os lendmenos do devevalv- mento histérico e da multplicide de camadss da problemitice humana e os atacou 4 sua maneira no ealismo romano aparecem, finalmente,novaserecaiaes caries de ver 25 costs, Quando caso 0 exigr,trataremos das monifczdes posteriores da antiga representagto da raldade; om geal © apesar destaswitimas, a ‘endéncas fandamentais do stl honirico. por nbs. spontadas wigoram att a mais tardia Antiguidide. ‘Uma vez que tomamos o& dis extlos, 0 de Homero ¢ do Velho Testamento, como pontos de paitide, sdmitimofs como acabades, tal com Se 0s oferecer os teres fizemos abstract de tudo o que se refra ts suas orgense detamos, portato, dela a uestt de saber seas suas peculardades Ines pertencern original | Inente, ou se Slo stribuiveis, total 6a parcialmente, a ifluéncis | cstranhas € qusis sriam elas. A coisideracio desta qustio nlo ¢ | necessris nos limites da nosstintentio; pois foi em seu pleno | desenvolvimento alcangado em seus primbrdios que esses estos See fal et bce «rere er | i da realidad. 2. Fortunata Non potai ampliué quicduam gustare, sed conversus ad eum, ut quam plurima’ exciperein, longe accersre fabulas coepl sciscitarique, qua eset mule is, quae hucatque ive dscurreret. Usor,inquit, Trimalchions, Fortonata apellatur, quae nummes tmodio metitir. Et mods, medo quid fie? Ignoscet mihi genius ‘wus, naluisses de mano illus panem accipere. Nune, nec quid nec une, in acim abit et Trinhlcionstopania ex, Ad man, tiero meriie si dxest ili teebras esse, credet. Ipse nescit quid habeat, ado saps est; sed hace hupatta provider omnia et ubi fon putes. Est sca, sbria, bonorim conslionum, est tamen ‘alae linguae, pica pulvifars."Quem amat, amat; quem non amt, ‘ton amat, Ipse Trimalchio fundos habet qua mili volant. ‘turamorum nummos. Argentim in ostiar ilius cella plus ace’ quam quisquam in forwrishabet. Familia vero bate babac, non smehercules puto decumam partem esse quae dominum suum noverit. Ad summam, qietvis ex ists babaecalis in rutae folium coniget, Nee est quod putes illum quiequam emere- Omnia domi nascantur: lana, eredrae: piper, lacte galinaceum si quaesieis, invenies. Ad summam, parum ili bona lana nascebatury arietes 3 Tarento emit, et eos culavt in gregem... Vides tor culitas: nulla

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