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Universidade Estadual de Campinas — UNICAMP. Demografia dos povos indigenas do alto rio Negro/AM: um estudo de caso de nupcialidade e reprodugao | Marta Maria do Amaral Azevedo Este exemplar corresponde @ redagao final da Tese defendida e aprovada pela Comisséo Julgadora em 2104/2003. Banca Examinadora: Prof’. Dra. Maria Coleta Ferreira Albino de Oliveira 47 Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pés Graduagao em Demografia do Instituto de Filosofia e Ciéncias Humanas da Universidade Estadual de Campinas sob a orientagéio da Profa. Dra. Maria Coleta Ferreira Albino de Oliveira Prof. Dra. Dominique Buchillet. = D7. 4-<_ Prof*. Dra. Heloisa Pagliaro <"*: Prof. Dra. Suzana Marta Cavenaghi_/ Prof. Dr. José Marcos Pinto da Cunha Abril /2003 dibid Jase FICHA CATALOGRAFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DO IFCH - UNICAMP ‘Azevedo, Marta Maria Demografia dos povos indigenas do alto rio Negro/AM: um cestudo de aso de nupeialidade e reproducdo / Marta Maria Azevedo. - - Campinas, SP: [s. m], 2003. Orientador: Maria Coleta Ferreira Albino de Oliveira. Tese (doutorado ) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciéncias Humanas. Demografia. 2. Antropologia. 3. indios. 4. indios da America do Sul— Amazinia. 5. Fecundidade. 6. Reprodugio. 7. Casamento. 8.Mulheres. I. Oliveira, Maria Coleta Ferreira Albino de. Il. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Filosofia e Ciéncias ‘Humanas. IIL-Titalo. Resumo Esta pesquisa se insere nas areas tematicas da demografia antropologica de etnias, focalizando especificamente @ nupcialidade e reprodugo, tendo assim uma necesséria interface com os estudos etnolégicos sobre os povos indigenas em geral ¢ do noroeste amazénico em particular. Pretende-se contribuir com essa interface disciplinar através da incorporago das teorias antropolégicas sobre os povos indigenas da regiéo do Alto Rio Negro, noroeste amazénico, testando as hipoteses antropolégicas sobre o casamento através de andlises demograticas incorporando nessas andlises as idéias teorias ja formuladas. A hipétese que norteia este trabalho é de que as concepeées indigenas sobre casamento e reprodugo (na antropologia formulada enquanto teorias de alianga e descendéncia) tém estreitas relagdes com os padrdes de nupcialidade e fecundidade encontrados. Esta discusséo que se insere nos estudos demograficos sobre povos indigenas, fecundidade, transi¢éo demografica, e demografia da familia Abstract This research is part of the thematic areas of anthropologic ethnic demography, focusing particularly on nuptiality and reproduction, and so it has a necessary interface with the ethnological studies on the Indians peoples in general, and those of the Northwest Amazon area in particular. The intention is to contribute to this interface between disciplines through the incorporation of the anthropological theories about the Indian peoples of the High Rio Negro region, < Northwest Amazon area, testing the anthropologic hypothesis about marriage * through demographic analyses and incorporating in these analyses the ideas and © theories already formulated. The hypothesis that orients this study is that the Indian coneeptions on marriage and reproduction (formulated in anthropology as theories of alliance and decent) have close relationships with the patterns of nuptiality and fertility that have been found. This discussion is part of the demographic studies on Indian Peoples, fertility, demographic transition and family demography. iit Agradecimentos ‘Quero agradecer em primeiro lugar a diretoria de 1992 da Federagao das Organizagées Indigenas do Rio Negro (FOIRN), nas pessoas de Braz de Oliveira Franca, Gersen Luciano dos Santos, Bonifacio José e Maximiliano Menezes, e aos recenseadores, professores e liderancas indigenas que viajaram por todas as calhas dos rios da regiéo do Alto Rio Negro, pelo esforgo em empreender essa primeira experiéncia de um levantamento populacional auténomo no Brasil, e pela confianga que depositaram em mim para analisar 0 banco de dados resultante deste censo. Aos diretores atuais e anteriores da FOIRN, a todos os povos indigenas do Alto Rio Negro, agradego pelos diélogos, companheirismo e ajudas logisticas. As mulheres de lauareté, pela paciéncia com que me ensinaram e pela alegria compartilhada no campo. A todos os professores ¢ liderangas de lauareté, agradego o carinho com que me receberam e acompanharam os trabalhos. As minhas assistentes de pesquisa de campo, Lucia Alberta e Rosilene Fonseca, ¢ Alice Vilella, que aplicaram 0 questionério qualitative e ajudaram nos encontros sobre satide da mulher. A toda a equipe de professores do programa de doutorado em Demografia do IFCH / NEPO da UNICAMP, pela dedicagao que tiveram ao (tentar) ensinar demografia para uma antropéloga/indigenista, que nunca tinha tide contato com os numeros ou as teorias de populagéo. Em especial aos professores José Marcos e Aida, que se ocuparam das disciplinas quantitativas, e as professoras Elza e Coleta, que me ensinaram a importancia da demografia no contexto cientifico e das politicas publicas. A professora Maira pelo enorme incentivo em todos os momentos deste trabalho. Ao professor John Monteiro que acompanhou as primeiras fases desta pesquisa. A toda equipe da JCA, Claudio e Ana Cldudia em particular, pela organizacao do banco de dados e pelo trabalho de criar um programa espectfico para as primeiras pesquisas e resultados. Ao amigos Aloisio Cabalzar e Marcio Meira, antropélogos que viajaram a campo para supervisionar e participar da etapa do levantamento das informagées. Agradeco as Dras. Coleta e Suzana, as primeiras demégrafas que acolheram a idéia do Censo Auténomo da FOIRN antes mesmo de ele se realizar; nos incentivaram e orientaram com uma bibliografia sobre o tema. Ao Dr. Marcio Silva, que assessorou junto comigo o censo auténomo do rio Negro e a estruturagao do primeiro banco de dados resultante, e acompanhou 0 inicio de meus estudos em demografia, discutindo algumas idéias que estao nesta tese. Aminha orientadora, Dra. Coleta, que apoiou a pesquisa desde o seu inicio, sempre respaldando minhas iniciativas e escolhas, abrindo caminhos na academia para o tema da demografia indigena Aos colegas da equipe do Programa Rio Negro do Instituto Socioambiental, Beto Ricardo, Geraldo Andrello, Aloisio Cabalzar, Flora Cabalzar, Carléo de ‘Souza, Sucy L. dos Santos, Pieter van der Veld, Mauro Lopes, Laise Diniz, Flavia Marques de Azevedo, Francis Miti Nishiyama e Natalie Unterstell, e a toda a equipe do ISA, pelo apoio, didlogo e amizade. A Flora Cabalzar pelas leituras e corregées e Alicia Rolla pela elaboracao dos mapas. Aos amigos Cristiane Lasmar, Eugenio Marer, Alain Giami, Heloisa Lessa e Hélio Barbin, pelas longas conversas tidas, no campo ou nao: muitas idéias desta tese so resultado desta troca. A Dra. Heloisa Pagliaro pelas ajudas técnicas e pelo companheirismo durante este ditimo ano. A Dra. Dominique Buchillet, especialista em etnologia do rio Negro, pelo incentivo em todas as fases da pesquisa, dialogando e sugerindo temas e solugdes, e pelo exemplo de perseveranca e ética na relagéo com os povos indigenas rio-negrinos. Ao apoio financeiro das seguintes instituigdes: CAPES, durante os anos do doutorado, Population Council dos EUA, para uma viagem a campo em 1997 e Fundagao MacArthur, que me concedeu uma bolsa para a realizagao do trabalho com as mulheres de lauareté, durante os anos de 1997 a 1999. A equipe da SSL (Satide Sem Limites), ong parceira no trabalho com as mulheres, em especial a Simone Argentino e Marina Machado, pelo ‘companheirismo no campo e pelo aprendizado sobre satide da mulher. Aos colegas de doutorado, Tirza, Fatima, Sandra, Isabella, Rejane, Marcia, Stella, Tania e René e muitos outros, que me apoiaram nos anos de estudo € sempre estiveram disponiveis para conversas sobre demografia indigena.. Ao Wilson, pela ajuda com as tabelas do capitulo 3. A equipe da Mameluco Produgées Artisiticas, pela ajuda com a formatagao das tabelas ¢ gréficos, A Alba Morandini, pelo carinho especial, e pela ajuda com os fichamentos. A Judite pela amizade e solidariedade. Ao amigo Gustavo, que agUentou as conversas de uma doutoranda em fase final de redacdo de tese. Finalmente a toda a minha familia, Eurico, Lilia, Lucia e Jorge (pelas leituras e corregdes), Carlos (pela edi¢éo dos desenhos das mulheres) e Claudia, Cristina @ Neto, e sobrinhos, especialmente Irene (pela ajuda no campo), pelo apoio que ofereceram desde o principio; sem sua ajuda afetiva e logistica este trabalho teria sido impossivel. Ao velho Afranio e & D. Non, pelo exemplo de vida E aos meus filhos, Laura, Francisco e Joao, e namorados de filhos, Gabriel © Loli, que sempre souberam entender minha opeao de vida, ficando por longos Periodos ‘sem’ mae, e mesmo assim apoiaram esta pesquisa; a eles eu dedico esta tese. vii vill Siglas utilizadas - FOIRN ~ Federaoao das Organizagoes Indigenas do Rio Negro - CIARN - Censo Indigena Auténomo do Rio Negro - AMIDI —Associag&o das Mulheres Indigenas do Distrito de lauareté - ISA~ Instituto Socicambiental - FUNAI —Fundag&o Nacional do indio - FUNASA - Fundago Nacional de Satide, do Ministério da Saude - DSEl— Distrito Sanitario Especial Indigena - IBGE —Istituto Brasileiro de Geografia e Estatistica - SSL —Associagdo Satide Sem Limites indice geral Introdugao Capitulo 4: Demografia ¢ Antropologia 1.1. Como a cultura pode estar relacionada com os estudos demogréficos 1.2. Nupcialidade, fecundidade, cultura e organizagao social: hipéteses atuais 1.3. Demografia dos povos indigenas Capitulo 2: A regio do Alto Rio Negro 2.1. Informagées histéricas e geogréficas 2.2. Teorias antropolégicas 2.3. Informagées populacionais 2.3.1. Dados dos censos demograficos do IBGE 2.3.2. Evolugdo da populagao das comunidades indigenas nos titimos 10 anos Capitulo 3: A realizacao do Censo Indigena Auténomo do Rio Negro em 1992 3.1. O projeto da FOIRN com o CIARN 3.2. A cobertura do censo e as cinco sub-regides estudadas 3.3. Varidveis utilizadas nesta pesquisa 3.4, Resultados totais e por etnia 3.4.1. Perfil etario por etnia 3.5. Perfil etério e razfo de sexo das cinco sub-regibes 3.5.1. Perfil etario, por etnia, das cinco sub-regides 3.5.2. Razo de sexo das cinco sub-regides Capitulo 4: Tipos de casamento nas diferentes sub-regides: padres de ix 12 16 21 28 33 33 42 28 8 74 75 79 84 101 105 nupcialidade 4.1. As teorias antropolégicas sobre o casamento 4.2. Andlises dos tipos de casamento 4.2.1. Estrutura etaria dos casais 4.2.2. Diferenga de idade entre os cénjuges 4.2.3. Casamentos exogamicos e endogamicos 4.2.4. Casamentos intra e inter-regionais Capitulo 5: Comportamento reprodutivo 5.1. As concepgées émicas sobre reprodugao 5.1.1. Os resultados do questionério qualitativo 5.1.2. As concepgées das mulheres de lauareté 5.2. Fecundidade das mulheres baré, baniwa, tukano e maku (dados do CIARN) 5.2.1, Fecundidade 5.2.2. Determinantes préximos da fecundidade 5.2.3, Estrutura etéria e fecundidade Consideragées finais Referéncias bibliogréficas Lista das tabelas, gréficos e figuras Apéndice 1: Cédigos das etnias Apéndice 2: Lista das comunidades recenseadas pelo CIARN, por sub-regio Apéndice 3: Tabelas e gréficos complementares do capitulo 4 - 254 ‘Apéndice 4: Organizagées indigenas e recenseadores participantes do CIARN Apéndice 5: Questiondrios utilizados no CIARN: Apéndice 6: Questiondrio qualitative aplicado em 1998 Apéndice 7: Mapas Apéndice 8: Sub-regides estudadas com seus trechos de rios Apéndice 9: Lista das mulheres participantes dos encontros sobre satide da mulher em lauareté 106 113 116 119 120 132 155 187 157 161 177 179 185 188 195 201 209 219 221 231 247 249 261 265 281 283 Introdugao Essa pesquisa teve origem em fevereiro de 1992, durante minha primeira viagem para a regiéo do Alto Rio Negro, A Federac3o das Organizagées Indigenas (FOIRN), havia me solicitado uma assessoria para um curso de ‘Administracéo Geral para todas as liderangas das associagées indigenas filiadas. Este curso teve lugar na cidade de Sao Gabriel da Cachoeira, e durante uma semana, juntamente com Rosa Helena Dias da Silva, trabalhamos sobre as questées que essas liderangas achavam importantes para sua regio. No final do curso surgiu entre eles a inquietagdo sobre o censo demogréfico de 1991 ‘Achavam que os resultados desse recenseamento nao iriam ser consistentes com © numero real de comunidades e populagdo indigena, e esperavam que esse censo fosse ajudar na demarcagao das terras indigenas. Surgiu ento a idéia de fazerem um projeto para apoiar um recenseamento proprio, em que eles mesmos pudessem recolher as informagées, viajando para cada comunidade. Desde 0 inicio 0 projeto do censo foi pensado para que os professores indigenas e liderangas fossem os recenseadores. O projeto para realizagéo do Censo Indigena Auténomo do Rio Negro (CIARN) foi entéo elaborado e encaminhado para varias instituigSes que jé apoiavam alguns trabalhos da FOIRN. Em maio deste mesmo ano o projeto foi aprovado, e a FOIRN solicitou a mim uma assessoria para este trabalho. Nesta época nao existia nenhuma experiéncia desse tipo no Brasil, e eu também nao conhecia nada de demografia. Procurando © colega Marcio Silva, que trabalhava comigo na assessoria ao movimento de professores indigenas do Amazonas, Roraima e Acre, fomos conversar com a equipe do NEPO / UNICAMP, onde obtivemos uma ajuda bibliogréfica sobre o tema e sugestdes importantes para o questiondrio, que ja estava em fase final de formulagao, Em julho de 1992 foi realizada uma grande reuniéo em Sao Gabriel da Cachoeira, aproveitando um encontro sobre educagdo indigena realizado pela FOIRN, onde discutimos ¢ finalizamos os dois questionérios a serem aplicados, um para cada comunidade, com informagSes gerais, e outro para cada domi ou casa, das comunidades. Algumas informacées sugeridas por nés ndo foram io, acolhidas pela ampla maioria das liderangas presentes nesta reuniéio, como por exemplo, as relativas aos sibs do chefe do domicilio e sua esposa, informagées linglisticas, que achévamos necessarias pois a maioria dos povos indigenas do Alto Rio Negro é multi-lingie; os homens e mulheres adultos falam sempre mais de uma lingua. Os questionarios foram entéo xerocados e enviados para Sao Gabriel da Cachoeira. Em agosto de 1992 os recenseadores escolhidos por cada associacao indigena participante do projeto comegaram a viajar a campo, e a coleta de informagées aconteceu até novembro. Algumas informagées sobre as familias indigenas moradoras da cidade de So Gabriel foram coletadas em dezembro. Durante os anos de 1993 até meados de 1994, os questionarios foram digitados e um banco de dados foi estruturado para que a FOIRN pudesse utilizar, sem dificuldades, as informages obtidas. O langamento dos resultados do CIARN foi feito em julho de 1994, na cidade de S&o Gabriel, ao mesmo tempo em que a FOIRN adquiria seu primeiro computador. Algumas pesquisas foram impressas, com os numeros mais importantes para as liderangas da regido, como populagéo total por etnia, populagdio por faixa etaria, lista das comunidades, etc. Concomitantemente & realizagdo do CIARN, o Centro Ecuménico de Documentagao e Informagao (CEDI), em parceria com a antropdloga Dominique Buchillet, realizava um trabalho de documentagao de todas as comunidades desta regio do Alto Rio Negro, para compor um laudo que serviria de base para a luta pela demarcagao das Terras Indigenas. Este laudo antropolégico (Buchillet, 1992) registrou a existéncia de 371 comunidades indigenas, habitadas por 13.812 pessoas. Este banco de dados estruturado pela equipe do CEDI', foi posteriormente atualizado com as informagées do CIARN e de outras fontes. Na época em que estévamos estruturando 0 banco de dados do CIARN, a diretoria da FOIRN solicitou a mim uma assessoria para andlise dos mesmos. Foi ent&o que decidi estudar demografia, ¢ um termo de compromisso foi elaborado, ficando estabelecido que as informagdes resultantes desse levantamento eram de * A equipe que trabaihava mo programa de povos indigena do CEDI, em 1994 fundou, juntamente ‘com pessoas de outras ongs, 0 Instituto Socioambiental, que deu sequéncia implantagdo do Programa Rio Negro, do qual faco parte atualmente. propriedade dos povos indigenas, e, portanto, nenhuma informacao deveria ser divulgada sem antes obter a anuéncia de suas liderangas, através da diretoria da FOIRN. Nos anos posteriores, quando estava jé analisando os resultados do CIARN, percebi que as mulheres eram em numero menor do que os homens, € que viviam menos, ou entéo migravam para outras regiées. Conversando com muitas liderangas @ professores indigenas, com os quais eu continuava a trabalhar, assessorando os encontros sobre educagdo indigena, eles informaram Que realmente era mais comum encontrar vilvos do que vitivas, e que muitas mulheres morriam de parto, ou logo apés. Em 1996, durante um curso sobre curriculos escolares, promovido pela FOIRN e realizado em Taracua, no médio rio. Uaupés, resolvi fazer uma reuniéo com o grupo de professoras mulheres de lauareté. Estas professoras haviam tido problemas recentemente com gravidez indesejada de alunas adolescentes, 0 que eu havia ficado sabendo através de um professor deste mesmo povoado. Nesta conversa ficou claro para mim que as mulheres n&o conseguiam ser atendidas pelos poucos servicos de satide oferecidos na época. Mesmo que conseguissem chegar a um hospital, ndo eram compreendidas por ndo haver qualquer conhecimento por parte dos profissionais de satide nao indios sobre as concepgées destas mulheres a respeito de sua salide. De posse dessas informagées, elaborei um pequeno projeto de Pesquisa/agéo para a Fundagdo MacArthur, através do qual pude realizar a pesquisa qualitativa sobre satide reprodutiva das mulheres de lauareté. A regiao (apéndice 7 mapat) A regio do alto rio Negro 6 habitada atualmente por 19 povos indigenas? falantes de linguas das familias Tukano, Aruak e Maku. Faz fronteira com a Colémbia e Venezuela, e, em 1998, foram homologadas as 5 terras indigenas * Estamos tratando aqui do que Ribeiro (1995) chama de “érea cultural do rio Negro": excluimes, Portanto, os Yanomami, que embora também estejam presentes nesta regigo, esto em outra terra lndigena, € ndo fazem parte desta érea cultural. Outros poves indigenas, felentes de linguas ertencentes as mesmas familias, foram excluidos desta pesquisa por estarem em comunidades localizadas nos pafses tronteiricos, Colombia e Venezuela. demarcadas: Alto Rio Negro, Médio Rio Negro I, Médio Rio Negro II, Apapéris Tea, Esta regiéio compreende os municipios de S40 Gabriel da Cachoeira e um trecho do municipio de Santa Isabel, ambas as cidades localizadas na margem esquerda do rio Negro. Embora com muitos anos de contato com a populac&o néo india, cerca de dois séculos, os habitantes desta regiéo séo majoritariamente indigenas, permanecem identificando-se como tais. Estes povos tradicionais habitantes desta regiéo desenvolveram durante séculos formas de adaptacdo ao meio ambiente ai encontrado, pobre em peixes, e conhecido na Amazénia como possuindo terras de baixa fertilidade. Os povos que falam linguas das familias tukano e aruak s&o horticultores, tendo desenvolvido uma alta capacidade de diversificar as variedades agricolas alimentares cultivadas. Praticam também a pesca, caga e coleta, que varia de acordo com as estag6es. Suas comunidades esto localizadas nas margens dos rios Negro, Uaupés, Igana e afluentes. Os povos falantes de linguas maku, sao basicamente cagadores e coletores, e a0 contrério dos primeiros, habitam principalmente as regiées dos intercursos dos rios ou estabelecem comunidades préximas dos igarapés. CIARN procurou levantar as informag6es populacionais das comunidades habitadas por estes povos. A cidade de S40 Gabriel da Cachoeira foi incluida neste levantamento por contar, j4 na época do censo, com varios bairros indigenas. Em meados do século XIX esta cidade era um forte militar portugués, com algumas casas em tomo, ¢ no inicio do século XX foi fundada uma misséo salesiana, quando entdo a cidade comegou a crescer. Notas sobre as grafias dos etnénimos*: Os nomes dos povos esto grafados de acordo com as opgées feitas pelo mapa-livro “Povos Indigenas do alto e médio rio Negro" (FOIRN/ISA, 2000), de acordo com as propostas jé feitas anteriormente pelos estudos etnolégicos na regiéo. Apenas o etndnimo Coripaco esta grafado conforme a oped feita por este povo € pelos Baniwa quando do estudo lingtiistico feito em fung&o do projeto de * Etnonimo 6 a denominagao geralmente usada para identificar os povos indigenas. educagao indigena no alto rio Negro. Conforme a convengéo usada pelos etndlogos, os etnénimos, quando usados como substantivo, vm grafados com letra maiiscula, e quando usados com adjetivo estao grafados com letra mindscula, Nesta tese uso os termos Tukano, Arak e Maku em ‘itdlico’, para significar todos os povos falantes de linguas destas familias linguisticas. Apesquisa Esta pesquisa se insere nas areas tematicas da demografia antropolégica de etnias, focalizando especificamente a nupcialidade e fecundidade, tendo assim uma necesséria interface com os estudos etnolégicos sobre os povos indigenas em geral e do noroeste amazénico em particular. Pretende-se contribuir com essa interface disciplinar através da incorporacao das teorias antropolégicas sobre os Ppovos rio-negrinos*, Procurarei testar algumas hipsteses sobre o casamento elaboradas por Christine e Stephen Hugh-Jones, Jean Jackson, Janet Chemela, lriving Goldman, Aloisio Cabalzar, Jorge Pozzobon e outros etnélogos, através de andlises demograficas, incorporando nestas andlises, as idéias @ teorias formuladas por estes autores. Na seqliéncia sobre reprodugao e fecundidade Procurou-se demonstrar que as concepgées das mulheres rio-negrinas sobre seu corpo e sobre a reproducao tém relagdes com os niveis ¢ padrées da fecundidade, discusséo essa que se insere nos estudos demogréficos sobre fecundidade, transigéo demogréfica, e demografia da familia. A hipétese que norteia este trabalho € de que as concepgSes indigenas sobre casamento e reproducdo (na antropologia formuladas enquanto teorias de alianga e descendéncia) tém estreitas relagSes com os padrées de nupcialidade e com os padrées e niveis de fecundidade encontrados, Os capitulos 0 Capitulo 1 discute a interface das disciplinas demografia e antropologia, Situando as questées € hipéteses principais da presente pesquisa. Na terceira * Entende-se aqui por rio-negrinos aqueles habitantes das Terras Indigenas demarcades ¢ homologadas na regio dos municipios de Santa Isabel e S40 Gabriel da Cachoeira, ambos situados no noroeste do estado do Amazonas, excluida a TI Yanomami. parte deste capitulo procurou-se resumir como os trabalhos sobre demografia indigena vém dialogando com a antropologia. O capitulo 2 trata da regio do Alto Rio Negro, oferecendo um resumo das informagSes existentes sobre os povos indigenas rio-negrinos. A ultima parte deste capitulo enfoca os municipios de S40 Gabriel da Cachoeira e Santa Isabel e as comunidades indigenas. Através de algumas anélises feitas @ partir dos dados dos censos demograficos do IBGE e, utilizando outras fontes de dados, procura-se fazer uma andlise da evolugao populacional das cerca de 400 comunidades indigenas recenseadas em 1992, até 2001 capitulo 3 trata do Censo Indigena Auténomo do Rio Negro (CIARN), © projeto inicial elaborado pela Federagao das Organizagées Indigenas do Rio Negro (FOIRN) e associagées filiadas, sua realizagéo em 1992 e os resultados aicangados. O capitulo 4 trata das andlises dos tipos de casamentos existentes, tendo ‘como fonte de dados 0 CIARN. Para isso a regio enfocada foi subdividida em 5 sub-regides, tendo como critérios a ocupagao da area pelos diferentes povos indigenas e sua delimitagéo geografica. Na primeira parte do capitulo sao resumidas as formulagées tedricas, elaboradas por diferentes antropdlogos, sobre 08 tipos de casamento rio-negrino, e nas outras partes s4o extensamente analisados os dados confrontando-os com estas teorias. capitulo 5 analisa os resultados sobre os padrdes de parturic&o e padréo e nivel da fecundidade das mulheres. Optou-se, neste capitulo, por uma analise comparativa entre os povos tukano e os baniwa e coripaco, e ndo por anélises por sub-regio, como no capitulo 4. Esta escolha foi feita porque a pesquisa qualitativa foi desenvolvida somente com as mulheres tukano de lauareté, sendo que o questionario qualitativo aplicado, também partiu da identificagéo de todas as mulheres falantes de linguas tukano, comparando-as com as outras mulheres. Outra raz para tal opdo foi que, olhando os dados da parturigao por sub-regiao, constatei que os resultados eram homogéneos, diferenciando-se somente entre estes grandes grupos linglisticos. Procurou-se relacionar as concepgSes das mulheres tukano sobre reprodugao com estas andlises. Capitulo 1: Demogratia e Antropologia 1.1. Como a cultura pode estar relacionada com estudos demograficos 1.2. Nupcialidade, fecundidade, cultura e organizagao social: hipéteses atuais 1.3. Demografia dos povos indigenas Capitulo 1: Demografia e Antropologia 4.1. Como a cultura pode estar relacionada com estudos demogrdficos Tanto a Demografia quanto a Antropologia trabalham com o mesmo objeto de estudo: populacao, povo, sociedades, nagdes, etnias, isto é, constructos teéricos que demarcam um determinado numero de pessoas, convivendo em um determinado territério', @ que compartilham caracteristicas culturais demogréficas. Tanto os antropélogos tém que estudar algumas caracteristicas demograficas das populagées que estéio pesquisando (tamanho da populagao, estrutura etaria, proporcéo dos sexos, mortalidade, natalidade, migrag&o), como os demégrafos tém que estudar caracteristicas culturais das populagées para entender a dinamica demografica ou mesmo melhor para estruturar suas pesquisas. Ambas as disciplinas tiveram suas teorias elaboradas a partir de muitas pesquisas de campo, e descrigdes de dados populacionais e etnograficos e tém métodos e teorias que foram mutuamente enriquecidos ao longo dos anos. Os conceitos como populagao, povo, sociedade, etnia, nacionalidade, sao discutidos por ambas disciplinas, quando analisadas suas caracteristicas e delimitagdes. O caso do Rio Negro ou da area cultural do Rio Negro, como define Ribeiro (1995) é interessante para pesquisar as fronteiras destes conceitos (populagao e cultura), j& que so diferentes etnias convivendo em uma regio, estabelecendo trocas matrimoniais (Chemela, 1994). Nao se sabe, porém, se as etnias compartilham das mesmas caracteristicas demograficas, sendo este um dos objetivos desta pesquisa. Muitos demégrafos estdo interessados nos determinantes e conseqiiéncias demograficas de processos culturais, e muitos antropélogos se interessam pelos determinantes e conseqiéncias culturais de processos demogréficos. Ambas disciplinas séo por exceléncia comparativas e procuram construir teorias explicativas que abarquem um grande numero de sociedades ou povos. A demografia para os antropdlogos pode ser um campo de teste de teorias para * Salvo em casos especifices como 0 povo Judeu, que nao compartitha de um sé territério, mas que se encontra em um sem numero de paises diferentes; ou outros povos que possuem a mesma cultura e lingua mas que se encontram em territérios ou paises diferentes devido @ guerras ou Conflits histéricos, como os Curdos. possibilitar comparagSes ou generalizacées, e a antropologia para os demégrafos pode ser explicativa e também fonte de generalizagées e comparagées de diferentes dinémicas demograficas (Zubrow, 1976 e Kertzer, 1997). A discussao teérica mais geral sobre as condigées culturais que afetam a fecundidade em diferentes sociedades no industriais no contexto de suas organizagdes sociais e valores culturais, especialmente com respeito a organizacao da familia e relagdes de parentesco ¢ bastante extensa e antiga. Em 1951 a Intemational Union for the Scientific Study of Population (IUSSP) estabelece um comité para estudos sobre problemas de populagéo em paises em processos de industrializacdo. Em conjunto com a UNESCO, este comité promove um estudo internacional e interdisciplinar que pudesse contribuir com explicagdes sobre a dindmica demogréfica destes paises. Os resultados desta pesquisa foram publicados no livro “Culture and Human Fertility” organizado por F. Lorimer. Nesta publicagao encontram-se, além do trabalho mais tedrico de Lorimer, varios artigos analiticos sobre situagées especificas enfocando 0 tema das relagées entre niveis, e padrées de fecundidade e aspectos culturais. Lorimer (1958) faz um balango das hipéteses levantadas por esta pesquisa sobre as relages entre cultura, com enfoque na organizagéo social, e fecundidade. Chama atengdo para as teorias antropologicas formuladas sobre os povos africanos, abordando o problema fundamental, existente nestas teorias, 0 de que as informagées sobre praticas reprodutivas destas sociedades em geral sao tratadas separadamente das andlises sobre sua organizagao social. Estas praticas so relacionadas com problemas econémicos ou demogréficos ou com explicagées psicolégicas, mas nao sao geralmente relacionadas com aspectos da prépria organizagao social, seja casamento ou parentesco. O autor sugere outra abordagem, enfocando os valores e praticas Teprodutivos como estruturais, relacionadas com os sistemas de organizacéo social de cada povo ou sociedade. Neste trabalho, Lorimer faz um resumo dos tipos de organizagao social existentes relacionando cada um destes tipos com niveis e padres de fecundidade encontrados. Para ele sociedades com grupos corporados, seja clas, linhagens ou castas, teriam tendéncia a gerar niveis de fecundidades mais altos; aquelas sociedades com énfase na familia extensa e na produgao agréria, ttm seus grupos locais mais apartados geograficamente, e, portanto, no sofreriam tanta pressao social para niveis to altos de fecundidade. Ainda que gerar filhos nesse tipo de sociedade seria um ganho de capital, j4 que 05 filhos so @ mao de obra necessaria para a produc&o agricola. E por ultimo aquelas sociedades onde a énfase é dada na familia nuclear, tenderiam a ter niveis mais baixos de fecundidade, apesar de ainda valorizarem a geragao de filhos. Analisando os diferentes tipos de sistemas de parentesco este autor chega @ concluso que sistemas sociais com unifiiagdo, isto 6, organizagdes sociais baseadas na transmissdo de descendéncia através de um Unico genitor, so aqueles onde a fecundidade é mais alta, os sistemas sociais onde a descendéncia 6 transmitida pela via de ambos os genitores tém a tendéncia a produzir familias nucleares, @ 0s niveis de fecundidade seriam mais baixos. Os tipos de familias produzidos por ambos os sistemas podem variar muito, de acordo com as condigdes culturais, econémicas ou politicas de cada sociedade. Este autor chega ainda & concluso que os niveis altos de fecundidade requerem uma combinagao entre o suporte familiar, motivagées culturais ¢ recursos econémicos. Num dos primeiros trabalhos sobre antropologia demogréfica Zubrow (1976) organiza algumas questées fundamentais para os estudos da interface entre estas duas disciplinas. O semindrio que deu origem a este livro enfocou principalmente pesquisas sobre estrutura social e processos demogréficos diversoso no espago e no tempo, através de andlises quantitativas, ou potencialmente mensurdveis. Os papers enfocaram os processos demograficos relacionando-os com questSes ecolégicas, sociais, biolégicas e com sistemas econémicos e politicos. Este autor faz um levantamento extensive das varidvis demogréficas relacionadas com as varidveis culturais e seleciona algumas varidvies culturais como o tamanho médio de populagdes de comunidades locais com 0 tipo de economia existentes. Na verdade o que este autor esté chamando genericamente de grupos locais pode ser uma gama enorme de variagdes, cidades, vilas etc... incomparaveis entre si, 0 que portanto ndo rendeu muitas explicagées. Aponta para as limitagdes destes dados, principalmente aqueles das 10 sociedades antropolégicas, onde na maior parte dos casos os dados sdo somente de um determinado periodo de tempo, o periodo da pesquisa de campo do antrop6logo. Este autor chega a algumas conclusées probleméticas: se a relacdo entre 0 tamanho da populagao e os recursos é estdvel, entéo hé estabilidade cultural; se existe uma variago entre populagao € recursos entéo existiria uma instabilidade cultural; se a populagdo 6 maior do que os recursos existentes entéo as restrig6es por uso de territérios e por casamentos cresceriam; @ se os recursos ‘so maiores do que a populagdo a importéncia das restrigdes cairia. Muitos outros autores que trabalharam com o tema da populago e meio ambiente jé chamaram atengao para os problemas deste tipo de equagao determinista, e apontaram muitos casos onde estas equagées nao funcionam, Sobre a questo da fecundidade o autor enfatiza algumas conclusées, ‘como a que 0 desenvolvimento econémico nao necessariamente diminui os niveis de fecundidade. Ainda produz algumas maximas: a) a fecundidade é fungao direta da demanda por trabalho e da demanda da familia por capital; b) a fecundidade é diretamente relacionada com o casamento, isto 6, a freqéncia dos casamentos, idade ao casar, frequéncia dos intercursos sexuais e concepgdo. As pesquisas sobre a relagao entre cultura e reproduco tomam impulso com a teoria da transi¢éo demogréfica, nas décadas de 1970 até final dos anos 80. Antes da revolucao industrial as populagSes cresciam lentamente ou nao cresciam, as altas taxas de mortalidade eram equilibradas pelas altas taxas de fecundidade, a paridade entre os nascimentos e mortes 6 restabelecida depois da transicao epidemiolégica. A fecundidade cai com a expectativa de altos indices de consumo gerados pela modemizacéo € urbanizacdo. A mortalidade cai com os Novos recursos da medicina modema e cai a fecundidade. Mas os dados etnogréficos e demogréficos demonstram que existe uma ampla variedade de padrées dessa queda de fecundidade, e este fenémeno pode estar relacionado a diferentes fatores, que variam no tempo € no espago. Em estudos realizados nos paises do oeste da Africa verificou-se que as mudancas econémicas e politicas trouxeram uma modemizago e urbanizagao em toda esta regido (Caldwell, 1975) Mas a modemizagao aliada a urbanizagdo tiveram um impacto nas praticas " tradicionais do controle reprodutivo. Os povos africanos controlam a fecundidade basicamente com o espagamento entre os filhos, praticado através da proibigao de relagdes sexuais durante um longo periodo pés parto - 2 a 3 anos - (Caldwell, 1977). No livro sobre a relag&o entre a modemizagéo 0 crescimento populacional no oeste africano (Caldwell, 1975) os artigos enfocam principalmente questées sobre a relacdo entre as idéias e 0s valores culturais pré natalistas e o declinio da fecunidade; e sobre os niveis de mortalidade e a impossibilidade de fazer frente a estes niveis com um fecundidade mais baixa. Outra questo discutida diz respeito a0 tipo de familia extensa destas sociedades, que reduziria os ganhos individuais com 0 declinio da fecundidade. O controle reprodutivo e uma idéia tradicional. Estas sociedades controlam sua fecundidade através do espagamento entre as criangas, mas este controle nao € especifico com relagéo ao numero de filhos tidos no final da vida reprodutiva de uma mulher. De qualquer maneira estas sociedades tradicionais postulavam a necessidade de grandes familias, conforme © proprio Lorimer e outros antropélogos jé haviam demonstrado, a importancia das grandes linhagens faz com que seja necessério um grande ntimero de filhos. Isso. traz prestigio e poder. As grandes contribuigdes dos estudos africanos foram esclarecer que as sociedades tradicionais mantinham formas de controle de sua reprodugSo, principalmente através do espagamento entre os nascimentos € chamar atenc&o para o fato de que a modemizacao poderia trazer, em muitos casos, desorganizagées sociais e culturais que poderiam acarretar perda destas formas tradicionais de controle reprodutivo. Os trabalhos de Caldwell no s6 contribuiram para estes aspectos apontados acima, mas inovaram com 0 uso de técnicas e conhecimentos antropolégicos para conseguir informagdes que as pesquisas estritamente demogréficas nao tinham, 1.2. Nupcialidade, fecundidade, cultura e organizacao soci: atuais ipéteses As sociedades geram arranjos através dos quais 0 processo reprodutivo 6 regulado Lestaeghe (1980). So arranjos basicos institucionais que fazem parte do funcionamento da sociedade como um todo. Lesthaeghe especifica e tipifica esses 12 arranjos e procura estabelecer uma teoria que pudesse dar conta de todos os processos da dinémica populacional. O autor enfatiza ainda a necessidade de se conhecer razdo de ser destes arranjos de cada sociedade, documentando os caminhos nos quais a natureza da transi¢ao da fecundidade esta relacionada com as mudangas dos cédigos normativos e do sistema de controle social. Para isso compara as sociedades da Africa sub-saariana e Europa ocidental pré transicional. ‘Antropélogos j& demonstraram que em muitas sociedades primitivas com numerosas instituig5es, crengas, cédigos simbélicos, tabus, formam uma maquina bem integrada onde cada elemento tem varias fungdes no controle da reprodugéo humana. Historiadores e demégrafos historiadores demonstraram que na Europa pré-revolugéo industrial muitos mecanismos operavam nas sociedades durante varios séculos com regularidade controlando os parametros demograficos de acordo com seus recursos ¢ tecnologias. Os regimes homeostaticos, ou auto- reguladores, geram combinagées peculiares de parametros como a mortalidade, fecundidade, nupcialidade e migragdo (Lesthaeghe, 1980), As populagées africanas se basearam em diferentes limitagdes preventivas, principalmente 0 tabu pés-parto, nao sé limita os niveis da fecundidade mas assegura um certo nivel de mortalidade infantil, jé que a crianga pode ser amamentada por mais tempo. Esta limitagao da fecundidade e a press&o por filhos € produto da necessidade da manutengdo das grandes linhagens patrilineares. Na Europa a individualizag&o da decisdo de ter filhos, segue ou é seguida pelo 0 término dos modos de produgao agraria e familiar, existindo um periodo de fragmentagao dos cédigos culturais tradicionais, substituidos paulatinamente pela educagao institucionalizada. O sistema de controle que ocorria mais nos niveis das familias ou comunidades passa para os estados nacionais. O caso da Africa sub-saariana nos ensina que a modernizagéo pode ter como conseqiéncia a eros&o dos controles tradicionais; a emergéncia de métodos modemos de controle da natalidade teriam que ser disponibilizados ao mesmo tempo em que esses processos de modemizagao ocorrem. As diferentes mudangas nos dois maiores componentes da fecundidade total, a nupcialidade e fecundidade marital, 13 representam os pontos de controle velhos e que estavam emergindo com as Politicas estatais de controle da natalidade. Outro autor que chama atengdo para a importancia das instituiges sociais no controle da reprodugao humana é McNicoll (1980), que concebe o controle da fecundidade como sendo diretamente relacionado com o que ele chama de ‘estrutura de tomada de decisées’. Esta estrutura estaria formada pelas diferentes instituigdes sociais, as quais imporiam constrangimentos para tomar ou possibilitar decisées diversas. As variagdes ocorrem nos diferentes cenérios institucionais nos. quais as decisdes so tomadas. A variagdo dos niveis e padrdes dos diferentes componentes demogréficos ocorre na articulago entre as mudancas destas instituigdes e suas relagbes com as mudangas nos comportamentos individuais. A fecundidade é produzida por um sistema social e cultural, as explicagSes sobre as mudangas no nivel da fecundidade tém, portanto, que ser estruturais. Os estudos sobre a relagdo entre nupcialidade e fecundidade na Europa pré 1850 mostram como 0 casamento tardio mantém uma porgdo da capacidade reprodutiva da sociedade nao usada. Esta relagao entre casamento e reprodugao foi retomada por demégrafos brasileiros, Oliveira (1982) demonstra o papel do casamento enquanto uma instituigéo social, ou seja, esté inserido em uma organizagao social, politica e econémica especifica. Qu seja, a reproducéo humana deve ser estudada como um proceso social, ela se manifesta “...através de formas socialmente criadas que a regulam, embora em um primeiro momento podemos pensé-la como um fendmeno biolégico.” (Oliveira, 1982:503). Mburano (1997) parte deste enfoque institucional sobre a familia para demonstrar que na Republica dos Camarées, pais do ceste africano, as mudangas decorridas do processo de modemizacao e ocidentalizagao tém um forte impacto na composicao das familias, e estas por sua vez, esto relacionadas com os padrées e niveis da fecundidade Outros autores ainda procuram analisar as mudangas da fecundidade como estando diretamente relacionadas com a mudanga do papel social da mulher, ou os sistemas de relagdes de género nas diferentes sociedades. Esta linha de pensamento foi desenvolvida por muitos autores que postulam que nas 14 sociedades onde a mulher tem uma relacéo mais igualitaria com 0 homem a fecundidade seria mais baixa. Ao contrério as sociedades agrérias e também aquelas chamadas ‘primitivas’, nas quais as mulheres desempenham papéis secundarios, a fecundidade seria mais alta. Estas questées foram intensamente discutidas e problematizadas, e atualmente muito se tem publicado sobre a relaco entre as diferentes concepgdes sobre familia, relagdes de género e fecundidade, demonstrando que a fecundidade depende nao sO do papel da mulher na sociedade, mas de muitas outras variéveis importantes, mesmo nas sociedades modemas, Na antropologia o tratamento de questées como o minimo populacional necessario para que um determinado tipo de estrutura social possa se manter ou sobre 0 mercado matrimonial de mulheres pertencentes a um determinado povo com regras prescritivas de casamento, utilizam-se de técnicas e teorias demograficas (Hammel, 1976). Técnicas demograficas como calculos de taxas de endogamia e exogamia, ou mesmo taxas de mortalidade e fecundidade passam a ser usadas pelos antropdlogos para testar hipsteses sobre a tipologia do parentesco e sobre 0 contato interétnico. Programas de computador para simulagéo de diferentes cendrios populacionais sd criados para incorporar diferentes tipos de estrutura social com vistas a conhecer as dinamicas das trocas matrimoniais e do crescimento em sociedades ditas ‘simples’ (Das Gupta, 1997 ¢ Pozzobon, 1996) Existe, como foi demonstrado, uma convergéncia nos interesses de ambas as disciplinas, demografia e antropologia, pois compartilham problemas e questdes semelhantes. Apesar de ser crescente a énfase no reconhecimento da importancia do papel da cultura e instituigées sociais para estudar a dinamica populacional, ainda séo poucos os demégrafos ou antropélogos trabalham com esia interface disciplinar. Muitos trabalhos demograficos sobre povos autéctones contribuem com este campo interdisciplinar, ndo se limitando & possibilidade de generalizagées mas trazendo a tona cada vez mais uma variedade maior de tipos de sociedades para o entendimento dos processos populacionais. 15 4.3. Demografia dos povos indigenas no Brasil ‘As pesquisas demogréficas sobre as populagées indigenas nas terras baixas da América do Sul e, especialmente, as localizadas no Brasil esto apenas comegando a serem feitas. A auséncia de dados demograficos confidveis antes ¢ apés 0 contato com as frentes de expansdo da sociedade envolvente é um dos motivos centrais para explicar essa escassez. Contudo, os estudiosos dos povos indigenas, em sua grande maioria antropélogos sem formagdo especifica em demografia, tém se preocupado basicamente com trés questées demogréficas gerais: © tamanho original das populagdes autéctones no século XVI, 0 seu declinio nos séculos seguintes e o tamanho atual dessas populacdes (Monteiro, 1984:17), Por raz6es que parecem estar relacionadas mais as teorias antropoldgicas professadas por estes pesquisadores, do que propriamente a modelos cientificos da demografia, os especialistas normaimente acreditam que, depois de uma primeira fase de depopulago pés-contato com 0 europeu, motivada por guerras, epidemias ou escravizago, em muitos casos ocorre uma recuperacdo demogréfica natural (Cameiro da Cunha, 1987 e Pagliaro, 2002). Recentemente, ambientalistas que pesquisam sociedades amaz6nicas tém entendido esta recuperagao demogréfica como um fator de desequilibrio na relagdo entre tais populagdes e 0 meio ambiente (Price e Adams, 1994). Estudar as sociedades indigenas do ponto de vista demogréfico envolve dificuldades de duas origens distintas: de um lado a falta de dados confidveis. Na maioria dos casos & possivel encontrar uma cifra de populagdo total para uma determinada area geogréfica, sem especificaglo de sexo, idade, nimero de mortes por idade numero de filhos nascidos vivos por idade da mae, para citar as principais caracteristicas demograficas. Por outro lado, a metodologia da andlise demografica disponivel 6 adequada a populagies de grande porte, o que nao é 0 caso da maior parte dos povos indigenas residentes no Brasil de hoje. A questo gerada pelo segundo tipo de dificuldade pode ser contornada com um actimulo de dados histéricos ou com processos de corregdo e adequagao estatistica. 16 A inexisténcia de fontes de dados confiéveis para as populagées indigenas nao é um problema isolado do Brasil. Na publicacao “Estudios Sociodemograficos de Pueblos Indigenas” (CELADE, 1994), com as conclusées de seminario realizado no Chile em 1993, algumas constatagbes foram feitas, comparando-se estudos sobre as populagdes autéctones de diferentes paises latino-americanos. A principal delas é que existe pouca ou nenhuma possibilidade de comparagao entre 0s diferentes censos demogréficos nacionais na regio, devido a disparidade jos de definiggo da categoria “indio’. Apesar disso, alguns avangos metodolégicos nos censos especificamente indigenas, como é o caso do censo da Colémbia de 1993, e dos censos de 1980, 1992 e 2002 do Paraguai, e algumas analises que usam como referéncia os censos demograficos e outros tipos de registros, tais como estimativas de fecundidade baseados no método do filho tido no ano anterior a0 censo, s&o instrumentos titeis para a produgo de informagdes especificas sobre populag6es indigenas. Nos titimos anos, a populaco indigena no Brasil parece ter apresentado um razoavel crescimento. E verdade que esta constata¢do nao apenas toma por 2 de crite base a nogdo antropologicamente problemdtica de “indio-genérico"? como também n&o esta apoiada em um censo, mas unicamente em estimativas ¢ levantamentos parciais, mais ou menos cuidadosos. Assim, a populagao indigena brasileira era de 185.485 individuos, segundo a pesquisa efetuada pelo Conselho Indigenista Missionario (Porantim, 1982), Doze anos depois, em 1994, esta iduos (ISA, 1996) enquanto em 2000 as estimativas jé giravam em torno de 350.000 pessoas (ISA, 2001). A categoria "indio” sé foi levada em conta nos censos demogréficos do IBGE a partir 1991, que contabilizou um total de 306.245 indios brasileiros e ainda mesma populaco foi estimada em aproximadamente 250.000 indi ? No Brasil, assim come em outros paises, costumou-se denominar 0s poves natives que aqui habitavam e continuam habitando de indios, inciuinde assim povos estruturaimente diferentes, totalidades socioldgicas, em uma categoria que somente os diferencia com retacao ao cotonizador, © hoje em dia somente os diferencia com relago 20s outros no indios, incluindo os negros por exempio. Essa categoria nao ¢ construida teoricamente pela antropologia e néo dé conta de ‘explicar nada, atrapalhando ainda as politicas pablicas do Estado para essas populagdes, como 0s. tevantamentos censitérios, que estando pautadas apenas por essa parca definicéo, massifica povos completamente diferentes tomando-os como iguais entre si. 7 assim de modo bastante discutivel, uma vez que so foram recenseadas as PopulagSes que residem em postos indigenas da Fundagdo Nacional do indio - FUNAI - ou em missées religiosas. Qualquer antropélogo sabe que ha, no Brasil, um contingente populacional indigena significative que no se enquadra nessas condigées. Uma das razées que motivou a realizagéo de um censo indigena auténomo no Rio Negro foi exatamente o descontentamento em relacdo aos critérios estabelecidos pelo IBGE. Essa populagao contabilizada pelo IBGE em 1991 incluiu todas as pessoas que se auto-classificaram como indigenas no quesito cor da pele, do questionario da amostra. Isso incluiu inumeras pessoas que, mesmo vivendo nas cidades como Niteréi, Rio Preto, se consideram descendentes de indigenas, genericamente, sem definigéo de etnia. Esse contingente de pessoas que jé era expressive em 1991 aumentou muito em 2000, para estados como Rio de Janeiro, os resultados para a populagao indigena ficam em 33.389 (IBGE/SIDRA, 1992), muito além dos 400 Guarani que vivem nas duas Temas Indigenas desta UF. Por todas essas razées muitas adequagdes e corregées deverdo ser feitas para que se possa ter resultados para esses povos a partir dos censos. Em estimativas mais recentes feitas por diversos estudiosos, antropélogos, demégrafos ou profissionais de satide (Early and Peters, 1990 e Baruzzi et al, 1994; Pagliaro, 2002; Coimbra et al, 2002), constata-se que a maioria dos povos indigenas tem crescido muito mais do que a média estimada para a populag&o brasileira em geral. Muitos povos estariam em uma fase de recuperacdo demografica (Pagliaro, 2002; Coimbra et al, 2002), sendo que esses estudos apontam que esses povos ja contam com um atendimento a satide que evita as mortes por epidemias e as mortes infantis, mantendo-se a fecundidade a niveis altos, o que faz com que a populagdo cres¢a em ritmo acelerado. A questo que se coloca hoje em dia para os estudos demogréficos dos povos indigenas no Brasil € se esses povos estéo em fase de crescimento acelerado devido 4 queda da mortalidade provocada pela melhoria ao atendimento da satide, mantendo os niveis de fecundidade muito superiores aos da populagao no indigena, ou se esse crescimento é produto realmente de uma recuperacéo 8 demogréfica consciente. Ou seja, trata-se de mudangas explicdveis demograficamente ou uma conseqiéncia da percepedo social de que perderam populagéio em um periodo de sua histéria recente e estariam agora recuperando essa populagdo ou ainda uma percepgdo de que para a sociedade expandir-se geograficamente necessita crescer demograficamente. Por todas estas razées, um estudo demografico adequado as populagdes indigenas deve, antes de mais nada, analisar cada povo como uma populaggo total, com caracteristicas estruturais especificas e Unicas, que produzem uma dinamica demogréfica também especifica. Assim sendo, seria interessante que esses estudos nao se pautassem pela da categoria operar nenhuma explicagao mais ampla sobre dinémica demogréfica desses povos. Em outras palavras, o que esta tese procura demonstrar 6 que pesquisas \dio-genérico", que nao pode demogréficas sobre os povos indigenas devem ser sensiveis ndo apenas ao contexto ambienta! e histérico, mas também as caracteristicas sociais e culturais destas populagSes. E imprescindivel a consideragdo de aspectos culturais basicos (estruturas sociais, sistemas politicos, sistemas rituais, cosmologias, etc.) juntamente com aspectos histéricos e ambientais para um conhecimento mais profundo da dinamica demogréfica destas populages, 19 Capitulo 2: A regido do Alto Rio Negro 2.4. Informagées historicas e geograficas 2.2. Teorias antropolégicas 2.3. Informag6es populacionais 2.3.1. Dados dos censos demograficos do IBGE 2.3.2, Evolugao da populacao das comunidades indigenas nos ultimos 10 anos 21 2. Capitulo 2: A regio do Alto Rio Negro 2.1. Informagées histéricas e geograficas A regio focalizada pela presente pesquisa é 0 Alto Rio Negro, localizada no extrema noroeste do estado do Amazonas. Essa regido se limita a leste pelo municipio de Santa Isabel do Rio Negro, ao sul pelo rio Japura, a oeste e a norte pela fronteira do Brasil com a Colémbia e a Venezuela. A regiéo compreende o municipio de So Gabriel da Cachoeira’, cuja populagdo 6 formada predominantemente por diferentes etnias indigenas, mas também por missionarios salesianos e protestantes, militares do exército (lotados em quartéis de fronteiras e batalhdes de construgéo de estradas) e, mais recentemente, por migrantes nordestinos ou do préprio estado do Amazonas, residentes na sede do municipio de S40 Gabriel da Cachoeira (ver mapa no Apéndice 7) Essa regido ¢ composta por uma extensa planicie, apenas interrompida por massas graniticas isoladas e esparsas; 6 cortada por uma rede hidrogréfica de regime de chuvas equatorial (3.000 a 4.000 mm de chuvas), com expressiva variagao de volume d'agua. Muitos rios da regiéo apresentam trechos com corredeiras e cachoeiras que dificultam muito sua navegabilidade, sobretudo durante a "seca". O pico de cheia do ciclo hidrolégico ocorre normalmente em agosto e o de vazante em fevereiro. A regido se caracteriza ainda por apresentar uma cobertura vegetal de floresta de terra firme, com areas de caatinga (mata mais baixa e mais pobre que a floresta). Estudos sobre a diversidade botanica e zool6gica na regio indicam altos niveis de diversidade aliados a baixos niveis de produtividade pesqueira em sistemas fluviais de agua preta, como 0 do rio Negro (Moran, 1990) Os padrées de assentamento das populagées nativas que 4 vivem mostram que as maiores concentragées demogréficas ocorrem em regides onde 08 solos so mais produtivos. Portanto, nas egies de caatinga, a densidade populacional parece ser mais baixa que na regiéo de floresta. Fatores sécio- histéricos, como guerras inter-tribais, apresamento de escravos, movimentos " Apenas 14 comunidades indigenas recenseadas € estudas aqui situam-se no municipio vizinho de Santa Isabel. Para efeito das andlises, estas comunidades estéo localizadas na sub-regido do rio Negro Abaixo. milenaristas, epidemias e a presenga dos missionérios salesianos vém modificando igualmente os padrées de assentamento. Hoje em dia, grande parte da populac&o da regiéo se distribui em comunidades (também chamadas regionalmente de povoados) jocalizadas ao longo dos rios e igarapés, com excegéo dos grupos Maku, que preferencialmente se situam nas regibes dos intercursos dos rios e nas cabeceiras dos igarapés Os povos que habitam a regio do rio Negro do lado brasileiro pertencem a trés grandes familias lingUisticas: Tukano, Aruak e Maku’. Os povos de linguas tukano (todos do grupo tukano oriental) séo os seguintes: Barasana, Yuruti, Kubeo, Arapaso, Wanana, Desana, Karapana, Pira-tapuia, Tukano, Miriti-tapuia, Bara, Karapané e Tuyuka, Os de linguas maku sdo: Bara (existem duas denominagées Bard, uma maku e outra tukano), Hupdé, Dow (Kama), Nadeb, Yuhup e Nukak (Guariba). Os de linguas aruak séo: Baniwa, Baré Werekena e Tariana, Os povos arvak, segundo Wright (1992), ocupam a regiéo do vale do rio Negro ha pelo menos 2.500 a 3.000 anos, sendo que os de lingua tukano no passado encontravam-se a sudoeste, ocupando os vales dos rios Uaupés e seus afluentes, Tiquié, Papuri, Querari e Cuduiari. Os Maku so povos tradicionalmente némades, cacadores e coletores, habitantes de uma extensa regido, que vai desde o rio Uaupés até o rio Japurd Varios trabalhos foram publicados sobre a histéria do contato (ou dos processos de contato) entre esses povos e a sociedade ocidental, representada por diversas segmentos sociais. Segundo Wright (1992:264), essa histéria pode ser periodizada em 5 fases, as duas primeiras durante a época colonial, a terceira durante as primeiras décadas do Império, a quarta durante as Ultimas décadas do Império até a | Guerra Mundial e a quinta, de 1914 até nossos dias. Incluimos ainda um Ultimo periodo histérico, de 1970 a 1998, referente aos anos de lutas pela demarcagéo das terras indigenas. ? Nesta tese os nomes das familias linguisticas vém grafadas em itdlico. 1) Perfodo das primeiras exploragées e comércio de escravos indigenas, de 1730 1760: Este primeiro periodo foi marcado por guerras e pela captura de indios para © trabalho escravo. Através de documentos oficiais ou produzidos por missionérios jesuitas, pode-se inferir a magnitude da escravidéo e suas consequéncias para as populagées nativas dessa regio. Apenas para se ter uma idéia das proporgées desse tréfico de escravos, convém assinalar o seguinte: A primeira entrada portuguesa no Rio Negro teria acontecido em 1657. Tratava-se de uma tropa comandada pelo oficial Vidal Maciel Parente, acompanhada pelos missionérios Francisco Veloso e Manuel Pires. Ja neste primeiro contato, foram capturados e escravizados cerca de 600 indios. Cem anos depois, o numero de indios aprisionados em todo Rio Negro ja passava de 20.000. Este numero corresponde aproximadamente 2 toda a populagao indigena atual da regio. Foi a época de maior impacto demografico para a regio, ficando trechos de rios inteiramente despovoados. Uma das colegdes depositadas no Arquivo Publico do Pard (Meira, 1994) registra com bastante precisdo os numeros de escravos capturados nessa regiao @ os nomes das etnias a que pertenciam. E possivel que apenas tenham sido conservados os registros do tréfico Real de escravos, promovido pela Coroa, Sup6e-se que 0 tréfico privado tenha sido muito mais amplo que o primeiro. 2) Periodo dos primeiros estabelecimentos coloniais, de 1761 até o final do século xvill, Datam dessa época os primeiros mapas que inciuem dados sobre a populacéo da regiao. Foram realizadas varias expedigdes exploratérias por militares e naturalistas. Nesse periodo, os carmelitas mantiveram missdes no rio Negro. Relatos de dois vigarios sobre o final do século Vill so importantes para se ter um quadro geral desses povos. 24 3) Periodo do comércio mercantile de programas governamentais de civilizacdo catequese, entre 1830 ¢ 1860: © terceiro periodo possui estudos principalmente para os povos Baniwa (Aruak). Trata-se de um periodo marcado pela eclosdo de movimentos milenaristas dos quais se tem relatos orais e documentacéo em arquivos Segundo Wright (1992), esses fendmenos provocaram desiocamentos Populacionais entre os Baniwa, causando transformagées demograficas importantes. 4) Periodo do primeiro ciclo da borracha, entre 1860 e 1920: © ciclo da borracha na regiéo tem sido pouco estudado, embora se disponham de algumas fontes primarias de informagSes sobre essa época (relatos de viajantes, missionarios, comerciantes, militares e etnégrafos). A exploragao da borracha & especialmente marcada pela violéncia dos seringalistas e militares contra os povos indigenas, 0 que inclui mais uma vez 0 aprisionamento de indios para o trabalho escravo (Wright, 1992:266). §) Periodo das missées. entre 1914 até 1970: O Lltimo periodo 6 marcado pela chegada dos missionarios salesianos, com uma politica de catequese caracterizada pela educagdo escolar dos indios em intematos e pelos aldeamentos (reunido de varios grupos locais em "povoados" ou mais modernamente “comunidades"). Desde 0 inicio do século, a presenca destes missionérios marca as relagdes dos povos de linguas tukano com a sociedade no india. Os Baniwa se viram, por outro lado, obrigados @ conviver com os missionérios evangélicos a partir da década de 50. 8) Periodo da luta pela demarcacaio das terras indigenas: Os primeiros anos de 1970 marcam 0 inicio da implantago do Plano de Integragéo Nacional, que foi criado pelo governo federal com o objetivo de integrar as regides mais remotas do pais, através da estruturacdo de uma série de obras de infra-estrutura e da presenca dos militares nas regides de fronteira, 25 Em S40 Gabriel da Cachoeira dé-se inicio & implantagao dos postos indigenas da FUNAI, e & construcdo da rodovia que liga esta cidade & Cucul, na fronteira com a Venezuela. Nesta mesma época chegam os primeiros batalhdes do exército que comegam a se instalar na cidade e em pontos estratégicos do municipio (FOIRN ~ ISA, 2000). Nesta década @ populagdo do municipio tem um crescimento considerével (ver item 2.3.1.deste capitulo) No inicio dos anos 70 algumas liderangas indigenas dos rios Tiquié & Uaupés, reivindicam a demarcago de suas terras junto 4 FUNAI. Em 1975 0 antropélago Peter Silverwood-Cope propée a demarcagao de um territério federal indigena, considerando 0 tamanho da regio e o numero de povos ai existentes. Porém, como esta proposta n&o foi aceita, em 1979 @ FUNAl declara trés éreas contigias como de ocupagao permanente: Pari Cachoeira, lauareté e Icana/Aiari Essa delimitagao foi baseada na diviséo das paréquias feita pelos salesianos. Nesta mesma época ainda, as liderangas do rio Tiquié propoem & FUNAI a demarcacéo de uma terra Unica, reivindicago esta que contou com o apoio técnico da antropéloga D. Buchillet No final dos anos 70 e década de 80 dois acontecimentos véo marcar profundamente a vida das comunidades indigenas desta regio. O primeiro diz respeito ao processo de fechamento dos internatos salesianos; entre os anos de 1984 a 1987 foram fechados os intematos de Pari Cachoeira, no Tiquié, de lauareté © Taracud no rio Uaupés e de Assungao no rio Icana. Com isso, as. familias indigenas se viram obrigadas a mudar-se para as missdes para possibilitar aos seus filhos 0 acesso as escolas, e os centros missionarios ‘comegam a ter um grande crescimento populacional, processo este que continua ‘até hoje em dia (FOIRN - ISA, 2000). O outro fato importante € a descoberta do ouro na regiéo da Serra do Traira, a0 sul do rio Tiquié, em 1983. A descoberta deu inicio a uma “febre do ‘ouro” que se prolongou até inicio dos anos 90. Conflitos entre garimpeiros e indios comecam a surgir, até que em 1985 ocorrem trés mortes de garimpeiros no Traira, € 0 conflito assume dimensdes nacionais. As grandes mineradoras comecam a protocolar pedidos de autorizagéo para pesquisa e lavra de minerais junto a0 Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM) em Brasilia, e realizam gest6es politicas contrarias a demarcagdo das terras indigenas. E por volta desta época que comecam os trabalhos da Assembigia Constituinte. Em 1985, um grupo de trabalho da FUNAl encaminhou uma proposta de delimitagao de uma area Unica como reserva indigena, esta proposta foi ratificada por um outro grupo de trabalho da FUNAI em 1986, Esta proposta teve nos militares e nos donos das mineradoras, seus maiores opositores. No final do ano de 1987, durante a II Assembiéia dos Povos Indigenas do Rio Negro, em Séo Gabriel da Cachoeira, as diferentes organizagées e liderangas indigenas fundam a Federagao das Organizagées Indigenas do Rio Negro (FOIRN), que a partir de ento, comega a articular a luta pela demarcacdo das terras indigenas. Os principais assuntos discutidos nesta assembiéia foram a implantacao do projeto Calha Norte, pelos militares, as atividades das mineradoras na regio e a regularizag4o fundidria das terras indigenas. Em 1988 com a nova Constituicao aprovada, foram reconhecidos os direitos indigenas aos seus territérios tradicionalmente ocupados, mas em 1989 e inicio de 1990, sdo assinados os decretos demarcando reas descontinuas, resultando numa redugao de 68% da extenséo das terras tradicionalmente ocupadas pelos povos indigenas da regio. Esta demarcagao deixava de fora, por exemplo, a Serra do Traira, principal foco de interesse das empresas mineradoras. No inicio dos anos 90, com os protestos das organizagées indigenas da Tegido, e apoiado no laudo antropoldgico elaborado pela antropéloga Dominique Buchillet e nos novos direitos indigenas aprovados pela Constitui¢ao, o Ministério Publico Federal propée uma Ago Declaratéria contra 0 governo federal, com 0 objetivo de reconhecer como de ocupacao tradicional uma s6 area continua para todos os povos da regiéo. Ao mesmo tempo o ent&o presidente da FUNAI assina uma resolugao aprovando um novo parecer técnico elaborado por antropélogos desta instituig&o, unificando outra vez as ‘ilhas’ jé demarcadas. Em junho de 1992 © presidente da FOIRN, Braz de Oliveira Franga, entrega para o procurador da reptiblica uma carta a ser encaminhada ao presidente da republica, solicitando a demarcagao de uma érea Unica. Esta carta, assinada por todas as liderancas 7 indigenas, solicita a extingo das florestas nacionais (FLONAS, que se localizavam entre as ‘ilhas’ das terras indigenas delimitadas), e pede a imediata demarcacao da Terra Indigena do Alto Rio Negro. E importante lembrar aqui que o projeto da FOIRN com o Censo Indigena Autonomo do Rio Negro — CIARN - foi elaborado e aprovado justamente entre os meses de fevereiro a maio deste mesmo ano (ver capitulo 3). Os anos seguintes, até final de 1995, so marcados por intensas negociagdes entre as autoridades federais, FUNAI, Ministério Publico Federal, Ministério da Justiga e militares, e a FOIRN, no sentido de reconhecer a as terras indigenas dessa regio como érea Unica. Finalmente entre dezembro de 1995 e maio de 1996, © ministro da Justia assina os decretos de reconhecimento e delimitagao das cinco terras indigenas desta regio: Terra Indigena Alto Rio Negro, Terra Indigena Médio Rio Negro |, Terra Indigena Médio Rio Negro Il, Terra Indigena Rio Apaporis e Terra Indigena Rio Téa (ver Apéndice 7, mapa 1), situadas nos municipios de Séo Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel e Japuré (20 sul de So Gabriel e Santa Isabel). Durante 0 ano de 1997, até abril de 1998, essas cinco Terras Indigenas so demarcadas, e, em abril de 1998, durante a VI Assembigia Geral da FOIRN, 0 ministro da Justiga entregou aos indios os decretos de homologagées dessas areas. 2.2. Teorias antropolégicas Procurarei descrever os aspectos centrais da organizac&o social do Rio Negro, com base nas pesquisas etnoldgicas realizadas na regio; tenho como referéncias bibliogréficas principais as pesquisas de Stephen e Christine Hugh- Jones sobre os Barasana, Irving Goldman sobre os Kubeo, Jean Jackson sobre os Bara, Janet Chermela sobre os Wanana, Peter Siverwood-Cope e Jorge Pozzobon sobre os Maku, Aloisio Cabalzar sobre os Tuyuka, Nicolas Jouret sobre os Coripaco ¢ Robin Wright sobre os Baniwa A regio etnografica do Rio Negro apresenta alguns tragos de estrutura social também verificados em outras regides da Amazonia, entre os quais convém 28 ressaltar: a) auséncia de profundidade genealégica (embora o parentesco tenha um papel crucial na estrutura social desses povos, 0 calcula genealégico dos individuos no parece ser capaz de recuar por muitas geracdes); b) terminologias de parentesco de tipo dravidiano: séo sistemas que equacionam, do ponto de vista de um homem ou uma mulher, tipos de parentes tais como ‘irméo da mae" e "irma do pai" a “sogro" e "sogra" respectivamente; por isso, os “filhos do irméo da mae” e os “filhos da ina do pai" so considerados cénjuges em potencial, e, portanto, afins e néo consanguineos, ao contrario dos “filhos da irma da mae" e do "irmao do pai" que so considerados consangilineos e, portanto, impedidos de se tornarem cénjuges. Além destes tragos, os povos do Rio Negro s&o marcados por algumas caracteristicas peculiares tais como ¢) a incorporagéo de um principio de descendéncia agnatica (transmissao da qualidade de membro de um grupo definide por uma regra de patrilinearidade), associado a uma regra de residéncia virilocal (a mulher depois de casar deve ir morar na comunidade do marido). Em resumo, so do grupo de descendéncia de um individuo apenas os membros do grupo de seu pai (e no os de sua mae), assim como idealmente séo co-residentes de um individuo todos os homens solteiros e casados de seu grupo de descendéncia, junto com suas esposas, € apenas as mulheres solteiras (immas e filhas) de seu grupo de descendéncia (potencialmente esposas de seus afins, com quem passaréo a residir depois do casamento); Tanto os povos falantes de linguas tukano quanto os povos aruak desenvolveram formulas de sociabilidade hierarquizadas, que acaberam por englobar os povos de linguas maku, tomados "servos" ou “criados" (Goldman, 1963) Em linhas gerais, 0 que distingue a formula tukano da formula aruak parece estar associado as formas de reprodugéo dos grupos sociais @, conseqiientemente, a troca matrimonial: enquanto os povos arvak se casam “entre si", tendo como unidades exogamicas as fratrias e ndo o grupo linguistico, os Povos tukano desenvolveram um principio de "exogamia linguistica" (em resumo, © cénjuge é idealmente alguém que fala uma lingua diferente, conceitualizado em termos nativos como um individuo etnicamente distinto) Um grupo lingilistico tukano se define em relacéo aos demais grupos linguisticos ora como agnata (parente consangiineo pela linha masculina, transmitido pela patrilinearidade), ora como afim. Assim, por exemplo, as populagées de lingua bard e tukano se definem como agnatas entre si e como afins da populagao de lingua tuyuka (Jackson, 1984). Esta relagdo de agnagao postulada, como por exemplo, entre os Bard e Tukano, gera agregados demogréficos exogamicos, geograficamente dispersos e _ingUisticamente heterogéneos, que séo denominados “fratrias’, ou unidades exogamicas compostas, pelos especialistas na regio. Em resumo, as fratrias so conjuntos de grupos lingilisticos definides por uma regra de exogamia. grupo linguistico é interpretado em termos nativos como um conjunto de parentes agnaticos descendentes de um grupo de irmaos-ancestrais miticos. primogénito ancestral 6 tomado como o ascendente focal de todo o grupo lingUfstico. Além disso, os irmAos-ancestrais so ordenados segundo a ordem de nascimento, do mais velho ao mais novo, fomnecendo a fundamentagao ideolé Para 0 estabelecimento de relagdes de hierarquia no interior do grupo linguistico. ‘© mito da Anaconda (cobra-grande, animal mitico que, em algumas versées, & semelhante a uma canoa) conta que a cobra foi descendo (ou, em algumas versdes, subindo) 0 rio Uaupés, e depois o Negro, e em cada parada da cobra, esta "paria" o primeiro homem de uma "tribo" e seu cunhado, gerando assim a seqiéncia de ancestrais hierarquicamente organizados e jé delineando a formula da exogamia lingistica (uma vez que cunhados eram “paridos" juntos) (S. Hugh- Jones, 1979) Esta estrutura hierérquica acaba por definir sub-grupos, que sdo conhecidos na literatura da regio como “sibs”. O sib pode ser definido como um Conjunto de individuos, detentores de uma série de tradigdes comuns, que se consideram descendentes em linha direta de um dos irmaos-ancestrais-miticos fundadores do grupo lingiistico. S40, segundo os habitantes da regio, "os netos 30 de um s6 homem" (Chemela, 1981), O status de cada um dos sibs é funcdo direta da posig&o relativa do ancestral em relag4o a seus irmaos. Desta forma, o sib descendente do ancestral primogénito é o sib hierarquicamente mais allo, o sib descendente do segundo irmo mitico € 0 segundo hierarquicamente mais alto, € assim sucessivamente. €. Hugh-Jones (1979) propée um modelo onde os grupos de descendéncia geram interdependentes: chefes, dangarinos-cantores, guerreiros, xamas e servos, os 6) cinco unidades sociolégicas hierarquizadas e funcionalmente primeiros € os ditimos relacionados @ esfera politico-econémica, os segundos e quartos ligados @ esfera metafisica e os terceiros associados a esfera das relagdes com a exterioridade das unidades locais. © néimero de sibs de um grupo lingUistico pode variar na regido, dentro de certos limites que ainda estéo por ser definidos de modo mais preciso. Assim, por ‘exemplo, os Tukano parecem se dividir em vinte seis sibs, os Kubeo em dezoito, etc, Vale ressaltar aqui que os povos aruak, notadamente os Baniwa, apresentam uma configuracao intema bastante semelhante aos grupos lingUisticos tukano, com a diferenga fundamental de que os aruak podem se casar entre si, Convém ainda assinalar que é precisamente a formulagao hierarquica definida acima o que permite incluir os povos de linguas maku na estrutura social da regio: os Maku so conceituados como descendentes diretos de individuos que foram criados/servos dos irm&os-ancestrais e, por isso mesmo, so criados dos povos atuais, © que os torna os Ultimos (os mais inferiores) no quadro da estrutura hierérquica, Segundo Chernela (1981), os sibs de todos os povos tukano se articulam, para fins matrimoniais, em trés ‘classes de geracdo", entendidas como “grupos”, superior, médio @ inferior, respectivamente clasificados pelos nativos como “netos”, "tios" "avés". Neste caso a diferenga geracional ("netos", "tios" e "avés") identifica o status do sib de maneira inversa a diferenga etaria (mais velhos e mais novos). Em outras palavras, os sibs superiores s40 os "netos" (endo os “avés") e 08 inferiores seriam os avés e assim por diante. Os individuos de uma determinada classe de geracéo de um mesmo grupo a” linguistico (identificados na regiéo como povo ou etnia) vao classificar os individuos de mesma classe de geragao de um outro povo de “imaos". Assim, por ‘exemplo, os superiores do povo x vao classificar os superiores do povo y de “inmaos", etc. Entre superiores e médios, assim como entre médios e inferiores, 08 primeiros classificarao os segundos como “tios” (e serao por estes classificados como "sobrinhos"). Finalmente, entre superiores e inferiores, os primeiros serao clasificados pelos segundos como "netos" (@ serao por estes clasificados como “avés"). Ainda segundo Chemela (1981), 0 casamento idealmente s6 pode ocorrer entre sibs da mesma classe de geragao. Ora, este ponto remete a um aspecto muito interessante deste tipo de estrutura social. Se as relagdes sociais instituidas pelos lagos de descendéncia (e da consangliinidade) séo marcadas pelo paradigma da hierarquia e do englobamento, as relagdes sociais instituidas pelo casamento (e pela afinidade) parecem ser regidas pelo paradigma da simetria e da igualdade. Se no interior do grupo linguistico, os sibs se relacionam de forma hierarquizada e so similares uns aos outros (uma vez que so todos eles descendentes de um mesmo grupo de irmaos ancestrais), entre grupos linguisticos distintos, os sibs se relacionam de forma simétrica e so diferentes (por definigao) e complementares uns em relacao aos outros. Existem outros aspectos associados as praticas de casamento no Rio Negro que podem ser tomados como evidéncias independentes que permitem corroborar este modelo de simetria e complementaridade. Em outras palavras, estes sistemas de parentesco so fundados em um regime de troca simétrica, que, na regio, 6 interpretado como uma formula de intercdmbio de irmas entre grupos lingliisticos diferentes para os tukano, ou de fratrias diferentes para os Baniwa. Desta maneira, 0 que se tem idealmente é um regime onde um grupo troca uma irmé por uma esposa, Além da troca direta (ou troca dupla), um outro trago importante do casamento se manifesta no ideal de parentesco entre cénjuges: em resumo, casa-se com alguém com quem seja possivel tragar relagdes genealdgicas. Para um homem, por exemplo, o casamento ideal é com a prima cruzada bilateral (filha da irma do pai elou filha do irm&o da mae) ou préxima classificatoria, ou seja, podem ser mulheres filhas de afins que séo também classificadas como “primas” (Jackson, 1984). 2.3, Informagées populacionais 2. Dados dos censos demograficos do IBGE Neste item procuro tragar um breve panorama sobre a populacéo da regio do Rio Negro, incluindo os trés municipios, a partir de Manaus: Barcelos, Santa Isabel e So Gabriel da Cachoeira. No censo demogréfico do IBGE de 1980 {IBGE/SIDRA, 2002), a populagdo total (indigena e nao indigena) do municipio de So Gabriel da Cachoeira corresponde a 19.578 habitantes, sendo 9.983 homens @ 9.595 mulheres. Este censo néo diferenciou a populagdo india da no india, tendo sido os indios clasificados como "pardos". Neste levantamento, a Populagaio por ‘cor’ de municipio de S40 Gabriel 6 a seguinte: branca: 606 pessoas, sendo 348 homens e 258 mulheres; parda: (onde foi incluida a popopulagao_indigena ): 18.852 pessoas, sendo 9.552 homens e 9.300 mulheres. As outras ‘cores’ (negros, etc) aparecem com nimeros irelevantes: 112 pessoas, sendo 81 homens e 31 mulheres. Ainda de acordo com o censo de 1980, dos 19.578 habitantesde S40 Gabriel da Cachoeira, 18.535 sao nascidos no municipio e apenas 1.043 pessoas so provenientes de outros estados ou paises. O Anuério Estatistico de 1991 6 o primeiro trabalho do IBGE que traz um capitulo especial sobre as Areas indigenas do Brasil, Nesta publicagdo, a populagdo indigena estimada no municipio de So Gabriel 6 de aproximadamente 15.200 pessoas. Outro dado deste ano de 1991, publicado depois deste anudrio estatistico, do préprio IBGE, relative ao censo, é de que a populagdo indigena do municipio de S.Gabriel era 17.184. E a populagdo indigena recenseada pelas associagdes/organizagées indigenas/FOIRN no ano seguinte (1992) é de 16.588 pessoas. Em 1980 0 IBGE contou 18.852 pardos (ver acima), possivelmente a Populagdo indigena, no censo de 1991 a populagao indigena contada pelo censo 33 foi de 17.154 pessoas (ver tabela 1 abaixo) e em 1992 0 CIARN contou 16.588 indios. Isto quer dizer que possivelmente a populagao contabilizada como parda em 1980 foi super-estimada, ou que inclufa muitas outras pessoas além dos indios; ou também pode ser que tanto 0 censo do IBGE de 1991 quanto o CIARN ‘sub-estimam a populagdo, o que me parece mais provavel, visto que, como serd visto no capitulo 3, 0 CIARN teve uma cobertura parcial da regido, A seguir as tabelas com a populago por municipio: 1. So Gabriel da Cachoeira: Tabela 1: Populagdo residente no municipio de S40 Gabriel da Cachosira, por situagao do domicilio, e populagdo indigena em 1991 ano___pop rural urb total 1970 12.074 1.346 13.420 1980 15.681 3.897 19.578 1991 16.305, 6835 rts 29.140 1996 17.429 9.563 ? 26.992 2000 17.574 12.373 29.947 Tonite: IBGE, Cmsos demograncos de 1870, 1980, 1991 « 2000 @contagem populacional de 1996 Grafico 1: Evolugo da populacdo residente no municipio de Sao Gabriel da Cachoeira, por situag&o de domicilio e populacao total pop rural = pop urb, > pop total Tabela 2: Proporcao (porcentagem) da populag&o rural e urbana do municipio de S40 Gabriel da Cachoeira, e proporcao da populagdo indigena em 1991 ano__pop rur(%) pop urb (% 1970 89,97 10,03 1980 80,10 19,90 1991 70,48 29,54 1996 64,57 35,43 2000 58,68 41,32 Tote: IBGE, Censos demogricos de 1870, 1880, 1981 «2000 contagem populacional de 1896, Grafico 2: Evolugao da proporgéo da populagdo rural e urbana do municipio de Sao Gabriel da Cachoeira : 2 pop rural 2 pop urb Tabela 3: Taxas anuais médias de crescimento populacional do municipio de Sao Gabriel da Cachoeira, para cada periodo de 10 anos iodo. a) by £04) 1970-1980 616 76.488 373 1980-1991 324 21.359 1,52 4991-2000 756 28.544 2,85 Tonte: 18, Consos demogifces de 1970, 180, 1907 2000 ¢ cantagem populacionsl de 1808 @) ineremento medio anual de populagso b) média de populacao no periodo taxa anual de crescimento no periodo A populace de Sao Gabriel da Cachoeira tem crescido nos ultimos anos em um ritmo acelerado, provaveimente devido a migragdes e também devido a um certo crescimento vegetative. Proporcionalmente, a populagdo urbana cresce muito mais do que a populacdo rural, indicando migragdes para a area urbana do 35 municipio, proveniente tanto das dreas rurais (indigenas) como de outros municipios ou estados. No periodo de 1970 a 1980 o crescimento populacional foi de 3,73% ao ano, e no periodo seguinte, de 1980 a 1991, foi de 1,5% ao ano. No periodo de 1980-91 0 ritmo de crescimento do municipio desacelerou, o que deve ser analisado em conjunto com a evolugdo da populagao de Santa Isabel. Neste Ultimo municipio, justamente nesse periodo, ocorre um pico de crescimento onde as taxas atingem 9,3% ao ano. E possivel supor que parte da populacdo indigena tenha sido contabilizada no municipio vizinho ou que tenha ocorrido uma migragéo para Santa Isabel neste periodo, mas para chegarmos a conclusées ou levantarmos hipéteses mais detalhadas precisariamos analisar as informagées relativas 4 migracdo existentes nos censos, como procedéncia e naturalidade dos moradores, tempo de residéncia e outras. 2. Santa Isabel do Rio Negro Tabela 4; Populagao residente no municipio de Santa Isabel, por situagéo do domicilio, e populagao indigena em 1991 ano___pop rural urb pop inc!__pop total 1970 3.137 508 3.646 1980 3.947 4.034 4.981 1991 13.317 2.104 seis 18.421 1996 9.010 3111 42.121 2000 6.341 4.220 2 10.561 ‘ont: IBGE, Censos demogrificos de 1970, 1800, 1901 « 2000 e contagem populcional de 1886 36 Gréfico 3: Evolugao da populagdo residente no municipio de Santa Isabel, por situagéo do domicilio e populagdo total —e—pop rural a pop urb pop total Tabela 5: Proporeéo (porcentagem) da populagdo rural e urbana no municipio de Santa Isabel, @ proporgao da populacao indigena em 1991 ano, ur (%) pop urb (%) : °%) pop total 1970 86,04 13,96 7 100,00 1980 79,24 20,76 2 100,00 1991 36,36 13,64 4 100,00 1996 74,33 25,87 100,00 2000___60,04 30,96 100,00 Tote: IBGE, Censos demogréficos de 1970, 180, 1091 «2000. contagem populsciona de 1086 Gréfico 4: Evolugéo da populagéo rural e urbana do municipio de Santa Isabel pop rural oo —B pop urb 20,00 | 20,00 10.00 7 Tabela 6: Taxas anuais médias de crescimento populacional do municipio de Santa Isabel, para cada periodo de 10 anos eriodo a) ») £(%) 1970-1980 134 4.514 3at 1980-1991 949 10.201 9,30 1991-2000 __-540 12.991 4,46 ‘owe: 8e, cenaos cemogritcar ae 170, 10, e200 «conagem popdaional de 1856, 2) incremento médio anual de populacso b) mésia de populagao no periodo 1: taxa anual de crescimento no perfodo ‘A populagao do municipio de Santa Isabel também vem crescendo em ritmo bastante acelerado até 1991, quando entao sofre uma perda populacional anual média de 540 pessoas. O pico de populag&o que encontramos no censo de 1991, especificamente de populacdo rural, pode ser causado por superestimativas ocorridas nesse censo, ou erro de localizacao de algumas comunidades recenseadas, que poderiam pertencer a Barcelos ou Séo Gabriel da Cachoeira. Para se esclarecer esse crescimento espantoso da década de 80 a 91, sera preciso cruzar esses dados com as informagdes das variaveis de migracdo, para termos uma idéia do porque desse fendmeno, Na tltima década Santa Isabel sofre um decréscimo populacional bastante grande, ficando a populagdo residente em 2000 com 6.000 pessoas a menos do que em 1991. A proporcao de populagao tural também cai nesses ultimos anos, como nos outros municipios, excetuando- se a Ultima década para o municipio de Barcelos. 3. Barcelos Tabela 7: Populagao residente no municipio de Barcelos, por situagao do domicilio, e populacao indigena em 1991 ano rural__pop urb total 1970 8.476 1.152 ? 9.628 1980 7.078 2.012 9.088 1991 7.017 4.018 hee 11,035 1996 7878 8.489 16.065 2000 __ 16.243, 7.954 24.197 fonte: IBGE, Censos demograficos de 1870, 1880, 1991 «2000 « contagem populaciona de 1906 38 Grafico 5: Evolucéo da populacao residente no municipio de Barcelos, por situagao do domicilio e populagéo total + pop rural = pop urb pop total Tabela 8: Proporcdo (porcentagem) da populaedo rural e urbana do municipio de Barcelos e proporcdo da populagao indigena de 1991 ano__pop rur(%) pop urb (%) oo ind (i! pop total 4970 88,03 1,97 700,00 1980 77,86 22.14 100,00 1991 63,59 36.41 4,5 100,00 1996 47,16 52,84 100,00 2000 67,13 32,87 400,00 “ort: 1266, Cenaoe demogyéficos de 1970, 180, 1997 «2000 contagem populaiona de 1996 39 Grafico 6: Evolugao da proporgo da populacdo rural e urbana do municipio de Barcelos pop rural @—pop ur 1970 1960 toot tos 2000 Tabela 9; Taxas anuais médias de crescimento populacional do municipio de Barcelos, para cada periodo de 10 anos eriodo___a) ) i 1970-1980 54 9.358 “0.58 1980-1991 177 10.062 176 4991-2000__1.462 17616 8,30 Tote: IBGE, Cantos damogicos de 170, 190, 191 « 2000 « Cntagem popuscional de 1906 @) incremento medio anual de populagso. b) média de populacao no periodo axa anual de crescimento no periodo A populacao de Barcelos comega o period estudado com um crescimento negative, ainda que pequeno, e na tiltima década cresce em ritmo muito acelerado, justamente quando 0 municipio vizinho de Santa Isabel decresce em ritmo também rapido, sendo portanto possivel levantar a hipdtese de que houve uma migragdo grande de pessoas para as areas rurais de Baroelos. A populagdo urbana cresce em ritmo mais constante do que a rural, que recupera alguma Populagao na ultima década. E bem provavel também que tenha havido uma re- Classificago de domicilios; comunidades ‘caboclas’ ou indigenas préximas da @rea urbana podem ter sido em 1991 contadas como urbanas e em 2000 classificadas como rurais. Esta hipétese se baseia no fato de que 0 processo de 40 urbanizagéo deste municipio se acentuou nos ultimos anos, principalmente devido ao crescimento do turismo ecolégico nesta regio, atraindo muitas pessoas de outros municipios para esta cidade. As tabelas e gréficos @ seguir procuram comparar os trés municipios, 0 crescimento bruto da populagdo como um todo, e 0 ritmo de crescimento, ou seja a evolugao das taxas anuais de crescimento nos trés periodos estudados, Tabela 10: Evolugao da populagao total dos trés municipios do rio Negro SGC__Stalsab. Barcelos _ total 7970 13.420 ~«3.846~—«9.628~—~—=«(8. 894 1980 19.578 4.981 9.088 «33.647 1991 23.140 15.421 11.035 49.596 1996 26.992 12.121 16.065 55.178 2000__20.947_10.561__-24.197__—_—6 4.705 Tent: IBGE, Cenaoe demogrificos de 1970, 180,198 «2000 « conlagem populacional de 1986, Gréfico 7; Evolugao da populagdo total dos trés municipios do rio Negro 35.000 30.000 25,000, 20,0004 —e-s6c —# Sita lsab. —-+~Baroelos +5000 0.00 + 5000 17015801981 18082000 Tabela 11: Evolugdo das taxas anuais de crescimento da populacao dos trés municipios do rio Negro SGC_ Sta.Isab. Barcelos 1970-1980 3.73 3.11 (0.58 1980-1991 1,52 9,30 1.76 4991-2000 285-416 8,30 Torte: 15GE, Censos demograficos de 1870, 1360, 1981 « 2000 econtagem populacional de 1998 a Grafico 8: Evolugao das taxas anuais de crescimento dos trés municipios do rio Negro —e-see a Sta loa. © Barcebs 1970-1900 1900-1991 1991-2000 Comparando-se os trés municipios pode se observar que tanto So Gabriel da Cachoeira quanto Barcelos cresceram nestes uiltimos 30 anos, sendo que o ritmo de crescimento observado em Barcelos s6 tendeu a aumentar, € o ritmo de crescimento observado para S40 Gabriel da Cachoeira caiu no periodo de 1980 para 1991 e aumentou nos Uitimos 9 anos. Santa Isabel teve um crescimento muito acelerado no primeiro periodo observado, de 1970 a 1980, e teve uma perda de populacao de quase 2.000 pessoas no ultimo periodo, ou seja, um crescimento negativo. 2.3.2. Evolugao da populagao das comunidades indigenas nos Ultimos 10 anos © objetivo deste item é fazer um balango da populagéo residente nas comunidades das terras indigenas demarcadas, incluindo aquelas localizadas no municipio de S4o Gabriel da Cachoeira e também as poucas comunidades, sobre a8 quais dispomos de dados, de Santa Isabel. Foram incluidas as informagdes sobre as comunidades do Alto Rio Negro, incluindo a populaggo indigena de Cucui, pequeno centro urbano que faz fronteira com a Venezuela, e da sua margem esquerda, apesar de nao estarem com suas terras demarcadas. Nao foram consideradas as informagées disponiveis sobre as 4reas urbanas dos 42 municipios, mas incluiu-se aqui as informagdes para os outros centros missionérios localizados nas terras indigenas demarcadas. A Unica informagao disponivel a partir da qual seria possivel tragar um panorama da evolugo desta populago foi o numero total de pessoas por comunidade. Nao nos foi possivel ‘encontrar outras variéveis, como etnia, sexo e idade, nas outras fontes de dados disponiveis para este periodo. O trabalho de atualizagdo das informagses populacionais foi feito através de um projeto executado pela FOIRN em parceria com 0 Instituto Socioambiental — ISA -, em 2002, “Macrozoneamento participativo das Terras Indigenas do Alto Rio Negro’, financiado pela Secretaria da Amaz6nia do Ministério do Meio Ambiente. Neste projeto, que coletou as informagées recentes sobre estimativas de populace total por comunidade, 0 trabalho foi feito de diferentes formas: a) através das informagdes de moradores indigenas dos rios que, em conversas com a equipe do projeto na cidade de So Gabriel, e olhando o mapa com as comunidades localizadas, informaram a estimativa da populagao atual de cada uma; b) através de viagens feitas pela equipe do projeto, nas quais ‘0s moradores iam informando a populacdo atual de cada uma das comunidades; c) através da compilagdo dos dados de populagéo de 2002 gerados pelas diferentes equipes do Distrito Sanitério Especial Indigena do Rio Negro da Fundagao Nacional de Satide — FUNASA — do Ministério da Saude. Esses dados de populagao foram coletados por trecho de rio e posteriormente incluidos numa planilha onde jé constavam os dados de populagao das comunidades indigenas desta regido gerados por dois diferentes bancos de dados do ISA. O primeiro foi elaborado durante os anos de 1992 a 1995, durante o processo de luta pela demarcagao das terras indigenas, e considerou as informagées do CIARN para algumas comunidades, gerando informagdes para as outras comunidades de todos os trechos de rios da regido, através de viagens da ‘equipe do ISA feitas com esse objetivo. As informagées do CIARN utilizadas para efeito desta primeira integragéo entre estes dois bancos de dados foram a tabulagdo da populacao total por comunidade © os nomes, cédigos e localizagao de cada uma das comunidades recenseadas; foram excluidas as informagdes sobre 0 centro urbano de So Gabriel da Cachoeira. Este banco de dados é o que 43 tem a maior cobertura, contendo cerca de 600 comunidades cadastradas e identificadas O outro banco de dados existente no ISA foi estruturado em 1997, na época da demarcagao fisica das terras indigenas, através das viagens feitas por equipes técnicas para a coleta das informagées para cada rio da regio. Foi elaborado um questionério bastante complexo, com informagées sobre a comunidade, seu perimetro de abrangéncia, tempo de existéncia, populago total, produtividade e infra-estrutura de educagao e satide. Este ultimo banco de dados identificou @ coletou informagées de cerca de 300 comunidades em todos os rios da regio. Estes dois bancos de dados do ISA nao possuem informagées sobre populagdo Por sexo, idade e etnia para cada comunidade, apenas 0 numero da populacao total de cada uma e outras informagées sécio-econémicas sobre a prépria Comunidade, sitio ou povoado. Para efeito desta andlise recuperamos as informagées da populagdo total de cada comunidade em 1992 do CIARN, do banco de dados do ISA de 1996 (com informagies datadas de 1992 a 1995) do banco de dados do ISA de 1997 (com informagées datadas deste ano) e da atualizagao feita em 2002 por este projeto de macrozoneamento. A partir das 600 comunidades cadastradas ¢ identificadas pelo banco de dados do ISA de 1996, que tem a maior cobertura, ou seja, que tem o registro mais completo com os nomes ¢ a localizagao de cada uma das comunidades, foram feitas andlises por sub-regides, divididas de acordo com os bancos de dados do ISA. As informagées utilizadas dos dois bancos de dados do ISA e dos resultados do projeto do macrozoneamento, foram os nomes e cédigos das comunidades e suas localizagSes por rio, a populagdo total estimada, tempo de existéncia das comunidades e situago atual, ou seja, se esté abandonada ou se é nova. As informagées datadas como 1996 nas tabelas abaixo tém como fontes primarias ou 0 CIARN, que 6 de 1992, ou viagens feitas em 1995 ou 1996. Do CIARN foram utilizadas as informagdes sobre os nomes das comunidades, suas localizagées e populagao total. Todas as tabelas deste item tém sua fonte como os bancos de dados do ISA, pois todas as informagdes das demais fontes encontram- se atualmente ld cadastradas. Das 600 comunidades do banco de dados do ISA, entre 1996 e 2002, 123 delas deixaram de existir; 211 comunidades perderam populago, isto é, o nimero total de habitantes diminuiu; 209 comunidades ganharam populago, ou seja, aumentou 0 némero total de habitantes; e surgiram 57 novas comunidades, fundadas no periodo de 1997 (ano do pentiltimo levantamento) a 2002. Tendo como critério que 600 comunidades seria 0 nosso universo, a proporcao ficaria desta maneira: 34% das comunidades perderam populagao e 35% ganharam populagao, mas 21% das comunidades deixaram de existir e apenas 10% dessas 600 comunidades so novas. Em termos do volume total de populagdo de todas as comunidades, houve um pequeno crescimento, mas muitos rios e trechos de rios tiveram uma queda na populagéo total, indicando uma possivel migrago em diego aos centros missionarios. Tabelas 12 @ 13: Evolugao da populagao total das comunidades da regiao do Alto Rio Negro e evolucdo da situagéo populacional das comunidades cadastradas no banco de dados do ISA Populagao total Total das comunidades ‘ano ‘populagao ‘eixaram de existir 123 7.996 18684 perderam populacdo 2it 2.002, 18966 ‘ganharam populagéo 209 ‘saldo 282 novas 57 ‘rie: baneve de daos 1A total Tonte:Sancos de dacs do ISA Grafico 9: Evolugao da situag4o populacional das comunidades cadastradas no banco de dados do ISA ‘a deixaram de existir i perderam populagao ED ganharam populagao Bnoves A seguir foram feitas algumas andlises por rio ou trecho de rio®, verificando- se em quais sub-regides a populagSo esté crescendo, ou as comunidades esto mais estaveis, e onde a populacao esta diminuindo e as comunidades deixando de existir. 4. Rio Xié (ver Apéndice 7, mapa 1): Esse rio é habitado tradicionalmente pelas comunidades dos povos werekena e baré. Das 35 comunidades que est&o cadastradas e identificadas no banco de dados do ISA de 1996, 15 deixaram de existir, 4 so novas (surgidas nos ultimos 4 anos), 10 tiveram um incremento populacional e 6 tiveram uma queda no volume total de sua populago, no periodo que vai desde 0 CIARN em 1992 até 0 tiltimo levantamento, feito pela FUNASA, em 2002. Se considerarmos as novas comunidades, somadas aquelas que tiveram um aumento populacional, teremos 14 comunidades que estéo ganhando populagao, enquanto 21 comunidades ou deixaram de existir ou estéo perdendo populagéio. Das comunidades que deixaram de existir nenhuma era antiga, ou seja, existente hd mais de 20 anos. Dentre as comunidades antigas, a maioria ganhou populagao, apenas Yoco e Nazaré perderam populacao, Portanto, nesse rio a antiguidade das comunidades parece indicar uma certa estabilidade de ocupacao. A populagao total deste rio em 1996 era de 793 pessoas e em 2002, de acordo com os dados da FUNASA, era de 716 pessoas. O saldo 6, Portanto, negativo em 77 pessoas, com uma perda de 9,7%. A populagao tem diminuido, possivelmente devido & migracao para os centros urbanos como Sao Gabriel da Cachoeira. * A sub-diviséo da érea em trechos de rios neste capitulo segue a légica dos bancos de dados do ISA, 0s trechos de rios s4o menores do que a sub-divisdo feita por mim para as andlises demogréticas das capitulos 3 e 4. Além disso, nas andlises deste item as comunidades maki S40 anaiisadas separadamente, por se tratarem de um caso especifico, visto néo terem grandes aglomerados populacionais. A relacdo dessa sub-divisdo com aquela feita por mim, esté detalhada no capitulo 3, 46 Tabela 14: Balango da situacao das comunidades do rio Xié, 1996 — 2002 Comunidades do rio Xié Geixaram de existir 15 perderam populagto 6 ganharam populagéo 40 novas. 4 total 36 fen Grafico 10: Proporgao das comunidades do Xié por situagao atual 43% 17% deixaram de existir 1B perderam populagao aganharam populacio Bnows Tabela 15: Populagdo total em 1996 (inf. de 1992 a 1995) e 2002 do rio Xié opulagao total do rio Xi 1998 «793 2002 746 saldo {oro 1GA, bance do dado do 1996, 19097 92002 2. Rio Negro Acima (ver Apéndice 7, mapa 1): Sao as comunidades situadas da boca do rio Igana até Cucul, na fronteira com a Venezuela e Colombia. Das 112 comunidades cadastradas e identificadas, 35 delas, com uma populagdo total de 267 pessoas, deixaram de existir nesse Ultimo periodo de 1997 até 2002; 38 comunidades perderam populagao, caindo de 1.687 em 1996 para 1.021 pessoas em 2002; 32 comunidades ganharam populacdo, passando de um total de 453 pessoas em 1996 para 777 pessoas em 2002; e surgiram 8 comunidades novas 47 com um total de 107 pessoas. A populagao total em 1996 era de 2.407 pessoas, em 2002 a populacao total deste trecho de rio passa a ser de 1.905 pessoas. Portanto essa sub-regiéo perdeu 502 pessoas no periodo de 1996 a 2002, uma perda de 20,9% de populacdo. Da mesma maneira que nas outras sub-regides, seria preciso fazermos uma analise mais detalhada para verificar que tipo de migragéo esta ocorrendo, o que ndo é possivel com os dados disponiveis Tabela 16: Balango da situagao das comunidades do rio Negro Acima, 1996 - 2002 Comunidades do rio Negro Acima Geixaram de existr 35 perderam populacdo 38 ganharam populagao 32 novas, 8 teste eee ag eee ‘ome: ISA, basco da dads do O06, 1987 «2002 Grafico 11: Proporgéo das comunidades do Negro Acima por situagao atual ‘8 doixaram de existir 12 perderam populagao ‘3 ganharam populago onovs 48 Tabela 17: Populagdo total em 1996 (inf. de 1992 a 1995) e 2002 do rio Negro Acima poputagao total do rio Negro Acim: 1996 «2.407 2002 __ 1.905 ‘saldo 502 Ton: GA, tances de dados de 1886, 1897 «2002 3. Rio Negro Médio (ver Apéndice 7, mapa 1): So as comunidades existentes no trecho do rio Negro que vai desde a boca do Igana até a cidade de Santa Isabel Das 172 comunidades cadastradas, 40 deixaram de existir e 59 perderam populagao; 44 ganharam populagao e 29 comunidades novas surgiram nesse periodo. A populagao total em 1996 era de 2.855 e em 2002 de 2.473. Este trecho de rio perdeu nesse periodo o total de 382 pessoas, significando um decréscimo de 13,4%. Nesse trecho de rio situa-se a cidade de S40 Gabriel da Cachoeira, para onde um ntimero considerével de pessoas oriundas das comunidades das terras indigenas demarcadas pode ter migrado, o que possivelmente foi o caso desta regio, visto sua proximidade em relagao a este centro urbano. Tabela 18: Balango da situagao das comunidades do rio Negro Médio, 1996 - 2002 Comunidades do rio Negro Méx Geixaram de existir 40 perderam populagao 58 ganharam populagao 44 novas 29 ‘total 172 Torte: ISA, banece de Goose 1806, 1887 «2002 49 Gréfico 12: Proporgao das comunidades do Negro Médio por situagéo atual 1s deltdiam de existir 13 perderam populagao ‘5 ganharam populagao anovas Tabela 19: Populagao total em 1996 (inf. de 1992 a 1995) e 2002 do rio Negro Medio populacdo total do rio Negro Médio 1996 (2.855 2002 2.473 ‘aldo =382, ‘ore: GA, Banoo do dadon de 1696, 1997» 2002 4. Rio Uaupés Acima (ver Apéndice 7, mapa 1): Sdo as comunidades habitantes do rio Uaupés, desde a boca do rio Papuri, exciuindo-se 0 povoado de lauareté Centro, até a comunidade de Querari, ultima comunidade existente no lado brasileiro ao norte de lauareté, na fronteira com a Colémbia. Das 28 comunidades identificadas, 8 deixaram de existir e 18 perderam populacdo nesse periodo de 1996 a 2002; 5 ganharam populagéo © 3 novas comunidades foram criadas, O total de populagao em 1996 era de 976 e em 2002 era de 787, indicando um saldo negativo de 189 pessoas. Proporcionalmente houve uma perda de 19,4%. Provavelmente houve uma grande migragao em diregao a lauareté Centro, que cresceu no periodo mais de 100% , como poderd ser visto adiante 50 Tabela 20: Balango da situagéo das comunidades do rio Uaupés Acima, 1996 — 2002 Comunidades do rio Uaupés Acima Geixaram de existir 2 perderam populacdo 18 ganharam populago 5 novas 3. total EG tone: Sa, banons do dacs do 1996, 1957 «2002 Grafico 13: Propor¢éo das comunidades do Uaupés Acima por situagao atual wdeixaram de existir iperderam populagao Tganharam populago anos. Tabela 21: Populagao total em 1996 (inf. de 1992 a 1995) € 2002 do rio Uaupés Acima populagio total do rio Uaupés Acima 1998 «876 2002 787 saldo 185 Tea: 1SA, bans de dado do 1980, 1967 «2002 5. Rio Uaupés Médio (ver Apéndice 7, mapa 1): Sao as comunidades do rio Uaupés localizadas desde lauareté Centro (inclusive) até a comunidade de 51 Urubucuara (inclusive) onde se situa a grande cachoeira de Ipanoré. Das 23 Comunidades identificadas nesse trecho de rio, nenhuma deixou de existir, 14 Perderam populagéo, 6 tiveram sua populacdo aumentada (incluindo lauareté Centro) e surgiram 3 comunidades novas neste periodo. O total de populagdo em 1996 era de 1.898 e em 2002 era de 2.992; houve um aumento de 1.094 Pessoas neste trecho de rio, ou 57,6%. Esse aumento significative desse trecho de rio € 0 nico grande aumento populacional de toda a regio. Este incremento demografico encontra-se concentrado em lauareté Centro, um povoado originado de uma misao salesiana, fundada em 1929, sendo hoje em dia considerado por muitos como um centro urbano, composto de 12 bairros/comunidades diferentes. lauareté Centro passou de 1.167 pessoas em 1996 para 2.328 pessoas em 2002, tendo crescido mais de 100% no periodo. Tabela 22: Balango da situagéo das comunidades do rio Uaupés Médio, 1996 - 2002 Comunidades do rio Uaupés Médio ‘eixaram de existir 0 perderam populagao “4 ganharam populacdo 6 novas 3 ‘otal 23, Tonle: ISA, Banco de ddan do 1996, 1007 @ 2002 Gréfico 14: Proporeao das comunidades do Uaupés Médio por situagao atual Bideixaram de existir lperderam populacéo ‘igenharam populacao Bnovas 52 Tabela 23: Populacdo total em 1996 (inf. de 1992 a 1995) e 2002 do rio Uaupés Médio 898 2.992 4 Tort, baneos do dads de 1996, 1997 «7002 6. Rio Uaupés Baixo (ver Apéndice 7, mapa 1): So as comunidades existentes no rio Uaupés no trecho que vai desde a comunidade de Ipanoré, abaixo da cachoeira do mesmo nome, até a sua confiuéncia com o rio Negro, na regio logo antes da Ilha das Flores. Os povos que moram nessas comunidades sdo os de linguas tukano, ou séo Baré. Nesse trecho de rio localiza-se um outro centro missionério denominado Taracua, fundado em 1923 pelos salesianos, que teve sua populagdo aumentada de 318 para 353 pessoas, no periodo. Do total de 28 comunidades identificadas e cadastradas neste trecho de rio, 12 deixaram de existir, 11 perderam populag&o e 5 ganharam populacdo, ndo tendo sido criada nenhuma comunidade nova neste periodo. Junto com o rio Xié, foi o trecho de rio que teve um ntimero grande de comunidades que deixaram de existir, 43%, e nenhuma comunidade nova foi criada, O total de populagao de 985 pessoas em 1996, passou para 838 pessoas em 2002, tendo um saldo negativo de 147 pessoas, significando uma perda de 14,9%. A perda populacional nao foi tao expressiva como no caso do rio Negro Acima, regido bastante populosa, mas que perdeu mais de 20% de sua populagao neste periodo, Contudo, o numero de comunidades que deixou de existir ou que perdeu populagdo mostra que essa & uma regiéo onde esté ocorrendo uma migragéo possivelmente em direcdo a lauareté ou a cidade de S4o Gabriel da Cachoeira, 83 Tabela 24: Balango da situagdo das comunidades do rio Uaupés Baixo, 1996 - 2002 Comunidades do rio Uaupés Baixo deixaram de existir 2 perderam populacdo 1" ‘ganharam populagao 5 novas, 0 total 28 font: ISA, Banco de dados de 1806, 1997 « 2002 Gréfico 15: Proporgéo das comunidades do Uaupés Baixo por situagao atual aideixaram de existir Bperderam populagao EB ganharam populagao Bnovas Tabela 25: Populagao total em 1996 (inf. de 1992 a 1995) e 2002 do rio Uaupés Baixo populagao total do rio Uaupés Baixo 1996 985 2002-838 saldo 47 ‘oie: 16A,bancos de dados do 1996, 1887 « 2002 7. Comunidades Maku (ver Apéndice 7, mapa 1): As comunidades dos povos falantes de linguas maku foram identificadas independentemente dos diferentes trechos de rios onde se situam, sejam no rio Tiquié, na regio que fica entre esse rio € © Papuri, ¢ entre esses dois rios e 0 trecho do Uaupés Baixo. So povos que habitam as cabeceiras dos rios e os igarapés afluentes, caracterizando-se por serem cagadores e coletores, e por terem um regime de colaboracéo temporaria com os povos falantes de linguas tukano*, Do total de 25 comunidades identificadas e cadastradas 4 deixaram de existir, 8 perderam populacdo, 13 ganharam populagao e nenhuma comunidade nova surgiu nesse periodo. Mas seria preciso um outro tipo de andlise especifica para esse caso, pois esses povos vive em acampamentos temporarios, e ndo se caracterizam por estabelecer uas tukano (Pozzobon, 1991). Portanto, esta anélise que toma como critérios comunidades mais estaveis esté somente parcialmente correta para os povos maku. Tem por finalidade fazer um breve balango da populacao que pode ser identificada em 2002. O total de populagao contada em 1996, de 1.456 pessoas, passou para 1.427 comunidades estaveis como os povos de pessoas em 2002, tendo um decréscimo de 29 pessoas, ou uma perda de 2%. Muito provavelmente os jindios maku nao puderam ser contabilizados corretamente, face a seu constante deslocamento geografico e a dificuldade de se encontrar informantes para localizd-los e informar o numero de cada acampamento ou comunidade durante o ano de 2002 Tabela 26: Balango da situagao das comunidades Maku, 1996 - 2002 ‘Comunidades Maku Geixaram de existit a perderam popuiagdo 8 ganharam populagio 13 novas, 9 total 25 “one: GA, bancos de dados oo 1258, 1897 «2002 4 As relagdes entre os povos tukano ¢ os Maku dizem respeito a um regime de trocas de bens ‘servigos, sendo que 0s tukano consideram os Maku como empregados ou servos no sistema de hierarquias entre os grupos linglslicos e sibs. Temporariamente 0s maku ficam acampados _réximos de comunidades fukano, ou em suas r0¢as, prestando alguns servigos em troca de bens alimentares ou nao. Gréfico 16: Propor¢éo das comunidades Maku por situagdo atual o% 16% sam a deicaram de existir 1 perderam populagao i ganharam populago novas Tabela 27: Populagdo total em 1996 (inf. de 1992 a 1995) e 2002 das comunidades maku ulagao total Maku 1996 «1456 20021427 ‘saldo 28. Terie: 1SAbanaos de do de 10061007 9 202 8. Rio Tiquié (ver Apéndice 7, mapa 1): Comunidades localizadas nesse rio desde sua foz no Uaupés, na regiéo do Uaupés Baixo, até a fronteira com a Colémbia. Sao comunidades habitadas pelos Tuyuka, Tukano, Desana, e outros povos falantes de linguas tukano. Do total de 59 comunidades identificadas cadastradas, excluidas as comunidades maku, 5 deixaram de existir, 24 perderam Populacdo, 28 ganharam populagdo e duas novas comunidades surgiram nesse Periode. Esse rio 6 um dos mais populosos da regio, principalmente no seu médio ¢ alto curso, proximo & fronteira, e onde esté localizado um outro centro missionario denominado Pari Cachoeira, fundado em 1940 também pelos salesianos. O total de populagdo em 1996 era de 2.355 pessoas, e em 2002 de 2.316 pessoas, tendo portanto perdido 39 pessoas, ou 1,6%. Considerando o total da populagao e também o numero de comunidades que deixaram de existir 56 ou perderam populago, foi este rio e também os rios Igana e Aiari, habitados pelos povos baniwa e coripaco, (ver anélises abaixo) que menos tiveram sua populag&o deslocada para os centros urbanos. Tabela 28: Balango da situagdo das comunidades do rio Tiquié Comunidades do rio Tiquié ‘deixaram de existir 5 perderam populacdo 24 ganharam populacdo 28 novas 2 total 5 Torte: I9A,banooe de dads do 196, 1997» 2002 Gréfico 17: Proporgao das comunidades do rio Tiquié por situagao atual 48% mi devaram de exstr ‘perderam populagao Ci ganharam populagdo novas Tabela 29: Populacdo total em 1996 (inf. de 1992 a 1995) e 2002 das comunidades do rio Tiquié populacao total do rio Tiquié 1996 «2.355 2002___2.316 ‘saldo Tome: ISA, baneos de dados do 1996, 1957 « 2002 9, Rio Papuri (ver Apndice 7, mapa 1): Séo as comunidades situadas nesse rio, desde sua foz no Uaupés, na regido de lauareté Centro, até a fronteira com a Colémbia, Esse rio é tradicionalmente habitado pelos povos desana, pira-tapuya, tukano e algumas comunidades tariana proximas & sua foz. Do total de 23 87 comunidades identificadas ¢ cadastradas, 6 deixaram de existir, 10 perderam populagao, 6 ganharam populagao e uma nova comunidade surgiu nesse perfodo. © total de populacéo em 1996 era de 819 pessoas e em 2002 era de 557 pessoas. Este rio perdeu 262 pessoas do lado brasileiro, o que significa 31%. Essa populaco possivelmente migrou em diregdo a lauareté Centro, ou para a cidade de S.Gabriel. Tabela 30: Balango da situagéo das comunidades do rio Papuri Comunidades do rio Papuri deixaram de existir perderam populagaio ganharam populagao nova 4 total 23 ‘ent: IGA, bancos de dads do 196, 1057» 2002 Gréfico 18: Proporgéo das comunidades do rio Papuri por situagao atual deixaram de existir |aperderam populaco cagantaram populaco cinowes Tabela 31: Populagéo total em 1996 (inf. de 1992 a 1995) e 2002 das comunidades do rio Papuri populacao total do rio Papuri 1996 «819 2002___587 ‘saldo -262 ‘oro: 1SA anos de dados de 1806, 19857 «2002 58 10. Rio Aiari (ver Apéndice 7, mapa 1): so as comunidades localizadas nesse tio, desde sua foz no Igana até suas cabeceiras. Sao habitadas pelos povos baniwa, com algumas pessoas de linguas tukano que eventualmente se casam com os Baniwa, Do total de 28 comunidades cadastradas ¢ identificadas, 2 deixaram de existir, 8 perderam populacdo e 18 ganharam populagéio; nenhuma nova comunidade surgiu nesse periodo. A populagao em 1996 era de 962 pessoas e em 2002 era de 1073 pessoas, tendo havido, portanto, um crescimento na populagao total de 111 pessoas, ou seja de 11,6%. Junto com © rio Uaupés Médio, onde esta localizado lauareté, ¢ com 0 rio Ieana, 6 0 rio que teve sua populacéo aumentada, e de onde partiu, provavelmente, um menor numero de pessoas em diregao a qualquer centro urbano. Tabela 32: Balango da situagao das comunidades do rio Aiari, 1996 — 2002 Comunidades do rio Aiari deixaram de existir 2 perderam populacao 8 ganharam populacdo 18 novas 0 total 28 Tone: 19A ban de dados de 1006, 1097 «2002 | Grafico 19: Proporgéio das comunidades do rio Aiari por situagdo atual ‘64% 1 detxaram de existit perderam populagao [B ganhiaram populagao onovas 59 Tabela 33: Populagdo total em 1996 (inf. de 1992 a 1995) e 2002 das comunidades do rio Aiari populagao total do rio Aiari 1906 «962 2002 1073 saldo 11 forte: SA, bancos do dados do 196, 1097 « 7002 11. Rio Igana Baixo (ver Apéndice 7, mapa 1): So as comunidades localizadas no trecho do rio Igana que vai desde a comunidade de Juivitera até sua foz no rio Negro @ no rio Cuiari, desde sua foz no Igana até a fronteira com a Colémbia. Sao. comunidades habitadas pelos Baniwa, ocasionalmente pelos Baré e Coripaco. Do total de 40 comunidades identificadas e cadastradas, 2 deixaram de existir, 11 perderam populagao, 21 ganharam populagéo e 6 novas comunidades surgiram esse periodo. A populagao em 1996 era de 1.889 pessoas e em 2002 era de 2.328 pessoas, com um acréscimo de 440 pessoas, ou 23,3%. Todo 0 rio Icana, Aiari @ 0 trecho do rio Uaupés Médio tiveram um aumento de populacéo nesse period, possivelmente devido ao crescimento vegetative. Se desconsiderarmos o Uaupés Médio - onde o centro urbano de lauareté é responsavel pelo crescimento populacional, o que 6 excepcional — 0 trecho do rio. Igana Baixo foi o que mais cresceu em toda a regio, nesse periodo. Tabela 34: Balango da situagao das comunidades do rio Icana Baixo, 1996 — 2002 Comunidades do rio Ieana Baixo deixaram de existir 2 perderam populacdo " ganharam populagao 2t novas 6 total 40 ‘ene: 9A, boos de dados do 1986, 1997» 2002 60 Gréfico 20: Proporgo das comunidades do rio Igana Baixo por situago atual 18% * 28% 52% a deixaram de existir 1 perderam populagao Si ganharam populagao onows Tabela 36: Populacdo total em 1996 (inf, de 1992 a 1995) © 2002 das comunidades do rio Igana Baixo populacdo total do rio Ieana Baixo 71906 —«1.889 329 2002 Torte 6A bono de ddan de 1996, 105762002 12. Rio Igana Alto (ver Apéndice 7, mapa 1): SA0 as comunidades localizadas desde Juivitera, subindo 0 rio, logo apés a foz do Aiari, até a fronteira com a Colémbia, habitadas pelos Baniwa e pelos Coripaco. Do total de 26 comunidades identificadas e cadastradas, nenhuma deixou de existir, 4 perderam populacdo, 21 ganharam populagdo e surgiu uma nova comunidade nesse periodo. E 0 trecho de rio que teve uma maior proporgéo de comunidades que cresceram, e onde nenhuma deixou de existir e ainda assim uma nova comunidade foi criada, O total de populagao em 1996 era de 1.289 pessoas crescendo em 2002 para 1.553 pessoas. Houve portanto um aumento de 264 pessoas, com um acréscimo de 20,4 %. Junto com o Igana Baixo foi o trecho de rio que teve sua populagéo aumentada numa proporgéo maior do que as outras sub-regiées e uma menor proporgéo de comunidades que deixaram de existir. 61 Tabela 36: Balango da situagdo das comunidades do rio Icana Alto, 1996 - 2002 Comunidades do rio Igana Alto deixaram de existir 0 Perderam populacdo 4 ganharam populacdo 2 novas 1 ‘otal 2 “one: SR, boos de dados do 1085, 1997 «2002 Gréfico 21: Proporgo das comunidades do rio Igana Alto por situaco atual an adeixaram de existr 5 perderam populaco iganharam populagao anos Tabela 37: Populagdo total em 1996 (inf. de 1992 a 1995) e 2002 das comunidades do rio Igana Alto Populacao total do rio Ieana Alto 1996 1,289 2002 1.553 saldo 264 ‘rte: SA bancoe d dodo do 1905, 1907 «2002 As regides dos rios Igana, Aiari e Cuiari foram as que mais tiveram sua Populago aumentada neste periodo de 1996 até 2002, de todas as 94 comunidades ai localizadas, 60 ganharam populagao e 7 novas comunidades surgiram; 23 comunidades perderam populacdo e apenas 4 deixaram de existir. A 62 populacdo total dessa area era de 4.130 pessoas entre 1992 e 1996, passando para 4.955 pessoas em 2002. A regido ocupada tradicionalmente pelos poves tukano, que nestas andlises 40 08 trechos do rio Uaupés (Acima, Médio e Baixo) e rios Tiquié e Papuri {trechos de numero 4, 5, 6, 8 e 9 respectivamente), teve sua populacdo aumentada de 7.033 pessoas entre os anos 1992 e 1996 para 7.490 pessoas em 2002. Mas, nessa regido 0 Unico trecho de rio que teve realmente um aumento populacional foi o Uaupés Médio, onde esté situado o centro missionério/urbano de lauareté responsavel pelo crescimento total de populagdo nesta drea toda. Os outros trechos de rios perderam populagdo, sendo que o rio Tiquié 6 o que proporcionalmente menos perde populagéo. Em termos gerais 0 rio Papuri e 0 trecho do Uaupés Acima séo as regiées onde mais comunidades perderam populagao ou deixaram de existir. Das 164 comunidades cadastradas nestes dois trechos de rios, 77 perderam populago e 25 deixaram de existir, 50 comunidades ganharam populagao e 9 novas comunidades foram criadas. No rio Tiquié a populagdo caiu proporcionalmente menos do que nos outros trechos. Os trechos do rio Negro € 0 rio Xié séio ocupados tradicionalmente pelos Baré e Werekena, sendo que no rio Negro na altura da cidade de S40 Gabriel da Cachoeira e abaixo da mesma 6 uma regio para onde se deslocam os povos tukano, e os Baniwa e Baré. Nas andlises feitas acima, essa regido se refere aos trechos do rio Negro (Acima e Médio) e ao rio Xié. De uma maneira geral essa regido perdeu populagdo, passando de 6.055 entre os anos de 1992/96 para 5.094 pessoas em 2002, tendo perdido uma populagao de 961 pessoas. Nesta Ultima década, portanto, a populagéo das comunidades de toda a ragido teve apenas um leve crescimento, sendo que 55% das comunidades ou perderam populago ou deixaram de existir. Este fato nos faz supor que essa populagdio tem se deslocado para as areas urbanas, o que pode-se confirmar com as andlises do municipio de S40 Gabriel da Cachoeira. Para este mesmo periodo de 1991-2000, 0 municipio teve sua populacéo urbana aumentada em 5.538 pessoas, passando de 6.835 para 12.373 (fonte: censos IBGE). A populagao rural, ao contrario, teve somente um aumento de 1.269 pessoas, passando de 16.305 63 para 17.574 (ver tabelas 1 © 2 deste capitulo). Proporcionalmente a populacdo urbana tem aumentado em detrimento da populagao rural (ver grafico 2) Este fendmeno da urbanizagao tem ocorrido nas uiltimas décadas nos trés municipios do rio Negro. Apesar de nao dispormos aqui de informagées sobre a Populagdo indigena residente na cidade de Sao Gabriel da Cachoeira em todo este periodo, estamos supondo que parte deste crescimento urbano se deve ao deslocamento da populagdo indigena em diregéo a cidade. Seria necessario fazermos as andlises sobre os niveis de mortalidade para termos certeza deste fenémeno. Esta suposiggo se baseia nas andlises feitas acima, e no fato de que nestes Uiltimos dez anos tenham surgido novos bairros indigenas nesta cidade. Capitulo 3: 0 Censo Indigena Auténomo do Rio Negro 3.1. O projeto da FOIRN com o CIARN 3.2. Acobertura do censo € as cinco sub-regides estudadas 3.3. Varidveis utilizadas nesta pesquisa 3.4, Resultados totais e por etnia 3.4.1. Perfil etario por etnia 3.5. Perfil etario e raz4o de sexo das cinco sub-regides: 3.5.1, Perfil etario, por etnia, das cinco sub-regies 3.5.2. Raz4o de sexo das cinco sub-regides 65 Capitulo 3: A realizagao do Censo Indigena Auténomo do Rio Negro em 1992 3.1. O projeto da FOIRN com o CIARN Em 1992 a Federacao das Organizagées Indigenas do Rio Negro (FOIRN) Promoveu um curso sobre administracéo geral para todas as liderangas das associagdes indigenas de base filiadas, na cidade de Sao Gabriel da Cachoeira Este curso foi por mim assessorado, juntamente com outra colega que também trabalhava com os professores indigenas da Amaz6nia. Durante as oficinas realizadas no curso, surgiu uma inquietagao sobre o censo demogréfico levado a efeito pelo IBGE em 1991. As liderangas presentes relataram que os recenseadores, com 0 apoio da FUNAI local, no tinham tido tempo de viajar para todas as comunidades desta regiéio. Ponderavam que para fazer um levantamento demogréfico detalhado teriam sido necessérios mais tempo e mais recursos, pois Para atingir algumas comunidades localizadas nos altos cursos dos rios da regio, de voadeira (pequena canoa de aluminio, com motor de popa, capaz de ultrapassar as cachosiras existentes em toda esta regio) seriam necessarios mais de 10 dias de viagem, somente para subir os rios. A preocupagao maior era de que os resultados do ievantamento oficial néo chegariam a representar o universo da populagao indigena, e que essa informacéo era de fundamental importéncia para as politicas publicas e para o movimento indigena, uma vez que nesta época as estimativas eram muito contraditérias entre si’. Como um dos Principais objetivos deste curso era articular as diferentes associagées indigenas, cada uma localizada em um rio, com pouco contato entre elas, em tomo dos trabalhos realizados pela FOIRN, surgiu a idéia de se fazer um projeto em Conjunto, para a realizagao de um levantamento demografico auténomo. © projeto foi elaborado pelas liderancas e diretoria da FOIRN, e encaminhado para varias instituigses que j4 apoiavam os trabalhos desta organizagao. Em maio desse mesmo ano este projeto foi aprovado, e uma reunigo com as liderangas foi marcada para julho, para que fossem discutidas as questoes relativas 20s questiondrios @ serem aplicados e escolhidos os recenseadores. A "As estimativas (feitas por ongs, FUNAl ou FOIRN) variavam de 13.000 a 30.000 essoas, indigenas habitantes das comunidades do Alto Rio Negro. assessoria a0 censo foi feita por Marcio Silva e por mim, que nessa época trabalhavamos com os professores indigenas da Comisséo dos Professores Indigenas do Amazonas, Roraima e Acre - COPIAR ~ da qual a FOIRN fazia parte. Durante 0 més de junho fizemos algumas propostas de questiondrios, contendo informagées que acreditavamos serem importantes. As propostas foram discutidas na reuniao de julho desse mesmo ano, quando ento as liderangas das associagées, FOIRN e professores indigenas se reuniram para organizar 0 censo. Nesta reunido os objetivos do censo foram detalhados e ficaram assim sistematizados: a) possuir uma informagao mais realista sobre o numero da populagéo total das comunidades indigenas da regio; b) garantir politicas pUblicas adequadas ao numero populacional da regio, como construgao de escolas, atendimento @ saude, etc; c) possibilitar 0 uso das informag6es pela FOIRN, e suas associacées filiadas, no intuito de fiscalizar e ajudar a formulagéo de politicas para a regiao. ‘Apés essa discuss&o sobre os objetivos do censo, os questiondrios foram detalhadamente analisados e discutidos pelas liderangas indigenas. A questao que dizia respeito aos sibs, ou clas, de cada pessoa foi extraida do questionario. As liderangas presentes alegaram que essa informagao no interessava a0 movimento indigena como um todo, além de ser muito dificil de coletar. Além disso, haviamos sugerido perguntas sobre linguas faladas, pois sabiamos que numa regio multilingde, e com processos escolares antigos” essa questo seria importante. Este tema foi também rejeitado, com o mesmo argumento de que seria muito dificil a coleta detalhada sobre as linguas faladas em todas as comunidades. Os questionarios foram ento finalizados, e foram feitos alguns testes durante esta reunido para que os recenseadores néo tivessem dtividas quanto ao seu preenchimento (ver copia dos dois questionarios aplicados no Apéndice 5). O primeiro questionario contém questdes de carater mais geral sobre cada uma das comunidades, como nome, localizagdo, informagies sobre as liderancas, (capitao, agente de satide e professor) e sobre a infra-estrutura de educacao e satide. O ? As esoolas salesianas jd estavam presentes nesta regiéo desde 0 inicio do século XX, € ‘obrigavam os indios a escreverem e falarem somente 0 portugues, outro questiondrio foi aplicado em cada uma das casas/domicilios das comunidades. Foram consideradas casas todas as construgSes que servem como residéncia, independentemente da composigéo do grupo doméstico, Este questionério contém questées sobre a familia principal do domicilio, sobre outras Pessoas que moram nessa residéncia e sua relagéo com essa familia principal, € também sobre pessoas desse domicilio que sairam da comunidade. Este ultimo bloco de questées, sobre as pessoas que sairam do domicilio, tinha como objetivo mapear um pouco a migracéo em direcdo a cidade de S40 Gabriel da Cachoeira ou outros centros urbanos/missionarios da regido. Era uma Preocupagao da FOIRN saber a quantidade de pessoas que estavam se deslocando diregao as cidades e entender a causa desse deslocamento, para Pensar em politicas que pudessem ajudar a reverter essa situagao. Esta foi uma das primeiras tabulagSes do CIARN que a FOIRN publicou na época de sua divulgagao. Todos os recenseadores foram entéo escolhidos e cada uma das associagées indigenas presentes (ver lista das associagées participantes do censo. © dos recenseadores no Apéndice 4) ficou encarregada de cobrir uma regi um rio. A FOIRN ficou encarregada de fazer o levantamento nos bairros habitados Por familias indigenas da cidade de S40 Gabriel da Cachoeira, e de coordenar todos os trabalhos, A etapa seguinte foi de coletar as informagées; cada associagdo recebeu uma quantidade de gasolina, e em alguns casos uma voadeira com motor, para viajarem por sua rea, parando em cada comunidade para preencher os questionarios. Isto aconteceu no segundo semestre de 1992, entre os meses de , Ou setembro ¢ dezembro. Esta etapa de campo foi supervisionada por dois antropélogos que ja trabalhavam e conheciam a regio, Aloisio Cabalzar, que trabalha entre os Tuyuka do rio Tiquié, e Marcio Meira, que trabalhava com os Werekena e Baré do rio Xié. Ambos conheciam bem a FOIRN, e se dispuseram a colaborar com este projeto, No inicio de 1993 os questionérios foram todos reunidos na sede da FOIRN, € foi contratada a JCA, empresa de Niter6i/RJ, para digitago e estruturagdo de um banco de dados com um programa de computador que fosse ‘amigavel’, para que as liderangas indigenas pudessem manusear 0 programa € obter as informagdes desejadas do banco de dados. Este programa permitia 0 cruzamento de variéveis pré-determinadas. Cada uma dessas tabulagées foi chamada de ‘pesquisa’; foram preparadas pesquisas sobre os seguintes itens: a) populagao, com nove tipos de cruzamentos permitidos; b) habitantes, com 31 tipos de cruzamentos permitidos; ¢) capitées, com 6 tipos de cruzamentos permitidos; d) eleitores, com 12 tipos de cruzamentos permitidos; e) chefes dos domicilios, com 17 tipos de cruzamentos permitidos; f) mulheres dos chefes, com 17 tipos de cruzamentos permitidos; g) mulheres gravidas, com 10 tipos de cruzamentos permitidos; h) filhos vives, com 17 tipos de cruzamentos permitidos; i) filhos mortos, com 25 tipos de cruzamentos permitidos; j) outras pessoas que residem no domicilio, com 76 tipos de cruzamentos permitidos; k) recenseadores, com 4 tipos de cruzamentos permitidos; I) pessoas que sairam do domicilio, com 12 tipos de cruzamentos permitidos; m) povos, com 4 tipos de cruzamentos permitidos; n) comunidades, com 4 tipos de cruzamentos permitidos; 0) casas, com 5 tipos de cruzamentos permitidos; p) educagao escolar, com 46 tipos de cruzamentos permitidos q) satide, com 38 tipos de cruzamentos permitidos, Durante o ano de 1993 os questionarios foram digitados, e o programa de computador elaborado e licenciado em nome da FOIRN. ‘Ainda em 1993, no més de maio, o entéo vice-presidente da FOIRN, Gersen dos Santos Luciano, esteve em Niteréi para uma reuniéio com os responsdveis pela digitacdo e os assessores do CIARN. Nesta reuniao foi feita uma padronizagdo nos nomes dos rios, etnias, reviséo de todas as comunidades recenseadas e suas localizagées, bem como foram decididas as principais pesquisas ou tabulagSes a serem feitas a partir do programa de computador estruturado. Em margo de 1994, aproveitando uma reuniéo do Conselho Administrativo da FOIRN onde estariam presentes representantes de todas as associagées indigenas, foi realizado 0 langamento do censo, com a divulgago dos primsiros resultados (FOIRN, 1994), Nessa ocasiao, foi feita uma demonstragéo do 6 funcionamento do programa do censo, e foi dado um pequeno treinamento em informética para que algumas pessoas da diretoria da FOIRN pudessem utilizar 0 computador, 0 primeiro comprado por esta organizagao indigena. Ainda durante 0 langamento do CIARN algumas prioridades em termos de uma demogratia do Rio Negro foram definidas, além da soma total da populagao e da populacao por etnia; diziam respeito 4 publicagéo das pesquisas sobre as Pessoas que sairam das comunidades. Estava muito presente a preocupagao de entender © "éxodo populacional rural", que se manifestava no esvaziamento visivel das comunidades e no processo de urbanizagao conseqliente. As sedes dos chamados distritos? de Taracua, lauareté, Pari-Cachoeira, Assung&o do Igana, Cucui, assim como a sede do municipio, estavam crescendo em ritmo acelerado. O fechamento dos internatos acarretou o deslocamento populacional em diregao a esses centros, pois as diretoras das escolas das missGes, as irmas salesianas, solicitavam as familias indigenas que quisessem colocar seus filhos nas escolas que fossem viver nas missdes, para que os filhos pudessem estudar, Com isso muitas familias se viram obrigadas a morar nas sedes das missdes ou na cidade de S40 Gabriel da Cachoeira. A tabulacao dos resultados deste bloco de questées foi a primeira pesquisa impressa e publicada jé durante o langamento do censo, juntamente com os totais da populagao recenseada ‘Apés 0 langamento do CIARN e a discussao sobre os primeiros resultados ficou claro para a diretoria da FOIRN e para algumas liderangas que deveriam investir esforgos na criagdo e abertura de escolas nas comunidades, por ser esse um dos motives do desiocamento das familias indigenas em direc&o aos centros urbanos. Além disso, nessa ocasiao foram discutidas questées relativas aos outros motivos mais frequentes de mudancas em diregdo as cidades, que eram a busca por trabalho @ 0 acesso a bens industrializados. Esse processo de urbanizagéo pode ou nao estar acontecendo com o esvaziamento das comunidades: com a possibilidade de andlise dos dados do CIARN e a compatibilizagéo dos mesmos com outras fontes foi possivel estabelecer em quais * © municipio de Sto Gabriel da Cachoeira foi subdividido em distrtos, sendo que as sedes destes foram escothidas tendo-se como critérios a infra-estrutura existente, o que fez com que as missbes salesianas se transformassem em sedes distritais, além do centro urbano de Cucuf. 70 rios ou sub-regides essa migracao acontece de forma mais acentuada. As liderangas da FOIRN tém tido por objetivo no médio prazo organizar projetos de alternativas econémicas, bem como redefinir os programas de educag&o escolar, que permitam reverter esse quadro. Foram recenseados 362 comunidades ou povoados, sendo que os sitios, com poucas familias foram incorporados &s comunidades maiores proximas, por decisao da diretoria da FOIRN na época. Todas as informagées estdo digitadas em duas versdes: uma no antigo programa estruturado e outra em access e excel 3.2. A cobertura do censo e as cinco sub-regides estudadas A avaliagéo sobre a cobertura do CIARN foi feita pelas associages indigenas e FOIRN quando a primeira listagem com os nomes das comunidades suas localizagées por rio foi impressa e distribuida, j4 no ano de 1994. Sua conclusao foi de que as calhas dos rios Uaupés, Papuri, Tiquié e Igana haviam tido uma cobertura maior do que as regides do rio Negro, principalmente acima da foz do Icana. Muitas comunidades pequenas, de todos os rios, haviam deixado de ser pesquisadas, pois quando os recenseadores chegavam algumas familias estavam nas rogas ou em expedigbes de caga ou pesca, no havendo ninguém para responder aos questionérios. Outro problema relatado foi a dificuldade de chegarem as regides das cabeceiras dos rios e nos igarapés, onde a navegacao se torna extremamente dificil, Por esta ultima razéo as comunidades © acampamentos dos povos maku no foram totalmente recenseados. Apenas as comunidades mais estaveis, com maior tempo de contato com as missdes religiosas, localizadas nos igarapés maiores, foram visitadas pelos recenseadores puderam ser pesquisadas (ver lista das comunidades recenseadas por sub- regio no Apéndice 2) Com relagéo & cidade de Sao Gabriel da Cachoeira foram relatados problemas para explicar para as familias indigenas a importéncia do CIARN, uma vez que nessa época a FOIRN tinha pouca insere4o na cidade e as justificativas principais do censo diziam respeito & demarcagéo das terras indigenas. Galculamos que a cobertura do censo neste centro urbano foi de 30% dos 1 domicilios; mas na checagem feita por mim dos dados da cidade, conclui que, embora a cobertura tenha sido baixa, foi bastante representativa de todos os bairros indigenas, por isso utilizo estes dados nas analises desta tese. A cobertura do CIARN péde ainda ser checada a partir de uma analise minuciosa deste banco de dados relacionando-o com o material coletado pelo Instituto Socioambiental (ISA) durante os anos de 1995 e 1996. Este trabalho foi primeiramente feito pelo antropslogo Jorge Grunberg, entéo coordenador do Programa Rio Negro desta instituicao. Durante estes anos, Jorge, juntamente com sua equipe, viajou pelos rios da regiéo coletando informagées sobre cada Comunidade, sua localizago © a populacdo total, além de outras informagdes sobre a infra-estrutura, tempo de permanéncia no local, rogas etc. Apés este trabalho, eu realizei em 1999 uma nova checagem entre este primeiro banco de dados do ISA (de 1996), os resultados do CIARN e um segundo banco de dados que 0 ISA havia estruturado a partir das viagens feitas durante a demarcagéo fisica das terras indigenas, em 1997. Com esta Ultima etapa de trabalho pudemos obter um balango das comunidades sobre as quais dispinhamos de informagdes mais detalhadas. 0 primeiro banco de dados do ISA de 1996 é o que possui a maior cobertura no que diz respeito ao numero de comunidades e sitios visitados, (ver capitulo 2), mas no contém informagSes sobre populagao por sexo, idade e etnia de cada pessoa, © que nos impede de fazer andlises demogréficas comparativas. Calculamos que Para o ano de 1992 0 CIARN teve uma cobertura de cerca de 80% da populacdo indigena total, considerando as comunidades localizadas no municipio de S40 Gabriel da Cachoeira ¢ algumas comunidades do municipio vizinho de Santa Isabel. Para efeito desta tese, a regiéio do Alto Rio Negro foi dividida em cinco diferentes sub-regides (ver Apéndice 7 com os mapas de cada sub-regiéo). Estas foram delimitadas segundo critérios geogréficos e sociolégicos. Por um lado Normaimente os indios consideram os limites geogréficos das diferentes bacias hidrogréficas, e sua ocupagao por diferentes etnias ou familias linguisticas, para identificar as regides por eles articuladas através do movimento indigena e da FOIRN; por outro existe uma identificagao por eles também usada, que so os distritos municipais. Esta ultima subdivisdo regional tem por base a delimitagao das paréquias, feita pela diocese em fungao da localizacao das missées salesianas Para delimitar as sub-regies considerei varios critérios, que descrevo a seguir. No caso de lauareté considerei a diviséo geogréfica da cachoeira de Ipanoré, que é um limite natural e também sociolégico, usado pelo movimento indigena e pelo municipio, para identificar a regio dos rios Papuri e Uaupés, este Ultimo no seu trecho acima da cachosira até lauareté, e de Ia até a comunidade de Querar chamado Distrito de lauareté, diviso administrativa do municipio. Atualmente existe uma organizaco indigena que coordena os trabalhos das associagées locais dessa sub-regiao, a Coordenacdo das Organizagées Indigenas do Distrito de lauareté - COIDI (ver no Apéndice 8 as sub-regides e seus limites geograficos). No caso do rio Tiquié, um dos mais populosos da regio, considerei todo o , trecho que faz fronteira com a Colémbia. Essa regiao coincide com o trecho deste rio no territ6rio brasileiro, e mais o trecho do Uaupés, que vai desde a comunidade de Ipanoré, logo abaixo da cachoeira do mesmo nome, até sua foz, no rio Negro. O rio Tiquié normalmente é identificado como uma regiao que articula © movimento indigena, e este trecho do rio Uaupés poderia ser considerado uma outra regio, onde esta localizado 0 povoado/misséo de Taracud. Mas, para efeito das anélises demograficas, este trecho do Uaupés tem uma populagdo muito pequena, distribuida por cerca de 15 comunidades, para justificar uma sub-regido independente. Como as etnias que esto af localizadas sdo as mesmas das comunidades do rio Tiquié, com algumas excegses, optei por incluir este trecho do Uaupés na sub-regiéo que denominei de Tiquié/Uaupes. No caso da bacia do Ieana, a divisao natural e a sociolégica coincidem, pois 0s Baniwa e Coripaco se localizam principalmente no rio Igana e seus afluentes Aiari, Cuiari @ Cubate* No baixo rio Icana existem ainda comunidades * Aiqumas comunidades baniwa também se localizam no rio Negro, nos trechos que véo desde a foz do Igana até o municipio de Barcelos. 3 pertencentes ao povo baré, Esta sub-regido esté denominada nesta tese de Igana O rio Negro esta dividido nesta tese em duas sub-regides. O Negro Acima, regio de ocupagdo tradicional dos Baré, desde Cucui, um povoado localizado na fronteira com a Venezuela, até a regio da Iiha das Flores, préximo a foz do rio Uaupés. Nesta sub-regido esté incluido o rio Xié, onde vivem os Werekena, outro Povo da mesma familia linguistica que os Baré, Baniwa e Coripaco (ver Apéndice 1 com a lista dos povos por familia lingtiistica). O trecho do rio Negro que vai desde a foz do Uaupés até a ultima comunidade recenseada, j4 no municipio de Santa Isabel, ficou aqui denominado Negro Abaixo. E onde esta situada a cidade de So Gabriel da Cachoeira, regio também tradicionalmente habitada pelos Baré, mas para onde migraram muitas outras etnias, sendo hoje em dia a area com maior diversidade étnica e lingiiistica de toda esta regio do Alto Rio Negro. Nesta sub-regio esto incluidas as comunidades situadas no rio Curicuriari, um afluente deste rio cuja foz se localiza logo abaixo da cidade de S.Gabriel, e também as comunidades das ilhas até Santa Isabel Para efeito das andlises dos tipos de casamentos, onde procurei testar as hipéteses antropolégicas sobre a exogamia lingliistica e a proximidade geogréfica, estas cinco sub-regiées foram ainda sub-divididas por trecho de rio (ver capitulo 4). 3.3. Variéveis utilizadas nesta pesquisada © CIARN utilizou dois questionarios (ver Apéndice 5) para a coleta das informagées, Para as andlises feitas sobre a evolugéo da populagdo das comunidades indigenas (item 2.3.2. do capitulo 2) foram utilizados os dados do questionério por comunidade, para localizagéo e checagem das comunidades Pesquisadas com relagao aos outros bancos de dados do ISA. O questionario aplicado em cada domicilio possui diferentes questées sobre todo 0 grupo doméstico residente e sobre as pessoas relacionadas com este grupo que sairam da comunidade. Utilizei para esta pesquisa algumas variaveis deste questionério, abaixo relacionadas: 1. povoado/comunidade (cddigo) 4 idade do chefe da casa sexo do chefe da casa tribo/etnia do chefe da casa povoado/comunidade de nascimento do chefe (também aqui denominada ‘de origem’) igarapé do chefe (para localizagao da comunidade de origem) ak ON rio do chefe (para localizagao da comunidade de origem) distrito do chefe (para localizag&o da comunidade de origem) 9. idade da mulher 10.tribo da mulher 11. povoado/comunidade de origem da mulher 12.igarapé da mulher 13.rio da mulher 44 distrito da mulher 15. idade do filho 16. sexo do filho 17. sexo do filho que morreu 18. quando filho morreu 19. idade em que morreu 20. outras pessoas que moram na casa 21.idade outras pessoas 22. sexo outras pessoas 23. tribo outras pessoas Em cada um dos capitulos desta tese so indicadas as varidveis utilizadas one para as andlises feitas. 3.4. Resultados totais e por etnia ‘A populacdo total recenseada foi de 16.897 pessoas, sendo 8.799 homens e 8.098 mulheres. Esta incluidas nesse total, 245 n&o indios, residentes nas sub-regides, e assim distribuidos (ver tabelas 2 a 6 abaixo): 43 em lauareté, 14 no Tiquié/Uaupés, 9 no Igana, 76 no Negro Acima e 103 no Negro 5 ‘Abaixo. A maior parte destes n&o indios é formada por homens casados com mulheres indigenas, e seus filhos. Na sub-regido de lauareté a maior parte destes era residente do centro urbano do mesmo nome, ai localizado: no Negro Acima eles esto distribuidos por algumas comunidades localizadas ao norte da foz do gana; e na regio do Negro Abaixo esto localizados na cidade de Sao Gabriel Esta populagéo no india foi incluida nas andlises dos diferentes tipos de casamento (capitulo 4), por estarem casados com mulheres de algumas etnias, ¢ nas anélises do perfil etério por sub-regiéo. Foi excluida das anélises sobre estrutura etéria por etnia, por nao fazer sentido analisar o perfil etério somente dos no indios pesquisados pelo CIARN; e foi ainda excluida das andlises de fecundidade, também por néo fazer sentido analisarmos a fecundidade das poucas mulheres no indias recenseadas. De todas as pessoas recenseadas ficaram ainda 64 pessoas cujo pertencimento étnico néo pode ser definido por serem filhos de mulheres viivas ©u por no terem este campo do questionério preenchido. Como nao possuimos as informagées sobre esses maridos falecidos © suas etnias, e como o pertencimento étnico 6 dado pela via do pai (ver capitulo 2, item 2.2.), os filhos dessas vilvas néo puderam ser identificados. Todas essas pessoas estéo localizadas na sub-regio do Igana, no trecho de rio do Baixo Igana, abaixo do centro missionario de Assungao. Néo pudemos verificar se séo filhos de homens Baré, que na época do CIARN ainda poderiam ser considerados ‘caboclos’, ou No indios, ou se seriam filhos de indios de outras etnias. Este trecho do rio Igana & habitado por comunidades de Baniwa, Coripaco e outras etnias. Nas outras sub- regiées os recenseadores identificaram o pertencimento étnico dos filhos das vidvas, Na tabela 1, abaixo, pode-se ver a populacdo total por etnia, excluindo-se 0s 245 ndo indios e 64 pessoas de etnias desconhecidas. 76 Tabela 1: Populago total do Alto Rio Negro por sexo e etnia masc. total AR 160 7160 320 BA 20 7 7 BN 165318793282. BR 142812712699 BS 2 " 13 cA 24 27 48 co 173 210 383 DE 783 666 1449 Ju 4 8 12 ko 401 98 199 MA 650 553 1203 Mi 60 60 120 MK 19 4 33 PL 448 453 901 TA 848 782 1628 wu 1516 1360-2876 1 236 250 486 uA 272 233, 505 ve 228 226 454 fotal__8620 7968 16588 CIARNNIGO2 ‘A maior etnia da regio contabilizada pelo CIARN é a Baniwa, com 3.232 pessoas, seguida pelos Tukano, com 2.876 pessoas e Baré com 2.699 pessoas. ‘As outras etnias com mais de 1,000 pessoas s4o 0s Tariana com 1.628, os Desana com 1.449 e os Maku com 1.203 pessoas (estes uiltimos séo todas as pessoas pertencentes as diferentes etnias falantes de linguas da familia maku). Os povos tuyuka, wanana, werekena, pira-tapuya, coripaco e arapaso possuem uma populacao bastante consideravel, sendo possivel analisar seu periil etario desconsiderando a populagdo pertencente a estes povos residente nos outros paises vizinhos. Os outros povos presentes na tabela 1, Baré, Barasana, Karapana, Yuruti, Miriti-tapuya e Makuna, possuem uma populagdo pequena, menos de 100 pessoas, estando representados muitas vezes somente por mulheres casadas com homens de outras etnias (ver gréficos 1 a 19 abaixo). 7 Para se ter uma idéia do volume total de populacdo de cada um destes povos indigenas foi elaborada uma tabela com a populagao estimada de cada um deles, residentes nos trés paises onde estas etnias estéo localizadas. Este trabalho foi feito tomando-se por base a publicagao ‘Povos Indigenas do Alto e Médio Rio Negro” da FOIRN e ISA (FOIRN, 2000) que considerou os censos indigenas especiais feitos pela Colombia, em 1988 @ pela Venezuela, em 1982; para a populacéo do lado brasileiro foram consideradas as informagdes disponiveis nos bancos de dados do ISA de 1996 e 1997, estruturado com base nos dados do CIARN, FOIRN, equipes do ISA e de satde existentes nesta ovasido. Tabela 2: Distribuicdo dos povos indigenas, no Brasil, Colémbia e Venezuela indigenas __ Brasi Colémbia__ Venezuela __ total ‘Arapaso 320 0 0 320 Bard 54 296 o 350 Baniwae Coripaco* 5000 6790 323615028 Baré 2790 0 1210 4000 Barasana 61 939 0 1000 Karapana 48 412 0 460 Desana 1464 2036 0 3500 Yurutt 12 610 ° 622 Kubeo 262 4238 0 4500 Maku 1214 788 0 2000 Makuna 42 528 o 570 Mirt-tapuya 120 0 0 120 Pira-tapuya 901 400 0 1301 Tariana 1628 205 0 1833 Tukano 3670 6330 0 10000 Tuyuka 530 570 0 11400 Wenana 505 1113, 0 1618 Werekena 491 o 409 900 Fortes: censos Cciribia (1966) e Venetia (1562), @banco Ge dados ISA * Os Banina no Bras estio presente também no municipio de Barceios Os povos indigenas esto assim distribuidos por esses trés paises; os Tukano, etnia majoritéria entre os povos da familia tukano, tém ainda uma Populagao maior na Colémbia, assim como os Desana, Wanana, Makuna, Kubeo, Yuruti, Karapand, Barasana e Bara. Ostros esto localizados ainda outros povos desta mesma familia linguistic, os Tatuyo, Siriano e Taiwano, esto localizados somente na Colémbia. 78 Os Baniwa e Coripaco (nesta tabela constando como um unico povo) também possuem uma populacao maior do lado colombiano, e na Venezuela 0 contingente € Coripaco. 3.4.1. Perfil etério por etnia A seguir foram feitos gréficos da populagéo total por etnia e faixa etéria (as tabelas relativas a estes graficos constam do Apéndice 3). O objetivo deste trabalho foi o de verificar diferencas e semelhancas no perfil das etnias das familias lingiisticas tukano, aruak ou maku. O perfil etério de uma populagdo nos mostra sua composigao por sexo © idade, resultado do processo de sua reproducao através do tempo. A estrutura de uma determinada populago pode ser mais jovem ou mais velha, e pode estar com as coortes® incompletas, demonstrando possiveis deslocamentos populacionais ou mortalidade em determinados periodos de tempo. Os graficos (piramides etérias) foram elaborados tomando-se a proporgéo da populagao masculina e feminina em cada faixa etéria sobre a populagao total, por etnia, e foram agrupados por familia ling Os primeiros 8 graficos mostram a populagao das etnias fukano, com um tica. niimero maior de populagao, e com as coortes mais completas. Os povos tariana, wanana e arapaso tém uma proporgéo menor de criangas de 0 a 4 anos, e os Tuyuka s&o aqueles que tem uma proporeao maior de criangas nesta faixa etéria, De uma maneira geral, todos os povos tém uma estrutura etéria com uma base larga, na forma de pirdmide, significando uma populagdo com altas taxas de natalidade e de mortalidade. Com excegao dos Kubeo, que tém suas coortes bastante incompletas, pois a maior parte desta populagdo encontra-se na Colémbia, todos os povos tém uma proporgdo maior de homens nas tltimas faixas etarias, 0 que deve significar uma mortalidade feminina maior, j4 que os deslocamentos populacionais que ocorrem nesta regiéo ou séo familiares, ou so * © conceito de coorte em demografia significa um grupo de pessoas nascidas em um mesmo periodo de tempo (geraco), ou que estiveram submetidas a um mesmo evento. 73 dos jovens solteiros em busca de educagao ou trabalho. Os Wanana tém as coortes mais incompletas, pois a maior parte deles esta na Colombia Os povos makuna, yuruti, barasana, karapana e bard tém uma populagéo Pequena do lado brasileiro, com as coortes muito incompletas, e os Mirti-tapuya 880 08 Unicos que néo tém comunidades localizadas na Colémbia nem na Venezuela (ver tabela 2), sua populagdo esta localizada somente no Brasil, em algumas comunidades da sub-regiao do Tiquié/Uaupés. Estes povos nao tam sua Populacéo representada em gréficos, devido justamente ao nimero pequeno de pessoas por coorte Os povos aruak e maku, representados nos graficos 9 a 13, também apresentam uma pirémide etéria com bases largas e uma proporgdo maior de homens velhos na ultima faixa etéria. Os povos baniwa e coripaco tém suas coortes de 45 a 54 anos diminuidas, indicando uma possivel mortalidade ou migragao em anos anteriores. © mesmo ocorre entre os Werekena, habitantes do rio Xié, préximo 8 Venezuela. A piramide etdria dos Baré é a Gnica com uma Proporeéo menor de criangas de ambos os sexos da primeira faixa etéria. Isto Pode estar indicando uma pequena diminuig&o das taxas de fecundidade, o que seré comentado nas andlises do perfil etério por sub-regido. Os povos maku e baniwa so os que possuem uma propor¢do maior de criangas da primeira faixa etéria, sendo que os meninos esto em maior proporgao. 80 Graficos 1 @ 8: Perfil etério por etnia dos povos pertencentes 4 familia linglistica tukano (ver as tabelas relativas a estes graficos no Apéndice 3) 70 Toe coat ease sass sass aus ones soase oat 20924 20024 sata soars ona : one 1000 880 000 500 1000 1000 Toe cones sonst ast soast oars toad oad tooo 500 090 500 1000 090 500 0.00 500 10.00 ico 500 000 500 10.00 1000 500 000 500 10.00 7oer cones 5058 oes 00st 20028 O24 10.0 tooo 500 000 500 10.00 81 Graficos 9 @ 13: Perfil etério por etnia dos poves pertencentes a familia lingiistica aruak e maku (ver as tabelas relativas a estes gréficos no Apéndice 3) Joe conse 50.054 0248 234 20824 toate ona et a ooaee eve 50254 sted oa cde 0am 30034 2oaze oa tost4 toate oaa dad, tooo 500 090 500 10,00 1000 500 000 500 10.90 3.5. Perfil etdrio e razdio de sexo das cinco sub-regides 3.5.1. Perfil etdrio, por etnia, das cinco sub-regides Todos estes povos esto lecalizados em regiées multiétnicas, ou seja, convivem e se casam entre si. As duas sub-regides mais homogéneas, com uma proporgao menor de populagdo por etnias, so 0 Igana e o Negro Acima, A primeira é habitada principalmente pelos Baniwa e Coripaco e a segunda pelos Baré e Werekena. Como a dinamica populacional ¢ influenciada por muitos outros fatores como situagéo econémica, relagéo com o meio ambiente, situagéo do domicilio (rural ou urbano), além daqueles que dizem respeito as praticas valores culturais, a estrutura etéria da populacdo sera analisada a seguir por sub- regio. As pessoas de etnias desconhecidas e os nao indios foram incluidos nestas andlises. A andlise da populago por idade revelou que muitas vezes existe a preferéncia pelas idades ‘redondas’ ou seja, existem mais homens e mulheres que relataram ter 20 ou 30 anos do que 21 ou 31, por exemplo. Este fenémeno ‘ocorre em todas as populagdes com baixa escolaridade ou com outros critérios para estimar 0 tempo vivido das pessoas. Os povos indigenas possuem outras maneiras tradicionais de estimar idade, ou a fase de idade, de cada individuo, Em geral so nomeadas as faixas etdrias de acordo com 0 ciclo vital de cada individuo. A populagao do Igana, que tinha menos acesso as escolas, foi a que teve maior dificuldade em estimar suas idades em anos, apesar dos recenseadores falarem suas linguas. Os gréficos do perfil etdrio esto agrupados abaixo, apés as andlises tabelas relativas a cada uma das sub-regies, para permitir uma melhor comparag&o entre os mesmos. a) sub-regiao de lauareté: A populacdo total desta sub-regido em 1992 era de 4.036 pessoas. A maior etnia desta sub-regido é a Tariana, com 1.076 pessoas, seguida pelos Tukano com 854 pessoas, e pelos Pira-tapuya, Wanana e Maku, com 497, 435 ¢ 436 pessoas respectivamente (ver tabelas 3a, 3b e 3c). Os Arapaso, Kubeo e Desana que tém a sua populag&o com as coortes mais completas, sio 156, 155 ¢ 260 pessoas respectivamente, Outros povos de linguas tukano presentes nesta sub- regio apenas com algumas mulheres e poucos homens sdo os Barasana sé com 3 mulheres, mas nenhuma crianga (pois estéo casadas com homens de outros Povos), Karapana com 5 homens e 5 mulheres, Yuruti com § mulheres e nenhuma crianga, e Mirititapuya somente com uma mulher. Dos povos de linguas aruak, residentes nesta sub-regiéo, so 5 homens e 12 mulheres baniwa 5 homens e 8 mulheres baré e 6 mulheres coripaco. A maior parte destas mulheres aruak esté casada com homens tukano. As comunidades maku recenseadas nesta sub-regiéo séo aquelas localizadas no trecho do Uaupés, entre lauareté e Ipanoré, nos igarapés Japu, Traira e Sarabatana; e a comunidade de Fatima, localizada em lauareté Centro, préxima ao bairro de Santa Maria, Pertencem em sua maioria ao povo hupdé; séo 436 pessoas. As comparagées entre as estruturas etérias das 5 sub-regiées sero feitas ao final deste item, abaixo dos gréficos de 14 a 18. Tabela 3a: Perfil etdrio, por etnia, da populago da sub-regiao de lauareté 3 | | | | fate Oaa 5ae Ward 15219 Baz 25229 30834 3239 aa4s 45.249 50a 54 5558 60264 6568 er ave |eceemaeeet -} 6 1 Lanes rene fl. ss menNeaae or lo a[SJo ana nreswor00d 3 srceweeeeve]d BJ. +. maraan FOrAL ARNOR2 a x 3 a = Tabela 3b: Perfil etario, por etnia, da populacao da sub-regido de lauareté Etnia DE, eo Wa C0 w sub-total {aia eta Hw A ma Oaa 217 ww 7[ 4 33) > | o bao 2B 14 n 9) 3% 2) - -| 6 76 Wate 14 16 6 5{ 5 1) - -{ 3 48 teatg 810 ieee cea eee eee eae Ee 40 mar 8 12 -[ 1 6{ 2 14 eee 2 am 8 6 4)7 7) B el 2 22 Boast 67S fz 2| 0 wl - -| + 20 35a39 «1D OB -} 7 wy) 2 sf - =} 4 ey aa 8 7 -|1 3{ 6 4) - -[| 2 2 4524 38 s} 2 3) 6 6 14 2 coast 0 46 RS ei ee ae Le 5 Sas 4&5 aja 4b 4 af - -) = -Lo eoaes 2 8 s}o1 af 9 4] - ef ef oe esaso 27 -} 4 2f 2 7) - -| + -f 6 Der 56 -}4 2} 8 a} ts ‘ial at vol ar tea | | a | as ForaL 260 5. 5 z 900) “CARNIBRS Tabela 3c: Perfil etario, por etnia, da populagéo da sub-regiéo de lauareté Etnia Pr TA TU uA TOTAL facia HOM [A OM | A OM M[H MA mM Oa4 28 36, 90 7ef 68 sv 7 7) 25 26{ 320 279 Sad 44 a7] 79 a7] 49 54) 2 04] 21 20) 286 259 wats 34 31| 69 33) 54 41{ - 3) 25 48/ 247 224 15019 25 «24| 54 68} 45 42) 4 2) 32 19) 206 223 20a24 16 «21; 44 29] 53 24{ 2 4{ 17 26) 103 146 25a28 9 12| 33 33} 38 30) 3 6) 20 22) 150 149 goast 10 13/ 30 27] 18 31{ 6 4] 13 15[ 105 115 a5a39 15 10] 29 27] 28 2) 1 1) 25 13} 133 107 40244 16 10/ 43 33/ 16 25{ - 2] 18 8] 122 98 45a49 11 10] 22 13) 15 23] - 2) 9 5] 7 76 soass = 68 23 tt] 17 tz} 2 2] 8 | STM 55.459 8 to] 16 12] 12 10] - 2) 4 6] 56 89 60 a 64 s al 1 wl wi - 1| 3. -| 8 4 esac 62 C7] 7 «68] 5 67] 2 -} 7 4] 30 8B Wer 45_16| 16 ol 14 17] 2 1) 14 2| 82 57 total a4 253 669 507 | 440 _414| 28 41| 241 194 2104 7932 TOTAL 497, 354, a ‘4036, ‘ARN/I962 b) sub-regido do Tiquié/Uaupés: O total da populacdo recenseada em 1992 & de 3.496 pessoas. Os Tukano esto em maior numero, com 1.222 pessoas, seguidos pelos Maku, Desana e Tuyuka com 696, 667 e 365 respectivamente. Os Miriti-tapuya, Pira-tapuya e Tarina possuem respectivamente 114, 145 e 161 pessoas (ver tabelas 4a, 4b e 4c). Os Tukano e Desana estéo também localizados no rio Papuri, na sub-regiéio de lauareté, e na sub-regio do Negro Abaixo, tam uma populago maior do lado da Colémbia. Os Tuyuka t&m uma populago equivalente do lado colombiano, préximo do rio Tiquié. Os Miriti-tapuya esto localizados somente no rio Tiquié, ¢ n&o possuem comunidades do lado colombiano, sendo 0 povo identificado menos numeroso de toda a regio. Os outros povos tukano ai localizados, mas que tradicionalmente habitam a sub-regiéo de lauareté, so os Arapaso, Kubeo e Wanana, aqui representados majoritariamente por mulheres. Os Pira-tapuya estéo localizados em algumas comunidades do Uaupés, estando ainda em Taracud Centro, no trecho deste rio abaixo de Ipanoré; nesta regio séo 145 pessoas. Os Bard, Karapand, Makuna e Barasana, cujas comunidades esto localizadas mejoritariamente na Colémbia, estéo presentes nesta sub-regiéo com 21, 10, 33 12 pessoas respectivamente. Os povos aruak residentes nesta sub-regio em 1992, s&o os Baré, com 8 homens e 4 mulheres, os Baniwa com 3 mulheres e os Coripaco com 1 mulher. Foram ainda recenseadas 14 pessoas ndo indias, sendo 7 homens e 7 mulheres, todos residentes dos centros missionarios de Pari Cachoeira e Taracud Tabela 4a: Perfil etério, por etnia, da populagao da sub-regidio do Tiquié/Uaupés Etnia Ey SI ta S| ie : tac A MTR M[H MH M>H M| AW Oad Sao - wa + ato ot 2am 252290 - Boase ot 1 1 35239 40244 $249 50854 es 60264 5269 oer BJs eNO Mss awa Blo awa. ANaDs=NnoO@d | al TOTAL 7 za z CARNE Tabela 4b: Perfil etdrio, por etnia, da populag&o da sub-regiao do Tiquié/Uaupés Etia oo) WN BE KO. WA mK sub-total a Gad 7 =p 7 2p a7[ > -[ se st] 1 2) tt 102 Sao - - tifa sap = -{ e2 s2f 3 2] 143° 109 wa - -| 2 1) 45 38) - -| a a2) 4 2) 8 73 Sato > 2fa4 2] - -| 2% 40, 2 4f o 75 wa -] ef es} -] os} 1} wer Cf | ef oY - el By 8 el ot 8 wase - -] 2] mm oe) - -] @ oB} 1) 3 was; Cf = OE tS tf = tf tet sotto wae. 4 -} 18 taf = | ata | 7 2 waa; -{ - otf te zt] top tf sash - -} sf - -| 6 of - sf) a 8 55259 - - -[e 7] - -{[ o sf - 2 wt sash - -}w sf - -} 8 7) - -} te 2 ee60 | eee eattiiteg eee eee eer ae eee ete Wee - ia eee eel eee seen eeeeig eee Total a4 Tare —sar} 49 4a | 754 68 TOTAL, a ua eT a 6 z az ARN BS Tabela 4c: Perfil etério, por etnia, da populacao da sub-regido do Tiquié/Uaupés Etnia a. PL Cee Tw UA) TOTAL feaeiia “HOM [HOM [HR MA wa MTR mM] AM Gad S13 Wl 10 1] ar at] a SCY a0 5ad 4 7] 10 1] 13 13) 19 24) 94 100) - =) 249 271 woais 6 8 7] 6 66 4 8] 8 te] 76 Tf ef 20 487 ssa19 09 8} tt 5] 87} at te] 58 as} =] 741080 2am 4 7/ 8 3/12 7) 1 13] 6 5H - =| 58 143 202 = 5 6] 3 6} 9B} 13 a} 46 a} - 1) te 183 sass 66 6 -{ 8 Bf § 3f 8B wl] 3 my ty 19 Ta aso #-] 4} 3 4] #8} a ey 7H wass 3 4{ 4 3] 4 6 6 wo] 33 2) - -{ a 7B aa 2 2) 2 8) 3 2) 8 8} 2% wm - -) 7m 6 soase 82 3{ 1 4f 3 3{ 7 6] 2 wf - 1] «8 54 sas 1 6 64f 3 =} 8 8) 6 Bl 6 ots} el ws ease tt 2/ 2 tf - af 6 4} we ot sl os sesee = - -| - a} 20 3} 2 af 8 go - -] we 5 Des 22) 2 4) 2 af 5 3} w of = i] @ 20 ‘oat oo _—sa| 7a ee 810 | Tai fea | get get A West 7645, TOTAL 144 ry 3] 25. 12 3496 CARNES ¢) Sub-regido do Igana: Essa sub-regiéio compreende as comunidades localizadas nos rios Icana, Aiari e Cuiari, Sdo comunidades habitadas na sua maioria pelos povos baniwa e coripaco, Na regio do Aiari encontram-se algumas pessoas da etnia kubeo e wanano, tradicionais habitantes do rio Uaupés Acima, que se comunica com o Aiari através de um igarapé na época das cheias. Devido a esta proximidade existem alguns casamentos entre esses povos: homens baniwa casando com mulheres kubeo ou wanana e vice-versa. Nesta sub-regiéo os Baniwa so majoritarios, com 2,666 pessoas, seguidos pelos Coripaco, com 342 pessoas. Os Coripaco esto distribuidos por algumas comunidades do alto rio Igana, mas se localizam majoritariamente na Colémbia e também na Venezuela. Os outros povos aruak também presentes nesta sub-regio sdo os Baré e Werekena, com 101 e 118 pessoas. Os Tukano residentes nesta sub-regiao so ©s Arapaso, uma mulher, Baré, 6 homens, Karapand, 2 homens e 4 mulheres, Desana, 19 © 12, Kubeo, 13 ¢ 24, Mirititapuya, 3 mulheres, Pira-tapuya, 8 e 7, Tukano, 16 € 11, Tuyuka, 2 © 1 e Wanana, 13 € 16. Os Kubeo e Wanana sao 88 aqueles habitantes do Uaupés Acima, em lauareté, que mantém relages de casamento com os Baniwa, principalmente do Aiari e do Alto Igana. Os Tariana esto localizados nas comunidades do Baixo Icana, e séo 68 pessoas. Foram recenseadas ainda 64 pessoas de etnias desconhecidas e 9 nao indios. Tabela 5a: Perfil etario, por etnia, da populaeao da sub-regido do Igana Etia AR BA BN BR CA co sub-total fia tia a a w]e MW i a dad = 7 [zs eo] 1S tof > «2, me el 28 ar Sad : 1 -[204 204{ 7 8] - 2{ 25 34[ 237 248 Wem 2 -|16 16) 7 7] 1 -| 20 21) 186 194 ato = faeo te7{ 5 10 - -| 122i] 198 198 Bar + > -}45 tt) 1 4) =] 10 12] 125128 2am - 1 -fe2 mf 3 2{ - -| 6 1{ 102 130 west | - -}as oe} 3 2) 1 -}| m 8) @ 7 3503 - -[m ey 4 5f - =| wo my 9 7 sass + 1 -}s1 a] 4 -| - -| 4 6) 7 w ado - -fat gf 2 tf - -| 70 6f 53 sass + EEE is a wa eee Eee | SEeLeSe ee EL gee 5559 0 = -ft4 zl 3s -} - -f - tf ow ow ase » bass) tf = fe 2] we e269 - = -far wl - -} = -f 4 3} to Toe - - tal -|_9 0) 5 _39 Total : ‘| 3847302] 89 ae} 760482) 7584 1538 TOTAL, i 2886 ot 3 ne CaRnsez Tabela 5b: Perfil etério, por etnia, da populaggo da sub-regido do Igana a ve Lo} sub-total feactsra HM | HOM [HM [H M Gat “ipa 3) 2-4 = wa seo 2 Al 3 5 3 : i{ 2 8B o8 aw 0 4) 2 4) 4 i rea " wate i 6] 4 2] - 2 : yo! % 2 mam 3 af 1 4} 2 4 : ea “7 Bae 2 1f + 3, 1 3 2 Noa 10 was 2 1] - fa 3 : ae 2 was; fee elf 2 wom 2 fy TG : elias 4 @ea > a} a : : 2 Pyare (ere rece : : 4 lesen eaceeraiea/aUtaeaee aa : a}. 4 sas 2 fs at lee 2 eee =] |] SG Se 4 me. | tn eee ees 2 total asa | 8 aa | sa z é 7 ToraL x FT 1s Sanne Tabela Sc: Perfil etério, por etnia, da populagao da sub-regidio do Icana TA T TU UE TOTAL ‘faba etd H M t H M H M H M Dad zip aa 3 a] 7 13) 298 203 Sad 4 1 4 3 3 1 Q 8) 267 270 wau 6 af - = + i] 7 6] 24 ote ats 4 7 : - - 4 4 8) 206 226 waz 6 2] t 3 - tf 4 4f 180 145 25.429 Le 3 2 1 2 2 5 8} 121 164 soa 86 2] 3 - 1 -{ 5 3] 118 8 35439 : 3 3 - HH 2 - 5 96 89 40044 2 i 1 : 4 4 4 65 48 45a49 - - - i - Ha 1 55 43 50a 54 - Hi - 1 2 1 . 28 39 55459 1 - - 1 a 1 19 35 60264 3 4 - - 1 2 53 43 65269 07 3 -} 3 4] 4 a7 Wer 4 si 4 = 53 42 total "36 32 Bs 65 | tras i7a7 TOTAL 88 ‘448 3526, ‘OIARNIGG2 d) sub-regiéo do Negro Acima: E a regio que compreende os rios Xié e Negro, em seu trecho acima da foz do rio Uaupés (ver Apéndice 7, mapas 1 ¢ 6); possui a menor populacao de todas as cinco sub-regides estudadas; habitada majoritariamente pelos Baré, foram recenseadas 1.492 pessoas deste povo. Os Werekena, localizados no rio Xié, so 335 pessoas. No baixo trecho deste rio, apés a foz do Icana, localizam-se os Baniwa, 231 pessoas; os Coripaco nesta sub-regido esto localizados no alto rio Negro, préximo & Venezuela, regido tradicional deste povo, com 30 pessoas contadas no censo de 1992. Os povos tukano residentes nesta sub-regiéo so os Tukano com 83 pessoas, Arapaso, com 67 pessoas, Desana com 28 pessoas, Pira-tapuya com 14 pessoas, Tariana com 43 pessoas, Tuyuka com 6 pessoas e Wanana com 2 mulheres. Os no indios contados pelo CIARN nesta sub-regiao sao 76 pessoas Tabela 6a: Perfil etario, por etnia, da populag4o da sub-regiao do Negro Acima Etnia AR BN BR] co. DE, Ww sub-total feoeiia HM] OM |A WW] M[ A M|A Ww] Hw dad Ss] mo tye 7 2 af 3 af 5 7] we 5a9 6 7{ 9 7[(1390 we} - 5{ 2 if 7 of 184 137 Wats 93 4} 13 13) 92 2 1) 2 4) 12 5) 14 132 ata - 5 | 2 15] 87 2 4f = -| 9 2f wo 12 Dam 5 3] 13 13) 72 2 4) 2 tf 4 1) B&B 7 222032] 13 18] 49 2 -| 1 -[ 2 -| nm we mass 1 4) 1 a as ~ -} 2 -} 4 =} aso f=] 6 Bf 45 2 af 4 otf 2 -[ 5 6 aase 2 -| 6 9) 7 4} ea) 2 Pw wade 1 tf 4 tf a2 1 o-f =] 4 -{ 2 8 soass 4 =} 33) 20 eb oe fe Loe 49 sa50 0 - «0 1f 6] 4 ee ee etaeee aeeeaeeeeee | yaaa #0) was 2 1) 6 4) 15 ste eae | EEE an EEE | easo 3 2{ 2 4] 13 spot 1] 16 Wet - 41{ 4 _i{ 2 Seer eee eres ee eee aa jot 33 36 [ito 7s is | Ss 7 [1S 3 | 8 36 fA 89 TOTAL &f a ee % a 7. Wad ‘GaRN982 ot

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