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Suely Rolnik*.
Por isso eu dizia que o que torna os textos de Deleuze mais ou menos legveis
a posio desde a qual o leitor pensa. Se o leitor for algum que se utiliza do
pensamento como uma arma defensiva contra a instabilidade e a finitude de
insiste em alucinar o absoluto. De todo modo, uma obra nunca tem o poder
de evitar os contra-sensos. Uma vez lanada, ela ser apropriada das
maneiras as mais imprevisveis, tantas quantas forem as posies desde a
qual se pensa.
3) No s no vejo contradio alguma, mas pelo contrrio vejo uma
coerncia impressionante. A morte de Deleuze no tem nada a ver com um
suposto destino tenebroso da gerao que cutucou o diabo com vara curta ao
questionar o imprio da razo, como se quis dar a entender, juntando seu
suicdio, com a aids de Foucault, o atropelamento de Barthes e o crime de
Althusser. Esta viso, alm de desinformada, moralista, pois parece
considerar suicdio, aids, atropelamento e crime como castigos no se sabe
ao certo se de Deus, ou de quem no suporta a fora com que este
pensamento convoca o leitor a pensar. Sua morte tampouco me parece ter
sido movida por uma desiluso com a revoluo que no chegou at hoje,
nem por um desgosto com a revoluo que ainda no est podendo chegar
porque o mar no est para peixes. Deleuze sempre contraps o devir
revolucionrio ao futuro da revoluo, que tem justamente a ver com o
enfrentamento das diferenas que se engendram no presente e a produo de
devires da existncia individual e coletiva em funo de tais diferenas, o que
nunca pra, mesmo nas pocas mais infelizes.
Poderia dizer, em linhas mais do que gerais, correndo o risco de estar sendo
super redutora, que toda e qualquer problematizao do contemporneo
parte de uma despedida do absoluto. Mas at a morreu Neves (uma das
ltimas verses de promessa de absoluto para o Brasil?). Sempre em linhas
mais do que gerais, eu diria que a posio niilista coloca no lugar do absoluto
o nada, enquanto que a cnica coloca um vale tudo. J Deleuze e Guattari
colocam neste lugar a pujana de um movimento de produo das formas da
realidade; tal movimento ilimitado por natureza, enquanto que as formas
que atravs dele se produzem so finitas, portanto jamais absolutizveis. Da