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FRANCOIS LAPLANTINE APRENDER ANTROPOLOGIA Tenucio Marie ani Chase! Profi Mara ra Persia de Quire editora brasiliense Corie Oe erat ‘Td onal em rar Co pou Lsetiepl cop a ho baa ire Baton 5 A "the por dna pcg pole raw Sri enn a, re eaetoptaeaer At: Co aga is dh an ie at Mor Dolo nema eCasopo ma Pub (CIP) “ (Car Bas co Liv? Ba) Tene ms tc Fs a ala ion te Tecan ebro 1 mpg ue, a In Tati abloge i oun 3 contrat, ee PEAT, ri Amen met rate, aso coronal ERE tty ea Whew Sarasin Fontelsa att. 003 Soetliana . 1 pueden (95) 4492-0564 94m 81S ‘hos meus coleges Brasileiros ‘Adelbert de Paula Barreto « Antonio Mourao Cavalcan < INTRODUGAO. O CAMPO E A ABORDAGEM ANTROPOLOGICOS (0 homem nunca parou de interrogarse sobre si mesmo lem todas as sociedsdes existram homens que observaver |homens. Houve até alguns que eram te6ticos © forjaram, ‘como diz LéviStrause, modelos elaborados “em cash”. A feflefo do. homem sobre © omen ¢ sua sociedade, © « Claboraeio de um saber fo, portanto, to antgos qusato| ft humenidede, ee deram tanto na Asia como na Africa) Jina Amética, na Oceania ou na Europe. Mas 0 projeto de i ‘ander uma cincia do homem — uma antropolgie — ¢, ‘muito reente, De feo, apenas no final do Séeclo XVI € que comeya 4 se constitir um saber cent fico (ou pretensmente cientfico) que toma o homem como Coe de conhevimento, e nfo mais a natureza; apenas essa épcee € que 0 espirito clentifico pens, pela primeira ‘ee, em aplicar a0 proprio homem os méodos até entio tilizados na dra fica cu da bloga. Iaxo consti um evento considerivel na histérie do pensamento do hormem sobre 0 homen. Um evento 40 qual {alver ainda hoje nfo essjamos medindo toias 4s conse: uci, Ee pensameno nha io af endo mili} sing de abort, da rnin “eomplena” de noe Sion, clio, tea, mas mincten no a8) Ses ropiansctdaer a Sipe to tome em ss Tate, dea ver, de fz Toe mo do eto de sto So conkecinento #0 ‘ Be Shia da cen, Fnaent, srpologa, cu ‘ eektete 0 profes anoplepca que week sey Perma turds ta Hine no pods ext o cor) Jeo got Re Treo cho da populgs que nto = ocean na Hs Me Petfdae yomane|{——‘\enoem 8 cvtzaan osetia Seo necessrias aids ae ne Seoorader "ure em tne regio mo pesueo| ere pas cberar ferment de iavesesio Ue VSTANGN S'arope, Io var. crdentemente, como Yee! ra scata cic dca mo campo das Observes © infor sor mais se ontegbtecles importante } aa go ape ter fmedo san prion may, pars qin ee poet aeane sat princi reali de pesauinn — no io do eénlo 10K — ¢ aonaaa eee eee $e o ote empico qe ths exclhido (ar 5 eo me comece © dsr i ii Eescie Spantiee’) en despereend; pls © Dre) limdlde cove esas decpinas cin, ed re pemeeed eevee eee hy ee es Tecnagns” abo de fora alguna poured 7) |eio capetar a segunda metade do séaulo XIX durante 0 dh 14 pela evolugdo social. Ela se vé, portanto, confrontada & uma [gues ontopsopa abut ebjos empcos atone: FG esate Muto rapidement, oa questo se [Soins eto das “pimtvar’, ow ae, extrres is ¥ Woe Git como weemos net lv, permanee dee [feed ctzagao european ou nrieamercanas. A cee} y piesa gel one ene ai ee ak val Se oene ul cto & conebid ma pus, spte una Beer See, sek que «vate do primo” hi de Stand aeal ene © bsereador ese cies. Enguntol ae poe doyle que hiviam ae dado como tale he a uepryso Gon agua Ma experinentato pos ce do) A cua pegota vies de epost Bo ES dar suo oberans oo bjt ebervado€ ida a assem ain ser dadoe Dyesbamomos em tS 4. © + gE es (como ta Uso, bone, oo nol) pla tes ex’ Manes sflcenmeni vena dor distros presen, 1) © anvoplogo at, por asim dae, on morte gf {P. falimore pels din no tego go separa hisorisdor volt pat ois dos ures cians Bamaas Eb) «i scene etudada, el omit na antoptoi, nes Scone ect du stononin problema de sun dc| «1 fgesS ae te meds ee _ Dm seeeontndo, epecamete« sro, © so) FO a oe: At Beesede Sasa os po en ge anole esos om, ae ee ee ae nee ee : Sai Go Buca de uma our ea de inves a carte ce el oorimrce tree eR go | eae See Le Oe nate ‘tus que Uvatam gous const com ce grupos vixnkoa| 7 fstudo, particularmente bem adequado, jé que foi deixad Se a eres eee ee a foto! os guns unm enor eeralago dat cides yf | ee ee pee eee oles reise ome mm comes ‘ comprenso, cn Mm) oS ee aa te ‘A antropologia acaba, portant, de atribuirse um obje- 5) Finalmente, ¢ equi temos um, teresro caminho, gue inclusive no ext o anterior (pelo thenas enquanto campo Ai esto}, ele afl a expecfcidede de sun préties, nfo ines través de um objeto empitio constituido (0 selvagem, © campones), mas através de uma abordagem epistemois: tice constitvine. Essa 6 terceira via que comeyaremes = sbocar ns pégnes que se segue, ¢ que seri desenvlvida ho eonjunto deste trabalho, © objeto térico de antropolo- fla no est ligado, na perspectiva na qual comesamos a ros sitar a partir de agora, 8 um espaco geogrifico, cultu- ral ou histtico parcule. Pols « antopologia no é senio fm certo olka, tim certo eafoque que consiste em: @)o eatudo do homen:intero; 1) 0 éstudo do homem em todas as sociedades, sob todas as latitudes em fodor 06 sous estados © em todas as epoca (0 ESTUDO DO HOMEM INTEIRO 6 pode ser considerada como antropoligics uma abor aero inteprativa que objetive levar em consideragio as ‘multiple dimensdes do ser humano em sociedade. Cora mente, © acimulo dos dados colhides a partir de observa {her dlttas, bem conto © spereigoamento das ténicas de Tnwestigagi, condazem necesariamente «uma especaize fo do saber. Porém, uma das vocagGes maiores de nossa Shordagem eonsste em nfo parelar 9 homem mas, 20 com {rdtio, em tentar rlacionar campos de investigasgo freqten: ements separadoe, Ora, exstem cinco dreas principals da nvropotogia, que nenhum pesquisador pode, evidentement,, lominar hoje em dia, as As quas ele deve esiar sensbi- andoue em ego excavate at de wma fom maga a ‘SIS Splat cones dani socal ecru ea © ‘ier vobds none ewo 4 Stdnce power: pel" “tempo. Sus problemética € a das relapses enue © pate jnsdo quando tabatha de forma profissonal em algumas (dela, dado que ett cinco dreas mantém rlagSesestreitas ‘A antropologiabiolgica (designsds antgamente sob 0 rome de antropologie fii) consiste no estudo ds varie: ‘fer dos caraceresbioldgicos do homem so espago e 10 rio. peetico e © meio (geoprélico, ecoléico, soca). ela ‘analis as patcularidades morfoléieas e fsolgics lige: ‘das a um melo ambiente, bem como a evolupio destas par Viularidedes. O que deve, especialmente, a cultura a este {> patiménio, mes também, 0 que esse patrimbaio (que ve transforma) deve 8 culture? Assim, © anropslogo Biologie “ta levaré em consideracio ot fatores cultural que influen ‘iam o cerscimento a maturacio do individuo. Ele se per ‘guntaré, por exemplo: por que o desenvalvimento psicomotor fda criang africana € mais ediantado do que o da cr caroptia? sus parte da antropoogia, longe de cons no estudo dn formes de crinios, mensuragses do esqueteo, tamanho, peso, cor da pele, aetomia comparada as ragas ‘© dor sexo, ineressa-se em espacial — desde os anos 50 — pela genética das populagdes, que permite dscerit 0 que i respeto 20 Inato e 20 adquirdo, sendo que um ¢ outro ‘tio interagindo continuamente. Ela tem, a meu ver, um papel partculamente importante exercet para que no fSejam rompidas at relagbes entre as pesqlses das ciénces dda vida eas das cincias humanes. A antropologiapréhistrica€ 0 estudo do homem stra ‘és doe vetigios materials eaterados no solo (onda, mss também qualquer marcas da atvidade humana). Seu pro- jeto, que te liga 8 arquelogia, visa reconsttuir as socieds des desaparecids, tanto em suas técnicas © organizagies tosis, quanto em suas produgées culturaise artsties. No- {amos ue este tamo da antropologia trabalha com ums sbordapem idénica te da anzopologlahistéica © de entre pologia social e cultural de que trtaremos mais adiante. 0 Fistoriador € antes de tudo’ um historidgrafo, to 6, wm pesqusador que trabalka partir do acess diet a0s texts ( especilista em préhistria reolhe,pessoalmene,objetos ino solo, El reslizn um trabalho de campo, como o realizado fi antropoogia social na quel se heneficia de dapoimentos A ntropologa lingistca. A linguagem 6, com toda vidéncia, pate do patrimdnio cultural de uma sociedade. E através dela que 0s individuos que compdem uma socie- dade se expressam e expressam seus valores, suas preocupe- © ges, Seus ensamentos. Apenas 9 studo de lingua permite ompreender: ‘* como os hontens pensant o que vivem © o que sen tem, isto 6, suas eateoris psicoafetivas ¢ pscceognitivas (conoingtists como eles expressam o univer e o social (estedo is Ieratura, no apenas eserita, mas também de tradigio cal ‘© como, finalmente, eles interpretam stus_proprios saber saberfazer (Grea das chamadhs etnccléncss), ‘A aniropoloplalinglisea, que ¢ ume discplina que se situa no etconto de viras cura? nio di respeto ape- ts, ¢ de Tonge, ao ertudo doe daletor (dialetologa). Ela 2. Ftp wh pn Fa it ¢ Ant ulmi 6 gr en Se ‘Spr anus de rp See su movin te pecans ‘Blea nese Am lindo to poo ite es {Sibel Waed Lach tim foe i Scape bo Se Fest ndag 2 to com x torenmuns du seo pn © 1d fa” expuna 8 entao Sr Poop © ‘Ei iu cons moll de areca ee se interes tabi plas ens cas sberas plas noves tenes moderaas 8 comunicapso (mass media e cla do audiovisu, ‘A antropologa pscoligcs. Aos tls primeirs pélos de pesguin que forem meneenados, € que slo habitus tment oe tion -conidrads como’ conatuvs (com & nropologia sociale culturl, das quis felaremce a fin) do campo glabal da antropolgia, Tazemor questo fesoslnente de srescentar um quine pélo!o da anope Toga plclin, que consi po etudo dos process do funcionamento do sigelsmo humane. De ato, 0 entop6 lego ¢ em prints itincla confontado nfo» conknes ‘oss, e sim a Indios, Ou seu, somente aves dos ‘Sempovamestos — contsentes«inconecentr — dor see famanesprteulares podemosepeender esta ttaidede tem 2 qual nto €anoploia Ea rao pela gual» ineasio peiclgica(¢ também pstopatolipic) 6 abscutamente in Gisciavel do campo do qual procuramos aqui dar cont Else pat itegeane dle ‘A antropoogia social e cultural (ou etnologa) nos de teré por mallo mas tempo, Apenas nessa dea femosalgums, flog Geena ee bpncr ont a a Sea Tae 8 feria ere ey eee ey ee Pprctenfopeieth geile seme ae a oe eS eine coace nem Serer ie see eee free cee ane ms es ee a oes aye Sere eS ee ee See eee epee cee eos ye . i ff ie ml “ dade de uma socedade, © presdamente ese ponto de vista wa totlidade,e 0 Tato de que 0 aniropélogo procura com [preende, como diz Lévi-Strauss, aquilo que os homens “no f emsam habiusisente em fixat na pedra ou no papel” (nos or gestos, nossas toca simblicas; os menores detahes dos pss comportaments), que faz dessa abordagem um tate {| mento fundementalmente diferente dos utlzados scora p-mente pelos gegrafos, economists, jurist, socGlogos,ps- o eeslonse tne \@ estuDo DO HOMEM EM SUA DIVERSIDADE | A antropologia nto € apenas o estudo de tudo que com «| poe uma soviedade, Ela 6 © estudo de todas as sovidades |amanas (a noes inclusive’) ou ve, das cuturas da hum: Inidade como wm todo em suas divesidades histricas © seogricns, Visendo constitur os “arquivos” da humanidede em) suas diferengs significaivas, ela, inicilmenteprivilegiou! ‘aramente as reas de civilzagdo exterires 2 nossa. Mas ‘Tantopologa ado poderia ser definida por um objeto emp Fico qualquer (c,¢m especial, pelo tipo de sciedade 20 qual tla a principio se dedioow preferencalmente ov mesmo ex Closivaments). Se seu campo de cbservagio consist no ‘ntudo dat socedades preservadas do cantato com 0 Oc Gente, cla ve enconraria hoje, como ji comentames, sem abet ‘Ocorre, pore, que sa eseciticidade da contibuigso dos aniropilogos en telagSo a06 outros pesquisadores em ‘Gncias humanes nlo pode ser coafundids com = natureza nda ar comune mans oP) ser ipe Saat Tide nans sos oes ng, 8 as prmcrassoiedadesextudadat (as soclodades extr-curo) ‘peas, cla € a mou ver indssociavelmente ligada ao modo Fe seisecimento qu fol eaborao «part do eda dea sass curate dem, sor inpeao ets ‘Site de tropes mance miscreants man | tenn una a pel ‘Além disso, apenas a distdncia em relagio 4 nossa socie-" dade mus ume a go fo am gue mo frees = rts primes dogo qua & longings) Dx perl {atm dcbera: alo qu tamvamos por natal ea ‘nds mesmos é, de fato, cultural; aquilo que era evidente é wifatameat peblonle, iso forex tec, na eee antopapy, doqulo qe nfo hse om camer fe "cnenhanelo™epeyemend, » perpleiate Prove ‘pls cosmo dev clare quo pa ns a mas ttn’ c tj coco val var une moilaao do lottar que se tina sobre si mesmo. De fat, press a ua Sha Ser, ses nfo ape Cfo Ado cur mas ‘opel qundo tata de soma. A epeinla du lt Ba eae dn expo) evens ver elo ee eames cones imei, dda 8 nome lt Cisds ea nasa seg no gue Sot 6 haba, fan Gn qn comideramee evo” Ase poss wet eoeaue ‘ewes anor compro sts ‘USze, fran eves stv) fot renee nde seem Comesane, eno, 4 nw srr om tue di sept ans mes, 208 np. O co reteset (anole) da noma cara pate ie |e pl entecineto das eta ella; © even] [SpoShinén recouherer que soos una clu Pool |eatre tantas outras, mas no a Gnice, Al qu, de fo, carceon 4 unidade 4 Nomen. de gels ntoylgn cam i 0 dinenss © vl Slat tax tna gun, € sun apo prcaments ini) sar moden de vid formes ce orga tc | efemenedvee =ses vr apenas amos Gh! ry |, lina permite notar. com 2 maior proximidade posse, gut | maneiras de andar, dormir, nos encontrar, nos. emocionar, ea ee eer eed oem cee eee aera a ee ne ee oe pentane ae Ses oe aeereniey Es rE ie shan reaeitea Soe eras Soe ee ous ener genres eee eee co oes eae eee pas ee ee eee eee ree a eer eee eee a es os Soe ae ropoligica proveca, assim, uma ver te uncon ish sep no vn (Far Lh met ae) any sine ‘ago dee Mn ee pms caloease guest ad 8 ‘teal cra Gl ve ie ee «pl trons do neearopes. A recan,ombn € erie, {gue tomévamos todos espontaneamente por inaas (nosss!, uma mutsgio de si meimo. Como evcreve Roger, Basie fm sua Anatomia de André Gide: “Ea sou mil possivels em ‘mim; mas ndo poso me resgnar a querer apenas wm dels" 1A descoberta da alteridade € a de wma relagfo que nos permite deixar de identfiear nossa pequens provincia de Fumanidade com a humnidade, e correlaivamente deixar de rejetar o.presumida "selvagem”” fora. de nds mesos, Confronts & mulipicidade, « priori enigmstica, das cul furs, somen os poucos levados s romper com a aberdagem fomum que opera tempre & naturalizayéo do social (como Se nosios comportamentosestvesim inscritos em nés desde (© nascimente, © n80 fossem adquiridos no contato com & ultra na qual nascemos), A romper igualmente com 0 Ihumanismo elstico que também consiste na identifiasso o sujeito cam ele mesmo, e da cultura com a nossa cultura De fat, a filsofia cisica (antologica com $i Tomés, re flexiva com Descartes, ertcista com Kant, hisrica. com Hegel), mesmo sendo filsofin tocial, bem cemo as grandes teligides, nunca se deram como objetivo © de pensar a dife Sane que tnoron i law Spite de rpm expediies = {is a theme: Fodtamos mapa oo. o no mgd tie ts de wn bere vrs cea sobre» soe SoS demon pre ctr ea re ssc = Seti Tes pot conte de produc Nes, cys comtien om mpc re to Kin Eo ce Pend ‘Stops fer eat mar oe to deven ool» vec ‘Scere pi ee ca epee {ese ims dn ory rope “x podedde ow da ure Jo ‘Rema ida nto aon gar tin Sveredor hones «sei renga (€ muito menos, de penséla cintficament),¢ sim o ‘e Fedual,frequentemente inclusive de uma forma igual tivia e com #6 melhores intengbes do mundo. © pensamento antropelégico, por sua vez, considera que, asim como wm cviizasio.edulta deve seltar que [memes re ly, deve niet ata i dversidade das culturas, tambéry adults. Estamos, eviden- temente, no sreito de not perguntar como 2 humanidede pie permanecer por tanto tempo oega pare consigo mesma, Emputando parte de si propria fazendo, de tudo que io fram suns Wsologias dominantes sucessvas, um objeto de ‘custo, Descontiemecs porém do pensamento — que seria ‘© cimulo em se tratando de antropoogia — de que estamos Finalmente als "\cidos”, mais "consientes”, mais “Tves", tsi “adulor”, como acabamos de escrever, do que em uma poca da qual seria exrOneo pensar que esti definitivamente ncerada, Pie ese transgressio de uma das tendéncas do- Iminantes de nossa secodade — o expansionismo cxidental fob todes as suis format econimices, politics, inteletusls ‘love ser sempre retomads, O que significa deforma algu- tna que 0 antopslogo ereja destinado, ja levado por al- fre exse de identidade, 20 adoar ipso facto a Négien das Sutras sovidades © 2 censurar a sua Procuraremos, pelo Contro, mostrar ness livro que «divide e a erica de Stneimo 50 si0 cientificamente fundamentadss se forem fcompenkadss ds interpelagdo erica dos de outem. DIFICULDADES Se os antropéiogos esto hoje convencids de que uma das caracerstias meiores de sua ptiea reside no confron- to pesoal com a ateridade, ito 6, convencidos do fato de ‘que os fendmencssocais que estudamos sfo fendmenos que ‘bservamos em sere humanos, com os quaisextivemes vir endo; eles so também undnimes em pensar que hi uni ade da fanilia humana, 2 fama dos antropOioges ¢, por tua vr, mut dln, quando ta de dar ona (| eee eterna, xd meme fede forma geral a todos aqueles que tém o diteito de saber (0 que verdadeiremente fazem os antropélogos) dessa unde ‘de miltpla, desses materais dessa experineia 1). A primera dificldade se manifesta, como sempre, \ ao nivel das palavras. Mas ela 6, também aqui, particular- 4 ommente reveladors da juventude de nossa discipline que nto ‘sendo, como a fisca, uma cidncia copsttuids, continu nfo tendo ainda optsdo defiitivamente pela sus prépris desie- nagdo. Etnologia ou antropologia? No primeiro caso (que \corresponde & tradigio terminoldgica dos franceses), insist se sobre a pluraridede irredutivel das etnias, isto 6 das cult Jitas. No segundo (que € mais usedo nos pafses anglo-saxd ticos) sobre @ unidade do género humano. E optando-se por £4 antropologia, devest falar (com os autores britinios) em! ‘antropologia social — ewjo objeto privileiado € 0 estado 5, jdas institulgbes — ou (com os autores americanos) de antro- ** |pologie cultural — que consiste mais no estudo dos com * |portamentes” 2s Be eo mtn nie es cee rar eee fe a ce ee ae ee ere i ae mee sre res ee ecce ara eas ee Se eee at tsa Seer eat ie ehcp ee ee ee etree epee Deke ere Ae te ee ee See ee een ee ee ae cece ee See ars eee een epee ee hepeln kag ly emti = Sirs ee ae eae iy ag yf (eR te ie 2) A segunda diffculdade diz respeito wo grau de cien | ticidede que convém stibur &antopolegs. © homem ests 4 Mom condiges de estudar cienificamente © homem, isto, lm objeto que € de mesma naturezn que o rujeto? E nosis pritia se enconta novamente diviida etre o& que pens, com Radcliffe Brown (1968), que as sociedade sio sistemas raturais que devem ser estudados Segundo os métodes cm provades pels cigncis de natureza? © os que pens, com Evane Pritchard (1969), que & prociso water os socedades no como sistemas crginics, mas como sistemas simbalicos seciedade” (RodcliffeBrown), a antropologia deve antes ser fonsiderada como uma “arte” (BvansPrithard). 5) Uma wreciadificuldede provém da relagdo ambigus {que antropologia mantém desde sua génese com a Historia cas vio rapidemente ee emanciper cma da outa no Seulo XX, procurando a0 mesma tempo se reencontar pe \Y 4 Fodicaments As uptras manifesta se dever exenisimente i iether roman, “0 omereese i stra de soiedoes nto ¢ de nenbuna uidade quando se Vg" |procutacompreender 0 fancionsmento das. istics" vp a] Male cateprico nds, Leach escroves "A geraio de nto. 3 [poops 8 qual pevenco ten su orgllo de sempre terse \~ecusado «tomar Hinria em coniereo". Coneem também lembrar aqui a distngbo agora famosa’ de Livi Strauss opondo as "sociedades fra Af gra aero de tomperatra hse 1. Ao main ric dt anil lg, Lr Sean et onto Je encanto danas (oso) ¢ de cre ido 0 oro? [tedsaramen programs deve sr iene oes oi ‘rsa no proemon ) mnsoplg deve ar eras ‘scent *h aprons prec clr Romans ane ‘lc ncaa na om do aganete fia”, 191), Para exes cmos, longe de ser uma “cia natural da Fstrtamente vinculadas nos séeulos XVIIL e XIX, a dus dades sem hiss, do que “socedades que nfo querem ter ttorias™ (nics objeto da antropolgia cléssica) a noses priprias sclededes quaificadas de “sociedades quntes Fest preceupasio de separagio entre as abordagens histériea e antropoogica estélonge, como veremos, de ser Uundnime, a histéria recente da antopolopa testemunha também vm deseo de cosbitao entre as Guas discipins ‘Adui, no Norderte do Brasil, onde comeco a esrever este Two, desde" 1935, wm autor como Gilberto Freyre, empe- brat nhando-e em compreender e formaeio da soceda Tmestrou o proveto que a antopologie po ent istrieo 4) Uma quarts dificeldade provém do fato de que) nossa pritca oslla sm parar, ¢ iso desde seu nascimento, © entre a pequisa que s pode qualifier de fundamental e) gquilo que € desgnado 30b ¢ termo de “antropoogia pli) cad “ Contecatemos examinando © segundo termo da alter rnativa aqui colorada « que continua dividindo profunda mente or pesqusadores. Durkheim considerava que a socio: sltogia nfo valesia sequer uma hora de dediagio se ela nio 1 pues ser sti, «multe antrapsogoscompartifiam sua opt f° Inigo. Margeet’ Mead, por exemplo, estudando o comport Tnento dos adolesentes das has Samoa (1969), pensiva {que seut esudos deveriam permitir a insteurgio de uma ‘oriedade melhor, e, mais espcifcamente a aplicagio de ta pedagogia menos fratant hsociedade americana. Hoje ‘virios colegat nosies consderam que a antropologia deve colocarse "a vervigo da revolugso” (sundo especialmente Jean Copans, 1973). O peaquisador tarnese, ent, um mi Titant, tm “antropslogo revoluclonério", conribvindo ne ‘onsiragao de unin “antropologie da libertagio". Numerosor exguisadores ainda reivindicam a qualidade de especialsa, fe conseleirs, partcipando em especial dos programas de ‘desenvolvimento & das decsses polticas relacionadas 3 el borayao dete programas. Querfmos simplesmente obserst aqui que “antropologiaaplicada"” no € uma grande novi- ddde, & por ele que, com s colonizacéo, a anropologia tee ino” ol com cla inclusive, qve se deu o inicio da Antro- pologia, durante & eolonizarlo, No extzemo oposo das ati- fades "engajadee” das quais scabames de falar, encontamos ' posigdo determinada de um Claude LéviStrass que, ap6s {er lembrado que o stbercienifico sobre o homem sinda se cneontrave num estégio extrengmente primitive em relas60 to saber sobre a natureza, ester “Supondo que nossescitncias um dia possom ser colocadas a servigo da apo pritica, elas nfo tm, no momento, ada ot use nada a ofrecer. O verdadero ineio de permitir ua exstncia, & dar muito elas, mas Sobretudo no The pedir nada": |As duas attudes que acabamos de citar — 2 antropo- fogia “pura” ou a anttopologia “eluida” come diz aindo LeriStrauss — encontram na relidado suns primerss for rmulagics desde or primdioe da confrontagio do europe com o "selvagem”. Desde o séeulo XVI, de ato, comers $e implantaraquilo o que slguns chamariam de "arquétipos” do discuso etnolgica, que podem ser iustrados pelas po- Sigdesrespectivas de um Jean de Lery de um Steyn. Jean de Ler foi um hugvenote* francés que permanects algum tempo no Brasil entre or Tupisambés. Longe de procurar con- ‘ence seus hispedes de superioridade da culture européio {ie eligdoreformada, ele o nterzogae, sbretudo, sinter fogs. Sehagun fo! um franlscano espanhol que alguns anos mais tarde relizou uma verdadeia invetgasio no México 1a ta ar sees glee epee, ex esha ado dat snes Nae Se Erna PERSE fear bri, Foer ed Taleo edie PRUE Code do Own, Natl fa comeo do eer 3 Shae icerane OT) Perfetamente 8 vontede entre os astecas, cle estava If en ‘quanta missonério a fim de converter « populagio que e= fda" © fito da diversidade das ideologias sucesivamente Aefendidas (a conversio reigo “Tereiro Mundo”, at eseatégias daqulo que & hoje che ‘mado “desenvolvimento” ou ainda “mudanga social”) nio fltera nada quanto 20 danago do problema, que € 0 seguints: © anlzopéloge deve contribuir, enguanto antropSlogo, para 2 teansformasio das sociedades que ele estuda? Eu reeponderia, no que me diz resplto, da sequnte forma; noses abordagem, que consise antes em nos surpre- tender com aquilo que nos é mais familar (aquilo que vive: ‘nos eotiianamente na sociedade na qual nascemes) © em {omar mais familar aquilo que nos éestranko (os compor tamentos, es erengas, os costumes das socedades que no ‘Ho as nosis, miu nas quae poderlamos tr nescido), ext dlsetamente confrenteds hoje & um movimento de homoge. hsizagio, a0 meu ver, em precedente na Histra: o desen- ‘olvimento de uma forma de cultura industristarbana e de toma forma de penssmento que € 2 do recionlismo socal Eu pude, no devorrer de minha estadiassucesivas entre os Berberes do Médio Atlas e entre os Baulés da Costa do Marti, pereber realmente 0 fascaio que exeree este mo del, pertrbando completamente os modos de vide (a ma tira de se alimentar, de se vestir, dese dstrar, de se en Conter, de pensar ¢ levando & noves comportamentos que fifo decortem de uma escola). Buss tm ei at ot i seater cle mgrctc itt gi eta SRS Cea ite eed ones es hate acts penne po fot eplehee cige eope fey Se ey (Speer ag erin “evelusio", a ajuda 20%) Fe [A quero que exh hoje ealocade para qualquer anteo- logo 2 segunte: hi uma posibilidade em minha socie- ‘ade (qualquer que sj) permitindothe 0 acesso 2m est sio de sciedade industrial (ou pOvindustrial) sem confito ‘ramtico, sem risco de despersnelizacio? Minha convicglo € de que o antropélog, pata ajuder ators sciis« responder essa questo, mio deve, pelo ‘menos enquanto antropélogo,trabalhar para a transformagio as sociedades que estuda, Caso contri, sera convenient, 1e fat, que se convertese em economia, agrbnoma, me ico, politico, ano ser que cle seja motivade por alguma ‘concepeéo messinica da antropologia. Auxiiar uma deter rminada cltura na explcitacéo para ela mesma de sua pri- ria diferenga é uma coisa; organizar politica, econdmics © focinimente 2 evolugdo dessa difeenga € ume outa coi (Ow aes, pariipagso do antropSlogo naquilo que & hoje 1 vanguorda do anticlonialiemo © da Ivta para os dicitce humanoe e das minors éticas 6, meu ver, uma conte ‘quéncia de nossa profssio, mas ndo & a nossa profisio propriamente dit Somes, por outo lado, diretamenteconfrontados a uma uplaurgtacla& qual temos o dever de responder, 4) Urgincia de preseregdo dos patrimonios eulturals Iocais ameagedos (¢ & rexpeto disso a etnologia ests desde ‘seu nascimento lutando contra o tempo para gue a tnt rigdo dor arquvor orais ¢ visuss poses ser realizada = tempo, enquanto os slimes desositrioe das tradigSes ainda sho vives), sobretudo, de resttuicdo aos habtantes dos diversas regis nas quis trabalhamos, de seu préprio saber saberfazer. sso supée uma ruptura com a concepeto ass rméticn du pesquisa, bercada na captagio de informasses. INio hi, de fato,antopologia sem trea, isto 6, sem Wine” trio no decorer do qual as paras envolvidas chogam a convencerreeprocamente da necessidade de no deixar se perder formas de pnsamento-¢ atividade dnicss ') Urgéncia de anise das mutaedes cultuals impos pelo desenvolvimento extemamente ripido de todas as so iedades contemporiness, que néo si0 mais “sociedades ta ‘icloals” sim socedades que esto pasando por um de- Senvolvimeate tecnoligico abroltaments inédito, por muta ‘et do cunt relages soins, por movimentos de migrasio Interna, por im proceso de urbanizacio acelerado. Através de expecficidade de sun sbordagem, nosta divspline deve, to fornecerrespotas no Tugar dos interessados, © sim for lar questes com eles, elaborar com eles uma reflexio Taclonal (eno mals magica) sobre os problemas colocados pele cise mundial — que é também uma crise de identidade Fin ainda sobre o pluarismo cultural, iso &, o enconto 4: lingues, tencas, mentalidades. Em suma, a pesquisa an. tropologies, que no ¢ de forma alguma, hola, uma atividade de lxo, sem nunca se substituir 0s profes ¢ is decisis dos proprios atores soins, tem hoje ome voeasio malor a de propor alo solugSes mas instr Imentos de invesigasio que podeedo ser utilizados em expe- al para reagir 20 choque da aculturagio, isto, é, ao rsco ide um desenvolvimento conflituoso levando & violéncia ne." Sear dar prttarndar eons, scien) uum por. 5) Uma quintsdificuldade diz respeito, finaiment, 2 natura desta obra que deve apresentar, em um ndmero de péginesreduzio, um campo de pesqulsaimens, cujo dese Nolvifieato recente € extremamente especializado. No final td séoulo XIX. um nico pesqusndor podi, no limite, do- Iminar o eampo global da antopologia’ (Bous fez pesquiss fm antropologia social, cultural, lingUistea, phi lamlém mais reentemente 0 e350. de Ktoeber, provavel rents 0 timo antropéiogo que explorou — cam sucesso time fea tio exten), Nio 6, evideatemente, 0 caso hoje fem dia, © antropslogo considera agora — com raxio — que comptente apenss dentro de ume érea restrit"® de sua prdpradisipinn «pare uma Arca geogréfica delimiade Erame portanto impossivel, dentro de um texto de di rmenaGes 130 Testlas, dar conta, mesmo de uma forma par. Cal do aleance e da riqueza dos eampos abertos pela antro- pokey. Muito mais modestamente, tetelcolocar um cero ‘nimero de referéncas,definir alguns conceitos a patir dos {quais 0 leitor poder, espero, interessarse em ir mal adant, Verso que este lvro cama em espiral. As preoca pagies gue estdo 10 centro de qualguer abordagem antro- police e que scabam de ser mencionadas sero retomadas, nas de diveros pontes de vista. Eu lembrare! em primeiro ugar quale foram as principals etapas da constuigSo de ross disiplina © como, através desa histrin de antropo- Topi, foram se coloeando progresivamente as quests que conflnuam nos inteensando até hoje. Em segida,esborate (os polos tebricos — a meu ver cinco — em volta dos quais ‘sclam 0 pensemento © pritca aneopoléica. Teri sido, de fato,supreeadente se, procurando dar conta da plurei- dade, anttopologia permanecesse menoliia. Ela 6 0 con teério claramente plural. Veremes no decorrer deste livro aque exstem perspectives complementares, mas também foamenteeaslusivs, entre as quais€ precio esolher. E, em ‘er de fing teradotado 0 posto de vista de Sirius, em vez pretender uma neuralidade, que nas eitnias humanas & um engodo, esforgando-me ao tnesmo tempo para apresentar ‘om méximo de objetividade o pensamento dos outos, nfo ‘isimulael a8 minhas propras ops, Finalmente, em ume Sitime pete, os principals eizot antrormente examinados ferdo, em um movimento por assim dizer rtroaivo, reave- Tisdos com 0 objetivo de definir agulo que constitu, a mew ver,» especiicidade da antropologis. 13. opi ae ene, «atop ror, poli, pedo memes ar sigs sos,» apa ‘an? na» snaplga dor tema de comer Ey queria fnslmente acrescentar que este livzo divigese 0 mais amplo piblico possvel. Nio Aqueles que ttm por profiso a anttoplogia — duvide que encontrem nele um frande intereste — mas & todos que, em algum momento Ge sua vide (profesional, mas também pessoal), poss ser Tevados a utilizar 0 mode de coahscimento to caracteritico dia antropologin, Esta 6 s rezdo pla qual, ent o inconve- niente de utilizar uma linguagem técnica © o de adotar uma Tinguagem menos erpecilizaa, optel voluntaiamente pela segunda. Pos a entopologa, que é a ciéacia do homem por fncelénci, pertence a todo o mundo. Ela diz respelto todos ns. PRIMEIRA PARTE MARCOS PARA UMA HISTORIA DO PENSAMENTO ANTROPOLOGICO @) 1. A PRE-HISTORIA iy DA ANTROPOLOGIA: dsb ds ferns pelos visas doh ¢ soae Kil ce flac elogen data daquela época até nossos dias y 0 wr Y us FB pai te eta pte eg \descoberta do Novo Mundo. © Renascimento explora espe ii @ of Gt ee downs «cna» sia aay ¢S, Shei ence Stay | Te aa? if of ' 4 inane ¢ opine dics sree per { "Gian poten 8 an fone rel dp frmando que habalmente cameos de“ SEHE Apt, 01 Alger tne Aa Tou " Singtares de Frons Antec 138 Ten Se Lar Hs Wy, 4 tne Viagem etna or de Bra Canta amo nef opr om paso aero del KI. de Rabon Ged 198. feu'om propia lo RV) Yeo Ge), ah ‘Sinn soc de tte Ge J Ps Davie (97, 2) om etic dot ‘noaioreprelamene “Reig” doe ln tla XVID ‘Eada Tapio Choe, Cipr eae aes Ea im ans? © porno rig amb tes is ego? — endo cipal pre ce titer qs de eps ete Ti rp ar Naunos go ean seo RIV. a gue € clade, bo 4 £6 frm gums solos, Et set clntivenente y? sora a6 Nei ne 6 qv comesam as xboard ideo 1 igi mes yma nie tro lavrida da ote «rect do exano apecndigo «a| Letom wre seta wednde? a fect pele ero fee Ot at ence gus nen lm 1 ela, . (Ora, os proprio termos dessa dupla posisio estio calo- 0” cador dee + mstde-Go elo XIV: no debate, qe 8 ‘cee ma coiroeniaplicn, que Grad vin es {Gn 1550, na pena, em Valli), que ops © dom eto Lar Cas 0a Sep 4 bas Cosas: e 4 “Ages gue prtndem que os fad si bits | signs reo, € melhor que a oss, (-.) Esse poves | ainlavam ov i sperevam mula naps e ume ord

it, sm hl, Eats sercetarrd mo sclo XX Naam Canplns dc apo — nfo consi uaa dante Opiate eeaeaed {)N _Ersetenet, so ope concoret: Gnas sue J conse set om inverter atbalio de scgtes ¢ Secoe een eae es Sestunte idn an Epoce mu gun © Oca dscbe pores eesti Al er 6 en ete S or | tars formaaplo mal aden ¢ i ade dls 1 (sctaenes s hccaatecoe ar ea yo) SVi Pa Sai mano So bap % vy a 7" \ seer weno e ; qe estar preseme, pelo menos em extado embrionti, na per hp cepeio que tat os prinelror vsjntes Amtico Vespaco », 02 descobre'» Amiri: oye 5}! “As pessoas esto nus, sfo bonita, de pele excura| " |e corpo elegant. . Neahurm posmsiqualgutr cose que VO soja, pois tudo € colocado em eomum. E os homens to eA ‘mam por mulheres aquelas que Ths agradam, sejam ela sua mi, sua irmd, 9 sua amiga, entte as quis cee nto. faxem diferenga... Eles vivem cingienta anos. E néo 4°” vem govern JP mint tno, rte 20 Cite, dab ey i acorene \itn7) tas sto | spf 6p eo ni be mat rot Yo rani © ignorants do aue & 0} dope sus hja no mundo homens hors, como | Po [tembén ta ena ator” | GF ge, Ted ne de yee Mente XVI ee eee eres a ace shows respectiva de uns ¢ outros, e, pela primeira vez, instau Qs aecewse ae ea MW iesaiacana ses cone pierre Ciara: ers i eaten a seee wreraeaer 0 ie E Montaigne, sobre esses sltimos: “Pod -portanto de de abirie”- Pa JV siaco que teria sido o nosso cutor, talver esteja conservado fem alguma part. O huguengte que eu interrogucl até 0 db te facinioexerio plo ingens americans, ¢ em ened arent proegio dacviiata 402 Toe cil ot irons clran da nature, ue Ufa nos séculos XVII e XVIII, Nas primeiras Relagées dos ANE lan ene o Hiroe ded 162 patos | Y ~ e es fo ative, ier, mode, - Todos 0+ ‘6 ‘nossos padres que freqiientaram os Selvagens consider AN SPATS pec mn cee ne ce S| me sto Sele vier em comum sem po- ‘iP | Streams dep mm re tn ose ‘rabaho" «gh, 2 ns on trent 60 mn le ee “At Viva oe Hiurons que sem lei sem prises € sem tortura passam a vide na dogura, na tranailidade, { gozam de una feliidade desconhecida dos franceses” isa admiragdo no € compartthada apenas pels, nave- adores etupefaton" © selvagem ingress progressivamente | cal tnmnereneem ea Sa mien nas oe | eee Secret ero ee oes [eee toe oe vane ee ara sere aren Mies tases cea won tan aga aac Sacaeem s eileen gee Sf crete onion ‘na filosotia — of ponsadoret das umes!" —, mas tam: ‘bém nos sles literrios © nos teatospavsienses. Een 1721 montado um espeticulo intitulado O Arlequim Selvagem (0 pertonagem de um Huron trazido para Paris declama no paleo: “Vodts so loueos, pois procuram com muito em- peaho ua infinidade de coias ites; yoeés sf0 po- bres, pois limita seus bens so diahero, em ver de implesmente gozar da cragio, como nés, que no que remos nada a fim de destrutar mais livremeate de tudo". 1 Gpoca em que todos querem ver of Indes Galante ‘que Rameau acabow de escrever, a época em que se exibem hes feirs verdadeiros selvagens. Manlfestagdes ess que onsttuem uma yerdadeira acusagdo contra « civilizasso. Depois o fascnio pelos fndioe srk substituldo progessiva- mente, pati do fim do séeulo XVI, pelo charme e prazer idiico que provoea o encanto das paisagens e dos habitants dos mates do sul, dos arquipélagos polingsis, em especial Sem, asilas Marguiss, a ilha de Piseos, ¢ scbretudo 0 ‘alt. Agui est, por exemplo, o que esereve Bougainville em su Viagem ao Redor do Mundo (seed. 1980 "ejadia ou noite, a cass eno abertas. Cada um ‘othe as fratas na primeira &vore que encoatra, ov na aca onde entra... Aqui um dove écio € comparihado pelas mulheres, ¢ © empenho em agredar & sun msis Dreviova ocupagio, .. Quase todas aquelas ninfas ste fram nuts... At malberes pareciam nio querer aqulo que las mais deejavam. .- Tudo lembra a cada ine ante as doguras do amor, tudo incita 20 abandon smilie re: at not rs nun, pa SEES ASSIST pe wt Se ae gr eine, (Gums poree eames Bo de to dl oan ‘Tovos of dscursos que acebamos de citar, ¢ especial: mente os que exaltam a dogura das sociedades “selvagens”, © carelatvamentefustigam tudo que pertence ao Ocidente finda S80 atuis. Se Zo o fossem, nio nos seria diet ‘mente aessivels,ndo nos tocarim mals nads. Ora, é peci- ‘Semente a ese Intaginrio da viagem, a ese desjo de fozer xistr con um “ethures” uma sosiedade de prazer © do si ‘dade, em sum, uma humanidade convivial cue virtdes Se estendam & magnificénia da fauna e da flora (Chateau: briand, Seglen, Conead, Melville..., que @etnologia deve grande parte dz seu suezsso com 0 publico, (© tema desses povos que podem eventuslmente nos cnsinar ¢ viver e dar a0 Ocigente mortfere lige de gran: ders, como acabamos de ver, nso € novidade. Mas grande plrte do publico ext infinitamente mais disponivel agora do ‘que ants pars se deiuar persuadir que as socedades cons trongedoras da abstraio, do eileuloe da inpessalidade das telagées humanas, opéem-e sociedades de solidariedade co- ‘mnitiria,sbigndas na suntuosidade de ums natureza ge- eros. A decepsdo liga cos “benficios” do progress (nos ‘qusis muitos entre nésacreditam cada ver mence) bem como 4 solidfo ¢ 0 anonimato do nosso ambiente de vida, fem om que parte de nossoe sonhos 36 aspirem a se projet nesses paraiso (perdido) dos trices ou dos mares do Sul ‘que o Ocidente teria substituide pelo inferno da sociedade teenelégica Mas convém, a meu ver, it mais longs. © etnélogo, como @ militar, €recutado no civil. Ele compartlha com fos que pertencem a mesma cultura que a sua, a mesmas natsagses,angisis,desejos, Se essa busca do Ohimo dos Moicuncs, ess stnaogia do selvagem do tipo “vento. dos ‘oqueiros” (que & na realidade uma etnologisselvagem) con tru para a populardade de nosa dtcplins, ola est pre- ente nas motivagbes dos prépros etndioges. Malinowski tert a franqueza de esrovere ser muito citicedo por sso: "Um dot refigios fora dessa pristo mectnica da ultra ¢ 0 estudo das formas primitives da vide hur [quae do globo. A antrepolgia, para mim, pelo menos, era uma Taga rom ‘niformizad? tien para Tonge de nesa cultura _ Ora, esa “nostalgia do ncaltco”, de que fala Alfred Méiraux e que esteve na origem de sua prépria vocaggo de ‘xno, €encontrade em muitos autores, especialmente nas escrigses de populagies preservadas do’ conato eorruptor ‘com 0 mundo moderno, vivendo na harmonia e na transpo- ‘cia. O qualificatve qu fez sucesso para designaro estado dessa sociedades, que slo caracterizades pela riqueza das ‘eocassimbelias, fl certamente o de “auténtco” (opesto & Seo yh posto por Sépir em 1925, ¢ que € erroneamente stribuido 2 LeiStrauss ve See oy | Amagem gu. iden se da sherdds (cone tity lasivariente deaf meme ale pated, porno, de os (5s ple de om vexdadein movin pendula. Pen] Xp Oe iemadamente qut-0-sevagem: ‘era um monsto, um “animal com figura humana” SiSiigt csr ama diego es team | 2a | sae tambéin que os monstor eramos nds, sendo que ele YE [imeltged'humanidade a noe dar, ‘¢ levava uma existnciainfslic © miserdvel, ou, pelo] conto, vivian eto de beste, adgutndo sem] tsforgs e prodvormarsihons da naturezs,enguanto qe) (@, NVe" elses, pox on ver, obigedo a amir a dar ean didi Kt erm tablhadr © corsjo, ou exenciimete pe j Y Jeicoso: Var e a v ee ato tn | ss lowed ttt igo 2 Motattam terme Favor do ebrenatual 20 in-h } er, nu paz baron: Ns a @ "adam snarguista sempre pronto a mussecrar seus! (0 ) senetates ovum comnts desiio 4 tdo compartir hg. i ecaiesam tin mrs x 2 cn ediravelnente bent, ou fo; weg 2 ¥ | congenita quando era lepiimo temer, ou devia sor consde- | See te erage ected de pte: SPER tm embratcigo nual levando ume vida de ; corgi devassidSo permanente, ot, pelo contréri, um ser eo pee ae sean ci oA aol os gn 4 foci na er omen ieee spas ae en meen rs beeper ets a Ga pe ee eee or RS ae hogn ie ee etal sid ae ae eee aaa meee epitome ren ea nat it a a ae Se ee eaeeaoniea rete ere ale ce sagen ets eee nase eile ee ea ee oseye tree oT et eas eee seat ees tin oo sci ta de) é oN y fe i tico, como acabamos de abservar, inde no final do sfulo\ XX. Nio basta viaje surpreanderse com o que se v8 paral By Ete nests mows omen A v DAY ey SSSA pr une impidede xiii @) , |X a | campo", como ee dz hoje). Porem, numerooe, viajne W "esta epoca colocam problemas (o que mio significa uma L' 'y problemdlca) aos quais sexs necestariamente confontsdo ‘qualquer antropélog. Eles abrem o eaminho dagilo que laboriosamente ir se toaar a etmoloia. Jean de Lary, entry ‘os indigenas brasil, pergunta-se:€ preciso rejltéls fora ) QV {da humanidede? Consdertlos como virtualidades de eri-| 08? Ov quistionar a visio que temos da prépria humani- lade, ito 6, reconhecer que a cultura € plural? Através de tas contradigses (eoslagSo permanente entre a conver- {Ho e o clbar, or objetvor toolésloos © o: que poderamos haznar de etnogréfices 0 ponta de Vista normatvo eo panto Mas ae quests (e pare © que nos interessa aqui, mas espe- vf Mm is i" y Fe eae ee ye ; Cificamente «dma extio'no entanto implictamente eal ‘ preccupa € menos « humunidede dos adios do que a imu- ‘adas. Montigne (hoje As vezes eriticado), mesmo seo que), ty Q® toinidade dos earopew, seguindo nisso Léry que tansporta para 0 “Novo. Mundo” os confitos dp antigo, comesa a Introd testemunka 0 desmoronamento_possvel deste_pensameao, A @ condense algons apenas de sue expritos os menos ortodoros, a partir ‘de obwervapio dreta de um objeto distante (Ley) e da 1e- HHealo a distincin sobre este objeto (Montaigne), permite ‘1 consttuigdo progesiva, ndo de um saber anropolico, ‘vito mence de uma eidacia antopoloyice, mas sim de um saber pré-antropoligico. c por W vids no edficio do pensamentoearope Elegy Sv eli do peste eon fy ‘Abra de Roger Basie aparece ao mesme tempo mut prérima « muito diferente de anterior. Muto diferente em Primero lugar, poraue « sbordagem desse autor increvese ‘laramente como vimos acima, no horizonte da antropologa ‘ulturel, Mas Bastde, tanto quanto Balandie, procure inluir or cifeentes protagonistes sociais no campo de seu objeto dd extudo. Ademais, umbém insste, de um lado, sobre as Imudenges socials ligedae & dinimice prépia de uma deer- fninade cultura: de outro, sobre a interpenetrasio das civ Tzagbes, que provoca um movimento de tansformagéesinin- ‘erruptes. ‘Todas estas pesquisa, msis uma ver frequentemente muito diferentes uma das outre, increvemse plenamente fo proto mesmo da antropologia, qve ¢ dar conta das va+ Fiagies, ft é, notadamente das medancas. Uma de suas Insiore contibuigdee ¢ de ter purtiipado de forma consi ‘Grivel do deslocamento das preocupassestradcionals dos tenlogce,¢ de ter aberto novos lugares de investigagio: a tidade em especial, ugur privilepiado de observayd0 dos onilitos, das fenaGeesocinis das reetraturages em anda Inenio (e. quanto a i80,além dos teabalhos de Balandier iados acims, Oscar Lewis (1963), Paul Mercier (1954), Jean-Marie Gibbal (1978). ‘Corcltivamente, esa antropologn da modernidade (s szundo s expressio de Balandier, que instaura wma ruptura om a tendéncia intelectualiste da etnologia francesa, leva © pesquissdor a Interessarse diretamente pela sun props foiedade, Finalmente, enfatizando a realidad confival das situagdes de-dependéacia econdmica, tcnoligca, mila, Tngutsice..., ela nfo opera apenas uma transformaggo do objeto de estado, mas inicia uma verdadeira mutagSo ds priticn da pesguis. Dito iso, se ess entropologi reorient “compli ‘¢ “problematiza” a entropologia cic, seria n0 entanio Irisvio pensar que a abel. TERCEIRA PARTE A ESPECIFICIDADE DA PRATICA ANTROPOLOGICA 1. UMA RUPTURA METODOLOGICA: dade dada & experigncia pessoal do “campo é Pgh tage nso de nue odo es uf sar considers hoje emo Inontmérel, qualquer ques qt Ww iP jam por eur Indo su ops tees, prov de ume if fe nel cs Op strato eapeclatve, Io 6, que no ears baseado na ft | ee Sr ee ae cae ores a(t 4p Sma lao man. Wy Siow pode, de fat, eau os homes 4 mans 40 H.UPAl curio examnando a samambila ou do zoflogo observa do 0 ctustéceo; $6 se pode fax8-lo comunicando-se com eles: in ee vain aise) all Sea te Dy eg are relocate te em ae 1° 00, y ‘(estou pensando particularmente em paces ty i ea eres a vos OG eit eatin oe nace Foe, 370P AME ( ‘nfo consste apenas em coletar, através de um método a(t {iN} ‘catrtamente indutivo, uma grande quantdade de informa-W yh [e ‘mat em impregnarse dos temas obvessionais de uma wh yan : v Pe , Mociedadé, de sevs iden, de suas angistias. O etndgrafo ¢ jp de viver tale mesmo a tendéncia guele que deve ser | Sede tem preseupapies religioss, cle préprio deve scary Yo! com seus héspedes. Para poder compresnder_o_candonbie AU Sees eee | 1 pea cree Hoger Bs weave uma comprcenso ineralégicae, mas ainda, ané- xl ope onganitagtes vegeta, ips viv" 4 asin. etapa ane 2 Pc ia, consisting es ina verdaceivaceiraedo Fiver] "Hg, ngs Ge ompiender ‘uma sociedade apenas| Pat cetera “eens Dei, de | ty Sins que © pprion inion at v i Eamportaments, Quanto a 0, €sgnificavo Wt AC Re, ue em sus Heda Inara no Coldge de France, 0 ator e WAY, da Aniropotogia Estrutural comece sua exparigso por uma “Remenagen’” a “pensrnento supersicino proce que,» (PS Serio, obervador deve fear com a Sima pe Sy es prcmidor 9 indleae”. © ermine 4 er ee Frat de quem se considera um “aluno t Essa apreensio da sosiedade tl como € pereebida de emo pelos atores socials com os uals manfenho uma re- Tapio direte (apreensio esta, que nio € de forma algums cclusiva da evidenclaglo daquilo que Thesescapa, mas que, pelo contri, abre 0 crminho para essn etapa ulterior da Pesquse), € que dstingue estencialmente & pritica etnol6- tice — petica do campo — de do historiador ou do soci logo. O tistariador, de fato, se procura, como 0 eindogo dar conta o mais clentificamente possivel da alteridade & (qual € confrontado, nunea ena em contato dreto com os omens e mulheres dat sociedades que estuda. Recolhe © Snalise os festemunhos, Nunes escontra testemunhas vives, Gant & prtien de sociolopi, plo menos em suas princi- pats tendéncias clissios, vivian carctristicas a disinguem if Prnipal da cultre que extda. Se, por exemplo, a soc: fl) ide] (1978), screscentando: “Eu Ql A ds pritca etnolipca consiéerada sob 0 Angulo que detém ‘aul nots atenso, 1 Comporta am distenclamento em rela to, ¢ ago fro, ¢ “desencarnado”, como diz Levi respeito do pensamento durkheimiano 2) Diane de qualqser problema que the sea apresen ado, parece sr capaz de encontrar uma explicagio ¢ for tecersolgées, Objetar ae que pode, € claro, sero cas do ‘indogo. Com a diferenga, porém, de que exe se esfors, por rarer metodogias (e evidentemente afetivas), em folarse 0 mais perio possvel do que € vivido por homens ff ‘de came e oso, atricandose a perder em algum momento Su idemidade'e a nfo volar totalmente leo des expe inca 5} etnlogo evi, nfo apenas por iemgeremente mat Yl"? também em eomegitnela da especfcidade do modo de co- 4! ‘ecimenio que percep, vita progamacto esta de sit} pesquisa bem como a wilizagio de proocoos rigdos, de fue a seciologia clissea pesou poder trr tants Benticis v ie Sreiticos. A busca etnogrtica, pelo conti, tem algo def Greene, As tenaivs bordhdes, os eros eomeidos no cane gh fs eastitn nemoses qo 0 png dt lea Zonta Come também o enconto que surge feqientemente Com o imprevio, 0 evento que ccore quando nfo esp cf ‘nos enganemos, porém, quanto as virtudes do cam- 19 po. ou mn rm ero deer Skanes ea SAW ates opt i at possum i ru ee Wig", nalista, um grande nimero de temporadas ‘passadas em con ee sere pia eine woe Ny logo. Trstese prem de Ay |conigos acess. Pal «pecaantopaGes «6 pode \ [cedar com una decoberaetogeica, io 6, com wma experi “ima parte de aventura pessoal 2. UMA INVERSAO TEMATICA: © estudo do infinitamente pequeno e do cotidiano A histria, a socilogia cléssicn dio uma priordade ‘quase sstemitica & sociedade global, een como Ax formas de atvidades insttuidas. Assim, por exemplo, quando ext: dam as asocasées voluntieas, privleginm nitidamente as arondes, suscetiveis de influenciar diretamente « (grande) politica: of partidos, 0s sindieatoe... em dettimento das ssociagbes de menor importincia numérica, como a a80- iagbes regis, sobretudo as formas menos orgenizadas de socaidade. Nessas condigbes, a vida cotidians dos ho- riens tomas uma espécle de reso irsiio, ano set em se tratando (pura © historiador) da vide dos “grandes ho- mens”. Os fendmenossoisis nfo escitos, nfo formalizados, io insiucionaiaados (ito é, na realidede, « maior parte de nosse existécia) sio entio rejeliados para o regio Inconsistente do. “oltre” [A abordagem emoligica consste preceemente em dar lua atengio toda especial a estes materia residuais que foram durante muito tempo considerados como indignos de UiN}v0 que chamare de infinitamente pequeno e cotiiano Mt h petpectiv " ima atividade to nobre quanto 8 atvidade cient ‘ua abordagem claramente micosseciolégies, que privilege essa vez 0 que € aparentemente secundétio em nosos comm Portamentos sciis. Dsso results om desocamento radi! 5, ds centros de interese wadiconais das cincie sci, a ‘outrngs, a construgesinteletuns, ax produsies do pensa ‘mento erudito (ilosic, teolgico, centifico. -) so, nesen consideradss menos como iuminadoras do. que come devendo sr iluminadss. Assim, a atengao do pesquise- dor passa ineressarse para as condutas mais habitat Vem aparéncia, mais tes: os gests, a expresses corporis, 0s hdbitosalimentares, « higene, a percepgzo doe rldos da oy cidade e dor ruidor dor campos Embors 0 objeto empitco da etnologia lo se confunda com 0 campo aberto pela colonizagio, at preocupastes dos stndlogos me parecem indeesivelmente ligadas = um certo rnimero de eitres, que permitem define as socedades nas qutis nossa discipina nasce: gropos de pequena dimensio, nos quas a relagées (exclusiva ou estencalmente orais) #80 persnalizadss a0 extreme, O problema que se vé aqui color ‘ado € evidentenente 0 seguinte: como faré 0 etndlogo ‘quando se ver confrontado a rocedades glgantescts, nas 4quais a comanicasso aparece como cada vez mals anéaima? Respost: ele val em primeiro lugar procrar, dentro dessus Sociedsdes, se ndo encontee objetor emplricon capazes de lembrar he os bons tempos da etnologia cléssce. E, € um fato, vokarse-é em priveiro lugar pare a comunidade cam ones (¢ ndo pare a cidade industria), para 2 familia ta Aicional fe no para a familia desmembrada), para as pe te os ‘ra i a ea este ‘owes de scienes humus sm sor beer» ma asi vs em rare faye thot sewer naan WN Wy. % uenas confrarias religiosas (¢ no para as grandes orgeni-{\t, ) “Pestudadas), © sim uma sbordagem, um enfoque particular, X9 | wv Fr ne wnt iP rman oe ates ra + enizadas (¢ no para a burguesia decadente), Em sums, seus \J ort ni mae pase ered denne) (P mse Je foo seBo on aren soci que esta Ng” «(ora t (ono vero de ocdade gal do ebro. oa eet © que me parece importante sublitar,finaimens, & -\feteamor de marin camponse bree, feos conse see dine a Lote a , Emrgaeces erancman age EME eee Sane dese aean we x i sees Gets 8 de dite, deffo enoogo fde ydeignandie mover treo de Tverignglo« convene ‘Siuar ss formay de comporamento © ovine mas x ¢ doo de que aio deve haves, 9a price cei, objet) ‘Choentrades em relasio & ideologin dominante da sociedae U4) tab. Asim, wdc ds fees nfo ender ma ital ell Pore, of dedi aman | © ctisinisme “a0 nivel dae doutinas€ dos doutores,e sim ete cdr de smolopi Ess dfrengs ate os nos {amt enna, como eee Jean Deumeas. A Aaa ide vida e de pensamento s8o tio localiziveis nas nossas socie- arquitetura comega & perceber que 0 estudo dos ‘monumentos| fds (contd de maliplo subgrups exrersmente "eat" forme apenas uma pat Stn € bit seestado ones qu vis ites eo om ene tei tlo ee "recent da caltora materia ue Tene) quanto nas socledadesquaificadas de “radicionsis". {bo cas, © hilt popular, Um derecamestoabsoate| A Te 0 cnalogo”, como exereve Lévi-Strauss (1958), "ite tmete andiogo pode ser encontrado em qualqser drs: a! yl A) resase sobretudo por aquilo que ado & escrito” (e também, ‘erqueologia, por exemplo, esté passando do estado dos pe [OES leno per aq gue nao &fomalzado ens iid tempor tum imperis para 0 conjnt do mil y Satna) "ads tno prgue pros qe etude 80 ‘abiene paul’ nce o mals fa edo ene | YP Jt insect err mat germ ul ae ie ‘prety Ge oma cate qu te prota compeenr Ns. QP y Nghe dit rt foes moe Ste mini dette pea ys em fine na peda © no pape Mas ¢sbretdo mht, 20 meu ve, qu asitinos| a ‘qe __ Conv, ptt, dear de clost 0 obema dae ‘a um deslocamento radical do campo da curiosidade. Trata: U eg dn aclogis¢ da tol ehe 9 ass emt 0 td pace pra o pvado, do Estado pte 0 pen eS grandes Inds eden “wocedades i ‘Sco, dn “Bands homens pare cs stores aénimon © don (07 WPAO. Ee “ocomeincsindose or Ido “eadiciorai eet rane eventon paras vida cold. Sob sinflecie db dentro das primeiras), pois @ einologia nao tem objeto que ‘escola dos Annales, a histéria contempordines, pelo menos nt ir Av ous ms. historia aniropowg Ae QAP seater “priv on "raicna” das soctdades emails © series a yy * The sel proprio (e que poderin ser the ipso facto designado antropslogo do que pare qualquer outro pesquisador em lof Sines humane O antroptogo nao pode, de ato, se tra | Sispeatan bo rm eto eta ow ale aa {cconémica, demografica, juridica, .) sem correo risco de {yy abolir o que ¢ a base da propria especificidade de sua pré-) en. At clgncis polices se 80 por objet de investgato! rato anpeco do rel as instr qu Tee 8 ree tm oto 0 sitenas ts cignciae pricogicas, os procestos cognitivos af science religoss, os sstomas de crenga... Mas todos tics so para oantopélogofentmenos paris, ito 6 sbstes Goer em relagko no enfoque nfo parelar que orienta sue Sbordagem, © pareelamento disciplinar comport de fo horiznte clentifee contempordneo, um risco estes de um desmantelamento do homer em produtor,consi- Inidor, edad, parents... Assim, por extmplo, a pesquis 3, UMA EXIGENCIA: Ms estudo da totalidade wo wie : Hue se esforge em levar tudo em conta, isto é, de estar atenta Q) 7 focioligica est cade ver mais especializads: etuds fend- nos pacar a dslinguenc cima, o diver ¥ e Nacho erty cy fee sees meri lee heer eae ‘Sin. pge te ie Pt e ronQhNM. Set cee ee iy! oF i oh Jt ado, 0 menor fenfmeno deve ser apreendido na zultiplic dede de sons dimenses (todo comportamento humano tem ria antroplogia,& cato, 6 freqientemente leva icipar dase proceso que pode causar um verd tum aspecto econimico, politico, psicldpico, social, cultu: Imutilagéo 49 ser humano, de que se procurs, em wm ral... De outo, 6 adguiresignificagi antropligica sendo v ‘yr yy felacionado 8 sociedtde como un todo na qual se inscreve fe dentro da. qusl constitui um sistema complexo, Com tsereve Mauss (1960), “o homem & indvisiel” “o estudo do concrete” € “o extdo do completa” 4 rarto pela qual toda abordagem que consistr em ‘solar experimentalmente objetos nfo cabe no modo de co hecimento proprio da antropoogia, pois o que esa petende YESS ee i te Se y e ‘a rede densa dns interagdes Que estas constitem com & Hotaldade rei em movimento. ‘A especilizaco cienifica & mais problemitice pa segundo tempo (a pluriisciplinaridade), eosturar de novo oe retlhos recertados, Mas permanece, a meu ver, dentro do spovo da cultura clentfica (e no da elt Como pode ser a cultura fosica ou Hiteréia), um lugar prvilegiado a partir do qual sinda se pode perceber que {oda prétca hiperespetalizada, através da fragmento € fd desmembramento que impse 20 real, acaba destuindo © Drip objeto que prtendiaestodar. Pessolmente, a antopologia me parece ser 0 antidoto ‘fo filositce de uma concepezo tayloriana da. psa Consste em: 1) cumpit sempre a mesma tarts, ser © insta de uma Gnica ea: 2) tenar, de uma sancira prog ada modifiear, ou até transformar os fenbmencs que se rds Qiaratna das cféncias humanas contempordness ¢ @ Hae, eure wma attade extremamente reflexive (a dx fil (efi ds moral) mas que core o isco de air n0 vazo de 2 face positviade de seus objetos de investignto, © saat? Jenificilade extremamente postiva, mas povco refle- ive, por cslat brseada no pacelamento de teritérioe TOtremos 2 tis, sobre uma forma de objetividade que as Fropias citnias eater descertararn hi muito txpo" ‘ss proocupagio que tem « antropologin de dar cont, '\) a pane de um fendmeno conereto singular, do multdimen ) 0 contome de mstopcoga coma iectur 6 impr Nae esas am us ceeootae a ea aa emer eet cei Np Se Seta ‘apazss de expresa:€ tanamitr © mals cxatumente possvet ye A epee otean tees maa ca | ¥en uno ond meen oops aioe atk seaman < pti doce inland ee | ‘mento. Basta citar O Itinerdrio de Paris a ferusalem, Atala, Gracie i Chena, Vege so On Ne Pg ony era eer Teed Cai tp de Mice Rel Becta Ca dvi, Topo te Contad, ou, entre nests contemporineos, A Modifica, ‘de Michel Bulot, A ha, de Robert Meri, Equinoxiais, de Gills Lapouge, SextaFeira ou or Limbos do Pacifico, de ‘Michel Tourer, A Procura do Ouro, de J. M. le Clzio, cal”, ooelnica...) conhecida sob 0 nome de Deicobrindo novos horizons, etritor se dé conta (e ge ralmente speci) do fato de que sia cultsra no 6 a Unica fo mundo: o que o leva a mudar radicalmente no relato 0 ‘cendtia tredicional do campo literéro clasico. Ele 6 tomad pela beleza de um expetiolo que o encants e mobiliza nio pens seu oli, mas 0 conjunto de seus senidos: uma ratureza grandis, populagdes projetadas de qualquer intru- Ho da cvlizagio cident. Nese espago fora do espago © note tempo fora do tempo, Lbertado das obrigegses da s- Cledade, {rz experidacia de uma fliidede e sobreudo de tums liberdade de que alo suspeitava, enquanto se interrom tobre sua propria dentdade CConvém finglmente lembrar que no Ocidente nossos grandes livor de aprendizagem s8o relatos de Viagem: Ro- binson Crusoé, Moty Dick, A Vola ao Mundo em Oitent Dias, Miguel Stogo, A Viggen de Nile Olgerson, Alice no Pais das Maravlhas, © Pequeno Principe. [No nos enganemos sobre a natureza dessas cbras — ‘lo muito diferentes entre si — nem sobre & cas no sfo, de forma alguma, lives de ‘lguns, até, nos ensinam. apenas muito subsidia amente a olhar para os outro, pois 0 escritorfrequente mente sai do seu papel — tentando ser etndlogo —, tio trande € o seu desjo de reolver seus prépros problemas. ‘rcapando do Osidente um instante Isto nfo impede que a questio das relagSes entre a ‘experiacia propriamentslterdria e a experignia etnolépica permanesa colocada, nio apenas para os autores que acabe tos de citar, mas também para os etnblogos, ou pelo menos paras que consderam que a descobeta do outro va junto fom 3 descoberta de ss isto pera quem a etmologia é também (9 que nio quer dace exclusivament) uma mancira de viver ¢ uma arte de escrever. Esou pensando neses mir eros relsosesritos por prefissionais de nossa dstplina, fgeralmente a margem de suas produpieseienficas, mas que fconstituem & meu ver tima contribugso que seria ums pens deixar de lado, menos, é verdade, para a igneia antropolo- fea esritamene falando, do que para 0 conhecimentoantro- poligico, rates apenas de alguns exemplos — de Afrique ‘Ambigie, de Georges Balandier (1957), Chebika, de Jean Duvignaud (1968), Nous Avons Mangé Ta Fordt (1982) ov LExetique Est Quotidien (1977), de. Georges Condominas, ‘Maire, de Darcy Ribeiro (1980), L'Herbe du Diab et la Pealte Fumée, de Carles Castaieda (1982), Forét, Femme, Folie, de Jacques Dournes (1978)... Convém citar também esos hntras de vida, desenvolvidas de inicio aos Estados Unidos, e, mais reentementena Frangs (ef. a colegzo “Terre Humaine da editors Plo) nas quai se procira compres der 0 funcionamento © a sgnificacio das relagfessociais a partir do relate de individuos singulares: 0 dscurso do velho ‘dogon Ogatemélie publicado por Marcel Griaule (1966), Solel Hopi, que € 2 aucbiografia de um indio pueblo, O5 ios de Séncher, de Oscar Lewis (1965), La Stawe de Sel, cd Albert Memmi (1966)... cinematic sosemparnet po wpeus brs perenendo 40 Stein anos = oar toe ‘eiidcrsoerteanaplsin Exes pemando presente Hol STEN ee Reh) or re sala hme be {ham moat ino A Arore der Tanancor de Exeanne Oi (81, ‘rane Tvs (3 fe Cos se rt ‘Varney ik Nan oe an Teil (984 Le Pa od ‘Rv Form at, e Were Heng (96 ar mean, © limite que separa essa ctnologia romanceada, quali ‘ada precisamsente do romance enoldgico, do romance pro- pramente dito, fiteretura da ciéacia (ef. Gilberto Frere 1974), € ds vezesextremamente tne Estou pensando prin: cipalmente em Victor Sgalen, que, em Les Immémoriaux {tsed, 1982), procura “escrever” as pessoas tatianas de ums ‘maneira adeguade Agucla com a qual Gauguin as via para Pintle: “noles propos, e de dentro para fora”. Em Jean ‘Monod, pra quem a einologin “fol o prolongamento da expe- ritncia podtca” (1972) Em Roger Baste, que, em Imagens dio Nordeste Mistico em Branco e Preto (1998), se diz “divi ido entre um grande fervor e o desso de fazer ums pesquise cobjeive",e considera que "0 socidlogo que quer compreen: der o Brasil deve translormarse em oc “Mas 0 “romance einolégco” culmina com Trises Trd- pcos, de Claude LéviStraust (Que, por outo lado, nos lem: bra freqdentemente em sua obra que te considera como © icipulo de Jean-Jacques Rousseau, ¢ mais especificamente do Rousseau das Confsdes e das Réveres,e nfo do Rous Sseau do Contrato Social) e com L’Ajrique Pantime, de Mi- ‘hel Leiis, que distngue peretemente sua pita prfislo- fil de einlogo ¢ sus experéncia de esritor e poeta, mas indice nos quais #0, para el, os relagbes que as une: “pasando de uma aividade guase excosivamente lterdvia para a prtica da etnografi, eu pretendia rom per com os hébitorinteletuas que tinham sido meus Etéentio e, no conto de homens de outa cultura © futra rag, derrubar as paredes entre as quais me sentia Sufoeado ¢ ampliar mew horiznte até ume medida vee dadeiramente humana. Coneebide dessa forma, a ctno- ia o podia me decepeionar: uma ciéncia humana fo deixa de ser uma cinca e obscrvasioe distineia ro poderia, por s 6, levar ao contato;talverimplique, por defnicio, 0 contri, «atitade de espirito propris Ado observadorsendo uma objetvidadeimparcalinimiga ‘de qualquer efusio” (1954). No perodo de grande permissvidade que sucede au hostiidades face Tol um sina de unifo, uma ban ‘ei orgiaca, nar cores do momento. Agia de ama for- a miglea e seu modo de influtncia pode ser compa Tads'a uma possesao, Era o melhor elemento para dar ‘esas fests sea verdadeiro sentido, um sentido rel ion, ma comunhdo pea dance, ertismo latent ou Thanifest, ea bebids, o melo mais eficente de acabor om o desivel que separa os individuos uns dos outros er qualquer espéle de reunio, Mergulhados em raje- (des de ar quente vindas dos wépicos, o azz tari restos Signficativos de civllaacgo acabada, de humsnidade fbmetendo-se cegamente 8 miquina, para expresar to fotalmente quanto possivelo estado de esprito de plo tengs alguns entre nos: espiragio impliia © wma vida yhove na qual um espago mais amplo sera dodo a todas tr ingenuidadesalvagens oujo desno, embora sinda sem forma, nor asolava.Primeira manifestaglo dos neers, mites dos Edens de cor que deviam me levar alé Iivcae, pars além da Africa, at a etnogratia” (1975). © tipo de etnotagin no qual estamos aqu convidados entrar € um efnologia eminentemente amorose, nt qusl 0 pesquiadorssritor renuncia a ser o tnio sujito do dis. fEuteo, mas também seu objeto, dentro de uma aventura, Por utr lado, esforge-se por apreender da forma mais proxima posivel a linguagem dos homens da alteridade e em trans Initia na nossa lingua (é cca um dos objetivos de: Mali ows. ‘A elagio 40 outro — ¢ 8 viagem — nto evidente- ‘mente a mesma se considerarmes de um lado a relagao de Griaule com 0s Dogons, de Leenhardt com os Canaqucs. de Margatct Mead com as mheres da Oceania, de Michel treiis ov Jean Rouch com of afrcanos, de Tacques Berave fom os irabes,€ de outro, a relagéo de um Antonin Artaud ‘om o¢arahumaras ou de um Tean Pauiban com os malgaxes Mas quando 1évi Strauss express stu dio peas viagens, no inicio de Tristes Trdpicos, & para, como Michaux em Um Birboro vd Asia ow er Equador, exigit uma viagem mais radical © estado das lage entre etnclogiae Hiteratura espe calmente 0 romance) merece er levdo mais adiante ainda ‘Sua afinidades dovese, a meu ver, a tazdes mais funds: rentals. Citare cs dels 1) A etnologis, pelo menos tal como a conctbo, nose comtenta com a situacéo, segundo a anise por Huser: essa rise do pensamenta oidental que, por estar cada vez mas. ‘specializad,rsluta frente & rellexdo sobre o homem, pode Caecterizarse pare levar a um “esquecimento do ser”. A Etologia eo romance (emlbos — veltaremos a iso — nas- ios na Europa) visim preisamente (por vias muito dite fentes) a explorar de uma manera nio especulatva ese set do homem esquecido pela tendéncia cada vex mais hipet fecnoldgia e nio rflexiva da cifncla 2) A literatura (¢, notadamente, a literatura romaneses) desenvolve tum Intreste todo expecial para o detahe, para © detlhe do etalhe, para os “eventos minGsculos” © 08 “pequenot fatoe” de que fala Proust. Ora, esa preocupacio pelo microsepico —e nfo, como diz ainda Proust, pelas grandes dimensGes dos fendmenos sccais” — vai so em contro da abordagem que é a da etnologia, ‘© que caracteriza também o modo de confecimento Iiterrio € que nfo se redur & faculdade de observaco. A vid € inclusdoe confusio, a arte € discriminagio e sleco, bem como mosrou Henry James. © que o exrior procure Ea andlise doe {ator com 0 objetivo de trar leit geri, ‘explicativas dos comportamentes humanes. Ele é, segundo o fermo de Prout, um “escavador de detalhes". Sua ambicio nce ae ater Be sensapGes que “afetam vem representa” sim, Sinico pequeno fato, se for bom eso: Thido fazer suai 0 “gral” do particule” Isto 6, chepar tua ietgeral que levaré a conhecer a verdade sobre of mi- hares de fatos anélogos,e permit, aticulada com owas leis, sejam colocadas as bases de um “to 5) A génese do romance, come a da etnologi, € con ‘emporines desso momento de noses hitéria no aU valores comesam a vaca, no qual & questionada wna ordem ddo mundo legtimada pela divindade. O que ¢ enti propos to ndo ¢ nada mence que um desceiramento aniropocén ‘rio em relago & teologia, mas também 2 flosoia clissca, a gual a ineligibildade € consiuida © no constiuinte: { relatividade dos pontes de vst, dos valores, dae concep 605 do homem e do socal, o abandono da ida de ume verdade absolutasituando © bem de om lado, e 0 mal de outro, comum a todas as ideologies? 2 légica do romance supie a plualidade dos persons- ‘ens, como a ligiea da etnologia supée a pluralidads das Sociedsdes,e, em ambos os eos, cea plralidade € ined Live Bidentidsde, Assim, Joseph K. no Processo no € nem ‘otulmeateeulpade nem totalmente inovent, Assim, na Mon ‘anha Mégica, de Thomas Mat, 0 pensiondrios do Berghof fio detim 2 verdade dos habitantes ds “plaice”, © Hane Castp aio & 2 medida de Settembrini. O memo se dé para Zeno em relapio a Augusta, na Consiénela de Zeno, 4e Seva, para Leopold Blum em relagéo 8 "gente de Dut bin, em Cllsss, de Joye, para o narrador de. Em busca io tempo perdido em relagso ace Verdun, ce? pel ign Sattar tad neque ete’ Go Gute rent ame em laos Bra) apo sn, Ors, en abordagem ¢ de modo slgum ints) & da etnologia, Pode ser apreen- ide da forma mais préxima possivel nos tabathos de um ttnélogo como Oscar Lewis. Em Os Filhas de Sénchez, pat icularmente, no somes mais confrontados com os mond- els do observador do observado,alternadamente fos como 0s tnicos pos dx obiervasio, mas aos tlhares erusador (convergentes, divergenter) de uma mesme Familia mexicana Em sume, esses exemplos bastam, me parece, pra fa zeros compreender gue no romance tanto quante Ma etn: logia remunciase A idia de que a realidad possa ser apreen didn ‘em si, mas, mais modesamente, sempre partir de lum certo ponto de vista. Em ambos os eases, part 0 end logo, coma pare 0 romanciste, colocase 0 problems dos Tiites que se deve impor ao ola. Ou see, o ponte de vista csforcase em ser total, sem nunca ser absoluto. Essa aborda ‘em, delberadamente perspectvita, € portant claramente ‘itt Sneed or st como Sent, Fer, Jone Si'opape rte» mpl dr ne dy fae “2. resin ev comer) natamar de ea ne ‘lode cam sn fungi «ss cao wi, comeponie& dca opi Aino ce ono 0 tr mene. © pevieo i le | re % ‘és do um convo ariduo © de oma verdaeia mpeg Ny Go pores ebjto, Tete de ntrptar a souedade et Side lian modos de penamenio de sociedad dxandose, por sim dz, naturaiar por el. O ae no {em reamene nada de um exesco nlc, poi como Ait Georges Ealanir # espet dn Ac, cones 9a Ae vole pelo pare 0 Ociente" A abordgem dum ean Rosey de om Mice! Ler que exrva emu di Hovde minor “eu prefers ser poido etude oF PO" {sid ov de um Ropsr Basic, parsome parce mente repesetatve diss tude, Roger Bese ere po exon 8, AS TENSOES CONSTITUTIVAS DA PRATICA ANTROPOLOGICA | "Eu abordava o candomblé com uma mentalidade 3 roldada por tr séculoe de cartesianismo. Devis det Xarme penetrar por uma cultura que nao era minha Devia portanto conveterme a uma outra mentalidade ‘A pesquita ceniieaexigia de mim a passagem prévia pelo tual Se iniciagHo” contramos no conjunto do campo antopolgico um [certo nimero de tenses importantes, opondo a eniversal- | Tae eae iferengas, + compreenso “por dentro” © a com> preensio “por fra", 0 ponto de vist do mesmo € © ponto evista ds outros. Mas esas tenses slo verdaderamen (te consittivas da propria prea da antopoogs. Esta |itima 6 comesa a exiir a patie do momento em que o pesqulsador se entrega # um confrono ene esses divers Termos, vive dena de si esas tenes, feqdentemente po- lemicas eforgse em pensélas dar conta dels. Corea tivamenie, pareseme que = antopologia tem todas as chan- es deenganrse er orn impasse, emu desvo em tlagio fe modo de conhecimento que persue. tode vez que UM dos pos em questio domina © out. Re sie te eno nk oe the revelam que ¢ filho de Xang6, deus do trovio dos mas i tu an sau oe my org sere Tete ov 'S nono we. 0 pega it f west eue demo, da eect,» ore ‘io? da cones (elo menor mtogliie), © qe po tos tr co os raklhos dor fandadores de nos ct | Pins comessndo poe Lenka e Griule—~ seo tier plo) @ Irene encontrado aay. Mar pasado tempo da imprepssi, cig inch vetmene para o indlogs 0 du dina, poi € prio de Tnpemens¢ pride de Hnganges cal essaré ese prime! © DENTRO E 0 FORA 1. no sentido de uma separagio. Esobretudo, a intligibiidade Uma pulsagio bastante expecta ritma 0 trabalho de i procurada nio consite apenas em compreender uma sce todo etnSlopo. © primeira tempo & o da aprendizagem atra- 1 fide da frm ca etre Soca ven, ms tam | an oe Kn, sched em entader oq I apa «a pode f ies exeapar. De fato, © que viver os membros de ‘ume s(/determinads sociedad nfo podera ser compreendido situa |)" dose apenas dena dessa Sociedade. olhar distancido, to ( vy \y gf enterion diferente, do estan, € inclusive «condqso ae fg | pone stomped pean gee capa sy 5 Sots Te: Ao entree com's qe tent pala) SASS eadsostgretsatpavalSaaur assckapa on aoe MV 94/6" hes parca fain. 4) ‘Convém portanto insstir aqui sobre « opacidade das © ccnatgins soci, Paresenos de fata, gue, de'um deter nado ponto de visa, os camponeses de Cevennes so oF ior stuados para compreender os camponeses de Cevenne, © 0s pofestores de filsoia para compreender os professors de filowofia, ov ainda, of franceses para compreender os Frances; pols s signiiceges produzidas nao residem ape- fs maglle que uma cults ou microcultura afcma, mas fagullo que nto diz. Nenhuma sciedade & de foto perf tamente trneparente& st mesma, nenhums escepa do cust armatihas consientes. Cada gropo humano, como também cada individuo, fore # si prprio e aos outros racional agdes de suas condutes, que consstem em modelos cons ientes que 0 etnélogo nio deve corer e adapta, nem tontomar ¢ exorcisar, sim anaisar ‘Assim, 0 ico do primeiro momento (habitualmente dssignado pele expresso "compreensfo por dentro") 6, see ‘ua participa cepa e uma “empatia” que nso 9 conse fue eis controler, st 8 reanecigdo, em termoe erultos ‘2a forma de una redundica, do que foi expresso, por exemple, pelo camponés ou pelo opertrio em temos popu: fares, Algons etnélogos tm tendéncia a supervalovizar 0 Aiscurso do auto, ito 6, ¢ abandonar um modelo de pene ‘mento. por outro. Mas em tais condieées, como diz Mare nee! oe er eS ae eG Augt 1979), "o etnloo gue tentne compreender on eto ov bors e-explceo de dent, ro sie mas Sin edge sim om torr” (ica iver pode arent csi do seaun- do momento do proceno (a compreenste defor"), Quer {bo ducunosobe o cao fnde sdominat 0 dscuso do So. deereretubnimente em am. dscaro 2 revela {ose pends onruir na mrte do outro (6 mer caer itegses, ©. pardone, merce ser sinha. Enguunto nos profiad elo ei que comecemos {ods peau pla aprenivager dn madi por una mupr cla cu at por oma “conversi",dekandonos {inure aclurer come eiangs, nome prodares ead fa trminem guns sempre trpando a ous Scie conforms 1 itligibicade qu organiza & nos O rs So apreiel, €e eres careando conc hice tue, de socedade em eine, con + oa Go de sempre poranest com + tina panera Se #00 | Tiga conseguir cuerar a ldelgin dn ieaizaco sores) da foso ed condo, pareceme que néo deve se Pa fetter ao etauto eocéntico Ga rasonlidadeocdetal oe € pena une fora de lgn ene fans us LeviStruse compara froientemente aropolg & economia, Qala a primera de “astonomia dat, Shas cia” zd elarantrpolgico qe € wm “thar Gt ceonome' Bs proximiade dese oat sobre soc ds Tongngus qos permite notacament qu © pesquisa fe wala sun propa sockead, pons thle didn Ee carter inrospico de tn abordagem que fond Ientaparedualnente a ntoenntlspen det bot {gm Erste do, ue condo apaente nese lb rosimo do longings ques como nla fongague AD primo; mus coe conrad, todo etlogo « acon ce rele neon umn cena vida Em sna, PaeCoo8 QUE i eso entre pooner, as sobre, em am me Xin Le ve smo pesquisador entre a stuagdo de outsider © de insider gue € 2 propria defini Tus Vontade’ de “poder pens ¢ sentir altemadamente como (on sslagem © como um europea” (E. Evans Pritchard, 1969) ~—¢ consitutiva de nossa. profissio. Como eserevie, hi meis de un século, Tylor, um dos primeios anropSlogs: a “exe una epi de ron ag da qual € Qe preciso eater pore simpetizar com ait, © além da fat @ pee ar pre erodcl. Temos sre de Sher peo dese Taba fonlige © paler pat Hyp | Sra nae [A UNIDADE E A PLURALIDADE Fant aniopolga 4 satan dues extondndes & yf ets as re for y mas |, extenio © anexagio do outto, redurido » mers figura do mnesno. & aotadamente 0 easo do evolucionismo que disso! tea alteridade na unidade, pois, comm vimos, 0 “primitive” lo € visto como sendo realmente diferente de nds, Encasna forma soil ltrapasada do que fomos outrora,« é util ado come a iustagio de uin processo Gnico que sempre 2 Lamba, por xen, Malina no ino an aa 1 irr Time (5) peg ame ks conduz so idénico. Mas ex tndncia da peter anton fegica atv tmbimn em abordagens qe, no entano,apese. famse como radlimente opts. E, por exempo, till, encontrar uma contadico, na obra de Malinowski, ente | de um lado a experéacia pesos! do observador, que | tsforga em dar conte da especfcdadeiredutivel dos ins Incr tebrindees,e a convict do terio que, no fina de su vida, refete sobre furcionamento da humanidad) em gers, pot considera que, finalmente, os homens sf em \ tous parte os mesmos, A abordagem to exgente do ens tale, que evdeoca es dilerengas que obeerva, trina dis. \b! folvendove no dogmatisno vitro da Fangio. Compreen ‘demos, dent deme quire, o quesonsmento de nosa discipling, que ve expresa notadamente pela vor os inte Tectia do "tercero mundo (ct. porexemplo Fanon, 1952, Baldwin, 1972, Adotevi, 1972) pedindo o fim da antopo Toga, este monlogs fragile do Osidenteconsigo mesmo, no sl Goin raionalidade presente esaria confer por tm rut tivo & um objet paso Essa scumgdo segundo a qual © conhecimento dos outros etrinredido 30 Seber verdadeio por umn obser Nador postuinds infalivelmente a verdade do obsevado, © procurando menos 0 adventa com os oatros dauil que Pensava, do que a verificagio sobre ot outros daqulo que Pencavs, coca um problems esencla a nia cena € cidenal? e 4 antropologa teria apenas uma modalidade do conhesimento por objelivagio? Nowa disiplina — plo menos fal como a concebo — aspire a uma forma de ricio nalidade que nig & a dss clncias soca, tals como 2 eco roma, socalopia ov »demografia, as quas “estam sem retecia”, como dic Lévi Strauss, "estabelcerse_ dentro Inetmo de tts soiedades”. F, por out lado, embora no {irae de citncies, no sentido oriental do termo, existe. tm otras cultures, formas de conhesimento caja légca n60, tem realmente nada a invejar da noss: por exempo, a gre Wy Vv — wy he \ we) mia indians, 0: “sabes sobre © corp” sans, on Sn eis tos a one or entra bu sorgnsteralane,ho compe qos peseomne ‘fos Ocean, par conprnndb an, afl pert or rent A as meus modern fa Roce Shinor coneotsoe aos fetam » ape vos BS Dear ome go dome cane ane scale decane Nara alco ws cos Yom on age Satcyentnn) o1 dverdaie dos once A pec ene [eegincs poo, onaltrs tod une earns, qe eco tm de sat prsar exper ex Mange oy cost lease cee lecens cenit ease ss | pena) mre emesis er septal € Sine do ve em comico lecr lenceetinaier see) Oger J eee sant egies Viele sxintite a wise cave 0 cisersior #0 cera tminoio gue uns cine era ponds lend ‘u duinadamete todas 6s outs, ¢t atc, omit exo peek ceca sal coca Ba oie lie ces oes tras conte ea tie enviar popetonarte spade 8 dex Agia eH mie crtras lca ae tected Sento mals hinnn gs potwanos qualita de “case fie mane” cm lalimor de "medkiea mana", veseo. {luo coxmopoino, a reabliaraKenade repos {cs pr exemple, PY” Hela 1973) Opsose eto rat Ge Cauca ds mcao tadeaime Vee nega Se euuiieatare Gain nent aaa arate eceicct te vige | see Tide po aes dos cduns nfo evttr rede, roa ‘eso pes pensmen teri, Diao decors oposo é ee ao Cotes 96, Cer (0, Dele), sos préprios concstes de homens © de antopotega, aos ‘quae ee profere de povo (no plural) e de etolog Procoremos anaisar as implicacSes de tal atnude, 1) Em prioleo lugar, « inguitude que demonstram esses autores com respeto # uma homogensizagio, pelo Oci- dente das diferentes culturas do mundo, me parece pouco fundamentads. De Volta de uma missio cientfica no Nor deste do Brasil, posto relatar o seguinte: ums popslasio onstituida em sua miioria de descendentes de europeus, & ‘onfrontada hoje a uma conjuntura econémica inernacio- pal que Ihe € eminentemente desfavorsve, sute eiar for tas de socibilidede plenamente erginis, encontrvels no menor comportament da vida cotdiana, e que alo se dl ‘am de forms alguma altear pelos modslos culturis vigen- tes em Paris, Londres ou Chicago. Sabemos de fato que, Qquanto_mais uma sociedade tende a uniformizarse. mais fende simulteneamente.a diversificarse, Assim, por exem ‘que it levar & unifieagto da tnd foi scompanhs Wamente de uma diisto da socie dade em casts. Da mesma forma, foi a influtncia, que parece exclusivemente niveladors, da revlugio industriel {o séoulo XVIII que permit a radieaizasSo dos diferentes cesatutos entre 06 grupos (es classes socials). Mas ume vez, © Brasil contemporineo me parece patcularmente revelador ‘ease respeitoe nos leva anda mus adlnt. A culture popu: Tar nfo 6 resist notavelmente & eultora dominane, como também, (requentemente, conegue se impor esta, de uma rmaneia dfkilmente imaginével no Osidete. Aguile que Ba tide comegava a note, tina ance ats, ao estua os culos rocbraslers, acentuouse © eonfiemouse, Encontel pe Soalmente membros dae classes superires da socedade b Tei que, no decorer das ceviménias de umbands, so suces- sivamente "possuidos” pelos expiritos das divindades, dos Indios e dos encestrale afrieanos do tempo da esravido, Gra, ese fendmeno pode ser melhor apreendido, nfo nas | xB ons Ho) Oites mai etre em relatos desnvlvinent ent jk tt cs Nerv, oo Re amo en Oat cet ue hs pimcon mop a y \Atiais do mundo, en yA Mite x qu 0 once 6 milo ory So ‘Jae, 2 teas Novo Mande ¢ i no indo, RYscPes ato rata pence, mean 2 owe po ah Sloe dete ab} e dlrs choke gor “A rcpara de 6s. partcipa dem etncentciano invetido que (Bian de Paw on Hel ae, Toran ced vges ho olde ioe se Stade tren "um eu mundo trl” ee nae ura enc ds ssn, © ee sede rol vlan pot on aaa repent 6 na wo gil nor woxame © emme erespaigee, nt nem nds seaues oli Beetle om 3) Esa celebrasbo 2 pe ¢ do convivi dos Geta aa flan taco cou fees ove de coe truco de umn sltridade féntatmsics que se faz passar por Teslidade. O alvcano, q/ndio, o breio... s80 mobiizados tmsis uma ver como spores do imaginério do ocidental frilo. como objete-pfetextoutlizado aqui com vistas 10 protesto moral, como pode sélo com vsts 8 emogSo est fice ou a miltdncia politica, E cotelativamente dessa vez, aivavés dessa deoltelogia do olhae {qual cabo inclusive perdendo-e, pois ohese par sl mesmo nivo do espelho db outro —, aquele gue esté submetido ‘um proceso de dominagso ¢ humilhacdo aio € mais 0 twutro Gadismo), © sim st proprio e sua propia socedade iasoguismo}. A excelente imagem que se deve ter dos tuts acompanha-se de fato da mi imagem que se tem de Si(el» por exemplo, Jean Monod, 1972, que se acuss de Serum “reo eanibal). Ow ses, hé uma recuse de assumie She propria Mentidede, o que tom como corolsio a culpa cou a difamagio da ocidenalidade Bm suma, tudo se passe coma se ene protest indignado — ofato de querer devolver sua dignidade aos outros — devesse pasar ineutavelmente pot um proceso consstindo em acusarse a si proprio de Indignidade. *#) A idéia de que 0s que visam compreenderracional- ‘mente ¢ alteridade estarlam se comportando praticamentc ‘como Cortés com os Astess, enquanto que, indo até o fim da ruptura com o Ocidente, se podevi tlvezchegar, através ‘de um conhecimento por assim dizer amoroso, @ coinciir fom a verdadeiranaturezs do outro, enquandrese mais em tuma experiéniarligiss, que frie do etndlogo um inciado fou um eleto, do que na ciénca. E além disso, tudo nos impele — ne esteira dosa pareantropoogla que idence 4 abordagem do pesqusador com o ponto de vite dos pri pros atores, que afirma que € presto ser originitio de ‘os cultura pare compreandéla realmente — 8 ficar em casa, ' permanccer ene s- Apenas 0 indo (e, a rigor, equcle que fe tomar teu sdepio) & capaz de compreender 0 indio. Ape: fas o bretio € caper de fear correlamente © bretio. Apenas 0 proetrio pode saber o que é classe operivia, Apenas 2 mulher esté em condigGee de compreeader a mulher. Té passamos por isto, Como voce, que ndo & médic, se atreve {faler de medicina? Deixe » medicina aos médicos, a rel {ido aos cree, 0 proletariado aos protetéros, a Bretnhe foe bret. Se levrmos ald suas extemas consegddncas esse prin: cipio de nfodistnciagdo © ndomediagSo, devemos nos tor har membro efetvo da sociedade que pretendlamos estdar ‘Mas entdo,nio strata aie de esta, esi de adoté la, sn ry Tam (Sandee eats Moa ova oral) oo ede oe aes ‘adn pana ep onde ewer ‘i ee i 2 manera desis aventrsioe normandes, enconteados por Ly, que haviam navfragndo na cotta meridional do Breil } « tinhame tornado selvagens no cantata desas populaées, i ‘adotando sua lingua, suas mulheres, seus costumes, Por todas esas raaies, a0 insist tanto sobre o carter iredutvel das dlierengas, essa tendéncia da etnlogiaexcluise por si mes: ima, a meu ver, de uma abordagem de pequisecietics, ‘Acabamos de ver que a uma forme de universalidade ue tende para a redusio do outro so ocidentalisme (0 dog rmatsmo de uma natureza ou de uma eatéaca humane sem pre idénsiea a si mesma) responde uma forma de major ‘io da alteridade (0 dogmatismo da tlatividade de exlturas hreteropéneasjustapostas). NSo é fi, evidentememt, segu rar as doasextrmidades da cadea, ito 6, 0 agesso b com nso do ou por sie & compreentio de si pelo outro. SET dente far com se 4 eu er um eo, 1 antropologa’ nos engsja porém nessa sventure que nos tnsina que néo se deve identifica intaralmente congo ‘mesmo, © outro € uma figura pssivel de mim, como ex dele, Esse descentramento mito do obserador « do obser vado nfo pode mais ser, no final desea experici, 0 sujelto transcendental do humanism. Mas nem por isso‘ ident- dades de uns e outros ero aboldas, passam a ser apreen- didas do interior mesme de sue diferega, isto é, 4 partir de ua roast. ¥F0 conensro £ 0 aastearo aetna, aes ie renee ts cae YP, [eo dese oberaio, ose preferinaen, do ea edo cos XQ | A incomprsnso ene! os gue enfin unidade bay fundamen da etre © os Qvepivilgm a divesdde ‘supostamente iredutvel, das cultura, desorre do fato de 4 nfo not situamos, nos dois eatos, no mesmo nivel de Invetigasto do socal A tomada ein consideragio da vare- dade cultural me leva a perceber que pertengo uma eultra entre muitas outas, mas o meu olhsr atémse & observ da realidade empiric. Pelo contri, a andlise da veriabi- Tidade cultural evidenca © que alo vejo dtetamente quando paso de ume cultura para outa, mas me permite pereber que pertengo a ume figura particular da cultura. De um Ido, portano, a preocupasio do conereto, de outro, 2 ex saci, para dar cota deste, da construgio cientfics. Vaivém ff mev ver Ininerrapto que pode ser iustrado, por exemplo, ‘elo formalsma lico de wm Lévi-Strauss, qual ago deve, porém, nos deixar esguscer a especificidade por assim dizer fatnal desea Amésie fadia dos Nhambiquaras de que tant gotta 0 autor de Tries Tedpicos. 1) O primeizo sco, que es qualificaria de tentaro) emplrca, vem da sibmiso. AS 20 campo, do repsto| fieiiamente pasivo des “fats”, que dé ao observador ai" \ oy impressio de sitearse do lado das coisas, de estar junto) dels. Y Bsn supe frente aberasfo © & toi parece me eviinmente egies A min,» poo, a erature, © intra a gto sbrdages mato mas indiatas for a attopologia pars os fazer clncidr com os sre Fropoionsmacs,icntesivelmete mais eogSey, mat recess Mas aio slo's antopologa, NiO i, do ici nem aividede cries nem mean clea de {te Sem tori. A rej deta tina leva inchs lnevitas: mene a adotareterin do s00 comum, « “opiniiO”, # HMeologia do momento, a qe ever vigente_masolede {ur esua cu gol patencemon.O tbalo do at one om flograar, raat, anlar, mas om esr gone ho orifices, et do pte esa pr dl), ex Bosca uma compres das Stredades nutans Os tj, ntase de ue aide cl mene fron de contrupdo dum bila gue oh exe I ralidade, nas que 36 pode ser empreendida a partic da U; obsrvagto desma reaidade conerata, realizads por n6s NA ig Ye 2) 0 segundo rico pode ser qualificado de tenasto idealists (ou nominalista). Siturmornos dessa vez do lado ‘Ge pelavras (ou do lado dos dmeres), mas fomanrse endo (© polevras por coisas, No término do erpreendiment® de ‘Fotetizagio que trensorme fendmenos emplricos em obje- {oe clentficon aabese tomando a consirupio do objeto pela Dréprie redldade social. Ora, a populagio que estudamos go nes erperou para atcibue sigificagtes a suas pitas Por out lado, ums teoria clenifica munca 6 o reflexo do eal, sim uma consrugSo do real. Os fats etnogrticos tos ccntiieamente consteudos, partir de nosas obser ages, tas também contra nossas observagSes, noses in- presses, as interpetagSes dos interessados © nossas propria Tmterpreagées espontiness. Existe portanto uma inedequs fo entre, de um lado, « residade socal extudada, que nfo {nem espotada nem eagotdvel pela etnologa,e de outro, © tbjeto que construimos a partir de uma determinada opsso ‘iciplinare trea, e da nossa prépria rela com 0 psco- Vein © 0 social © paradoxo, mas também a expeifcidade da antopo: togia no campo éas citneine coca, € que nfo sendo “s ‘Gein socials do ponto de vista 60 observador” (€ asim {que LéviStraiss define a socoloia) também nfo é a cién a social do pont de vista do abservado,e sim uma prét- fen que surge em seu limite, ou melhor, em sua inerexso. Podemos reduzit & inadequagio ene 0s dols pensementos de que scabanos de falar, radvzindoa em uma outre lin ftusgen. Por exemplo, quando um mimero considerével de Individvos que compSem a sociedade brasileira tende a inter- pretar suas difeuldades (socal, psicoligca, bolégicas) em rms rligiaos,podemes dizer que se trata de “lusio", de ‘projerlo", de "dslocamento” ideal de uma realidade mals “fundamental”. Da mesma forma, quando 0 pensamento teadicional classifica ss cosas sopundo categoria césmicas (@ gun, 0 ar, a tera, 0 fogo), podemos dizer que realize ‘ublimagtes” cujes "verdadetras” razses sho kicio-econd- rica. Podewsos também compreender essa adequaio ara ‘és de um confront ininterupto e de uma artculagio entre © pentado e 0 impensado, © dito € 0 nfodito, 0 manifesto (de minha © da outa sociedade) e 0 realeado (dle minha ce da outa Sociedade). Aguas exemplos vio permitir mostrar que um certo mero de condutas, observdveis em outro lugar, s80 cap tes de agit como reveladores de aspectos culturaisinteios, cuidedosomente dssimulados em nossa cultura, o que per tite afirmar, com Goorgee Devereux, que o inconsient de fume coltera pode ser encontrada no consciente de uma "Nostos sistemas de representasso, em matéria de doen sho hoje em grande parte exorcsicos: a doeaca € cons ‘erada como um mal que deve ser esmagedo,¢ os sintoms, ‘como uma calamidade a er eliminada; 0 qu traga as figs tas, bem contecidas entre née, do doente-viima € do mil osxotesta, Mas ar reprsenagSesinveras,chamadss “ador- ‘leis e que correspondem 8 duas figuras do médicoouco do pacienteorécul, nem por isso estio ausente, Estéo simplesmente recalcadas, e toram-e manifestas se passar- mos de uma cultura para outra (os exorcsts thonga 20s xamds shongai), ov de uma cultura para ela mesma no tm po (da nossa psigulatiaclssica para a corrente que quli- fica at propria de “anspsiqulavia", que no produz real- rente algo novo, mas reatualiza antes algo recaledo). ‘Da mesma forma, 0 cultos de possesio afro-braslel- tos, tals como of estou estudando neste momento em uma frande cidade do Nordese, podem ser utlizados como reve adores da abordegem antipsiquidtica inglesa — e part culsmente de Laing — que expressa 20 nivel do discurso ‘9 que or brasilerosrelizam s0 nivel do corpo. Pderiamot ais multpicar o¢ exempos, e mostrar ‘que 0 proceso, conhecido dos psicossoisloges, da exclusto fm um grupo gue se quer hemogéneo, tome particular mente claro e “desoeltado” quando nos referimos:2 fet {aria que é uma regulaio social esruturalmente universal, De tudo isto, resulta que o objetivo da einlogin nfo ¢ 0 de traduzt a alteridade tos modes do que 6, para minha ‘eciedade,conhecido « correto (0 que equivalerie nsuprinir fs aleridade); pem o de estender a racionaldade 4 i ‘menses do univers, nos modos missionrios ou messni- 0s da conguista (pos essa racionalidade ¢ provinclana, isto 4, limtada no espage © no tempo), A etnologs, elo’ con two, abre essa estreiteza monocultural. Eno entanto, para aque © proprio empresndimento que caacterizn nos pling, Rio spones como experincie © como aventura, mas omo cinci, sea posivl, algo deste pensamento ocidentl terd sido utilizado tomo medisdor e como instrumento: nfo tama cultura (a nossa) que servira de referencal absoluto © daria sentido ¢ fendmenos que inicalmente no tinham, € ‘im um método, ocidenal, € claro, pela sus origem histé- cae cultutl, mas que subvert a racioalidade ccidental* Dito iso, 2 Iipca das condutas ¢ das instuig6es que © tnélogo procuraevidenciar também nfo se confunde cont os sistemas: de interpretagdes sutéctones, com os modelos consents, “fetes em css” (LéviStraus), com os gte- ros que séo clasiiagtes indigenas explicts. Sistemas de Interpetages auttones, modelos conseentese gener sf0 4 Sl be cine nts on asm Oe ‘tom Vie specie © excavemete vince Sea seco ER See dt sea in om eer, ae ota son perl tera frequentemente dformagies © racionalizages de estruturas ‘nconsientes (que fornecem no ntanto posibilidades de sces- soa esas timas),e este € o nivel de iteligiilidade que a Sntropologia pretende alcangar: nfo 0 conscintc, mas o fnconsiente em sua relagio com o consent, 0 tipo em sa rlagdo com o gEneo, ete. CConeluremos exes reflexes com as observages sequin: tes, At prions cimbices eos discusosvivdos (que podem fer slatematizados em qualquer lugar, pois cada sociedade tem seus prdprios eros) so interpretados pela antro- ja segundo a manera como su ators Socais os Yivem, em segundo mancira com a qual os observado- res oc pereber. Iso nfo sigifica que © antopélogo seja f homem de nenhum luge, © que s antopologiaseja uma ‘nctlinguagem, © canhesimento antropoléico surge do en Contr, nio apenas de dois dicutsos explicit, mas de dois inconscients em esplho, que esplham uma imagem defor tmada, £ 0 diacureo sobre a diferensa (e sobre mina dife- Tega) bateado em uma prtica da diferenga que trabalhs tobe os limites e as Frontera, “Tememes 0 exemplo de uma condute que nto ¢ mins, como e fiir, que perience sea a uma “matric prim: fia de uma socedade ovr, sea a um segment marginal uma sociedade minha, Seu significado antropoligico 36 pode ser apreendido relacionando-a agullo que para fociedade tem um sentido, ou Sgullo que a pritica ©. 8 Topica da feiiaria dizem por si mesmas, nos gestos dis- cursos dos inferesados, mas na sua ungdo e na sus inter scsi. [Ness civo espcifica, a‘reslidade, para © antrop6log, comsitrse do confronto ‘de dois discursos inerprettivas {que se juntam, e contituem, 0 primeio, a relidade norms: Tizante do discureo “ervdito” (do psiquiats, do padre, do ‘profesor primério,.), © segundo, a realkdage afucineda © ‘Eesviante, as que € tambéon a expresso de uma realidad ian portant, 98 comeja # edquirir um ‘eniatuto cientifico partir do momento em que Integr, para Gillatio, exe envolvimento do pesquisador (ao mesmo fem po prceaftivo « edclohistéice) as voltas com a difeenca TResuniremos de aeguinte forma ea ambigtidads ess tensio (que slut evidetemente muito mals no estudo dos Snemas de epnesentagGes e valores do que da cultura ma tera), No posto ser a0 mesmo tempo eu mesmo e um outro, no entant, pare ser totalmente cu, eu devo também sai de mim a fim de aproender ums figura recalada, mas pos ‘et de mim. Nio poss situarme simoltencamente deizo © fore de minha sociedade, © no entanto, para compreender rinks sociedade no que sunca diz de sl propria por ave fo o percebe, devo fazer a expeciéncia de uma descentre- fo radia. Finalmente es stividede continua interrogendo-me na pripriaatividade pela qual contribuo a Tabrieéla como sbjeto lent, [A separagto teolégica, filesfie, e depois eentifica, do ‘homem e da natrezs (especialmente os animals, mas também nossa tnimalidade), do homem e de seu semelhante, a sepa ragio do suitto e do objeto, do sensivel e do intligive, Consitem 0s termoe de ums tensio que, a meu ver, no fdmite reolugdo em uma unidade superior como em. Hegel ses trmor,« nfo ser em uma slunio fisilégica, formam ‘uma complementardade conflitual, mas nfo uma “diaitica", ‘onceito para 0 qual se apela (na verdad, cada vez menes) fquando se procure uma reels, ume tégua possive, © que tem, como diz Jean Grenier, “uma vitude mages inflivel” ‘Sto as diferentes dosagens realizadas, as diferentes com! ‘gies obtdas ene uma compreeasio “por dentro” © uma compreensio "por fora" ene a alteridade e a identidade, 4 diferenca e & unidade, « subjtvidade e a objetividade {as também a sncronia ea diacronis, etutur eo evento) que comandam 0 pluralismo antropoligico, mas também a= incompreensdes, ou mesmo at discordincias entre-entops logos. Se, por exemplo, minimizo alterdade cultural, erie. come a reiliza uma aividade de descodificacio, isto &,d& ttanscrigfo de um disurso em outro. Mas 20 superestinar cas alleridade (ponto de vista do cultralismo),torno tot mente impossvetc impensvel aqilo que precisamente fun ements © projte antropologico: « comunicaedo dos saree (eae cultura, ‘A aporta da antropoogia¢ prcismente a de vver esse movimento ininterruplo. Néo_pretendo pesscalmente tho onseguido profssionalimente. Digo apenas que tentei esa txperincia, Ese empreendimento, por mais exigente echeio fe ermatihas que sje, nBo tem nada de imposivel, Roger Bastde entendeu de dentro o que chamave de “peneamento obscure © confaso” dos simbolos,e, mais que qualquer um, fmpenhou-se no pensamento “claro ¢distinto” dos conceit. “Totalmente intgrado ao candomblé brasileiro, ele foi toal> mente antropslog. 'A firagio sobre umm polo em detimento de outro, @ rejelgdo desss tenses que constitvem contadigées esti: Tadotae, at soles de mcioterme e de compromissolevam inelutavelmente seabar com a espesficidede de nossa dis ciplina — que ccups um lugar todo particular na cigacias hhumanas — © 2 todas a5 espécies de desvios ideolégios Demonstrem a recuse ou a imposibilidade de eafrentar a5 ificudades (que sbo também chances a ser aproveitadas © ‘exploradst) inerents bpedticas da antropoogl Fortlese (Basi), setombro de 1984 yon abil de 1985

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