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Escola EB.

2/3 de Moncarapacho

Biblioteca Escolar Dr. José


Fernandes Mascarenhas

Poesia de António Aleixo

Biblioteca Escolar Dr. José Fernandes Mascarenhas


21 de Março, Dia Mundial da Poesia

Biblioteca Escolar Dr. José Fernandes Mascarenhas


Poesias de António Aleixo
O poeta António Aleixo, cauteleiro e pastor de rebanhos, cantor popular
de feira em feira, pelas redondezas de Loulé ( Algarve - Portugal ) é um
caso singular, bem digno de atenção de quantos se interessam pela poesia.

Nasceu em Vila Real de Santo António a 18 de Fevereiro de 1899 e


faleceu em Loulé a 16 de Novembro de 1949.

Não sendo totalmente analfabeto, sabe ler e leu meia dúzia de bons livros
- não é porém capaz de escrever com correcção e a sua preparação
intelectual não lhe deu qualificação para poder ser considerado um poeta
culto. Mas ficou sendo conhecido por o maior poeta popular ( O poeta do
povo )

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Poesias de António Aleixo

Vós que lá do vosso Império


prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
qu'rer um Mundo novo a sério

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Poesias de António Aleixo

Que importa perder a vida


em luta contra a traição,
se a razão mesmo vencida,
não deixa de ser razão

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Poesias de António Aleixo

Uma mosca sem valor


Poisa c'o a mesma alegria
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria.

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Poesias de António Aleixo

P'ra mentira ser segura


e atingir profundidade
tem de trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.

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Poesias de António Aleixo

São parvos, não rias deles,


deixa-os ser, que não são sós:
Às vezes rimos daqueles,
que valem mais do que nós.

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Poesias de António Aleixo

Julgando um dever cumprir,


Sem descer no meu critério,
Digo verdades a rir
Aos que me mentem a sério!

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Poesias de António Aleixo

Há luta por mil doutrinas.


Se querem que o mundo ande,
Façam das mil pequeninas
Uma só doutrina grande.

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Poesias de António Aleixo

Sei que pareço um ladrão...


mas há muitos que eu conheço
que, sem parecer o que são,
são aquilo que eu pareço. 

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Poesias de António Aleixo

Sem que discurso eu pedisse,


ele falou, e eu escutei.
Gostei do que ele não disse;
do que disse não gostei. 

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Poesias de António Aleixo

Morre o rico, dobram sinos;


Morre o pobre, não há dobres...
Que Deus é esse dos padres,
Que não faz caso dos pobres?

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Poesias de António Aleixo

O mundo só pode ser


melhor do que até aqui,
quando consigas fazer
mais p'los outros que por tí!  

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Poesias de António Aleixo

Veste bem, já reparaste?


mas ele próprio ignora
que, por dentro, é um contraste
com o que mostra por fora.

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Poesias de António Aleixo

Eu não sei porque razão


certos homens, a meu ver,
quanto mais pequenos são
maiores querem parecer.  

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Poesias de António Aleixo

Nas quadras que a gente vê,


quase sempre o mais bonito
está guardado pr'a quem lê
o que lá não está escrito.  

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Poesias de António Aleixo

Vemos gente bem vestida,


No aspecto desassombrada;
São tudo ilusões da vida,
Tudo é miséria dourada.

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Os novos que se envaidecem
Pelo muito que querem ser
São frutos bons que apodrecem
Mal começam a nascer.  

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Poesias de António Aleixo

Para triunfar depressa


cala contigo o que vejas
finge que não te interessa
aquilo que mais desejas.

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Poesias de António Aleixo

Os que bons conselhos dão


ás vezes fazem-me rir
por ver que eles mesmos, são
incapazes de os seguir.

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Poesias de António Aleixo

Em não tenho vistas largas


Nem grande sabedoria
Mas dão-me as horas amargas
Lições de Filosofia.

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Poesias de António Aleixo

Quem nada tem, nada come;


E ao pé de quem tem de comer,
Se alguém disser que tem fome,
Comete um crime, sem querer.

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Poesias de António Aleixo

A quadra tem pouco espaço


Mas eu fico satisfeito
Quando numa quadra faço
Alguma coisa com jeito.

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Poesias de António Aleixo

Mentiu com habilidade,


fez quantas mentiras quis,
Agora fala verdade,
ninguém crê no que ele diz.

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Poesias de António Aleixo

É fácil a qualquer cão


Tirar cordeiros da relva.
Tirar a presa ao leão
É difícil nesta selva.

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Poesias de António Aleixo

Quando os Homens se convençam


Que à força nada se faz,
Serão felizes os que pensam
Num mundo de amor e paz.

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Poesias de António Aleixo

Tu, que tanto prometeste


enquanto nada podias,
hoje que podes -- esqueceste
tudo o que prometias... 

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Poesias de António Aleixo

O meu merceeiro é um santo


e há quem diga que ele é mau!
Digo-lhe só: -- dou mais tanto,
já me arranja bacalhau.

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Poesias de António Aleixo

Não sou esperto nem bruto


Nem bem nem mal educado;
Sou simplesmente o produto
Do meio em que fui criado.

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Poesias de António Aleixo

Quem me vê dirá: não presta,


nem mesmo quando lhe fale,
porque ninguém traz na testa
o selo de quanto vale. 

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Poesias de António Aleixo

Muito contra o meu desejo,


sem lhe querer dizer porquê,
finjo sempre que não vejo
quem finge que me não vê...

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Poesias de António Aleixo

Diz que viver é sofrer ...


concordo. Mas não compreendo
que ninguem ouse dizer
que se aprende sofrendo.

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Poesias de António Aleixo

À guerra não ligues meia,


Porque alguns grandes da terra,
Vendo a guerra em terra alheia,
Não querem que acabe a guerra.

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Poesias de António Aleixo

Da guerra os grandes culpados


Que espalham a dor da terra,
São os menos acusados
Como culpados da guerra.

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Poesias de António Aleixo

Se os homens chegam a ver


Por que razão se consomem,
O homem deixa de ser
O lobo do outro homem.

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Poesias de António Aleixo

Quantas sedas aí vão,


quantos brancos colarinhos,
são pedacinhos de pão
roubados aos pobrezinhos!

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