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Curso de Pós Graduação “Latu senso” – Especialização em Educação

Especial para Dotados e Talentosos.


Universidade Camilo Castelo Branco – UNICASTELO

“EDUCAÇÃO ESPECIAL PARA DOTADOS E TALENTOSOS –


CONCEITOS E BASES”.

Todo o processo educativo da sociedade é voltado para atender a média da


população, que pela probabilidade, focando a capacidade: 70% da população têm
capacidade média e com uma variação de 10% abaixo e 10% acima, perfazendo uma
faixa de 90% que são considerados normais. Mas nos extremos da curva de Gauss, se
localiza uma faixa de indivíduos considerados excepcionais, num percentual de 3 a 5%,
tanto para cima como para baixo. Do lado direito da curva estão os de capacidade
elevada, que são o objeto do nosso estudo.
Definindo capacidade como poder de aprender, gerada por uma motivação
interior, levando o indivíduo a querer saber e aprender. Este aprender ocorre por
diversas vias, como diz Comb (1977) e Guenther (2005): ensino – comunicação –
imitação- vivência – observação – experimentação – reflexão – formação de conexões –
intuição ... ou seja qualquer situação onde se possa utilizar as configurações neuro-
físico- mentais já formadas para o processo aprendizagem.
No Brasil, existe um caos gerado pela terminologia e o conceito científico, para
se designar pessoas com capacidade elevadas. Vamos então recorrer ao dicionário e
pesquisar a raiz etimológica das palavras mais usadas para esta designação.
Pesquisa em dicionário:

Dotado – que recebeu dote; prendado [dote ( Do latim dos, dotis )] – Dote (dinheiro ou
propriedades, que alguém dá, espontânea e gratuitamente a uma noiva ou a uns noivos,
para acréscimo dos bens destes . Figurado: merecimento; boas qualidades; prenda.
Dotação – Ato de dotar; renda destinada à manutenção de pessoa ou corporação.

Habilidade – (Do latim habilitas ) qualidade de quem é hábil; inteligência; capacidade,


jeito, destreza; conhecimento técnico. Hábil - do latim habil. que sabe executar, que faz
bem; que faz alguma coisa com perfeição, que tem maestria.

Talento –[Do grego τάλαντον (balança)] - Aptidão natural ou habilidade; inteligência;


engenho.

1. engenho; uma habilidade especial de fazer algo - eu não tenho talento nenhum
para a música
2. uma pessoa com talento - este cantor foi descoberto num show de talentos
3. antiga unidade de massa
4. antiga moeda (grega).

Para o inglês, a palavra Talent – só tem os 2 primeiros significados.

Para o espanhol; italiano; francês: também têm a conotação de antiga unidade de massa
além das duas primeiras.

Talentoso – que tem talento; inteligente.


Pelo que se nota a priore, é a imprecisão linguística, para se definir ou
caracterizar uma conceituação científica. O que é Inteligência, como um conceito
científico? É o domínio da capacidade humana de se expressar principalmente através
da função cognitiva do cérebro localizada no córtex, hemisfério esquerdo.( Guenther,
2010 )
A partir desta conceituação vemos que a capacidade humana, é um dote
genético, podemos então caracterizar como dotado quem a traz. Assim todos os seres
humanos são Dotados, porque trazem consigo sempre uma carga genética, que
poderíamos classificá-la com mais ou menos dotação, dependendo, do foco de estudo.
Quanto à palavra HABILIDOSO ou TALENTOSO, se considerarmos as raízes
das palavras e seus significados, o mais lógico seria a utilização da palavra
HABILIDOSO. Mas, as palavras habilidade, que nos dá a ideia de desenvolvimento
relacionado à parte motora ou agilidade de pensamento, algo que possa ser treinável,
ensinável e talento poderemos relacionar a uma habilidade inata que é desenvolvida. O
grande problema de ter uma definição adequada é a língua portuguesa, com muito
sinônimos e vários significados que nela existem, dependendo da contextualização.
Estas ambiguidades deveriam ser abolidos pelo meio científico da área de psicologia,
como, adotar uma denominação e um único significado para aquela área do
conhecimento, evitaria assim estas polêmicas.
Como quando perguntaram a Schrödinger, porque não escrevia na linguagem
não-matemática a relação intrínseca da noção ‘antes e depois’ com ‘causalidade e
efeito’, já que no esquema matemático, não era tão complicada. Ele respondeu, “A
linguagem cotidiana é prejudicial, pois está de tal forma imbuída da noção de tempo -
não se pode usar um verbo sem utilizá-lo em alguma conjugação”. Nossas percepções
sensoriais declaradamente constituem nosso único conhecimento sobre as coisas. O
mundo objetivo continua sendo uma hipótese, apesar de natural.
Quando, pela lógica, chegamos aos conceitos, estes podem ser analógicos ou
analíticos. Nos conceitos analógicos há uma relação de correspondência que se dá por
meio de comparações entre universos de significação diferente. Já nos conceitos
analíticos, são usados instrumentos de análise que registram aspectos inteligíveis de
realidade, seus atributos e características.
Temos, pois, o mundo exterior, que percebemos, analisamos e interpretamos e
chegamos, então, aos conceitos. Podemos resumir isto da seguinte forma:

Mundo exterior

Percepção + memória + inteligência + linguagem

Interpretações

Conceitos

Por que citei a lógica? Porque todo o modo de vida, os valores, ou seja o
‘habitus’, como diz Pierre Bourdieu, são permeados por uma filosofia de ver o mundo, e
consequentemente a lógica que a permeia. Assim todo a construção social, foi assentada
num pensamento dual, de exclusão. Uma lógica que tem três axiomas: o primeiro de
identidade, o segundo o da contradição e o terceiro, chamado, o terceiro excluído. Toda
a nossa sociedade, esta embasada a princípio na lógica aristotélica e depois na
hegeliana, que apenas diferencia da primeira, não nos axiomas, mas na idéia de Mundo
e na dinâmica das proposições. Enquanto que em Aristóteles, o mundo é estático, para
Hegel ele passa a ser dinâmico, portanto Tese- Antítese – Síntese.
Assim, seguindo esta lógica, tudo que não é normal é excluído, portanto temos
uma grande massa da população mundial, e do Brasil, que não foge à regra: de
excluídos.
Mas com o movimento de inclusão mundial, articulado pela UNESCO, a partir
de Jomtien, Tailândia em 1990, pretende-se modificar este ‘habitus’. E o Brasil,
comprometeu-se com esta mudança. Entretanto, necessita-se perceber que a Dotação,
não segue um padrão estabelecido, para seu surgimento, numa determinada etnia, região
ou sociedade, como sendo um fator biológico é determinada pelo acaso e a necessidade.
Ao contrário, do Talento, que envolve os estímulos proporcionados pelo ambiente, pela
valoração social.
Apesar disto a deficiência no atendimento aos dotados e talentosos no Brasil vai
além do despreparo dos professores para lidar com esse tipo de aluno. A situação parece
está começando a reverter com a inclusão dos dotados e talentosos, chamados de
“superdotados”, nas prioridades da política do governo federal para a educação. Com o
objetivo de oferecer um espaço extraclasse capaz de proporcionar o desenvolvimento
dos talentos dos alunos com altas habilidades. (Utilizo a denominação legal). Além de
propiciar a Aceleração total ou parcial encurtando o tempo escolar.
Esta dotação em potencial, se não for desenvolvida, pelo ambiente e o meio escolar,
ficará no estado de latência, o que irá diferenciar do Talentoso, que seria esta
capacidade inata desenvolvida e lapidada. Poderíamos comparar com a queda d’água
natural, e a queda d’água utilizada para mover as turbinas de uma hidroelétrica. A
energia potencial é semelhante, mas a maior diferença está em sua utilização e
aproveitamento. Exemplo as Cataratas do Iguaçu e a Usina de Itaipu.
Quando se une dotação e talento, temos realmente a ação de alguém que fará a
diferença no meio social, assim Gagné(1995,2004) aponta para quatro amplos domínios
de dotação:
1- Inteligência e capacidade intelectual;
2- Criatividade e pensamento criador;
3- Capacidade sócio-afetiva;
4- Habilidades sensório-motoras.
Gagné (2008), denomina capacidade e seus domínios, Inteligência, Criatividade,
Sócio-afetivo, Sensório-motor. Porque para ele inteligência é uma ação intelectual ou
seja uma função cognitiva, que ativa um determinado campo da estrutura cerebral.
Outra problemática é a questão da INTELIGÊNCIA, pela ótica de Sternberg, “a
inteligência não é algo que com o qual você nasce: você a desenvolve. Pais e
professores podem ajudar as crianças a desenvolver sua inteligência, proporcionando-
lhes experiências que as incentivem a pensar de maneira analítica, criativa e prática. Já
Lino de Macedo (2006), afirma que em síntese, somos todos inteligentes (porque
devemos sê-lo em algum nível), todos temos de ser inteligentes. Como compreedê-la
em seu modo necessário? Porque na vida social dependemos de um eterno fluxo entre o
dar, o receber e o retribuir (Marcel Mauss) e isto é diretamente influenciado pelas
escolhas diárias, mesmo que não tenhamos consciência delas e irão determinar um tipo
de conseqüência. Para Lino de Macedo, então a inteligência é uma função que
caracteriza nossa condição geral ou particular de, como seres vivos, fazermos escolhas
que a determine ou possibilitem sua conservação e, mais que isso, sua transformação.
Para Piaget, por exemplo, são postas em estruturas qualitativamente diferentes
(sensório-motor; simbólico pré-operatório; operatório concreto e formal ou hipotético-
dedutivo).
Como foi dito anteriormente que vivemos, pensamos e escolhemos dentro de uma
construção social, embasada por um pensamento lógico, podemos dizer então neste
contexto que inteligência também se refere à lógica não apenas como disciplina ou
linguagem científica. Piaget se referia a lógica e a matemática, como construções
humanas e necessárias, elas não estão na experiência, ainda que só se possam abstrair ou
generalizar a partir delas. O ambiente impede ou favorece as escolhas e coordena as
perspectivas.
Segundo Gardner (2001), à medida que uma capacidade é valorizada por uma
cultura, ela passa a contar como uma inteligência; porém na ausência deste endosso
cultural ou de campo, a capacidade não seria considerada uma inteligência, e a
inteligência ou inteligências são sempre uma interação entre as inclinações biológicas e
as oportunidades de aprendizagem que existem em dada cultura.
Outros autores quantificam, por meio de testes, as formas e as variedades de
inteligência e a imaginam como algo predeterminado e insensível à experiência. Outros
ainda pensam a inteligência como um outro nome para as nossas necessidades e
possibilidades de aprender, sujeitas às contingências que determinam nossas
experiências, cujo contexto favorece ou perturba seu desenvolvimento em uma direção
ou outra.
A princípio Gardner subestimou o componente genético ou biológico que leva a
formação da inteligência geral ou genérica com a qual as pessoas nascem dotadas, mas
ainda não se têm idéia formada sobre essa inteligência. Para não haver confusão ele fala
de uma inteligência geral se dividi em inteligências múltiplas, que por sua vez também
se subdividem em muitas outras, que ele chamou de subinteligências. Nas suas
pesquisas dentro do Projeto Zero da Universidade de Havard, aponta três características
que diferenciam as crianças “superdotadas”, ou seja dotadas e talentosas, são a
precocidade, a insistência em fazer as coisas a seu modo e o que chamam de ‘fúria por
dominar’. Guenther (2010) deixa bem claro que nem sempre a precocidade em tenra
idade significa dotação e talento.
Pelo que podemos inferir o termo inteligência apresenta enorme complexidade.
Há quem pense (Izquierdo, 2003) que o termo não dá mais conta dessa complexidade,
para Piaget (1936) é desastroso fragmentá-la, para Gardner (1994), uma fragmentação
sacrificando tragicamente sua unidade, para não falar das confusões conceituais
(Marques e Becker, 1999) de Goleman (1995), que tenta, fundir não só capacidades
cognitivas e emocionais, mas também as motoras ou voluntárias no termo “inteligência
emocional”.
Visando atender estas crianças, principalmente as carentes, por serem
discriminadas socialmente, o CEDET foi criado para mostrar a necessidade de se
investir neste potencial porque são recursos humanos que estão sendo desperdiçado em
detrimento de nosso próprio desenvolvimento como Nação, produtora de tecnologia,
que determina se é ou não desenvolvida.

Bibliografia:
Guenther, Zenita Cunha. Desenvolver Capacidades e Talentos. Um conceito de
inclusão. 2ª Edição. Editora Vozes. 2006

Sternberg, R.J.; Grigorenko, E.L. Inteligência plena: ensinando e incentivando a


aprendizagem e a realização dos alunos. Artmed Editora. 2003

Macedo. L. de. Ensaios pedagógicos: como construir uma escola para todos? Artmed
Editora, 2000.

Gardner, H. Estruturas da mente: a teoria das inteligências múltiplas. Artmed Editora,


1994.

Gardner, H. Inteligência: um conceito reformulado. Editora Objetiva, 2001.

Projecto Zero – Portal L@tidud – da Universidade de Havard – no site


www.educoas.org.

Goleman, Daniel. Emotional Intelligence. Bantam Books, 1996.

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