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£661 one OvS DaLIDAH WHOWIAT | eet Rate eet apres (Te61-8881) OdIdTSVad ONSITVaNa O VONOCNAW 3d VNIDSY VINOS Pa A renga ruralista (1905); primeira exposigio estadual de animais (1907), bem como a instalagdo de uma segio de estudos econémicos, para zastrear 0 montante da produgao rural do estado. Sob stia administracao se- riam também instalados um Servigo de Informacao e Publicidade, tuma Biblioteca Estadual especializada no assunto, além de reformu~ Jado o cutriculo da Escola Superior Agricola Luiz de Queiroz (ESALQ), no intuito de especializé-la na formacao deagrénomos, em detrim to dos profissionais da agricultura de grau medio (Schmidt & Reis, 1942). Tal leque de iniciativas legitimaria Botelho como uma das figuras de proa do movimento de regeneragio da agricultira brasileira, sendo citado como protagonista da mencionada niadernizagao por boa parte dos porta-vozes do Ruralismo de seu tempo. Por seu intermédio 0 paradigma norte-americano de agricultura ciewificn se imporia aos Circulos ruralistas,fosse pela plasticidade institucional conferida aos aparelhos de Estado paulistas, fosse pela definicio que esbocara da necessidade de um novo tipo de agente —o técnico —em materia de agricultura Soria esses. progressisias, em suma, os defensores de um nove padrao de desempenho para a agricultura nacional, que pretendia Geslocé-la da extrema especializacio produtiva, de modo a tentar garantir novas alternativas econdmicas e politicas para segmentos da Classe proprietaria pouco contemplades no bloco no potler. Mas tornar vidveis lais objetivos incidiria sobre outras estratégias de acto, sobretudo a multiplicagao do ntimero de agéncias institucionaliza: doras cos interesses agrarios no nivel da sociedade civil, de modo a facilitar sua afirmagéo como grupos de pressio junto 4 sociedade politica. A Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) seria uma delas, seu pioneirismo e representatividade justficarn-na como objeto do préximo capftulo. Capitulo 2 CONSERVAR, AMPLIANDO E AUMENTANDO. ‘A Abolicto e a Reptiblica foram os marcos formais do coroamento ‘um processo de transformagées estruturais por que passaram a womia e a sociedade brasileiras desde o tiltimo quartel do século que pode ser resumido, em sua esséncia, & transigfo do trabalho avo para o trabalho livre. Longe dos “freios” inibidores repre- jados pela escravidao @ a excessiva centralizagao monérquica, imitiva acumulagio capitalista seria potencializada, eriando-se ligdes objetivas para 0 aprofundamento da mencionada vocugio cola do pais e seu correlato, a posicao subordinada do pais no seio divisao internacional do trabalho (Oliveira, 1975). base na genealizago denovas emulliplasrelagbesde taba no campo, ratificava-se a dependéncia da realizagio externa da alagdo brasileira, mals que nunca atada ao capital estan gel, ir pela dindmica prépria da diversificago dos complexos agro- tadores regionais que a integravam (Cano, 1977), quer pela im- vio hegemdnica a todos eles da légica de funcionamento ditada complexo cafeeiro paulista. Na virtualidade dese processo, to, situar-se-iam, ambiguamente, a génese a expansio da trializacio brasileira, elemento novo que, decorrente da pré- ‘ampliagio da divisto social do trabalho, inauguraria uma dind- acumnulativa peculiar, posto que centrada na realizaao produtiva scentemente interna, tomo dessa unidade na contradigio, responsével tanto pela 0 de interesses no interior de cada complexo, quanto formas de sua interarticulagdo, desenvolver-se-iam a economia 38 Conseroar, amipliando e aumentando politica brasileiras a0 longo da Primeira Repablica, marcadas pela concentracéo das atividades setoriais em areas geograticas cada vez, ‘mais definidas e segmentadas. Agudizavamse, assim, 08 conflitos, inerentes & regionalizagao da estrutura de classes no pais, bem como a relaclo simbitico-contraditoria estabelecida entre os segmentos rurale urbana da classe dominante, distintamente empenhados em atuar sobre as politicas puiblicas entao produzidas. ‘Uma vez, entretanto, que a esse quadro geral viessem acrescentar- se outras circunstincias como as progtessivas perdas no mercado internacional para a maioria dos produtos da agro-exportacio brasi- leita, & excegao do café (Singer, 1975), ¢ ainda a fragmentacao dos interesses dominantes no seio de cada complexo, o sistema de dami- nagio nascido e consagrado com a Repiiblica apresentaria sinais de fiscuras tio prematuras quanto irreversiveis, traduzidas, conforme ja visto, no aumento da tensio existente entre as proprias fracies agré- rias da classe dominante a disputarem entre si maior participacao no abastecimento do mercado doméstico, assim como a inscrigao de suas demandas especificas em nivel do aparelho de Estado. ‘Analisar as formas e canais pelos quais os distintos grupos de interesse agririos se opunharn ou apreximavam no perfodo em foco, toma-se particularmente importante para a compreensao dos meca- nnismos de organizacao e reproducio do sistema de dominagio vi- gente na Repiblica Velha, mormente ao privilegiar-se, como &0 caso do presente capitulo, uma de suasmanifestagoes mais evidentes, em bora tio pouco tratada pela bibliografia especializada: a proliferacio das associagbes de classe representativas das facgBes agratias. Isto porque, assume-se aqui a perspectiva de que essas agremia- «es, como expressbes institucionalizadas de demandas e expectati- ‘vas diversas, desempenhariam papel crucial na configuragio do que denomino Rirlismo, entendido como a construgao de espacos de poder allernati2es ao jogo politice-partidario republicano, ‘lustzando os meca- nismos de inter-relagdo entre sociedade civil e sociedade politica no Brasit. "Discordando das verses convencionais que, via de wepr, trata do Ruralismo ‘como mera ideologia referida a grupos agrérios mecionades “tradicionas" eapega- fs a representagbesremetidas a saudosisnes ou mitos de dade do our, que aqu se prope € a recefnigdo do concelto,passando Ruralisno a ser concebico também {ono um movimenio politica conettsido ao longo da Primeira Republica edotado de ‘anais especficas de onganizacio,expressioe diusso,consistindo numa das dimen Conserear, anplianda e aumentando 39 Para tanto, fugindo ao escopo regionalista de estudo do tema e ‘buscando operacionalizar seu maior aprofundamento, optei pela eleigao de um caso para anélise, qual seja, a Sociedade Nacional de ‘Agricultura — fundada no Rio de Janeiro em 1897 e até hoje existente —em virtude de trés aspectos: a) 0 cardter efetivamente nacional de sua representatividade; 6) 0 pioneirismo da iniciativa nos marcos cronol6gicos aqui delimitaclos (1888-1931) ¢ ) sua real expresso politica como érgo de classe capaz de interferir na dinamica de funcionamento e construgao do Estado republicano, configurando um dado padrto de institucionalizagao de interesses agrérios no periodo, como se verificard a seguir. A politizacto da economia brasileira Tradicionalmente definido como um mero movimento no nivel “las idéias’, o Ruralismo costuma ser apresentado pela bibliografia especializada como a ideologia representativa de uma contra-reacéo dos grupos agrarios & progressiva perda de seu poder e prestigio iante do avanco dos interesses urbanc-industriais sendo, justamen- {e por isso, geralmente associado a reacionarismo ou antiindustrialis- mo (Luz, 1975; Nagle, 1976; Vianna, 1976; Gomes, 1987; etc). Discordando dessa interpretacto, o que aqui se propée é uma nova Teitura do Ruralismo, enfatizando seu cardier de movimento politico ‘organizada das fracdes dominadas da classe dominante agréria no Brasil, em detrimento da dimensdo tao-somente ideolgica. -_Nesse sentido, a proliferacao de sociedades agricolas ao longo do ‘Periodo merece especial atengao, quer pela procedéncia variada de ‘seus quadros, quer pelo fato de que sob seu dogma genérico — a lefesa da vocagto eminenteniente agricola do pais — se ocultavam arti ‘culagdes de interesses diferenciados, tanto regional, quantonacional- ‘mente. Isto porque, apesarde revivificada pela metamorfose operada ‘nas relagdes de producio que lhe davam suporte, a economia agraria brasileira apresentaria sintomas de desequilibrio interno marcantes entre atiltima década do século passado e a primeira do atual, j que a crise internacional dos precos agricolas dava mostras de sua per- manéncia, agravada pela adogao de préticas neomercantilistas por es do priprio processo de oonstrugao da socedlade politica no pas, visano institu ‘ionaisar interescesagriros nfo hegeménicrsjnto ans aparelhos de Estado. 40 Conseroar, ampliando e aumentando parte das poténcias participes dessa ere dos Impérios (Hobbsbawm, 1988, p. 79-85). Dentro desse contexto, agravado pela consolidacto da hegemonia dos grandes cafeicultores paulistas, seria agucada a ja notdria com- peticéo inter e intra-oligazquica, sobretudo ao considerar-se que a feconversio do mercado externo para o mercado doméstico, consis- tindo na solugio possivel para aqueles segmentos ligados a comple- xos agrérios marginalizados das grandes linhas do comércio ‘exportador, aumentaria o clima de tensdo latente, a eclodir, ce forma ‘explicita, somente nos anos Vinte "Tal conjuntuta responderia pelo que Reis denomina de “politiza- ao da economia’ no sistema oligarquico rural, referindo-se as solu- Gees de autoridade pleiteadas pelos distintos grupos agrérios como Formas de protecio de seus interesses, sempze que ameagados por crises (Reis, 1985, p. 194-217). Logo, a ratficacio da vocagio eminente- merle agricola do Brasil se faria acompanhar por disputas politicas tevidentes, configurando a jé mencionada reagto ruraista, alicergada no discurso ena pratica da diversificagao agricola nacional, mormen- te por parte dos representantes de segmentos da classe dominante agtavia vinculados a complexos econémicos regionais de dinamismo variavel e diferentemente contemplados no bloco no poder. Por cer to, a importéncia do controle de aparelhos de Estado por parte das assim chamadas oligarquias bagageiras, seria também objeto de inter sas polémicas. "A consecuso desses objetivos pressupunha inimeras estralégias de atuagdo, dentre as quais a multiplicacao, no nivel da sociedade civil, do nimero de agéncias institucionalizadoras dos interesses. agririos, de onde emergiriam pressGes efetivas em prol da inscricio dde suas demandas junto a aparelhos de Estado, interferindo em sua ‘configuragio. A Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) seria uma das primeiras delas e sua extrema imbricagao com o Estado republi- ceano viria a representar, como se veré adiante, o aparethamento de ‘grupos de proprietarios nao hegeménicos no periodo em foco. A sociedade nacional de agricultura: uma controvérsia ‘As primeiras tentativas de organizagio da classe agricola,teriam lugar ainda no ocaso do Império, intimamente correlacionadas a0 fim da escravidao, mediante a criagao dos clbes da lmvoura na regio Conserear, ampitando ¢ aumentancdo a centro-sul, numa clara tentativa de controle sobre as muidangas em curso. Entre 1880 e 1864 ocorreriam dois surtos de fundacéo macica dios referidios clubes, sendo o primeiro ligado ao centro-oeste paulista @ 0 segundo, aos fazendeiros menos influentes das antigas zonas da agro-exportacao cafeeira divergindo, ambos, quanto a seus objetivos. ‘Ao passo que a onda associativa inicial iia pautar-se pelo tom politi- coe a busca de alternativas & mio-de-obra escrava, a segunda com- bateria abertamente o abolicionismo, defendendo com veeméncia os direitos de propriedade por ele ameacados (Pang, 1981, p. 295 e 338). A despeito de suas diferencas, a expanstio dos clubes da lavoura, de cardter municipal, representaria uma primeira tentativa de formali- zar a natureza corporativa das reivindicagdes agrérias, podendo ser encarados sob dupla perspectiva. Na condigio de organismos orien- tados pela crise, tentariam agregar demandas para fins politicos, revelando um afastamento das formas vigentes de organizacio de inleresses da classe proprietaria; ao mesmo tempo, uma vez que o Eslado monarquico se recusava a admiti-los como foros politicos legitimos e aceitaveis, a eficacia de sua acto estaria comprometida, fazendo com que a maioria deles acabasse por confundir-se com as proprias Camaras Municipais responsaveis, em muitos casos, pelo patrocinio de sua criagao, ‘A inslitucionalizagao auténoma dos interesses agrérios tardaria quase uma década para afirmar-se no seio da sociedade civil, disse- minando-se apés o turbulento periodo da consolidacao republicana, quando do retorno do poder As maos dos civis. Até ai e desde a Aboligio,a defesa das causas de certos grupos de proprietarios rurais far-se-ia por intermédio dos chamados comicios agricola, assembléias corganizadas com a finalidade de difundic in loco — incluindo exposi «es volantes de indimeros produits /implementos agricolas — estra- legs de compensa para cs posts desjustamentosprovocaos ela supressio do braco escravo, tendo por polo dispersor 0 Estado GoRiodejaneci. ot amg __ Dessa iniciativa resultaria um pequeno grupo de quarenta e sete individuos que, reunidos em maio de 1896, na sede da Sociedade ‘Auxiliadora da Indtistria Nacional, langaria as bases de uma organi- ‘aco agricola mais abrangente a cuja testa encontrava-se 0 idealiza- dor dos comicios, o engenheiro politécnico Ant6nio Ennes de Sousa. O “objetivo da instituigao era o de tornar-se um centro mobilizador de forgas ¢ formador de opinides, de modo a “servir como ponto de apoio 2 Conseroar, ampianatoe aumentando para toto e qualquer esforco em prot do methorantento agricola do rosso mois", o que ganha maior relevancia ao considerar-se as tendéncias industrializantes manifestas pelos lideres do novo regime até 0 epi- s6dio do Encilhamento, fazendo com que a entidade recém-criada cenfatizasse a missao de “congregarcoletivos e individuas esforgos para integrar 0 Brasil no conceito de pais essencialmente agricola” (Poliano, 1942, p. 98) Cestatuto formal do grupo, aprovado em janeiro de 1897, instituia Sociedade Nacional de Agricultura, tendo por modelo a instituicao homénima eriada na Franga, onde 0 movimento de retour a lt ierre inaugurado por Jules Méline gozava, & época, de consideravel reco- nmhecimento, sobretudo por traduair-se numa reagao extrema a de- pressio dos precos agricolas pela via protecionista. Definida legalmente como uma sociedade civil, a SNA consistiria numa agre- riacio de “Iroradores e amigos da agricultura’, para “o exnme, 0 estulo 2. colaboracto para a solucio dos problemas dos agricultores, dos pect ristas e dos industriais de indistias extratioas e correlates, @ exceco dos cutorgados por lei as entices sindicns no que se refered defesaerepresen- tacao classisias” (A Lavoure, 9 (2), 1905, p. 118). Dentre seus fins espeetficos, discriminavam-se 0 fomento &criagio de novas associagées rurais, cooperativas e caixas de crédito; a fun- dacio de campos de demonstragio e escolas priticas de agricultura, bbem como 0 aperfeigoamento dos trabalhos agricolas mediante a aplicagao da ciéncia aos campos, bem ao sabor do espirito ilustrado dominante entre os membros da primeira geracdo republicana, Por certo nao seria casualidade encontrarem-se dente seus fundadores sobretudo engenheiros, cujo ponto de contato e unio fora a Escola Politécnica de Rio cle Janeiro, a cujos quadros tinham pertencido ott ainda se integravam’. A ideologia do progresso seria a bandeira desses que se auto-identificavam como eruzados de wna noo era de regenera sho agricola do pais : “Manuseio das fontes & parte, toma-se importante remeter & con- torvérsia existente na escassa historiografia referente ao tema, O primeiro aspecto a ressaltar € 0 fato de serem a formacao e 0 papel das sociedades agricolas bastante secundarizados, limitando-se al- 0 nile originfrio de fandadores da SNA, mesmo tend adquirlo sua forma: oem stituigdes diversas, encontearase na Escola Poitéenica do Rio de Janciro, da {qual quase todos exam docentis, prticipes e diluscres, portanto, da ideclogia do progresso predominant no seo da escola, Conseroar, anipliando e aumentando 8 guns autores a mencionarem de passagem as principais realizagoes de instituigées congéneres privilegiando, quando o fazem, a andlise das sediadas em Sao Paulo, as quais parecem atribuir o status de tinicas efetivamente eficazes como grupos de pressao na condusa0 de politicas especificas em prol de seus associadios, o que equivale a consiceré-las como singularmente representativas, no que tange a ppenetragao com suas bases (Love, 1980; Wirth, 1982; Levine, 1980). Love, por exemplo, acentua de tal modo essa postura, que chega a afirmar, no tocante as associagtes paulistas, que “o grande tento desses plantadores foi realizado a nivel federal, quando o Ministério da Agricultura, no limbo desde inicios da Reptiblica, foi restabeleci- do” (Love, 1980, p. 224), conclusio esta que, em absoluto, se confir- mou em meu teste dos dados empiricos. Em diregao semelhante enaminham-se as conclusdes de Reis que, detendo-se no estudo da paulista Sociedade Rural Brasileira, fundada em 1919, a define como “a vinica associagao de interesses eficaz. do period, face ao pragma- tismo dle suas reivindicagées e a representatividade de seus quadros dirigentes” (Reis, 1979, p. 196) os quais, diga-se de passagem, acha- vam-se imbricados diretamente aos interesses da grande burguesia cafeeira, ‘A auséncia sistemética de estudos a respeito do tema merece comentérios adicionais, sobretudo por considerar-se aqui a anélise das associagées de classe de proprietérios rurais no Brasil, um dado importante para a discussio da politizagdo da economia brasileira tal como a entendo’. A lacuna talvez possa explicar-se pelo fato de tais agremiagses ndo se terem generalizado, a época, como forma predo- minante de representagao de interesses dos grupos envolvidos, cuja preferéncia por estratégias oficiais de acdo, sobrepunha-se & vida associativa. Uma vez que a agregacao e articulagao de interesses, centre fragies da classe dominante rural tinha lugar tanto dentro do sistema de partido nico regional, quanto diretamente com a admi nistrasdo publica — mediante as mais diversas praticas de clientelis- ‘mo e personalismo politico — a necessiciade de trabalhos acerea das agremiagées de classe no periodo parece ter ficaco relegada a plano secundatio, diminuindo-se as investigagdes acerca da pluralidade de Segundo meu entendimento a “poitzacio da economia” relenese, mais do que a0 aumento do grau de pacticipagto das agence estatais nesta exer, «uma inten: sfcagio dos preiprios confites de interesse econdmico-corporativas, que asiamem & Jorma de disput pities no seio da sociedade civil a Conseroar, anpliansto ¢ aumentando canais por cujo intermédio as varias instancias do poder politico se articulavam e exerciam 0 que, de meu. ponto de vista, pouco contri- bbui para o avanco dos estucios acerca das relagies entre classe domi- ante e Estado no Brasil ‘A incontestivel ascendéncia das oligarquias rurais sobre o proces- so hist6rico da transicao brasileira em diresdo a sociedade urbano- industrial parece ter dado 0 tom as andlises vigentes na propria historiografia contemporanea, resultando num leque de trabalhos que, enfatizando a semelhanga, secundarizam a discordancia. Tudo se apresenta como se, mantido © mercado de trabalho sob estreito controle e inexistindo oposigées efelivamente organizadas por parte da sociedade civil, osdons da terra — categoria tomada como conjun- to aparentemente uniforme e homogéneo — tenham limitado sua agao politica as coalisées intra e interpartidarias e ao clientelismo bburocritico, dando a impressio de que as associacdes de classe se- riam, até certo ponto, produtos desse processo e nfo também seus protagonistas, Certas obras chegam a referir-se a tais instituigdes muito mais, como grupos de status, no sentido weberiano do termo, do que como foros de institucionalizacio de interesses com pretenses a concreti- zarem politicas substantivas divergentes entre si (Carone, 1972). A maior parte dos trabalhos consultados a respeito do period, de modo geral,limita-se a focalizar a problematica do relacionamento centre classe dominante/Estado com base em evidéncias préestabele- ‘idas e generalizantes do tipo Estado representante da burguesia cafecira ou politica dontinada pelas oligarquias estaduais, sem maiores cuiciados para com a diferenciacao das demandas de segmentos agrarios de insergio setorial diversa nos varios complexos econémicos regionais. Nesse sentido, as reivindicagdes das que denomino fracdes domina- das da classe dominante rural brasileira sio reduzidas & condigao de palidos reflexos da supremacia exercida pela grande burguesia pau- lista no Estado. ‘Sem discordancias quanto 20 Sbvio, o que se pretende é salientar o quanto os conceitos de dominagio e hegemonia, fundamentais @ uma dada visio do Estado (Gramsci, 1988), a0 pressuipozem em sua géne- se coer¢io e consenso, suugerer um processo altamente dinémico de construcio ¢ exercicio, cujos canais de expresso — no nivel da sociedade civil e da sociedade politica —nao dirimem o conflito ea discordancia, num jogo de pressdes ¢ contrapressbes que nao se Conseresr, amaptiando e nurentando " limita, apenas, As relagSes entre as diversas classes, porém no bojo delas. (Oestudo da SNA configura-se frutifero para a compreensio desse tipo de mecinica,na qual a reconstituiglo de reivindicagdes especifi- ‘cas e seus resultados torna-se instrumental para avancar 0 conheci- mento acerca das politicas de interesses edo préprio proceso de construcio do Estado na Primeira Republica. Analisar tio minucio- samente quanto possivel sua origem, grupes representados, formas de acto e atividades significa, do meu ponto de vista, a possibilidade de trabalhar com trés processos simultaneos: a) 0 da formalizacao de canais extrapartidérios de articulagao dos segmentos agrarios da classe dominante, sugerindo-se a existéncia de uma dimensao para- Tela 20 mero jogo “oligarquico”; b)o da estruturagao, via demandas & ppressies oriundas da sociedade civil, de organismos especializados dentro do aparelho dle Estado, com 05 quais tais segmentos pudes- sem relacionar-se, canalizando suas inguietagdes e ampliando sew poder e,finalmente ¢) oda afirmagio de uma dada matriz discursiva identificada ao Ruralismo Tsso posto, ¢ importante acentuar que, no conjunto dos estudos acerca da temética da articulagao privada de interesses agrérios no Brasil do perfodo, foi possivel identificar apenas trés dedicados & ISNA, sendo um deles uma publicagio oficial da instituigao (Potiano, 41942; Gomes, 1987; Gomez, 1987). Allém desses, dois outros merecem ‘eferéncia especial, pela diserepancia de seus resultados quanto 20 tema, muito embora tangenciem-no de forma periférica a seus reais, objetos: as teses de Reis e Downes. ‘Ao passo que para a primeira autora a SNA nfo mereceria 0 qualificativo de agencia “efetivamente representativa” dos interesses, rurais, como ja se viu, para 0 segundo, voltado ao estudo do movi- ‘mento de diversificagao da agricultura no Brasil da época, a Socieda- de teria desempenhado papel crucial neste processo. O argumento -sobre o qual Reis fundamenta sua conclusao, consiste na afirmativa de que a SNA seria “(.) controlada por aqueles cuja ocupagao principal residia fora da agricultura. Seus lideres eram profissionais, em sua maioria, com formagio técnico-cientifica, Parece, assim, dbvio que a SNA no tuairia os grandes proprietérios, uma vez que seus principais objeti vyos exam promover a ifus4o da pequena propriedade, dobem-estar e daeducagao por entre os trabalhadores rurais” (Reis, 1979, p. 195). 46 Conseroar, amplianio e aumerttando J4 para Downes, a instituicda deve ser encarada sob prisma opos- to, Ievando em conta a pesquisa empirica por ele iniciada quanto & origem e trajetéria de seus presidentes no periodo, 0 que 0 conduz.a concluir que: “4 formagio da SNA constituiu uma coalisio das elites regio- nais cujos objetivos eram ampliar © apoio federal para agricultura ‘em geral e aliviar 0s efeitos das crises do café e do acticat (.). A partir de seus propésitos iniciais, fica claro que esse grupo de pressdo representava tanto os produtores de géneros de primeira necessidade, quanto os setores tradicionalmente fortes cafeeiro e acucareiro” (Downes, 1986, p. 445). Como se percebe, o espectro das avaliagdes acerca da SNA varia, desde um organismo criado por elementos de classe mia, que nele vviam um canal legitimo de participagao e interferéncia numa rept blica oligrquica de bases agrarias — posicao sugerida por Reis —, até uma entidade agremiadora de interesses rurais oriundos dos setores menos dindmicos da agricultura brasileira, em luta pela afir- ‘magio de suas demandas— pesicio firmada por Downes. Conquan- to guardando algumas discordancias com relacio a hipdtese deste iiltimo autor, construida para provar, um tanto obstinadamente, a diversificagio agricola do Brasil em virtude da presenga norte-ameri- cana nos referidos segmentos, é dele, com certeza, que mais Se apro- ximam os resultados obtidos em minha pesquisa. Em realidade, nela avancou-se a confirmagao de certos aspectos apenas sugeridos pelo autor ja que, dentre os fins de sua andlise, nao se inelui uma questao para mim essencial, qual seja, a da SNA como agéncia articuladora entre classe, politica e ideologia. Divergéncias a parte, entretanto, ocardter de representagio classista da Sociedade revelou-se inequivoco a partir do teste empirico, perdendo sua con- sisténcia os argumentos que caracterizam. as bases sociais da agre- :miagio como constituidas, essencialmente, por profissionais liberais, desvinculados da atividade agricola (Gomes, 1987, p. 8). A SNA: bases sociais e representatividade A principal estratégia utilizada na pesquisa consistiu na coleta, 20 exaustiva quanto possivel, das informacies disponiveis acerca do per- file/ou trajetéria dos quadros dirigentes da associacéo, a se incluindo nfo apenas sua galeria de presidentes ao longo do periodo estudado, Conseroar, ampliando e aumentando ” como também os integrantes de suas principais Diretorias: a Geral, a ‘Técnica e 0 Consetho Superior ‘,conforme dispasto nos Quadros I, le Il (em anexo) que subsidiam a anélise aqui desenvolvida. Um simples olhar ao conjunto de atores que ocupou a presidéncia da SNA entre 1897-1930 e sua trajetria (C.Quadro D, atesta a efetivi- dade da instituigao como insténcia formalizadora das demandas de ‘grupos agrarios tao diversos quanto compativeis. A extracaio setorial regional variada dos representantes da classe proprietaria que nela se faziam presentes, indica que parte consideravel desses titulares tinha {em comum entre si fato de nao se vincularem ao complexo cafeeiro Paulista. Vale notar ainda que, dos nove presidentes listados, quatro riginavam-se dos complexos do Norte/Nordeste, trés do Sul (incluin- do dois gatichos) e dois do Rio de Janeiro, sendo todos, em sua maioria, proprictirios ligaclos a atividades agricolas tio distintas quanto a cafeicultura fluminense (Silvio Rangel e Moura Brasil) a rizicultura e ‘pecuaia (Iidefonso Simdes Lopes), a cotonicultura (Geminiano Lira Castro), a agro-inckistria acucareira (Miguel Calmon) ou mesmo a. fraticultura (Wenceslio Belo), dentre outras. A julgar por tal amostra, a SNA, definitivamente, nao pode ser pensada fora dos termes de uma organizacio empresarial rural, articuladora de interesses agrérios vinculacos ao eixo Norte-Nordes- te-Sul do pais, uma ver que a formacao intelectual de suas liderancas nao deve ser tomada como evidéncia preponderante a sua condicao de classe propriamente dita, sob pena de graves distorcSes analiticas, Verifica-se, ao mesmo tempo, que os agentes egressas das faccoes oligarquicas mais privilegiadas pela politica dos govemadores — ppaullistas e mineiros — nao ocuparam o cargo maximo de condugao da agéncia em nenhum momento, sendo interinamente. Ao mesmo ‘tempo, a ativa participacdo de elementos como o maranhense Ennes ‘de Sousa, o fluminense Antonino Fialho ou 0 gaticho WenceslAo Belo ___‘A.cipula administrativa da SNA era composta pela presidénci «por trs gos ‘om atribuicées distntas entre si: a Diretoria Geral a Técnica ¢ 0 Conselho Superior. ‘A primeira, integrada por dez elementes, encarregava-se das funsGesacministativas dda associacd, enquanto 2 segunda (dez elementos) e ao terceio (guarenta integea- )cabiam opinar eatuar em prol das grandes causas de que a Sociedade se fazia stawvor. Vale essaltar que a Direoria Tecnica subdividia-se enn 13 sees altamen- ‘xpecializadas, a cargo de agentes qualifcados para eada uma elas (como por ‘eeemplo, as Sesdes de plantas e sementes; de Zootecni; sinicats e cooperatives, tc). 4“ Conservar, ampliando e aunestando nos primeiras anos da Sociedade, pode ser interpretada como a clara rmanifestagao do quanto sua fundagio resultara do esforco daqueles que, desfavorecidos pela exportacio, militayam em prol da diversifi- cagio agricola em esferas paralelas & politico-partidatia. ‘Vale ainda ressaltar que boa parte dos presidentes da instituigao seis entre nove deles — trazia em sua bagagem uma carreira politica cansideravel no Ambito de seus estados, tendo sido porta-vozes de suas bases locais no Congresso Nacional, 0 que os referenda ainda mais como efetivos representantes dos grupos agrérios aos quais, vinculavan-se. Por esse prisma, a SNA pode, por extensio, ser perce- bida como foro legitimo da institucionalizagao de demandas de fra- goes da classe proprietéria com abrangéncia nacional, ao contraio de associagées congéneres que se arvoravam de tal qualificativo por raz5es de ordem puramente ideologica, como parece ter sido 0 caso da Sociedacle Rural Brasileira, organizagio eminentemente paulista, fundada no decurso da Primeira Guerra Mundial, como instrument de defesa dos interesses cafeciros, cotonicultores e pecuaristas, de rte estritamente regional. Por pexposto depreende-se quea SNA, paraalkém da maior abrangon- iasocial e geografica de sua representagao, insinuiava-se como instan- ‘Ga organizativa de certas fracBes da classe proprietéria cujs interesses achavam-se mais diretamente imbricados & produgio agricola propri: famente dita emenos vinculados, portanto, a burguesia mercantilinter~ nacional, de igual maneira ao que ocorria com certos grupos de ‘afeiculiores paulistas, agremiados em tornoa novos clubs da iavoura, por oposicao a grande burguesia cafeeira (Saes, 1986; Vilardo, 1976) ‘A natureza classista da associagao ratifica-se, ainda, com base na visualizagao dos Quadros Ile II. Da observagio conjunta dos inte- grantes das Diretorias Geral e Técnica selecionados a guisa de amos- tra, infere-se tanto a nitida preponderincia de proprietirios Su- :minenses em sua composi¢ao, quanto a auséncia de alguma flagran- te articulagdo com interesses paulistas que, se ndo totalmente inexis- tentes (como o atestaa presenca de Augusto Ramos, porém ligado a0 plano de defesa da produgao acucareira de 1911), nao chegaram a impor-se na conducao da entidade. O carter de agremiagio estrutu- radora das demandas de grupos secundatios, ligados a atividades agearias voltadas para o mercado interno, patenteia-se nessa amostra tem que, para além da lideranga fluminense, se salientaria a participa do de nordestinos, gatichos e até catarinenses. Conseronr, ampliando ¢ aumentando “ Dos citados Quadros pode-se também inferiro gra de sotalivldie de cos mesmos agentes no preenchimento de cargos «1 aii Me Diretorias, o que no apenas pretendia assegurar o contiulsii HO interesses representados dentro de uma mesma instirica, (0 lal béi entre elas, por meio do actimulo de atribuicoes por parte le Ah 56 membro, como nos casos de Silvio Rangel ou Domingos Seyi le Carvalio que desempenharam, sinvultaneamente, entre 1900 8 1910) as funcdes de vice-presidente e secretario geral da Sociedad ald de titulares, respectivamente, das secdes de Zootecnia e Duley Atl: cola na Diretoria Téenie Aaandlise do Quadro Il, sobretudo, é particularmente interval ‘por constituir-se numa antecipacio suméria do tipo de aluagla @ Gemandas articuladas pela agéncia. As segdes da Diretovia Tey gedefinidas ¢ ampliadas em 1915, patenteiam as preocupagiies it idade. Do fomento a pecudria — tendo sob seu encargo Ml nda-modelo cedida pela Unido — a divulgacso des resulladon die xperimentos técnicos, era a diversificacio agricola a sintuse das jetivos a serem atingidos. O caréter doutrindrio e propaganislieg la SNA 4 transparece a partir da sua propria estruturagio inlet Paraalém desses aspects, cabe também apontar para 0 que parece ter-se constituido numa espécie de perfil de carrera intern i instill io. A ativa participagio em seus quadros ao longo do lel) = ou noutra das diretorias recortadas pela amostra — india ih itério possivel para a escolha anual dos presidentes da agreiniagi bora, evidentemente, nfo fosse 0 tinico: o prestigio ¢ a posi did integrantesna sociedade civil e,sobretudo,nasociedade politi ter tido igual peso nessa indicagdo. Significativament, MMi tracio de s6cios deputades verifica-se na Diretorla Geile Wo na Diretoria Técnica — o que faz supor ter sido a conpillt tério predominante no preenchimento cos cargos desta lls 0 que a primeira, por seu cardter executivo, compor-well El) no prestigio politico de seus integrantes, transferindo-se atelblO® ‘individuos para a instituicao, em busca de eticacia e legitinnidadle mmtandas e modalidades de atuasio ‘Organizagaio de empresirios rurais de complexos econ inet (Me favorecidos pelas conjunturas mundial nacional ou pela poll: Piiblicas de ambito geral /especifico, a SNA se estruturillA Hilt 50 Conseronr, ampliando e aumentando tomo de algumas demandas e estratégias de agio coerentes com a finalidade de garantir aes grupos nela representados maior capa~ cidade de organizagio e poder politico. Assim, cinco bandeiras s¢ ressaltariam dentre as consicieradas capazes de promover a regene- ‘agi da agricultura nacional: a) a diversificagao produtiva; b) 0 asso- ciativismo; ¢) a criagao de uma agéncia do aparelho de Estado per- medvel a suas peticdes e inquietudes; d) a modemnizacio agricola pela difusdo do ensino técnico e cla mecanizagiio e, finalmente, ¢) a multiplicagao da pequena propriedade como estratégia de fixacto da mio-de-obra no campo. O substrato comum a todas elas residia rnuma dada explicagio para 0 mencionado airiso do pais, bers co- ‘mo na identificagao de seus interesses particulares com os de toda a agricultura’ Sata atingir tais objetivos, a Sociedade desempenharia quatro papéis; @) o de instancia organizativa dos proprielarios rurais de ‘menor pes0;b) o deagéncia de propaganda e formagio de opinigo no seio da classe dominante; c) o de orgio de consulta e prestagio de servigos aos associados e, finalmente, d) ode instrumento de pressio ‘politica junto aos poderes constituides (0 Congressos como foros de formato do consenso [A pratica da organizagio de congressos ¢ exposigiies que trouxes- sem piblico seus pontos de vista e posicao consistiria numa estraté- ‘gia das mais usadas pola SNA, de modo a afirmar-se como grupo de pressio e formadora de opinives no bojo da classe proprietaria. Uma yyez que se sucedessem conjunturas menos favoraveis a certo(s) prodisto{s) ou complexo(s}, Sociedade patrocinava um encontro de ampla abrangéncia setorial/ geogréfica, de modo a produzir 0 con- ‘senso quanto aos interesses envolvidos, transformando-o em instru- ‘mento de pressao no aparelho de Estado’ *No primeira caso, jsifica-e oto valendo-se do ambiguo papel desempenha- do pla revi abolgio nas sintn reas da producto rural brasileira, 0 pass0 (que no segundo, tatase de um actifcio discursive instrumestal a disputa movida, los campos police eieoligin, por grupos ageris de peso desigual na sociedad politica, em busca da afirmagio de expacos adicionais de seu poder eprestigio. ‘Em imimeros momentos a aio estalal,sobretudo a veculada pelo MAIC, seria ‘uma cesposta ts demandas resultantes de tai eventos, como por exemple a cago fo Comte da Producto Nacional, imediatamente apss a realzacio da Primeica ‘Conferéncia Nacional de Cereais de 1917. Conseraar, anipliando ¢ aumentando st ‘Bm varias ocasides tal intengao explicitava-se jé ao longo da pre- _paracio dos eventos, quando do estabelecimento de seus temarios © telenco de mesas debatedoras, numa tentativa de disciplinar o que e como discutir, de modo a configurar o uno com base no diverso. A direcio na qual o conjunto dessas iniciativas apontava, entretanto, ‘parece inequivoca: promover a diversificaco da agricultura, pela via " da abertura de novos mercados para novos produtos, além de elevar mixin a producdo (Cf. Quadro IV em anexo). A breve apreciagao do conjunto de trinta e um eventos nacionais, ‘por ela promovidos entre 1897 e 1930 atesta a afirmativa, posto que inte e dois deles (71%), dedicaram-se A pecustia e A producio ce- alifera. A ja referida politizagdo da economia fica patente, por exem- plo, diante do ntimero de congressos dedicados a cultura algodoeira 1b s atividades pastoris, sabidamente atividades cujos diversos seg- meentos regionais disputariam acirradamente o mercado interno no nés- guerra, __Ao mesmo tempo, a despeito de seu discurso flagrantemente an- jurbanista, evidenciam-se também as preocupagdes até certo ponto Undustrializantes da SNA quando, ao longo da década de 1920, fatia ltiplicar os eventos destinados a temas especificos como odo bene- ficiamento industrial de derivados do leit, carne, gr40s ¢ oleaginosos. afirmagio da indistria como mercado para a colocagao dos pro- dutos agricolas dentro das proprias fronteiras do pais era realidade Jnguestiondve, & qual curvavam-se até mesmo os postulados de ins- pliacio fisiccrition, capazes de aceitar aquela enquanto natural’ Seria, no entanto, 0 Primeiro Congresso Nacional de Agricultura, realizado no Rio de Janeiro em 1901 por iniciativa da agremiagho, 0 0 efetivo na afirmagio de seu poder de pressio politica. Suas lusées, em ntimeto de noventaeseis, vieram a tornar-se o efetivo yrama de acto da Sociedade, passandoa serem elas consideradas 6 associados como 0 Exingeliro das novas geragdes de agricultores (SNA, 1908, p. 5). Verifica-se, ainda, queas recomendacées do evento onfigurariam os parmetros estruturantes do préprio debate rura- lista na Primeira Republica, definindo o elenco de questdes discuti- das pelos defensores da vncugi eminentemente agricola do pats, cujos 7 eso respito vale recordar que porte expressiva do gado de cote gaticho era Sumida, até 1917, pelo parque industrial de figorficagao palit, assim como a stra text do centrorsl ita tomnar-se avo das disptas entre cotonicultores do Notte/Nordestee Sie Paulo. 8 Conserowr, ampliaado e aumentando diagnésticos e terapéuticas permaneceriam inalterados a0 Tongo de todo o period. Reuninde cerca de cem participantes provenientes de quase todos os estados do pais, 0 Congresso seria 0 primeiro fore nacional de discussiio do. problema agricola desde a Abolicao, tendo por objetos ‘eentrais questies como a formacao e controle do mercado de trabalho — fugindo sempre das solugbes imigrantistas; o fim dos intermedia ios na comercializacio das safras agricolas ou ainda o restabeleci- _mento de um Ministério téenico para o frato das coisas agricalas (SNA, 1907, p.225-6). Todas essas reivindicagbes, entretanto, somente eram lidas por viéveis com base na mais expressiva recomendagio do encontro— 0 associativismo — uma vez que “A missto dos agricuttores & agremiarent-s (..). Felizmente —e 0 digo em: omenager & classe a que pertengo —a idéia da formagto de sindicatos agricolas foi a idéia mater na seio do Congresso (..). Os ‘agricultores esto convencidos de que sdio uma forga no pais e para essa _forga nit continuar a perder-se, resoluemos organiza-la" (SNA, 1908, p78, grifos do auton) ‘Ambigua emissao, ambigua mensagem: agremiar a classe agricola tanto poderia significar a intengo de organizagao politica por parte dos segmentos que se visualizavam a margem do epicentro do poder, {quanto poderia traduzir o desejo de certos grupos economicamente menos solventes de libertarem-se da tutela— e das dividas — sobre clos exercida pela intermediacio comercial e financeira, como alias 0 indica uma das mais acaloradas discussies travadas durante 0 Con- ‘gresso, envolvendo os poucos representantes paulistas endo presen- tes? Quanto aeste ponto, alids, percebe-se que a posicao daSNA iaao ‘encontro, até mesmo, dos interesses de certos segmentos de cafeicul- tores paullstas, aqueles vineulados com exclusividade a produgao do genera, igualmente empenhados em eliminar o jogo especulativo da grande burguesia cafeeira e seus associndos, de modo a abrir maior ‘espaco para a acumulacao interna (Saes, 1986, p. 283-4). Por tudo isso, as criticas ao grande capital mercantil, mormente da parte de fazendeiros em vias de desespecializacio, afirmou-se como ‘uma das metas da Sociedade, ao defender obstinadamente os sindica- A ctada polemica envolvet 0 grupo de proa da SNA com 0s dois inicos representantes da grande burguesin paulists presentes ao evento: os cafeicultores © fides comercantes Franklin Dutra e Ledncio de Carvalho, obviamenteconiventes {com os intersses do eapital mercanti, Conseronr, ampliando e aumentando 53 agricolas como estratégia de controle da comercializagao por parte /proprios produtores. O Movimento Associative. _ Para atingir sua meta a SNA promoveria, em 1902, um lobby junto Cimara dos Deputados pelo restabelecimento da Comissao de tara da Casa a qual, uma vez.reinstalada, aprovaria projeto ei regulamentando a organizagao de sindicatos ¢ cooperativas jcolas no pats (Decreto n.°797 de 6/1/1908). Pela capacidade que era legalmente conferida de adquizir bens diretamente, sem as aadas comiss6es dos intermedirios, patenteava-se sua importan- [pata os segmentos propositores, bem como o antagonismo des- ido portal vit6rianos circulos ligados ao grande capital mercantil. Sob tal incentivo, a Sociedade mobilizaria expressivo esforco em cla multiplicagao de sociedades fiiais sob sua lideranga, as quais se ja em stias mensagens e comunicados, facilitande em muito {trabalho de agéncia organizadora de classe, prestadiora de servi- 3 € formactora de opinioes. “Mesmo confins tao dlistantes € modestos como 0 vilarejo de Sao lipe (BA) seriam atingidos pela agremiacao, sem falar nas capitais estados como Rio Grande do Sul, Pernambuco, Santa Catarina ou thao, onde as associagdes rurais propagar-se-iam em escala iderdvel (A Lavotrn, 97), 1908, p. 154-6). Sob a tutela da SNA 0 movimento associativo de proprietérios is tornava-se fendmeno de abrangéncia nacional, espalhando-se jor todas as unidades da federacio: ao passo que em 1899, sete dos ie e um estados brasileiros no acusavam a presenca de socieda- agricolas ou congéneres, em 1908, todas eles o fariam, passando 0 nacional de oitenta e um para cento ¢ oitenta e vito, com énfase a 0 crescimento do nuimero de agremiagdes fundadas no eixo jorte/Nordeste (sobretucio Pernambuco) e Sul (basicamente Rio jrande do Sul) (Cf. Quadro V, em anexo) “rego da grande urges meen pox ser aguas pe dvuigas do deinen nog aoa ae inlade Shor Arise public em 908 pla Secreta ‘Aicaltar daguce estado Verda Ibelo oni erating de sna priors ral adbreriadstuldn porlodasos assoc dead gre ee eta, encntaveeogrupospereinde na menconsdaSceari 5 Conservar, ampliando e axunentando (Onuimero de instituicies registrado para Sao Paulo, curiosamen- te, decresceria no periodo abrangico pelo Quadro V, 0 que pode ser ‘explicado pelo fato de se terem constituiclo, na verdade —e em sua maioria — em bancos de custeio rural e nao associagbes de classe propriamente ditas, voltadas com exclusividade para os interesses cafeciros e niio de proprietérios ligados a outro ramo de producto (LOVE, 1980, p. 215-8). Talver. devido a este tltimo aspecto, alguns autores concluam, um tanto genérica eapressadamente, pela existén- ca de um sé padro de organizacao dos interesses de grupos agré- riosna Primeira Repablica, caracterizado pelo fato de que “a totalidade elas [as associagGes} visava a defesa politica do café (..). Na Rept bblica Velha, as organizacées de proprietérios agricolas s6 se davam. ‘em torno de um s6 produto” (Moraes, 1987, p. 21, grifos SRM), fato com o qual, obviamente, nao me é posstvel concordlar. ( grau de adesio & campanha associativista pode também ser aquilaiado pela relativa rapiciez na ampliagao do ntimero de associa dos da enttizade-me: 5.200 em 1908, actescidos de mais 2.000 no ano seguinte, além de novos 4.000 em 1911 (A Lavoura, 1908, 1909, 1912) ‘Ao longo da Primeira Reptblica a SNA, originariamente uma agre- miago de ctipula, passaria a contar, de fato, com uma estrutura regional considerdvel, capaz de respaldar aspiragdes que viriam a coneretizar-se em 1928, mediante a fundagao da Confederagio Rural Brasileira (CRB), A qual incorporaria suas proprias diretorias e 6r- ‘gies de propaganda. Significativamente ampliada no pés-30, a CRB daria suporte 3 verticalizada Confederacio Nacional de Agricultura, antecipando 0 corporativismo caracteristico da nova quadra histérica do pais. Se- ‘gundo palavzas de Torres Filho, representante da SNA na Confede- ragio, “Tem agora o Brasil, a servi de sia expansio econémica, 0 aparelho que havia mister, representado pela fusio e disciplina das iniimeras energias que se dedicam ao desenvotvimento das indistrias agricola...) (No estado atual da cvilézacto des pooos, produzir é ter organizagio” (A Lavoura, 33(1), 1929, p. 23, grifos SRM). Documentagao externa a entidade também comunga de igual vi- séo da SNA como uma associagao de classe articuladora de segmen- tos agrarios politicamente menos beneficiados no periodo, enfatizan- do a lista de ades6es & nova entidade recém-criada, da qual esteve ausente qualquer associacio paulista, predominando aquelas sedia- Conseroar, ampliando e aumentando ss das em Minas, Rio Grande do Sul e Nordeste em geral (© Paz, ee leste em geral (0 Puiz,7/10/ Orenovado poder de pressio das associagbes agricolas orquestra- das pela SNA seria também responsavel pela campanha de estruti- ‘ragio, dentro do aparetho de Estado, de um drgio especializado com ‘qual pudesse relacionar-se e no qual inscrevesse 0s interesses por elarepresentados. A recriagaio do Ministério da Agricultura,Indiistria fe Comércio (MAIC), extinto em 1892 em decorréncia da descenteali- “zacio republicana, configuraria mais uma de suas metas-chave”. Tniciada em 1901 — quando do Primeiro Congreso Nacional de gricultura — e consubstanciada, na pratica, em 1906 — com 0 jecreto de criagio da Pasta — toda essa campanha torna-se mais evidéncia da capacidade de penetragao da SNA na sociedade jalitica, tendo sido decisivo em seu transcurso 0 trabalho de dois de jeus “sécios-deputados” — os usineiros Ignacio Tosta (Bahia) eChris- pore (Maranhao) — no nivel da Camara dos Deputados (SNA, __O grau de integragao entre a SNA e o MAIC ao longo de todo 0 iodo seria flagrante, alirmando-se a agremiacio como interme- dors entre sociedad civil e sociedad politica, como bem oils- sm no somente as iniciativas conjuntas por ambos promovidas as, sobretudo fate de tornarsea Pasta o lacus de aparelhamento segmentos representados pela Sociedade no nivel da nova agen- ia do poder paiblico. Significativamente, todos os onze titulares do trio 20 longo do period, pertenceriam aos quadros da SNA, nido sido os tréstiltimos ministros, igualmente presidentes da agee- 10. A andlise des quadros de primeiro escalao do Ministério ‘lou, além disso, como se verificar4 na titima parte do trabalho, = dente os ocupantes das dezenove dretorias da Pasta nos anos le 1912, 1921 e 1927, 60% eram simultaneamente sécios ou ditt pe ente diretores _ Diante do prestigio e capacidlade de mobilizacio da SNA, 0 Minis- ro tenderia a constituir-se em instincia receptora e articuladora nteresses de fraq6es dominadas da classe dominante rural brasi- "atin em 10 para ear conosco a aninisanbs saul — do com sepia, da raponsllade de prs tras dees os pests ea produanapcols Past dn Akar eve suas preety cabal pelo Minato dnt, Vigoe Chas Publis en slo vena conic de inp dria eaunentando Conservar, anepliande Jeira ao longo da Primeira Repiblica, harmonizando-os ¢ implemen: tando-os sempre que possivel. O reconhecimento formal do estatuto de interlocutor legitimo conferido & Sociedade pelo MAIC — diver tamente do ocorrido com os clubes da lavoura imperiais —se traduzi- sia na infinidade de comissées ministeriais a que ela seria instada a pastcipar, bem como na atribuicio de vagas a serem por ela preen nidas nos Conselhos criados no Ambito da Pasta ao longo da década de 1920", Prestagio de Servigos e Propaganda ‘A defesa das bandeiras de luta da SNA pressupunha o estabeleci- mento de um conjunto de procedimentos que desse conta deseus fins pragméticos — "doutrindrio-pedagégicas” — e politicos fazenclo fom que, desde sua fundagio, ela se definisse como um pélo disper- Sor de esforsos em prol do aprimoramento da agricultura brasileira Se de seu diagnéstico acerca do problenia agricola nacional fazia parte a Critica aberta 8 monocultura e ao empirisio rotineiro dos agricultores fm geral, arvorava-se a Sociedade a fungdo de instancia legitima de orientacio da classe, uma vez que A agricultura nto € mais une oficio para ser exercido por homens incultos, sem preparo, sem as Luzes da ciéncia, deixando o agricultor de Ser, nos tempos mderios, urn simples operdrio rral a trabalar para @ toletividade sem certos preparativos socias e sem o diveito de tnfluir positiamente na dire dos negécios piblicas” (A Laeoura, 10 (2), fev., p.15). No intuito de reverter semelhante situagio, varios seriam os servi- os prestados a sets associados, dentre os quais ressaltam-se, desdea Sistibuiggo, gratuita ou a preco de custo, de sementes ¢ mucdas cas tespécios que be julgava necessério divulgar (sobretudo de cereais © farragens), passando pelo fornecimento de publicagBes téenicas,es- trangeiras sobretudo, acerca dos mais variados temas ligados a chi- mada agricullura centfen, até a realizagio de conferéncias semanas na capital da Republica, sem falar na organizacio de comissGes vo- Tantes, destinadas a percorrer municipios por todo o pais, de mode vu paraalén das comisabes organizadaras de eventos patrocinados pelo Ministé sho dtemoog Comite da Produgao Nacional (1917) a Missto para a Amazénia (1924) re Gina, © Conselho Superior do Comércio e Indstria e 0 Consetho Superior do Trabalho. 5 Conservar, anpliando e aumentardo A orientar e esclarecer acerca dos procedimentos agricolas ee _Sitanovse come uma prova da prtingna da agua ras ei ern da moderate’ to ee conjunto de expeintes po ) nao levava em conta stia adequagio as condigées especilcas ese eee mee como uma espécie de efeito-demonstragso de um paradigma de pro- fess vésperas do seu devi De sus fun jugave a Sociedade spender a construgio de tim ideatizado miler agriullor brasile- 10.Para tanto, ela mantinha,igualmente, um servigo de atendiment Aiconsullas dos associados, por cujointermécio respondia a dividas ivereas, mar cujaincidéncia recaia sobre dois temas chaver proved Ientos tenis aplicados acultivos e associatvismo, Em suas orien. fase a SNA encantegave-se de fazer a propaganda ess a ose, partcuanmenteaneesidade do ensino agricola. Aten oA indagases de um fazendio de Morris (Gos, por emplo verande sobre abana lucatvidade desta fazed, mah ose a ob 0 sugestivo titulo "O que é um agricultor | “Ascondiotes do mundo esto murdadasea concorréncia 6 cetera reenact re do Ihe ocorrerd bem. Neo, tal como o negociantc, ele deve estucar a funda sua profssto e, sobretudo, aplcar ua esclarecido esphrito para rntiro hom bo" (A Laour, 316) jn, 127, p 496) m ‘omo se percebe, a esséncia de sew aconselhantento, neste © em 08 casos, residia no convencimento sobre a necessidade do estu- ¢ da implementagio de tecnologia agricola, incuindo o recurs resulladosobtdos plas ete experiments fexiertes c= 1no territérionacional. A eficécia daSNA como instrument organizacio empresécio-rural pode ser, mals uma vez inferida, progresiv cescimeno de seu quadto de associa: dox 4.000 os rgiiados em. 1811 atingisinse a marca dos 090 em 1929 lo proprio reconhecimento que Ihe seria conferido pelo emo Federal 20 declaré-la, em 1918, entdade de ule pica Lavoura, 34 (10), out, 1929, p. 649) —-— Ba SWA exwira somites loaidades to dspares. * loalidades to dpars quanto Teresipali Alegre ou Fortalets com of de sir redtores i sto anton d a = squab os de Consercar, ampliando e aumentansto ‘Toda essa tarefa seria inconcebfvel, entretanto, sem a mengio de seu principal érgao difusor: A Lavaua, boletim mensal da instituicéo, publicado desde o primeiro momento de sua fundacio. Sofisticada ao longo do tempo, a revista destinava-se a vulgarizar as posigdes e fins da entidade, nao apenas por intermédtio de artigos ¢ editoriais, ‘mas também pelo acréscimo de novas secGes informativas, cada vez mais técnicas. Buscava-se propiciar aos leitores o maximo possivel de informagées praticas, tidas como necessérias ao desempenho cotidia node suas atividades, incluindo desde aquelas relativas a construcio de uma nova mentalidade racional, até as que difunclissem os feitos da instituigao e demais congéneres espalhadas pelo pais. ‘A:redagio de suas matérias, a cargo dos integrantes das diversas segées da Diretoria Técnica, contava com amplo quadro de colabora- dores, via de regra figuras de notéria legitimidade nos circulos agrs- rios, incluindo tanto estudiosos nacionais, quanto especialistas estrangeizos sediados nes mais renomados centros de pesquisa ag cola do pais". Outro aspecto importante explicitado pela pesquisa na fonte consistiu na verificagao do aumento da participacao dos agr3- nomos no elenco dos autores de artigos do periddico,o que se revela de todo coerente com o discurso e aspiragies da entidade, voltados para a elevagio do ensino agronémico & condicfo de fator essencial a0 aptimoramento da producio agricola do pats" (0s contomes do discurso veiculado pela SNA sio ratificados pela propria distribuigao das matérias privilegiadas em A Lavoura, como€ possivel verificar no Quadro VI, em anexo, construido com base em. ‘uma amostra integrada por cerca de quirhentos artigos monograti- cos publicados pelo érgio entre 1900 ¢ 1920. Sua classiticagio incidiu sobre treze temas-chave e o resultado parece ser altamente sintomati- cor Sociedade, por meio de sua revista, demonstra terarticulado, de fato, 0s interesses de trés setores basics: o da producto de generos > Dentee ests colaboradores de renome internacional pode-se resatar 0s agr0 rnomos rorte-american’s Benjamim Humic, Clayton Smith e Edward Green, res- pecvamente, direlor da Escola Agdcola de Lavras(MC), dinetor da Escola Agricola fie de Queicer(Picsccabe, SP) dirctor da Secio de Biologia Vegetal do MAIC. "ase aumento patenteia-e nas publicagdes da déeada de 1920, que resaltamn a formagio protssional dos autores das matrias. Fidélis Reis, Comélio de Lim, Willam Wilson Covlho de Souza, Francisco Dias Martins ¢ Gustavo D’Usra fran Ilguns dos nomes mais renomados na producto de textos tcnicos entre 1920-25 ‘om eles também se deparars sea no debate roralista, set no interior do pr6prio MAIC. Conserear, ampliando e aumentardo 8 (244% do total de artigos), o pecuarista (15%) € 0 algodoeiro (6,5%), prefigurando a alianca Sul/Nordeste, cujo fulcro assomaria ao cens rio politico nacional no decorter dos anos 1920. ‘Também as matérias de contedido eminentemente téenico mere- ccem énfase, posto que, além de sua elevada participaco percentual ‘no conjunto (21,3%), remetem, em sua maioria, A discussio do apri- moramento da producio diversificada de alimentos, particularmen- te géneros e cereais. Conforme se depreende do Quadro VI as duas temiaticas de maior freqiiéncia na revista relacionam-se aquilo que se tentava imputar como novos caminls para a economia agricola brasi- leira: a diversificaglo produtiva e sua tecnificagao. ‘Consoante a tais propdsitos, A Laovura concedia bem pouco espa- {00s tradicionais cultivos de exportacio, especialmente o café (ape- Ras 4% do total de artigos pesquisados), ratificando-se sua preocupagio com o fortalecimento das atividades que pudessem vir a constituir-se em alternativas de reprodugao ou crescimento econd- miico para segmentos agrétios de complexos menos dindmicos do pals. Por seu intermédio construia-se tanto um certo consenso em toro de que setores ou atividades deveriam merecer apoio e/ot1 amparo oficial, quanto uma imagem de agricultor moderno cujos >principais atributos — a aplicagao da técnica eda ciéncia aos campos = configurariam a identidade de um grupo, independentemente da ‘extracao regional de seus portadores. Ainda com relagio ao Quadro VI, outro elemento relevante mere- “ce ser frisado, referindo-se ao montante dos artigos destinados 20 operativismo (4,8%) e & educacio ageicola (4,2%). Por intermédio sua propaganda a SNA procuratia atingir como piiblico-alvo nao apenas os grandes proprietarios, mas também os médios e pequenos rodutores, vinculades & chamada lavoura branca. Oincentivo a formacao de cooperativas, por seu tumo, era pensa- jo como forma de tornar vidvel a mencionada modemnizacao da icultura mediante a organizagio daqueles com menores condi- econémicas para adotar os instrumentos da mecanizacio pro- dutiva. Por certoistondo significa, como o supde Reis, que aSociedade indo atrairia grandes proprietérios” por defender o policultivo, pos- {o que seu fim tiltimo, tio modemizante quanto conservador — vide ulema "Conseronr, amptiando e aumrentando” —aplicava-se A defesa ‘dos interesses da grande propriedade, a qual deveriam subordinar- 'e todos 0s instrumentos do idealizado progresso. spexoBinat ex9 “e ;pep euin op soxostad as-opuensopy opeisg ap oyarede ou. saseq sens seu opSenye edu. ‘bum ap oraur rod apepranemasardar ens ap ovSeum fal ap steue9 30 sepumyorce » Br-as-reotpap WN ® ‘Tapod ou 02044 op [aah wa weap ur rout ap oonsjod a contigtiona osad 10> sreuos fax soures Se $0} -uouuBos ap sossaraqur ap opSequasardar ep wiope7eUrOy eImaBy euo}>eU PrUTOUODe Ep SoUTEY SOSTAATD Wa STELeS -arduro sooSersosse senno ap ovSemynnse ep eurfipered ap ajanl ouros nsse ‘sed ow poten = ated voq ap azmu-ondin, -usaide epuenb sopesjoure>so sozo4 sviur soR[gUOD 2 svoRpid “Sep -ueuiop sep ovsuoazduo2 e ered oquoutoye ow09 O13 7464}59 95-¥I90H steins souesoiduro ap sooseznuv810 ap opnise 0 “opezqpeooy opoyiod our wiapserg v ouro> Je [eINSNpUE oMETTENIdeD ov OFSaNIp wi sepa soseq ap apepapos wuin ap osino1ed op OoLgAsTY OIXAUOD ON, aapod ap oanreusaiye odedso we) varqndoy wapowig ep owsrreany ov opuas opuep 'sed op vjooySe apiauaqianytea opSro0a v Pa ‘sned ,oppous, 0 uepunnecs anb erpgued ap seUpieu sv Ons SEUPA ‘euncor] y“ewuige 25 anb op S0AREPU SOP per opaig Op SUOPEEIPOU! 9 HOPE ‘pide wn ‘peg ofS, opeUNwU2p CBRE Os, ‘emyprops8e vexed erpurajard as anb seagnpoad se510y Sep oWUeUIEAIO.. “ussop ap euiSipered op opmsa o ered ayreyzodurt a1U0g ‘= OPEL sopoy sod 12s & vjoonife opsezrunepow ep odnorord ouso> ejsyned ‘oseo 0 “eystaau Uns op oFaur od ‘assa8opo VN “oped OBS ap ENI2FED ‘apueil v oeu anb sonp8e sojusuiFas sono soxoUN Uy jguatid op ovsuayxa w seorputaras ezed saseq sens assez1]{qoUL and oduray ousow oe ‘anb reyurenso aAop as OU EN9 TEL AOS “sonteare saz0y[noue x SoUrOPOU Sax0HN> $e vyundvsquos anb opquie 0 ered [e105 o}41UO9 © 95-OpULoIsP foad assvpp epo} e wuntoo JopeuTBOUEP o as-reUI0} 10d BALA wotumbe sous ayvaureanyjod souyarsdoad ap soquatas ap opSezipezuoumysur y oprSimp anb epure ‘se>yusg seoSeu! “oput v ossa2e 0 :eoiSgjoapr ovseBedoud ap wu “yaa ‘ooyjoquas op oedso ow ayuausjens as-ureyznpox Sapepmun ysyssauSoud soyouSmop woseun epeuorsuow ple waque) comes ‘eaqqnd opde ep oF nq 0 NAIDU UILHDANP SAPEPIATIE zno saroyas anb v owio} wa ost@si0> © aytOWOS OBL “oIpAUETANNT N9s “od as-erpunyiCl ‘Stoaypnytt sopupizn aro sey-yua04 opuodins a seormdo ‘opuruisoy ‘saseq suns 40d sa0Sisod sesso sepo4 ze8|natp ap Pr-96-1e8 -surpua “eanynousy ap TeEuoPeN apepe!90s ep ovsg ‘wiNOAIT] “onmstp osad ap wusjoudoad assep> ep 205 ex auyua soopyjod sowsyuoSejue v as-etz0ja1‘sostoayp apepordord ap sourfiar ap ogbisodvnquoo vyed sessed ap aBuoy ‘agaaiad as owos ‘oujsanb y “(lone op soya '9¢'d ‘e06T V1 sronupia2e sopSipitoa 50 09 OpLO2USIP WD BIS 932 7 i Tat, souojao sostopmpi3e,, Ip op'049 ap _popissooou, © wie a6-exxy]04 ‘sorsodoud e sapjow sou“apepoudoxd vp opSejuatreas e anbrod tpquie ouio> “eyurouos8e ure jeuyssyoud op ovSeuange e ajuausjersuarazoud onedsas opuazip ‘odure> op s0p “cueqen o zeagrqenb eavsts oyu oprpusjap vja 10d Pjonpe opSeampa ap ojalord o anbaod oyuawo: ) ,stemnz saropeyreqey sop opSeanpa ep 9 18959-1W9q OP nd euanbad ep ¥s9jep v vred vpeyoa,, opSumasur owo> ep au opSvio0sse ep sebuesapr sep asTpeue vjad opursse pious} ep opstyp e pve wigo-2p-oeUT ep v2z008 OBSSND option 9 opuestdus “an0s0sii0 @ Conservar, ampliando e aumentando questdes: a formagio do mercado de trabalho e a industrializacao. Pregando as virtudes da essincin agniria da nacionalidade, diagnosti- cando 0s problemas da agricultura brasileira e construindo alternati- vas para eles, a SNA acabaria por formalizar, por meio de sua agio propagandistica, os parametros do proprio debate raralista do perio- do, do qual trataremos a seguir, mediante a anilise de monografias agricolas de ampla circulacao ¢ cuja autoria deveu-se, em muitos casos, a membros renomados da agremiacio. Capitulo 3 O MUNDO RURAL: DIAGNOSTICO DE UM ESTADO Conforme jé visto, data da Replica Velha a primeira transfor 1acdo significativa nas condicdes sociais de geracio apropriacao de excedentes agricolas no Brasil quando, por forca do efeito conju- gado dos processos do fim da escraviddo, crise do setor agro-expor- re expanso urbano-industrial, a produgio do campo passatia a rientar-se, progressivamente, para o mexcado intemo, determinan- fo uma lenta, porém crescente, monetarizagio e mercantilizagao do lndio tradicional e da pequena produgio. condigées, uma profunda reflexao impunha-se aos dife- segmentos agrérios, no tocante & busca de alternativas e rede- ‘capazes de propiciar o enfrentamento dessa nova conjuntura, bm o minimo possivel de mudancas. Tratava-se de empreender as -agées necessfrias sem uma alteracio substancial da estrutura relacoes de trabalho, propriedade e poder, resultando no que guns denominam “padrao de expansio horizontal da agricultura’. im como a urbanizacio dos investimentos —refletida na expan- jo das atividades comercial, bancéria e industrial — favorecera a sojuauias soqra9 9p oyraterpuoye o ened Spaprane w.rejuanioar ap -aequny arduras wsessardxa ,emynonSe ep ovsezruapol ep seropenuaisns sreuormnsur-oonyjod seanpid se anb a ogbinynsu09 ep opnise op opunsed ‘opoued op -tumouy opSepa w annasrp ournzodo 9 VOIL10d V 4 SUED gormyde3 14 Cores ¢# politica de produtores a ela ligados — ou mesmo outros externos a ela! —, tém-se que os sucessives processos para intenté-la funcam-se, no mais das vezes, em modelos de evolugio (ou desenvolvimento) que se colocam como “superadores do ex-novo”, imediatamente tornado tradicional. Cada um deles costuma apresentar-se, a0 mesmo tempo, como tinicoe verdadeiro, mediante a negacio ou desqualificagao dos postulados e agées anteriormente ditigidos & agricultura. ‘Dessa feita, como ja foi observado no tocante a atuagiio da Socie- dade Nacional de Agricultura e ao debate ruralista, os mecanismos recomendados como capazes de dinamizar e "regenerar” a agricul- ‘ura se conformavam, via de regra, mediante a atribuicio de qualifi- cagbes negativas ou a alteridade dos agricultores — os pequenos sobretudo —, conferindo-se ao discurso modernizador um caréter perenemente domesticador e civilizador. A proposta de uma “nova” agricultura, racional, centifica ¢ progressista, superadora do sis, da rotina e da baixa produtividade, acabaria por imputar aos estreitos horizontes dos prodistores — perante sua suposta resistencia as inove- Bes e seu baixo nivel de escolaridade — a condigao de obstéculos & Sua plena instalagio, gragas & incapacidade daqueles de operarem ‘com calculos e procedimentos racionais. Para além desta problemati- ‘ca, também critica permanente a agao insuficientemente protecio- nnista dos governos,o canal de pressao/expressio mediante o qual se constréem dois outros atributos da agricultura tida por moxierniza- da: a diversificacio produtiva e a abundancia de créditos. ‘Tomando tais elementos como ponto de partida, grupos e setores diversos da classe proprietiria rural do periodo abririam espagos para a ampliagio da intervencao estatal em matéria de agricultura, Eonquanto nas fimbrias de um liberalismo econdmico progressivar mente desgastado, mormente apés a Primeira Grande Guerra, A primeira Politica de Valorizacio do café seria 0 marco mais notorio dessa tendéncia, sistematicamente consagrado pela historiografia especializada. Porém, a meu ver, ele ndo seria o «nico. "A criagio do Ministério da Agricultura, Inddstria e Comércio (MAIC), um dos aparelhos de Estado de segunda grandeza e fre- * Asse respeito ver Neves, Delma Pessanh. “As plitonsagricolasea construsio doprodutor modem”. Trabalho apresentado 20 X Encontro Anual da ANPOCS.580 Paul, Aguts de Sto Pedro, 1986 asineo). Dente ais motivagies extemasresalta: ‘se: subordinagioindistria produtora de insumos agricola, a extensdo da prpsia presenga ou legkimidade do Fslado; a eopiagio de agckultres a determinacas politicas pablinse,sobretudo, a suposta resoluglo para problemas saciais urbanos. Cores e a politica us qiientemente subestimado por esta mesma produc historiogritica, Seria um outro, simultaneamente produtoreveculo das pretenses ¢ propostas “moderizantes” de fracoes distintas da burguesia agrétia brasileira, pdlo de intersecdoe caralizagao de demandas das asim chamadas “oligarquias bagageiras” da Primeira Reptiblica’. Peca menos “desprezivel” do que se imagina, tanto para a manutengaio do equilibzio de forcas do jogo politico do periodo, quanto para aconfi- guragio da ossatura clo aparelho de Estado brasileiro, © Ministério chegeria a prefigurar, em muitos aspectos, praticasinstitucionais que seriam ratificadas no pés-30, como serd visto adiante Disputas em torno a expansio do Estado ‘Fruto da campanha movida por setores de grandes proprietarios Bs acpi pr degeeti criagio do Ministério pode ser encarada sob dupla ética: por um lado, como uma conquista desses segmentos e, por outro, como uma ‘resposta politico-institucional da fracao de classe hegeménica no ppetiodo, tentanto imprimir sua dicegio e consenso a toda a classe dominante. No primeiro aspecto, trata-se de recuperar a idéia de que ‘nem a grande burguesia cafeeira chegou a constituir-se em classe de Ambito nacional, nem tampouco dleixara de ser regional a expressao politica dos demais segmentos da classe dominante, sobredetermi- nando uma dinamica segundo a qual o Estado, malgrado desprovide do suporte de um mercado nacional integrado, deveria contemplar, em mazngue el sinters das demais classes ¢fragdes de classe integrantes do bloco no poder ar disso, con eprantes do blocono poder postoque, apesar dso, cons sa expres, consmgeada pela Morograia, deriva da cones porbol | Saepecres 4 gual “Sio Paulo éa locomotio que pucxa os vinte ome ios le Fer. pel Aurcano, Cana Mats. Nbr trea So Pl i ion 0 ae "eka en cue in mania Alo: “Anda asin, 2 gin clea cori us herons forma como o a eth, condo. ef sua forse faqusn, nun pte bila: end pa asim se arena ser me “poles d poer de Ex, bine ro pre dk em bri eos fate” Embraer om 9 el eat, dsord do spac de“ cmn ual nfizn ope dear de lad ata qu eftivaments es movi ona opp ralano ls decongsitan ce que de "napoli 116 Ceres e a politica Quanto ao segundo aspecto, vale a pena resaltar que o Ministério viria a constituir-se num canal difusor, de dimensses nacionais, da versio ruralista da ideologia do progresso, integtando-se ao exerci- cio de hegemonia da grande burguesia paulista fundamentado, den- {re outros aspectos, sobre a clevagao da pesquisa e doestudo cientifico da agricultura A condigao de necessidade piemente ao pais. Referidas a superacio do que se supunha real — crise ou airase da agricultuxa — as politicas agricolas constituidas a partir do érgio jniam orientar-se por interesses atribuidos a agricultores modernos jdealizados, & procura de atualizagio dos mecanismos destinados tanto a valorizagao da produtividade e da rentabilidade agricolas, quanto ao controle da prépria agricultura e dos produtores rurais Insistindo na vulgarizacdo de padroes modelares de desempenko, 0 discurso modernizador enunciado pela agéncia acabaria por cons- trair uma altemativa tida como vidvel ao progresso do campo, a0 mesmo tempo em que contribuiria para ratificar a outra face desta ‘medatha, sto é,a “invencSo” doatraso, to cata ao pensamento social brasileiro até nossos dias 'A despeito do nivel de idealizagao sobre o qual repousava, a modernizagdo pretendida dependeria dosuporte que porventura lhe fosse prestado pela correlagio de forgas presentes na cena politica e seu grau de tensio, numa conjuntura em que 2 disputa entre setores deminantes agratios regionais de extragio diferenciada agudizava- se, em tomo a competigio pelo atendimento dos mercados domésti- cas e internacional, progressivamente assenhoreados pela produgao agricola e industrial paulista‘ Por tudo isso, 0 estudo do Ministério e do significado das repre- sentagies por ele propagadas, nfo deve esgotar-se em sua eficicia {deoldgica ao prescrever, ordenar e hierarquizar simbolicamente aque- les sobre os quais elas recairiam, mas também incozporar a dimensfo politica de sua construgao, seus agentes ¢ abjelos privilegiados. So- ‘mente assim ¢ possivel depreender o dissenso no apazente consenso, ‘bem como 0 jogo de conflitos e ambigitidades inerente ao sistema de dominagao vigente na Primeira Republica. “ara Cano, o grande responsive pelo nascimento e consoliago da agriculturs cometial de alimentos no pas seria 6 exzado de Sio Paul, camo 0 comprovam Indices reveladores de sua progressiva auto-suficiéncia com relacio as importagbes de gineros CANO, Wilson. Raz da econo inurl em So Pade. Sto Poul: Draslionse, 1977, p44 ess, Ceres ea poltion 7 Espaco politico-institucional da articulagdo de fracBes dominadas da classe dominante, 0 MAIC contribuiria para a estabilidade relati- vva do referido sistema, mediante o patrocinio de priticas em sew beneficio, tentando diminuir a desigualiade de sua participacio junto 20 poder pablico. Com base nesta perspective, 0 extudo do rocesso de constituicdo, expansao e atuacio dessa agéncia do apa- relho de Estado revela-se paradigmitico tanto da existéneia de um efetivo eixo alternativo de poder na Primeira Republica’ —em para- leloe de contomnos nao tao precisos quanto os da chamada “politica do café com leite” —, quanto das premissas institucionais da moder- nizagao conservadora em gestacao. Ainda que em termos econémica e estatisticamente palpaveis a ¢ficécia das priticas instaurades pelo MAIC deva ser relativizada em virtude de intimeros obstéculos & plenitude de sua atuacio, sera privilegiado nesta andlise seu significado politico-ideolégico, haja ps ser uma das principals fangtes do Estado aorganizagto das -éprias classes dominantes perante a regul: conjunto da formacao social. ® ee eee Mesmo sem ter ocupado lugar de relevo no permanente didlo ee ee ‘Ministerio iria afirmar-se como um das espacos institucionais essen- ciais a mediacao de alritos e conflitos intraclasse dominante agréria, contribuindo para a vulgarizacéo do discurso modernizador acerca da agricultura o qual, uma vez transformado em consenso, acabaria por dela excluir os “menos aptos”, favorecendo, no processo de transigéo em curso, a redefinigio de seu papel tendo em vista a subordinagio & industria, Ainda que ferrenho defensor da vocayiio eminentemente agricola do pats, 0 MAIC viria a constituir-se num dos principais responsdveis pela consolidacao do mito da dualidade en- {re campo/atraso X cidade/ progresso. O Ministério da Agricultura, Indiistria e Comércie: génese e instauracio Foi sob 0 signo da estupenda crise cafeeira, latente desde fins di : ; a fins da ailtima década do século passado e do correlato conflito politico por * Tal nogdo € sugerida por Martins Ftho, Amilcar. “Cliente en mal no car. “Clientelismo e representagio in Mins Goris ira Primera Replica". Das. Rio de Jae, 272117357, us (Cores a politica ‘ela ensejado — envolvendo inicialmente proprietarios de regives caieicultoras de dinamismo varidvel — que a Sociedade Nacional de Agricultura deu inicio ao movimento em prol do restabelecimento de ‘um Departamento da Agricultura, encarregado de “ .organizar todos os elementos de instrucio ot eduengto agricola e de juni a maior soma de meios para institut-ta e praticé-la, combinando e desentvolvendo igualmente todas as iniciativas, rectersos, atividades « energins do trabalho e da pradue, emt uma orientagt esclarecida, adiantada e segura”® Esta seria, alids, a principal das noventa e seis conclusies do Primeiro Congresso Nacional de Agricultura, realizado no Distrito Federal em 1901, sob os auspicios da entidade e congregando agti- cultores de quase todos os ramos/regi¢es do pais. Formalizava-se nesta oportunidade, uma demanda com efetiva representatividade nacional, respaldada por segmentos de proprietétios agrétios que nfo s6 indicavam o objeto desejado, como tambéan ja definiam seu contetido ¢ orientacéo: 0 Departamento pleiteado deveria ser inte- grado por dezessete secées voltadas para o atendimento de proble- maticas 80 amplas como estatistica rural, botanica, pomologia, sementes, entomologia, propaganda agricola ou mesmo catequese de indios’. Estabeleceu-se, desde logo, que a agéncia a ser fundada nao cui- daria do café, abrindo-se um leque de outzos setores demandantes de ‘ratamento politico-institucional. A precisao e a minticia com que 0 Congresso delimitou as atribuigoes do érgao pleiteado explicam-se pelo proprio modelo que Ihe deu fundamento: o Departamento de ‘Agricultura norte-americano, cujo arcabougo e organograma fora transmitido A Sociedade por intermédio de cdpia enviada por seu sécio-benemérito Assis Brasil a0 Ministro das Relacdes Extetiotes, qual teve acesso Anténio Medeiros —editor do Jornat dos Agricidiores emembro da SNA — que a garantiu, por sua vez, aos congressistas (Guerra & Placer, 1966, p. 18). Sesto deenceramentoe eda fina des coelusies do Prineire Congreso Nacowal Agriculture, Rio de Jansicc: knpeensa Oficial, 1905, p- 154. Gries do autor. "as demas secies consstiriam eme inhistria aninal,quimica, metcorologis agrt- cola, mcroseopia, bacterologia, solos, forestas, plantas text's, horticultur, onito- logia,caminhose temsportes, além de mercados interos e estrangeiros, Id i, . 169, Ceres ea politica Unt breve histévico Em seu papel de grupo ce pressio, a SNA faria chegar a Camara dos Deputados, no ano de 192, por intermédio de seu presidente honorério, 0 deputado maranhense Christina Cruz, 0 projeto de criagdo de um Ministério da Agricultura, Sua alongada tramitacao legislativa indica o grau de resisténcia a sua instalacao: somente aps quatro anos, a nova Secretaria lograria materializar-se no Decreton 1.605 de 29 de dezembro de 1906. As razées de tal delonga parecem ser de ordem miiltipla. Nao se pode perder de vista, em primeiro lugar, o fato de estar ‘ocupando a cena dos trabathos legislativos deste quadeiénio, o deba- te em tomo das propostas de intervencio do Estado no mercado ‘cafeeiro as quais, em razo da intensidade da queda dos pregos extemos e internos do produto e sua repercussao sobre as financas piblicas, deslanchariam sérios desentendimentos entre porta-vozes de grupos agrarios regionais distinios, sobretudo paulistas e nordes- {inos’. Crticando o exclusivismo dos projetos apresentados, por ape- nas dizerem respeito ao café, seus opositores defenderiam a direlriz. segundo a qual qualquer medida de amparo e/ou intervengio fede- ral deveria voltarse para “A lavoura ent geral, no s6 para a Invoura do café, para a agrieultura to mete pas, para o deserrvolvimento de sun riqueza econémicn, encaran- do 0 problema em sexe conjunto, sem predilecées regionais, sem preferén- cis oriuadas do maior ov menor volume que atingiv a exporiagéa desta ie daquela mercadoria”, segundo as palavras do deputado sergipano Felisbelo Freire” Evidencia-se, em segundo lugar, que em tal contexto de tensdes, a defesa de um Ministério da Agricultura, destinado ao aprimoramen- to téenico de toda a producio agricola em seus mais variados niveis, contaria com a oposicio da bancada paulista, para a qual o tema nao se colocava como prioridade. O lobty pela aprovagio do projeto Cruz 0s debates © os confrontos suscitados pela discussio na Camara dos vérios proto ce walorizagio da café entre 19001906 achartse sStematizados ert Faso, Boris. “Expansio do café e politica cafecira’. In: Faust, B. (ong). HGCB. Sto Paul: Ditel, 1975, omo Il vol. Lp. 199-248 Brasil. Anis da Cline ds Daputades. Rio de Jancio: Impreasa Oficial, 1903, vol Vp. 774. Doravante ACD. 0 Ceres ea politica seria lidexado, sintomaticamente, pelo deputado, usineito.e comissé- rio de agticar baiano Ignacio Tosta — também presidente honoratio da SNA — secundado por representantes do Rio de Janeiro, Mara- nhiio, Pernambuco e Sergipe, em luta pela afirmagao institucional de ‘um espaco burocritico préprio para a canalizagao de demandas nao cafeeiras! ‘Acompanhando os debates travados na Camara, verifica-se a po- larizagio existente entre os projetos da valorizagio do café © da criaggo do MAIC condicionando-se, de ambos 0s lacs, a aceitacio de um a rejeicio do outro: intervengao estatal em prol de um ou de varios setores produtivos agrarios, tal era o objeto das posigdes em. disputa, Uma delas fica claramente evidenciada pela fala do deputa- do paulista Alvaro de Carvalho, em sesso plendria de maio de 1903: “Hai no puts trés correntes de opinido. Uma foi a que inspirou 0 sgoverno passado: é a Iuta do forte contra o fraco (.... A outta é @ dos prtidrios de auxitiod tavoura, Em regra, por essa expresso, entende-se entpréstimos a lacradores(..). O tercetro grupo, no qual esto fiiados os {que asssinam 0 projeto ems debate, pede apenas que o poder Executive, nna sua capacidade diretiva, governe o tinico produto que deve fazer a nossa riqueza.Nao hdc questo de feoria (.). © Ministerio proposto visa salver a agricultura, tomando as providéncias que se reclamam e que forem convenientes; mas receio que, se ndo forem ppostas em pratica medidas imediatas, quanto ao comércio de café, ‘quando se criar 0 Ministerio, j nao haja agricultura” (ACD. 1903, vol. 'V, p. 138-8, grifos do autor) Enquanto isso, Ignacio Tosta, na qualidade de representante da SNA e relator da recém-criada Comissao de Agricultura e Indtistrias Conexas da Camara, rebateria, afirmando-se favoravel & prioridade do projeto do MAIC: ""Clamorosa injustica cometeu S. Ex, deputado Carvalho, se 0 seu fim nao foi unicamente chamar 0 orador ao debate, por Ihe parecer que, baiano orador, era ele indiferente & sorte de S10 Paulo, de Minas, do Espiito Santo, sorte do Bras . O que cu afirmei fi que a agricultura carecn de auxiio permanente e afewto En, Teed Goma eto da ita de dnt por ™Dentre es depuadas mus ativamsente empenhades na aprovagto do preeto do ‘MAIC evideneiarsram-se:a0s debates parlamertares: Francisco Peixoto (PE); Barbosa Tima (DF Felibelo Freire (SE); Chistino Cruz (MA), dentre outros, ACD, 1900-6, ssi Cores e a pottica f ‘meio de empréstines individuais(..J. Ora, semethante auxitio perma hnente,o orador peruse 56 se poder fazer proficuamente por interinio dl tu depastamento de agricultura, praticamente organizado. Os projets paulistes no cogitam de eaxitio permanente no sentido a que aludiu 0 orader, tratam de armar 0 governo de poderes para agir de ‘cordo com os estados cafeeios eos lavraores de café(..)” (ACD. 1907 vol. VI, p. 429, grifos do autor). acrescentando, posteriormente, em defesa de sua posigo que: “ Querems saber os meus colegas a opiniao do humilde orador, daquele que exprimin as verdadeiras queixas e aspiragées dos lavradores? E que nds nao poderemos conseguir nosso dessderatum som a arganiza- to de wm departamtento de Agricultura no pais. Afirmo, sem receio de ser contestado, que murica tivemes Ministério da Agricultura, mesmo durante 0 lnpério ¢...). O antigo Ministério cogitava de ving, trans- porte, colonizacdo, correies, telégrafos e etc., mas mio cogitaon de ensino profissional, do estudo de mercados cortsumtidores e de todos estes narios assuntos gute constituem a especialidade do Ministério da Agricultura dos Estados Unidos” (ACD. 1904, vol. I], p.437. Grifos do autor), Finalmente, também influiram na disputa pela primazia da apro- vagiio, ora do Ministério, ora da primeira Operagio Valorizadora, importantes fatores de cunho burocratico-financeiro, uma vez que 0 objeto da contenda referia-se, em iiltima instincia, & repartigao de espagos do poder polit polizagao des aparelhos de Estado. A fundacao de um novo Ministério representava, de tal ética, nao apenas a ppartilha de recursos oriundos da capacidade tributatia da Unido — implicando no realinhamento de “perdas e danos” entre Orgios ja existentes — mas também a ampliagio da oportunidade de certos grupes de participarem e de intervirem nos miicleos decis6ries do Executive. Exemplifica 0 primeiro caso 0 entio Ministério da Indtstria, Viagao e Obras Piblicas (MIVOP), ameacado de cortes orgamenté- lentes, uma vez que lhe estavam afetas, na condi¢ao de subordinada, as questdes correlatas a agricultura. Jé no segundo, colocava-se a possibilidade, apontada em imimeras pas- sagens do debate parlamentar, de serem feridos os poderosos in- feresses alocados no Ministério da Fazenda. Monopolizada tra- dicionalmente por paulistas ou mineiros, esta agéncia detinha os m Cores e a politica mecanismos responsiveis pela ampliacio das receitas puiblicas" , por ela também tramitando, diretamente, todas as questées perti- nentes a criagéo de recursos ou ainda de aprovagao de créditos inclusive, convo ocorreria mais tarde, os mecanismos coadjuvantes da valorizagio do café®. Considerando que o Estado inscreve na materialidade de sua ossatuura a relagio de forgas existente entre as classes e suas fragdes, ppode-se encarar o processo de instauracio do MAIC como mais um capitulo da prépria organizagéo da classe dominante brasileira no periodo, uma vez que noves segmentos seriam chamados a partici- par do pacto de dominaséo vigente, mediante sua inclusao direta no aparelho de Estado. O caminho para a institucionalizacao das fissu- ras inerentes & dinémica do bloco no poder avancava, demonstranco, coneretamente, que cada ramo ou agéncia do Estado constituta-se em sede do poder e, nessa condicio, representante privilegiado desta ou daquela fragdo, ow ainda de uma alianca conflitante de algumas delas contra as outras (Poulantzas, 1985, p. 152-3) ‘A pressdo exercida em favor do novo Ministério pelo grupo de interesse organizado em tomo da SNA, viria a representar a concreti- zagao de mais um organismo do aparelho econémico do Estado a interferir no complexo processo do qual resultam as politicas puibli- ‘cas. Dai os temores e resistencias acerca do projeto; dat o argumento Ge seus antagonistas, recalcitrantes de que “o now Ministério venha a se trasformar em uma escola de buracracia, em que se encontram chefs, ofcias, amanuenses, womeados por influéncia da politicagen de chefes Tcais”®. Dai clareza com que seus defensores assumiam 0 objeto da "Segundo Schwartzman, considerandose Go-somente os tr ministries mas importantes Fazenda, TransporteeJustiga —verifia-se trem sido eles monopol- Zndon por Minas, Rio Grane do Sul e Sto Paulo, ao longo de todo o period, ‘oservando-se a eset 0 que 0 autor considera uma “elativa marginalidade” no Dreenchimanto de cargos do aparelho de Estado, levads em conta a méiia total de hos em que seus “tlhos” af permaneceram: somente 6,71 anos entre 1810 ¢ 1930. Rhwarteman Simon. Sto Prue eo Estado Nécioal Sto Paul: Die, 1975, p. 119. "> Emaora a inslauracéo do Convénio de Taub estivesse afta dietamente 005 etadon signairing, endo alé mesmo iniciada antes da aprovacio do Governo ‘Federal, seu plane fancionamento depen ftalmente do Ministério da Fazenda, posto que implicasse na contraacio de empréstimos extern w a ciagio de mec nisms monetrias de desvalorizagfo cambial ACD, 1905, vol. IL p. 1098. A fala € do depatada minciro Joie Pandit CCalogeras, un dex mais ferers ertcos ao projet de criagto co MAIC e, curios: ‘mente, tm de sous faturosttolares. Cores ea politica ps R ssalecat, 5 espa an apeovahn ta Canad Fata pean Ps os sont oh he deat com acrid roe Mbt so pog ene ca eles a haga deen meer co Terlales cnt é como a read contiaite om eo peer ee 1905, vol. VII, p. 1.104). reds eldalosne pen ances para rakiisciedap jo desringio ds MAIC. a SNA emits paneer preasonancopern Bort conmmoesranenstonil eh Aweamecaer ace ic ccfeouro cdoeevaotlsrde MIVOP tausoniolia neste Bl eaten a Socioinde procaca ecrslansr sie frvcre fesao de ses obfeive © hetero parcens apmeenadctons Sone Be cnara’s pat da svn eels eae ia eae oi timo interes qutndo ts oesigescargiom, crane 4 ca Rcaapormaamm aes Ministério da Agricultura ou Velorizagto do Caf A despeito de obter a adesdo presidencial a fencial a partir de 1905 , Projeto da SNA sucumbiria aos interesses cafeeiros, somente sendo aprovada a nova Pasta, sob forma de lei, pés a aprovacio do Convé- nnio de Taubaté, Ainda assim, mais trés anos seriam decorridos até a fancto do Decieto n° 7727 de 9 de decembro de 1909, que daria concretude a Secretaria de Estado dos Pecrtide 3 Senin a Nogécios da Agricultura, Nao por casualidade, a efetiva instalagao do 6r 0 , aefetiva instalagao do Srgio se faria durante 4. estdo de Nilo Psantia quando vice presidente em exerci, De- ‘or do intervencionismo estatal em prol de todos os setores da _producéo agricola, Nilo jogaria papel néo pouco expressive na con- MSNA. Pht ¢ parecer ie rio do Minit de Agere, indi fc deers prea Nac tsps Sn IN in sua mersagem anual a9 Congreso,» endo presidente Roiigues AWves nda © pri sonando sea scaler eae i ses rest nt Yes friction pra copious oss ¢ pron e agralarg,epeninie iti as pocamats so he fora ser rar Mitr da Agata”: SNA A Lure, Rode janeiro, 9), mar, 195, p. 2 grf doar. a ms Ceres ea politien civilismo paulista encarnado em Rui Barbosa. O destino da Ministé- rio esteve intimamente ligado a esta conjuntura. © interregno entre a aprovacto legal da nova Pasta (1906) ¢ sua cefetiva concretizagao (1908) desperta atencio, malgrado ter sido 0 fato menosprezado até mesmo pelos autores de obras oficiais enco- mendadas, de caréter costumeiramente laudatério e descritivo'*. Em verdade, 0 tratamento factual, eximindo-se de ressaltar 0 fato apon- ado, acaba por produzir uma espécie de “natuitalizagio” do cardter politico do evento, esvaziando-o de qualquer discussio, como se 0 descumprimento da legislacio durante trés anos nao se constituisse, cle proprio, em evidéncia merecedora de investigacto ou curiosi- dade. “Tal postura consiste, a meu ver, num artificio mascarador dos cconflitos ¢ cisdes integrantes do processo de construcao do Estado, 0 qual termina por transmuté-lo da condigao de relacdo para a de entidade, supostamente transcendente a propria sociedad. Deslin- dar a trama tecida nos labirintos do Legislativo, parece ser o procedi- ‘mento cabfvel para o esclarecimento daquilo que se me afigura nao ‘como mera filigrana da empiria, mas como uma das chaves que {informa a dindmica do funcionamento e constituigao da sociedade politica, ‘esse sentido, considerando que até a aprovagéo do Convento a questio da representatividade diferencial entre grandes e pequenos estados era a tonica das discussdes parlamentares, fica evidente que ‘a instalagio do MAIC poderia constituir-se numa possibilidade de ampliagao da participagio politica cos segmentos menos potentes da classe proprietéria, tornando-se mével da arregimentagao das opo- sigoes ao Convénio. Quando, entretanto, a vitéria paulista sobrep6s- se 20 conllito, a relativa neutralizacio dos “derrotados” ganhava ‘foros de urgéncia politica, de modo a assegurar o proprio éxito da ‘operacao valorizaciora. A aprovacio do Ministério em fins de 1906, foi seu instrumento circunstancial. A inércia, por outro lado, foi seu desdobramento mais flagrante, ultrapassado aquele momento cxi- tico. "Arnova conjuntura aberta em 1908, em decorréneia da necessatia aprovacio pela Camara de empréstimo adicional a Primetra Oper > Refro-me, sobre, aojé meacionad trabalho de Guerra iho & Placer, bom ‘ome a0 de Bellern, Newton. Evclug do Ministerio da Agricultura. Rio de Janeiro, Servigo de nformagso Agricola 1960. Ceres e a poten 1s So Valorizadora, acabou por eriar 0 momento cio & instauragio do jé aprovado MAIC. dla i lo MAIC, dante da agudizacao clas tensoes e das discussoes&hegemonia paulista ee estas signatrios do Convénio param, neste momeato, par 9 ‘enfronto®,revelandoos contomnos de uma eis capa de ope meter, mats que a crebiidade da opera a propia egitim dominass pala — jane disso e uma verestendlica acam sa dime dso laa campanha em prol do Ministé 4 dominic mat eased pio pb. por nme tum dos erotics de maior culo na Capt federal 0 Pass 7 sua instalagio ndo se fara tarda, a despeito da postura ev do Ect, Er 1008 «19090 Fase asa ado oe SNA, engzossando a presso plo cumprimento dais cde 1906, de runciando obstrugBes & sua concretzago, combatendo sea est a btn ecobvando do Govemo Feder as “himprterve nesidae de dar conrinto 2 resigoda Congres sore aedre varia de Eset a xed d cy i para a crag desse depariamento administration” (0 Faiz Rio de Jenico, 20/6/1808, p. 1). Sunnie anh tprovacio final dos regulamentos do novo éegto depend 20 mesmo tempo do prea inicio das ramitagde em torn da sues so prosdencial de 1910, expictando as contradigdesinerentes fanclonamento éa “politica dos govemacions” nesta que villa ser a primeira coicto compettiva do periodo..Emposeado apasa morte iPass ar dois tentos: romper as manabras paulistasdestinalae& ene 70 grade Br de fens plea pean nesta d politicamente prop custo poe ser ava plo flo de Minas eRe Jane ead de em rea fate det oper e somente aos cafés paulistas. Mendonca, ge cAph cm potica de valoriziqao clés sinaagio cost eos care rag ehnete Met cede isos Ue, mei em 88 peo conde des, Svaor Matin Joa dos sande vo epulleaa, lend por eater st 9, eam Sr ee At a, Fang re ute Iaema, Marea nena Cyto de Cag Ua, BO) page oe 126 Cores ea potien Iha de candidato favordvel & continuidade da Valorizagio do Café e instalar 0 MAIC. Contemporizando com a fragio hegeménica, indi- caria para o cargo de primeiro titular da Pasta o entio Secretério de Agricultura do estado de Sao Paulo, o cafeicultor, engenheiro & pperrepista histérico, Anténio Candido Rodrigues, fato este reportado pela imprensa carioca como significativo de que “o chefe da nagio nao poderia prestar mais ateciosa homenagent @ Sao Paulo, reduto da propa- ‘ganda civilista” (O Patz. Rio de Janeiro, 30/11/1909, p. 1) © MAIC: perfil institucional e composigio de quadros Integrado originariamente por dues ditetorias (Cf. Gréfico 1 em anexo), 0 escopo das atribuicdes ministeriais seria vastissimo, fruto do remanejamento de Grgios e verbas até ai alocados em outras pastas ®, bem como da criagio de novos setores administrativos, ‘capazes de inscreverem na materialidade do Estado os interesses que visavam atender. Tamanha abrangéncia ¢ sofisticagao, tidas como adequadas a pretensao de estender a ciéncia aos campos, suscitaria eriticas ao longo do gracual pracesso de organizagao daagencia, cujo corcamento— global e por rubrica — dependia do crivo do Legislati- vo, revelando-se, nessas ocasides, a disputa inter-regional pelo aten- dimentoa demancias especificas, dispurta essa mascarada pelo discurso {que contrapunha 0 temor a0 “gigantismo burocritico” ao critério da competéncia’ "Se no howoer testa dessa nea paste um profissional nada dou- tor, muito, mas muito mesmo pouco araigo da beca ¢ do anel, porén conhecetor real das necessitades da Incourne da indtistria, que se volte sistematicemente para o lado pratico-técnico da questo, temo que a ‘nova repartiofo venha a ser simplesmente som viveio de funcionérios, ‘como jo so outros arsenais ainda existentes"™®. ‘Sempre pugnando em prol do Ministério, O Paiz denunciaria com insisténcia a atuagao das liderancas paulistas na Camara, acusando- °*Dentre os Srgios remanejacosressltamse 0 Service de Lmigragio e Coleniza- lo; @ Jardim Botanico; © Museu Nacional e a Escola de Minas de Ouro Preio, friundos do MIVOP. Ji no tocanie a novos anganismes criades, evidenclam-se os Servigos de Agriculturn Pris; Ensino Agronémico; Defesa agricola, Poteca0 203 Indios 20 de Veterinaria. "0 techo foi extrafdo da fala do deputado gaicho Homero Baptista. ACD, 1908, vol. Vp. 659. Grifos do autor. Cores ea pottica ao as de promoverem lobbies conteérios & definitiva aprovagio dos pri _meiros orgamentes ministeriais, mormente numa conjuntura de deli- cado equilibrio politico como a entio vigente. Em fins de 1909, em editorial apécrifo, noticiaria o jornal: “Quesentiniento patriético ou que interessepriblico, ox particular do Estado, pode ter arvastado a bancada paulista a partcipar desse deploi- vel cominio de obstruir os traballos de Cémara, de modo a imped que sejamt votados os arcamentos? ‘Nao & possfve! que a opine priblica, no Estado de S80 Paulo, onde ‘mais do que em qualquer outro precomtina oespirito conseroador, secur de e aplauda a asitude incorrete ¢ facciose de seus representantes no Congresso, abrindo inopinadanente luta como presidente da Replica” (© Paiz. 30/11/1909, p. 2). Obsttesdos Iniciais: 6 Jogo das Forcas Poiticas (© quadiro de incertezas e fragmentacio que envolver o estabeleci- ‘mento da nova pasta acabaria por comprometer a qualidade de sua propria atuagao inicial, sobretudo considerando-se dois fatos: a ins- tabilidade na definicéo da estrutura burocritica do érgao e a alta rotatividade de seus primeiros titulares. O primeiro problema pode ser depreendido pelas sucessivas reformas por ela sofridas, a come- sar por aquela levada a efeito apenas um ano apés sua criag&o (cf. {raficos 1 ¢ 2 em anexo}, seguicia por outras duas, respectivamente em 1915 € 1920, cujo escopo apontava claramente, confrontados seus organogramas, para a ampliacao da ingeréncia do Estado em matéria de agricultura. Interessa sublinhar, no momento, a primeira dessa série de reformulagées, uma ver que se inseritt no bojo das contendas integrantes do que considero o “interliidio paulista” no MAIC. ‘A reforma de 1910, levada a cabo pelo segundo ministro da Agri- cultura, 0 paulista Rodolfo de Miranda, buscou congerir maior con- sisténcia administrativa & instituicéo™, desmembrando as duas diretorias originais em trés, fundindo antigas segdes ecriando novas, num esforco para melhor dispor as competéncias da pasta por meio de servigos burocraticamente mais bem definidos. Boa parte daquilo que em sua origem fora concebido sob a forma de instituides isola- 210 Decreto m 8.198, publicado em 11 de agosto de 1911 consofiatia, em defi © novo regulamento, embora este 4 estivese instaurede, na pritica, desde 1810 polo minisro Miranda. Bras. Cole de es 911, p23, is Cores ea politica das — como as estag6es agronémicas ou os campos experimentais — ppassaram para a tutela de um Servico de Inspegao e Defesa, cujo equivalente, no organograma inaugural — Servigo de Agricultura Pritica — designava apenas a racionalicade e nao o controle (cf Graficos 1 ¢2). Este dltimo, de igual forma, a despeito da mudanca de nomencla- tura, teria seu contetido preservado, malgrado acrescido de nova segtio — o Ensino Tebrico e Pritico —, de modo a tornar explicita sua adequagio a uma das principais demandas elaboradas pela SNA: a educacdo agricola. Dentre as inovacdes procedidas em tio curto ‘espaco de tempo, merecem relevo: estabelecimento de uma seco voltada para a difuséo do cooperativisme no campo; a instauracto de ‘uma Superiniendéncia da Borracha, bem como a ctiagio de um Museu ‘Agricola e uma subdiretoria voltada para a promocio de congressos © ‘eventos. Como se vé, os anseios traduzides na fala dos porta-vozes das fragdes dominadas da classe dominante comegavam a assumit contornos de realidade institucional. Jana érea da chamada Indvistria Animal, a reforma de 1910 intro- duzis novidades coerentes & intencio até certo ponto centralista ¢ controladora que as teria inspirado, Em primeito lugar citarei o Seraico de Veterinéria, que passou a subordinar todas as instituigdes isoladas do ramo, ais como a Escola Superior de Agricultura e Medicina YVeterinéria do Rio de Janeiro ou os postos zootécnicos ¢ fazendas- modelo, Em segundo, ressaltou-se 0 estabelecimento do Registro de Lavradores ¢ Criadores, a contrapartica imposta pelo Estado aos ser- vvigos a serem por ele prestados: 0 sentido de controle inerente a0 proceso de construcao do Estado é evidente, considerando-se parti- cularmente a importancia assumida pelo binémio Saber/Poder en- quanto estratégia de dominacio. ‘No setor de Indiistria e Comércio — visivelmente 0 menos privile- giado no quadro geral das atividades ministeriais em todo 0 periode = poucas seriam as alteragSes, exceto a criagio de uma Inspetoria de Pesca e de uma segao voltada para a organizagio e assisténcia a trabalho, encarregada de superintender as escolas de aprendizes-ari- {ices instaladas nas capitais de cada estado da federacio®. © A ambigua correlacho entre erganizagio/contoleInetente 8 criagfo de 6rgSos do aparelho se Estado fiea patent, por exemple, a parti da regulamentacio da titada tispetoria de Pescx que explicita em seu artigo 11°: "Considerase pescador a todo oindviduo que, da pesca vivend, possua a respeciva matricula nas stagbes Ceres ea politica 19 O segundo fator inibidor do funcionamento regular do érg80 refere-se & rolatividade com que a direcio da pasta foi preenchida. Independentemente da inexisténcia regimental de mandatos para cargos de confianca do Executivo, a brevidade dos intervalos com que se nomearam 05 primeiros ministros, até finais da década de 1910, revela a importéncia da instituicéo por dois pontos de vista: por um lado, por seu papel como objeto de disputa entre grupos de interesses conflitantes e, por outro, por seu lugar estratégico na indmica de intersecio entre sociedade civil e sociedade politica & &poca, O Intertidio Paulista: construsio e crise Oestudo da instauracao do MAIC contribui para elucidar a dina mica estabelecida entre dominacao e consenso no exercicio da hege- ‘monia de uma fragao de classe, no caso, a dos grandes cafeicultores ppaulistas, Fruto da pressao de fragoes agrarias em situagao “periféri- a” no bloco no poder, © Ministério por isso mesmo funcionaria em ‘meio a conflites que sobredeterminaram os limites e a ambigilidade de sua atuacio, dos quais, a répida circulagao de ministeos é evidén- cia palpavel, como se depreende no Quadro IX em anexo. De sua visualizagio, trés quest6es, de imediato, evidenciam-se: o predomi- rio absoluto de proprietérios de terra & testa da pasta; 0 monopélio exercido sobre ela pelos cafeicultores paulistas na fase inicial de sua montagem ¢, por fim, a perda formal deste controle a partir de 1913 (a excecio do bienio 1918-19). Quanto ao primeiro aspecto, pouco resta a comentar para além da comprovagao da relativa indiferenciacio existente entre campo inte- lectual e campo politico no Brasil da época, evidenciando que, a despeito de quase todos os ministros contarem com ao menos uma ppassagem por instituigGes de ensino superior, era sua efetiva condi- Gio de classe o fator dleterminante de sua indicacio para 0 cargo, Coadjuvada pela trajetdria politica de cada um: 100% do universo analisado desempenhou, minimamente, a fungao de deputado antes endo crass’, excluin-se da atividade os que nda detivessom a “marca” oficial do Estado. MAIC. Relairo. 1912, vol. I. 174, grils do autor (doravante RMAIC). lecroto que estabelece a instaurarao e regula mento da Tnspetoria € o de n° 9672 de 17/7/1912, Quamwo a Escola de yprendizescartifes, criadas em setebro de 1910 destinavam-sea qualificar menores para trabalho manta urbano, 10 Cores ew poltien de sua condugie ao posto. Sem subestimat, ao mesmo tempo, 0 capital simbélico e cultural amealhado por cada um dos agentes em foco, vale ressaltar ter sido 0 MAIC encabegado, majoritariamente, por engenheiros (545%, delonge secundados pelos bacharéis 27,3%), corroborando a tendéncia do predominio das profissoes de cardter ‘écnico em detrimento daquelas de teor humanistico no decozrer da Primeira Repiiblica. Isto significa afirmar que, para além do fato de ‘contara pasta com uma direcdo integrada macicamente por proprie- trios rurais, esta se faria por intermédio de agentes portadores do habitus tendente ao planejamento, a diresao e ao controle do espagoe des homens, isto 6, aqueles cuja esséncia supunhase baseada no saber mandar” (cf. Capitulo 4) a o predominio de representantes da grande burguesia paulista ‘nos primérdios do estabelecimento da agéncia, deve ser entendido ‘como mecanismo especifico de exercicio de sua dominacio e também hegemonia: uma vez consumada a iniciativa da qual inicialmente discorciava, tratava-se, agora, de nela imprimir a marca de sua dire: triz ténico-burocrética como estratégia da conducao do novo. Uma vyez que organizar obloco no poder, sem excluir 0 conffite, pressupde adirecio, a presenca paulista na lideranca de um organismo puiblico fem construcio significava nele inocular valores e principios, inten Ges e experiéncias previamente acumuladas por parte de sua “elite itica” ao longo da gestdo da agricultura regional. Logo, os padrées de “modernizagao" da agricultura estabelecicos pelas administragées estaduais paulistas desde a tikima década do Século passado®, teriam condicées de difundirem-se, agora, nacional- ‘mente. A nomeagao do jé citado Candido Rodrigues em junho de 1909 ‘indicio seguzo dessa afirmacio, considerando-se ter sido ele © conti- rnuador da obra de reformulaceo da Secretaria de Agricultura estadual iniciada por Carlos Botelho (cf. Capitulo 1). Legitimado como um dos profissionais mais credenciados no trate das coisas agrtcolas, Rocirigues ‘todo seu pessoal elaboraram a primeira regulamentagio do Ministé- rio e de cada um de seus Servicos, dando a perceber que a diversifica- (fo/ racionalizagio produtivas afirmavam-se como discursoe conjunto = Quanto este aspecto merecem relavo as expericias pioneiras desenvalvidas plo lastito Agnrcimice de Campinss desde fins de século passado, assim come a EriacSo da Esola Speror de Agricultura Laiz de Quae2, polo de izadiagio do-ensino ‘grondiico no pais e responsivel por 28.3% do total de agréaomos diplomades no Brasil entre 1850 e 1988, Ceres ¢a politien a de praticas, unificando as distintas fragbes da classe proprietaria em tomoa um mesmo projeto ideolégice. No momento, entretanto, em que ele viesse a declarar & imptensa paulista que “ao asswmir 0 cargo de ministro efetivo, deverei iniciar imediatamente a propaganda do café na Europa com a verba de 500:000$ votada pelo Congresso Nacional para a pasti”, 03 boatos sobre sua per ‘manéncia no posto comecaram a circular por meio d’O Paiz (O Paiz. 18/9/1909, p. 2). ‘Como se pode observar, as discordancias no se manifestavam ‘quanto ao aspecto “intelectual” da questo, mas sim quanto a seu caréter politico: em beneficio de que produtos e/ou regides seriam, alocadas as verbas e priticas ministeriais? A que grupos ou faccoes do jogo politico ele viria contemplar? O caso Candido Rodrigues sinalizava o quanto a gestio paulista no érgao fora conflituosa, a ponto de seu desenlace ocorrer em novembro deste mesmo ano, nao apenas em decorréncia das declaracdes prestadas, como também do fato de ser o ministro um civilista convicto, renitente a filiar-se as hhostes do hermismo presidencial. Mais uma vez O Paiz denunciaria as manobras paulistas para manter o controle da pasta: “Ao espirito pritico e wiltério dos politicos de Sitio Paulo, nto deixa de sorvin a cmoda idgin de déspor de uma pasta que thes siren de cofre das _gragas para os favores, de modo que Ths fica mais suave e amena a posigdo de oposicionistas internsigetes, gozaido das wantagens do calor oficial ‘A presenga do sz. Candido Rodrigues no ministério sempre foi esquisita: mas enquanto suas baterias nto se tinham descoberto, ainda cera possivel 8. Ex. manter o dificil equilibrio de ministro da Tnana, ‘Agora que as posigdes esti definidas, 36 tent dois caminhos a seguir: larger a pasta ow desligar-se de seus correligionsios” (O Paiz. 26/ 11.1909, p. 1. Grifos do autor). ‘A dimensio estratégica do 6rgao para certos segmentos de proprie- trios paulistas, ao menos em sua fase de montagem, pode ser aquila- tada pelos termos do acordo que pos fim a esse impasse. Conquanto afinidades partidérias tenham conteibuido para superéclo, é patente 0 ‘esforgo em conciliar os interesses das oposigGes com as pretensdes de Sio Paulo, até mesmo como forma de neuttalizar possiveis novos obsticulos que este pudesse colocar ao bom funcionamento da agén- cia. A solugio de compromisso residiu na indicagio de outro ministro ppaulista, porém dissicente do PRP, além de associado da SNA. Roclol- fo Nogueira da Rocha Miranda e Pedso de Toledo — principais articu- mm Cores a politien ladores da candidatura Hermes em So Paulo — seriam, sucessiva- mente, 0 segundo ¢ terceiro ministros da Agricultura. Mediante tal ajuste, garantia-se, por um lado, 0 arrefecimento do antagonismo paulista & plena implementacio da pasta e, por outro, a continuidade de sua ingeréncia na formatacao da estrutura burocratico-administra- tiva. Estava estabelecida, ao mesmo tempo, a ponte possivel para a transicio das liderancas regionais no controle do érgao. ‘A superacéo desse “interliidio paulista” impunha-se, no entanto, como uma satisfagio politica aos grupos de interesse que, desde 1901, lutawam pela instauracio do MAIC: 05 segmentes de propriets- tivs provenientes do eixo Rio-Sul-Nordeste, articulados em tomo SNA. Seu predominio a testa da instituigao seria efetivadoa partir de 1913, com énfase especial para os oriudos dos complexos agrérios do Nordeste que representariam, desde entao até 0 final do periodo fem foco, 36% do total de ministros (cf. Quadro 1X). Dentee estes merecem relevo os porta-vozes do setor acucareiro, bem como a indicagao, para além do ambito deste grupo, de um gaticho para 0 cargo em inicios dos anos 1920. De 1913 em diante explicitou-se, formalmente, a intima vinculacdo existente entre a Sociedade ¢ © Ministério, cujo escalao de titulares, & excegao de Rodrigues ¢ co ex- presidente do Rio de Janciro, Manuel Queirés Vieira, foi integrado por detentores de elevados cargos daquela agremiagio da sociedadle Civil Tamanha fusio de quadros dirigentes patenteia-se quando da gestio dos trés ulfimos presidentes da SNA, sendo Miguel Calmon duPine Almeida e Geminiano Lira Castro diretamente algados desta posigdo para 0 cargo maximo do Ministério. A SNA constituia-se, enfim, numa espécie de ante-sala do MAIC, impondo a ele seus programas ¢ diretriz de atuacao. © MAIC sob a dominagio paulista (OMinistério da Agricultura constituit-se, como se pode perceber, como espaco de institucionalizagio —e simultaneamente neutraliza~ gio — de conflitos intraclasse dominante agrétia, erigindo-se tanto numa conquista de seus segmentos menos dinamicos, quanto numa espécie de concesséo da fracio hegeménica, que Ihe dera forma ‘conereta com base em seus préprios paradigmas esobre o qual ainda continuatia atuando, indiretamente, por meio de injungées politicas asmais variadas. A evidente exclusdo da cafeicultura de sua algada, Coresea politice 9 juntamente com a manutengio de um reduzido montante de verbas, seriam 05 mecanismos de secundarizagao da agéncia no conjunto do aparelho de Estado republicano, © primeiro mecanismo apontado costuma servir de suporte a conclusdes distorcidas acerca do papel do Ministério, as quais, to- mando por critério a mera eficdcia econdmica de suas praticas, pem-no daquilo que, a meu ver, consiste numa de suas dimensé cruciais: seu papel como um dos niicleos politico-ideolégicos de organizacio do bloco no poder. De tal ética, parece-me que algumas, produgies historiogratficas mais recentes, talvez. por incorporarem 0 lema da época — 0 café dé para tudo — acabam subordinando suas aniélises acerca da formacio de politicas agricolas do periodo a uma visio restrita e simplista, subestimando 0 fato de que a politica econémica do Estado &, sobretucio, produto da economia politica Assim, comprovar a “ineficacia” do Ministério com base apenas no arrolamento de tudo aquilo que nao chegou a constituir-se em objeto de sua intervencio sistemética e regular, toma-se empobrece- dor, sobretudo quando nao procedida a efetiva contextualizacao hristérica do proceso em foco. Este é o procedimento adotado, por exemplo, por Charles Mueller em seu estudo a respeito das politicas, agricolas do periodo (Mueller, 1983). Ap6s afirmar a total inoperan- cia do Ministério ao longo da Primeira Reptiblica, devido & sua “estrutura institucional inadequada”, o autor argumenta que: “Pode parecer estranha, nim pats de economia fortemente apoia- da na agricultura, essa impoténcia quase total do Ministério da Agriculture, Indiistria e Comércio, Essa estranheza aumenta se con- siderarmos a forte posigao da cafeicultura na combinacao central durante toda a Republica Velha. Tocavia, aqui esta a chave do apa- rente paradoxo: a politica do café estava totalmente desvinculada do MAIC (..). © MAIC ocupavarse de todos os outros produtos agropecurios mas, como os agricultores que os cultivavam tinham reiluzido poder relativo face ac processo de formagio de politicas, permanecia um ministério de segunda linha, emperradoede impacto [pouco redluzico sobre os segmentos que pretendia representar”™. 20 sor jacouamentepomig em andi fea que “Un marca ve lta of ritros do MAIC 30 pera, coca que o caf ndo€ um produ pleas Em vers dso cafe no & aequer menonado, ee guts aparece ‘elena pastas a0 produc mas 6m se eee outa er No grt” Mose opp 18 1 Ceres ea polite Embora corzeta sob certos aspects, a conclusio de Mueller pa- dece de excesso de simplificagao: “forte” ou “fraco”, com maior ou menor impacto sobre os setores em prol dos quais destinava sua agio, 0 MAIC nao ¢ consistentemente avaliado, a comecar pelo fato de nao se discutir, em momento algum, sobre o sentido de se preser- var uma instituigao designada como quase desnecessaria ou “a- funcional” Ora, se o café jé ocupava posiciio-chave na “combinagao central” do perioclo, mesmo antes da criagio da nova agéncia, por que, entio, erié-lo? Em que medida justificava-se sua propria mana tengéo, se sequer atendia aas interesses nele representados? ‘A resposta a tais perguntas parece-me s6 poder ser encontrada valendo-se de uma perspectiva distinta da adotada peloautor, & qual suibjaz uma projeca teleoldgica de critérios de racionalidade econd- mica contempordneos, além da total desconsideragao das nuancas politicas ¢ ideolégicas envolvicas na dindmica peculiar a inter-rela- ‘sao entre sociedade civil sociedade politica. A inscri¢ao das deman- das de produtores rurais “marginais” no aparelho de Estado torna-se, neste sentido, um dado tao relevante para a compreensio de seu processo de constitui¢ao, quanto a eficicia de priticas setoriais con- crelas, sabretudo considerando-se o sentido da transicaoem curso, a qual apontava para a relevncia da industrializacéo e, conseqiiente- ‘mente, de novos parceiros no poder. ‘As tentativas esbocadas em prol da institucionalizagao de agén- cias voltadas ao incentivo do ensino agronémico ¢ a mencionada modemizacio da agricultura, conquanto de escassa operacionalida- de traduziam, de igual forma, 0 esforco pela cimentagio ideol6gica do bloco no poder, téo fundamental para a reprodugiio das classes dominantes, quanto 6 éxito no atendimento a demandas econdmicas “"qensuraveis”.Pretende-se,em sintese, chamar a atengdo para o fato de que o carater politico-ideol6gico que reveste a atuagio dos orga- rnismos estatais € também dimensao importante a ser incorporada na avaliagio de sua “eficacia” e, neste sentido, o MAIC obteve razoivel sucesso. ( proprio fato da nova pasta ter ocupado o pemiltimo lugar em grandeza quanto aos recursos a ela atribuidos pelo Orcamento Geral da Unio se, por um lado, 6 passivel da leitura imediatista {que empreende Mueller, pondo em relevo © peso secundario dos grupos nela representados, por outro, também pode servir para demonstrar 0 seu contrario, caso se compare o total das dotagdes Cores ea politica 138 destinadas agricultura quando esta ainda consistia numa direto- ria subordinada do MIVOP®. Verifica-se, neste caso, que 0s ganhos orcamentérios foram, até mesmo, excepcionais (ef. Tabela 1, em anexo). Nao se pretende aqui advogar para o MAIC um papel de “prota- gonista’ no contexto analisaco, mas apenas indicar uma outra 6tica de enquadramento do significado de “atores de segunda linha” diante da tradigao vigente em meio as praticas historiograficas em curso no pais de privilegiarem, quase sempre, objetos “nobres” de anélise. A observacao ¢ particularmente importante neste caso, ja que as pesquisas acerca da constituigio da classe dominante rural brasileira, no periodo, escasseiam, enveredando por caminhos que as reduzem a anélise das articulagées politico-partidarias regionais e sua relagio com o poder central. A série relativa aos orgamentos das despesas da Unido (cf. Tabela 2) ¢ bastante ilustrativa do lugar secundario ocupado pelo MAIC no seio do aparelho de Estado em construgio, nao tendo sido ele jamais contemplado com mais do que 5,6% dos totais indicados, somente superado pelo Ministério das Relagies Exteriores em matéria de escassez de verbas. Mesmo ‘uma agéncia em teoria menos expressiva na constelagao das forcas politico-institucionais, como o Ministério dos Negécios Interiores, gozaria de recursos mais elevados do que a pasta da Agricultura. Nem por isso autorizo-me a julgé-la um objeto menos digno de analise, visto que sua participacio no orgamento tendeu a crescer, embora discretamente — passando do indice cem para cento e onze nos extremos da série —, a passo que ministérios fundamentais, comoo da Fazenda ou Viacao, tiveram suas dotacdes reduzidas nos ‘A distribuicao orcamentéria dos recursos federais toma visivel, além disso, dois outros processos: por um lado, a relativa estabilida- deno padzao de alocagao das verbas do governo em toxia a Republica Velha e, por outro, 0 crescimento do aparato militar ao longo do periodo. No primeiro caso ressalta-se a manutengo dos ministérios da Fazenda e Viacao e Obras Piiblicas como receptores das maiores fatias do gasto piiblico, embora se tenha invertido sua posigao relati- Em 1592 por exemplo, os subsins &ageicultura representavam apenas 92% 4 orgamento total do MIVOP, ao passe que em 1918, as vésperas da criagio do MAIC, esta paticipacio atingitia seu dpe, com um indie de 10% Brasil. Orc mento Geral da Unido. Coleta de Las da Replica. 1982 1908. 136 Ceres ea politica vanos trés tiltimos anos da série, conforme indicado na Tabela 2. J no segundo caso, ressalta-se o cuidado do governo federal com relagi, sobretudo, ao Exército, em que pese a importancia conferida As milicias estaduais dentro do federalismo entio vigente. Exército e Marinha ocupariam, juntos, 0 tercelro lugar no orgamento da Unio em todos os anos da série, absorvendo sempre mais de 20% dos recursos disponiveis e apresentando um indice de crescimento que saltaria de 100 (1890) para 110.4 (1930). Somando-se a tais obser- vagdes alguns dados apresentados pela bibliografia especializada, tem-se que as tropas federais superariam, em ntimero, as estaduais, prefigurando uma tendéncia acentuada a partir do movimento de 1930", “Ambos os movimentos apontavam para a progressiva ampliacio do papel do Estado como regulador da vida social, assim como para ‘sua maior centralizagao politico-burocratica mesmo durante 2 Pri- meira Repiiblica. De tal processo nao escaparia a propria agéncia encarregada dos Negécios da Agricultura, Indéstria e Comércio, mormente a partir do momento em que a “politizagao da economia” brasileira atingisse seu ponto mais agudo de inflexao, no imediato pos-Primeira Guerra. Dai por diante 0 peso do novo drgéo como canal mediador dos conflitos intraclasse dominante ira zeforgar-se ainda mais. Para alguns autores esc fato evidoncia que o poder central, 30 privilegar 0 (MIVOP, assim uma postura mas dindenica no que tange a seu poder de regula mentagio do social Reb, Elisa Perera. “infereses agroverporiadoreseconstragio do Ftado: Basil de 1890 a 1930”, In Sox, Bumardo (ong). Economia e movinenos sais nt Arnie Lativa. S40 Paulo, Brasliense, 1985 p. 191217, p. 200. * De acorda com Levine ocrescimento percentual das ropasfeerais entre 1917 ¢ 1928 fol da ordem de 70%, a0 passo que o das milcias de estados como Si0 Paulo, Minas Gerais e Ro Grande do Sel fora de 11.5% 38.1% € 43.3% respectivamente Levine, Rebert. The Varges Regie: the ntl years. 293438. Newe York, Columbia University Poss, 197, p. 157 Capitulo 6 A POLITICA DE CERES ‘Tendo em vista os condicionantes de sua génese, o Ministério da Agricultura, Indvistria e Comércio logo revelaria, por seus relatorios, amuais, o vasto escopo de sua érea de atuacao, em plena consonancia com as principais questdes em pauta no debate ruralista’. A preocu- Pacio com as teméticas da arregimentacio da mao-de-obra rural, do ‘ensino agricola e da diversificagaio/modernizacao produtiva trans- ° Nada mas oportuno para stra afimativa da que a eprodusto do indice de um dos elation misters, justamente prineio dees. A espe das ues reformas sfridas pela agénca, vale lembrar que rm sim esi,» etutura da publicagio permaneern 2 meama:Inroducto, Scrvtaia de Estado; Agricultura © Incistia Animal: Servig de Inspegio, Esatisticae Delesa Agricola; Deegacia do Ministre no torrie elo Acre; Extnglo de Gafanhotos Reis de Lavradores, Crindorese Profisinais de Indsras Cones; Jari Bono, Museu Nacional Dretoria Geral do Servigo de Povoamento; Sindcatun e Cooperative. Ages, Premios para Expostagio de Frutas Nacianais; Enino Agronomic; Distibuio Gratsta deSementes; Cultura do Tigo: Cultura do Algo; Sociedade Nacional de Agricultura: Importagao de Animals Reprodstoes como Ato da Gaverno;Repi- tro Goncalogica de Animas: Posto Zooécnio Feel Policia Smita; Serva de ‘Veterindriay Marcas de Animas; Matadouros Modelo; Incstria e Comercio: Mine ‘29; Escola de Minas de Ouro Preto Servigo Geolgio e Minerlgico bri de Feo YpuneneSaicultur; Pesca Ecolas de aprendizesarfocs Patented I ‘engi; Direoria Geral de Esti; Servic de Pablcags; Marcas de Fabrics © de Comercio; Socedades Andnimas Junta Comercial do Dini Feral: usta de CCoretores; Bola de Corretores; Museu Comercial do Rio de Jancir; omissio de Expansfo Econdmic do Dra e Propaganda mo Estangeiee; Contailidade: Des- pesss do Instalagbese outras;Halacete do Estado das verbasorcamentais, Tabelas Explicativas do Orgamento da Despes; Distibugio de Creion Pagaentos; Con- trafos: Hens Méveis e Imdves;Passoal Servi de Consulta 138 A politica de Ceres formaram-se nos eixos da agio do 6rgiio que, por seu intermédio, procuraria garantir 0 Fstado poder de ingerénciae participagéo em dominios eada vez mais amplos da agricultura e das relagdes sociais no campo, Os Relatrios dos Ministros ao Presidente da Repitblicasio.a principal fonte — embora nao a inica — para a andlise das politcas por ele veiculadas, ressalvados os limites inerentes a esse tipo de documentacdo. stow coneciente de estar dando com um material de pesquisa bastante peculiar, cujos contetidos apresentam-se sob 0 ambiguo registro de rma totalidade discursiva, enunciadora, simultaneamen- te, de teorias e priticas, o que Ihe confere o cardter de um género propriamente dito, haja vista tratar-se de falas produzidas por agen- tes ocupantes de uma mesma posicio e destinadas a um mesmo tipo de interlocutores diretos, os mandatarios do poder. Gragas a este aspecto, 0s limites inerentes a toda espécie de documentagio oficial decorrem das dificuldades enfrentadas pelos administradores, trans- formando-se, no mais das vezes, em prestacGes de contas a seus su- ceessores e, justo par isso, nao muito fiéis a realidade transmitida. O cunho laudat6rio da fonte e seus contetidos presta-se, em conseqtién- Cia, ao mascaramento ¢/ou distorcao dos dados, dificultando 0 tra- balho do pesquisador, conquanto nao impossibilitando-o. Ainda como geénero, 0s relat6rios oficinis detém outra caracteristi- camarcante:a repetitividade das informacbes, idéias ou arguments, atestanto a existéncia de um certo “Iéxico” tido por adequado a uma narrativa que supée traduzir a real situagio dos problemas aborda- dos. Por paradoxal que possa parecer, no entanto, sao esses mesmos fatores “limitatives” da fonte a explicacao de sua importancia como corpo discursivo, j& que a tepetigao de caiegorias e nocdes, sobrede~ terminacas administativamente, converte-se num dado pari expli- calivo da realidade, quese enzaiza nos meics politicos, embora nao s6 ai. Por essa raza0, esse género de discurso perpassa e € perpassado pelas formulagies dos distintos grupos presentes no campo politico, fornando-se as agéncias que os veiculam formalizadoras de uma leitura, quase sempre “nacional”, dos problemas tratados. 5 sugestio do Relatsrins ofciais como tm gonero part de Alfredo Wagner emo de Almeida, em interessante trabalho com os Relatirios dos Presidentes da Provincia do Maranhio no séeulo XDX. Ver Almeida, Alirado Wagner B. de. Heologit a decabc: tur antropligica ama str da agricultural Marnie. Sho Pak: APES, 1983, p. 73. A politica te Ceres 10 ‘Também vale ressaltar que os relat6rios acabam por cumprir uma fungao demonstrativa a qual, pela redundancia, confere a suas for- mulagdes o cardter de certeza e inquestionabilidade, corroborando seu papel desuportes de dadas matrizes de pensamento Finalmente, uma vez que 0 discurso oficial constr6i suas conceituagies contra. pondo um sentido intrinseco a elas — de dominio do senso comum —aoutroa elas atribuicdo —da algada dos funcionarios do Estado — abre-se a possibilidade de perceber-se o jogo de pressdes/contra- ressdes que informa o que chamo de uma “modalidade de pensar” subisidiadora da agio publica, jé que no préprio ato de descrever 0 que deve ser feito para sanar um problema, seus agentes o nomeiam, desvendando ao leitor inquisitivo até que ponto operou-se uma rea ropriacao de discursos ou demandas produzidos “fora dos muros” da buroeracia. A politica diversificadora: questes gerais Dentro da linha de anélise desenvolvida até o momento, ressalta- se que os titulares da pasta da Agricultura também tiveram como ‘Ponto de partida de suas avaliacbes/agoes, a suposta necessidade de ‘empreender a regeneragto agricola do pais por intermédio da extensio da cigncia e do ensino ao campo, uma vez que “E mister, atendendo-se ao atraso € @ inciria em que deéxamos cair nossa laooure emt todas os centros agricolas por esses estades afora, ‘ifundir pelas populagdes do interior 0s mélodos modernos de exploragao do solo, abrindo-sea nossesjocens patricios a oportunidade de aplicaren- 2 nobre industria dos campos, to preciria até entfo © que a ninguén: seduzia mun pais essencialmente agricola” (RMAIC, 1913, p-XXXVIL grifos do autor) Referida tanto ao aumento da produgio interna dos bens agricolas — para 0 que, alids, a industrializagao consistiria num mercado potencialmente crescente — quanto a possibilidade de recuperacao dos saldos da balana comercial brasileira — pelo fomento de novos produtos exportaveis que nao 0 café, bem como pela compressao dos gastos com a importagao de géneros de primeira necessidade — a iversificagao produtiva seria a nogio-chave da produgio discursiva yeiculada pelo MAIC. Coerentemente com a transigiio em curso, malgrado as criticas aos males do urbanismo e a intensa defesa da ‘pocugio entinentemente agricole do Brasil, © Ministério indicaria o fo- 40 A politica de Ceres mento A produgao de géneros destinados a compor a cesta basica do constumidor urbano como uma estratégia politica da afirmagao de determinadas segmentos de extracio regional diversa, capaz de pro- pporcionar, sinmultaneamente, uma alternativa ao atraso e 0 equilibrio politico intraclasse dominante agrétia, justificando-o sob o argumen- tode que “ Antes de nos preocuparmos conta sai para oestrangeire de nossas carne, frutas e cereais, cumpre eliminarmos primeciramente os trope;os que totem: a ore circulago interna dos produces indigenas,dilatando 0 fmtbito do consiima nacionel, de modo a corrigirmas os prejutzos que até Fioje nos tém advindo do predominio do café ¢ da borracha em nossas exportagdes” (RMAIC, 1915, p. XI-XID. Este caréter diversificador, supostamente técnico e modernizante das praticas do assim chamado Ministério da Produedo, seré tratado, inicialmente, a partir de dois aspectos: a complexificagao burocratica do érgio ao longo do perfodo e a distribuigao interna de seus recur- 0s orgamentérios. O primeiro deles remete as reformas por ele sofridas apés a de 1910, particularmente as ocorridas em 1915 1920 (cf. Gréfico 3, anexo). © aparelhamento burocritico da agéneia, A:reforma de 1915, iniciada sob a gestio do ministro indicado por Minas, Pandia Cal6geras, e concluida por seu sucessor 0 politico e ‘usineizo pemambucano José Rufino Bezerra Cavalcanti, merece aten- Gio nao tanto pelo alcance formal das alteracdes estabelecidas, mas sim por seu significado politico, Afinal, nao pode passar despercebi- da a intima relagao existente entre ela e a ja citada substituigo do grupo paulista pelo da SNA na condugao da pasta, passando a imprimir-Ihe uma diregdo mais consoante aos anseios dos que origi- nariamente a conceberam. O sentido da reforma, que pouco afetaria o arcabouso do Ministé- ro (cf. grficos 2 e 3 em anexo}, parece ter apontado em duas dire- ‘Ses: a fusdo e simplificaio dos mecanismos de prestagao de servicos ‘ea concessao de maior autonomia para aqueles de escopo regional mais evidente. Reduziu-se, nesse sentido, o quadto de funcionrios, tentando adequar a agéncia a seu parco orgamento, mediante a subordinacdo de alguns servigos, até entéo independentes, As Dire- torias, como por exemplo os cempas de demonstragao, subsumidos a0 A politica de Ceres ua Servico de Inspegto ¢ Defesa Agricola. A redugao de quadros, por sua vez, pode ser ilustiada pela diminuigaa do nimero de tspetorias Agricolas que, de vinte passaram para quatorze, tendo seus recursos humanos e materiais to limitados que precisaram contar com 0 respaldo de proprietatios locais para dar continuidade a algumas de suas atividadles (RMAIC, 1915, p. 11 e 31) Quanto a relativa autonomizagio de certas agéncias, pode-se mencionar 0s postos zootéencicos, fazendas-modelo e escolas de laticinios que, a despeita de subordinadas a0 Servigo de indistria Pastoril — criado pelo Decreto n. 11.460 de 27/1/1915 — teriam liberdade de gerir suas proprias atribuices, podendo leiloar, ven- der ou distebueanimais ou veges forrageitos, alm de admin ar suas experimentag6es segundo imperativos regionalmente dados, (ld. thid., p. 53-5). nas sesaco Por meio destes expedientes buscava-se lavrar dois tentos simul- ‘tineos: consagrar uma zuptura coma orientaggo imprimida ao 6ng0 plas gestdes paulistas e reforcar o carter pragmatico do Ministério, neutralizando criticas que Ihe eram movidas quanto aeste aspeclo.O primeiro pento fica evidenciado na fala introdutéria do titular da asta ao justificar as alteragées empreendidas, testemunho de uma censura ao “assoberbamento” da produgso pauilista sobre o merca- do doméstico, a qual dele deslocava os produtes oriundos de outras regides do pais. Assim, “Desde que as exploracies agricolas sejam ensaiadas de acordo coma fs circunstancias peculiares a cada regiao, alcancarenies wna warieda- de maior de géneras, estabelecendo-se deste modo a franca permuta de produgo dentro do pais. Eniretanto, assim no acontece hoje e por «sta razfo vemos que Sio Paulo, ao lado do café, lavoura para a qual a atureza the concedeu solo e clima privitegiados, cultiva igualnente a cana e até o algodio”. Bs ee ye cae Ss pea meres mance Ser we Apolitica de Ceres, Quanto ao reforgo do teor pragmatico do érgiio, seu objetivo era responder as acusagGes que Ihe eram destinadas, particularmente no mbito do Congresso, por alguns de seus opositores, para quem “Em vez dedarmos ao organismo agro da nago wm aparelio motor de eens sinpples ¢ elementares, criamos de improviso rma vasta construciio arquitetdnica, temsultuiria e aparatosc. Stet mifama chegou ao pouto do CCongresso the regatear os recursos indispensveis, reduzindo-a wns grande estaado-riaior de generais, a sua maioria alheios ao oficio”®. Dai por diante se buscaria imprimir uma ago mais dinamica ao Ministério, mediante oamparo técnico-cientifico a setores especificas — acueareito, algodoeiro, pecuarista e cerealifero — viavel por inti ‘eras inovacdes administrativas, como o Servico do Algoddo, explici- tamente destinado a0s plantadores nordestinos" ‘Uma vez que as conjunturas especificas atravessades pela econo- iia brasileira no pés-guerra viessem a agudizar a competigio entre os segmentos da fracio agréria da classe dominante pela colocagio de seus produtos no mercado interno, afirmando, simultanemente, a importancia da produgao fabril ea existéncia de uma uestao social de proporgées consideraveis, a complexificagio burocritica do Ministé- rio se imporia como realidade iniludivel. Novas reformas estariam & caminho de modo a adequé-lo a seu papel de mediador de conflitos, ‘mediante a inscrig4o, em sua propria materialidade institucional, de ‘uma gama de servicas e encargas relatives & gestdo de todas essas questves. . “Em resposta a crescente “politizagdo da economia”, o carater estri- ‘amente técnico de suas atribuicdes e linguagem foi ratificado. A “RMAIC. 1915, p. Xe XI. E extremamente significative no se perder de vista © perl de Bezerrs Cavalcant, que sina do Ministro para ocupac ocargo de governa Uor eleito de Pernamivaco em 1918, ntabilizandoe por sua atuagio nas contendas fem prol da ainnagio de aglear pemnambucano no mereado do Centro-su ainda que ts custas de lables consttuides pela alianca com grandes comerciantes de Sto Paulo, desejoss de eapecularem com um produto de preco mais bao, em detimento dos [pripsios procutores paulistas. Gnaccarin op. ep. 338. "0 Servigo do Algodio destinava-se a “promtver a insu prin de ses cult- ‘adores no mato de preprar 0 terreno, de plantar, de tratar as planoyes, de cole, de tesearper, de embolere,fnament, de vonder 0 produto ds safns”. RMAIC, 1815, p. 75. Sintomaticnaente as primeirs sedes do Servigo localizaramse nos estadas do Rio Geande do Norte e Maranhao, susctando antagonismos — por parte dos colon cultores paulistas — capazes de levarem & sua extingio no ano de 1916, conquanto reinaugurado postriorment A politica de Ceres M9 absorsio da pretensa neutralidade da Ciencia parece ter dado o tom das novas alteragdes intentadas, como 0 demonstram 0 Grifico 3.¢ também o discurso veiculado pelos relatériost A traduco burocriti- ca desses novos campos abertos & intervencao estatal consistiu num conjunto de repartigdes to especializadas quanto um Sevoigo de Ex- purgo de Cereais ou 03 Institutos ce Quimica e Biolégico, para além de ‘outro encarregado da inspecio animal, voltado ao controle da quali- dade da produgio de frigorificos e fabricas de laticinios”, A gestiio de Ildefonso Simoes Lopes — engenheiro, fabricante de adubos e rizicultor de prestigio no Rio Grande do Sul — foi o marco inangural da institucionalizacao de uma tendéncia destinada a pro- mover a todo custo a “mocemizagio” agricola do pais sob a égide da racionalidade produtiva e da incorporagao de novas fronteiras Grbita da produgio mercantil, A imposigdo da obrigatoriedade da formacio agronémica para o preenchimento dos cargos técnicos mi- nisteriais era um sinal das “novos tempos”, onde Ciéncia e Dominio assoziavam-se (RMAIC, 1919, p. 40). Seu produto, a reforma de 1919/1920, consolidou trés processos fundamentais: a subordinagao da diferenciagao social em curso na agricultura aos ditames da tecnologia e, pois, da grande produgéo mercantil; a afirmacao da perspectiva industrializante da moderni- zacao agricola pretendida’ e, por fim, a ampliacéo do controle do “espaco agrario” pelo Estado. Diversamente das reformas anteriores, ‘esta introduziria um dado novo na correlagio de forgas entre socie- dade civil e sociedade politica, materializado no fortalecimento da *£ impressionante a diferenca da linguagem burocrtica empregaca nos relatrios pproduzidos ao longo da décado de 1920 em que, 2 excogio da fala introdut6ea de ela ministre, mo ht espago para qualquer ipo de retérica, apenas dados de carster ‘static, acrescios de vasto material fotografia. Seriam e298 algunas das mo- dalidodes de expressio da nova raconalidade ecomémica a ser dua na classe grea “RMATC, 1919, p40. A fiscalizagio sonitisia dos rebankos exa mais uma tare «do novo servigo, dante das epizootias que assolavam algumas regides do pats, Pare tanto, criw-se na Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinria, um curso especial para a preparacio de icals sanitiios. "Entre 1219 e 1923 0 Ministério, pela primeica ver, estabeleceria comisses para © exutfo do aprovetamento racional das quodas d"égua e das possibilidactes de in twalizacio dos minérias brasileirs, encampando fgualmente a discussio acerca da sdecurpia. Os volumes Ie If do Relatorio de 1923 destinam-seexpeciicamente ao temas. Em 1929 0 MAIC instalaria sua primeira Estado Experimental de Combustvels¢ ‘Minérios MAIC. 1920, p. 173 us A politien de Ceres capacidade de centralizacio politica exercida pelo aparelho de Esta- do. A presenca de sucursais do poder central em cada estado da federagao contribuirira para a lenta construgiio do que se pode cha- ‘mar de territorializagao do poder (ALLIES, 1980). A comecar pelas Inspetorias Agricolas — restabelecidas uma por estado” —, passando ppela fundacto de novas Superintendéncias com delegacias regio~ hais™,a presenca do Ministério iria estender-se por todo 0 territ6rio nacional Aliés, classificar e padronizar parecem ter sido as palavras de cordem subjacentes is mudancas empreendidas, cuja finalidade exaa idealizada conjugagio entre “orciem’ e “progresso”". A racionalida- de mercantil que se procurava difundir junto aos produtores rurais de distinto porte revelava seu cardter eitista e autoritario, construtor de diferengas e plenamente adequado & pretensao republicana de atualizar a vocaglo entinentemiente agricola do pais. Mediante tantos novos sexvigos e fungdes ténicas, o MAIC acabaria por funcionar como um difusor de padroes de produtividade, ampliando 0 foss0 ja cexistente entre agricultores supostamente modernos ou arcaicos, ji que poucos deles estariam em condigées de adaptar-se aos paradig- mas propostes. ‘A adocao de parimetros de racionalizagao produtiva proprios & economia industrial explicitou-se, sobretudo, a partir do relatorio do *Considerando que um dos matores problemas da agncia era diferengnexisten- te enire @intengdo modernizate © o quadeo de pessoal dsponivel, dria Simoes lopes que “as inspetorlas sao a chave da remocelagio sonhada, capa de cmp & Gibita de iflatnda do Ministéio a todos 08 estados”. RMAIC. 1920, p. XVI. A revalorizagio das inspotoris como instcumentos de modeenizgio contol, pode Ser agulltada pela inetalagio, no Rio de Janeiro, emt 1921, do Prime Congreso [Nasional de nspstars Arias: RMAIC. 1922.20, * Sogundo'o Relat de 1919 a novas Supeintendéacasviswvam sobretudo “ar wna as prcedienis erica ncolvendo a produto de xia wa desc ser’, :nun «forgo por homogeneizar cs pos comerciais produidos, visndo tanto a0 mercado externo quanto a0 doméstco. RMAIC. 1515, . 67. 50 Depurtamao Naccua! do Trabulo »instatagio do Serio de Senet 580 alguns extmplos deste ipa. © DNT, drgto suplenentar do Minis, crao em futuro de 1918, destinavase a “regular confltos entre partes empregados em todos os nivss, desde o mo rural atea cidade”. RMATC 1920, vebL p52 Fa aso das Somentirac, 9 proocspagio em etbelece padres ce produtividade tanspa- rece nas propris pelavras €o ministre: parece fora de dia que o prez avinto Arent a8 ifeenes altars perl qaiade ds somensenpregas ¢ de een de 25% dolor de clielas, que snc deslque va agricul nacional. RMAIC. 1920, VoL p XXL A ppolitien de Ceres 5 ano de 1923, quando a prestagio de contas dos trabalhos desenvolvi- dos pela agéncia passaria a fazer-se sob a forma de dados numéricos sobre as médias de produtividade atingidas pelas culturas experi- mentais realizadas em suas repartigoes. A propaganda das ino- vvagies técnicas aplicaveis a agricultura, sobretudo no tocante mecanizagio, embora fosse justificada pela ampliacao dos ganhos dos produtores, abria caminho para dois processos: a ampliagao da interferéncia estatal na hierarquizagio social do espaca ageario © a valorizacdio dos lucros do capital comercial ¢ industrial, indiretamen- te, seus maiores beneficiérios". Mediante tal conduta, a um s6 tempo politica ¢ ideolégica, de promover ¢ divulgar procedimentos e modelos de racionalidade “cientificamente” concebidos, 0 MAIC legitimava as praticas desen- volvidas por seus agentes como portadoras de um saber dotado de uma ratio imanente, perpetradora da fragmentacao entre trabalho intelectual e trabalho manual. A apropriacao da Ciéncia pelo Estado imbricava-a aos mecanismos do poder, justificando a criagao de um corpo de agentes expecializados,tomatios burcratas “intelectual © papel do Estado na organizagao da classe dominante ¢ na regulagZo do conjunto social seafirmava por meio de um discurso da aco — da estratégia e da tatica — profunclamente alimentado pela ideologia do saber/ciéncia e cujo produto seria o afastamento da ‘massa de pequenos produtores dos centros institucionais de deciséo. Por essa via, ritualizava-se a subordinacio/exelusio do trabalhador rural do pacto politico. A diferenga entre a fala e ago (Qualquer conclusdo mais precisa sobre o papel desempenhado por qualquer um dos ramos do aparelho de Estado nao pode prescindir, a As atvidades desenvoluidas pel Suporintendéucia do Algalo no ana de 1925, ‘por exemple, apreseniam-se sob a forma de tabelas relatives a ead estado produtor, ‘ontendoinformagies numércas sobre: rea plantada; custo médio de eada opera: ‘Go; produtividade por hectare e seu vals, ee. RMAIC. 195, p. 12038. Tal argumento ¢ spontado, dente outros, por Albuquerque, op. eit, p. 14 © NEVES, Delma Pessanha, op. ci, p.8,ao ressaltar que"aconsteucao dessa tecnologia ‘std roerida 0 desenvolvimento do outros seores da economia, que determina a {neorporacio dos produtosoferecdos pela industria, prinelpalmente sasimos, itr mento et." 146 A politica de Ceres meu ver, do estudo dos recursos, humanos e materiais, a ele atribut- dos, sob pena de “descoli-lo” do conjunto das forcas politiea-sociais, rele inscritas, comprometendo a avaliacao de sua “eficécia”. Logo, analisar a distribuigao interna do orgamento do MAIC & um appraach indispensdvel a0 trato das politicas e/ou medidas nele originadas, 0 que sera feito com base nas dads fornecidos pela Tabela 3, anexo. ‘Sua instrumentalidade se explica, em primeiro lugar, pelo fato de permitir mapear, pela explicitagio dos servicos mais prestigiados pela alocagiio de verbas, aquelas que desempenhariam fungi estratégica na condugio da diretriz politica assumida pela pasta, dando a perce- ber ocontomo dos grupos ou setores por ela contemplados. Em segun- dolugar, a decomposigio do orcamento em suas varias rubricas propicia acompanhar em que medicia a trajetéria burocrética do Grgio corres- pondeu ao privilegiamento/realinhamento politico dos diferentes ato- zes nele engajados. A andlise orcamentétia, ainda que em proporgées modestas e relativa ao estudo de um s6 caso, permite, em suma, slustrar as contradlgdes inerentes ao permanente processo de constrt- fo do Estado, revelando sua dinamica formal e organizacional. ‘A Tabela 3 confirma algumas das tendéncias j4 esbogadas neste estudo. Ao longo de todo o periodo, trés Servicos valorizaram-se quanto ao peso das verbas recebidas, a saber, por ordem decresocen- te de grandeza, as de Indiistria Pastoril; Powwamento e Inspegao e de Fomento Agricola, cuja participacto média no total das despesas mi- nnisteriais foi da ordem de 16,5%, 15,3% e 9,7%, respectivamente. No cotejo entre o discurso e as priticas efetivadas pelo drgao, tal com provagao vem corroborar nao apenasa diretriz diversificadora, como fambéwm seu engajamento no atendimento as demandas pelo con- trole da forca de trabalho esbovadas no debate ruralista. Isto se torna ainda mais claro atentando-se para aspectos como 0 fim da autono- mia orgamentaria do Servigo de lmigrazio e Cofonizagio™, a énfase nas tarefas de localizacio de trabalhadores nacionais a cargo do SPIL- ‘TNS, bem como pela constancia das dotagdes atribuidas ao Ensiito *Oriundo do MIVOP, Seren de Imigrapio¢ Colanisagfo convivesa até cero ponte autonomamente com eelagio a0 Seregy de Paeowmento, seu superios hier {quico. A subordinago, de ato, somenteocortetia quando aacoinstacao minis Fal coneluisee pela necessdade de ester sua poze “ten a colon nackal, sin excuaio do estrngez, exemple da erie do trabalho” RMAIC. 1912, VOL 1, p xxv. © preocupacio do MAIC em estender suas atribuighes em matria de acrgi- entacio, distibuigo ¢ fxagio de miode-obra evidencia-se pelo regulamento de A politica de Ceres M7 Agricola, que também respondia pela fixagio de mao-de-obra no campo, coma serd visto adiante™. ‘Comparando-se os recursos destinados ao Fonento — encarrega- do de distribuir sementes, maquinas e assisténcia técnica a procuto- tes — e a0 Ensino Agrondico — quarta verba em importancia no corgamento— verifica-se o movimento de reordenacio da diretriz. do {1gd0 no rume do alargamento da produgo mercantil agricola, haja vista as perdas sofridas pelo segundo ao longo da década de 1920, caindo dos 20,6% obtidos em 1914, para 8,8% em 1926, Tal reordena- sao visava dar maior consisténcia e suporte & tendéncia cientificizan- tee racionalizante que se incorporaria as préticas do MAIC na tiltima déada republicana. ‘A Tabela também propicia observar dois outros movimentos que, ‘embora pouco afetas d agricultura diretamente, nem por isso deixam de ser importantes: 0 crescimento dos recursos alocados no Servico Geoligica e Mineraligico ea relativa estabilidade das dotacées destina- das as Excolas de Aprendizes-Artfices”. Em ambbos os casos, 0 papel do Ministério na mediagio de interesses rurais ¢ urbanos evidencia a inevitabilidade do Estado incorporar funcées de fiscalizacao e inge- réncia sobre as questdes referentes & industrializacao, fossem elas de fordem cambial, tariféria ou social, eriando as condigées minimas indispensaveis 4 reproducto do capital Assim, o aumento das dotacoes do Servigo Geoldgico gana rele- ‘vancia se associado ao impacto produzido pela Primeira Guerra na interrupeao do fornecimento de combustiveis ¢ insumos industri ais, dando origem as primeiras manifestagées da iniciativa publica no tocante & ordenacao de debates e pesquisas quanto as condicoes, 20/6/1910 que estabelee 0 SPILTN, destinado a prover brages “purses zamas onde 0 ‘walalatresrongtr i pode estaba por nao Ike pormitr cima”, usiicd pela ‘otorca humanitivia da “reintegrago do bras posse ena dom de i meso, no Aesdobrementa de sua persnaited®juridca ede sux atioidede produora”. RMAIC. 191, vol. Il p. 278 0 Seroigo de Ensino Agrondnicy, algumas vezes apresentado como de Essino ‘ebriea¢ Pritco, fo coneebido, desde sua instalagto em 20.10.1910, em mokles altzmente hierarquizados e hierarquizantes, de modo a compensa o fata de que "0 lieiemento do ensino prfisional fora a causa de mssae males no agricuturs, cree desu stags e arf". RMIAIC. 1912, Vo. p. XXXL As Escala: de apendizs aries fram crindas pelo decrto na, 7.566 cle 23/8/ 1909, em todas as capitas do fats com o filo de transformar menores vadios em elementos de atividade e progresso, RMAIC. 1912, vol, p. LXXXX. as A politica de Ceres de instalagao dos ramos industriais carbonifero, energético e side- riirgico™. Gestava-se ai um dado tipo de relacdo entre sociedade civil e sociedade politica que, traduzido em organismos cuja repre- sentagao de interesses iria corporificar, dentro da estrutura estatal, as proprias relacdes capitalistas, enfatizaria politicas voltadas para a dimensio nacional, supostamente abstraidas de seus méveis par- ticularistas”. Quanto ao ensino profissional urbano, verifica-se © empenko do Ministétio em controlar os efeitos “desestabilizadores” e“nefandos” do wrbanismo mediante a formagio de jovens trabalhadores disci- plinados e potencialmente futuras liderangas adestradas a partir da exclusio do convivio fabril, por intermédio das instituigées publicas profissionalizantes (Grignon, 1971, p. 52-4). Os suportes institucionais da modernizagio agricola Diversificador da agricultura e enquadrador da miio-de-obra, 0 Ministério traduziria a necessidade da difusao do saber téenico em sintonia com as duas principais questoes ine:entes ao debate ruralis ta elevagio da produtividade agricola por meio da mecanizagio e da ‘educagio rural. No primeira caso o érgdo perseguitia seus fins medi- ® Desde 1918 © Ministério chamou a si o patrocinio do estudo dos diversos métodae de apeoveltamento do carvio nacional. Para oxganizar a discussio do ema promoveu 0 Prinkira Congress Brasilave de Carsto ¢ Combustses, realizaa fem 1922 no Rio, como parte das comemoragdes do Centenéria da Independencia, IRMAIC. 1922, p. 432. A partir de 1924 ee subsidiou o mapeamento hidrografico © _geologico das baclas dos tios io Francisco e Doce, visando sondar as possibilia- des de instalagio de wsinas hidrlétricase siderdrgeas nessas rgides. RMAIC. 19124, col. I, p. 57. "Os contomos dese “novo estilo” de partcipagao politic ficam claros quando da discussio da questo sderrgica, considerando-e 9 propria dindmica 2 compos: (io da citada Comissio de estudos. Convidadas formalmente,algumas figuras de roa do eenério sociopotitico do perodo para ea canalizariam as revindkaoes des Segmentes de que se faziam porta-vozes, acrbando tal inkativa por fancionar como "uma espécie defor: da prec do mencionado “imteresse nacional”. Os eoniitos porventura existentes,fotariam corpo dentro ou por meio do organism, que con fregou, dente utes, elementos como parlamentares ou ex-ministos (Simbes Lor pes por exemple); representantes da burguesia industrial (Euvaldo Lodi, segmentos ji envolvides com a siderurgia (Soares Sampaio de Belgo-Mineira e Amaro ca ‘Sveira), sem ala, ¢ dao, dos reprasentantes do Club Ge Engenharia. RMAIC. 1925, vol I p-D-XVIL€ 187 A politica de Ceres 9 ante a acdo propagandistica e a prestacio de servigos, a0 passo que no segundo, atuaria por intermédio do estabelecimento de um nti cleo de instituigbes de “ensino” agricola elementar, altamente segre- gacionistas ¢ imobilizadoras de mao-de-obra. Distribuigao de implementos e propaganda Na esfera da diversificasao/racionalizagio produtiva téo recla- mada pelos segmentos de proprietérios articulados pela SNA, os setozes contemplaclos pelo Ministério seriam trés: do algodao, pecus rae cereais, secundarizados pelo acucareiro®, patenteando o favore- cimento aos produtores nordestinos e sulistas Jé.as praticas ministeriais voltadas a produgao de cereais benefici- ariam tanto a grandes como a pequenos produtores, numa tentativa de integré-los ao esforco de compressio da pauta das importacoes brasileiras, onde tais produtas ainda desempenhavam, em plena década de 1910, considerdvel papel”. Nesse sentido, os Servigas de Inspegioe Defesa — transformado em 1920 no Fomento Agricola —e de Informagao e Propaganda, iciam empenhar-se na distribuigao de se- ‘mentes, mudas, implementos, folhetos e livzos, destinados a“difuair ensinamento des recursos quia citncia aferece para tornar mis proveto- sus as exploragdes, mais abundartes as colkeitas, com mertor dispéndio de energias ecapitais "™, "0 apoio a produgio acucarara se concentrow no incenlive ao estudo ¢ pesquisa pes 'do novas espeéces por intermeédio da criagao de esas experiments, duns delos ‘xtrategicamentesituadas nos estaos de Rio de Janelto (EE. de Campos) Perna Duco (EE. de Fseada). RMAIC. 1902-10, p. 1789. 0 Servigo do Algocio,extinto em 1916 por presses pals, sera reinaugura- do em 1929, continua 2 dedicarse 20 produto nordestino, sabretude apts 0 Exit ddo govero estadual de Sao Paulo no fomento a pesquisa de uma nova espécte (Big Bol), akemativa aos tradicionas tipos Moc6 Setidé, produzidos no Nonleste Assim, 0 MAIC estabelecea estates experimentais no Marano, Rio Grande do Norte, Paraiba, Paul e Pars. RMAIC. 1915, 1916 ¢ 192, pass ® Tomando-se 1900 como ano-base (100), tome que a imporlasio de btata, por exemplo,corespondia, em 1912, 0 indice 150, o passo que ade fortagens, 2 139'¢a do fifo, 124. BRASIL. Servgo de Estatistiea Ezonmico-Financeia, Comercio Exterior do Breil 1960-1813 Para aim de sementese publicagSes o Minstéio distrbuira também mudas de plantas (frutiferas frrageiras) eadubos. No primeiro caso, distribute 13.653 eam 1915, cont 20.651 em 1925, no easo dos adubos, a agénca forneceu, nos inesioh anes, 7,8 € 15,7 toneladas, RMAIC. 1916 ¢ 125. 180 A politica de Ceres Para além do aspecto impositivo embutido nessa modalidade de atuagio do Estado que, ao descrever problemas, preserevia solucoes, normatizadoras, o Quadro X (ver anexos) suscita observacdes inte- ressantes quanto & dimensdo politica deste tipo de prética. Em pri :meiro lugar é curioso notar, considerando-se a abrangéncia nacional da agao do Ministério, a relativa timidez com que prestou tal servigo, ‘bem como aestabilidade “em baixa” com que ele foi mantido, perma- necendo o total de sementes distribuidas em torno da média anual de 250 t,, exceto em 1918, sobrerepresentado em virtude de medidas ‘excepcionais determinadas pela guerra. (dades também demorstam o tr estadoscujosagrcultores mais beneficiaram-se das distribuigdes efetuadas, quais sejam, S30, Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, longinquamente secunda- dos por Parana, Rio de Janeiro e Minas. Considerando-se 0 papel desemperhado pelo estabelecimento de imigrantes como pequenos proprietérios nas unidades federativas do Sul, o que o Quadro suge- re éa correlagio estabelecida entre producao de géneros de primeira necessidade e pequena exploragao agricola, Dessa feita, apesar de ficialmente “fomentada", a mencionada hrvoura branca consagrava- se como espago menos “nobre” da agricultura brasileira, atribuido a pequenos produtores que, idealisticamente, tentava-se transformar ‘em farmers, de acordo com o paradigma que inspirava os gestores da pasta. A alianga politica entre o Ministério e os grupos de interesse ssulinos, de uma forma ou de outra, seria reforgada por este mecanis- ‘Ainda corroborando a difusdo de procedimentos tidos como mo- demizadores, 0 MAIC estabeleceria uma verdadeira linha editorial, chamando a si o encargo de publicar e divulgar trabalhos suposta- mente adequados a tal fim, como o demonstra 0 Quadro X1em anexo, Conserando se a iniciativa de alguns governos estaduais em diets itica, ‘Slo Paul, scbretudo, evidenca-se a “timide2” referida,haj vista ter a Secretaria de ‘Agricultura deste estado eissibuido a0 longo das anos 1910, a média de 56 toneladas {de sementes, So Pao (Estado). Reltrieda Spear de Agricultura. 19101820. Ate a inauguragso do Sercig de Soweneas em 3820 — integrado por cinco campos de sementessituados na Paraiba, Rio, So Paulo, Sania Catarina e Distrito Federal — as sementesdistrbuldas pelo MAIC eram adquiridas nas casas de comér- ‘io especializadas, mediante concorréncia pablic. A grta dos lavradores contra a tmoresidade do servigo, em fins da década de 1910, levou a agéncia a criar seus préprice campes. RMAIC. 1920, vo. 1p. XX A politien de Ceres 61 © conjunto de dadlos da série indica, de imediato, o grau de oscilacéo dos montantes distribuiclos, merecendo relevo sua vertigi nosa ampliagdo entre 1914 e 1916 — correspondendo a conjuntura favoravel as exportacdes aberta pela guerra — assim como sta pos- terior queda, stigerindo as dificuldades do Serviga de Informagies no esempenho de suas atribuighes. Por certo esta seria uma das re- particdes que mais frontalmente sofreria com as restricdes orca- ‘mentétias impostas ao Ministério, como se percebe da reducao ocor- rida em inicios da década de 1920, sabidamente um momento con- turbado pela aprovacio do novo Cédigo Orcamentatio instaurado por Artur Bernardes ¢ severamente combatido pelos ministros sub- sequentes* Isso nfo chegaria, no entanto, a anular © papel do Ministério como instancia formadora de opinides naclasse agricola. Fornecendo em média 158.095 volumes/ano dos mais variados titulos, ele na verdade substituiriaa SNA que, desde sua fundacdo, desempenha- re este encargo contando com o respaldo financeiro do MIVOP. As publicagdes do MAIC destinavam-se a piiblicos bastante diferen- Dentre os setores do-agricos benefciados pola suboedinacio da agricultura 2 tais padres ressltamse os grandes comereiantese industria, em cujo proveito rwverteria os genlios decortentes da valorizacao produtiva, fosse paca amply as rmargens de especulagio com estoques, fosse para baratar 0 custo das matéia. primas ulizadas, js que incentivavarse a concorrénca enre predutores de distintos Portes e rides. CE, para o caso do algodo, Sten, Stanley J. Origen eevlusio da Dulistria tri no Bras. Ro de janeiro, Campus, 1979, p. 1278 A politica de Ceres Assisténcia Técnica Outra modalidade de prestacio de servicos executada pelo MAIC foi aquela baseada na manutencao de pequenos centro de propaga- So tecnolégica e de assisténcia ao agricultor. Assentados no princi io da pedagogia do exemplo, os campos de denonstragdo/cooperacio, (0s paslos zootécnicos,frzendas-modelo,estagies de monta e experimertais iriam encarregar-se, juntamente com as Inspetorias Agricolas, de tor- ‘nar vidveis as diretrizes e rumos da modernizacao pretendida. Os campos de demonsiracio, existentes desde a instalagao do érgio e reformulados em 1915, destinavamse a estabelecer 0 ensino da agri- ‘cultura prética mediante a formagao de turmas de aradores, a produ- io e distribuigao de sementes mudas, bem como 0 atreilio aos roprietérios vizinhos & sede em tudo aquilo que dissesse respeito A adequacéo da ciéncia aos cultives locais. Adstrtos As hnspetorias, embo- ra em niimero inferior a0 delas — somente oito entre 1911 1917 — esses estabelecimentos preocupavamse, basicamente, em demonstrar ‘manejo de instzumentos e méquinas cedidos pelo Ministério. Suaeficécia, todavia, deve ser relativizada: no ano de 1914, apenas 337 propriedades foram beneficiadas pelos servigos dos campos, declinando ainda mais em 1916 (237). O mesmo ocorreu com o total de maquinas emprestadas, por tempo determinado, aos produtores locais, que passou de 569 para 533. Um aspecto, entretanto, chama atencaio para esse tipo de pratica: a elevada participacao de agriculto- res paranaenses e catarinenses no total apresentado pelos relatérios — 856%" — sugerindo um certo privilegiamento aos pequenos produtores como apontava a fala ministerial. “ Assirens do Paran e Santa Catarina, onde os colonos so geralmente equenos agricultore, foram ent sua maior parte lavradas por eles mtes- ‘0s, uilizindo-se de miquinas da Inspetoria e do auailio do respectioo pessoal, prticn de que tem resultado ser grande em ambos os estados 0 1nimero de plantadores aptos a se servie bem do arado, por eles preferido 3 enxada” (RMAIC, 1916, p. 8. Grifos do autor). PIRMAIC. 1915, p. 43-4 @ 1916 p. 6, Dos 362 aradores formados pelos expos de ye3pl fe) ep 4o}ap‘Soue ao sod Ins op apuE!> OF oad enpeiss opeindop Snoj4 2p senSe up ewuoumaseye Op ADLIP ‘ounlSoyy 9 wueqe>aies 0319} op supunso sup oxSnaqsua> wu oxyoud va eared eronea sp oueonemelye Qn 9p opHPURY HN ‘ony esuoDnogy a OP aopepury fsiauef ap of OP EU; ead TRA ouayualun 09 wp apuODst4 op OU cpa (REL - 9981) ‘G61 -9e61) enu2ma > pu “ea nous wp austayy amynously ep seueur} 9p oessiao' ep anopsud ‘Forn-tyz6r #ozst‘OT6I) 19p2) opeindap ‘soz0s sen ied xeg op apeIsT ‘oped zopeues ‘oyangy ap arary apepinoey ep oxnenstanpyy o4s09 ‘op euqunou {engt-1061) #384 9 Opera op swpysazdosso0sT-Fs8T) hojon op pedeneryy ext) Op [eas fom ouspce pA ESRTD ese ooypaioas 9 canpysry mInsuT Op oxquiU Ops-Lz—T) opens sD equedite ep AUR OPEN, PH}OC 9p HE] HD ‘wuapsaud-aats ASCSL-Z26U) ADO 2 Mls AUNYPISY Hp CUMIPY seq] op stasiouie9 soedeDessy sep oederopO] ep 2OpepLN oe, ep eaiotuo oxdersossy ep aqueyuasazda (gg -9061) #242 8390 > ‘oper eponstuny s9po} opeandap sz94590 oH} eN6I- 1061) MEN, bp smyana 8390 9 Oem, “eMOUY ap oUEaraos Axe APO OP fewuama eo eel opeusroy [a9 ona sa ‘oaprszy (spst-a2st) Anexo ‘sear ap eupyistag enmpeny ep oaqua 2161 z46t) soxouaye saaSope Sep ans 9961-2061) SEG SEG) 2 ovber ep ontUIU“ZT6H 8 Z06t ‘COG ZopeuDS TGs wo BuITANSLOD ‘oprindop -(t6g1-a881) tune wueS ap opeisl op auapraid Stes oR a seas ser 9 OxNUaTEPY Ww jaIEG LFSULIIA ere EP WIA ea We peuno} Heyl HULA ap OM LE CO1- SEAT) seanosse op ousjoud yg) 3120 2p On ‘jad yonpisa opeindap {ap seanoase, sod sopeni9n L104 9p SYpeae ‘opesope enoyadsuy ep aj eur exayuaduaeropuzey ect 681) opeyndag] sop e2ulg5 ep sey 2 ‘opsaoy ap apse ep exquiou enansean- ote ounsuo> ap ead 009 6 288g op Saor|MauSTy sop enua> eanjzadoo> ep auaprsaid ‘sonvoULLIOY}aW 9 SeUNSHU| ap wIOIOUIOS| eC BP JeNTP254" [ULON joo ep ablasp cule 9p of] op eaKay HON eIODEH ep OnNREPRED "11 4pRy oF/99 op rosso, estoue| ap ORE oP eHUDPIOA TOI jd opetioy royuatiun ‘auppuses(L161-2581) 19S OP APMEHD ON uloy ap eanymousy ap exooeusaiy, comms ow pa op onnewossudas ‘econ ap yedonnyy ee "su sopeuos euopo} opeindap forsass spony Ape6L-ce8D) “soing 2 sauy ap ni3r op ouaprsaidaants osu 9j¢3 op winoney ep onan ou at -ulpapayy 9p TeueREN wiwapeDY ep aTvapHsaNd“arouel ap Or OP [295 "esque ep aqunpisoad 9 pep sr He MEA “1 EHD eR aya fezapenos ap nor ofed apeusos oop naspuozt ASZ6I-SHRE) epson ep {ese ep so1ae Sj. sepa sop zope oHTDUE| ap ORE ap EAA Od ee>83 ep oonpsparea soqiauy a anbi3R7 3p apepsasiun ead op eo} ouput so}ueosowoo 9p eypulny ap auapURDsaP (OCGI-SFRT) (g6t-2681) nary 9-9 leg op pug oA va ee uur ee oupuof spent 61 - 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