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Clasicos & Comentadores ARISTOTELES E A POLITICA j FRANCIS WOLFF sraducio de ‘Thereza Christina Ferreiea Stummet ! Lygia Araujo Watanabe Corguuavo cena discurso editorial Ma DACULTURA ‘Thi ant Awe rer | SUMARIO 7 Da politics atta Politica de Avisiteles 35 A folicidade de viver juno “Anilise des des prieiossaplules da Politica 1 ‘e musing carmuio, 35 Tae geral 35, Pricing promise: ‘clade é wna comasidade’, 36 Sepa premisa “Tee comiase ier ben, 42 ‘rina prem: 4 eamurdade pin € auc hed raberanaenr tae, nl oder ona, 4 0 deionemento polimice de ons 8 Um meta sani, 8 o secunoo cxruta, 49 ‘A comnidads de bas da dade O lex 50 A comunidade do ila, 66 A eomidade police iat, 68 Obsragae tee, lges comelgice, 74 NOTA SosRE «Reena, 96 103. Eom busca do justo regime, Andie do Lior ITE Enruurs de canna 103, A clasifcagae dos reine (pe, 648), 105, Preiss pres fesps 15), 113 ‘im bus de regime mato Cape. 913), U8 Ocapiady 9.125 A inten dr ceptor 10-11, 129 Arindtles ea democrci, 131 ‘A dead tberanie popular no pital 11.135 (reaper 1213. 148 A rele (eps HT) MB 153 Refrénciasbiliognificas ate pequeno io no tem out pretinso além de preparae ou scompanfar letra ds Police de Areteles, O Capirale 1 lama apresencaso gral desa obra, spar da hiss ou ants da PréhisSra~ do pensamento politics greg spuide de wm resin avalco descnado 2 facia eu acaa. © Capital 2 propoe um ‘omenciio dos dois primeioe capil da Folic, esaande sot bjtvesprprioseeessieando-os no quadio mais gral da Flos sd Artes segue um breve apéndie cob coriade esr ho, espst nos apts 447 do metro vr, © Capa 3 Eom sagrado 1 andive do Livto Tt: €o lize fundamental do pom de ‘sta police, porque al Avséeler clases ecommpare os creme ‘egimes, Vrenos que dale deprecde, on parila, defers in tle do regime “democrtica™ ‘Accolha das passaens em que nos concentramos evidente- ‘mente no esgta iteese da Pola socdoge oa ohistrialon 8 mesmo o“polslog", eis sem divide povegiad outs I ros. Eecolhemosabordar Pali de Aces por ode cla mai ‘arco shia da oso pola por onde ela poe continder slimentil Depreendese uma cere listo ger: 3 de que s6 hi pollen eteminada por aqueer as qualia € deride, As eferenciasa lice 0 dads, conforme o so dasepuinte ‘mancira. O niimero em sgasmos manor indies Lv; vapid de um simero em slgarsmor aibicos, ndicando o capital, de. pets do nimero da pigina da edigto Beker (eeigo modetna do texto de Arsttelee + cuja paging se refetem eat at eiytcs tradugderdispontvci). em sept da les (a ob), indicande G& 5 Gy pee at) pars (viario) pare eae) ‘que corresponde a um esquema paralelo das necessidades: Be FOB nccetidade ———(aceade (ausénda de Seaweed par necetsidade de sera vers ‘Notemos um ponto importance. A tese de 12526 31, “a natureza éfim...", que serve de premissa 20 argu. ‘mento de AristSteles, é uma das teses centras desta flo sofia ¢o fundamento de toda a sua politica. Ela significa que + coda mudanga (quancitatva: crescimento ou decrésci ‘mo; qualitariva: modicasao,alteragéo; local: movimen. ‘o nacural) tende para seu propria acabamento ese aca ba assim que o ser que muda tivereferioamenteaingido aquilo que ele ers sempre, em poténcia. O devie de um ser cessa quando, tendo-se reunido a si mesmo, ele €o ue € sem caréncia, Um “ser em repouso” (um ser que ermanegs aquilo que é) estdacabado: é tudo aquilo que pode ses, atingiu seu proprio fim, & plenamente sua pré- Pria narureza. Vimos que somente um ser absolutamente lmativel ¢ dessa formar entre of viventes, & 0 caso ex clusivo do “primeira motor” A flcidade de vive junto 3 +a natureza de um ser coincide com o seu bem, © me- thor pars um ser € ser ele mesmo, todo ser rende pois nnaturalmente ~ 0 que no quer dizer que ele 0 “queita ‘ou que o “escolha’ — para seu prdprio bem, “tomando- 2" aquilo que cle é. Nada é mais etranko & Filosofia de “Aristételes do que a oposicio moderna entre o “ser” co “ever-set"; 0 que um ser tem de ser é 0 que ele € Seu ‘bem é coincidéncia consigo mesmo, Deste segundo sentido da tese, que 20 mesmo tem pi é 0 segundo sentido da palavea “fin”, deduz-te 0 se endo argumento a favor da naruralidade da cidade. "Além disso, aquilo em vista do que, isto é, 0 fim, €a melhor, © autarquia é ao mesmo tempo um fim e algo de excelen- te, Fica manifesto, a partir disso, que a cidade far parte das coisas naturais, e que © homem & por nacureza, ump animal politico.” (1252 b 34-1253 a 3). Este argumen: to paralelo 20 precedence responde entio a win esquema paralelo dos fins (ou bens): Ro BR 2 HR (objeto do fobjcvo do Cobjeivo dr cde Ine etifago, warjo isi ead deta ths necssidades ' cio dar neers indepenncin~ viaiscoridianas) des vieaicoiianas) vida bm lca) Vé-se que os fins das comunidades nfo politicas rio poderiam ser verdadeitos fins. Pois, da casal até o vilatejo, trata-se de meios em vista da vida e eles nie bas tam a esta vida, Somente o fim da cidade & perfeito. Na hiierarquia dos bens sae quais cendem as diferentes com nnidades, o bem proprio cidade ¢ o mais elevado, Vése 4 FRANCIS WOLFF ‘nto que a ordem genética ea ordem analitica sio tam- bem ordem hierrquica, uma vee que acomunidade poli. tica €a melhor comunidad, relativamiente as outras, ¢, tno absoluto, a melhor Observagto ética, ligica e cosmolégica ssa esrutura da hierarquia dos bens que as dife- -entes comunidades visam reprodv shirarqula dos bens aque as diferentes aividedes humanas em geal visam, tl como Aristéreles 9 expe no inicio da tua. Erica Nicimace, Toda aco, como vimos, €finalizada: agi vic sar um bem, Ora, hi dois eipor de bens: os bens ou es fins que sio bons para outr cosa © aqules que sz0 bons or cles mesmos. Considezemor os bens ou os fins que Perseguimos porque permitem aleangat outra coi (por cxemplo, destjamos passear pane estar cm boa sade ot twatamos de enriquecer a fim de adquici coisas). E evie dente que, valendo por ovtra coisa (Sendo, como se eos cums dies, sites), o bem que etd nels ¢ inferior 2queles que elas permitem alcangar. Se X x6 € bom para aleangat Y.¥ é melhor que X —e a side vale mats que’ passen. “Se hi encio algum fim de nossas atividades, que desej: mos por ele mesmo, .. se ndo escolleemosindefinia: ‘mente uma coisa visando outra (pois assim procederfa- mos atéo infinito, de sorte que o desja seria ile vio), «std claro que ese fim 6 poderia sero em, o bem sobe. ano” (Et, Nic, I, 1, 1094 a 18-22). Em outcos termes, das duas, uma: “A flicidade dee vver junto m8 + Ou toda coise somente & bos para outra coisa, € ‘nenhuma coisa € um “fim em si", um bem por cla mesma, Hid progrestao até 0 infinito na série dos bens ou dos fins; a a a Mas entio o desejo & “fitil e vila". Assim sendo, dlesejamos, mas nao hi nadaa desejr, pois desejamos ape nas meios que nunca levam a fim algum, © 0 pedprio de- sejo ndo pode ser saisfeiro,Pior: descjasnos somente por desejas,desejo infinite que sustenta a si mesmo, pura fal ‘a impossivel de ser preenchida, puro movimento sett te pouso, Talver este al a esséncia do desejo, cate a condi- $80 do homem, mas entio ninguém concestaré a vaidade de um ede outso!” + Ow enti desejamos com eftico, mas pant ober alguma coisa, Pouco imports se aleangames ou nio-e mes- mo que se posse ou nio alcangi-lo; © imporcante & que todo descjo visa o seu fim, seu limice, seu completamento, como toda falta visaa ser preenchids. Cuioso ser, 0 dese- jo, que nio visa sendo a se negat, que alo é senio para no set. O desejo & como 0 movimento, melhor, cle € umn ‘movimento ~ e 0 movimento nio é “am see", uma reali- dade existente, Se fosse um ser, ender, como todo se, a se reunir ea se manter, a coincidit consigo. Ora, © movi- mento € o desejo si0 exatamente o contritio de um set 1 Pensamos em Pascal "Nossa natureza é no mavimento; 0 repouse total 23 mote Peder Laf Gil, fr 129) escalate em {odor os eter sabreo “dverimenis 76 FRANCIS WOLFE endem a nio ser ea coincidir com os seus conteétios, fim do movimento é 0 repouso o fim da guerra, a pas'®, €. fim do deseo, sua auséncia. O movimento, em todas as suas formas, & mesmo o Unico tipo “de see” que visa a info ser precissmente porque todo er tendes sot cle mes. ‘mo. A tensio na dicegio de si mesmo, para o se sign «2, para a tensfo,sensfo na dresto do nao-ser; pos esta tensio que separa cada ser de si mesmo ¢ justamente @ smovimentos cendendo a ser ele mesmo, cada ser tende & anular esta mesma tensfo. E portanto uma s6 e mesma coisa dizer que cada realidade tende a se manter inexis- fente ou tende a corespondet a sua estneia e dizer que ‘movimento (0 descjo) tende para o seu fim, seu aniquila. ‘mento. E ainda a mesma coisa dizer que 0 ser perfeito, sendo sempre cle mesmo, nfo conhece movimento (nem desjo)"®. © movimento (ou o desejo) em oueros seres que © imitam tem como limite sua prépria eséncia. Neste sen. fido,¢ para rewornar atividade humana, no hi progres io até infinico na sete dos fins (ou dos bens) interme. didsios. O dessjo tendea um bem soberano, ue nio tem ‘outro fim senio ele mesino BOR SBR SBS "© fim ds guera € pas © aquste do wabalho (ral tse (tht ver VI, 13,1385 235 15, 1334 1 "9 Vee Met, A, 7 1072 423-1072 b 13 a propsita do primeira ‘motos, se necesito todo em ao, 40 mesmo tempo terme de ‘oso movimento (le move cada ago que € movi ser ere ‘mesino movida «fim de vodo dao (aimamence desejave, de Pespio nada des) A flcidade de se vee junta 7 Soberang deve sr entenddo em dois sentido + No sentido telativo, sto 6, superior a todos os ‘outros, segundo 0 teorema acima (°Se X 8 € bom pare aleangar YY € melhor que X"): cada bem intermedia sendo superior iquees qu oprecedem ma sere inferior Aqueles que 0 seguem, 0 imo € superior todos on + No sentido absolut, ito, absolutamence bom nee mesmo, sem fala, bastando somentea cle mesmo E com vies a ele que todas a outs coisa so visa tas cle ndo visa nenhums outra. E por de que todas as ‘ura cies sio boa (pis s6 sto boas para aleanca). tnas ee do € para outa coisa ano ser ele mesmo, Sem esse bem em si, nig haveria nada de bom pos tudo ag Jo que bom ébom em ot pars outa coisa: Da o foto ddequesomente o bem soberano rio depende de menu ‘outro, a0 paseo que qualquer outro bom chi outen bens pois existe um ber soberana), so conto, depende dle Somente ele utérquice”«, eiprocamentesomente a aurarasia, como vimor, €soberanamente bos Esta estrus, qe, mais, seule a elagbes en t1e0 “soberano bem” etdo bem posse regula abn, fm meric, telagao ene todo "sr teal aguilo que Avisétles chama ona, © que na matoria das ves ra ddasimes por “nubstanca)& os scrs ac dele depends ~ 0s ‘acidentes, Hé mumeross "sere", mas, com acon ‘eee com os bens podemos dstinguir dis grandes gene ros: aqueles que “alen” por eles mesmos e aqules que valem" por outra cass. Ou, mais pecisamente que so e eata mas de valet, mas de ser aqueles que 0 por 8 FRANCIS WOLFF cles mesmos ¢ aqueles que «do por outta coisa — 0s “s dentes". Consideremas esses seres que nio existem seno or um outeo (por exemplo, a cor amarela bem que exis: fe, mas nio por ela mesma; “amarela” existe porque hé alguma coisa que ¢ amarele, um pintinho, uma flor); € evidente que sua existéncia ¢ “inferior” Aguela dos sexes ddos quais dependem. Se X ndo existe senio por, Y “exis- te mais" que X. Do mesmo modo que levantévamos hi pouco, a respeito dos bens, a hipérese de que possa haver Somente coisas boas para outta coisa, levantemos desta vez ‘ahipétese de que possa haver somente seres que nao exis- tem senfo por um outro, em outras palavras, que “nudo sejaacidence’”. Esariamos, evidentemente, também neste «aso, condenados a uma progressio até o infinio: APA Au A A ‘Todo “ser” seria acidente de um outro, ¢ nenhumn seria por ele mesmo, © que significaria ao mesmo tempo te rodo ser seria sempre dito de um outra (como se diz “amarelo” do pintinho), eque toda existencia seria depen- 2 ate reavismo “oncléges” surgi da cocrente sofia, assim como otelatiname cade ue delzmos acinaque consis emt Afar que todo valor ¢ relativo il de gue ee 9 vlon em fda que valha em s, Nor dae eats, Arattclesadmiasa & ‘mesmo rraimentoe monte ie a ptt innate, ab dnc contadiza si mesma. A tee do em aiden” po [Aiteles como uma conse ncia ects ca posto gue tent ‘ugar pincpio da contadicso Ms, T, 4, 1007 239-31), tla ‘efvada na demonmracio por sbsundo Se 1007 4 33-1007 b 18 pa gual nor gunmos aa A flicidade dt viver unto 7 dente de uma outra. E assim que, undo fslando de um stompetisa de jae dizemos que cle ¢ negro, “negro” no existe por ele mesmo, mas por "wompetsa:entreante “tromperist no existe por cle mesmo, mas pelo ser ue se diz que toca teompete, © isco, mas “misico” ao existe por ele mesma, esi peo ser de quem se diz que «studou misica, um homeny cult, re. Mas esta progres So até infinito¢impomivel. Dos acidents sé io ae dentes um do ousro (0 momperie & nego) porque #0 ambos acidentes de wma “substance, ito de Um ser aque, cle sim, no €acidence de nada (a0 nosso exemple. Miles Davis mas respito de quem a acidentessio dios (Miles Davis éerompetista Miles Davis ¢ negro); am set aque “é por ele mesmo (io 6, vite e pronto: ¢o caso de Miles Davis, cua exstneia nda depen do instumenco nem dco) ¢20 mesmo rempo “eacidentlmente” ete ow aquele (@ 0 caro de Miles Davis, que acontece tr tromperiss, negro, american, ec). Far de acidente € fale 20 mesmo tempo da subetncia: sca portant flo afirmar que do # idence ion, sera absurdor to absurdo quancosustentar gue todo bem é relrivo su outro sem que exista um bem soberano, Porque dizer que todo ser € acdente de tim outro sem que nenhum exea por s €contadiri. Se toda exintncia€ dependent, nfo hi exstncia, pois no hi nada que eta em sie nem tamponcy hi exnneia dependent, Do mesmo mod que se todas as cosas boat S80 boas para outa cosa, nenhuma seve para nada, pos clas somente podem ra seu valor de algua coisa que © possuie da qual dependem (wo havera nada ceseavel) 80 FRANCIS WOLFE ddo mesmo modo, se rudo "por acident, nada &, pois fo hi nada de exsente do qual as outas cosas poseam depender (no haveri absleramene nada). De onde 0 faro de que somente 0 ser que ocupa “ontologicamente! 6 lugar do soberano bem, isto & 2 “aubscincit2, 0 ser conereo,independente de rodo ¢ qualquer outro, crste por ele mesmo, 40 paso que todo ter, 20 contri, de- Pende dele (ver Met, Z, 1) por ela que todas as coisas existem, mas cla existe por ela mesma, Somente ela € “autirquics" ¢ reciprocamente somente a existéncia autirquica (independent) é uma exstncin cel, come vimos. rela de acidetaidedeé portant come o moi ment de dey. Fla somente€ soba condi de tender a se anlar ela, como’0 movimento, em todas as suas for- mas, ese tipo de “se” que vin ni ser, precisamentepor- {que todo set tende x ser cle mesmo, E esta tensio qe Separa dele mesmo éjustamente o movimento ou 9 ace dente: tendendo a er somente ee mesmo, todo sr tende 20:mesmo tempo aan estas inne relages aiden 21 A anlse“menfsicoligie” que xabamos deexbogar considera ‘fim como subsncaindivids senses como Mies Davis Séertes enc cxvao, na caine, Ee € pont de via do talon cnr sims deliver We da hei ft Mas pademos sobtepor ses ma outa andi ‘merfea- CSsmolgi sonar ea ene conden opie motor tomo subi por exelincin,poe ete indviduo cnet ue tne por le mesmo eis dns necaiiae mtavelmee que toda cuts exinencia de ceta munca dla dopendes E'S punto de vista adocado por Arter con ers Av 610. Nese Send, primar movor pai cutogetne olga qu ‘soberang bem ocipaeicamene (er Mets A 8 1072 69-19), A filicidade de viver junto 81 tais que o separam dele mesmo, Se o ser do acidence con siste portanto em estar em selagSo com um outio, essa telagio 36 € possivel com a condigio de que ela se volee sobre si mesma em um ser ~ a substincia ~ que sé em relagio a si: Ap Ay Ay mo. Substincia —S le p08” p00) (por p00 Tl é portanto a relagSo fundamental entre a “subs: ‘ncia” (aquilo que no é por urea coisa nem emn vista de outta coisa, nem é dito de outra cosa) ¢ seus “acidentes {aquilo que é por outra cois em ilsina andlise, por uma subseincis, €€ dico de oucra coiss, em altima anslise, de ‘uma substineia). O inkeio da Poles, como o inicio da 4 Nicimaco, obedece a este mesmo cxquema oncologic: + Uma série de sealidedes (atividades, comunide sles, setes") incapazes de bastarem a si mestnas, ©, por conseguinte, em relacio de dependéncia uimas para com +A impossbilidade de uma progressdo até o infinito dla série: se toda atividade mio passa de um meio em vista cde uma outta, ¢ toda comanidade nao passa de um meio ‘em vista de uma outra, se toda “ser” é relative @ um ou: "Wo, entio a atividade, a comunidade, o ser si0 vos. +A necensidade de wom fio (téemino, mets, limite) da série: uma atividade (a felicidade), uma comunidade (a cidade), um "ser" (a substincia) antdrguiea, que nio enham necessidade de nada além deles mesmos para set ‘aye bastam a si mesmos 2 FRANCIS WOLFF + Nesse ponto, a relacio que dé origem a sétic se volta sobre si mesma: 0 soberano bem é bem nio par otra coisa, mas bem por si; a comunidade soberans, a cidade, é anecessidade nio de um outro, masa necessidade de sit 4 substncia existe no por outra coisa, mas por si +O iiltimo cermo da série & na realidade o primei- 10, acondigio mesma de todos estes els: o soberano bem €0 bem que ¢ condiezo para qualquer outta; a comuni- dade politica €a comunidade de todas as comunidades; a substincia € 0 ser que unifica ¢ far ser todos os acdentes Hi, se assim podlemes dizer, um isomorfismo en- tre as sries de atividades, de comunidades e de setes. Mas |hg muito mais. O que é notivel no que concere ao mo- vimento natural que leva cidade & que ele nfo & somen- te paralelo 20 movimento do deseja que leva a0 soberano bem ea relagio de acidentalidade que leva ao ser que existe por si (autérquico); ele ¢ ese mermo movimento duplo: cidade é de faro para 0 homem 0 lugar de realizaséo do bem soberano eda exirtincia autdrguica, De fito, tod2 comunidade humana (como toda atividade ou pritica) visa um bern que preencha determi- nada caréncia particular e & boa para esse se fim. Entie 1s fins visados, hi fins de dois cipos: aqucles que si0 in- ‘ermedidrios (£0 caso das comunidades imperfetas) eum fim em si (0 da comunidade perfeita). O fim visado pela ‘comunidade perfeita € justamence o soberano bem, Este bbem é duplamente soberano: porque preenche todas as necessidades humans intermedidrias, que nele encontram seu acabamento; porque é absolucamente perfeito em si, pois se rata da autarquia. A flicidade dese vee junto 83 Por outro lado, e todos os homens assocam-s¢ em comunidades, ¢ porque cles no podem butarse 1s ier, ‘os; c,s© nenhuma comunidad pudewe bawat se a mesma, entio toda asoragfo seria “ft va" = como dizéamos a propésito do dejo. Hi pois uma comunala. de auto-sulicience que €o fim (pacada, met) de tae sociasio. A cidade ¢ portantoontologicamente natural auto-tufciente. Eo tinea ser atural neces sub cate para a vida humana, Ela € pois © proprio homes, uma ver que nel ele ¢eftivamente cle mesmo, set ce s€ncia (de nada nem de ninguém),"O bem perio pare cede fro bastarse a5 mesmo. E por aguile que bats si mesmo entendemos no aqulo que bites um wo ho. sem que leve uma vida slits, mas tambe seus pst seus fihos, sus mother, seus amigos « seus comcidades ém geal pois o homem € por natura um ser poles (t Bees 1,5, 1097 b 8-11), Dede de favo dag mento precedente que homer ¢ naruralmente pelitee, 6 que consti um segundo arzumento afavor ds ata. tilidade da cidade Segunda conegiigncis da ordem de desenvolvimento natu ral: © bomers “enimal politico” (1253 a 2-18) ~“E mani- festo, a partir disto, que a cidade faz parte das coisas na- turais e que o homem é por naureza umm animal politico, e que aquele que esti fora da cidade... é quer um ser de- sradado quer um ser sobse-humano.." (1253 a 2-5) 1) Significagto da tese ~ A cidade, para Aristétees, no é original, pois geneticamente ela € iltima das comus a FRANCIS WOLFF clades, Ela é entreranto natural ao homem, Natural nfo se confunde com otiginatio, porque a natureza de um ser ‘do é necessariamente aquilo que aparece nele em primeira lugar. (E assim que os homens falam naturalmence, sem falar desde o nascimento; mas eles ascem com a capacida- de de falar inscrita nels realizarfo sua esséncia ao falar) Por oposigao aos filésofos convencionalstas™, para ‘quem o homem passa sucessivamente pelos dois estados, uum estado de naturezs (original) © um estado civil (0 efei- ‘0 de uma convengao), para Aristételesa cidade masce na- ‘uralmente de um estado original, imperfeito, que tende 4 se realizar em um estado de natureza perfeito (estado civil). O homem ¢ pois naruralmente politica, o que si nifica que hé na sua natureza uma tendéncia a viver em cidades, e que a0 realizar essa rendéncia o homem tende 40 seu prprio bem. Eis © motive pelo qual é dificil imagi- nar “solitirio © homem perfeicamente felis; ainguém, de fato, escolheria possuir todos os bens deste mundo para usuftuir eles sozinho, pois © homem & um ser politico © pnaturalmence feito para viver em sociedad” (E Nic. IX, 9.1169 b 16-8). Assim como a sua ontologia é “antinomi- ee A filicidade de te vver junto 3 alist’, a anccopologia de Aristételes ¢ “antiindividua- lists". Pasa os teéticos do eontrato social, a0 contricio, aquilo que éplenamente, quilo que existe realmente carne uum todo acabado e perfeto, 60 individuo. Par o conju. £0 dos individuos (ja pelo pensamento, sob a unidade de sunt conceito, ou na prtica, sob oteto de wma cidade) signi. fica para eles adicionar seres j4 completos; isso vale 90> ‘mente pela utilidade pritica:é mais simples, mais cbmo- do, usar um nome comum do que uma lista indefinida de individuos; € mais eémodo, mais de acordo com os interesses de cada um, associar-se, abtigar-se uns aos ott {408 € todos juntos em uma comunidade politica’® Ao ‘esquema de Protigoras de um individuo humano acaba do, rebelde por natureza 3 vida politica e vivendo na ci, dade por interesse, opbe-se 0 esquema de Aristételes de lum individao inacabado, tendendo por natureza 4 vida politica e vivendo na cidade para além de todo interesse para nelarealizat a sua flicidade. 2 A elagto cnt Scrat, Plato e Mies Dvis no & pata Ares simples uniade de um name (a homem), desu splice ‘communica, por exempt ence sie ees ura mie es il pois safes” dy) Ea mesons lip lig ontliges ‘A coneepso do Estado como coneito de seaguada do ineteie def. da cidade + def. do regime > classifcagio dos regimes E da definigio do cidadio que dependem assim todas as andlises polticas do Livro IIT, Como as respostas se encaisam? O cidadto seri definido como aguele que Pariicipa de um dos poders da cidade (1, 1275 a 22), No- temos que este definicio pelasFungSes politicas Ea dnica que se funda na esincia mma da cidade: uma cidade € uma comunidade na qual existem relasdes de poder ou de aucoridade (arche) entre seus membros, mas a autoridade propriamente politica distingue-se de todas as outras em ser ela uma relagio de iguais; asim, um cidac bro de uma comunidade politica) & aquele que dispse, como odes os outros, de ure poder na cidade sobre todos ot ‘ures. Iso nao significa que todos as poderes de que to- dos os cidaclios dispem na cidade sejam necessariamen- te iguais; mas significa que, por definigio, uma relacio politica somente € possvel entre individuos que dispem ‘pelo menos uns em relagio aoe outtoe de poderes iguais. Dafadvém quarto tipos de conseqiiénciss; Br busca de juste regime ut + Sobre 0 cidadda: wim cidadao sendo aguele que dispae na cidade de um poder (todas as ours defi Uusuais, so excluidas no Cap. 2), 0 canteiido real do con cexito de cidadio depende do tipo de regime (1, 1275 6 34), pois é af justamente que eles diferem; mas, qualquer ‘que seja regime, somente se éexdado quanda te etd pelo ‘menos invite de poderesdeliberaron ejudicidria (1, 1275 18-9); sao entretanto variveis segundo os regimes as condigies de acesso 3 cidadania (isto é,« resposta 8 per guna “quem é um cidadio2”, a extensio deste conceito), otadamente paca os erabalhadores manwais® (Cap. 5). + Sobre a cidade: a cidade sendo um conjunto de cidadios investidos de poderes (1, 1275 b 18-20), ela & tum codo (¢ constiui um set) enquanto este canjunta per ppetuase em sua forma (ie, na estrucuta de reparticio dos poderes); €, em outros termos, a subsistincia do regime © A que “a que um cdadio?™ ‘0 Atineleseiningue dene o ico do Cap 295 a Sguem deve ser chamato de eiadis, por urs Indo "0 que €0 ‘Hada, por goto: ow tj. ustet fue om ermar moderna ‘hamarhimos eeatensio ede compreenian doconceno, Deter ‘ar "comprensvamente” quem cdadto fdr le uns de tig, ts enuncar a earners neces esas para Aaualifieagio de ciao: €x questo sordnda por Arte ip tsa repomta que eee dae permite xl no ap. 2 1 einige ons Decrminy“uchramente cade ter guns io arhabitantes de una edad que, de acordo com 3 “dade, seo condigso sca te, dein ean come dat dios: é portato sluconar psblema das conde de cesso ‘dudes, questo que Arle abordano Cap, Asin come Tho, Arsttles considera com fo ques queso da extent ‘logiamente poerior ques da compeenso cm, com efito, dot aspects, 18 FRANCIS WOLFF que assegura a identidade da cidade (5, 1276 6 10-1), como jé abservei no capleulo precedente (p. 36) + Sobre a virtude civica: sendo um cidadao alguém ‘que participa de um poder, saa virtude propria depende, centte outros, do tipo de poder que ele acupa, isto &, de suas fungies, © esas, por sua ver, dependem do tegime da cidade (Cap. 4), + Sobre oregime:sendo um cidadio alguém que par- ticipa de um poder, a definigio inicial do regime politico como “a ordem (taxis) insttuida entee as pessoas que vi vvem na cidade” (I, 1274 b 38) & fils (a defini dadio como “habitance da cidade” é com efeira expicita- ‘mente excluida em 1275 a 7) e somente é verdadeira a definigio do regime como “uma certa organizagao (taxis) de diversas magistraturas fou poderes) de uma cidade sobretudo daquela que ¢ soberana em todos os essuntos" (6.1278 b 9). “Tal é pois a estrutura de conjunto desses tr8s eapi- ‘los dficeis ea maneira pela qual indam a clasificacio ddos regimes no cerne do liv. Resta saber agara o que ela Prépria permite fundat. Resta compreender como aquels sinuosa “dissertagao" dos eapfeulos 9-13 sabre a "just dis- ttibuigio do poder” serd deduzida dela Em busca do regime mais justo (caps. 9-13) Nada mais confuso mais incoetente, aparente- ence, do que esses capfeulos. Essa obscuridade ¢ ainda ‘mais desencorajance para oleitor na medida em que At ‘Gees rata de uma das questGes centts de toda a filoso- Bm busca do jan regime 119 fia politica: qual é maneira mais sta de compartithar 6 poder na comunidade politica? A decepsio do leitor apres- sado estd altura de sua expectativa: pois ele teed muita diffculdade de dizer qual regime, anal de contas, Arist teles defende, e mesmo se hé um, Passemos rapidamente ‘em revista o contetido aparente dessescapitulos, O Capi tulo 9, que empreende tm eetude da justiga segundo « democtacia e a oligarquia, conclui que nenhum desses regimes tem uma concepeia que corresponde ao verda: deito fim da cidade, e que portance seria necesstio, para seconformara este fim, distibuir o pader segunda o prin- cipio “a cada um segundo suse vircudes" (tal é pelo me- ‘nos a compreensio habicual que se cern das iltimas inhas ddesse capitulo). Pois muio bem, nos dizem que Aristéte- les defend entio, como Placio, o que cle chama o regime saristocritico, aquele no qual o poder ¢reservado a alguns, os'melbores, aqueles que, por sua ‘virtude’, sio os mais capazes de cuidar do interese geral. Passemos a0 Capitu- lo 10, que parece retomat do zero 0 probleina da justiga segundo os diferences regimes, opor as prds eos contras, ‘mas permanece inconclusive: desta vez, nenhium regime parece ter pretensGes legtimas. (Ab, dizem-nos, a aristo-, ‘racia jf ndo seria 0 regime mais justo; seré que haveria algum regime justo?) Passemos encio a0 Capitulo 11, que busca dar © poder & massa (de acordo com os princtpios do regime democritico, ou talvez mais exatamente do “re- gime consticucional’); pois bem, curiosamente ¢ 2 des peito de diversas objegdes, Aristételes parece finalmens considera esca solugdo como legiima: teria se tornado, centdo “democrats”? Passemos ao capleulo seguinte, ver- 120 FRANCIS WOLF dadeira repetigéo siméttiea do Capstulo 10! Analisando (uma vez mais) os ticulos apresentados pelos diferentes “partidos” para postular a exclusividade do poder, AristS- teles no conclui nada além do que no Capitulo 10, mas parece desta vez admitir 20 contrério o bom fundamento detodos os pretendentes. Passemos enfim a0 Capitulo 13, ‘no qual a incoeréncia ea confasio parecem chegar 40 au Be: comega por opor, como no Capitulo 9, a virtude, tini- a titulagéo legitima 20 poder, a eodas as oucras; ¢ conti- ‘nua descartando, como no Capitulo 10, toda pretensio, qualquer que seja, pois, como no Capitulo 11, an peegar favoravelmente iquela da massa popular, em seguida (era 6-0 que faltaval) defende o valor de umm monarea de vi tude excepcional (cis © Aristételes monarquista), 0 que leva a0 exame di relagio entte as excegies e as normas € 20 importante problema do “ostracisma’”, Em resumo, feremos visto, ou acteditado ver, nesta dissertagdo cabti- ca, um Arist6teles ore “aristocrats”, ora “democrats” out “monarquista’, ¢ ora benevolence, para com codos os re- simes, ora desconfiado dees. Tatemos, na medida do pos- sivel, de inerodusir ordem e cocréncia neste conjunto. E, em primeiro lugar, nio buscando aquile que nao ‘stil: AristSteles no busca o “melhor” regime, nem mes- imo 0 regime mat juste. Muito simplesmente porque este problema jé foi resolvido na parte central do livro, nos 7 Procedimiento tipice da democraca seniese pela qual a Aston [ii do pova bane da cidade, por um perfodn de dex ano, ua individu exceplonl, ie ena constieuideszinho ura ames. prt democrads Em buses do uta ragime 12 apitulos 6-7: todo regime (¢ somente um regime) que visa o interesse geal & justo no sentido absiluto do term, isco & no aribuido jutamentea fulano ou beltano, mas policcamente justo para todos, justo para» coleividade, Pois corresponde a eséncia mesma da vida politica, Por tanto, deste ponto de vista a realess, a arirocracia 0 “regime constitucional” podem ser consideradar justo, pois 0 valor de ue regime no depende do niimera da. queles que governam, mas daguile em vista de que governam Que ovina questio Aritételes aborda nesses capt, culos 9-13? Visto que um regime se define, como vimos: por uma certs epartizge dos poderes entre os cidadios, ¢ natural perguntar-s qual a manirs justa de reparti-loy desea ver, “justo” remete ao que se chama justign"distibu tive, aquela que obedece ao principio de properionali- dade que 0 prdpeio Avstételes sproendu nase Even 4 ‘Niebrnaco: cada um segundo o seu X, X senda o fat in dividual que é egitim levae cm conte na repastigio. Mas notemos que este problema (como repartir 0 mis juss mente possivl a poder) ndo €“aristotlics¢ um proble- sma que Aristreles herd, e que resulta das tevindicacses dos diferences partidos quando pretendem que 0 segime pelo qual miliam é 0 Unico justo, em nome do fata de Que nele poder éjustamente attbuido. A solugéo do problema é ela sim, tipicament aristotciex Anuneiemton imediatamente, para maior clareza. Ela consite nas tes linhas de argumentasio que se entremeiam em tod ses capitulos: 12 FRANCIS WOLFE (a) Em um sentido, as precensBes de todos os partidos (e Particularmente daqueles que defendem un poder reser. vado a alguns ou distribuido a todo 0 povo) sio just cadas: cada um deles tem certoretulos aceitaveis que Ihe possibilitam exigir que © poder scja repartido de acordo ‘com seu prinefpio de justica disributiva. (b) Mas, em um outro sentido, nenhuma pretensio ¢ justficada do ponto de visea politica: porque o poder na idade nso é um dem que se devesse (ou mesmo que se pudesse) cepattir de acordo com as qualidades ou os tiu- losdas pessoas (como se devesse zecompensé-las), mas um inserumento a servigo da felicidade de todos. Nao ¢ por- tanto justo (do ponco de vista da “justiga absolut”) pr ccurar reparti-io justamente. E 0 prinetpio mesmo da jus- tiga dstributiva que é concestavel quando se trata do poder politico. Duas questées sf0 assim resolvidas: qual € 9 re- sgime politicamente justo? Resposta: rrév entre os seis pos- siveis. Qual €0 regime no qual o poder é separtido justa- mente? Nenbum. visto que nio é justo considerar 0 poder ‘como um bem a repartin. (©) Mas uma questéo permanece, diferente das duas pre~ cedentes: que tipo de regime ¢ © mais capan de tomar as melhores decisdes para a cidade? Esse regime serd “justo” ‘em um tereeiro sentido do teemo: nZo porque nele 0 po- der € juscamente repartido, nem somente porque visa o interesse geral, mas porque seu modo de governo torna mais capaz de alcancar este bem. Ea resposta de Aristéte- les a esta questi & também sem ambigtiidade: € 0 regime popular, isto é, aquele no qual as deliberagées fo efetuadas coletivamente pelo conjunta do povo, Ein busca do jst regime 123 Munido desses fios condutores¢ dos concluses do inicio do livre — notadamente a definigio do cidadio — pode-se agora reler capitulo por capitulo @ raciocinio de Ariseéceles OCapiule 9, © que estabelece © Capiculo 92 Os partiditios dos dois tipos de regime mais comuns no século IV, a “de mocracia’ ¢ a “oligarquia", defendem “seu” regime em nome da justica. Aplicam para isto 0 prinefpio da justica dlistributiva (a cada um segundo seu X), a0 problema da repartigao do poder. Concordam sobre este principio, mas se opdem, &laro, sobre este X. O primeira abjetiva deste capitulo seré po-los lado a lado mosteandor que seus ea

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