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Estrutura do poema em cince estrofes com cinco verses, representa simbolicamente os cinco impérios divisio do posma em duas partes (1.® parte até aos versos finals da 3.2 estrote); uso de andforas (entre a 12 © 22 estrofes); uso de oposicées e contrastes; uso de metiforas (por ex. “Tempos do ser); uso de analogias (tempos do ser, tempos do mundo); uso de antiteses e paradoxos (1.# parte do poema), Que mitolsimbolo considera Pessoa mais importante depois do simbolo magn que é D. ‘Sebastiéo? O posta escolhe "0 Quinto Império". Como bem indica Anténio Quadros, “o advent do Quinto” Império “éepende do regresso do Encoberto, apés 0 seu martirio @ a sua morte’ Teria por isso de the seguir. Para o reafirmar, constréi 0 poema com cinco estrofes @ cada festrofe com cinco verses, O niimero cinco simbolize @ perfeigdo. (0 mito do Quinto Império & antigo. A primeira referéncla & Bilica, em Daniel 7, 1-8, Relata este profeta umn sonho do rei da Babilénia Nabucodenasor onde simbolicamente © governante viu em imagens of quatro impérios da terra @ um quinto império, material, que existiia para sempre (0 Quinto Império foi, naturalmente, primeiro interpretado como sendo o Império Hebreu. Mais tarde outros prafetizaram ser este Império 0 do Il Reich na Alemanha Nazi e mesmo o do Imperialismo Americano absoluto (ca, Baseando-se em Band: ‘a repiblica dos Estados Unidos da Am tum mistice portugués, sapateiro, de Trancoso ~ mas também em Nostradamus, em Camées ¢ no Padre Anténio Vieira (Histéria do Futuro), Pessoa defende a teoria do Quinto Império Portugués, como Império Espirtual. Imperialisma portante do Espirto, no da Matéria, Imperialismo baseado na cultura € no no capital. € um Imperiaiismo naturaimente religioso, ristéo, catdico, na tradigao que vem até aos nosses dias nas pungentes palavras de Agostinho da Silva: "Portugal império traterno, império humano, Império catSlice: Quinto Impéric". Um Império de sintese de opostes, “Ultima dade do munde que serd © Reino do Espirito Santo, com os homens vivendo na sua integridade uma inteira vida; nao, despedacados na angistia, econémica e noutras, sé farrapos de vida" Império que “éeverd oferecer a0 mundo um modelo de vida em que se entrelaca numa perfeta harmonia os fundamentals impulsos humanos de produzir beleza, de amar os homens e de louvar a Deus: de crar, de servir ede rezar", ‘Anilise contextual da primeira estrofe Pessoa comes por ironizar com aqueles que estilo satisteites, em suma com aqueles que acham sonho do “Quinto Impéric", uma loucura sem sentido nem razéo, S80 porventura os mesmos que mencsprezam © valor da foucura (ver © poema "D. Sebastido - El Rei de Portugal’). “Triste de quer vive em casa / Contente com o seu lar”. Nao 6 ter um lar motivo de felicidade? Talvez, Mas ro uma folicidade plana, absoluta, verdadeira. Quem se contenta com 0 pouco, & uma alma simples, que é foliz apenas a sobreviver. Quem tem uma alma nobre, tem “um sonho, no erguer de asa” que faz “até mais rubra a brasa / Da larelra a abandonar”, ou sela, um sonho tao grande que nem a mais acesa © quente lareira © pode desatiar. Nada manté atingir algo maior. E de grande beleza lca esta Ironia de Pessoa. £0 voar da asa que alimenta e atica imples) quando pode sar (sonhar) para ‘este homem om casa (nas certezas lareira que se recuse sn favor do fro sonho distante, ainda mais quente e recenfortante, ‘Anélisa contextual da segunda astrofe [A segunda estrote continun © reforga © que foi dito na primeira estrofe, “Triste de quem 6 feliz!" - vejace como é marcado o tom do necesssro sofrimento. “Quem quere passar além do Bojador / Tem que passar além dda dor’ (pooma “Mar Portuguie") © quem 6 feliz, "vive porque a vida dura” ~nio sabe realmente que hi mais na vida do que a retes felicidad, Claro que Pessoa tira mérito & felicidade comum, porque ele préprio se acha Incapaz de ser feliz, Incapaz de ser humano. Pelas noites ele chora, “torna-me humane, 6 noite, torna-me fratemo e sollcito" - € 0 que pede; "a mundo € de quem nfo sente’, lamenta-se, Ele tem em si um cancra a que chama “inciferenca sentimental", por no se ter santide amado por uma mie distante e um pai morta hé muito, “No tempo em que festejavarn 0 meu dia de ance, eu ers feliz e ninguém estava morte" —deixa sar num suseurro ‘Agora S80 felizes todos o¢ outros. "S80 felizes porque nBo s8o eu ~ confessa, Ignore como regressar a e:s0 estado de inccencia, que para cle 6 uma miragem insélia, restando-Ihe uma Ironia breve: “se eu casasse com @ filha da minha lavadeira talvez fosse fliz". "A Ico da ralz", 0 instnto, “ter por vida a sepultura’, ou soja, sobreviver, tudo 0 que Pessoa despreza e - paredoxalmente ~secretamente ambiciona, ‘Andlise contextual da tercelra estrote (© tempo ver em "eras", ¢ feito de perfodes, de geractes. J& passaram Incontévels dessas "eras" © © homem continua @ revelar-se por "ser descontente", ou sela, desejar sempre o confite @ a passe etémera das ‘Mas um novo tempo se avizinha. “As forcas cegas", o poder das armas, guiado pela vise cega da ambic8o, que no vé para além da conquista momentinea, que desconhece © futuro e o Destino, tem os dias contados. Isto porque na “nova ordem’, a “vis8o que a alma tem” val ser preponderante. ‘Anélise contextual da quarta estrofe Pessoa refere agora os quatro Impérios que Ja pastaram, Foram eles ~ na Interpretacao de Pessoa - 8 Grécia, Roma, a Cristandade © a Europa, "Passados os quatro Tempos (..) A terra seré teatro / Do dia claro’ ou Sela, passados os quatro impérios ou ldades, a terra vera nascer um quinto Impéiio. [A referencia ao “dla claro”, leva-nos @ pensar numa obra de um amigo de Pessoa, pintor Almada Negreiros, inttulada “A Inven¢o do Dia Clero", publicado em 1921 pela efémera editora Olisipo fundads pelo préprio Fernando Pessoa. Curiosamente, ou talvez nBo, esta obra falave de um filho prédigo que, depois de Ir fem busce de saber, volta eo selo matemo. Este “regresso ao seio materno", pode ber ser ume inteligente rmetéfora, do regresso as origens, a um Império Espiritual, depois da busca incessante da posse material Esse “dia claro® que *no atro da / Da erma noite comecou". A expresso “atro” significa escuro, ou trevas. Quanto a nés pode também ter © duplo sentido - intencional - de referir, em surdina, 0 "trio". Na linguagem hermética usada por Pessoa, “as Ordens do Atrio (..) servem para ministrar os primeites conhecimentos do que esté oculta’. Isto seguinde simbolicamente a ordem arquitecténica do antigo Templo de Salomso, constitulde consacutivamente por um trio, claustro @ por fim um sacrétio. ‘Anélise contextual da quinta estrofe Pessoa enumers mais criteriosamente os quatro Impérios que considera passados, “para onde val toda 8 dade". Sdo eles, Grécia, Roma, Cristandade e Europa. Devernos deter-nos um pouco para esclarecer que critério usou Pessoa para esta classificago, Seguindo 0 principio de que a “interpretacSo profética & sempre triple", @ sabendo que Impérie ¢ singnimo de dominio, Pessoa diznos que hé trés pos de dominio: materiel, intelectual e espiritual, No plano materiel, @ profecia do quinto império jé foi cumprida, cor a Europa (depois do Gabilénia, Pérsl, Grécla @ Roma). No plano espiritual, apenas se cumpriram trés Impérlos: © de Osiris, o de Baco eo de Cristo. € pois no plano intelectual que se cumpriré o Quinto Império de que Pessoa fala, depois de Grécia, Roma, Cristandade (cristo mediaval) e Europa, ‘Quando lana © desafi: “quem ver viver a verdade / Que morreu D. Sebastido?", Pessoa exarta & aparicso esse Império magno, da verdade feita sfmbolo. Trata-se de um Impérlo final, de fraternidade, que existira pare sempre

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