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398.2 BRAl Cow TEOFILO BRAGA CONTOS TRADICIONAIS DO POVO PORTUGUES Volume I 5.* edigio PUBLICACOES DOM QUIXOTE LISBOA 1999 Biblioteca Nacional — Catalogagio na Publicagio Braga, Te6filo, 1843-1924 Contos tradicionais do povo portugués — 5.* ed, - 2 v. (Portugal de perto; 14) ISBN: 972-20-0206-6 12. CDU 398.2 (=1.469) 821.134.3-91 As notas aos contos, que, na edigo original da presente obra, 0 autor havia concentrado no final de cada volume, foram nesta reedigo imediatamente apensas aos préprios contos a que se referem, a fim de tor- nar a sua consulta mais acessfvel ao leitor. Publicacdes Dom Quixote, Lda. ‘Ay. Cintura do Porto de Lisboa Urbanizagao da Matinha, Lote A — 1900 Lisboa * Portugal SG Reservados todos os direitos de acordo coma legislagio em vigor A presente edicZo, em que se procedeu a uma actualizagZo, ortografica do texto, foi baseada na segunda edi¢ao ampliada, editada em 1914-1915 por J. A. Rodrigues & C., Editores, Lisboa Capa: Femando Felgueiras 1. edigao: Fevereiro de 1987 5.! edi¢do: Junho de 1999 Depésito legal n.° 139032/99 Fotocomposico: Textype, Artes Graficas, Lda. Impressio e acabamento: 8.1. ISBN: 972-20-0206-6 {INDICE EM TORNO DESTA REEDICAQ. PRELIMINAR ......... DA NOVELISTICA POPULAR Sua origem, persisténcia e transmissio Novelistica brasileira . PARTE I CONTOS DE FADAS E CASOS DA TRADICAO POPULAR SECCAO I — CONTOS MITICOS DA AURORA, DO SOL E DA NOITE A Cara de Boi (Algarve — Faro) : O velho Querecas (diego surrao (idem) . A saia de esquilhas (idem) . As trés fadas (idem) A filha do rei mouro (Estremadura e Algarve) .. As fiandeiras (Algarve) ..... Cravo, Rosa e Jasmim (idem) O magico (idem) ..... O Mestre das Artes (Itha de S. Miguel — Acores) aprendiz do Mago (Eixo — distrito de Aveiro) A bicha de sete cabecas (Algarve) ig O conde soldadinho (idem) .... A sardinhinha (idem) Maria da Silva (idem) . ‘A rosa branca na boca (idem) .. © cavalinho das sete cores (Algarve — Lagoa) A muda mudela (Algarve — Portimao) sapatinho de cetim (Algarve) A madrasta (Porto) 0 ovo eo brilhante (idem) . Cabelos de ouro (Algarve) . A carpinteirazinha (idem) ........ ‘A filha do lavrador (Santa Maria — Famalicao) . A feeia que fica bonita (Algarve) peixinho encantado (Algarve) 1B 21 31 31 62 101 103 104 106 108 110 11 113 14 us 117 119 120 121 123 124 125 126 TEOFILO BRAGA SECCAO II — CASOS E FACECIAS DA TRADIGAO, POPULAR 10 figuinho da figueira (idem) A da varanda (idem) .. A noiva formosa (idem) ‘A noiva do corvo (idem) A paraboinha de ouro (idem) . principe que foi correr sua ventura (idem) Maria Subtil (Iha de S. Miguel — ee) © coelho branco (idem) Clarinha (idem) . Bola-Bola (idem) .. Linda Branca (idem) O Rei-Escuta (idem) . ‘As cunhadas do rei (Airdo — Minho) .. Os sete encantados (Itha de S. Miguel) As sonsas (Ilha de S. Miguel — Acores) ....... ‘A mio do finado (idem) . rei de Napoles (idem) © matador dos bichos (idem) As nozes (idem) ....... As trés cidras do amor (Porto) A bengala de dezasseis quintai A torre de Babil6nia (Porto) . Desanda cacheira (idem) .. O sal e a agua (idem) As criangas abandonadas (Airdo) © afilhado de Santo Ant6nio (idem) A filha do Diabo (Algarve) ...... As trés macazinhas de ouro (Rebordainhos — Braganca) O sargento que foi ao Inferno (Algarve) A princesa que adivinha (S. Jodo de Airdo — Minho) A adivinha do rei (Porto). . (Santa Maria — Famalicéo) © boi Cardil (Algarve) © camareiro do rei (idem) . O Palmeiriz de Oliva (Algarve) bolo refolhado (Algarve — Lagos) A mirra (Miimia) (Algarve) .. A mulher curiosa (idem) . As favas (idem) A velha das galinhas (idem) . A Riqueza e a Fortuna (Alger) Marco Margagio..... 5 Outra versio Alegria da vitva (Algarve) . A carpideira e a vitiva (Foz do Douro) Frei Joio Sem Cuidados (Coimbra) Jos Ratao (ou Grilo) (idem) ....... Os trés irmaos (Airao) AS barras de ouro (Arredores do Porto) Pedro de Malas-Artes (Porto) .......... Santa Helena (Ilha de S. Miguel — Acores) © guardador dos porcos (idem) Nascer para ser rico (Porto) Dom Caio (idem) 128 128 131 133 134 135 138 141 142 144 145 146 147 150 152 153 157 160 162 163 165 171 173, 175, 176 177 179 180 181 184 186 189 191 194 195 196 197 198 198 199 201 201 202 203 204 205 206 208 209 211 212 213 215 INDICE Os dez andezinhos da Tia Verde-Agua (idem) 216 Os dois compadres (Alentejo) s 217 O carvoeiro (Ribatejo) . 221 O compradre Diabo (itha de S. Miguel — core) : 223 Os corcundas (Porto) 224 A mulher gulosa (idem) . 225 As irmas gagis (idem) 226 O tinhoso, 0 ranhoso e 0 sarnoso (idem) 226 Variante (Ilha de S. Miguel) .... 227 Da-me 0 meu meio-tostao (Porto) .... 227 O soldado que foi para o Céu (idem) 28 tesouro do enforcado (idem). 230 Os peixes do guardiso (tha de S. Miguel) .. 230 A cobra e 0 cordao do frade (Porto) 231 caldo de pedra (idem) 231 A enfiada de petas (Airdo) 232 Sempre nao (Acores) 233 Manuel Feijao (Porto e Acores) . 235 Caiu-me na minha catulinha (Porto) . 236 Casar e descasar (Aira — Minho) 237 O cego © 0 mogo (Porto) 239 O cego e 0 mealheiro (idem) ... 230 O avarento (idem) 3 240 Os trés conselhos (idem) ......... 241 O saco das nozes (idem) 242 sapateiro pobre (idem) 243 sinal da nobreza (Porto) . 244 A estdtua que come (Sardoal) .... 244 As adivinhas em anexins (Porto) 245 A princesa Carlota (Grisélidis) (Algarve — Loulé) 246 As cinco profissées (Algarve — Albergaria) 248 A Dama Verde (Loulé) errelee 249 A Tia Mi 250 A comadre Morte . uke 251 A esmola a0 Diabo ........ 252 A sandélia de ouro (Algarve) 2.2.2.2... 253 Mosteiro de S. André de Ancede . oe A graca estudantesca . A CSS A mulher teimosa (Porto) 256 © Jogo do Pira (idem) . 2357 caso do Tio Jorge Coutinho (Itha de S. Miguel) 2357 Os dois irmaos ¢ a mulher morta ae 259 Os trés patroes (Airdo) . 2 262 Para quem canta 0 cuco? (Porto) . 262 Dichote galego (Sardoal) . 263 Tudo andaremos (Porto). 263 A mulher que cegou 0 marido (Airao) . 264 O tolo e as moscas (tha de S. Miguel) .. 264 Ja que tanto teima (Porto)... 265 Tic-taco (Ilha de S. Miguel) . 265 As orelhas do abade (idem)... 266 Pacto com 0 Diabo 266 Conto em enigma (Acores) . 267 Filha que amamenta 0 pai (Porto) .... 268 Prova de amor (idem) . 269 11 TEOFILO BRAGA 121 Sem ceia (Alentejo) ..... Origem dos javalis (idem) ... Dar vista aos cegos (Agores) . A gaita maravilhosa (Porto e Algarve) lavrador e 0 ermitio (Porto) . A tiinica de Cristo (Ilha de S. Miguel — Acores) Lenda do Paraiso (Tentigal) tesouro enterrado (Airdo) O usurério e Santo Antonio As vores dos animais (Carrazeda de Ansiaes) ‘Os duzentos carneiros (Porto) As trés pombas Os ditados novelescos (Algarve) Lenda da mae de Sao Pedro (Ilha de S. Miguel) ... 269 270 2 an 273 273 214 214 215 215 216 276 217 207 EM TORNO DESTA REEDICAO* 1. Um dos factores importantes na formacao e desenvolvimento da disci- plina antropolégica nos varios paises europeus no decorrer do séc. XIX foi sem dtivida a op¢ao entre o estudo das sociedades ditas primitivas e 0 estudo da tradigao camponesa presente nas préprias sociedades europeias. Foi nos paises onde triunfou a primeira opcao —a Inglaterra e a Franca, nomeada- mente — que a antropologia ganhou a feicao que € hoje a sua. Nos restantes paises —nomeadamente do Centro ¢ do Norte da Europa— uma outra di- reccao de trabalho, secundéria no desenvolvimento mais geral da reflexto an- tropoldgica oitocentista, tomou entretanto a dianteira: «the study of folklore and folk music, customs and costumes, housing and handicrafts as they exis- ted in peasant society» (Gerholm & Hannerz, 1982). O triunfo desta direccdo de trabalho € frequentemente relacionado com o desenvolvimento ao longo do séc. XIX de tendéncias e movimentos nacio- nalistas (cf, por exemplo para a Finlandia, Wilson, 1976). Centrada na cultu- ra popular entendida como a mais genuina expressao da ontologia de um povo, a reflexdo antropoldgica nesses paises tendeu de facto a configurar-se como um instrumento cultural e ideoldgico de assercéio da identidade nacio- nal. Se a situacdo nacional de Portugal apresenta em relagdo a esses paises flagrantes diferencas, 0 mesmo ndo se pode dizer em relacao as modalidades de formacao e desenvolvimento da antropologia. Também aqui a antropolo- + As reedigdes de «clissicos» da antropologia oitocentista portuguesa que tém vindo a ter lugar nos tltimos tempos tém fornecido sobretudo um pretexto para a redescoberta da dimen- sio hist6rica da antropologia em Portugal e para a apresentagio e discussio de alguns proble- mas nesse ambito. Esta nota prévia aos «Contos Tradicionais do Povo Portugués» seguiu um ‘caminho idéntico: de uma forma necessariamente sucinta procurou-se sobretudo apresentar 0 quadro mais amplo de preocupagdes em que esta recolha, com os estudos € notas que a acom- panham, se inscreve. 13 TEOFILO BRAGA gia se constitui, na parte final do séc. XIX, como uma reflexdo orientada para o estudo da cultura popular, com particular énfase na literatura e nas tradi- ¢6es populares. E também aqui, embora por razoes diferentes das que opera- ram em muitos outros paises europeus, o triunfo dessa perspectiva nao € intei ramente entendivel se nao se levar em conta o peso da problemdtica da identi- dade nacional no discurso antropolégico. Configurando-se como um elemen- to significativo da producao cultural oitocentista, também a antropologia pa- rece ecoar aquela que é, segundo Eduardo Lourengo, a interrogacao basica que percorre a cultura portuguesa dos tiltimos 150 anos: «descobrir quem somos € 0 que somos como portugueses» (Lourenco, 1978: 89/90). 2. Do conjunto de autores seus contempordneos, os chamados «mestres» (Dias, 1952) — Adolfo Coelho, José Leite de Vasconcelos, aos quais haverd ainda que acrescentar Consiglieri Pedroso — Teéfilo Braga é, talvez em conjunto com Adolfo Coelho, aquele onde é mais clara a articulagdo entre a antropologia e a problemdtica da identidade nacional?. Essa articulacao comeca por ser dada em referéncias mais ou menos ex- plicitas dispersas um pouco por toda a obra antropolégica de Tedfilo Braga. Esta, como se sabe, compreende duas grandes vertentes: uma consagrada a literatura popular, com destaque para a poesia popular; e outra, mais vinca- damente antropol6gica, cuja mais acabada expressio é «O Povo Portugués nos Seus Costumes, Crencas e Tradicdes» (1885). Desdobrando-se numa multiplicidade de recolhas, livros ou simples artigos, ela é amitide apresentada pelo autor como concebida e realizada em obediéncia a um impulso em que 0 nacionalismo é relevante. Assim, em 1867, ao prefaciar uma das suas primei- ras recolhas de literatura popular — 0 «Cancioneiro Popular Coligido da Tradicao» —, Tedfilo Braga, dando da situacao portuguesa uma imagem ca- tastréfica, refere-se desta maneira ao seu trabalho: «coligir a poesia popular portuguesa agora, no momento de transe, é como a garrafa ao mar que se atirava nos naufragios: é para que se saiba que existiu este povo, que também sofreu e cantou» (Braga, 1867: Vil). Guardando este tom pessimisa, ou al- ternando com expressoes mais militantes, este sentimento nacionalista jamais abandonaré a obra antropologica de Teéfilo Braga. E alids nele que ela pare- ce ganhar uma das suas motivacoes mais duradouras. O modo como no seu conjunto ela tem por objectivo «servir uma intencao patridtica e nacional» (Planos Cientificos, 1929: 468) foi jd indicado como seu grande factor inspi- rador. Produzido a propésito de um plano de reedi¢ao das obras completas do autor, este julgamento adequa-se bem ao espirito em que a sua parcela antropol6gica parece mergulhar. A este investimento nacionalista de que é objecto a cultura popular portu- guesa nao é estranha a matric romantica presente na obra de Tedfilo Braga. 2 Este aspecto tem sido sublinhado por varios autores; entre aqueles que mais recente- mente se referiu a ele, conta-se Pere Ferré (Ferré, 1982), 14 EM TORNO DESTA REEDICAO Ela é particularmente visivel nas primeiras obras do autor, dedicadas é poesia popular. A literatura popular surge ai como um dos reveladores do génio nacional e em particular da identidade poética do Pats. E numa perspectiva de redescoberta e regeneracao desta que 0 seu labor se comeca por configu- rar. Gradualmente, a obra de Te6filo Braga orientar-se-4 porém para preocu- pacoes mais cientificas. A aquisigao destas nao significa entretanto uma ruptu- ra com a perspectiva roméntica. Deitando sobre a cultura popular portuguesa um olhar cientifico, Tedfilo Braga fa-lo frequentemente em obediéncia a um projecto em que aquela se continua a configurar como um terreno a partir do qual é possivel pensar a identidade nacional. E de facto nessa perspectiva que pode ser entendido 0 modo como nele é recorrente 0 peso da etnogenia, isto é, de uma perspectiva valorizadora da descoberta e identificacao das origens éicas dos factos da cultura popular portuguesa. O que parece estar’no fundo em causa é a possibilidade de dotar Portugal de uma espessura historica, capaz de enraizar a sua identidade num passado provido dos argumentos da profundidade e da originalidade. Portu- gal, como nagao, é visto como 0 produto néo de um somatorio de incidentes e contingéncias, mas de remotissimas originalidades étnicas, bem mais fortes e poderosas. Reveladas pela literatura e pelas tradicoes populares, é a desco- berta dessas originalidades étnicas que fornece a mais sdlida motivacéo @ obra de Teofilo Braga, na sua vertente cientifica. Esta domindncia da etnogenia cristaliza-se de forma particularmente exu- berante na sua reflexdo sobre a poesia popular, posterior a 1871, data em que sao editadas as «Epopeias da Raca Mocarabe» (Braga, 1871). Quer este texto, quer, posteriormente, a 3.° edicao da «Historia da Poesia Popular» (Braga, 1902) configuram-se de facto como exaustivas tentativas de reconsti- tuicao das origens étnicas da poesia popular portuguesa, num esforco que nao tem paralelo na produgao contempordnea sobre 0 mesmo assunto. Conhecem-se os resultados contradit6rios dessa reflexao: da tese mocdrabe (Braga, 1871), Tedfilo Braga evoluiré depois para a tese ligtirica (Braga, 1902). Mas nao € tanto sobre esses resultados que convém insistir, como sobre o que eles traduzem: um esforco impar de descoberta da etnogenia de um nticleo preciso da tradigao popular portuguesa. Eloquentemente dominante neste troco da sua obra, o peso da perspectiva einogenética nao deixa também de ser claro nos casos em que os seus textos se abrem para influéncias tedricas de sinal diferente. E isto justamente 0 que sucede com aquela que é geralmente considerada uma das obras maiores de Teofilo Braga: «O Povo Portugués nos Seus Costumes, Crencas e Tradicoes» (1885). Verdadeira encruzilhada de factos etmograficos, «O Povo Portu- gués...» € também o ponto de encontro de modelos tedricos os mais distintos. Um dos aspectos mais marcantes deste eclectismo (cf. Branco, 1985) exprime- se na abertura a correntes de pensamento que tendem a colocar a andlise num quadro outro que o etnogenético. Tanto o positivismo comtiano, ao qual entretanto Tedfilo Braga se havia convertido, como, sobretudo, 0 evolucio- 15 TEOFILO BRAGA nismo, corrente entdo hegeménica na cena antropol6gica, sao modelos tedri- cos claramente presentes em «O Povo Portugués...» Ea sua influéncia tende- ria naturalmente a afastar da andlise referéncias étnicas, particularismos hist6- ricos, a dimenséo nacional, enfim, dos factos da cultura popular. O que é justamente interessante verificar € 0 modo como estando presentes em «O Povo Portugués...» esses pontos de vista ndo inviabilizam uma andlise etnoge- nética. Esta, pelo contrario, aparece sempre a secundar aqueles. Analisando os diferentes factos em termos das grandes correntes da evolugéo humana, Tedfilo Braga mantém intacta a sua apreciagdo deles como vestigios das su- cessivas camadas étnicas que povoaram Portugal. Ao lado do positivismo e do evolucionismo, a influéncia de correntes:de pensamento mais interessadas nos antecedentes especificamente étnicos dos factos da cultura popular euro- peia —como a mitologia comparada e sobretudo o difusionismo turaniano*® — é por isso igualmente evidente. Em resumo, para além da dimenséo genericamente. humana dos factos estudados, é para a sua dimenséo nacional que acabamos constantemente por ser remetidos. Como diz Teéfilo Braga: «Se nos seus resultados gerais a Et- nologia deriva da investigacao dos fenémenos passados nos agregados hu- manos, 0 conhecimento do homem médio, e das formas de progresso das necessidades, dos instintos, dos sentimentos, dos interesses e das ideias que agitaram essas colectividades na sucessao hist6rica das suas instituicées politi- cas, econdmicas e morais, também sob o ponto de vista restrito a um dado povo esse estudo dos seus antecedentes sociais serve para determinar os seus caracteres nacionais, por isso que os costumes domésticos, as tradicées, as formas de actividade, tudo isso é um elemento indistinto donde se véo desta- cando a Poesia, a Literatura, a Arte, a Industria e a accdo histérica de um povo na civilizagao. Tal é 0 ponto de vista em que nos colocamos ao coorde- nar os materiais deste livro em que descrevemos o Povo portugués nos seus Costumes, Crengas e Tradigées» (Braga, 1885, I vol.: 3/4). 3. Nestes «Contos Tradicionais do Povo Portugués»* sao os ecos do ca- rdcter estruturante da problemdtica da identidade nacional, na sua dupla vertente roméntica e cientifica, que podemos reencontrar. Neles exibe-se, em primeiro lugar, a presenca da matriz roméntica. De facto, um dos factores de especificidade da recolha de Tedfilo Braga, face as recolhas similares de Adolfo Coelho (1879) e de Consiglieri Pedroso (1910), ® A mitologia comparada, associada sobretudo ao nome de Max Milller, nao se esgota na sua vertente etnogenética. Mas, privilegiando no estudo da cultura popular europeia 0 quadro indo-europeu, possibilita uma utilizacdo valorizadora dos modos de constituigo dos diferentes «corpus» nacionais de literatura ¢ tradigdes populares. Quanto ao difusionismo, turaniano — entusiasticamente praticado por Teéfilo Braga —, sustenta a possibilidade de remontar a um fundo étnico turaniano, pré-indo-europeu, a origem de um grande nimero de tradigdes popula- res europeias. ‘Esta obra conheceu duas edigdes: a primeira data de 1883 ¢ a segunda de 1914/15. 16

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