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Ferdinand Saussure e a fundacao da LingUistica sincrénica Os manuais de Lingiiistica tradicionalmente atribuem ao lingiiista suico Ferdinand Saussure a fundacao da Lingiiistica moderna, a partir da publicacdo, em 1916, do seu Curso de Lingiiistica Geral — obra péstuma organizada por dois colegas do lingiiista (Charles Bally e Albert Sechehaye), a partir de notas dos alunos de um curso ministrado por ele, entre os anos de 1907 e 1911 na Uni- versidade de Genebra, sob 0 titulo de “Lingiiistica geral”. Entretanto, se, por um lado, a publicagao. de uma obra, pelas diretrizes que coloca e pelos efeitos que desencadeia, pode ser tomada como. marco de fundacao de uma nova época na Linguistica, por outro é muito pouco para esclarecer os deslocamentos efetivamente realizados para a constituicao desse novo momento. Nesse sentido, 0 objetivo aqui seré pontuar, minimamente, que deslocamentos foram esses, ou, mais especifica- mente, apresentar as coordenadas do pensamento de Saussure, que colocaram a Lingiifstica em um outro eixo de reflexes. Apresentaremos, pois, as cléssicas concepgdes saussurianas ~ as dicotomias sincronia/diacronia € lingua/fala, bem como a noc3o de signo lingistico -, relacionando-as de modo a tecer 0 coeso coerente quadro teérico concebido pelo mestre genebrino. 0 campo da Lingilistica: dominio e objeto bem definidos A problematica da cientificidade perpassa, direta e indiretamente, toda a reflexdo do Curso de Lin- guiistica Geral: constituir um dominio especifico para a Linguistica, diferente do dominio de outras areas que estudam a linguagem humana, e definir um objeto proprio de estudo eram questées‘de grande relevancia para Saussure. Esses dois gestos ~ de constituicao de um dominio e de um objeto préprios 2 Linguistica -, entretanto, exigiam a proposicdo de uma rede conceitual complexa e implicada, de modo que a propria teoria pudesse produzir seu objeto e reproduzi-lo sistematicamente. Nas palavras do proprio Saussure (2006, p. 15):"Bem longe dizer que o objeto precede o ponto de vista, diriamos que © ponto de vista cria o objeto’. Por esse motivo, buscaremos apresentar os conceitos de modo que seja possivel perceber que a definicdo de cada um deles recorre a existéncia, na propria teoria, de outros conceitos que dele decorrem e a0 mesmo tempo o sustentam. Comegaremos pelo conceito de lingua - que, de acordo com o lingiiista suico, deve ser tomada como 0 objeto proprio da Linguistica e, por isso, ocupar o primeiro lugar entre os fatos de linguagem. Mas, para compreender adequadamente o conceito de lingua, é preciso consideré-lo em relagao a dois outros conceitos, a saber, os de linguagem e fala. Linguagem, lingua e fala Para Saussure, a linguagem é a soma da lingua mais a fala: Linguagem = lingua + fala De inicio, ja é possivel perceber, pela equac3o, que a lingua no se confunde com a linguagem, 6 apenas uma parte determinada e essencial dela. Nao se confunde também com a fala, apesar de te- rem em comum 0 fato de serem componentes da linguagem humana. Trataremos de cada um desses elementos. A lingua, conforme definida no Curso, é, a0 mesmo tempo, “um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convengdes necessarias, adotadas pelo corpo social para permitir 0 exer- cicio dessa faculdade no individuo" (SAUSSURE, 2006, p. 17). Em outras palavras, a lingua existe na cole- tividade sob a forma de uma soma de sinais depositados em cada cérebro; pode ser comparada a um dicionério (acrescido de uma gramética), cujos exemplares foram distribuidos entre os individuos de uma sociedade. Assim, a lingua esta em cada um desses individuos como um conhecimento arquivado na mente, sendo, nesse sentido, de natureza psiquica, mas nao de natureza individual. A lingua & de natureza social, por se tratar de um conhecimento convencional, partilhado pela comunidade linguisti- ‘ca que fala uma determinada lingua. Uma primeira caracterizacao que temos da lingua, portanto, é que ela é de natureza psiquica e social: ‘Trata-se de um tesouro depesitado pela pratica da fala em todos as individuespertencentesd mesma comunidade, um sistema gramatical que existe vitalmente em cada cérebro ou, mais exatamente, nos céebros de um conjunto de ind- viduos, pois lingua nao esté completa em nenhum,e s6 na massa ela existe de mado completo. (SAUSSURE, 2006, p. 21:grifos nossos) A fala, diferentemente, é de natureza individual: trata-se de uma parcela da lingua, selecionada por um falante para seus propésitos individuais de comunicago em uma situac3o concreta especifica. A fala constitui, pois, uma fungo do falante: é ele que, em um ato individual de vontade, exprime seu pensamento pessoal por meio das combinacées pelas quais realiza 0 cédigo da lingua - isto é, por meio das combinacées pelas quais operacionaliza um sistema gramatical. A fala é, portanto, de natu- reza individual e, sendo assim, extremamente varidvel e heterogénea, ndo se prestando a uma anélise objetiva e cientifica. Diferentemente, a lingua, por ser uma convencdo, um bem partilhado socialmente, 6 homogénea’, possibilitando que se faca de si uma abordagem cientifica. Por isso é considerada a | Estamos nos referindo, com Saussure, 8 homogeneidade do funcionamento do sistema da lingua Ferdinand Saussure ea fundaao da Linguistica sinronica parte essencial da linguagem — que, por ser a soma da lingua e da fala, & multiforme e heteréclita, visto que pertence ao mesmo tempo ao dominio individual e social. Por esse motivo, nao se deixa classificar, “pois nao se sabe como inferir sua unidade” (SAUSSURE, 2006, p. 17). Nessa perspectiva, somente a lin- gua, homogénea em sua natureza, pode ser objeto de estudo cientifico. O signo lingiiistico e suas implicacdes com as nogdes de lingua e sistema Uma outra definigao de lingua apresentada no Curso é a de que a”lingua é um sistema de signos que exprimem idéias” (SAUSSURE, 2006, p. 24). Como é possivel perceber, essa definicao implica outros dois conceitos ~ 0 de sistema e o de signo -, que, por sua vez, tm que ser considerados a partir da natureza social e psiquica da lingua. Consideraremos cada um desses conceitos separadamente, mas de ‘maneira imbricada, iniciando nossa abordagem pelo conceito de signo linguistico. Antes, porém, é necessério explicitar a centralidade da definicdo de que “a lingua é um sistema de signos que exprimem idéias’ na proposta de Saussure, Podemos destacar, nessa definicao, dois pontos fundamentais: = tal defini¢go inscreve a Lingiifstica em um dominio cientifico especifico, o da Semiologia, éncia geral que estuda a vida dos signos (incluindo a escrita dos surdos, 0s ritos simbolicos, as formas de polidez, os sinais militares etc.) no seio da vida social; ela estabelece uma associacdo entre as nodes designo”e de"lingua enquanto sistema’ asso- ciago esta que definiré 0 cere de toda reflexdo saussuriana. Ossigno lingiiistico Saussure define o signo lingiistico como uma entidade psiquica de duas faces, que pode ser representada pelos esquemas (Figura 1) a seguir: Figura 1 Conceito Significado Imagem ‘i ‘MGiCR Significante Os termos implicados no signo lingiiistico - 0 conceito e a imagem acuistica ~ so ambos psiquicos e esto unidos em nosso cérebro por um vinculo de associagao. A imagem aciistica (designada por signi- ficante) nao é o som material (fisico), mas € o correlato psiquico desse som’, isto é, aquilo que nos evoca um conceito (designado por significado). Assim, 0 significante e o significado sao entidades mentais inde- pendentes de qualquer objeto externo. O signo cadeira, por exemplo, nao se refere 8 “cadeira” objeto no mundo, mas resulta da unio entre o significado (0 conceito) de cadeira e 0 significante, isto é, a imagem acustica que evoca esse conceito. O signo, assim composto, nao une, pois, uma palavra a umarcoisa, mas 2 De cord com Saussure (2006), 0 carter plquica das imagens acustcas aparece claramente quando observamos nossa propia inguager: ‘sem movermos 05 labios nem a lingua, odemos falar conosco ou rectar mentalmente um poem ‘um significante a um significado. Trata-se de uma estrutura diddica que rejeita o objeto de referéncia como um elemento da semiologia, isto é, do estudo dos signos. Para Saussure, 0 sistema semiolégico da estrutura 20 mundo, que, de outra forma, seria amorfo; sua teoria signica opera inteiramente no sistema semistico. 0 signo linguistico exibe duas caracteristicas primordiais,a saber: © carter arbitrério do signo linguistico; a linearidade do significante. Em relacdo ao carater linear do significante, Saussure afirma que, por ser de natureza auditiva, ele se desenvolve unicamente no tempo e tem as caracteristicas que toma do tempo: representa uma ex- tensdo, e essa extensdo mensurdvel em apenas uma dimenséo - é uma linha que constitui a extensio da cadeia falada. O principio da linearidade do significante & fundamental, e suas conseqiiéncias si0, incalculaveis; é ele que permite distinguirmos conceitos como, por exemplo, o de silaba e 0 de distribui- do (em uma lingua, as unidades linguisticas no se dispdem ao acaso, mas em posicdes determinadas - 0 artigo em portugues, por exemplo, coloca-se sempre junto ao substantivo, antecedendo-o e for- mando com ele sintagmas nominais). Todo o mecanismo da lingua, portanto, depende desse principio de linearidade do significante, que estrutura todo 0 plano de expresso. No que diz respeito a arbitrariedade do signo, pode-se dizer que ela se expressa pela seguinte for- mulagdo: 0 lago que une o significante ao significado é arbitrario, no sentido de imotivado, isto é, no sen- tido de nao haver nenhum tipo de relacio intrinseca de causalidade necesséria entre o significante e 0 significado. O exemplo dado pelo proprio Saussure (2006, p. 81-82) para esclarecer essa formulacio é 0 seguinte: a idéia de ‘mar’ ndo esta ligada por relacao alguma interior & seqiiéncia de sons m-a-r que Ihe serve de significante; poderia ser representada igualmente bem por outra sequéncia, ndo importa qual”. Arbitrario, portanto, nao deve ser compreendido como dependendo da livre escolha do falante, visto que todo meio de expressao aceito em uma sociedade repousa na convencdo social, solidaria com © passado, com 0 tempo, gracas ao qual a escolha se acha afixada*. Saussure, entretanto, distingue duas concepcdes de arbitrério: um arbitrdrio absoluto, que se refere a instituigéo do signo tomado isoladamente, tal como acabamos de apresentar; e um arbitrdrio relativo, que se refere a instituicao do signo enquanto elemento componente de um sistema linglistico (‘a lingua 6 um sistema de signos”) e sujeito, portanto, as coercdes desse sistema. Nessa perspectiva, para melhor compreendermos a arbitrariedade relativa dos signos linguisticos, teremos que nos debrucar primeira- mente sobre a nogao de sistema, isto &, sobre a nocao de lingua como sistema. A abordagem dessa nocio, por sua vez, exige que nos debrucemos, antes, sobre a outra grande dicotomia saussuriana, a saber, a dicotomia sincronia/diacronia, pois a op¢ao do autor pelo recorte estritamente sincrénico é que possi- bilitaré a formulacao da nogao de sistema. 3 Diferentemente do signo, 0 simbolo tem como caractersica no ser jamais completamente arbitra; ele ndo ests vzio, existe um rudimento de viculo natural entre osigniante eo significado, Por exemple: balan, simbolo da justia, no podera se substtide por lum objeto qualquer como um caro. 40 propio tempe, que assegura a contnuidade da lingua ~ sistema de sgnos linguistics - tem também outo eft: o de aterar mais cu menos rapidamente 0s signos lingsics.O tempo, portanto, arto garante a continuidade das convencbessigicas, quant trabaha parao deslocamento dessa convencSes. Ness sentido, pode-eflar, 0 mesmo tempo, em imutabidade e mutabiidade do so, mas © cue é preciso compreender desse movimento € que ringuém (nenhum indvidvotomado de vontae propria e nem mesmo a massa social consierada como um todo} pode aterar nada na lingua. lingua, afrma Saussure (2006), stuada simultaneamente na massa socil € n0 tempo transfrma-se sem que os Indviduos possam transformsla. ssa autonomia d ingua decoree da propia nogSo de sstema, como veremos mais diate O recorte sincrénico como condicgéo para a delimitacao do sistema lingiiistico e para a formulacao da teoria do valor Saussure define dois eixos (ver figura 2) sobre os quais a Linguistica pode estudar os fatos da lingua: 0 eixo das simultaneidades ou eixo sincrénico (A-B) e 0 eixo das sucessividades ou eixo diacrénico (C-D): Figura 2 D lingdista que se interessasse em estudar os fatos da lingua no elxo das sucessividades (C-D) tomaria como objeto de seu estudo as relacdes que um fendmeno lingiiistico qualquer, localizado a0 longo da linha evolutiva do tempo, mantém com outros que o precedem e/ou sucedem na linha da continuidade histérica, Nesse eixo das sucess6es, nao se pode considerar mais que uma coisa por vez; considera-se a mudanca sofrida por um elemento ao longo da linha do tempo - que septem em latim originou sete em portugués, por exemplo; ou ainda, no interior da mesma lingua (o portugues, para ficar no exemplo), que vossa mercé se transformou em vocé. Trata-se de uma descricdo diacronica (ou historic), que se propée a descrever a mudanca lingiistica e explicar a sua natureza. Saussure falard em Lingiiistica evolutiva ou Linguistica diacrénica’ para se referir a essa lingiistica que se propoe a re seus estudos sobre 0 eixo das sucessividades. Diferentemente, o lingiiista que se interessar em estudar os fatos da lingua no eixo das simul- taneidades (A-B) deverd descrever e explicar as relagdes entre fatos coexistentes em um mesmo siste- ma lingUistico (em uma mesma lingua) tal como elas se apresentam em um determinado intervalo de tempo. Trata-se de uma descricao sincrénica, e a lingiistica destinada a esse tipo de estudo, Saussure designard Lingdistica estdtica ou Linguistica sincrénica. A perspectiva saussuriana opta, de maneira radical, pela Lingdistica sincrénica. A prépria nocao de sistema s6 é possivel a partir do estabelecimento da dicotomia sincronia/diacronia e da opcao pela sincronia. Explicaremos melhor. Considere a figura 2, que apresenta o cruzamento dos eixos diacrénico (C-D) e sincrénico (A-8). O eixo sincrénico corta 0 eixo diacrénico, determinando um ponto. Esse ponto constitui o intervalo de tempo em que uma determinada lingua sera estudada, isto é, constitui o intervalo de tempo (a sincronia) ‘em que as relacées entre os fatos que coexistem no interior de um sistema lingliistico sero consideradas para estudo. Se ampliarmos esse ponto, poderemos perceber, de maneira mais evidente, que’ele tem 50s estudos da lingua realzados no século xX foram predominantemente dacrénicos. fronteiras bem estabelecidas, no interior das quais as relacdes entre fatos linguisticos coexistentes se dao. Esse espaco assim delimitado constitui a possibilidade do sistema lingiistico, fato radicalmente sincrénico, isto é, possivel apenas a partir desse recorte, Nessa perspectiva, Saussure, a0 postular 2 dicotomia sincronia/diacronia, estabelece uma disjungao entre a evolucao de uma lingua, passivel de ser analisada no eixo diacrénico, e o seu esta- do, verificavel a partir do recorte sincrénico. £ a sincronia que define o estado de um sistema, isto é, tudo o que Ihe pertence e seu modo especifico de estruturacao em determinado’espaco de tempo. Em outras palavras, a dicotomia sincronia/diacronia permite separar, de maneira radical, o que é ex- terno do que é interno ao sistema. A definicéo de lingua enquanto"sistema de signos’, assumida por Saussure, exige, pois, que se elimine dela “tudo o que Ihe seja estranho ao organismo, ao seu sistema” (SAUSSURE, 2006, p. 29), visto que ela é um sistema que conhece somente sua ordem propria. Para esclarecer esse postulado, Saussure compara a lingua a um jogo de xadrez, pois, conforme explica, nesse jogo é relativamente facil distinguir o externo do interno. Nas palavras do autor: {0 fato de (0 jogo de xadrez] ter passado da Pérsia para a Europa é de ordem externa; interno, 20 contrétio, 6 tudo {quanto concerme ao sistema e as regras. Se eu substitu as pecas de madera por pecas de marfim, atroca sera indie rente para o sistema; mas se eu reduzir ou aumentar o numero de pecas, esta mudanca atingiré profundamente agra ‘matica" do jogo. [.]¢ interno tudo quanto provoca mudanca do sistema em qualquer grau. (SAUSSURE, 2006, p. 32) Cada lingua particular (0 portugués, o ingles, o francés, 0 espanhol, o alemao etc.) constitui um sistema lingUistico especifico, que tem seu préprio conjunto de regras. Entretanto, todos os sistemas lingiisticos particulares se submetem a uma ordem de funcionamento universal (no sentido de valer para todos os sistemas lingijisticos), que se estrutura a partir da teoria do valor. Essa teoria pode, em linhas gerais, ser compreendida da seguinte maneira: os elementos que pertencem ao sistema nao so definidos independentemente uns dos outros, visto que nao se definem por propriedades intrinsecas a sua natureza, mas recebem seu valor a partir das relagdes que estabelecem entre si, no interior de um sistema lingiistico: a“lingua é um sistema no qual todas as partes podem e devem ser consideradas em sua solidariedade sincrénica” (SAUSSURE, 2006, p. 102). Feitas essas considerac6es, voltemos & questdo da arbitrariedade relativa do signo linguistico. Se considerarmos o signo no interior do sistema, a sua arbitrariedade & apenas relativa, pois ele, enquanto componente de um sistema linglistico, esté sempre submetido &s suas regras e sujeito, portanto, 8s co- ercées da lingua. Um exemplo esclarecedor talvez seja 0 empréstimo de palavras estrangeiras. No portu- gués, a incorporaco do verbo inglés to delet gerou o verbo deletar, visto que um termo estrangeito, a0 ser incorporado ao sistema de uma lingua, “nao é considerado mais como tal desde que seja estudado no seio do sistema; ele existe somente por sua relacdo e oposicéo com as palavras que Ihe estdo associadas, da mesma forma que qualquer outro signo autoctone” (SAUSSURE, 2006, p.31). No caso do exemplo conside- rado, diriamos que, em funco da existéncia, no portugués, de uma forma produtiva como o sufixo verbal ar) para marcar 0 infinitivo de verbos’, foi possivel produzir deletar. Ou seja, j4 existe uma motivacso relativa no sistema para se construir, com essa terminagao (-ar), 0 infinitivo de verbos. Em um sistema, a tendéncia é construir sempre, de modo regular, regulares relacbes de significados. Por isso a arbitrarieda- de do signo, tomado no interior do sistema, néo é absoluta Com as consideracées feitas, esperamos ter sido possivel mostrar que 0 quadro teérico saussuria- no é bem mais que um conjunto de conceitos; trata-se, antes, como jé dissemos anteriormente, de yma ‘complexa e imbricada rede conceitual, em que cada um dos conceitos envolvidos recorre a existéncia de outros que dele decorrem e, ao mesmo tempo, sustentam-no. {6 Enesse sentido que se deve compreender que a lingua, defnida po Saussure como o objeto proprio da Linguistica, € homogénes 7 Em portugues, pode-se marca o infinitive também com as sufsos (| ir Texto complementar Estudos pré-saussurianos (FARACO, 2004, p. 27-28) Os manuais de historia da Linguistica costumam apresentar Ferdinand Saussure (1857-1913) como 0 pai da Lingiifstica moderma, entendendo por Lingiifstica moderna os estudos sincrénicos praticados intensamente durante o século XX em contraste com os estudos histéricos, que predo- minaram no século anterior. Embora possamos concordar com essa perspectiva, é preciso nao esquecer que o real impac- to do Curso, publicado postumamente em 1916, s6 comecou a aparecer no fim da década de 1920, mais propriamente a partir do Primeiro Congreso Internacional de Linguistica (Haia, 1928), do Pri- meiro Congreso dos Filélogos Eslavos (Praga, 1929) e da Primeira Reunigo Fonolégica Internacio- nal (Praga, 1930). Foi principalmente nesses trés foruns de grande porte que primeiro apareceram teses de inspiracao saussuriana, em especial pelas maos de Roman Jakobson (1896-1982) e Nikolai Troubetzkoy (1890-1938). A nova gerago de sincronistas s6 aos poucos foi ocupando o espaco académico na area dos estudos linglifsticos. Nesse sentido, podemos dizer que, na pratica, até a Segunda Guerra Mundial pelo menos, a Lingiifstica continuou a ser, no espaco universitério, uma disciplina fundamental- mente histérica. 0 século XIX, portanto, n3o terminou, em LingUistica, tao cedo como muitas vezes 05 recortes dos manuais chegam a sugerir. Por outro lado, é inegavel que Saussure realizou um grande corte nos estudos linglfsticos. Suas, concepgdes deram as condigées efetivas para se construir uma ciéncia sincrénica da linguagem. A partir de seu projeto, no houve mais razdes para nao se construir uma ciéncia auténoma a tratar exclusivamente da linguagem, considerada em si mesma e por simesma, e sob o pressuposto da sepa- ragdo estrita entre a perspectiva hist6rica e a nao-historica. < Seu ovo de Colombo foi nao sé mostrar que a lingua poderia (e deveria) ser tratada exclusiva mente como uma forma (livre das suas substancias), mas principalmente como essa forma se cons- tituia, isto é, pelo jogo sistémico de relagdes de oposigao - funcionando esse jogo de tal modo que nada é num sistema linglifstico seno por uma teia de relacdes de oposi¢ao. E, por outro lado, nada interessa numa tal perspectiva sistémica salvo o puramente imanente. Se 0 gesto epistemolégico saussuriano instaura a possibilidade da imanéncia (a lingua como um sistema de signos independente) e, com ela, a de uma ciéncia auténoma da lingua- gem enquanto uma realidade exclusivamente sincrénica, seria injusto nao reconhecer o longo processo preparador desse gesto. Embora a primeira vista haja no gesto de Saussure uma ruptura com o modo de fazer lingiifstica do século XIX, podemos também pensé-lo como um gesto de continuidade. O que ele fez (e nao & pouca coisa, evidentemente) foi dar consisténcia formal a velha intuigo de que as linguas humanas 880 totalidades organizadas. Essa intuigao percorreu todo o século que antecedeu o corte saussuriano. Teve, inclusive, uma formulagao naturalista forte em A. Schleicher (1821-1867) que, na esteira de sua formacao de botanico e de adepto do pensamento evolucionista de sua época, concebia a lingua como um organismo vivo. E recebeu de W. Whitney (1827-1894) uma formulacao que Saussure muito admi rava (conforme se Ié no Curso e nos manuscritos): a idéia da lingua como uma instituicdo social. Assim, se a Lingiiistica, da segunda metade do século XX em diante, tem sido, por heranca saussuriana, fundamentalmente estrutural, as sementes dessa concep¢o toda estao dadas no senso de sistema auténomo que atravessou o século XIX. A esse senso Saussure vai dar o arrema- te, elaborando a idéia de que a lingua é um sistema de signos independente. A operacionalidade da teoria saussuriana do valor O recorte sincrénico, proposto por Ferdinand Saussure no Curso de Linguistica Geral, impos uma nova ordem de tratamento dos fatos linguisticos. Essa nova ordem é a do sistema, uma realidade auto- noma cujo funcionamento se estrutura com base na teoria do valor. Em linhas gerais, a teoria do valor pode assim ser expressa: 0s elementos que pertencem ao sistema adquirem seu valor sempre a partir da relacdo que estabelecem com outros elementos do mesmo sistema lingufstico. Por exemplo: para exprimir o plural, é necessaria a oposicdo de dois termos; em portugués, nao 0 morfema' [s] em meninols] que exprime o plural, mas a oposi¢do entre esse morfema e o morfema o* em menino ©. Em uma abordagem sincrOnica sistémica, apela-se sempre para dois termos simultaneos, visto que é a partir da relacao binaria, diferencial e opositiva, entre os elementos que constituem o par, que cada um deles recebe seu valor no interior do sistema. Enessa perspectiva que Saussure (2006) afirma que na lingua nao ha mais do que diferencas, pois, nao se pode atribuir aos elementos do sistema nada de substancial, ou seja, nao se pode defini-los por eles mesmos. Na dptica saussuriana, sdo as diferencas que definem os elementos, e essas diferencas ‘nao sao intrinsecas nem extrinsecas a tais elementos, mas s6 podem ser definidas a partir da relacdo de oposicao entre eles. Iremos mostrar a operacionalidade dessa teoria do valor ~ base da estruturacao do sistema en- quanto objeto auténomo e préprio do campo da Lingtistica e um dos fundamentos do que se consti- tuiu, a partir do final da década de 1920, como o movimento estruturalista ~ para a descricao do siste- ma lingiistico do portugués. Consideramos um dos estudos classicos do linguista brasileiro Joaquim Mattoso Camara Jr, a saber, o estudo do mecanismo da flexo nominal em portugues, mais especifica- mente, seu estudo sobre a flexao do género em nomes. Para tanto, vamos nos basear em trés obras do autor: Estrutura da Lingua Portuguesa (1980); Histéria e Estrutura da Lingua Portuguesa (1985); Dispersos de J. Mattoso Camara J. (1972). | Em uma acepgdo bastante genérica, 0 morfemo pode ser tomado como” menor unidade gramatical que se pode ideniicarExemplo: 8 palara meninos & composta por trés elementos menores~0 radical mena vogal tematicao, omorfema lesional de nmero |) 20 morfema vazio,epresentado por indica, esse caso, auséncia da marca do pra A abordagem de Mattoso Camara sobre a flexdo do género em nomes no portugués Mattoso Camata Jt. afirma que os nomes em portugues se dividem em substantivos e adjetivos. Buscando estabelecer semelhancas e diferencas entre eles, 0 autor afirma que: do ponto de vista funcional - ha uma grande flutuacao categorial entre eles. Muitos dos nomes podem ser, conforme o contexto, substantivos (termos determinados) ou adjetivos (termos determinantes): (1) um marinheiro brasileiro subs. ad. (2) um brasileiro marinheiro subst. adj. De acordo com o autor, mesmo entre aqueles nomes que so essencialmente adjetivos (triste, grande) e aqueles que sao essencialmente substantivos (homem, tigre), a distingo funcional nao é absoluta: (3) um homem tigre subst. adj. do ponto de vista formal a diferenca entre essas duas classes gramaticais também & muito equena, visto que tanto os substantivos como os adjetivos so marcados por vogais tematica: (a, e,-0) ou por formas atematicas terminadas em vagais tonicas e consoantes. Por outro lado, 08 adjetivos estéo quase sempre distribuidos nas formas em -e, -o€ em consoantes, enquanto os substantivos encontram-se distribuidos em todas as formas. do ponto de vista flexional ~ ambos sao suscetiveis de flexao de género e de numero, apre- sentando, evidentemente, pequenas diferencas: 0 adjetivos com tema em -o sdo necessariamente providos de desinéncia de feminino (0 belo menino; a bela menina), enquanto aqueles com tema em -e ou consonanticos no tem uma flexdo de feminino (0 grande jardim/a grande mesa; a medida regular/o aluno regular); nos substantivos, com qualquer estrutura, a flexao de feminino ocorre ou nao, 3 Em um estudo morfofonémco, fala-se em “tema para designa parte do vocsbul flexional em que o radial se ampla com umisegmento fenico,chamado indice temdtico, que serve para caracterizar morfcamente um conjunto de vocabulos da mesma espécie (exemple: em Bla bel € 0 rac, -0€0 indice tematico que enquadra esse vocabulona classe dos nomes).Em portugues, de manera gel oindicetematica © uma voga,chamada voga temic. Nos nomes 0s temas io marcados com as vogalstemitics 2, -.-o3tonos finals Quando no forem ‘marcados com esses indices di-se que sbo otemtics. A abordagem de Mattoso Camara sobre a flexdo do género em nomes no portugués Mattoso Camara Jr. afirma que os nomes em portugués se dividem em substantivos e adjetivos. Buscando estabelecer semelhancas e diferencas entre eles, 0 autor afirma que: do ponto de vista funcional ~ ha uma grande flutuacao categorial entre eles. Muitos dos homes podem ser, conforme 0 contexto, substantivos (termos determinados) ou adjetivos (termos determinantes): (1) um marinheiro brasileiro subst. adj. (2).um brasileiro marinheiro subst. adj. De acordo com 0 autor, mesmo entre aqueles nomes que so essencialmente adjetivos (triste, grande) e aqueles que séo essencialmente substantivos (homem, tigre), a distingao funcional no é absoluta: (3)um homem tigre subst. adj. x: do ponto de vista formal - a diferenca entre essas duas classes gramaticais também & muito equena, visto que tanto os substantivos como os adjetivos s80 marcados por vogais temticas? (-a,-e,-0) ou por formas atematicas terminadas em vatgais tonicas e consoantes. Por outro lado, 05 adjetivos esto quase sempre distribuidos nas formas em -e, -o€ em consoantes, enquanto os substantivos encontram-se distribuidos em todas as formas. do ponto de vista flexional - ambos so suscetiveis de flexdo de género e de nimero, apre- sentando, evidentemente, pequenas diferenca: 0 adjetivos com tema em -0 sdo necessariamente providos de desinéncia de feminino (0 belo menino; a bela menina), enquanto aqueles com tema em -e ou consonanticos nao tem uma flexao de feminino (0 grande jardim/a grande mesa; a medida regular/o aluno regular); nos substantivos, com qualquer estrutura, a flexdo de feminino ocorre ou nao. 3 emu estado moronic fl ete para design pare do vc exona em que orale anpla com unfbgmento fic charade ce tendo ave serv para caactetiar merceent uncon de voedbus dames espace neler, ter dal e-o 8 indice temic gue equa ese vodbuo nce dor homes Em porous derrneta goin edo na ogl chads ogee Nex noes oxen marco com as opens © nos hs, Quando fren tmaredon con esesindces Gis eso adn Considerando 0 tépico a ser tratado nesta seco - 0 estudo da flexao do género em nomes do Portugués -, a questéo a saber é como se opera essa flexao para compreendé-la a luz da teoria do valor. Conforme Camara Jr, a regra geral é a seguinte:a flexio de género em nomes, no portugués, ocorre por meio do acréscimo do morfema flexional -a atono final a forma masculina. Mais especificament quando a forma masculina é atemiética (isto, é, no termina em -a, -e,-o dtonos finais), ocorre simplesmente o acréscimo mencionado (peru/perua; autor/autora); quando a forma masculina termina em vogal temética, essa vogal é suprimida por meio de uma mudanca morfofonémica, decorrente do acréscimo da vogal -a (parente -e +4 parenta; pombo -o + a= pomba)*. Entretanto, nem todos os nomes marcam flexionalmente o género, como em casa, livro, cénjuge, crianga, em que a vogal final no indica género, mas simplesmente registra a classe gramatical. Nesses casos, -a,-e,-0 S80 vogais tematicas, isto é, morfemas classificatérios, que enquadram tais vocabulos na classe dos nomes. Embora nao marcadas flexionalmente, tais palavras admitem a anteposicdo de um artigo -acasa, o livro, 0 cénjuge, a crianca -, do que se depreende, seguindo Camara Jr, que a flexao de género é, em principio, um trago redundante nos substantivos, pois, em portugues, cabe ao artigo marcar, explicita ou implicitamente, 0 género dos nomes substantivos. A flexéo do substantivo nao é, em principio, a marca basica de seu género porque, apareca ou nao a flexdo, todo nome, em cada contexto, ser impe- rativamente masculino ou feminino (0 livro, a crianga, o/a artista, o/a intérprete). Essa situacdo gramatical, afirma Camara Jr. (1972), a era a da lingua latina’. A marca do género de um substantivo latino nao estava nele em principio, mas no adjetivo, que podia funcionar como seu modificador: poeta era masculino porque era imperativo dizer magnus poeta e nao magna poeta. As linguas romanicas deram maior visibilidade a esse mecanismo de selecio do modificador como in- dice de género de um substantivo com a criagéo do modificador nominal artigo. Essa particula tem a flexio de género, opondo uma forma feminina e outra masculina, e, por sua presenga concreta ou em potencial, define claramente 0 género do substantivo a que modifica. Nesse sentido é que Mattoso chega ao principio fundamental da morfologia do género em portugués: “o género de um substant vo est na flexo do artigo que o determina ou pode determinar’. (CAMARA JR. 1972, p. 122). Concluindo, pois, a partir do que jé foi dito até aqui a respeito da flexao do género em nomes no portugués, pode-se dizer que a regra basica de formagao do feminino, tal como jé apresentada anteriormente, é 0 acréscimo do morfema -a em oposicéo a0 morfema @ do masculino. € impor- tante esclarecer que 0 morfema -a somente recebe seu valor de marca de feminino porque é con- siderado a partir da relacao binéria, diferencial e opositiva com 0 morfema o. A partir da relacao entre esses dois morfemas - que constituem um par opositivo no interior do sistema lingiiistico do portugues - é que cada um deles recebe seu valor (de marcador mérfico de género feminino/ masculino) no interior desse sistema. 4m portugues, explica mara (1972), € gra morfofonémica mperativa a supressbo de uma vogaldtona final em contato com outa, na ‘exdo ou na derivacdo de voctbulos. 5 Essas consideragBes histéieasfetas por Mattaso Cimara J, nesse caso, ndo desvituam a anise sincrbnica que se propa fazer do mecanisme da flexo do género em nomes ne Portugués, visto que o intuto do autor & mostrar o que condicionou certo estado da lingua portuguesa, foco de sua abordagem. ‘Ao lado dessa regra geral de marcacdo de género no portugués, existem trés casos de alomorfia® que, como seré possivel perceber, também se estruturam a partir de relacdes binarias de oposicéo: #2 alomorfia por subtragao da forma masculina - como em 6rfSo/6rf8, réu/ré, mau/mé; neste caso, 0 morfema flexional de género é um morfema subtrativo; -redundante: s tedundante: vogal ténica fechada /o/ passa a aberta / 3 /. Ex: formoso/formosa; novo/ nova. Trata-se de um morfema aditivo alternativo e, por isso, redundante, porque a flexso de género ja esté expressa pelos morfemas -a/o. alomorfia por alternancia vocélica redundante e ni nao-redundante: vogal tonica fechada /o/ passa a aberta //. Ex: av6/av6. : auséncia de flexdo — o/a mértir; o/a intérprete; nesses casos, a marca¢ao do género é garan- tida, no sistema, pelo modificador nominal artigo, que tem a flexao de género, opondo uma forma feminina e outra masculina. Em todos esses casos - tanto na regra geral, quanto nos casos de alomorfia - ¢ possivel ver fun- cionando, de maneira exemplar, a teoria do valor. ‘Ao lado desses morfemas flexionais, o género pode também ser indicado pe = morfemas derivacionais femininos: -isa: didcono/diaconisa; -essa: abade/abadessa; -esa: duque/duquesa, alteragao do sufixo derivacional de aumentativo proprio da forma masculina, decorrente do acréscimo do morfema -a: valentao/valentona. = acréscimo de um morfema derivacional de diminutivo a forma feminina: galo/galinha. = acréscimo do morfema -a ao sufixo derivacional -eu, que acarreta uma mudanga morfofoné- mica caracterizada pela supressao da vogal assilabica (vogal nao-ténica do ditongo) e poste- rior ditongagao: europeu +a = europe(u)a = europea = européia (Os morfemas derivacionais criam novas palavras na lingua: a partir do morfema lexical livr-o, tem- se livr-eiro,livr-aria, livr-inho etc. Tais morfemas, entretanto, ao contrario dos flexionais, nao obedecem ‘a uma sistematizacao obrigatoria: por esse motivo é que uma derivacao pode aparecer para um dado vocabulo (de cantar deriva-se cantarolar), efaltar para um vocabulo congénere (no hé derivacoes ané- logas para falar e gritar). (Os morfemas flexionais, por sua vez, estdo concatenados em paradigmas coesos e com pequena margem de variagao - compare-se a série sistematica: cantdvamos, faldvamos, gritdvamos, que corre 6 Quando se dé o nome de morfema & menor unidade gramatialsignifcativa, chamam-se alomores as variants desse morfema, Por derivado, fala-se em alomorf toda vez que a atividade expressa no verbo ¢ atribuida ao locutor e a mais alguém em condicdes espe- ciais de tempo passado. (Os morfemas derivacionais formam palavras que enriquecem o Iéxico, server como base para derivagdes posteriores e possibilitam ao falante a escolha de uma forma vocabular; os morfemas fle- xionais, diferentemente, s30 elementos de caracterizacao exclusiva e sistematica do sistema linguistico €, por isso, submetem-se a andlises do tipo estruturais’, isto é, que assumem a teoria do valor como um principio geral do funcionamento da estrutura de quaisquer sistemas lingUisticos, Por esse motivo, debrugamo-nos apenas sobre o padrao flexional do género em nomes no portugués, nao nos detendo na problematica derivacional, visto que nosso intuito é mostrar a operacionalidade da teoria do valor. Texto complementar 0 valor lingiiistico (SAUSSURE, 2006, p.139-140) Ll Tudo o que precede equivale a dizer que na lingua sé existem diferencas. E mais ainda: uma di- ferenga supde em geral termos positivos entre os quais ela se estabelece; mas na lingua ha apenas diferencas sem termos positivos. Quer se considere o significado, quer o significante, a lingua nao com- Porta nem idéias nem sons preexistentes ao sistema lingifstico, mas somente diferencas conceitu: e diferencas fonicas resultantes desse sistema. O que haja de idéia ou de matéria fonica num signo importa menos que o que existe ao redor dele nos outros signos. A prova disso & que o valor de um termo pode modificar-se sem que se Ihe toque quer no sentido quer nos sons, unicamente pelo fato de um termo vizinho ter sofrido modificacao. H Mas dizer que na lingua tudo é negativo sé é verdade em relagio ao significante e ao significado tomados separadamente: desde que consideremos o signo em sua totalidade, achamo-nos perante uma coisa positiva em sua ordem. Um sistema lingliistico é uma série de diferencas de sons combi- nadas com uma série de diferencas de idéias; mas essa confrontacao de um certo ntimero de signos 7 Bybee (1987, p87) estabelece os seguintes crtérios para dsingura expresso flexional da derivaciona: obrigatriedade (e consequent previsibildadel as exoresves lesional so prevsiveseexigidassntaticamente Ex: moc_baix_cheg.; “ generaidade (produtividade X semiprodutividade}: a expresso flexional é geral quanto aplicabildade - ex a flexdo de plural apicase automaticamente anomes, adjetives,antigos, posessvos, emonstratives em concordncia com nomes substantivos no plural} expresso Gerivaciona apresentaresvigdes quanto 3suaaplicabildade cantarola/“alaroar, “estabilldade semantica a expresso flexional possulestablidade semantica~o plural é sempre plural, isto &, mais de um, j na derivaco adem ocorrrextensses de sentido (core/conedrh; ‘rau derlevancia semantia: a exo no muda o significado da palavra;dferentemente a drivagdoafeta semanticamente o significado a base: smudanca de classe gramatical:os constitunts exionas no mudam a classe as palavas(ivovrs: cantar/cantavamos).Osconstitintes

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