Você está na página 1de 4

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA


SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA
SEGUNDA VARA FEDERAL

PROCESSO N. 2007.82.00.008146-6

AÇÃO PENAL PÚBLICA

AUTOR: Ministério Público Federal

RÉU: José Maurício do Nascimento Gomes

S E N T E N Ç A1

DIREITO PENAL. Exploração clandestina de atividade


de telecomunicação (Lei n. 9472/97, art. 183). Provedor
de acesso à internet. O provedor é serviço de valor
adicionado que não se confunde com serviço de
telecomunicação (Lei n. 9472/97, art. 61, §1º). Atipicidade
do fato. Absolvição.

RELATÓRIO

Tratam os presentes autos de AÇÃO PENAL PÚBLICA promovida pelo


MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL contra JOSÉ MAURÍCIO DO NASCIMENTO
GOMES, já devidamente qualificado, dando-o a peça denunciativa como incurso no
art. 183 da Lei n. 9472/97.

Consta da denúncia (f. 03-4) que agentes da ANATEL teriam


constatado, em fiscalização, o funcionamento de estação de provedor de internet
com o fornecimento de serviços de comunicação e multimídia (código 045) sem a
outorga do Ministério das Telecomunicações e sem autorização da ANATEL.

Ouvido na DPF, o acusado afirmou que, na época da fiscalização


(06/06/2007) não possuía autorização da ANATEL para a exploração dos serviços
de telecomunicação multimídia que matinha em seu comércio. Informa ainda que o
serviço interrompido na fiscalização foi restaurado por força de um mandado de
1
Sentença tipo D, cf. Res. CJF n. 535/2006.
ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU
Juiz Federal
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA
SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA
SEGUNDA VARA FEDERAL Página 2 de 4

segurança, sendo a decisão posteriormente revista pelo TRF da 5ª Região. A


denúncia indicou duas testemunhas.

Denúncia recebida em 20/05/2008 (f. 06).

O acusado apresentou resposta (f. 45-9) acompanhada de procuração


e documentos (f. 50-66), alegando que obteve alvará de funcionamento da prefeitura
municipal de Itabaiana/PB e inscrição da Junta Comercial do Estado da Paraíba,
bem como que celebrara contrato com a EMBRATEL, que lhe disponibilizou o sinal,
sendo que em momento algum lhe fora exigida autorização da ANATEL para o
serviço em questão. Sendo assim, alega que agiu sempre de boa-fé, jamais com
dolo. A defesa também questiona se a falta da autorização da ANATEL preenche os
elementos do tipo, bem como se o serviço de provedor de internet via rádio pode ser
considerado, para fins penais, como “atividade de telecomunicação”. Salienta, nessa
linha, o art. 61 da Lei n. 9472/97, apontando para um possível enquadramento de
sua atividade como “serviço de valor adicionado”, que seria expressamente
diferenciado do serviço de telecomunicações. Indicou uma testemunha.

Na audiência de instrução, foram ouvidas as testemunhas indicadas


pelo MPF e pela defesa, bem como interrogado o acusado (f. 103-12).

Em alegações finais, o MPF (f. 129-33) e a defesa (f. 149-52) pediram


a absolvição do acusado.

Autos conclusos para julgamento.

É o breve relato.

DECIDO.

FUNDAMENTAÇÃO

Sobre a matéria de fato, parece-me não haver qualquer divergência.


Há plena comprovação de que o fato narrado na denúncia aconteceu tal qual
narrado, bem como que o denunciado fora seu autor. A questão a se resolver está
na área das conseqüências jurídicas que podem ser extraídas dos fatos, o que

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU


Juiz Federal
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA
SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA
SEGUNDA VARA FEDERAL Página 3 de 4

implica responder a seguinte questão: a conduta descrita na denúncia é realmente


típica, considerando a descrição do art. 183 da Lei n. 9472/97.

Tanto o MPF quanto a defesa responderam negativamente a essa


pergunta em suas alegações finais, e devo registrar que acompanho não apenas
suas conclusões, mas os contundentes argumentos que ambas as partes utilizaram
em justificação a essa tese.

Na esteira do que afirmou o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, a Lei n.


9472/97, em seus artigos 60 e 61, distinguiu o serviço de telecomunicação do
serviço de valor adicionado – no caso, o provedor de internet. O próprio legislador
estabeleceu que o serviço de valor agregado (em que se enquadra o prestado pelo
acusado) não é serviço de telecomunicação (art. 61, §1º).

Nessa linha, conforme dito por ambas as partes, vem o Superior


Tribunal de Justiça decidindo não incidir ICMS sobre os serviços prestados pelos
provedores de acesso à internet, uma vez que não possuem a natureza de serviços
de telecomunicação. A matéria já consta do enunciado n. 334 da Súmula do STJ, do
seguinte teor: “O ICMS não incide no serviço dos provedores de acesso à Internet”.

Não sendo serviço de telecomunicação para efeito de enquadramento


na moldura típica do art. 183 da mesma lei, trata-se de conduta atípica e, portanto,
penalmente irrelevante, conduzindo, em harmonia com o entendimento de ambas as
partes, ao julgamento de absolvição do acusado.

DISPOSITIVO

Diante do exposto, com fundamento no art. 386, inciso III, do Código de


Processo Penal, julgo improcedente a pretensão punitiva estatal para absolver o
acusado JOSÉ MAURÍCIO DO NASCIMENTO GOMES.

Custas “ex lege”.

Transitada em julgado a presente sentença: a) certifique-se; b)


preencha-se e encaminhe-se ao IBGE o boletim individual do acusado; c) dê-se
baixa na distribuição; d) arquivem-se os autos.

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU


Juiz Federal
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA
SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA
SEGUNDA VARA FEDERAL Página 4 de 4

Sentença publicada em mãos do diretor de secretaria. Registre-se no


sistema informatizado. Intimem-se o acusado e seu defensor.

Cientifique-se o MPF.

João Pessoa, 11 de março de 2010.

Juiz federal ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU

Substituto da segunda vara federal

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU


Juiz Federal

Você também pode gostar