A atividade de provedor de acesso a internet nao constitui atividade de telecomunicacao e, portanto, sua exploracao "clandestina" nao pode ser considerada crime.
Título original
Sentenca - exploracao clandestina de atividade de telecomunicacao - provedor de internet - absolvicao
A atividade de provedor de acesso a internet nao constitui atividade de telecomunicacao e, portanto, sua exploracao "clandestina" nao pode ser considerada crime.
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A atividade de provedor de acesso a internet nao constitui atividade de telecomunicacao e, portanto, sua exploracao "clandestina" nao pode ser considerada crime.
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DIREITO PENAL. Exploração clandestina de atividade
de telecomunicação (Lei n. 9472/97, art. 183). Provedor de acesso à internet. O provedor é serviço de valor adicionado que não se confunde com serviço de telecomunicação (Lei n. 9472/97, art. 61, §1º). Atipicidade do fato. Absolvição.
RELATÓRIO
Tratam os presentes autos de AÇÃO PENAL PÚBLICA promovida pelo
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL contra JOSÉ MAURÍCIO DO NASCIMENTO GOMES, já devidamente qualificado, dando-o a peça denunciativa como incurso no art. 183 da Lei n. 9472/97.
Consta da denúncia (f. 03-4) que agentes da ANATEL teriam
constatado, em fiscalização, o funcionamento de estação de provedor de internet com o fornecimento de serviços de comunicação e multimídia (código 045) sem a outorga do Ministério das Telecomunicações e sem autorização da ANATEL.
Ouvido na DPF, o acusado afirmou que, na época da fiscalização
(06/06/2007) não possuía autorização da ANATEL para a exploração dos serviços de telecomunicação multimídia que matinha em seu comércio. Informa ainda que o serviço interrompido na fiscalização foi restaurado por força de um mandado de 1 Sentença tipo D, cf. Res. CJF n. 535/2006. ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA SEGUNDA VARA FEDERAL Página 2 de 4
segurança, sendo a decisão posteriormente revista pelo TRF da 5ª Região. A
denúncia indicou duas testemunhas.
Denúncia recebida em 20/05/2008 (f. 06).
O acusado apresentou resposta (f. 45-9) acompanhada de procuração
e documentos (f. 50-66), alegando que obteve alvará de funcionamento da prefeitura municipal de Itabaiana/PB e inscrição da Junta Comercial do Estado da Paraíba, bem como que celebrara contrato com a EMBRATEL, que lhe disponibilizou o sinal, sendo que em momento algum lhe fora exigida autorização da ANATEL para o serviço em questão. Sendo assim, alega que agiu sempre de boa-fé, jamais com dolo. A defesa também questiona se a falta da autorização da ANATEL preenche os elementos do tipo, bem como se o serviço de provedor de internet via rádio pode ser considerado, para fins penais, como “atividade de telecomunicação”. Salienta, nessa linha, o art. 61 da Lei n. 9472/97, apontando para um possível enquadramento de sua atividade como “serviço de valor adicionado”, que seria expressamente diferenciado do serviço de telecomunicações. Indicou uma testemunha.
Na audiência de instrução, foram ouvidas as testemunhas indicadas
pelo MPF e pela defesa, bem como interrogado o acusado (f. 103-12).
Em alegações finais, o MPF (f. 129-33) e a defesa (f. 149-52) pediram
a absolvição do acusado.
Autos conclusos para julgamento.
É o breve relato.
DECIDO.
FUNDAMENTAÇÃO
Sobre a matéria de fato, parece-me não haver qualquer divergência.
Há plena comprovação de que o fato narrado na denúncia aconteceu tal qual narrado, bem como que o denunciado fora seu autor. A questão a se resolver está na área das conseqüências jurídicas que podem ser extraídas dos fatos, o que
ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU
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implica responder a seguinte questão: a conduta descrita na denúncia é realmente
típica, considerando a descrição do art. 183 da Lei n. 9472/97.
Tanto o MPF quanto a defesa responderam negativamente a essa
pergunta em suas alegações finais, e devo registrar que acompanho não apenas suas conclusões, mas os contundentes argumentos que ambas as partes utilizaram em justificação a essa tese.
Na esteira do que afirmou o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, a Lei n.
9472/97, em seus artigos 60 e 61, distinguiu o serviço de telecomunicação do serviço de valor adicionado – no caso, o provedor de internet. O próprio legislador estabeleceu que o serviço de valor agregado (em que se enquadra o prestado pelo acusado) não é serviço de telecomunicação (art. 61, §1º).
Nessa linha, conforme dito por ambas as partes, vem o Superior
Tribunal de Justiça decidindo não incidir ICMS sobre os serviços prestados pelos provedores de acesso à internet, uma vez que não possuem a natureza de serviços de telecomunicação. A matéria já consta do enunciado n. 334 da Súmula do STJ, do seguinte teor: “O ICMS não incide no serviço dos provedores de acesso à Internet”.
Não sendo serviço de telecomunicação para efeito de enquadramento
na moldura típica do art. 183 da mesma lei, trata-se de conduta atípica e, portanto, penalmente irrelevante, conduzindo, em harmonia com o entendimento de ambas as partes, ao julgamento de absolvição do acusado.
DISPOSITIVO
Diante do exposto, com fundamento no art. 386, inciso III, do Código de
Processo Penal, julgo improcedente a pretensão punitiva estatal para absolver o acusado JOSÉ MAURÍCIO DO NASCIMENTO GOMES.
Custas “ex lege”.
Transitada em julgado a presente sentença: a) certifique-se; b)
preencha-se e encaminhe-se ao IBGE o boletim individual do acusado; c) dê-se baixa na distribuição; d) arquivem-se os autos.
ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU
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Sentença publicada em mãos do diretor de secretaria. Registre-se no
sistema informatizado. Intimem-se o acusado e seu defensor.