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LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTUAL - I

Material organizado pelos professores de LPT do departamento de Pedagogia


- UNINOVE

(1º semestre / 2010)

ALUNO: R.A.

CURSO: UNIDADE:

TURMA: SEMESTRE/ANO:
PROFA. YARA MARISOL CONTIPELLI

Disciplina: Carga-Horária: Semestre: Grade/ Ano:


Leitura e Produção Textual I 80 horas 1º 2010/2010

Perfil Docente: Titulação:


Licenciado em Letras e áreas afins, preferencialmente Especialista/ Mestre
com Mestrado em Letras.
Ementa:
A disciplina explora os aspectos lingüísticos, gramáticos e discursivos, focando
especificamente o uso da língua, as estratégias de leitura, a articulação dos parágrafos nos
textos e os aspectos da coerência e da coesão, inserindo, ainda, temas políticos, sociais e
econômicos contemporâneos, aderentes à área específica da carreira profissional.

Objetivos:
Desenvolver no aluno competências para o uso da língua nas modalidades escrita e falada, as
habilidades e estratégias de leitura e o uso de coerência e coesão nos textos escritos;
Ressaltar a importância da leitura e o domínio da competência linguística.
Planograma:
1. Comunicação e linguagem: Linguagens verbais e não verbais;
2. Funções da linguagem: língua oral e escrita;
3. Variação lingüística;
4. Níveis de linguagem.
5. Revisão gramatical I: pontuação; uso da vírgula;
6. Revisão gramatical II: acentuação gráfica, acento grave; (Novo Acordo Ortográfico)
7. Revisão gramatical III: ortografia (Novo Acordo Ortográfico); Problemas gerais da
norma culta.
8. Leitura: importância e estratégias.
9. Noções de texto: definição e características
10. Interpretação de enunciados – Verbos de comando;
11. Tipologia Textual – Noções básicas: descrição, narração e dissertação.
12. Análise Textual – Identificação dos objetivos, dos argumentos, das conclusões;
13. Unidade de composição do texto: o Parágrafo. Estrutura, formas de desenvolvimento
e o tópico frasal;
14. Organização do texto I: Coerência: fatores de (in) coerência.
15. Organização do texto II: Coesão. Recursos de coesão e os principais conectores.
16. Estrutura do Trabalho Acadêmico.
17. Fichamentos: definição, importância e formas (por resumo, citação, interpretação...)
18. Resumo
19. Resenha
20. Normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas)

Metodologia:
Consiste em aulas expositivas e interativas que contribuam para a consolidação dos
conceitos das práticas de comunicação, além de permitir e avaliar o grau da aprendizagem
do discente em relação ao conteúdo ministrado.
Avaliação:
A avaliação será contínua e processual, se desenvolvendo da seguinte forma:

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AV1 - Trabalhos escritos em sala de aula (0 a 10) e/ou uma prova individual (0 a 10)
AV2 – Avaliação individual (0 a 10) e/ou um seminário em grupo (0 a 10)

UNIDADE 1

LÍNGUA E LINGUAGEM E FALA


A Língua pode ser definida como um código formado por signos (palavras) e leis
combinatórias usados por uma mesma comunidade.

Quanto maior o domínio que temos da língua, maior é a


possibilidade de um desempenho lingüístico eficiente.

Por sua vez, a linguagem serve como instrumento de comunicação que faz uso
de um código, permitindo, assim, a interação entre as pessoas - é a atividade
comunicativa.

As linguagens apresentam características próprias de composição para


adequarem-se aos veículos específicos, aos receptores, às épocas e às situações
determinadas - são os diversos tipos de linguagem: linguagem de teatro, linguagem de
programação, linguagem de cinema, linguagem popular.

Há inúmeros tipos de linguagem: a fala, os gestos, o desenho, a pintura, a


música, a dança, o código Morse, o código de trânsito.

As linguagens podem ser organizadas em dois grupos: a linguagem verbal,


modelo de todas as outras, e as linguagens não verbais. A linguagem verbal é aquela

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que tem por unidade a palavra; as linguagens não verbais têm outros tipos de unidade,
como o gesto, o movimento, a imagem.

Cada indivíduo pode fazer uso próprio e personalizado da língua, dando origem
à fala, embora esta prática deva estar sempre condicionada às regras socialmente
estabelecidas da língua.

Nesse sentido convém ressaltar que a colocação das palavras na frase e a


mudança de relação entre elas são fatores de mudança de significado. Além disso, a
leitura dos sinais de pontuação é também significativa, influenciando todo o significado
de um enunciado.

Língua: sistema de signos, pertencente a toda uma comunidade de falantes.


Linguagem: é a faculdade humana através da qual o homem se comunica.
Fala é o uso que cada indivíduo faz da língua comunitária.

( NICOLA, de José & INFANTE, Ulisses. Gramática Contemporânea da Língua


Portuguesa.. 15 ed. São Paulo, Scipione, 2003)

TEXTO VERBAL E NÃO-VERBAL

A capacidade humana ligada ao pensamento que se manifesta por meio de


palavras (verbum, em latim) de uma determinada língua caracteriza o texto ou
linguagem verbal.

Existem, porém, outras formas de linguagem de que o homem lança mão para
representar o mundo, expressar-se, comunicar-se: os gestos, a música, a pintura, a
mímica, as cores. Trata-se da linguagem ou do texto não-verbal.

É possível apontar semelhanças e diferenças entre os dois tipos de textos. A


análise criteriosa (leitura) dos signos utilizados nos textos não-verbais permite que o
sentido seja apreendido e que se estabeleça comunicação, mesmo que a
correspondência não seja absoluta e um mesmo tipo de mecanismo assuma contornos
específicos em cada tipo de linguagem.

A utilização de recursos não-verbais na comunicação é freqüente e exige que o


leitor esteja atento a essas formas de interação que, muitas vezes tomam o lugar dos
textos verbais -ou a eles se associam -com o objetivo de produzir sentido de maneira
mais rápida e eficiente – é o caso das tabelas, dos gráficos, dos sinais de trânsito,
charges.

Analise as charges abaixo:

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Textos escritos não são nossa única fonte importante de informações.
Fotografias, desenhos, pinturas e imagens também podem ser lidos e interpretados e
nos
ajudam a compreender melhor o mundo em que vivemos.

A figura ao
lado é um texto, pois
podemos identificar um
sentido naquilo que
estamos vendo: dentro
de uma lata, o que
parece ser a planta de
um apartamento ( sãoidentificados o quarto, a

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sala, a cozinha e o
banheiro). Se juntarmos
a imagem da lata de
sardinha com a planta
de um apartamento,
concluímos que o autor
desse desenho procura
indicar que há
apartamentos muito
pequenos, dentro dos
quais as pessoas se sentem como sardinhas em latas.

A capa da revista Veja, apresentada abaixo, associa a linguagem verbal e a linguagem


não-verbal. Analise-a e, a seguir, comente a mensagem transmitida.

((http://veja.abril.com.br/busca/resultadoCapas)

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UNIDADE 2

AS DIFERENÇAS ENTRE FALA E ESCRITA

O primeiro mito que deve ser desfeito na relação entre fala e escrita é o de que
a fala é o lugar da informalidade, da liberdade, do dizer tudo e da forma que quiser, e a
escrita, por sua vez, é o lugar da realização formal, controlada e bem elaborada.

Na verdade, fala e escrita são duas realizações possíveis de uma mesma língua
que tanto podem ser elaboradas quanto informais. O que determinará o grau maior ou
menor de formalidade é o contexto em que o falante ou escritor estará inserido.

O que existe é uma maior valorização da escrita pela sociedade, justamente


pelo fato de esta ser aprendida e desenvolvida em uma instituição social que é a
escola. Entretanto, assim como a fala não possui uma propriedade negativa, a escrita
também não é uma modalidade privilegiada, ou seja, não existe superioridade de uma
modalidade em relação à outra.

As diferenças entre língua oral e língua escrita permitem traçar um quadro


contrativo dos componentes básicos dessas modalidades.

Quanto à... Fala Escrita

Interação à distância (espaço


Interação face a face. Mesmo
Interação temporal). Contexto situacional
contexto situacional.
diverso.

Planejamento Simultâneo ou quase simultâneo àAnterior à produção.

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produção.

Coletiva, administrada passo a


Criação Individual.
passo.

Memória Impossibilidade de apagamento. Possibilidade de revisão.

Sem condições de consulta a


Consulta Livre consulta.
outros textos.

A reformulação pode ser


A reformulação é promovida
Reformulação promovida tanto pelo falante
apenas pelo escritor.
como pelo interlocutor.

Acesso imediato às reações doSem possibilidade de acesso


Acesso
interlocutor. imediato.

Processament
o O falante pode processar o texto,O escritor pode processar o
redirecionando-o a partir dastexto a partir das possíveis
reações do interlocutor. reações do leitor.

O texto tende a esconder o seu


Processo de O texto mostra todo o seu
processo de criação, mostrando
Criação processo de criação.
apenas o resultado.

Adaptado de Fávero (2000, p. 74)

EXERCÍCIOS
1. O articulista Luiz Nassif em seu artigo “O FMI vem aí. Viva o FMI”, publicado na
revista Ícaro, fez uso do registro culto típico do jornalismo, mas utilizou também
algumas expressões da linguagem técnica dos economistas e outras próprias da
linguagem informal. Leia o trecho abaixo e resolva as questões propostas a seguir.

“Países já chegam ao FMI com todos esses impasses, denotando a incapacidade de


suas elites de chegarem a fórmulas consensuais para enfrentar a crise – mesmo
porque essas fórmulas implicam prejuízos aos interesses de alguns grupos poderosos.
Aí a burocracia do FMI deita e rola. Há, em geral, economistas especializados em

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determinadas regiões do globo. Mas, na maioria das vezes, as fórmulas aplicadas aos
países são homogêneas, burocráticas, de quem está por cima da carne-seca e não
quer saber de limitações de ordem social ou política.(...) Sem os recursos adicionais do
Fundo, a travessia de 1999 seria um inferno, com as reservas cambiais se esvaindo e o
país sendo obrigado ou a fechar sua economia ou a entrar em parafuso. O desafio será
produzir um acordo que obrigue, sim, o governo e Congresso a acelerarem as formas
essenciais.” ( Ícaro, 170, outubro de 1998 – questão adaptada do vestibular da
Unicamp)

a) Transcreva as expressões que nos remetem ao universo econômico.

b) Transcreva as expressões que têm características de informalidade.

c) Substitua essas expressões apresentadas no nível coloquial por outras típicas da


linguagem formal.

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2. Abaixo, temos a simulação de uma entrevista para a ocupação de um cargo numa
empresa. É nítido nesta entrevista o uso de duas variações lingüísticas bem marcadas
pelos interlocutores. A nossa atividade é assumir o papel do entrevistado e tentar
adequar o nível de linguagem ao da entrevistadora.

- Bom dia. Sente-se, por favor, preciso fazer algumas perguntas para o senhor a fim de
saber se está devidamente qualificado para a nossa empresa.

- Ah. Falô, na boa.

- Qual o nome do Sr., por favor?

- José Carlos, mas o pessoal lá de casa e da rua me chama de zé.

- Muito bem Sr. José Carlos, temos uma vaga para o cargo de Assistente Administrativo,
mas precisamos que o candidato tenha domínio de algumas habilidades.

- Certo! É só perguntar.

- O Sr. Possui algum conhecimento na área de informática? Nos dias de hoje ela é
imprescindível para qualquer profissional da área administrativa.

- Sim, eu manjo bastante de informática, você sabe, aqueles programas de sempre:


Window, Word, Excel, esses baratos todos.

- O Sr. costuma acessar a Internet? Conhece as principais ferramentas desse


instrumento de comunicação?

- OH! Nossa! Eu costumo viajar bastante na Internet, conheço muitos sites.

- Qual o grau de escolaridade do Sr.?

- Bem, eu estudei Administração Geral numa faculdade e agora tô pensando em me


especializar em Marketing.

- O Sr. fala algum idioma: inglês, espanhol?

- Bem, fiz um cursinho de espanhol rápido por causa do barato do Mercosul né. Inglês
só no the book is on the table.

- O Sr. é casado? Qual sua Idade?

- Não, por enquanto tô fora... Só namoro mesmo! Tô com 25 anos.

- Qual a sua experiência profissional? O Sr. já trabalhou numa empresa de grande porte
como esta?

- AH! pra falar a verdade eu trabalhei sempre como boy em empresas pequenas, mas o
meu último trampo foi numa distribuidora de medicamentos - empresa grande.

- E quais eram as atividades do Sr. nessa empresa?

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- Nossa! Eu fazia um pouco de tudo. Às vezes fazia umas coisas no departamento
pessoal, depois fui para o financeiro, passei uns meses também no CPD... rodei
bastante por lá.

- Muito bem Sr. José Carlos, estou com os dados do Sr. aqui. Assim que tivermos uma
posição entramos em contato. Bom dia.

- Certo, bom dia, mas o trampo é meu?

(Texto elaborado pelo Professor Jorge Torresan)

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3. Identifique os tipos de língua abaixo (culta, coloquial, vulgar, regional, grupal). A
primeira frase vem como exemplo:
a) Temos conhecimento de que alguns casos de delinqüência juvenil no mundo
hodierno decorrem da violência que se projeta, através dos meios de comunicação,
com programas que enfatizam a guerra, o roubo e a venalidade. Culta
b) Cadê o livro que te emprestei? Me devolve em seguida, tá?
c) “Nóis ouvimo falá do pograma da televisão.”
d) “A la pucha, tchê! O índio está mais por fora do que cusco em procissão – o negócio
hoje é a tal de comunicação, seu guasca!”
e) O materialismo dialético rejeita o empirismo idealista e considera que as premissas
do empirismo materialista são justas no essencial.
f) “O negócio agora é comunicação, e comunicação o cara aprende com material vivo,
descolando um papo legal. Morou?”
g) “Meus camaradinhas:
Não entendi bulufas dessa jogada de fazerem o papai aqui apresentar o seu
Antenor Nascentes, um cara tão crânio, cheio de mumunhas, que é manjado até na
Europa. Estou meio cabrero até achando que foi crocodilagem do diretor do curso, o
professor Odorico Mendes, para eu entrar pelo cano.
O seu Antenor Nascentes é um chapa legal, é bárbaro e, em Filologia, bota
banca. Escreveu um dicionário etimológico que é uma lenha. Dois volumes que vou te
contar. Um deles é desta idade... mais grosso que trocador de ônibus. O homem é o
Pelé da Gramática, está mais por dentro que bicho de goiaba. Manda brasa, professor
Nascentes!”
(Correio do Povo, 20/04/1966.)
h) Me faz um favor: vai ao banco pra mim.
i) (Trecho de uma lista de compras)
assucar, basora (= vassoura), qejo (= queijo), maizena
j) “Deu-lhe com a boleadeira nos cascos, e o índio correu mais que cusco em
procissão.”

(Fonte: MARTINS, D.S. e ZILBERKNOP, L.S. Português instrumental. Porto Alegre: Sagra-
Dc Luzzatto, 1998.)

4-UFES 1996
A história do gerente apressado

Certa vez, um apressado gerente de uma grande empresa precisava de ir ao Rio de


Janeiro para tratar de alguns assuntos urgentes. Como tivesse muito medo de viajar,
deixou o seguinte bilhete para sua recém-contratada secretária:

“Maria: devo ir ao Rio amanhã sem falta. Quero que você me 'rezerve', um lugar, 'à
noite', no trem das 8 para o Rio.”

Sabe o leitor o que aconteceu? O gerente, simplesmente, perdeu o trem! Por quê?"

(BLIKSTEIN, Izidoro. Técnicas de comunicação escrita São Paulo: Ática, 1990,


p.5)

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O gerente perdeu o trem, porque a secretária não decodificou a problemática
mensagem. Qual bilhete é mais adequado para que a comunicação se dê, de fato:

a) Maria: devo ir ao Rio amanhã sem falta. Quero que você reserve um lugar, à noite,
no trem das 8 para o Rio.
b) Maria: devo ir ao Rio amanhã. Quero que você me compre um lugar, à noite, no trem
das 8 para o Rio.
c) Maria: Compre, para mim, uma passagem, em cabina com leito, no trem das 20h de
amanhã (4a feira), para o Rio de Janeiro.
d) Maria: vou ao Rio amanhã impreterivelmente. Quero que você me compre, à noite
uma passagem para o Rio no trem das 8.
e) Maria: devo ir no Rio amanhã. Quero que, à noite você me reserve, sem falta, um,
lugar, no trem das oito.

5- UFMT 1996
Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu.
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo, então, que cresceu.

(Roda Viva - Chico Buarque)


Na(s) questão(ões) a seguir julgue os itens e escreva nos parênteses (V) se for
verdadeiro ou (F) se for falso.
( ) A expressão "a gente" é uma forma característica da linguagem coloquial para
substituir o pronome "nós".
( ) O uso do verbo "ter" em lugar de "haver" e a supressão da preposição "em" junto
ao relativo são marcas da oralidade no texto.
( ) A modalidade oral e o registro coloquial envolvem o ouvinte-leitor numa relação
de familiaridade.

UNIDADE 3

VARIAÇÃO LINGÜÍSTICA - FALA E ESCRITA

VARIAÇÃO LINGÜÍSTICA E NORMA

Como falantes da Língua Portuguesa, percebemos que existem situações em


que a língua apresenta-se sob uma forma bastante diferente daquela que nos
habituamos a ouvir em casa ou nos meios de comunicação. Essa diferença pode

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manifestar-se tanto pelo vocabulário utilizado, como pela pronúncia ou organização da
frase.

Nas relações sociais, observamos que nem todos falam da mesma forma. Isso
ocorre porque as línguas naturais são sistemas dinâmicos e extremamente sensíveis a
fatores como, por exemplo, a região geográfica, o sexo, a idade, a classe social dos
falantes e o grau de formalidade do contexto. Essas diferenças constituem as variações
lingüísticas.

Entre as variedades da língua, há uma que tem maior prestígio: a variedade


padrão conhecida também como língua padrão e norma culta. Essa variedade é
utilizada nos livros, jornais, textos científicos e didáticos e é ensinada na escola. As
outras variedades lingüísticas são chamadas de variedades não padrão.

Observe no quadro abaixo as especificidades de cada variação:

No exercício de algumas atividades profissionais, o domínio de certas formas


de línguas técnicas é essencial. As variações profissionais são abundantes em
Profission
termos específicos e têm seu uso restrito ao intercâmbio técnico.
al

As diferentes situações comunicativas exigem de um mesmo indivíduo


diferentes modalidades da língua. Empregam-se, em situações formais,
Situaciona
modalidades diferentes das usadas em situações informais, com o objetivo de
l
adequar o nível vocabular e sintático ao ambiente lingüístico em que se está.

Há variações entre as formas que a língua portuguesa assume nas diferentes


regiões em que é falada. Basta prestar atenção na expressão de um gaúcho
Geográfic
em contraste com a de um amazonense. Essas variações regionais constituem
a
os falares e os dialetos. Não há motivo lingüístico algum para que se considere
qualquer uma dessas formas superior ou inferior às outras.

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O português empregado pelas pessoas que têm acesso à escola e
aos meios de instrução difere do português empregado pelas pessoas
privadas de escolaridade. Algumas classes sociais, assim, dominam
uma forma de língua que goza prestígio, enquanto outras são vitimas
de preconceito por empregarem estilos menos prestigiados. Cria-se,
dessa maneira, uma modalidade de língua - a norma culta -, que deve
ser adquirida durante a vida escolar e cujo domínio é solicitado como
modo de ascensão profissional e social.
Social

Também são socialmente condicionadas certas formas de língua


que alguns grupos desenvolvem a fim de evitar a compreensão por
aqueles que não fazem parte do grupo. O emprego dessas formas de
língua proporciona o reconhecimento fácil dos integrantes de uma
comunidade restrita. Assim se formam, por exemplo, as gírias, as
línguas técnicas. Pode-se citar ainda a variante de acordo com a faixa
etária e o sexo.

Do ponto de vista estritamente lingüístico, não há nada nas variedades


lingüísticas que permita considerá-las boas ou ruins, melhores ou piores, feias ou
bonitas, primitivas ou elaboradas.

Dino Preti, autor e professor da PUC-SP, em reportagem na Folha de S.Paulo,


afirma não haver mais linguagens puras ou padrões melhores ou piores. “O que
existem são variações. A linguagem culta é ideal em certas condições e, em outras,
não. Até palavrão é ideal algumas vezes.” O falante culto, afirma, não é o que conhece
a gramática, mas o que sabe se adaptar às variações de linguagem, de acordo com
cada situação. “Uma coisa é o especialista usar ‘deletar’ entre colegas, outra é
ostentar o fato de ser um técnico em computação.” (Folha de S.Paulo, 24 jun. de 2003.)

Seja na fala seja na escrita, a linguagem de uma pessoa pode variar, ou seja,
passar de culta ou padrão à coloquial ou até mesmo à vulgar. O gramático Evanildo

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Bechara ensina que é preciso ser “poliglota de nossa língua”. Poliglota é a pessoa que
fala várias línguas. No caso, ser poliglota do português significa ter domínio do maior
número possível de variedades lingüísticas e saber utilizá-las nas mais diferentes
situações.

A linguagem culta é aquela utilizada pelas pessoas de instrução, niveladas pela


escola. Ela é mais restrita, pois constitui privilégio e conquista cultural de um número
reduzido de falantes.

Já a linguagem coloquial pode ser considerada um tipo de linguagem


espontânea, ou seja, utilizada para satisfazer as necessidades vitais do falante sem
muita preocupação com as formas lingüísticas. É a língua cotidiana, que comete
pequenos – mas perdoáveis – deslizes gramaticais.

A linguagem vulgar, porém, é própria das pessoas sem instrução. É natural,


expressiva, livre de convenções sociais.

Observe:

Sapassado, era sessetembro,

taveu na cuzinha tomando uma

pincumel e cuzinhando um

kidicarne cumastumate pra fazer

uma macarronada cum

galinhassada. Quascaí de susto

quanduvi um barui vinde

denduforno parecenum tidiguerra.

A receita mandopô midipipoca

denda galinha prassá.

O forno isquentô,o mistorô, e o

fiofó da galinhispludiu!

Nossinhora! Fiquei branco quinein

um lidileite. Foi um trem doidimais!

Quascaí dendapia! Fiquei

sensabê doncovim, noncotô,

proncovô. Ópceve quilocura!

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Grazadeus ninguém semaxucô!

NATUREZA E CULTURA (Fonte: ARANHA, M.L. & MARTINS, M.H. A cultura. In: Filosofando: introdução à filosofia. SP: Moderna,
1993, p.2-8)

1.Identifique a região em que cada um dos assaltos teria ocorrido:

1. Ei, bichim . Isso é um assalto . Arriba os braços e num se bula ....e num faça
munganga. Arrebola o dinheiro no mato e não faça pantim se não enfio a peixeira no
teu bucho e boto teu fato pra fora:. Perdão meu Padim Ciço, mas é que eu tô com uma
fome da moléstia._______________________

2. Ô sô, prestenção: isso é um assarto, uai: Levanta os braço e fica quetin quesse trem
na minha mão tá cheio de bala . Mió passá logo os trocados que eu num tô bão hoje.
Vai andando, uai! Ta esperando o que , uai! ._______________________

3. O gurí, ficas atento:. Báh, isso é um assalto:. Levantas os braços e te aquieta, tchê !
Não tentes nada e cuidado que esse facão corta uma barbaridade, tchê. Passa as pilas
prá cá ! E te manda a la cria, senão o quarenta e quatro fala. ._______________________

4. Seguiiiinnte, bicho: Tu te. Isso é um assalto...Passa a grana e levanta os braços


rapá:. Não fica de bobeira que eu atiro bem .... Vai andando e se olhar pra traz vira
presunto. ._______________________

5. Ô meu rei . (longa pausa ) Isso é um assalto . (longa pausa ) Levanta os braços, mas
não se avexe não .(longa pausa ) Se num quiser nem precisa levantar, pra num ficar
cansado:. Vai passando a grana, bem devagarinho (longa pausa ) Num repara se o
berro está sem bala, mas é pra não ficar muito pesado:. Não esquenta, meu
irmãozinho ( longa pausa ) Vou deixar teus documentos na encruzilhada.
._______________________

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6. Ôrra, meu:. Isso é um assalto, meu . Alevanta os braços, meu:. Passa a grana logo,
meu! Mais rápido, meu, que eu ainda preciso pegar a bilheteria aberta pa comprar o
ingresso do jogo do Curintia, meu: Pô, se manda, meu. ._______________________

7. Querido povo brasileiro, estou aqui no horário nobre da TV para dizer que no final do
mês, aumentaremos as seguintes tarifas: Energia, Água, Esgoto, Gás, Passagem de
ônibus, IPTU, IPVA, Licenciamento de veículos, Seguro Obrigatório, Gasolina, Álcool,
Imposto de Renda, IPI, CMS, PIS, COFINS, mas não se preocupe, somos PENTA.
._______________________

OBSERVE:

UNIDADE 4

NÍVEIS DE LINGUAGEM

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A língua é um código de que se serve o homem para elaborar mensagens, para se
comunicar.

Existem basicamente duas modalidades de língua, ou seja, duas línguas funcionais:

1) Língua funcional de modalidade culta ou língua padrão , que


compreende a língua literária, tem por base a norma culta, forma lingüística utilizada
pelo segmento mais culto e influente de uma sociedade. Constitui, em suma, a língua
utilizada pelos veículos de comunicação de massa (emissoras de rádio e televisão,
jornais, revistas, painéis, anúncios, etc.), cuja função é a de serem aliados da escola,
prestando serviço à sociedade, colaborando na educação, e não justamente o
contrário;

2) Língua funcional de modalidade popular ou língua cotidiana , que


apresenta gradações as mais diversas, tem o seu limite na gíria e no calão. Sendo mais
espontânea e criativa, se afigura mais expressiva e dinâmica. Temos, assim, à guisa de
exemplificação:

Estou preocupado. (norma culta)


Tô preocupado. (língua popular)
Tô grilado. (gíria, limite da língua popular)
Norma culta:

A norma culta, forma lingüística que todo povo civilizado possui, é a que assegura a
unidade da língua nacional. E justamente em nome dessa unidade, tão importante do ponto
de vista político-cultural, que é ensinada nas escolas e difundida nas gramáticas.

Sendo mais espontânea e criativa, a língua popular se afigura mais expressiva e dinâmica.
Temos, assim, à guisa de exemplificação:

Estou preocupado. (norma culta)

Tô preocupado. (língua popular)

Tô grilado. (gíria, limite da língua popular)

Não basta conhecer apenas uma modalidade de língua; urge conhecer a língua popular,
captando-lhe a espontaneidade, expressividade e enorme criatividade, para viver; urge
conhecer a língua culta para conviver.

Podemos, agora, definir gramática: é o estudo das normas da língua culta.

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O conceito de erro em língua:

Em rigor, ninguém comete erro em língua, exceto nos casos de ortografia. O que
normalmente se comete são transgressões da norma culta. De fato, aquele que, num
momento íntimo do discurso, diz: "Ninguém deixou ele falar", não comete propriamente erro;
na verdade, transgride a norma culta.

Um repórter, ao cometer uma transgressão em sua fala, transgride tanto quanto um


indivíduo que comparece a um banquete trajando xortes ou quanto um banhista, numa praia,
vestido de fraque e cartola.

Releva considerar, assim, o momento do discurso, que pode ser íntimo, neutro ou solene.

O momento íntimo é o das liberdades da fala. No recesso do lar, na fala entre amigos,
parentes, namorados, etc., portanto, são consideradas perfeitamente normais construções do
tipo:

Eu não vi ela hoje.

Ninguém deixou ele falar.

Deixe eu ver isso!

Eu te amo, sim, mas não abuse!

Não assisti o filme nem vou assisti-lo.

Sou teu pai, por isso vou perdoá-lo.

Nesse momento, a informalidade prevalece sobre a norma culta, deixando mais livres os
interlocutores.

O momento neutro é o do uso da língua-padrão, que é a língua da Nação. Como forma de


respeito, tomam-se por base aqui as normas estabelecidas na gramática, ou seja, a norma
culta. Assim, aquelas mesmas construções se alteram:

Eu não a vi hoje.

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Ninguém o deixou falar.

Deixe-me ver isso!

Eu te amo, sim, mas não abuses!

Não assisti ao filme nem vou assistir a ele.

Sou seu pai, por isso vou perdoar-lhe.

Considera-se momento neutro o utilizado nos veículos de comunicação de massa (rádio,


televisão, jornal, revista, etc.). Daí o fato de não se admitirem deslizes ou transgressões da
norma culta na pena ou na boca de jornalistas, quando no exercício do trabalho, que deve
refletir serviço à causa do ensino, e não o contrário.

O momento solene, acessível a poucos, é o da arte poética, caracterizado por construções


de rara beleza.

Vale lembrar, finalmente, que a língua é um costume. Como tal, qualquer transgressão, ou
chamado erro, deixa de sê-lo no exato instante em que a maioria absoluta o comete,
passando, assim, a constituir fato lingüístico registro de linguagem definitivamente consagrado
pelo uso, ainda que não tenha amparo gramatical.

Exemplos:

Olha eu aqui! (Substituiu: Olha-me aqui!)

Vamos nos reunir. (Substituiu: Vamo-nos reunir.)

Não vamos nos dispersar. (Substituiu: Não nos vamos dispersar e Não vamos dispersar-
nos.)

Tenho que sair daqui depressinha. (Substituiu: Tenho de sair daqui bem depressa.)

O soldado está a postos. (Substituiu: O soldado está no seu posto.)

Têxtil, que significa rigorosamente que se pode tecer, em virtude do seu significado, não
poderia ser adjetivo associado a indústria, já que não existe indústria que se pode tecer. Hoje,

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porém, temos não só como também o operário têxtil, em vez da indústria de fibra têxtil e do
operário da indústria de fibra têxtil.

As formas impeço, despeço e desimpeço, dos verbos impedir, despedir e desimpedir,


respectivamente, são exemplos também de transgressões ou "erros" que se tornaram fatos
lingüísticos, já que só correm hoje porque a maioria viu tais verbos como derivados de pedir,
que tem, início, na sua conjugação, com peço. Tanto bastou para se arcaizarem as formas
então legítimas impido, despido e desimpido, que hoje nenhuma pessoa bem-escolarizada
tem coragem de usar.

Em vista do exposto, será útil eliminar do vocabulário escolar palavras como corrigir e
correto, quando nos referimos a frases. "Corrija estas frases" é uma expressão que deve dar
lugar a esta, por exemplo: "Converta estas frases da língua popular para a língua culta".

Uma frase correta não é aquela que se contrapõe a uma frase "errada"; é, na verdade,
uma frase elaborada conforme as normas gramaticais; em suma, conforme a norma culta.

Língua escrita e língua falada. Nível de linguagem:

A língua escrita, estática, mais elaborada e menos econômica, não dispõe dos recursos
próprios da língua falada.

A acentuação (relevo de sílaba ou sílabas), a entoação (melodia da frase), as pausas


(intervalos significativos no decorrer do discurso), além da possibilidade de gestos, olhares,
piscadas, etc., fazem da língua falada a modalidade mais expressiva, mais criativa, mais
espontânea e natural, estando, por isso mesmo, mais sujeita a transformações e a evoluções.

Nenhuma, porém, se sobrepõe a outra em importância. Nas escolas principalmente,


costuma se ensinar a língua falada com base na língua escrita, considerada superior.
Decorrem daí as correções, as retificações, as emendas, a que os professores sempre estão
atentos.

Ao professor cabe ensinar as duas modalidades, mostrando as características e as


vantagens de uma e outra, sem deixar transparecer nenhum caráter de superioridade ou
inferioridade, que em verdade inexiste.

22
Isso não implica dizer que se deve admitir tudo na língua falada. A nenhum povo interessa
a multiplicação de línguas. A nenhuma nação convém o surgimento de dialetos, conseqüência
natural do enorme distanciamento entre uma modalidade e outra.

A língua escrita é, foi e sempre será mais bem-elaborada que a língua falada, porque é a
modalidade que mantém a unidade lingüística de um povo, além de ser a que faz o
pensamento atravessar o espaço e o tempo. Nenhuma reflexão, nenhuma análise mais detida
será possível sem a língua escrita, cujas transformações, por isso mesmo, se processam
lentamente e em número consideravelmente menor, quando cotejada com a modalidade
falada.

Importante é fazer o educando perceber que o nível da linguagem, a norma lingüística,


deve variar de acordo com a situação em que se desenvolve o discurso.

O ambiente sociocultural determina. O nível da linguagem a ser empregado. O vocabulário,


a sintaxe, a pronúncia e até a entoação variam segundo esse nível. Um padre não fala com
uma criança como se estivesse dizendo missa, assim como uma criança não fala como um
adulto. Um engenheiro não usará um mesmo discurso, ou um mesmo nível de fala, para
colegas e para pedreiros, assim como nenhum professor utiliza o mesmo nível de fala no
recesso do lar e na sala de aula.

Existem, portanto, vários níveis de linguagem e, entre esses níveis, se destacam em


importância o culto e o cotidiano, a que já fizemos referência.

A gíria:

Ao contrário do que muitos pensam, a gíria não constitui um flagelo da linguagem. Quem,
um dia, já não usou bacana, dica, cara, chato, cuca, esculacho, estrilar?

O mal maior da gíria reside na sua adoção como forma permanente de comunicação,
desencadeando um processo não só de esquecimento, como de desprezo do vocabulário
oficial. Usada no momento certo, porém, a gíria é um elemento de linguagem que denota
expressividade e revela grande criatividade, desde que, naturalmente, adequada à
mensagem, ao meio e ao receptor. Note, porém, que estamos falando em gíria, e não em
calão.

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Ainda que criativa e expressiva, a gíria só é admitida na língua falada. A língua escrita não
a tolera, a não ser na reprodução da fala de determinado meio ou época, com a visível
intenção de documentar o fato, ou em casos especiais de comunicação entre amigos,
familiares, namorados, etc., caracterizada pela linguagem informal.

EXERCÍCIOS

1) Coloque um “X” quanto à linguagem utilizada para cada função:


Função Linguagem
Culta Popular
 Aula universitária, conferências, sermões
 Conversa entre amigos ou em família
 Discursos políticos
 Programas culturais e noticiários de TV ou rádio
 Novelas de rádio e televisão
 Comunidades científicas
 Conversas e entrevistas com intelectuais a propósito de temas
científicos
ou artísticos
 Irradiação de esportes
 Expressão de estados emocionais, confissões, anedotas, narrativas

2) Complete as lacunas de acordo com a linguagem solicitada abaixo:


Culta Popular
tênue fraco
ausentar-se _________________
presenciar _________________
repleto _________________
divergir _________________
tendência, pendor _________________
bofetada _________________
acompanhado _________________
odor _________________
_________________ sombra
_________________ conversa
_________________ “gandaia”
_________________ fazer

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_________________ pilantra

3) Reescreva, usando o nível culto, as expressões do nível informal destacadas nas


frases:
1. Você não aproveita as oportunidades. Ainda vai ficar a ver
navios.______________________________________________________________________

2. Pode tirar o cavalo da chuva, que não irá a festa.


._________________________________________________________________________

3. Que pressa! Parece que vai tirar o pai da forca.-


._________________________________________________________________________

4)São verdadeiras ou falsas as seguintes afirmações:


_____ O nível de língua que usamos é independente da situação em que nos
encontramos.
_____ A simplicidade de construção e de vocabulário é característica do nível de língua
familiar.
_____ Na linguagem cuidada é frequente o uso do calão.
_____ Normalmente, os adultos usam o nível de língua corrente.
_____ Qualquer pessoa sabe usar o nível de língua cuidado.
_____ Qualquer pessoa sabe usar o nível de língua popular.

UNIDADE 5

O USO DA VÍRGULA

OBSERVE:
"Deixo meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do alfaiate nada
aos pobres".

Morreu antes de fazer a pontuação. Para quem ele deixava a fortuna?

Eram quatro concorrentes. O sobrinho fez a seguinte pontuação:

"Deixo meus bens à minha irmã? Não, a meu sobrinho.

Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres"

A irmã chegou em seguida e pontuou assim, o escrito:

"Deixo meus bens à minha irmã, não a meu sobrinho.

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Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres."

O alfaiate pediu cópia do original e puxou a brasa pra sardinha dele:

"Deixo meus bens à minha irmã? Não! Ao meu sobrinho jamais! Será paga a conta do alfaiate.

Nada aos pobres."

Aí, chegaram os descamisados da cidade. Um deles, sabido, fez esta interpretação:

"Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho jamais! Será paga a conta do alfaiate?
Nada! Aos pobres."

MORAL DA HISTÓRIA

Pior de tudo é saber que ainda tem gente que acha que uma vírgula não faz a menor diferença!

O USO DA VÍRGULA

Regra Geral: a ordem direta de uma oração é sujeito, verbo e


complemento. Qualquer alteração nessa ordem pede o uso da vírgula
para que a leitura não seja prejudicada.
Eliana escreve cartas todo dia. – ordem direta.
Todo dia, Eliana escreve cartas.
Como pôde ser visto, o complemento “todo dia” estava antes do sujeito
“Eliana”, modificando, assim, a ordem direta da oração.

PROIBIÇÃO DO USO DA VÍRGULA


Não se separa por vírgulas o sujeito do verbo e, também, o verbo
de seus complementos:
Eliana, escreve cartas todo dia. (emprego errado)
Eliana escreve, cartas todo dia. (emprego errado)
Eliana, todo dia, escreve carta. (emprego certo, pois houve
alteração na ordem da oração)
Eliana escreve, todo dia, cartas. (emprego correto, pois
houve alteração na ordem direta)

REGRAS ESPECÍFICAS
1) Separar vários sujeitos, vários complementos ou várias orações.
Os professores, alunos e funcionários foram homenageados pelo
diretor.
Gosto muito de redação, literatura, gramática e história.
Fui ao clube, nadei bastante, joguei futebol e almocei.
2) Separar aposto, termo explicativo.
O técnico da seleção brasileira, Zagalo, convocou vinte e dois
jogadores para o amistoso.

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Jorge Amado, grande escritor brasileiro, é autor de inúmeros
romances adaptados para televisão.
O presidente da empresa, Sr. Ferret, deu uma enorme gratificação
a seus funcionários.
3) Separar vocativo.
A inflação, meu amigo, faz parte da cultura nacional.
“Isso mesmo, caro leitor, abane a cabeça” (Machado de Assis)
4) Separar termos que se deseja enfatizar.
Eliana chegou à festa, maravilhosa como uma Deusa, iluminando
todo o caminho por que passava.
5) Separar expressões explicativas e termos intercalados.
A vida é como boxe, ou seja, vivemos sempre batendo em alguém.
O professor, conforme prometera, adiou a prova bimestral.
6) Separar orações coordenadas (mas, porém, contudo, pois, porque,
logo, portanto)
Participamos do congresso, porém não fomos remunerados.
Trabalhe, pois a vida não está fácil.
Antônio não estudou; não conseguiu, portanto, passar o ano letivo.
7) Separar orações adjetivas:
O fumo, que é prejudicial à saúde, terá sua venda proibida para
menores.
8) Separar orações adverbiais, principalmente quando vieram antes da
principal.
Para que os alunos aprendessem mais, o professor trabalhava com
música.
Assim que puder, mandar-te-ei um lindo presente.
9) Orações reduzidas de particípio e gerúndio.
Chegando atrasado, o aluno conturbou a aula.
Terminada a palestra, o médico foi ovacionado pelo público.
10) Para indicar omissão de palavras:
Eu leio romances clássicos; você, policiais. (Foi omitido o verbo
ler.)

O USO DA VÍRGULA COMO O CONECTIVO “E”


a) Separar as orações com sujeitos diferentes.
O policial prendeu o ladrão, e sua esposa ficou muito orgulhosa.
b) Usa-se vírgula antes do e quando precedido de intercalações.
Eliana foi promovida, devido a sua capacidade, e todos do
departamento a cumprimentaram.
c) Usa- se vírgula depois do e quando seguido de intercalações.
Eliana foi promovida e, por ser muito querida, todos do
departamento a cumprimentaram.

O USO DO PONTO-E-VÍRGULA

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Usa-se, basicamente, o ponto-e-vírgula para obter mais clareza em
períodos longos, em que há muitas vírgulas.
Compramos, em 15 de abril, da empresa Lether Informática, 10
mesas para computadores; da Decortex, 15 cortinas bege; em 20 de
abril, da Pen, 5 caixas de canetas azuis e vermelhas.
Fomos, ontem pela manhã, ao clube; faltamos, portanto, à aula.

EXERCÍCIOS
Use vírgulas e/ou ponto-e-vírgula (ou outros sinais de pontuação),
conforme o caso:
a) Eu fui de carro e ela de ônibus.
b) A moça desesperada corria sozinha pelas ruas.
c) Paulo o cozinheiro não veio hoje o que faremos?
d) Paulo o cozinheiro normalmente falta no trabalho.
e) Nós tivemos muitas alegrias eles pobres coitados na vida só
decepções.
f) Maria gosta muito de festas Lúcia sua irmã por sua vez não aprecia
muito.
g) Maria toma banho porque sua mãe pede ela traga o sabonete
h) O fazendeiro tinha o bezerro e a mãe do fazendeiro era também o pai
do bezerro.

PONTUAÇÃO

PONTO-E-VÍRGULA (;)
Este sinal serve de intermediário entre o ponto e a vírgula, aproximando-se ora mais de um ora
mais de outro, segundo os valores pausais e melódicos que representa no texto. Apesar da
imprecisão deste sinal, pode-se estabelecer alguns empregos para ele.

1. Serve para separar orações coordenadas com certa extensão e que possuam a mesma
estrutura sintática, sobretudo, se possuem partes já divididas por vírgulas;

Exemplos:

Das graças que há no mundo, as mais sedutoras são as da beleza; as mais picantes, as do
espírito; as mais comoventes, as do coração.
Nos dias de hoje, é preciso andar com cautela; antigamente, a vida era mais tranqüila.

2. Para separar orações coordenadas assindéticas de sentido contrário;

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Exemplos:

Cláudio é ótimo filho; Júlio, ao contrário, preocupa constantemente seus pais.


Uns se esforçam, lutam, criam; outros vegetam, dormem, desistem.

3. Para separar orações coordenadas adversativas e conclusivas quando se deseja (com o


alongamento da pausa) acentuar o sentido adversativo ou conclusivo dessas orações;

Exemplos:

Pode a virtude ser perseguida; mas nunca desprezada.


Estudei muito; não obtive, porém, resultados satisfatórios.
Ele anda muito ocupado; não tem, por isso, respondido às suas cartas.

Observação:

Em certos casos, a ênfase dada a essas orações pode pedir o emprego do ponto em lugar do
ponto-e-vírgula.

Exemplo:

O exame de física foi bastante difícil. Entretanto, o de português foi bem melhor.

4. Para separar os diversos itens de uma lei, decreto, portaria, regulamento, exposição de
motivos, etc;

Exemplo:

Artigo 187

O processo será iniciado:

I - por auto de infração;


II - por petição do contribuinte interessado;
III - por notificação, ou representação verbal ou escrita.

5. Para separar itens diferentes de uma enumeração;

Exemplo:

O Brasil produz café, milho, arroz; cachaça, cerveja, vinho. (Separando gêneros alimentícios de
bebidas)

6. Para separar os itens de uma explicação.

Exemplo:

A introdução dos computadores pode acarretar duas conseqüências: uma, de natureza


econômica, é a redução de custos; a outra, de implicações sociais, é a demissão de funcionários.

PONTO (.)
O ponto assinala a pausa máxima da voz. Serve para indicar o término de uma oração absoluta
ou de um período composto. Quando os períodos simples e compostos mantêm entre si uma
seqüência do pensamento, serão separados por um ponto chamado de "ponto simples"; e o
período seguinte que expressa uma conseqüência ou uma continuação do período anterior será
escrito na mesma linha. Porém, se houver um corte, uma interrupção na seqüência do

29
pensamento, o período seguinte se iniciará na outra linha, sendo o ponto do período anterior
chamado de "ponto parágrafo".
Finalmente, quando um ponto encerra um enunciado, dá-se o nome de "ponto final".
O ponto serve ainda para abreviar palavras.

Exemplo:

V. S. = Vossa Senhoria; prof. = professor, etc.

DOIS PONTOS (:)


Serve para marcar uma sensível suspensão da voz na melodia de uma frase não concluída.
Emprega-se nos seguintes casos:

1. Antes de uma citação;

Exemplos:

Como ele nada dissesse, o pai perguntou:

- Queres ou não queres ir?


Disse Machado de Assis: "A solidão é oficina de idéias."

2. Antes de uma enumeração;

Exemplo:

Tínhamos dezenas de amigos: Pedro, João, Carlos, Luís, mas nenhum deles entendeu nosso
problema.

3. Antes de uma explicação, uma síntese ou uma conseqüência do que foi enunciado, ou ainda
antes de uma complementação.

Exemplos:

A razão é clara: achava sua conversa menos interessante que a dos outros rapazes.
E a felicidade traduz-se por isto: criarem-se bons hábitos durante toda a vida.
No quartel, quem manda é o sargento: só nos cabe ouvir e obedecer.
Aquela mãe preocupava-se com uma coisa só: o futuro dos filhos.
"Não sou alegre nem sou triste: sou poeta." (C. Meireles)

Observação: Nos vocativos de cartas, ofícios, etc, usa-se vírgula, ponto, dois pontos ou nenhuma
pontuação.

Exemplos:

Prezado Senhor,
Prezado Senhor.
Prezado Senhor:
Prezado Senhor

PONTO DE INTERROGAÇÃO (?)


É um sinal que indica uma pausa com entoação ascendente. Emprega-se nos seguintes casos:

1. Nas interrogações diretas;

Exemplos:

30
Quem vai ao teatro hoje?
Que é Deus?

2. Pode-se combinar o ponto de interrogação com o ponto de exclamação quando a pergunta


também expressar uma surpresa;

Exemplo:

- Ana desmanchou o noivado de cinco anos.


- Por quê?!

3. Quando houver muita dúvida na pergunta, costuma-se colocar reticências após o ponto de
interrogação.

Exemplos:

- Então?... Qual o caminho que devemos seguir?...


- E você também não sabe?...

PONTO DE EXCLAMAÇÃO (!)


Neste sinal, a pausa e a entoação não são uniformes, já que somente no contexto em que está
inserida a frase exclamativa poderemos interpretar a intenção do escritor, pois são várias as
possibilidades da inflexão exclamativa como, por exemplo, as frases que exprimem espanto,
surpresa, alegria, entusiasmo, cólera, dor, súplica, etc.

Normalmente se emprega nos seguintes casos:

1. Depois de interjeições ou de termos equivalentes como os vocativos intensos, as apóstrofes;

Exemplos:

- Ai! Ui! - gritava o menino.


- Credo em cruz! - gemeu Raimundo.
- Adeus, Senhor!
"Ó Pátria amada, idolatrada,
Salve! Salve!"

2. Depois de um imperativo;

Exemplos:

- Não vai! Volta, meu filho!


- Direita, volver!
- Não matarás!

Observação: Para acentuar a inflexão da voz e a duração das pausas pedidas por certas formas
exclamativas, pode-se empregar os seguintes recursos:

A) Combinar-se o ponto de exclamação ao de interrogação quando a entoação numa frase


interrogativa for sensivelmente mais exclamativa.

Exemplo:

Para que você veio me contar essas histórias a esta hora da noite!?

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B) Emprega-se a combinação acima mais reticências para dar à frase mais um matiz: o da
incerteza.

Exemplo:

- Coitado! Envolvido com drogas, quem poderá dizer como acabará!?...

C) Repete-se o ponto de exclamação para marcar um reforço especial na duração, na


intensidade ou na altura da voz.

Exemplo:

- Canalhas!!! Não escaparão à Justiça Divina!!!

Observação: Deve-se evitar usar este recurso quando se enviar um texto para uma pessoa cega
que utilize computador com ledores de tela (como o Virtual Vision e o Sistema DOSVOX), que
interpretam estes pontos repetidos apenas como sinais de pontuação, não dando à palavra ou à
frase antecedidas por eles nenhuma entoação especial. Torna-se, neste sentido, obviamente
desnecessária e mesmo inútil o emprego repetitivo dos pontos de interrogação e exclamação,
posto que isto causará somente um extremo incômodo aos ouvidos dos leitores/ouvintes cegos.

RETICÊNCIAS (...)
Serve para marcar a suspensão da melodia na frase. Emprega-se em casos muito variados como:

1. Para interromper uma idéia, um pensamento, a fim de se fazer ou não, logo após, uma
consideração;

Exemplo:

- Quanto ao seu pai... às vezes penso... Mas asseguro-lhe que é verdade quase tudo que se
contam por aí sobre homens que enriqueceram facilmente.

2. Para marcar suspensões provocadas por hesitação, surpresa, dúvida ou timidez de quem fala.
E ainda, certas inflexões de alegria, tristeza, cólera, ironia, etc.

Exemplos:

- Rapaz, veja lá... pensa bem no que vai fazer... - alertou o amigo.
- Você... aí sozinha... não tem medo de ficar na rua a esta hora?
- Eu... eu... queria... um agasalho - respondeu soluçando o mendigo.
- Há quanto tempo não o via... lágrimas vieram-lhe aos olhos... foi um encontro inesquecível.

3. Para indicar que a idéia contida na frase deve ser completada pela imaginação do leitor;

Exemplos:

"Duas horas te esperei.


Duas mais te esperaria.
Se gostas de mim, não sei...
Algum dia há de ser dia."
(F. Pessoa)

4. Para indicar uma interrupção brusca da frase;

Exemplos:

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(Um personagem corta a fala de outro)
- A senhora ia dizer que...
- Nada... Esquece tudo isto.

Observações:

A) Se a fala do personagem continua depois da interrupção, costuma-se colocar reticências no


início da frase.

Exemplo:

- Eu pedi que fizesse a lição...


- Que lição? Não há lição alguma.
- ...a lição sobre a vida de Ghandi.

B) As reticências podem formar uma linha inteira de pontos para indicar a supressão de palavras
ou de linhas omitidas na cópia ou tradução de uma obra. Podem ainda vir entre parênteses no
início e no fim de um trecho selecionado.

PARÊNTESES ()
São empregados para intercalar, num texto, qualquer indicação ou informação acessória de
caráter secundário.

Exemplos em que se empregam os parênteses:

1. Numa explicação;
Beto (tinha esse apelido desde criança) não gostava de viajar.

2. Numa reflexão, num comentário à margem do que se afirma;


Jorge mais uma vez (tinha consciência disso) decidiu seu destino ao optar pela mudança de país.

3. Numa manifestação emocional expressa geralmente em forma exclamativa ou interrogativa;


"Havia escola, que era azul, e tinha um mestre mau, de assustador pigarro... (Meu Deus! Que
isto? Que emoção a minha quando estas coisas tão singelas narro?)"

4. Nas referências a datas, indicações bibliográficas, etc;


Kardec revela-nos em "O Livro dos Espíritos" (1857) os mistérios do Mundo Invisível.

5. Numa citação na língua de origem;


Como disse alguém: "A natureza não dá saltos" (natura non saltit).

Observações:

A) Os parênteses podem ser usados também para isolar orações


intercaladas, sendo mais freqüentes, no entanto, para este
fim, as vírgulas e os travessões.

Exemplo:

Mais uma vez (contaram-me) a polícia tinha conseguido deitar a mão naquele perigoso bandido.

B) Os parênteses muito longos devem ser evitados, pois prejudicam a clareza do período. Na
leitura, a frase que vem entre parênteses deve ser pronunciada em tom mais baixo. Na escrita, a
frase inicia-se por maiúscula somente quando constituir oração à parte, completa, contendo uma
consideração ou pensamento independente. Neste caso, é comum se colocar os parênteses
depois do ponto final.

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Exemplo:

"Existem jovens, por exemplo, que só conseguem crescer se tiverem uma sogra tirana. (É
bastante comum Afrodite "surgir" em sogras. A madrasta má é outro exemplo.)"

C) O asterisco entre parênteses chama a atenção do leitor para alguma observação ou nota final
da página ou do texto.

ASPAS (")
São empregadas nos seguintes casos:

1. No início e no fim de uma citação ou transcrição literária;

Exemplo:

Fernando Pessoa nos revela em um de seus poemas que Júlio César definiu bem toda a figura da
ambição quando disse: "Antes o primeiro na aldeia do que o segundo em Roma".

2. Para fazer sobressair palavra ou expressões que, geralmente, não são comuns à linguagem
normal (estrangeirismos, arcaísmos, neologismos, gírias, etc.);

Exemplos:

O Sistema DOSVOX é um "software" especial para cegos.


Os escravos chamavam meu bisavô de "sinhô" ou "nhonhô".
O diretor daquela escola pública, para todos os alunos, era considerado
"sangue bom".

3. Para realçar o significado de qualquer palavra ou expressão, ou para marcar um sentido que
não seja o usual;

Exemplos:

O vocábulo "que" pode ser analisado de várias maneiras.


Ela deu um "espetáculo" no saguão do prédio. (A palavra ESPETÁCULO
aqui tem o sentido de ESCÂNDALO.)

Observação:

As aspas também podem ser empregadas no lugar dos travessões em diálogos quando da
mudança de interlocutor.

Exemplos:
"Vamos mudar de assunto", disse eu.
"OK, vamos então falar de amor?" replicou Clara.
"Boa idéia!" concordei, sorrindo-lhe.

4. Para fazer sobressair o título de uma obra literária, musical, etc.

Exemplos:

Adorei ler "Nosso Lar", de André Luiz.


Você gostou do disco "Sozinho", do Caetano Veloso?

Observação: Quando as aspas abrangem parte do período, o sinal de pontuação é colocado


depois delas:

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Na política, ainda são bastante numerosos os "partidários do Brizolismo".

Quando, porém, as aspas abrangem todo o período, o sinal de pontuação é colocado antes delas:

"Nem tudo que reluz é ouro."

Quando já existe aspas numa citação ou numa transcrição, devemos usar a "aspa simples" ('), ou
negrito, ou ainda letras de outro tipo para destacar o termo ou expressão desejados:

Aquele crítico de arte declarou assim: "Todos admiravam o 'feeling' daquele artista".

TRAVESSÃO (-)
Emprega-se nos seguintes casos:

1. Para indicar, nos diálogos, a mudança de interlocutor;

Exemplo:

- Você tem religião?


- Sim, a do Amor.

2. Para isolar, num contexto, palavras ou orações intercaladas;

Exemplo:

O presidente declarou - e nem sabemos quanto lhe custou essa decisão - que estava
renunciando.

3. Para dar mais realce a uma expressão ou oração, pode-se empregar o travessão em lugar dos
dois pontos;

Exemplo:

Era mesmo o meu quarto - a roupa da escola no prego atrás da porta, o quadro da santa na
parede...

4. Para substituir um termo já mencionado (uso comum nos dicionários).

Exemplo:

pé, s. m.: parte inferior do corpo humano; - de-moleque: doce feito de amendoim.

ASTERISCO (*)

Serve para chamar a atenção do leitor para alguma nota ao final da página ou do capítulo.

UNIDADE 6

35
ACENTUAÇÃO GRÁFICA

As palavras são classificadas com base em sua tonicidade em:


Oxítonas: quando a última sílaba é mais forte: café, Pari, paletó.
Paroxítonas: quando a penúltima é a mais forte: caráter, cavalo, férias.
Proparoxítonas: quando a antepenúltima é a mais forte: público, sábado, mágico.

ACENTUAM-SE:
1) monossílabos: são acentuadas as palavras terminadas em: a, e, o, em, seguidas ou
não de s: pá, três, vê-lo, pô-lo.
2) proparoxítonas: todas são acentuadas: clássico, pássaro, rótulo.
3) oxítonas: são acentuadas as terminadas em: a, e, i, o, em, seguidas ou não de s:
guaraná, atrás, lavá-lo, jacaré, repôs, dispô-lo, também, parabéns.
4) Paroxítonas: são acentuadas as terminadas em: l, n, r, x, ps, ão, ã, i(s), u(s),
um(ns), on(s), e ditongos: fácil, amável, pólen, hífen, revólver, repórter, tórax,
bíceps, órgãos, ímã, júri, íris, vírus, álbum, álbuns, próton, elétrons, história, série,
úteis.
5) Ditongos abertos: VER NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO – UNIDADE 8
6) Hiatos: acentuados os I e U que formam os hiatos, quando constituem sílabas
sozinhas ou seguidas de S, e não seguidos de 1, m, n, r, u, z, nh: saúde, balaústre,
raízes, faísca. Não são acentuados, portanto: juiz, rainha, Raul, cairmos. VER
NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO – UNIDADE 8
7) Algumas palavras que geram dúvidas quanto à acentuação: dúplex, látex, lêvedo,
logótipo, rubrica, avaro, pudica, distinguiu, aziago, Pacaembu, tatu, mister, ínterim,
bisturi, moinho.

EXERCÍCIOS

Acentue se necessário:
aparencia facil bone ureter voo insonia genuino bebado rubrica gratuito
prototipo bauxita duplex omega ibero lampada materia piloto palito paleto
Jacarei tatu vandalo juiz juizes Luis Luiz apoio (subs.) chapeu improprio
miudo refem ele contribui estagio sovietico plagio moida eu contribui hifen
itens saci anzol apoio (verbo) abençoo bilingue ele mantem intuito ziper
colher ele obtem tres

A CRASE

Usa-se o acento indicativo de crase quando houver a contração da preposição a e do


artigo feminino a ou com os pronomes demonstrativos aquela e suas variações.
Eu vou a + a feira = Eu vou à feira.

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Note como houve o encontro da preposição a e do artigo a. Caso trocássemos feira por
mercado, veríamos que ocorreria o encontro da preposição a com o artigo o.
Eu vou a + o mercado = Eu vou ao mercado.

REGRA PRÁTICA

a) Trocar a palavra feminina por uma masculina semelhante. Se ocorrer


com a palavra masculina o encontro ao, com a feminina ocorrerá a fusão
à.
O professor se referiu ao aluno = O professor se referiu à aluna.
b) Trocar a preposição a pela preposição para.
A secretária foi para a reunião = A secretária foi à reunião.

REGRAS ESPECÍFICAS

Nem sempre será possível, aplicar as regras práticas. Haverá casos que solicitarão o
uso de algumas regras específicas.
1) Horas: ocorrerá a crase. Irei ao clube hoje às 14 horas. A reunião será das 15 às 20
horas.

Observação: A palavra desde elimina a ocorrência da crase:


Estou esperando você desde as 2 horas.
Veja que se usarmos meio-dia, não haverá o encontro a + o:
Estou esperando você desde o meio-dia.
2) Dias da semana: ocorrerá crase somente no plural.

Das segundas às sextas-feiras, haverá reuniões.

Observação:
a) No singular não ocorrerá a crase:
Haverá reunião de segunda a sexta- feira.
b) Não ocorrerá crase antes dos meses do ano:
De janeiro a março, teremos dias quentes.
3) Nome de lugares: A ocorrência da crase será constatada com o auxílio do verbo vir
ou voltar.
Irei à Argentina = Venho da Argentina.
Vou à Roma Antiga = Voltei da Roma Antiga.
Irei a Marília = Venho de Marília.
Vou a Roma = Voltei de Roma.
Ao usar o verbo vir ou voltar, deve-se observar a incidência do artigo na preposição de:
da = à
de = a

4) À moda ou à maneira: ocorrerá crase com estas expressões mesmo que


subentendidas:
Comi um bife à moda milanesa ou Comi um bife à milanesa.
Escrevo à maneira de Nelson Rodrigues, ou Escrevo à Nelson Rodrigues.

37
Observação: Esta regra ocorrerá com qualquer palavra subentendida:
Fui à Marechal Deodoro. = Fui à rua Marechal Deodoro.
Esta caneta é igual à que comprei. = Esta caneta é igual à caneta
que comprei.

5) Distância: ocorrerá crase quando é determinada a distância:


Vi sua chegada a distância.
Vi sua chegada à distância de dez metros.
6) Casa: ocorrerá crase quando não existir o sentido de lar ou quando estiver
modificada.
Volte a casa. (sentido de lar)
Vou à casa de meus irmãos. (modificada = de meus irmãos)
7) Terra: ocorrerá crase quando não estiver no sentido de solo:
Cheguei a terra. (solo)
O lavrador trabalha a terra. (solo)
Cheguei à terra natal.
Os astronautas regressaram à Terra tranqüilos.
8) Pronomes: ocorrerá crase somente nestes casos:
a) pronomes relativos a qual e as quais:
Esta é a garota à qual me referi.
b) pronomes demonstrativos aquela, aquela, aquilo:
Referi-me àquele livro.
Note que se usássemos outro pronome apareceria a preposição a:
Referi-me a este livro = Referi- me a + aquele livro.

Observação: Com os pronomes demonstrativos a e as, só ocorrerá crase com verbos que
exigirem a preposição a:
Assisti a todas aulas do dia, menos às de física.
Note que o verbo assistir neste caso pede a preposição a:
Assisti a todas e assisti a + as de física.

c) Pronomes possessivos femininos (minha, tua, sua, nossa...): a ocorrência de crase é


facultativa:
Assisti a tua peça musical, ou Assisti à tua peça musical.
9) Locuções Adverbiais, Prepositivas e Conjuntivas Femininas. Normalmente
respondem às perguntas onde? como? por quê?
Veja: Comerei à luz de vela. – Comerei como? à luz de vela. Caso não usasse o acento
indicativo de crase a frase teria outro sentido. Comerei a luz de vela – Significa que a
luz de vela será comida, o que é incoerente.
Outro exemplo: Adiou à noite. – Adiou quando? à noite.
Adiou a noite. – Significa que a noite foi adiada.
Observe algumas locuções: à risca, às cegas, à direita, à força, à revelia, à escuta, à
procura de, à espera de, às claras, às vezes, às pressas, à paisana, à tarde, à noite, à
toa, à medida que, à proporção que, etc.

EXERCÍCIOS
1) Use o acento indicativo de crase quando necessário:

a) A cigarra vive a cantar junto a janela onde a pobre menina doente descansa.
b) A distância, observava as moças cantarem suaves canções.
c) Irei a Campinas amanhã e a saudosa Araraquara na semana que vem.

38
d) Fomos a Itália e não fomos a Roma.
e) Esta é a rua a que me referia ontem.
f) As cegas, o policial estava a procura do ladrão na mata escura.
g) A discussão é pertinente a gerência financeira.
h) Víamos a distância de dez metros os marinheiros descerem a terra (contrário de
bordo)
i) Aquela é a mulher a qual dediquei metade de minha vida em vão.

UNIDADE 7

DIFICULDADES COM A LINGUAGEM ESCRITA

POR QUE, POR QUÊ, PORQUE OU PORQUÊ?

POR QUE – Utilizado no início de frases interrogativas. Com sentido de razão / motivo
pelo(a) qual.

Por que você não foi à festa?

Gostaria de saber por que você não foi à festa.

POR QUÊ – Utilizado no final de frases interrogativas ou quando estiver isolado.

Você não foi à festa, por quê?

39
PORQUE – Utilizado em respostas, na introdução de causa ou explicação.

Não fui à festa porque estava doente.

PORQUÊ – Com valor substantivo, precedido de determinante. Pode ser substituído por
motivo.

Quero saber o porquê de tanta gritaria.

POR QUE / POR QUÊ / PORQUE / PORQUÊ

TIPO EMPREGO EXEMPLOS


Por que a. Orações interrogativas diretas. Por que você viajou?
b. Orações interrogativas indiretas Não sei por que você viajou.
c. Pronomes relativos O caminho por que passei era
ruim. (= pelo qual).

Por quê Grafa-se separadamente com acento, quando Ela saiu cedo, por quê?
ocorrer no final de frases interrogativas Pedro saiu? Por quê?
diretas e indiretas e quando houver pausa. Vocês não conversaram com o
diretor, por quê?

Usa-se nas respostas explicativas. Pode ser Ele saiu cedo, porque tinha
substituído por “pois”. Grafa-se numa única uma reunião.
Porque palavra, quando for empregada como Ele foi reprovado, porque não
conjunção causal ou explicativa. estudou. (causa da reprovação)
Grafa-se numa única palavra e acentua-se, Não sei o porquê de sua
quando for substantivo. Pode ser substituído rebeldia.
Porquê pelo substantivo motivo.
Seria interessante saber o
porquê de sua tristeza.

A FIM DE ou AFIM?

40
A FIM DE – Com intuito

Nós procuramos a fim de estabelecermos relações comerciais.

AFIM – Com afinidade

São pessoas afins.

ONDE ou AONDE?

ONDE – Usado quando o verbo indica permanência (em que lugar).

Onde está o meu carro?

AONDE – Usado quando o verbo indica movimento (a que lugar).

Aonde você vai agora?

HÁ CERCA DE, ACERCA DE ou CERCA DE?

HÁ CERCA DE – Indica tempo decorrido.

A peça teatral está sendo apresentada há cerca de dois anos.

ACERCA DE – a respeito de.

Falávamos acerca de sua demissão.

41
CERCA DE – Indica arredondamento (perto de, coisa de, por volta de, em torno de,
aproximadamente)

Cerca de 10 mil pessoas compareceram à manifestação.

Obs: Não usar para números exatos. Ex.: “Cerca de 543 pessoas...”

HAJA VISTO ou HAJA VISTA?

A expressão correta é HAJA VISTA, mesmo antes de palavras masculinas.

amos repetir a demonstração. Haja vista o interesse dos participantes.

TAMPOUCO ou TÃO POUCO?

TAMPOUCO – Também não.

Não compareci a festa tampouco ao almoço.

TÃO POUCO – Muito pouco.

Tenho tão pouco tempo disponível para essa tarefa.

A ou HÁ?

A – Preposição, indica tempo futuro, idéia de distância e na expressão a tempo.

Ele chegará daqui a duas semanas.

42
A cidade fica a 20 km daqui.

Não chegaremos a tempo de ver o espetáculo.

HÁ – Indica tempo decorrido, passado.

Há tempo que não trabalho tanto quanto agora.

Saiu há pouco do Rio de Janeiro.

A PAR ou AO PAR?

A PAR – Estar ciente de, sabedor.

Estou a par do ocorrido.

AO PAR – Termo usado em Operadores de Mercado Financeiro (indica paridade ou


igualdade).

O lançamento de ações foi feito ao par (com base no valor nominal).

MENOS ou MENAS?

Forma correta é : “Há menos pessoas aqui do que lá”.

Não esqueça que NÃO existe a forma MENAS.

MÁS, MAS ou MAIS?

43
MÁS – Ruins.

Essas pessoas são muito más.

MAS – Conjunção coordenativa adversativa: entretanto, porém.

A virtude é comunicável. Mas o vício é contagioso.

MAIS – Antônimo de menos.

O jornal de hoje publicou mais fotos da vencedora do festival.

MAL ou MAU?

MAL – Antônimo de bem.

A criança estava passando mal desde ontem.

MAU – Antônimo de bom.

Houve mau uso dos equipamentos eletrônicos.

AO INVÉS DE ou EM VEZ DE?

AO INVÉS DE – Significa ao contrário de.

Maura, ao invés de Alice, resolveu se dedicar à música.

EM VEZ DE – É o mesmo que em lugar de.

Em vez de José, Carlos esteve presente.

44
A NÍVEL DE ou EM NÍVEL DE?

A forma A NÍVEL DE dita com tanta propriedade não existe, portanto deve ser
eliminada ou substituída por EM RELAÇÃO A, NO QUE DIZ RESPEITO A.

A nível de presidente, eu acredito que...(INCORRETO)

No que diz respeito ao presidente, eu acredito que...(CORRETO)

A expressão EM NÍVEL DE pode ser usada quando for possível estabelecer níveis
/patamares em relação ao que se fala.

As decisões tomadas em nível federal (estadual, municipal) poderão ser definitivas.

Obs: Em relação ao mar, aceita-se ao nível do mar ou no nível do mar.

A PRINCÍPIO ou EM PRINCÍPIO?

A PRINCÍPIO – Significa inicialmente, no começo, num primeiro momento.

A princípio havia um homem e uma mulher.

EM PRINCÍPIO – Quer dizer em tese, por princípios, teoricamente.

Em princípio, sou contra a pena de morte.

Ou use simplesmente:

45
Em tese, sou contra a pena de morte.

EM CORES

O pronunciamento do presidente foi filmado em cores ontem.

Conserta-se TV em cores.

NA RUA

Todos moramos em algum lugar e não a algum lugar.

Roberto residia na rua Augusta.

EM DOMICÍLIO ou A DOMICÍLIO?

O correto é entregas em domicílio. É o mesmo que fazer entregas em casa, no


escritório.

Fazemos entregas em domicílio.

Obs.: Só usamos a domicílio com verbos de movimento.

Conduziram o doente a domicílio (melhor: ...ao seu domicílio).

SITO A ou SITO EM?

46
Nosso escritório situa-se na Avenida Brasil.

DIA-A-DIA ou DIA A DIA?

DIA-A-DIA – Cotidiano.

Isso é freqüente no nosso dia-a-dia.

DIA A DIA – Diariamente.

Suas chances de vitória aumentam dia a dia.

SE NÃO ou SENÃO?

SE NÃO – Pode ser substituído por caso não.

Devolva o relatório se não estiver de acordo.

SENÃO – Pode ser substituído por somente, apenas.

Não vejo outra alternativa senão concordar.

SENÃO – Substantivo, significando contratempo.

O show não teve nenhum senão.

PORISSO ou POR ISSO?

NÃO existe a forma PORISSO.

47
A forma correta é POR ISSO.

É por isso que você não vai mais errar.

AO ENCONTRO DE ou DE ENCONTRO A?

AO ENCONTRO DE – Designa uma situação favorável.

Nossas propostas vão ao encontro das atuais tendências do mercado.

DE ENCONTRO A – Dá a idéia de oposição, contrariedade, choque.

Temos pontos de vista diferentes: minhas idéias vão de encontro às suas.

COM CERTEZA OU CONCERTEZA?

Com certeza, é com certeza, separado!

CONTUDO OU COM TUDO?

COM TUDO – Faz referência a algo mencionado anteriormente, invariavelmente


acompanhado do pronome ISSO.

Com tudo isso é possível perceber que estudar é essencial!

CONTUDO – Introduz uma idéia oposta ao que foi mencionado anteriormente, pode ser
substituído por entretanto, porém, todavia, mas.

Contudo não é possível afirmar que todas as pessoas são felizes.

48
DERREPENTE OU DE REPENTE?

Só existe a forma DE REPENTE.

INFELIZMENTE OU INFELISMENTE?

Grafa-se infeliz com Z, portanto o advérbio INFELIZMENTE, derivado de infeliz, deve


também ser grafado com Z.

OQUE OU O QUE?

Trata-se de uma expressão formada por duas palavras, portanto O QUE.

A falta de desenvolvimento sustentável é O QUE acarreta tantos problemas ao


meio ambiente.

QUIS OU QUIZ?

O verbo querer deve ser grafado com S, assim:

Eu não QUIS incomodar você. Ele também não QUIS. Talvez os outros QUISESSEM...

AGENTE OU A GENTE?

AGENTE – é substantivo.

Este é o AGENTE 007.

49
Ele é um AGENTE da Polícia Federal.

A GENTE – forma oral que na linguagem coloquial substitui o pronome NÓS.

- Vocês preferem ir ao cinema ou ao teatro?

- É claro que A GENTE preferi ir ao cinema.

OPNIÃO OU OPINIÃO? / OPITAR OU OPTAR? CORRUPTO OU CORRUPITO?

As formas corretas são OPTAR, OPINIÃO E CORRUPTO.

Palavras homônimas e palavras parônimas – Exercícios

1) . Preencha as lacunas com um dos termos entre parênteses:

1. Em tempos de crise, é necessário.......................a despensa de alimentos. (sortir -


surtir)
2. Os direitos de cidadania do rapaz foram........................pelo governo. (caçados -
cassados)
3. O..........................dos senadores é de oito anos. (mandado- mandato)
4. A Marechal Rondon estava coberta pela...............................(cerração - serração)
5. César não teve..........................de justiça. (censo - senso)
6. Todos os....................................haviam sido ocupados. (acentos - assentos)
7. Devemos uma......................quantia ao banco. (vultosa - vultuosa)
8. A próxima..............................começará atrasada. (seção - sessão)
9. ..................................-.se, mas havia hostilidade entre eles. (cumprimentaram
-comprimentaram)
10. Na........................das avenidas, houve uma colisão. (intersecção - intercessão)
11. O.....................................no final do dia estava insuportável. (tráfego - tráfico)
12. O marido entrou vagarosamente e passou.....................................(despercebido -
desapercebido)
13. Não costume .......................................as leis. (infligir - infringir)

50
14. Após o bombardeio, o navio atingido............................. (emergiu - imergiu)
15. Vários....................................japoneses chegaram a São Paulo nas primeiras décadas
do século. (emigrantes - imigrantes)
16. Não há.......................................de raças naquele país. (discriminação -
descriminação)
17. Após anos de luta, consegui a ........................... (dispensa - despensa)
18. A chegada do....................................... diplomata era........................ (eminente -
iminente).
19. O corpo..................................... era formado por doutores. (docente- discente)
20. Houve alguns.......................................no Congresso. (acidentes - incidentes)
21. Fomos...................................pelos anfitriões. (destratados - distratados)
22. A..................................... dos direitos da emissora foi uma das tarefas do governo.
(seção - cessão)
23. Ali, na...................................... de eletrodomésticos, há uma grande liquidação.
(seção - cessão)
24. É um senhor......................................(distinto - destinto)
25. Dei o .......................................mate ao gerente, por causa do........................ sem
fundos. (cheque - xeque)
26. A nuvem de gafanhotos ..................................a plantação. (infestou - enfestou)
27. Quando Joana toca piano é mais um........................que um............................
(conserto - concerto)
28. Todos eles.............................o prazer da bela melodia. (fruem - fluem)
29. Estava muito.....................para..................quanto custava aquele aparelho. (apreçar -
apressar)
30. Nas festas de São João é comum ......................balões e vê-los.................... .
(ascender - acender)
31. As pessoas foram recolhidas a suas........................ .(celas - selas)
32. Segui a...............................médica, mas não obtive resultados. (proscrição -
prescrição)
33. Alguns modelos.................................serão vendidos. (recreados - recriados)
34. A bandeira de São Paulo tem...................pretas. (listas - listras)
35. Para passar, precisava ..............................mais das lições. (apreender -aprender)
36. O réu..............................suas culpas. (expiará - espiará)
37. Encontrei uma carteira com .........................de cem dólares. (cédulas - sédulas)
38. Iremos à..............para lermos deliciosa....... ................medieval. (xácara - chácara)

51
39. Na hora da................................., os mexicanos dormem. (cesta-sesta)
40. Percebe-se que ele ainda é meio...................., pois não tem prática de comércio.
(incipiente - insipiente)

ERRO NA ACENTUAÇÃO DE ALGUMAS PALAVRAS

Em algumas situações, a acentuação altera não só a classe gramatical, mas


também o sentido da palavra.

influência influencia

pronúncia pronuncia

tecnológico tecnologia

maquinaria maquinária não existe

mês meses

vocês Voces, vocêis, voçês não existem

secretária secretaria

ERRO NA PRONÚNCIA DE ALGUMAS PALAVRAS

PRONÚNCIA CORRETA PRONÚNCIA ERRADA

Aeronáutica Areonáutica

Bandeja Bandeija

Emagrecer Esmagrecer

Progresso Pogresso

Coincidência Conhicidência

52
Advogado Adevogado

Mortadela Mortandela

Bicarbonato Bicarbornato

Problema Poblema, probrema, ploblema

Salsicha Shalchicha

Próprio Póprio

Sobrancelha Sombrancelha

Perturbar Pertubar

Frustrado Frustado

Cabeleireiro Cabelereiro, cabeleileiro

Entretela Entertela

Engajamento Enganjamento

Mendigo Mendingo

Meteorologia Metereologia

Ignorante Inguinorante

Reivindicação Reinvidicação

Privilégio Previlégio

Superstição Supertição

Lagartixa Largatixa

Receoso Receioso

Digladiar Degladiar

Subsídio Subzidio

Rubrica Rubrica

Disenteria Desinteria

Empecilho Impecilho

53
Estupro Estrupo

Beneficente Beneficiente

Irrequieto Irriquieto

Prazerosamente Prazeirosamente

Misto Mixto

Caderneta Cardeneta

Xifópagos Xipófagos

Dignitário Dignatário

Cinqüenta Cincoenta

Asterisco Asterístico

EXERCÍCIOS

1. Preencha os espaços com por que, por quê, porque ou porquê:

a)__________________você pretende sair mais cedo?

b)________________ jamais levanta a voz, todos o admiram.

c) Você se julga uma pessoa melhor do que as outras __________________?

d) _____________leio? Ora. Leio _________________a leitura me faz sonhar.

e) As cidades ____________________ passei são magníficas.

2. Preencha os espaços com mal ou mau:

a) Você fez um _______________ acordo.


b) Era um casa _______________feita.
c) Que_______________ gosto você tem!
d) Isso tudo que você disse faz muito _______________ aos seus amigos.
e) Um edifício _______________ construído é um perigo.
f) Todos falam _________________ de você.

3. Preencha os espaços com eu ou mim:

54
a) Traga os documentos para ________________ assinar.

b) Entre _________________e você não pode haver nenhuma espécie de segredo.

c) Para _______________é difícil dizer não.

d) Venham até ___________________ para que eu possa explicar o que realmente ocorreu.

e) São projetos para ____________________ construir um hotel.

4. Preencha, agora, utilizando más, mas ou mais:

a) Suas intenções não são __________________ .

b) É um bom homem ___________________ ninguém reconhece.

c) Você está ___________________ perto da vitória.

d) Fez o jantar ____________________ não comeu..

e) Chegou tarde, _________________chegou.

f) Apesar de tentarem sempre praticar boas ações, elas são realmente


___________________.

g) Não sei _______________________ nada sobre isso.

h) Hoje você está ______________________ cansado do que ontem.

5. Complete as lacunas com uma das opções entre parênteses.

a) ______________ encontrar seu gerente, entregue os documentos à secretária. (se não


– senão)

b) Nunca entraremos em acordo: suas opiniões vão __________________ meus princípios.


(de encontro a – ao encontro de)

c) Não vejo ________________________ algum em ocupar tal cargo. ( previlégio –


privilégio)

d) Todas as entregas serão feitas ____________________. ( a domicílio – em domicílio)

e) Por favor, coloque os clientes _____________________ do andamento de seus


processos. (a par – ao par)

f) ________________ de evitar problemas e criar _________________ expectativas, o gerente


de vendas resolveu cancelar o evento de lançamento marcado para a próxima semana.
( afim de – a fim de / menas – menos)

6.Preencha os espaços vazios com porque, porquê, por que, por quê.
______ desistir agora de um projeto_______debatemos há tanto tempo?
A situação haveria de mudar___________? Não há razões _______ isso deva ocorrer.

55
__________ águas estamos navegando ninguém sabe dizer. Todos ignoram o ________
dessa instabilidade.
__________ exigir essas coisas dos candidatos aos nossos cargos públicos?
Perguntava __________ aquele espinho doía tanto no peito.
“O trenzinho seguia danado para Belém___________ o maquinista não tinha jantado até
aquela hora.” (Antônio de Alcântara Machado)

7. Elimine o que está sobrando:

a) O gerente tem certeza absoluta do prazo estipulado.

__________________________________________________________________________

b) A taxa vigente no mercado, no momento, é igual à do mês passado.


__________________________________________________________________________

c) A data máxima para pagamento da mensalidade não pode passar além do dia 30 do
mês de janeiro.
__________________________________________________________________________

d) As visitas opcionais são de sua livre escolha.


__________________________________________________________________________

e) Os transportes públicos são alvo de vandalismo criminoso.


__________________________________________________________________________

f) Na eleição para presidente, houve unanimidade absoluta de todos os integrantes do


grupo. __________________________________________________________________________

g) Há dois meses atrás, foi comunicado o cancelamento da compra do imóvel.


__________________________________________________________________________

h) A solução para o problema é iminente e imediata.


__________________________________________________________________________

56
i) Ainda não foi encontrado um elo de ligação entre as versões apresentadas pelas
testemunhas. __________________________________________________________________________

j) O lançamento do novo tipo de computador foi um sucesso positivo e excedeu muito


às expectativas do fabricante.
__________________________________________________________________________

UNIDADE 8
LEITURA: IMPORTÂNCIA E ESTRATÉGIAS
: A LEITURA TRABALHADA COMO MÉTODO

A leitura é um processo que envolve algumas habilidades, entre as quais a interpretação do


texto e sua compreensão. O processo inicia pelo reconhecimento das palavras impressas, o que pode
ocorrer sílaba por sílaba, palavra por palavra, conjuntos de palavras ou captação de frases inteiras.
Após o reconhecimento, passa-se à interpretação do pensamento do autor para, a seguir,
compreendê-lo. O passo seguinte será a retenção das idéias do autor e, quando necessário, a
reprodução das idéias de modo pessoal, o que confirma a compreensão.

É interessante observar o mecanismo do processo. A leitura não é simplesmente um deslizar dos


olhos pelas letras impressas. À semelhança de um atleta em movimento, que busca apoio no chão
para impulsionar-se para frente, da mesma forma os olhos só conseguem captar com clareza algo
quando se fixam em algum ponto. Em outros termos, existem os movimentos de saltos e fixações.
Quando o olho salta, ele permanece cego, nada vê. Quando se fixa, consegue ver.

Algumas conclusões podem ser tiradas:

- A boa leitura depende do número de fixações por linha.


- Captar um conjunto de palavras em cada fixação aumenta a velocidade da leitura.
- Quando se lê sílaba por sílaba ou palavra por palavra, além de a leitura ser mais lenta, o
significado permanece truncado.
- Para alguém tornar sua leitura mais eficiente precisa aprender a ler pelo significado, o que se
consegue captando conjuntos de palavras. Isto se percebe pelo seguinte quadro:

MRTBF

LIVRO AUTOMÓVEL

O BOM LEITOR CAPTA CONJUNTOS

57
A primeira linha se compõe de letras sem significado. A segunda, duas palavras sem
conexão. A terceira, possui um significado. É captada mais facilmente.

Normalmente, o tempo de fixação para o leitor lento e para o leitor rápido é o mesmo. No entanto,
enquanto o lento se fixa em sílabas ou palavras, o rápido se fixa em conjuntos. O mau leitor faz até
doze fixações por linha ao passo que o bom leitor executa a mesma tarefa em duas ou três.

Diversos autores que estudam o processo e o mecanismo da leitura apresentam


classificações diferentes para os diferentes tipos de leitura. Assim, fala-se de leitura crítica,
assimilativa, analítica etc. que poderiam ser sintetizadas em:

- Recreativa, cujo objetivo é trazer satisfações à inteligência.


- Crítica, onde existe um confronto de ideias entre o leitor e o autor.
- Assimilativa, em que o leitor reconhece o autor como autoridade e procura aprender com ele seu
conteúdo.

O universo cultural é constituído pela somatória de todas as experiências que a espécie humana
vivenciou ao longo de sua evolução. Se cada indivíduo tivesse que recapitular todas as experiências
acumuladas pela cultura, teria que passar por todo o processo de evolução. De modo geral, os livros
são a condensação desta evolução cultural que é apresentada nos mais variados estilos: romance,
filosofia, psicologia, matemática, história, sociologia. Ler, portanto, constitui um dever e um direito
de aprender, progredir, desenvolver-se e inteirar-se deste universo cultural. Quem lê, torna-se mais
apto para enfrentar os problemas e situações que a vida social, profissional, política, cultural
apresenta. Em se tratando do universitário, cujo conceito exige um saber globalizante, é
imprescindível a leitura.

Malba Tahan conta a estória do “homem maravilhoso” que intrigava muitas pessoas. Este
homem costumava passar seis horas diariamente na biblioteca, onde solicitava livros volumosos de
temas complicados e escritos em línguas estranhas. À medida que o tempo passava, esta atitude
despertava a curiosidade dos responsáveis pela biblioteca. Até que o bibliotecário decidiu pedir
explicações a um homem tão sábio. Grande foi sua surpresa quando soube que o homem
maravilhoso não sabia ler e se utilizava dos livros para poder dormir confortavelmente na sua
poltrona da biblioteca por ser muito pobre e não poder descansar em outro lugar. Moral da história:
não faz bom leitor o fato de ter sempre um livro à mão.

O bom leitor se faz superando deficiências de leitura tais como:

a) mecanismo ocular _ ignorando o funcionamento deste mecanismo, há pessoas que lêem com
movimentos da cabeça, muito próximas ou muito afastadas do objeto de leitura.

b) sentido truncado _ por ler aos pedaços, não apreende o significado nem as idéias, o que força o
retorno a linhas anteriores, para fixar o sentido.

c) mecanismo fonador _ à medida em que lê, tenta acompanhar os olhos com movimentos labiais,
ou articulando a língua embora com a boca fechada, ou quer fazer “leitura em voz baixa”, ou seja,
está subvocalizando.

A superação das deficiências de leitura é o meio para a formação do bom leitor. Isto se consegue
com a aplicação das indicações que seguem:

58
a) Preparação _ As atividades humanas, de modo geral, envolvem uma expectativa específica para
cada uma delas. Assim, assistir a um jogo de futebol implica um estado emocional e psíquico
diverso daquele com que alguém vai ao cinema ou teatro. Do mesmo modo a leitura exige que se dê
vazão a um estado emocional e psíquico que lhe é próprio. Se alguém vai a um jogo, a cinema ou
teatro sem se predispor a isto acabará por julgar a atividade maçante e cansativa. O mesmo acontece
com a leitura quando encarada como obrigação, que cria uma expectativa negativa, tornando-a
ineficiente. Por não atender a esta exigência de preparação, algumas pessoas vêem no livro um meio
para adormecer rapidamente. A criação de uma expectativa adequada para a leitura envolve fatores
como: ambiente (ônibus urbano nunca foi apropriado para a leitura, nem tampouco cama é lugar
para isso), nível de conhecimento de quem se predispõe a ler (assunto adequado à faixa cultural),
seleção de assuntos (dados sobre o autor, orelha do livro, sumário ou índice, introdução, citações,
bibliografia são indicadores iniciais para o exercício da leitura).

b) Velocidade – Livros técnicos, revistas, jornais, novelas exigem padrões distintos de velocidade,
ou seja, o bom leitor sabe ajustar a velocidade da leitura de acordo com o assunto. No entanto,
convém salientar que o aumento de velocidade não significa diminuição da compreensão. Ao
contrário do que se pensa, a compreensão está na razão direta do aumento de velocidade. Isto
porque, no processo de entendimento, quem comanda é o cérebro, que não lê palavras, mas
unidades de pensamento. A velocidade satisfatória é de 400 palavras por minuto, em média. Como
melhorar o padrão de velocidade?

-O primeiro passo é conhecer a velocidade atual .Para tanto, assinala-se, em um texto


qualquer, 500 palavras.A seguir, faz –se a leitura normalmente, cronometrando o tempo total
gasto.Ex: se o tempo foi de 2 minutos, exatos a leitura corresponde a 250 palavras por minuto, ou
seja, divide-se o número de palavras lidas pelo tempo gasto e obtém-se o número de palavras lidas
por minuto.
-A velocidade da leitura pode ser aumentada através de exercícios como:

1)Escolher um artigo de jornal ou revista, disposto em uma coluna de mais ou menos 5cm.Ler com
saltos de olhos a primeira e a última palavra de cada linha, tentando captar o sentido do artigo.

2)Em um livro não técnico, ler em cada linha somente a palavra inicial, a do meio e a final,
estabelecendo três pontos de fixação e procurando captar apenas o sentido do texto.

3)Com um livro de assunto conhecido, ler tão rapidamente quanto possível, captando apenas o
sentido dos parágrafos.Num segundo momento, reler e verificar se de fato a ideia principal foi
fixada.Para este exercício, anotar o tempo inicial e o tempo final.

4)Com o auxilio de uma régua branca ou cartolina branca, ler um texto, fazendo-a deslizar sobre as
linhas lidas, empurrando, deste modo à leitura.

c) Subvocalização - O uso inconsciente do aparelho fonador da leitura silenciosa age como um freio
sobre o cérebro dificutando-lhe a leitura por unidade de pensamento.

1)Exercícios para evitar a subvocalização podem ser elaboradas com listas de palavras ou frases de
difícil pronúncia, onde se lê o sentido e não a pronuncia.Presta-se atenção unicamente ao sentido,
evitando-se movimentos labiais de língua ou cordas vocais, sinais de subvocalização.Alguns
exemplos:

59
Toco preto, porco crespo.
Pia o pinto, a pipa pinga.
Três tristes tigres comiam trigo no trigal.
A pipa pinga e o pinto pia.Quanto mais o pinto pia mais a pipa pinga
O rato roeu a roupa do rei Ricardo da Rússia.
O tempo perguntou ao tempo: quanto tempo o tempo tem
O tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto o tempo tem.
O papo do pato está no prato de prata do padre.

2)Mesmas palavras ou frases de significados diversos.Presta-se atenção ao sentido e não à


pronúncia.

Com pena peguei na pena


Com pena pra te escrever
A pena caiu da mão
Com pena de não te ver.
Vi garça voando
Com penas que Deus lhe deu
Contando pena por pena
Mais pena padeço eu.
3) Palavras e frases escritas de modo semelhante, mas de sentido diverso. Prestar atenção ao sentido
e não à pronúncia. Ex: o velho viu apagar-se a velhinha enquanto procurava a ovelha.

Eu te asseguro que a secura é com água que se cura.


A tática ártica é contra a Antártica.
Divirto-me com a tua discrição na descrição da própria distração.
Quem conta um conto aumenta um ponto; quem corta um ponto aumenta o desconto.
Veja bem a distinção entre a extensão do campo e a extinção do campus.
O animal mau padece de um duplo mal: não sabe que ele é mau e não distingue o bem do
mal.

d) Área de fixação – à medida que se aumenta a área de fixação, aumenta-se também a velocidade
da leitura e, conseqüentemente, a capacidade de compreensão. Com alguns exercícios, torna-se
possível aumentar a área de fixação.

Números 3 4

Fixando os olhos no centro, lê-se facilmente 34

3 2 4 7 6

Fixando –se os olhos no número do centro, lê-se 32.476.

Palavras
Roeu
O rato roeu
O rato roeu a roupa

60
Fixando-se os olhos na palavra”roeu”, lê-se facilmente as outras”o rato” e “a roupa”, com a visão
periférica.

Técnicas de leitura trabalhada

Um bom aproveitamento nos estudos, além da eficiência na leitura, supõe a aplicação


sistemática e habitual de outras técnicas que facilitam a compreensão, a retenção, a memorização e,
ainda a documentação posterior.
A primeira destas técnicas é a SUBLINHA – arte de colocar em destaque as idéias
principais e palavras-chave de um texto. Um texto corretamente sublinhado permite sua releitura
com brevidade, economizando tempo sem prejuízo de conteúdo.
Embora não haja normas fixas para a execução da sublinha, é importante que se crie um
código pessoal, que deve ser mantido. Convém salientar que o hábito de sublinhar se adquire pela
repetição, tornando-a mecânica, como o que acontece com a escrita.

As indicações a seguir servem como elementos auxiliares para a aquisição desta técnica:

Não sublinhar na primeira leitura, a menos que se tenha prévio conhecimento do assunto.

Sublinhar apenas o que é realmente importante: ideias principais, dando destaque às palavras-chave.
A idéia principal, na maioria das vezes, encontra-se na primeira frase de sentido completo de um
parágrafo. Como em uma constelação, a ideia principal está circundada de outros elementos que lhe
servem de suporte explicando-a, apresentando provas, ilustrando-a ou refutando-a.

O texto a seguir, extraído de Délcio Vieira SALOMAN, em como fazer uma monografia p.
45-8 sintetiza o que se falou até agora sobre leitura e possibilita um exercício de sublinha:

BOM LEITOR
O bom leitor lê rapidamente e entende bem o que lê. Tem habilidade e hábitos como:

1- Lê com objetivo determinado. Ex.: aprender certo assunto – repassar detalhes – responder a
questões.

2- Lê unidades de pensamento. Abarca, num relance, o sentido de um grupo de palavras. Relata


rapidamente as ideias encontradas numa frase ou num parágrafo.

3- Tem vários padrões de velocidade.


Ajusta a velocidade da leitura com o assunto que lê. Se lê uma novela, é rápido. Se livro cientifico
para guardar detalhes – lê mais devagar para entender bem.

4- Avalia o que lê.


Pergunta-se frequentemente: que sentido tem isso para mim?
Está o autor qualificado para escrever sobre o assunto?
Está ele apresentando apenas um ponto de vista do problema?
Qual é a idéia principal deste trecho?
Quais seus fundamentos?

5- Possui bom vocabulário

61
Sabe o que muitas palavras significam. É capaz de perceber o sentido das palavras novas pelo
contexto. Sabe usar dicionários e o faz frequentemente para esclarecer o sentido de certos termos,
no momento oportuno.

6- Tem habilidades para conhecer o valor do livro.


Sabe que a primeira coisa a fazer quando se toma um livro é indagar de que trata através do título,
subtítulos encontrados na página de rosto e não apenas na capa. Em seguida lê os títulos do autor.
Edição do livro. Índice. “Orelha do livro”. Prefácio. Bibliografia citada. Só depois é que se vê em
condições de decidir pela conveniência ou não da leitura. Sabe selecionar o que lê. Sabe o que
consultar e quando ler.

7- Sabe quando deve ler um livro até o fim, quando interromper a leitura definitivamente ou
periodicamente.
Sabe quando e como retomar a leitura, sem perda de tempo e sem perder a continuidade.

8- Discute frequentemente o que lê com colegas.


Sabe distinguir entre impressões subjetivas e valor objetivo durante as discussões.

9- Adquire livros com frequência e cuida de ter sua biblioteca particular.


Quando é estudante procura os livros de textos indispensáveis e se esforça em possuir os
chamados clássicos e fundamentais. Tem interesse em fazer assinaturas de periódicos científicos.
Formando, continua alimentando sua biblioteca e restringe a aquisição dos chamados
“compêndios”. Tem o hábito de ir direto às fontes; de ir além do livros de texto.

10- Lê assuntos vários.


Lê livros, revistas, jornais. Em áreas diversas: ficção, ciência, história, etc. habitualmente
nas áreas de seu interesse ou especialização.

11- Lê muito e gosta de ler.


Acha que ler traz informações e causa prazer. Lê sempre que pode.

12- O BOM LEITOR é aquele que não é só bom na hora de leitura.


É bom leitor porque desenvolve uma atitude de vida: é constantemente bom leitor. Não só
lê, mas sabe ler.

MAU LEITOR

O mau leitor lê vagarosamente e entende mal o que lê. Tem hábitos como:

1-Lê sem finalidade.


Raramente sabe o que lê.

2-Lê palavra por palavra.


Pega o sentido da palavra isoladamente.
Esforça-se para ajuntar os termos para poder entender a frase.
Frequentemente tem de reler as palavras.

3-Só tem um ritmo de leitura.


Seja qual for o assunto, lê sempre vagarosamente.

62
4-Acredita em tudo que lê.
Para ele tudo que é impresso é verdadeiro.
Raramente confronta o que lê com suas próprias experiências ou com outras fontes.
Nunca julga criticamente o escritor ou seu ponto de vista.

5-Possui vocabulário limitado.


Sabe o sentido de poucas palavras. Nunca relê uma frase para pegar o sentido de uma palavra difícil
ou nova. Raramente consulta o dicionário. Quando o faz atrapalha-se em achar a palavra. Tem
dificuldade em entender a definição das palavras e em escolher o sentido exato.

6-Não possui nenhum critério técnico para conhecer o valor do livro.


Nunca ou raramente lê a página de rosto do livro, o índice, o prefácio, a bibliografia etc., antes de
iniciar a leitura. Começa a ler a partir do primeiro capítulo. É comum até ignorar o autor, mesmo
depois de terminada a leitura. Jamais seria capaz de decidir entre leitura e simples consulta. Não
consegue selecionar o que vai ler. Deixa-se sugestionar pelo aspecto material do livro.

7-Não sabe decidir se é conveniente ou não interromper uma leitura.


Ou lê todo o livro, ou o interrompe sem critério objetivo, apenas por questões subjetivas.

8-Raramente discute com colegas o que Lê.


Quando o faz, deixa-se levar por impressões subjetivas e emocionais para defende um ponto de
vista. Seus argumentos, geralmente, derivam da autoridade do autor, da moda, dos lugares comuns,
das tiradas eloqüentes, dos preconceitos.

9-Não possui biblioteca particular.


Às vezes é capaz de adquirir “metros de livro” para decorar a casa. É frequentemente levado a
adquirir livros secundários em vez dos fundamentais. Quando estudante, só lê e adquire compêndios
de aula. Formando, não sabe o que representa o hábito das “boas aquisições” de livro.

10-Está condicionado a ler sempre a mesma espécie de assunto.

11-Lê pouco e não gosta de ler.


Acha que ler é ao mesmo tempo um trabalho e um sofrimento.

12-O MAU LEITOR não se revela apenas no ato da leitura, seja silenciosa ou oral.
É constantemente mau leitor, porque se trata de uma atitude de resistência ao hábito de saber ler.

O significado etimológico de ESQUEMA, a segunda técnica é “esqueleto”, de onde se


conclui que só contém os traços essenciais do texto, o que possibilita realizar as ligações entre os
elementos e o funcionamento do conjunto, permitindo, assim, visualizar o todo porque hierarquiza
as ideias e destaca as diretrizes que estabelecem a unidade e a coerência do texto.
Do mesmo modo, a geometrização também não possui normas fixas. No entanto, algumas
indicações podem auxiliar sua elaboração:

- Ser fiel ao texto - o esquema é extraído do texto e não imposto ao texto. As palavras ou termos
originais, tanto quanto possível, são mantidos.

63
- Hierarquizar as idéias, destacando as principais com base nos títulos, subtítulos e palavras-chave.

- Criar um código uniforme com gráficos, setas, desenhos, parêntesis, chaves, etc. Esta codificação,
no levantamento de esquemas, é absolutamente pessoal.

O texto acima, sobre o bom e o mau leitor, pode ser esquematizado da seguinte maneira:

BOM LEITOR - HÁBITOS

- objetivo determinado
- unidades de pensamento
- vários padrões de velocidade
- avalia
- bom vocabulário
- habilidades para conhecer livros
- sabe quando interromper a leitura
- discute o que lê
- forma sua biblioteca particular
- lê vários assuntos
- sabe e gosta de ler

MAU LEITOR - HÁBITOS

- lê sem finalidade
- lê palavra por palavra
- um só ritmo vagaroso
- não avalia
- vocabulário limitado
- não tem habilidades para conhecer o livro
- não sabe quando interromper a leitura
- não discute o que lê
- não forma biblioteca particular
- só lê um tipo de assunto
- lê pouco e não gosta de ler

Da geometrização ou esquema, nasce o RESUMO, que é a complementação da leitura


trabalhada – condensação do texto em seus elementos principais. O resumo bem elaborado tem a
finalidade de dispensar a leitura do original e é escrito para que outras pessoas entendam.

Referência Bibliográfica

BASTOS,Cleverson Leite& KELLER, Vicente. Aprendendo a aprender . Introdução à metodologia


científica.17.ed. Petrópolis:Vozes,2004

64
UNIDADE 9

TEXTOS JORNALÍSTICOS

Os textos jornalísticos são, com freqüência, expositivos, ou seja, apresentam


fatos e suas circunstâncias, com análise de causas e efeitos, de forma aparentemente
neutra ou não. Em geral, as redações recomendam que as idéias sejam apresentadas
de forma clara e objetiva.
Para a publicação de uma notícia, leva-se em conta: proximidade do fato,
impacto proeminência, aventura, conflito, conseqüência, humor, raridade, sexo, idade,
interesse pessoal humano, importância, utilidade, oportunidade, suspense,
originalidade, repercussão. Na divulgação do fato noticioso, é necessário reconhecer
três aspectos: a informação, a interpretação e a opinião. Freqüentemente, a
informação baseia-se no quê, a interpretação no porquê, e a opinião apóia-se em juízos
de valor. Geralmente, respondem-se às seguintes perguntas: quem, o quê, onde,
quando, como, por quê.

Nota
Notícia que se caracteriza pela brevidade do texto. Pequena notícia que se
destina à informação rápida.

MÃE MATA GATO DAS FILHAS NA MÁQUINA DE LAVAR

Duas garotas inglesas, uma de cinco anos e outra de 15, foram obrigadas a
assistir na Quarta-feira 7 à morte de seu gato de estimação. O bichano chamava-se
Fluffy e morreu dentro de uma máquina de lavar roupas – em funcionamento. Quem
fez essa crueldade com o animal, e com as meninas, foi nada mais nada menos que a
própria mãe delas, Holly Thacker: “Eu quis puni-las porque elas andam desobedientes”.
Fluffy levou dez minutos para morrer e as filhas não podiam, sequer fechar os olhos.
Holly poderá ser condenada à prisão pela Justiça da Inglaterra.

65
Revista IstoÉ, 1874-14/9/2005, p. 23
Responda: Quem? O quê? Onde? Quando? Como? Por quê?

Notícia
Deve ser recente, inédita, ligada à realidade, objetiva, de interesse público, os
fatos relatados devem estar próximos do público, provocar impacto, ter interesse
pessoal e humano, ser relevantes para a sociedade, ser originais.

MODELO RELATA ATAQUE DE GAROTOS

Cláudia seguia para o Anhembi, quando ficou presa no trânsito e foi assaltada
por menores

Cláudia tem 21 anos. Modelo de uma das mais importantes agências do país,
ela foi vítima de um assalto semana passada, na Avenida Prestes Maia, quando seguia
para o Anhembi, para trabalhar num estande da Fenasoft. “Precisei tomar calmante e
até hoje não me esqueço do que aconteceu.”
Ao contrário do que normalmente faz, Cláudia tinha baixado o vidro da porta do
seu Uno naquele dia, depois de demorar mais de 20 minutos para atravessar o túnel do
Anhangabaú. Na saída do túnel, um rapaz de 16 anos encostou e começou a oferecer
barras de chocolate. Em seguida chegou um garoto, de cerca de 14 anos, com um
pano cobrindo a mão. “O rapaz do chocolate ficou bem perto da janela e o outro
mostrou um vidro pontudo e comprido e mandou entregar o dinheiro e o relógio, pois
iria me cortar.”
Cláudia, nervosa, não conseguia pegar a carteira na bolsa. “As pessoas nos
carros por perto não se importavam e o garoto do chocolate começou a instigar o
outro, dizendo para cortar o meu rosto e espetar o vidro no meu pescoço.” Quando ela
conseguiu pegar a carteira, o garoto mais jovem pegou o dinheiro, atirou os
documentos no banco de trás, e o outro tirou o relógio.
Cláudia contou o que ocorrera a um marronzinho da Companhia de Engenharia
de Tráfego parado na Prestes Maia, antes da Senador Queirós, “disse que todos os dias
acontecem assaltos ali e a polícia não dá a mínima.” Com medo de represálias, ela não
apresentou queixa à polícia e pediu para que seu sobrenome não seja revelado. (R.L.)
(Estado de São Paulo, 26/7/95.)
Responda:
a) Quem; b) O quê; c) Onde; d) Quando; e) Como; f) Por quê;
g) Observe a data da publicação e o nome do veículo: o que é a sigla R.L.?;
h) Como se chama e qual a função do parágrafo logo abaixo do título?

Reportagem
Enquanto a notícia sintetiza o fato e pode ser ou não ampliada, a reportagem
trata de assuntos não necessariamente relacionados a fatos novos. Na reportagem,
busca-se certo conhecimento do mundo, o que inclui investigação e interpretação. A
reportagem exige conhecimento de antecedentes, adição de minúcias complementares
à notícia e adequação da linguagem ao leitor. Exemplo:

SAÚDE ADIA DECISÃO SOBRE LIBERAÇÃO DA MACONHA PARA USO MEDICINAL


Da Sucursal de Brasília e da Reportagem Local

Os Ministérios da Saúde e da Justiça vão consultar os oncologistas – médicos


que tratam de câncer – antes de decidir sobre a liberação de uma das substâncias
ativas da maconha, o THC (o tetrahidrocanabinol), para uso terapêutico.

66
O secretário nacional de Vigilância Sanitária, Elisaldo Carlini, disse ontem, em
Brasília, em um simpósio sobre o tema, que consulta aos médicos será em outubro,
durante congresso de oncologia que ocorre em Belo Horizonte.
O ministro Adib Jatene, da Saúde, poderia liberar a substância com uma
portaria, mas preferiu esperar. “Queremos antes que o assunto seja discutido pela
sociedade”, disse, na abertura do simpósio.
Não está em discussão a liberação de cigarros de maconha. O THC só será
consumido dentro de hospitais, em cápsulas, por quem faz quimioterapia contra
câncer. O único efeito terapêutico do THC comprovado pela ciência é eliminar vômitos
e náuseas, efeitos colaterais da quimioterapia. Há outros usos em estudo em vários
países, como o glaucoma, epilepsia, certas doenças neurológicas e espasmos. A
bibliografia da homeopatia menciona várias utilidades da maconha.
Carlini é a favor de que o THC seja autorizado para o uso médico. “É uma
posição pessoal. Não há posição oficial do ministério.”
O reconhecimento da utilidade terapêutica do THC pela Organização Mundial de
Saúde, em 91, foi acatado pelas Nações Unidas, com o voto do Brasil.
O oncologista Rene Gansl disse que, quando o THC foi liberado nos EUA, no
início dos anos 80, “era competitivo, mas hoje há drogas mais eficazes e com menos
efeitos adversos, como o Plasil”. Ele admite que o THC poderia beneficiar pacientes
em alguns casos. “Mas, antes, o THC era útil em 30% dos casos; hoje, para menos de
1%. Acho que não se justifica a liberação”, disse.
Em São Paulo, Anthony Wong, diretor do Centro de Assistência Toxicológica do
Hospital da Clínicas, defendeu a liberação do THC. “Ele não leva à dependência física e
pode beneficiar muitos doentes. O THC pode e deve ser vendido sob rigoroso controle.”
O psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, do Proad – Centro de Prevenção e Estudos
da Escola Paulista de Medicina – defendeu a liberação para uso terapêutico. “Estudos
nos EUA mostram que 90% dos que fumam maconha não ficam dependentes”, afirma.
“Controlado, o THC traria benefícios, não riscos.”
Arthur Guerra , que coordena o Grea - Grupo de Estudos em Álcool e Drogas do
HC -, não concorda. “A discussão é uma jogada em marketing para a liberação da
droga”, disse.

(Aureliano Biancarelli e Paulo Silva Pinto, Folha de S. Paulo, [s.d.])


Responda:
a) Quem; b) O quê; c) Onde; d) Quando; e) Como; f) Por quê?
g) Qual a diferença entre esta reportagem e a notícia lida acima?
h) Onde foi produzida a reportagem?

Artigo
Tipo de texto em que prevalece uma opinião pessoal baseada em análise da
situação ou dos fatos. Se consistente, apresenta naturalidade, densidade e concisão.
Em geral, o artigo procura explicar um fato, e sua motivação apóia-se no desejo do
jornalista em informar, ou interpretar, ou convencer/persuadir. O artigo, como opinião
pessoal, vem assinado pelo autor.

FILHOS DE ESTIMAÇÃO

Li em algum lugar que uma entidade protetora de animais está oferecendo cães
e gatos abandonados a pessoas de bom coração que queiram adotá-los. Os animais
passaram por veterinários, estão ótimos de saúde, não oferecem perigo. Por que foram
atirados à rua? Quem sabe, porque as pessoas enjoam dos bichos quando eles
crescem. Ou porque o bicho dá trabalho. Não sei, porém, se vocês repararam que os
cachorros e gatos vagabundos estão diminuindo nas ruas. Era comum antes topar com

67
dezenas de vira-latas perambulando pelas calçadas, cheiriscando muros e latas de lixo.
Agora pouca gente usa lata para guardar lixo. O próprio lixo emagreceu, não tem mais
a atração da fartura de desperdício de tempos atrás. Inflação, custo de vida, essas
coisas. A captura municipal se aprimorou. A campanha de prevenção da raiva alertou
os donos dos bichos. E os automóveis não perdoam cachorro e gato distraído.
Para substituir esses animaizinhos desvalidos surgem novos bandos de crianças
desgarradas em São Paulo. Se antes uma criança pedindo esmola chamava nossa
atenção, hoje nós a olhamos com naturalidade e indiferença. Dar ou recusar uma
esmola, uma moeda, tornou-se um gesto maquinal.
Suponho que o destino desses guris está selado: eles acabarão na cadeia. Ou
nos encostarão contra a parede, a qualquer momento, o revólver em nosso peito.
É possível que amanhã, com outro governo, o Brasil não seja um grande
exportador de armas, mas passe a ser conhecido no mundo como um país de brio que
deu às crianças esquálidas e tristes não direi diploma de doutor, isso seria um enorme
milagre inútil. Mas uma oportunidade de trabalho, ao menos isso, com um pagamento
que lhes permita, depois de aprender uma profissão prática, ganhar a vida com o
coração limpo e honestidade. Podemos sonhar acordados.
(Lourenço Diaféria, Jornal da Tarde, 26/9/84.)
Responda:
a) A que fato se remete o articulista?
b) Com que compara seu objeto de análise?
c) Qual a intenção dessa comparação?
d) Qual a mensagem expressada pelo texto?

Editorial
Texto jornalístico que analisa um assunto de forma valorativa, a partir do ponto
de vista da empresa jornalística. Há certo dogmatismo em todo editorial que, em
conseqüência, é marcado pela adjetivação, por juízos de ponderação, reclamação ou
indignação. O texto não é assinado, pois reflete a opinião do veículo de comunicação.

O lixo, sua coleta e destinação final, transforma-se a cada dia em São Paulo
num problema que tem atormentado tanto as autoridades como a população em geral.
A produção de lixo numa sociedade de consumo indisciplinada como a nossa, é cada
vez mais farta e constante. Não nos incomodamos quando adquirimos produtos em
embalagens descartáveis; mesmo sabendo que essas embalagens possivelmente irão
fazer parte de nossa paisagem; não nos constrangemos em usar e desperdiçar papel,
plástico e vidro, numa quantidade cada vez maior, mesmo sabendo do prejuízo que
causamos à natureza com essa atitude.
Caso não criemos novas destinações para o lixo urbano e não modifiquemos
nossos hábitos de consumo e nossas atitudes frente ao problema do lixo, teremos
dentro de bem pouco tempo uma situação verdadeiramente caótica na Grande São
Paulo.
Cada paulistano produz diariamente um quilo de lixo, que na sua totalidade
transforma-se em uma montanha de 12 mil toneladas, o que é, convenhamos, um
grande obstáculo para qualquer administrador público.
Essa quantidade monumental de lixo precisa ser recolhida e despejada em
algum lugar, longe de nossas vistas e de nossa saúde. E não é com um passe de
mágica que vamos fazer desaparecer essas toneladas diárias de entulho sujo e
malcheiroso.
A um custo altíssimo para os cofres públicos e para nossos bolsos de
contribuinte, grande parte dessa sujeira é destinada a aterros sanitários, usinas de
compostagem e usinas de incineração. Somente uma parcela muito pequena - apenas
10 toneladas diárias é recolhida como "lixo-limpo", passível de ser reciclado.

68
O reciclamento desse lixo limpo, que é constituído de metal, vidro, plástico e
papel, se não representa uma solução definitiva para o problema do lixo urbano, é, no
entanto, o melhor caminho para uma mudança de comportamento da população.
(Folha de São Paulo, s.d.)

Responda:
1) Qual o tema do editorial?
2) Qual o tema delimitado?
3) Qual é a opinião do jornal sobre o tema?

4) Segundo o texto a afirmação MAIS correta sobre o lixo em São Paulo é:


a) nossa sociedade de consumo produz farta e constante quantidade de embalagens
recicláveis;
b) além de muito cara, a reciclagem do lixo urbano não é lucrativa para as autoridades;
c) no lixo das cidades há muita matéria aproveitável que em grande parte é
desperdiçada;
d) as autoridades públicas enfrentam sérios problemas com o recolhimento do "lixo
limpo" nas grandes cidades;
e) a quantidade monumental de dejetos que se encontra no lixo urbano não pode ser
incinerada.

5) De acordo com o texto pode-se afirmar sobre o lixo de São Paulo que:
a) não é totalmente reciclado, pois seu custo é muito alto para o bolso do contribuinte;
b) é todo incinerado e depois reciclado, apesar do desperdício que isso representa;
c) apenas uma parcela muito pequena é incinerada;
d) apenas uma parcela muito pequena é reciclada;
e) todo o lixo recolhido é incinerado.
Carta do leitor
Neste tipo de texto jornalístico, é o receptor – o leitor do jornal, da revista –
quem se manifesta e dá sua opinião sobre qualquer fato anunciado ou comentado pelo
veículo de comunicação. Comentando o noticiário relativo às manifestações da
juventude no período em que se discutia a possibilidade de impeachment do
Presidente Collor, o Sr. E. B. M enviou ao jornal Folha de S. Paulo a seguinte carta:
É irritante ler, nas últimas semanas, a cobertura das manifestações contra o
poder central por parte da “juventude”. Excluindo qualquer juízo de valor sobre o
processo, o que se deve ter como verdade é que é extremamente fantasioso se admitir
que a nossa juventude tenha toda essa capacidade de percepção. É notória a cretinice
da juventude brasileira. O “zeitgeist”, o espírito da época, submerge a atual geração
num mar de hedonismo e irresponsabilidade. É lindo fazer revolução com tênis Reebok
e jeans Forum. O que eu gostaria de ver, mesmo, é como essa juventude vagabunda,
indolente e indisciplinada como a brasileira se comportaria diante de um grupo de
choque, como nos confrontos que ocorreram em Seul.
(E.B.M., Painel do Leitor, Folha de S. Paulo, 1/09/92).

A leitura atenta da carta do Sr. E.B.M. permite identificar algumas de suas


opiniões sobre os jovens, expressas mais ou menos diretamente.

CRÔNICAS

69
Crônica do Amor

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos,
simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.

O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por
empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são
só referenciais.

Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.

Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela
quando menos se espera.

Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu
flores que ela deixou a seco.

Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você
abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então?

Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do
que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra
no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha.
Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue
despachá-lo.

Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca,
adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara?

70
Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos
irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu
valor.

É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem
todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar,
de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.

Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse,
criatura, por que está sem um amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação
matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.

Não funciona assim.

Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o
Amor tem de indefinível.

Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de
família, tá assim, ó!

Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira
mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.

Arnaldo Jabor

Acho a maior graça. Tomate previne isso,cebola previne aquilo, chocolate faz bem, chocolate
faz mal, um cálice diário de vinho não tem problema, qualquer gole de álcool é nocivo, tome
água em abundância, mas não exagere...

71
Diante desta profusão de descobertas, acho mais seguro não mudar de hábitos.

Sei direitinho o que faz bem e o que faz mal pra minha saúde.

Prazer faz muito bem.


Dormir me deixa 0 km.
Ler um bom livro faz-me sentir novo em folha.
Viajar me deixa tenso antes de embarcar, mas depois rejuvenesço uns cinco anos.
Viagens aéreas não me incham as pernas; incham-me o cérebro, volto cheio de idéias.
Brigar me provoca arritmia cardíaca.
Ver pessoas tendo acessos de estupidez me
embrulha o estômago.
Testemunhar gente jogando lata de cerveja pela janela do carro me faz perder toda a fé no ser
humano.
E telejornais... os médicos deveriam proibir - como doem!
Caminhar faz bem, dançar faz bem, ficar em silêncio quando uma discussão está pegando
fogo,
faz muito bem! Você exercita o autocontrole e ainda acorda no outro dia sem se sentir
arrependido de nada.
Acordar de manhã arrependido do que disse ou do que fez ontem à noite é prejudicial à
saúde!
E passar o resto do dia sem coragem para pedir
desculpas, pior ainda!
Não pedir perdão pelas nossas mancadas dá câncer, não há tomate ou mussarela que
previna.
Ir ao cinema, conseguir um lugar central nas fileiras do fundo, não ter ninguém atrapalhando
sua visão, nenhum celular tocando e o filme ser espetacular, uau!
Cinema é melhor pra saúde do que pipoca!
Conversa é melhor do que piada.
Exercício é melhor do que cirurgia.
Humor é melhor do que rancor.
Amigos são melhores do que gente influente.

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Economia é melhor do que dívida.
Pergunta é melhor do que dúvida.
Sonhar é melhor do que nada!

Luís Fernando Veríssimo

Minha mulher e eu temos o segredo para fazer um casamento durar:


Duas vezes por semana, vamos a um ótimo restaurante, com uma comida gostosa, uma boa
bebida e um bom companheirismo. Ela vai às terças-feiras e eu, às quintas.
Nós também dormimos em camas separadas: a dela é em Fortaleza e a minha, em SP.
Eu levo minha mulher a todos os lugares, mas ela sempre acha o caminho de volta.
Perguntei a ela onde ela gostaria de ir no nosso aniversário de casamento, "em algum lugar
que eu não tenha ido há muito tempo!" ela disse. Então, sugeri a cozinha.
Nós sempre andamos de mãos dadas...
Se eu soltar, ela vai às compras!
Ela tem um liquidificador, uma torradeira e uma máquina de fazer pão, tudo elétrico.
Então, ela disse: "nós temos muitos aparelhos, mas não temos lugar pra sentar".
Daí, comprei pra ela uma cadeira elétrica.
Lembrem-se: o casamento é a causa número 1 para o divórcio. Estatisticamente, 100 % dos
divórcios começam com o casamento. Eu me casei com a "senhora certa".
Só não sabia que o primeiro nome dela era "sempre".
Já faz 18 meses que não falo com minha esposa. É que não gosto de interrompê-la.
Mas, tenho que admitir: a nossa última briga foi culpa minha.
Ela perguntou: "O que tem na TV?"
E eu disse: "Poeira".

Luís Fernando Veríssimo

EXIGÊNCIAS DA VIDA MODERNA

Dizem que todos os dias você deve comer uma maçã por causa do ferro.

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E uma banana pelo potássio.
E também uma laranja pela vitamina C. Uma xícara de chá verde sem açúcar para prevenir a
diabetes.
Todos os dias deve-se tomar ao menos dois litros de água. E uriná-los, o que consome o
dobro do tempo.
Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos lactobacilos (que ninguém sabe bem o que é,
mas que aos bilhões, ajudam a digestão). Cada dia uma Aspirina, previne infarto. Uma taça de
vinho tinto também. Uma de vinho branco estabiliza o sistema nervoso. Um copo de cerveja,
para... não lembro bem para o que, mas faz bem. O benefício adicional é que se você tomar
tudo isso ao mesmo tempo e tiver um derrame, nem vai perceber.
Todos os dias deve-se comer fibra. Muita, muitíssima fibra. Fibra suficiente para fazer um
pulôver.
Você deve fazer entre quatro e seis refeições leves diariamente. E nunca se esqueça de
mastigar pelo menos cem vezes cada garfada. Só para comer, serão cerca de cinco horas do
dia...
E não esqueça de escovar os dentes depois de comer. Ou seja, você tem que escovar os
dentes depois da maçã, da banana, da laranja, das seis refeições e enquanto tiver dentes,
passar fio dental, massagear a gengiva, escovar a língua e bochechar com Plax. Melhor,
inclusive, ampliar o banheiro e aproveitar para colocar um equipamento de som, porque entre
a água, a fibra e os dentes, você vai passar ali várias horas por dia.
Há que se dormir oito horas por noite e trabalhar outras oito por dia, mais as cinco comendo
são vinte e uma.
Sobram três, desde que você não pegue trânsito. As estatísticas comprovam que assistimos
três horas de TV por dia. Menos você, porque todos os dias você vai caminhar ao menos meia
hora (por experiência própria, após quinze minutos dê meia volta e comece a voltar, ou a meia
hora vira uma).
E você deve cuidar das amizades, porque são como uma planta: devem ser regadas
diariamente, o que me faz pensar em quem vai cuidar delas quando eu estiver viajando.
Deve-se estar bem informado também, lendo dois ou três jornais por dia para comparar as
informações.
Ah! E o sexo! Todos os dias, tomando o cuidado de não se cair na rotina. Há que ser criativo,
inovador para renovar a sedução. Isso leva tempo - e nem estou falando de sexo tântrico.

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Também precisa sobrar tempo para varrer, passar, lavar roupa, pratos e espero que você não
tenha um bichinho de estimação. Na minha conta são 29 horas por dia.
A única solução que me ocorre é fazer várias dessas coisas ao mesmo tempo! Por exemplo,
tomar banho frio com a boca aberta, assim você toma água e escova os dentes. Chame os
amigos junto com os seus pais. Beba o vinho, coma a maçã e a banana junto com a sua
mulher... na sua cama.
Ainda bem que somos crescidinhos, senão ainda teria um Danoninho e se sobrarem 5
minutos, uma colherada de leite de magnésio.
Agora tenho que ir.
É o meio do dia, e depois da cerveja, do vinho e da maçã, tenho que ir ao banheiro.
E já que vou, levo um jornal... Tchau!
Viva a vida com bom humor!!!

Luís Fernando Veríssimo

DAR NÃO É FAZER AMOR

Dar é dar.
Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido.
Mas dar é bom pra cacete.
Dar é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca...
Te chama de nomes que eu não escreveria...
Não te vira com delicadeza...
Não sente vergonha de ritmos animais. Dar é bom.
Melhor do que dar, só dar por dar.
Dar sem querer casar....
Sem querer apresentar pra mãe...
Sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo.
Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral...
Te amolece o gingado...
Te molha o instinto.
Dar porque a vida é estressante e dar relaxa.

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Dar porque se você não der para ele hoje, vai dar amanhã, ou depois de amanhã.
Tem pessoas que você vai acabar dando, não tem jeito.
Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos, sem
esperar ouvir futuro.
Dar é bom, na hora.
Durante um mês.
Para os mais desavisados, talvez anos.

Mas dar é dar demais e ficar vazio.


Dar é não ganhar.
É não ganhar um eu te amo baixinho perdido no meio do escuro.
É não ganhar uma mão no ombro quando o caos da cidade parece querer te abduzir.
É não ter alguém pra querer casar, para apresentar pra mãe, pra dar
o primeiro abraço de Ano Novo e pra falar:
"Que que cê acha amor?".
É não ter companhia garantida para viajar.
É não ter para quem ligar quando recebe uma boa notícia.
Dar é não querer dormir encaixadinho...
É não ter alguém para ouvir seus dengos...
Mas dar é inevitável, dê mesmo, dê sempre, dê muito.

Mas dê mais ainda, muito mais do que qualquer coisa, uma chance ao amor.
Esse sim é o maior tesão.
Esse sim relaxa, cura o mau humor, ameniza todas as crises e faz você flutuar

Experimente ser amado...

Luís Fernando Veríssimo

AMOR É PROSA, SEXO É POESIA

Sábado, fui andar na praia em busca de inspiração para meu artigo de jornal. Encontro duas
amigas no calçadão do Leblon:

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- Teu artigo sobre amor deu o maior auê... – me diz uma delas.
- Aquele das mulheres raspadinhas também... Aliás, que você tem contra as mulheres que
barbeiam as partes? – questiona a outra.
- Nada... – respondo. – Acho lindo, mas não consigo deixar de ver ali nas partes dessas
moças um bigodinho sexy... não consigo evitar... Penso no bigodinho do Hitler, do Sarney...
Lembram um sarneyzinho vertical nas modelos nuas... Por isso, acho que vou escrever ainda
sobre sexo...
Uma delas (solteira e lírica) me diz:
- Sexo e amor são a mesma coisa...
A outra (casada e prática) retruca:
- Não são a mesma coisa não...
Sim, não, sim, não, nasceu a doce polêmica ali à beira-mar. Continuei meu cooper e deixei as
duas lindas discutindo e bebendo água-de-coco. E resolvi escrever sobre essa antiga
dualidade: sexo e amor. Comecei perguntando a amigos e amigas. Ninguém sabe direito. As
duas categorias trepam, tendendo ou para a hipocrisia ou para o cinismo; ninguém sabe onde
a galinha e onde o ovo. Percebo que os mais “sutis” defendem o amor, como algo “superior”.
Para os mais práticos, sexo é a única coisa concreta. Assim sendo, meto aqui minhas próprias
colheres nesta sopa.
O amor tem jardim, cerca, projeto. O sexo invade tudo isso. Sexo é contra a lei. O amor
depende de nosso desejo, é uma construção que criamos. Sexo não depende de nosso
desejo; nosso desejo é que é tomado por ele. Ninguém se masturba por amor. Ninguém sofre
de tesão. O sexo é um desejo de apaziguar o amor. O amor é uma espécie de gratidão
posteriori pelos prazeres do sexo.
O amor vem depois, o sexo vem antes. No amor, perdemos a cabeça, deliberadamente. No
sexo, a cabeça nos perde. O amor precisa do pensamento.
No sexo, o pensamento atrapalha; só as fantasias ajudam. O amor sonha com uma grande
redenção. O sexo só pensa em proibições: não há fantasias permitidas. O amor é um desejo
de atingir a plenitude. Sexo é o desejo de se satisfazer com a finitude. O amor vive da
impossibilidade sempre deslizante para a frente. O sexo é um desejo de acabar com a
impossibilidade. O amor pode atrapalhar o sexo. Já o contrrário não acontece. Existe amor
sem sexo, claro, mas nunca gozam juntos. Amor é propriedade. sexo é posse. Amor é a casa;
sexo é invasão de domicílio. Amor é o sonho por um romântico latifúndio; já o sexo é o MST.

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O amor é mais narcisista, mesmo quando fala em “doação”. Sexo é mais democrático, mesmo
vivendo no egoísmo. Amor e sexo são como a palavra farmakon em grego: remédio e veneno.
Amor pode ser veneno ou remédio. Sexo também – tudo dependendo das posições adotadas.
Amor é um texto. Sexo é um esporte. Amor não exige a presença do “outro”; o sexo, no
mínimo, precisa de uma “mãozinha”. Certos amores nem precisam de parceiro; florescem até
mas sozinhos, na solidão e na loucura. Sexo, não – é mais realista. Nesse sentido, amor é
uma busca de ilusão. Sexo é uma bruta vontade de verdade. Amor muitas vezes e uma
masturbação. Seco, não. O amor vem de dentro, o sexo vem de fora, o amor vem de nós e
demora. O sexo vem dos outros e vai embora. Amor é bossa nova; sexo é carnaval.
Não somos vítimas do amor, só do sexo. “O sexo é uma selva de epiléticos” ou “O amor, se
não for eterno, não era amor” (Nelson Rodrigues). O amor inventou a alma, a eternidade, a
linguagem, a moral. O sexo inventou a moral também do lado de fora de sua jaula, onde ele
ruge. O amor tem algo de ridículo, de patético, principalmente nas grandes paixões. O sexo é
mais quieto, como um caubói – quando acaba a valentia, ele vem e come. Eles dizem: “Faça
amor, não faça a guerra”. Sexo quer guerra. O ódio mata o amor, mas o ódio pode acender o
sexo. Amor é egoísta; sexo é altruísta. O amor quer superar a morte. No sexo, a morte está
ali, nas bocas... O amor fala muito. O sexo grita, geme, ruge, mas não se explica. O sexo
sempre existiu – das cavernas do paraíso até as saunas relax for men. Por outro lado, o amor
foi inventado pelos poetas provinciais do século XII e, depois, revitalizado pelo cinema
americano da direita cristã. Amor é literatura. Sexo é cinema. Amor é prosa; sexo é poesia.
Amor é mulher; sexo é homem – o casamento perfeito é do travesti consigo mesmo. O amor
domado protege a produção. Sexo selvagem é uma ameaça ao bom funcionamento do
mercado. Por isso, a única maneira de controla-lo é programa-lo, como faz a indústria das
sacanagens. O mercado programa nossas fantasias.
Não há saunas relax para o amor. No entanto, em todo bordel, FINGE-SE UM “AMORZINHO”
PARA INICIAR. O amor está virando um “hors-d’oeuvre” para o sexo. O amor busca uma certa
“grandeza”. O sexo sonha com as partes baixas. O PERIGO DO SEXO É QUE VOCÊ PODE
SE APAIXONAR. O PERIGO DO AMOR É VIRAR AMIZADE. Com camisinha, há sexo
seguro, MAS NÃO HÁ CAMISINHA PARA O AMOR. O amor sonha com a pureza. Sexo
precisa do pecado. Amor é o sonho dos solteiros. Sexo, o sonho dos casados. Sexo precisa
da novidade, da surpresa. “O grande amor só se sente no ciúme” (Proust). O grande sexo
sente-se como uma tomada de poder. Amor é de direita. Sexo, de esquerda (ou não,

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dependendo do momento político. Atualmente, sexo é de direita. Nos anos 60, era o contrário.
Sexo era revolucionário e o amor era careta). E por aí vamos. Sexo e amor tentam mesmo é
nos afastar da morte. Ou não; sei lá... e-mails de quem souber para o autor.

Arnaldo Jabor

Mulheres

"Certo dia parei para observar as mulheres e só pude concluir uma coisa: elas não são
humanas. São espiãs. Espiãs de Deus, disfarçadas entre nós.

Pare para refletir sobre o sexto-sentido.


Alguém duvida de que ele exista?

E como explicar que ela saiba exatamente qual mulher, entre as presentes, em uma reunião,
seja aquela que dá em cima de você?

E quando ela antecipa que alguém tem algo contra você, que alguém está ficando doente ou
que você quer terminar o relacionamento?

E quando ela diz que vai fazer frio e manda você levar um casaco? Rio de Janeiro, 40 graus,
você vai pegar um avião pra São Paulo. Só meia-hora de vôo. Ela fala pra você levar um
casaco, porque "vai fazer frio". Você não leva. O que acontece?
O avião fica preso no tráfego, em terra, por quase duas horas, depois que você já entrou,
antes de decolar. O ar condicionado chega a pingar gelo de tanto frio que faz lá dentro!
"Leve um sapato extra na mala, querido.
Vai que você pisa numa poça..."
Se você não levar o "sapato extra", meu amigo, leve dinheiro extra para comprar outro. Pois o
seu estará, sem dúvida, molhado...

O sexto-sentido não faz sentido!

É a comunicação direta com Deus!

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Assim é muito fácil...
As mulheres são mães!

E preparam, literalmente, gente dentro de si.


Será que Deus confiaria tamanha responsabilidade a um reles mortal?

E não satisfeitas em ensinar a vida elas insistem em ensinar a vivê-la, de forma íntegra,
oferecendo amor incondicional e disponibilidade integral.
Fala-se em "praga de mãe", "amor de mãe", "coração de mãe"...

Tudo isso é meio mágico...


Talvez Ele tenha instalado o dispositivo "coração de mãe" nos "anjos da guarda" de Seus
filhos (que, aliás, foram criados à Sua imagem e semelhança).

As mulheres choram. Ou vazam? Ou extravazam?

Homens também choram, mas é um choro diferente. As lágrimas das mulheres têm um não
sei quê que não quer chorar, um não sei quê de fragilidade, um não sei quê de amor, um não
sei quê de tempero divino, que tem um efeito devastador sobre os homens...

É choro feminino. É choro de mulher...

Já viram como as mulheres conversam com os olhos?

Elas conseguem pedir uma à outra para mudar de assunto com apenas um olhar.
Elas fazem um comentário sarcástico com outro olhar.
E apontam uma terceira pessoa com outro olhar.
Quantos tipos de olhar existem?

Elas conhecem todos...

Parece que freqüentam escolas diferentes das que freqüentam os homens!

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E é com um desses milhões de olhares que elas enfeitiçam os homens.

EN-FEI-TI-ÇAM !

E tem mais! No tocante às profissões, por que se concentram nas áreas de Humanas?
Para estudar os homens, é claro!
Embora algumas disfarcem e estudem Exatas...

Nem mesmo Freud se arriscou a adentrar nessa seara. Ele, que estudou, como poucos, o
comportamento humano, disse que a mulher era "um continente obscuro".
Quer evidência maior do que essa?
Qualquer um que ama se aproxima de Deus.
E com as mulheres também é assim.

O amor as leva para perto dEle, já que Ele é o próprio amor. Por isso dizem "estar nas
nuvens", quando apaixonadas.
É sabido que as mulheres confundem sexo e amor.
E isso seria uma falha, se não obrigasse os homens a uma atitude mais sensível e respeitosa
com a própria vida.
Pena que eles nunca verão as mulheres-anjos que têm ao lado.
Com todo esse amor de mãe, esposa e amiga, elas ainda são mulheres a maior parte do
tempo.
Mas elas são anjos depois do sexo-amor.
É nessa hora que elas se sentem o próprio amor encarnado e voltam a ser anjos.
E levitam.
Algumas até voam.
Mas os homens não sabem disso.
E nem poderiam.
Porque são tomados por um encantamento
que os faz dormir nessa hora."

Luís Fernando Veríssimo

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Faleceu ontem a pessoa que atrapalhava sua vida...

Um dia, quando os funcionários chegaram para trabalhar, encontraram na portaria um cartaz


enorme, no qual estava escrito:

"Faleceu ontem a pessoa que atrapalhava sua vida na Empresa. Você está convidado para o
velório na quadra de esportes".

No início, todos se entristeceram com a morte de alguém, mas depois de algum tempo,
ficaram curiosos para saber quem estava atrapalhando sua vida e bloqueando seu
crescimento na empresa. A agitação na quadra de esportes era tão grande, que foi preciso
chamar os seguranças para organizar a fila do velório. Conforme as pessoas iam se
aproximando do caixão, a excitação aumentava:

- Quem será que estava atrapalhando o meu progresso ?


- Ainda bem que esse infeliz morreu !

Um a um, os funcionários, agitados, se aproximavam do caixão, olhavam pelo visor do caixão


a fim de reconhecer o defunto, engoliam em seco e saiam de cabeça abaixada, sem nada
falar uns com os outros. Ficavam no mais absoluto silêncio, como se tivessem sido atingidos
no fundo da alma e dirigiam-se para suas salas. Todos, muito curiosos mantinham-se na fila
até chegar a sua vez de verificar quem estava no caixão e que tinha atrapalhado tanto a cada
um deles.

A pergunta ecoava na mente de todos: "Quem está nesse caixão"?

No visor do caixão havia um espelho e cada um via a si mesmo... Só existe uma pessoa
capaz de limitar seu crescimento: VOCÊ MESMO! Você é a única pessoa que pode fazer a
revolução de sua vida. Você é a única pessoa que pode prejudicar a sua vida. Você é a única
pessoa que pode ajudar a si mesmo. "SUA VIDA NÃO MUDA QUANDO SEU CHEFE MUDA,
QUANDO SUA EMPRESA MUDA, QUANDO SEUS PAIS MUDAM, QUANDO SEU(SUA)
NAMORADO(A) MUDA. SUA VIDA MUDA... QUANDO VOCÊ MUDA! VOCÊ É O ÚNICO

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RESPONSÁVEL POR ELA."

O mundo é como um espelho que devolve a cada pessoa o reflexo de seus próprios
pensamentos e seus atos. A maneira como você encara a vida é que faz toda diferença. A
vida muda, quando "você muda".

Luís Fernando Veríssimo

Dez Coisas que Levei Anos Para Aprender

1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa
pessoa.

2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca
querem que você compartilhe as suas com elas.

3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.

4. A força mais destrutiva do universo é a fofoca.

5. Não confunda nunca sua carreira com sua vida.

6. Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na


mesma noite.

7. Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda
não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria "reuniões".

8. Há uma linha muito tênue entre "hobby" e "doença mental".

9. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito.

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10. Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a
Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.

Luís Fernando Veríssimo

Para se roubar um coração, é preciso que seja com muita habilidade, tem que ser
vagarosamente, disfarçadamente, não se chega com ímpeto,
não se alcança o coração de alguém com pressa.
Tem que se aproximar com meias palavras, suavemente, apoderar-se dele aos poucos, com
cuidado.
Não se pode deixar que percebam que ele será roubado, na verdade, teremos que furtá-lo,
docemente.
Conquistar um coração de verdade dá trabalho,
requer paciência, é como se fosse tecer uma colcha de retalhos, aplicar uma renda em um
vestido, tratar de um jardim, cuidar de uma criança.
É necessário que seja com destreza, com vontade, com encanto, carinho e sinceridade.
Para se conquistar um coração definitivamente
tem que ter garra e esperteza, mas não falo dessa esperteza que todos conhecem, falo da
esperteza de sentimentos, daquela que existe guardada na alma em todos os momentos.
Quando se deseja realmente conquistar um coração, é preciso que antes já tenhamos
conseguido conquistar o nosso, é preciso que ele já tenha sido explorado nos mínimos
detalhes,
que já se tenha conseguido conhecer cada cantinho, entender cada espaço preenchido e
aceitar cada espaço vago.
...e então, quando finalmente esse coração for conquistado, quando tivermos nos apoderado
dele,
vai existir uma parte de alguém que seguirá conosco.
Uma metade de alguém que será guiada por nós
e o nosso coração passará a bater por conta desse outro coração.
Eles sofrerão altos e baixos sim, mas com certeza haverá instantes, milhares de instantes de
alegria.
Baterá descompassado muitas vezes e sabe por que?

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Faltará a metade dele que ainda não está junto de nós.
Até que um dia, cansado de estar dividido ao meio, esse coração chamará a sua outra parte e
alguém por vontade própria, sem que precisemos roubá-la ou furtá-la nos entregará a metade
que faltava.
... e é assim que se rouba um coração, fácil não?
Pois é, nós só precisaremos roubar uma metade,
a outra virá na nossa mão e ficará detectado um roubo então!
E é só por isso que encontramos tantas pessoas pela vida a fora que dizem que nunca mais
conseguiram amar alguém... é simples...
é porque elas não possuem mais coração, eles foram roubados, arrancados do seu peito, e
somente com um grande amor ela terá um novo coração, afinal de contas, corações são para
serem divididos, e com certeza esse grande amor repartirá o dele com você.

Luís Fernando Veríssimo

SEJA UM IDIOTA

A idiotice é vital para a felicidade.

Gente chata essa que quer ser séria, profunda e visceral sempre. Putz! A vida já é um caos,
por que fazermos dela, ainda por cima, um tratado? Deixe a seriedade para as horas em que
ela é inevitável: mortes, separações, dores e afins.

No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota! Ria dos próprios defeitos. E de quem acha
defeitos em você. Ignore o que o boçal do seu chefe disse. Pense assim: quem tem que
carregar aquela cara feia, todos os dias, inseparavelmente, é ele. Pobre dele.

Milhares de casamentos acabaram-se não pela falta de amor, dinheiro, sexo, sincronia, mas
pela ausência de idiotice. Trate seu amor como seu melhor amigo, e pronto.

Quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que tem conselho pra tudo,soluções
sensatas, mas não consegue rir quando tropeça?

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hahahahahahahahaha!...

Alguém que sabe resolver uma crise familiar, mas não tem a menor idéia de como preencher
as horas livres de um fim de semana? Quanto tempo faz que você não vai ao cinema?

É bem comum gente que fica perdida quando se acabam os problemas. E daí,o que elas farão
se já não têm por que se desesperar?

Desaprenderam a brincar. Eu não quero alguém assim comigo. Você quer? Espero que não.

Tudo que é mais difícil é mais gostoso, mas... a realidade já é dura; piora se for densa.

Dura, densa, e bem ruim.

Brincar é legal. Entendeu?

Esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo de não brincar com comida, não falar
besteira, não ser imaturo, não chorar, não andar descalço,não tomar chuva.

Pule corda!

Adultos podem (e devem) contar piadas, passear no parque, rir alto e lamber a tampa do
iogurte.

Ser adulto não é perder os prazeres da vida - e esse é o único "não" realmente aceitável.

Teste a teoria. Uma semaninha, para começar.

Veja e sinta as coisas como se elas fossem o que realmente são:


passageiras. Acorde de manhã e decida entre duas coisas: ficar de mau humor e transmitir
isso adiante ou sorrir...

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Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração!

Aliás, entregue os problemas nas mãos de Deus e que tal um cafezinho gostoso agora?

A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore,dance e viva
intensamente antes que a cortina se feche!

Arnaldo Jabor

Quem não dá assistência, abre concorrência

Você homem da atualidade, vem se surpreendendo diuturnamente com o "nível" intelectual,


cultural e, principalmente, "liberal" de sua mulher, namorada e etc.

Às vezes sequer sabe como agir, e lá no fundinho tem aquele medo de ser traído - ou nos
termos usuais: "corneado". Saiba de uma coisa... esse risco é iminente, a probabilidade disso
acontecer é muito grande, e só cabe a você, e a ninguém mais evitar que isso aconteça ou,
então, assumir seu "chifre" em alto e bom som.

Você deve estar perguntando porque eu gastaria meu precioso tempo falando sobre isso.
Entretanto, a aflição masculina diante da traição vem me chamando a atenção já há tempos.

Mas o que seria uma "mulher moderna"?

A princípio seria aquela que se ama acima de tudo, que não perde (e nem tem) tempo
com/para futilidades, é aquela que trabalha porque acha que o trabalho engrandece, que é
independente sentimentalmente dos outros, que é corajosa, companheira, confidente,
amante...

É aquela que às vezes tem uma crise súbita de ciúmes mas que não tem vergonha nenhuma
em admitir que está errada e correr pros seus braços...

É aquela que consegue ao mesmo tempo ser forte e meiga, desarrumada e linda...

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Enfim, a mulher moderna é aquela que não tem medo de nada nem de ninguém, olha a vida
de frente, fala o que pensa e o que sente, doa a quem doer...

Assim, após um processo "investigatório" junto a essas "mulheres modernas" pude constatar o
pior:

VOCÊ SERÁ (OU É???) "corno", a menos que:

- Nunca deixe uma "mulher moderna" insegura. Antigamente elas choravam. Hoje, elas
simplesmente traem, sem dó nem piedade.

- Não ache que ela tem poderes "adivinhatórios". Ela tem de saber - da sua boca - o quanto
você gosta dela. Qualquer dúvida neste sentido poderá levar às conseqüências expostas
acima.

- Não ache que é normal sair com os amigos (seja pra beber, pra jogar futebol...) mais do que
duas vezes por semana, três vezes então é assinar atestado de "chifrudo". As "mulheres
modernas" dificilmente andam implicando com isso, entretanto elas são categoricamente
"cheias de amor pra dar" e precisam da "presença masculina". Se não for a sua meu amigo...
bem...

- Quando disser que vai ligar, ligue, senão o risco dela ligar pra aquele ex bom de cama é
grandessíssimo.

- Satisfaça-a sexualmente. Mas não finja satisfazê-la. As "mulheres modernas" têm um pique
absurdo com relação ao sexo e, principalmente dos 20 aos 38 anos, elas pensam em - e
querem - fazer sexo todos os dias (pasmem, mas é a pura verdade)...bom, nem precisa dizer
que se não for com você...

- Lhe dê atenção. Mas principalmente faça com que ela perceba isso. Garanhões mau (ou
bem) intencionados sempre existem, e estes quando querem são peritos em levar uma mulher

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às nuvens. Então, leve-a você, afinal, ela é sua ou não é????

Nem pense em provocar "ciuminhos" vãos. Como pude constatar, mulher insegura é uma
máquina colocadora de chifres.

- Em hipótese alguma deixe-a desconfiar do fato de você estar saindo com outra. Essa mera
suposição da parte delas dá ensejo ao um "chifre" tão estrondoso que quando você acordar,
meu amigo, já existirá alguém MUITO MAIS "comedor" do que você...só que o prato principal,
bem...dessa vez é a SUA mulher.

Sabe aquele bonitão que, você sabe, sairia com a sua mulher a qualquer hora. Bem... de
repente a recíproca também pode ser verdadeira. Basta ela, só por um segundo, achar que
você merece...Quando você reparar... já foi.

- Tente estar menos "cansado". A "mulher moderna" também trabalhou o dia inteiro e,
provavelmente, ainda tem fôlego para - como diziam os homens de antigamente - "dar uma",
para depois, virar pro lado e simplesmente dormir.

- Volte a fazer coisas do começo da relação. Se quando começaram a sair viviam se cruzando
em "baladas", "se pegando" em lugares inusitados, trocavam e-mails ou telefonemas picantes,
a chance dela gostar disso é muito grande, e a de sentir falta disso então é imensa. A "mulher
moderna" não pode sentir falta dessas coisas...senão...

Bem amigos, aplica-se, finalmente, o tão famoso jargão "quem não dá assistência, abre
concorrência".

Deste modo, se você está ao lado de uma mulher de quem realmente gosta e tem plena
consciência de que, atualmente o mercado não está pra peixe (falemos de qualidade), pense
bem antes de dar alguma dessas "mancadas"... proteja-a, ame-a, e, principalmente, faça-a
saber disso.

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Ela vai pensar milhões de vezes antes de dar bola pra aquele "bonitão" que vive enchendo-a
de olhares... e vai continuar, sem dúvidas, olhando só pra você!

Arnaldo Jabor

Estamos com fome de amor

Uma vez Renato Russo disse com uma sabedoria ímpar: "Digam o que disserem, o mal do
século é a solidão". Pretensiosamente digo que assino embaixo sem dúvida alguma. Parem
pra notar, os sinais estão batendo em nossa cara todos os dias.

Baladas recheadas de garotas lindas, com roupas cada vez mais micros e transparentes,
danças e poses em closes ginecológicos, chegam sozinhas. E saem sozinhas. Empresários,
advogados, engenheiros que estudaram, trabalharam, alcançaram sucesso profissional e,
sozinhos.

Tem mulher contratando homem para dançar com elas em bailes, os novíssimos "personal
dance", incrível. E não é só sexo não, se fosse, era resolvido fácil, alguém duvida?

Estamos é com carência de passear de mãos dadas, dar e receber carinho sem
necessariamente ter que depois mostrar performances dignas de um atleta olímpico, fazer um
jantar pra quem você gosta e depois saber que vão "apenas" dormir abraçados, sabe, essas
coisas simples que perdemos nessa marcha de uma evolução cega.

Pode fazer tudo, desde que não interrompa a carreira, a produção. Tornamos-nos máquinas e
agora estamos desesperados por não saber como voltar a "sentir", só isso, algo tão simples
que a cada dia fica tão distante de nós.

Quem duvida do que estou dizendo, dá uma olhada no site de relacionamentos Orkut, o
número que comunidades como: "Quero um amor pra vida toda!", "Eu sou pra casar!" até a

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desesperançada "Nasci pra ser sozinho!".

Unindo milhares, ou melhor, milhões de solitários em meio a uma multidão de rostos cada vez
mais estranhos, plásticos, quase etéreos e inacessíveis.

Vivemos cada vez mais tempo, retardamos o envelhecimento e estamos a cada dia mais
belos e mais sozinhos. Sei que estou parecendo o solteirão infeliz, mas pelo contrário, pra
chegar a escrever essas bobagens (mais que verdadeiras) é preciso encarar os fantasmas de
frente e aceitar essa verdade de cara limpa. Todo mundo quer ter alguém ao seu lado, mas
hoje em dia é feio, démodé, brega.

Alô gente! Felicidade, amor, todas essas emoções nos fazem parecer ridículos, abobalhados,
e daí? Seja ridículo, não seja frustrado, "pague mico", saia gritando e falando bobagens, você
vai descobrir mais cedo ou mais tarde que o tempo pra ser feliz é curto, e cada instante que
vai embora não volta.

Mais (estou muito brega!), aquela pessoa que passou hoje por você na rua, talvez nunca mais
volte a vê-la, quem sabe ali estivesse a oportunidade de um sorriso a dois.

Quem disse que ser adulto é ser ranzinza? Um ditado tibetano diz que se um problema é
grande demais, não pense nele e se ele é pequeno demais, pra quê pensar nele. Dá pra ser
um homem de negócios e tomar iogurte com o dedo ou uma advogada de sucesso que adora
rir de si mesma por ser estabanada; o que realmente não dá é continuarmos achando que
viver é out, que o vento não pode desmanchar o nosso cabelo ou que eu não posso me
aventurar a dizer pra alguém: "vamos ter bons e maus momentos e uma hora ou outra, um
dos dois ou quem sabe os dois, vão querer pular fora, mas se eu não pedir que fique comigo,
tenho certeza de que vou me arrepender pelo resto da vida".

Antes idiota que infeliz!

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EU TE AMO... NÃO DIZ TUDO!

Você sabe que é amado(a) porque lhe disseram isso?

A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e palavras.

Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida,

Que zela pela sua felicidade,


Que se preocupa quando as coisas não estão dando certo,

Que se coloca a postos para ouvir suas dúvidas,


E que dá uma sacudida em você quando for preciso.

Ser amado é ver que ele(a) lembra de coisas que você contou dois anos atrás,

É ver como ele(a) fica triste quando você está triste,


E como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo
d'água.

Sente-se amado aquele que não vê transformada a mágoa em munição na hora da discussão.

Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente inteiro.


Aquele que sabe que tudo pode ser dito e compreendido.

Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é,


Sem inventar um personagem para a relação,
Pois personagem nenhum se sustenta muito tempo.

Sente-se amado quem não ofega, mas suspira;


Quem não levanta a voz, mas fala;
Quem não concorda, mas escuta.

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Agora, sente-se e escute: Eu te amo não diz tudo!

A MAIS PURA VERDADE...

A medida que envelheço e convivo com outras, valorizo mais ainda as mulheres que estão
acima dos 30. Elas não se importam com o que você pensa, mas se dispõem de coração se
você tiver a intenção de conversar. Se ela não quer assistir ao jogo de futebol na tv, não fica à
sua volta resmungando, vai fazer alguma coisa que queira fazer...

E geralmente é alguma coisa bem mais interessante. Ela se conhece o suficiente para saber
quem é, o que quer e quem quer. Elas não ficam com quem não confiam. Mulheres se tornam
psicanalistas quando envelhecem.

Você nunca precisa confessar seus pecados... elas sempre sabem... Ficam lindas quando
usam batom vermelho. O mesmo não acontece com mulheres mais jovens... Mulheres mais
velhas são diretas e honestas.

Elas te dirão na cara se você for um idiota, caso esteja agindo como um!

Você nunca precisa se preocupar onde se encaixa na vida dela. Basta agir como homem e o
resto deixe que ela faça... Sim, nós admiramos as mulheres com mais de 30 anos!
Infelizmente isto não é recíproco, pois para cada mulher com mais de 30 anos, estonteante,
bonita, bem apanhada e sexy, existe um careca, pançudo em bermudões amarelos bancando
o bobo para uma garota de 19 anos...

Senhoras, eu peço desculpas! Para todos os homens que dizem: "Porque comprar a vaca, se
você pode beber o leite de graça?", aqui está a novidade para vocês: Hoje em dia 80% das
mulheres são contra o casamento e sabem por quê?

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"Porque as mulheres perceberam que não vale a pena comprar um porco inteiro só para ter
uma lingüiça!". Nada mais justo!

NINGUÉM MAIS NAMORA AS DEUSAS

MULHERES

Outro dia, a Adriane Galisteu deu uma entrevista dizendo que os homens não querem
namorar as mulheres que são símbolos sexuais. É isto mesmo.
Quem ousa namorar a Feiticeira ou a Tiazinha?
As mulheres não são mais para amar; nem para casar. São para "ver".
Que nos prometem elas, com suas formas perfeitas por anabolizantes e silicones?
Prometem-nos um prazer impossível, um orgasmo metafísico, para o qual os homens não
estão preparados...
As mulheres dançam frenéticas na TV, com bundas cada vez mais malhadas, com seios
imensos, girando em cima de garrafas, enquanto os pênis-espectadores se sentem
apavorados e murchos diante de tanta gostosura.
Os machos estão com medo das "mulheres-liquidificador".
O modelo da mulher de hoje, que nossas filhas ou irmãs almejam ser (meu Deus!), é a
prostituta transcendental, a mulher-robô, a "Valentina", a "Barbarela", a máquina-de-prazer
sem alma, turbinas de amor com um hiperatômico tesão.
Que parceiros estão sendo criados para estas pós-mulheres? Não os há.
Os "malhados", os "turbinados" geralmente são bofes-gay, filhos do mesmo narcisismo de
mercado que as criou.
Ou, então, reprodutores como o Zafir, para o Robô-Xuxa.
A atual "revolução da vulgaridade", regada a pagode, parece "libertar" as mulheres.
Ilusão à toa.
A "libertação da mulher" numa sociedade escravista como a nossa deu nisso: Superobjetos.
Se achando livres, mas aprisionadas numa exterioridade corporal que apenas esconde pobres

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meninas famintas de amor, carinho e dinheiro.
São escravas aparentemente alforriadas numa grande senzala sem grades.
Mas, diante delas, o homem normal tem medo.
Elas são "areia demais para qualquer caminhãozinho".
Por outro lado, o sistema que as criou enfraquece os homens.
Eles vivem nervosos e fragilizados com seus pintinhos trêmulos, decadentes, a meia-bomba,
ejaculando precocemente, puxando sacos, lambendo botas, engolindo sapos, sem o antigo
charme "jamesbondiano" dos anos 60.
Não há mais o grande "conquistador".
Temos apenas os "fazendeiros de bundas" como o Huck, enquanto a maioria virou uma
multidão de voyeur, babando por deusas impossíveis.
Ah, que saudades dos tempos das bundinhas e peitinhos "normais" e "disponíveis"...
Pois bem, com certeza a televisão tem criado "sonhos de consumo" descritos tão bem pela
língua ferrenha do Jabor (eu).
Mas ainda existem mulheres de verdade.
Mulheres que sabem se valorizar e valorizar o que tem "dentro de casa", o seu trabalho.
E, acima de tudo, mulheres com quem se possa discutir um gosto pela música, pela cultura,
pela família, sem medo de parecer um "chato" ou um "cara metido a intelectual".
Mulheres que sabem valorizar uma simples atitude, rara nos homens de hoje, como abrir a
porta do carro para elas.
Mulheres que adoram receber cartas, bilhetinhos (ou e-mails) românticos!!
Escutar no som do carro, aquela fitinha velha dos Beegees ou um cd do Kenny G (parece
meio breguinha)...mas é tão boooom namorar escutando estas musiquinhas tranquilas!!!
Penso que hoje, num encontro de um "Turbinado" com uma "Saradona" o papo deve ser do
tipo:
-"meu"... o meu professor falou que posso disputar o Iron Man que vou ganhar fácil!."
-"Ah "meu"..o meu personal Trainner disse que estou com os glúteos bem em forma e que
nunca vou precisar de plástica". E a música???
Só se for o "último sucesso (????)" dos Travessos ou "Chama-chuva..." e o "Vai
serginho"???...
Mulheres do meu Brasil Varonil!!! Não deixem que criem estereótipos!!
Não comprem o cinto de modelar da Feiticeira. A mulher brasileira é linda por natureza!!

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Curta seu corpo de acordo com sua idade, silicone é coisa de americana que não possui a
felicidade de ter um corpo esculpido por Deus e bonito por natureza. E se os seus namorados
e maridos pedirem para vocês "malharem" e ficarem iguais à Feiticeira, fiquem... igual a
feiticeira dos seriados de Tv:
Façam-os sumirem da sua vida!

Arnaldo Jabor

Era uma vez... numa terra muito distante...uma princesa linda, independente e cheia de auto-
estima.
Ela se deparou com uma rã enquanto contemplava a natureza e pensava em como o
maravilhoso lago do seu castelo era relaxante e ecológico...
Então, a rã pulou para o seu colo e disse: linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito.
Uma bruxa má lançou-me um encanto e transformei-me nesta rã asquerosa.
Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar
e constituir lar feliz no teu lindo castelo.
A tua mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavar as minhas
roupas, criar os nossos filhos e seríamos felizes para sempre...
Naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã sautée, acompanhadas de um cremoso
molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria, pensando consigo
mesma:
- Eu, hein?... nem morta!

Luís Fernando Veríssimo

Na hora de cantar todo mundo enche o peito nas boates, nos bares, levanta
os braços, sorri e dispara: ´eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e
todo mundo é meu também´.
No entanto, passado o efeito do uísque com energético e dos beijos
descompromissados, os adeptos da geração ´tribalista´ se dirigem aos
consultórios terapêuticos, ou alugam os ouvidos do amigo mais próximo e
reclamam de solidão, ausência de interesse das pessoas, descaso e rejeição.
A maioria não quer ser de ninguém, mas quer que alguém seja seu.
Não dá, infelizmente, para ficar somente com a cereja do bolo - beijar de língua, namorar e
não ser de ninguém. Para comer a cereja é preciso

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comer o bolo todo e nele, os ingredientes vão além do descompromisso, como:
não receber o famoso telefonema no dia seguinte, não saber se está namorando mesmo
depois de sair um mês com a mesma pessoa, não se importar se o outro estiver beijando
outra, etc, etc, etc.
Desconhece a delícia de assistir a um filme debaixo das cobertas num dia chuvoso comendo
pipoca com chocolate quente, o prazer de dormir junto abraçado, roçando os pés sob as
cobertas e a troca de cumplicidade, carinho e amor.
Namorar é algo que vai muito além das cobranças. É cuidar do outro e ser
cuidado por ele, é telefonar só para dizer bom dia, ter uma boa companhia
para ir ao cinema de mãos dadas, transar por amor, ter alguém para fazer e
receber cafuné, um colo para chorar, uma mão para enxugar lágrimas, enfim, é ter ´alguém
para amar´.. Somos livres para optarmos! E ser livre não é beijar na boca e não ser de
ninguém. É ter coragem, ser autêntico e se permitir viver um sentimento...

Relacionamentos

Sempre acho que namoro, casamento, romance, tem começo, meio e fim. Como tudo na vida.

Detesto quando escuto aquela conversa:


- Ah, terminei o namoro...
- Nossa, estavam juntos há tanto tempo...
- Cinco anos.... que pena... acabou...
- é... não deu certo...

Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou. E o bom da vida, é que você
pode ter vários amores.

Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam.


Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar
cem por cento do outro?
E não temos essa coisa completa.

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Às vezes ela é fiel, mas é devagar na cama.
Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel.
Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador.
Às vezes ela é muito bonita, mas não é sensível.
Tudo junto, não vamos encontrar.

Perceba qual o aspecto mais importante para você e invista nele.


Pele é um bicho traiçoeiro. Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe
mais básico que é uma delícia.

E às vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona...
Acho que o beijo é importante... e se o beijo bate... se joga... se não bate... mais um Martini,
por favor... e vá dar uma volta.

Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra. O outro tem o direito de não te querer.

Não brigue, não ligue, não dê pití. Se a pessoa tá com dúvidas, problema dela, cabe a você
esperar... ou não.

Existe gente que precisa da ausência para querer a presença.


O ser humano não é absoluto.

Ele titubeia, tem dúvidas e medos, mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta. Nada de
drama.
Que graça tem alguém do seu lado sob pressão?

O legal é alguém que está com você, só por você. E vice-versa. Não fique com alguém por
pena. Ou por medo da solidão. Nascemos sós. Morremos sós.

Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado. E quando você acorda, a primeira


impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento.

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Tem gente que pula de um romance para o outro. Que medo é este de se ver só, na sua
própria companhia?

Gostar dói. Muitas vezes você vai sentir raiva, ciúmes, ódio, frustração... Faz parte. Você
convive com outro ser, um outro mundo, um outro universo.

E nem sempre as coisas são como você gostaria que fosse... A pior coisa é gente que tem
medo de se envolver.

Se alguém vier com este papo, corra, afinal você não é terapeuta. Se não quer se envolver,
namore uma planta. É mais previsível.

Na vida e no amor, não temos garantias.


Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar. Nem todo beijo é para romancear.
E nem todo sexo bom é para descartar... ou se apaixonar... ou se culpar...

Enfim...quem disse que ser adulto é fácil ????

Arnaldo Jabor

A amizade é um amor que nunca morre.


A amizade é uma virtude que muitos sabem que existe,
alguns descobrem, mas poucos reconhecem.
A amizade quando é sincera o esquecimento é impossível
A confiança, tal como a arte, não deriva de termos resposta para tudo, mas,
de estarmos abertos a todas as perguntas.
A dor alimenta a coragem. Você não pode ser corajoso se só aconteceram
coisas maravilhosas com você.
A esperança é um empréstimo pedido à felicidade.
A felicidade não é um prêmio, e sim uma conseqüência,
a solidão não é um castigo, e sim um resultado.
A felicidade não está no fim da jornada, e sim em cada curva do caminho que

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percorremos para encontrá-la.
A gente tropeça sempre nas pedras pequenas, porque as grandes a gente logo enxerga.
A glória da amizade não é a mão estendida, nem o sorriso carinhoso, nem mesmo a delicia da
companhia. É a inspiração espiritual que vem quando você descobre que alguém acredita e
confia em você.
A infelicidade tem isto de bom: faz-nos conhecer os verdadeiros amigos.
A inteligência é o farol que nos guia, mas é a vontade que nos faz caminhar.
A maior fraqueza de uma pessoa é trocar aquilo que ela mais deseja na vida, por aquilo que
ele deseja no momento.
A persistência é o caminho do êxito.
A pior solidão é aquela que se sente na companhia de outros.
A SOLIDÃO É UMA GOTA NO OCEANO QUE SÓ OLHA PARA SI MESMA... UMA GOTA
QUE NÃO SABE QUE É OCEANO...
Amigos são a outra parte do oceano que a gota procura...
A tua única obrigação durante toda a tua existência
é seres verdadeiro para contigo próprio.
A verdadeira amizade deixa marcas positivas que o tempo jamais poderá apagar.
A verdadeira amizade é aquela que não pede nada em troca, a não ser a própria amiga.
A verdadeira generosidade é fazer alguma coisa de bom por alguém
que nunca vai descobrir.
A verdadeira liberdade é poder tudo sobre si.
Algumas pessoas acham-se cultas porque comparam sua ignorância com as dos outros.
Amigo de verdade é aquele que transforma um pequeno momento em um grande instante.
Amigo é a luz que não deixa a vida escurecer.
Amigo é aquele que conhece todos os seus segredos e mesmo assim gosta de você!
Amigo é aquele que nos faz sentir melhor e sobre tudo nos faz sentir amados...
Amigo é aquele que, a cada vez, nos faz entrever
a meta e que percorre conosco um trecho do caminho
Amigos são como flores cada um tem o seu encanto por isso cultive-os.
Amizade é como música: duas cordas afinadas no mesmo tom, vibram juntas...
Amizade, palavra que designa vários sentimentos, que não pode ser trocada por meras coisas
materiais... Deve ser guardada e conservada no coração!!!

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As pessoas entram em nossas vidas por acaso, mas não é por acaso que elas permanecem.
Celebrar a vida é somar amigos, experiências e conquistas,
dando-lhes sempre algum significado.
Diante de um obstáculo não cruzes os braços, pois o maior
homem do mundo morreu de braços abertos.
Elogie os amigos em público, critique em particular.
Errar é humano, perdoar é divino.
Evitar a felicidade com medo que ela acabe; é o melhor meio de ser infeliz.
Faça amizade com a bondade das pessoas, nunca com seus bens!
Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente.

Érico Veríssimo

Homem perfeito

Não existe homem fiel. Você já pode ter ouvido isso algumas vezes, mas afirmo com
propriedade. Não é desabafo. É palavra de homem que conhece muitos homens e que
conhecem, por sua vez, muitos homens. Nenhum homem é fiel, mas pode estar fiel (ou
porque está apaixonado (algo que não dura muito tempo - no máximo alguns meses - nem se
iluda) ou porque está cercado por todos os lados (veremos adiante que não adianta cercá-lo
(isso vai se voltar contra você)..A única exceção é o crente extremamente convicto.Se você
quer um homem que seja fiel, procure um crente daqueles bitolados, mas agüente as outras
conseqüências.

Não desanime. O homem é capaz de te trair e de te amar ao mesmo tempo. A traição do


homem é hormonal, efêmera, para satisfazer a lascívia. Não é como a da mulher. Mulher tem
que admirar para trair; ter algum envolvimento. O homem só precisa de uma banda. A mulher
precisa de um motivo para trair, o homem precisa de uma mulher.

Não fique desencantada com a vida por isso. A traição tem seu lado positivo. Até digo, é um
mal necessário. O cara que fica cercado, sem trair, é infeliz no casamento, seu desempenho
sexual diminui (isso mesmo, o desempenho com a esposa diminui), ele fica mal da cabeça.
Entenda de uma vez por todas: homens e mulheres são diferentes. Se quiser alguém que

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pense como você, vire lésbica (várias já fizeram isso e deu certo), ou case com um gay
enrustido que precisa de uma mulher para se enquadrar no modelo social. Todo ser humano
busca a felicidade, a realização. E a realização nada mais é do que a sensação de prazer
(isso é química, está tudo no cérebro).

A mulher se realiza satisfazendo o desejo maternal, com a segurança de ter uma família
estruturada e saudável, com um bom homem ao lado que a proteja e lhe dê carinho. O
homem é mais voltado para a profissão e para a realização pessoal e a realização pessoal
dele vêm de diversas formas: pode vir com o sentimento de paternidade, com uma família
estruturada etc. Mas nunca vai vir se não puder ter acesso a outras fêmeas e se não puder ter
relativo sucesso na profissão.

Se você cercar seu homem (tipo, mulher que é sócia do marido na empresa), o cara não dá
um passo no dia-a-dia (sem ela) você vai sufocá-lo de tal forma que ele pode até não ter
espaço para lhe trair, mas ou seu casamento vai durar pouco, ele vai ser gordo (vai buscar a
fuga na comida) e vai ser pobre (por que não vai ter a cabeça tranqüila para se desenvolver
profissionalmente (vai ser um cara sem ambição e sem futuro).

Não tente mudar para seu homem ser fiel. Não adianta. Silicone, curso de dança sensual, se
vestir de enfermeira etc... Nada disso vai adiantar. É lógico que quanto mais largada você for,
menor a vontade do homem de ficar com você e maior as chances do divórcio. Se perfeição
adiantasse, Julia Roberts não tinha casado três vezes. Até Gisele Bündchen foi largada por Di
Caprio. Não é você que vai ser diferente (mas é bom não desanimar e sempre dar aquela
malhadinha).

O segredo é dar espaço para o homem viajar nos seus desejos (na maioria das vezes,
quando ele não está sufocado pela mulher, ele nem chega a trair, fica só nas paqueras, (troca
de olhares). Finja que não sabe que ele dá umas pegadas por fora. Isso é o segredo para um
bom casamento. Deixe ele se distrair, todos precisam de lazer.

Se você busca o homem perfeito, pode continuar vendo novela das seis. Eles não existem
nesse conceito que você imagina. Os homens perfeitos de hoje são aqueles bem

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desenvolvidos profissionalmente, que traem esporadicamente (uma vez a cada dois meses,
por exemplo), mas que respeitam a mulher, ou seja, não gastam o dinheiro da família com
amantes, não constituem outra família, não traem muitas vezes, não mantêm relações várias
vezes com a mesma mulher (para não criar vínculos) e, sobretudo, são muuuuuito discretos:
não deixam a esposa e nem ninguém da sua relação, como amigas, familiares saberem.

Só, e somente só, um amigo ou outro dele deve saber, faz parte do prazer do homem contar
vantagem sexual. Pegar e não falar para os amigos é pior do que não pegar. As traições do
homem perfeito geralmente são numa escapolida numa boite, ou com uma garota de
programa (usando camisinha e sem fazer sexo oral nela), ou mesmo com uma mulher casada
de passagem por sua cidade. O homem perfeito nunca trai com mulheres solteiras. Elas são
causadoras de problemas. Isso remete ao próximo tópico.

Esse tópico não é para as esposas, é só para as solteiras e amantes.

Esqueçam de uma vez por todas esse negócio de que homem não gosta de mulher fácil.
Homem adora mulher fácil. Se 'der' de prima então, é o máximo.Todo homem sabe que não
existe mulher santa. Se ela está se fazendo de difícil ele parte para outra. A oferta é muito
maior do que a procura. O mercado está cheio de mulher gostosa. O que homem não gosta é
de mulher que liga no dia seguinte. Isso não é ser fácil, é ser problemática (mulher problema).
Ou, como se diz na gíria, é pepino puro. O fato de você não ligar para o homem e ele gostar
de você não quer dizer que foi por você se fazer de difícil, mas sim por você não representar
ameaça para ele.Ele vai ficar com tanta simpatia por você que você pode até conseguir fisgá-
lo e roubá-lo da mulher. Ele vai começar a se envolver sem perceber. Vai começar a te
procurar. Se ele não te procurar, era porque ele só queria aquilo mesmo. Parta para outro e
deixe esse de stand by. Não vá se vingar, você só piora a situação e não lucra nada com isso.
Não se sinta usada, você também fez uso do corpo dele – faz parte do jogo; guarde como um
momento bom de sua vida.

90% dos homens não querem nada sério.Os 10% restantes estão momentaneamente
cansados da vida de balada ou estão ficando com má fama por não estarem casados ou
enamorados; por isso procuram casamento. Portanto, são máximas as chances do homem

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mentir em quase tudo que te fala no primeiro encontro (ele só quer te comer, sempre). Não
seja idiota, aproveite o momento, finja que acredita que ele está apaixonado, dê logo para ele
(e corra o risco de fisgá-lo) ou então nem saia com ele. Fazer doce só agrava a situação.
Estamos em 2007 e não em 1957. Esqueça os conselhos da sua avó, os tempos são outros.

Para ser uma boa esposa e para ter um casamento pelo resto da vida faça o seguinte:Tente
achar o homem perfeito, dê espaço para ele.Não o sufoque. Ele precisa de um tempo para
sua satisfação. Seja uma boa esposa, mantenha-se bonita, malhe, tenha uma profissão (não
seja dona-de-casa), seja independente e mantenha o clima legal em casa. Nada de sufocos,
de 'conversar sobre a relação', de ficar mexendo no celular dele, de ficar apertando o cerco
etc. Você pode até criar 'muros' para ele, mas crie muros invisíveis e não muito altos. Se ele
perceber ou ficar sem saída, vai se sentir ameaçado e o casamento vai começar a ruir.

Se você está revoltada por este texto, aqui vai um conselho: vá tomar uma água e volte para
ler com o espírito desarmado. Se revoltar com o que está escrito não vai resolver nada em
sua vida. Acreditar que o que está aqui é mentira ou exagero pode ser uma boa técnica (iludir-
se faz parte da vida, se você é dessas, boa sorte!). Mas tudo é a pura verdade. Seu
marido/noivo/namorado te ama, tenha certeza, senão não estaria com você, mas trair é como
um remédio; um lubrificante para o motor do carro. Isso é científico. O homem que você deve
buscar para ser feliz é o homem perfeito. Diferente disso, ou é crente, ou gay ou tem algum
trauma (e na maioria dos casos vão ser pobres). O que você procura pode ser impossível de
achar, então, procure algo que você pode achar e seja feliz ao invés de passar a vida inteira
procurando algo indefectível que você nunca vai encontrar. Espero ter ajudado em alguma
coisa.

Arnaldo Jabor

Sempre odiei o que a maioria das pessoas fazem com os seus MSN's.

Não estou falando desta vez dos emoticons insuportáveis que transformaram a leitura em um
jogo de decodificação, mas as declarações de amor, saudades, empolgação traduzidas
através do nick.

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O espaço 'nome' foi criado pela Microsoft para que você digite O NOME que lhe foi dado no
batismo.
Assim seus amigos aparecem de forma ordenada e você não tem que ficar clicando em cima
dos mesmos pra descobrir que 'Vendo Abadá do Chiclete e Ivete' é na verdade Tiago
Carvalho, ou 'Ainda te amo Pedro Henrique' é o MSN de Marcela Cordeiro.
Mas a melhor parte da brincadeira é que normalmente o nick diz muito sobre o estado de
espírito perfil da pessoa. Portanto, toda vez que você encontrar um nick desses por aí, pare
para analisar que você já saberá tudo sobre a pessoa...

'A-M-I-G-A-S o fim de semana foi perfeito!!!' acabou de entrar. Essa com certeza, assim como
as amigas piriguetes (perigosas), terminou o namoro e está encalhadona. Uma semana antes
estava com o nick 'O fim de semana promete'. Quer mostrar pro ex e pros peguetes
(perigosos) que tem vida própria, mas a única coisa que fez no fim de semana foi encher o
rabo de Balalaika, Baikal e Velho Barreiro e beijar umas bocas repetidas.

O pior é que você conhece o casal e está no meio desse 'tiroteio', já que o ex dela é também
conhecido seu, entra com o nick 'Hoje tem mais balada!', tentando impressionar seus amigos
e amigas e as novas presas de sua mira, de que sua vida está mais do que movimentada,
além de tentar fazer raiva na ex.

'Polly em NY' acabou de entrar. Essa com certeza quer que todos saibam que ela está em
uma viagem bacana. Tanto que em breve colocará uma foto da 5ª Avenida no Orkut com a
legenda 'Eu em Nova York'. Por que ninguém bota no Orkut foto de uma viagem feita a Praia-
Grande - SP ?

'Quando Deus te desenhou ele tava namorando' acabou de entrar. Essa pessoa
provavelmente não tem nenhuma criatividade, gosto musical e interesse por cultura. Só ouve
o que está na moda e mais tocada nas paradas de sucesso. Normalmente coloca trechos
como 'Diga que valeuuu' ou 'O Asa Arreia' na época do carnaval.

Por que a vida faz isso comigo?' acabou de entrar. Quando essa pessoa entrar bloqueie

105
imediatamente. Está depressiva porque tomou um pé na bunda e irá te chamar pra ficar
falando sobre o ex.

'Maria Paula ocupada prá c** ' acabou de entrar. Se está ocupada prá c**, por que entrou
cara-pálida? Sempre que vir uma pessoa dessas entrar, puxe papo só pra resenhar; ela não
vai resistir à janelinha azul piscando na telinha e vai mandar o trabalho pro espaço. Com
certeza.

'Paulão, quero você acima de tudo' acabou de entrar. Se ama compre um apartamento e vá
morar com ele. Uma dica: Mulher adora disputar com as amigas. Quanto mais você mostrar
que o tal do Paulão é tudo de bom, maiores são as chances de você ter o olho furado pelas
sua amigas piriguetes (perigosas).

'Marizinha no banho' acabou de entrar. Essa não consegue mais desgrudar do MSN. Até
quando vai beber água troca seu nick para 'Marizinha bebendo água'. Ganhou do pai um
laptop pra usar enquanto estiver no banheiro, mas nunca tem coragem de colocar o nick
'Marizinha matriculando o moleque na natação'.

> > > ' < . ººº< . ººº< / @ || e $ $ ! || |-| @ >ªªª . >ªªª >' acabou de entrar. Essa aí acha que seu
nome é o Código da Vinci pronto a ser decodificado. Cuidado ao conversar: ela pode dizer 'q
vc eh mtu déixxx, q gosta di vc mtuXXX, ti mandá um bjuXX'.

'Galinha que persegue pato morre afogada' acabou de entrar. Essa ai tomou um zig e está
doida pra dar uma coça na piriguete que tá dando em cima do seu ex. Quando está de bem
com a vida, costuma usar outros nicks-provérbios de Dalai Lama, Lair de Souza e cia.

'VENDO ingressos para a Chopada, Camarote Vivo Festival de Verão, ABADÁ DO EVA,
Bonfim Light, bate-volta da vaquejada de Serrinha e LP' acabou de entrar. Essa pessoa está
desesperada pra ganhar um dinheiro extra e acha que a janelinha de 200 x 115 pixels que
sobe no meu computador é espaço publicitário.

'Me pegue pelos cabelos, sinta meu cheiro, me jogue pelo ar, me leve pro seu banheiro...'

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acabou de entrar. Sempre usa um provérbio, trecho de música ou nick sedutores. Adora usar
trechos de funk ou pagode com duplo sentido. Está há 6 meses sem dar um tapa na macaca e
está doida prá arrumar alguém pra fazer o servicinho.

'Danny Bananinha' acabou de entrar. Quer de qualquer jeito emplacar um apelido para si
própria, mas todos insistem em lhe chamar de Melecão, sua alcunha de escola. Adora se
comparar a celebridades gostosas, botar fotos tiradas por si mesma no espelho com os peitos
saindo da blusa rosa. Quer ser famosa. Mas não chegará nem a figurante do Linha Direta.

Bom é isso, se quiserem escrever alguma mensagem, declaração ou qualquer coisa do tipo,
tem o campo certo em opções 'digitem uma mensagem pessoal para que seus contatos a
vejam' ou melhor, fica bem embaixo do campo do nome!! Vamos facilitar!!!!

Arnaldo Jabor

O mundo de hoje é travesti

Está rolando na internet um texto ridículo sobre "mulheres" atribuído a mim.

Sou uma besta, todos o sabem; mas, não chego a esse relincho lamentável do asno que o
escreveu. Diz coisas como: "A mulher tem um cheirinho gostoso, elas sempre encontram um
lugarzinho em nosso ombro." Uma bosta, atribuída a mim. Toda hora um idiota me copia e
joga na rede. Por isso, vou falar um pouco de mulher, eu que mal as entendo na vida. Não
falarei das coxas e seios e bumbuns... Falo de uma aura mais fluida que as percorre.

Gosto do olhar de onça, parado, quando queremos seduzi-las, mesmo sinceramente, pois
elas sabem que a sinceridade é volúvel, não perdura. Um sorriso de descrédito lhes baila na
boca quando lhe fazemos galanteios, mas acreditam assim mesmo, porque elas querem ser
amadas, muito mais que desejadas. Elas estão sempre fora da vida social, mesmo quando
estão dentro.

Podem ser as maiores executivas, mas seu corpo lateja sob o tailleur e lá dentro os órgãos
estranham a estatística e o negócio. Elas querem ser vestidas pelo amor. O amor para elas é

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um lugar onde se sentem seguras, protegidas.

O termômetro das mulheres é: "Estou sendo amada ou não? Esse bocejo, seu rosto
entediado... será que ele me ama ainda?" A mulher não acredita em nosso amor. Quando tem
certeza dele, pára de nos amar. A mulher precisa do homem impalpável, impossível. As
mulheres têm uma queda pelo canalha. O canalha é mais amado que o bonzinho. Ela sofre
com o canalha, mas isso a justifica e engrandece, pois ela tem uma missão amorosa: quer
que o homem a entenda, mas isso está fora de nosso alcance. A mulher pensa por metáforas.

O homem por metonímias. Entenderam? Claro que não. Digo melhor, a mulher compõe
quadros mentais que se montam em um conjunto simbólico sem fim, como a arte. O homem
quer princípio, meio e fim. Não estou falando da mulher sociológica, nem contemporânea,
nem política. Falo de um sétimo órgão que todas têm, de um "ponto g" da alma.

Mulher não tem critério; pode amar a vida toda um vagabundo que não merece ou deixar de
amar instantaneamente um sujeito devoto. Nada mais terrível que a mulher que cessa de te
amar. Você vira um corpo sem órgãos, você vira também uma mulher abandonada.

Toda mulher é "Bovary"... e para serem amadas, instilam medo no coração do homem.
Carinhosas, mas com perigo no ar. A carinhosa total entedia os machos... ficam
claustrofóbicos. O homem só ama profundamente no ciúme. Só o corno conhece o verdadeiro
amor. Mas, curioso, a mulher nunca é corna, mesmo abandonada, humilhada, não é corna. O
homem corneado, carente, é feio de ver. A mulher enganada ganha ares de heroína, quase
uma santidade. É uma fúria de Deus, é uma vingadora, é até suicida. Mas nunca corna. O
homem corno é um palhaço. Ninguém tem pena do corno. O ridículo do corno é que ele
achava que a possuía. A mulher sabe que não tem nada, ela sabe que é um processo de
manutenção permanente. O homem só vira homem quando é corneado.

A mulher não vira nada nunca. Nem nunca é corneada... pois está sempre se sentindo assim.
Como no homossexualismo: a lésbica não é viado.

A mulher é poesia. O homem é prosa. Isso não quer dizer que a mulher seja do bem e o

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homem do mal. Não. Muita vez, seus abismos são venenosos, seu mistério nos mata. A
mulher quer ser possuída, mas não só no sexo, tipo "me come todinha". Falam isso no motel,
para nos animar. O homem é pornográfico; a mulher é amorosa. A pornografia é só para
homens. A mulher quer ser possuída em sua abstração, em sua geografia mutante, a mulher
quer ser descoberta pelo homem para ela se conhecer. Ela é uma paisagem que quer ser
decifrada pelas mãos e bocas dos exploradores. Ela não sabe quem é. Mas elas também não
querem ser opacas, obscuras. Querem descobrir a beleza que cabe a nós revelar-lhes. As
mulheres não sabem o que querem; o homem acha que sabe.

O masculino é certo; o feminino é insolúvel. O homem é espiritual e a mulher é corporal. A


mulher é metafísica; homem é engenharia. A mulher deseja o impossível; desejar o impossível
é sua grande beleza. Ela vive buscando atingir a plenitude e essa luta contra o vazio justifica
sua missão de entrega. Mesmo que essa "plenitude" seja um "living" bem decorado ou o
perfeito funcionamento do lar. O amor exige coragem. E o homem... é mais covarde. O
homem, quando conquista, acha que não tem mais de se esforçar e aí , dança...

A mulher é muito mais exilada das certezas da vida que o homem. Ela é mais profunda que
nós. Ela vive mais desamparada e, no entanto, mais segura. A vida e a morte saem de seu
ventre. Ela faz parte do grande mistério que nós vemos de fora, com o pauzinho inerme. Ela
tem algo de essencial, tem algo a ver com as galáxias. Nós somos um apêndice.

Hoje em dia, as mulheres foram expulsas de seus ninhos de procriação, de sua sexualidade
passiva, expectante e jogadas na obrigação do sexo ativo e masculino. A supergostosa é
homem. É um travesti ao contrário. Alguns dizem que os homens erigiram seus poderes e
instituições apenas para contrariar os poderes originais bem superiores da mulher.

As mulheres sofrem mais com o mal do mundo. Carregam o fardo da dor histórica e social, por
serem mais sensíveis e mais fracas. Os homens, por serem fálicos, escamoteiam a depressão
e a consciência da morte com obsessões bélicas, financeiras ou políticas. As mulheres
agüentam firmes a dor incompreendida. O mundo está tão indeterminado que está ficando
feminino, como uma mulher perdida: nunca está onde pensa estar. O mundo determinista se
fracionou globalmente, como a mulher. Mas não é o mundo delicado, romântico e fértil da

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mulher; é um mundo feminino comandado por homens boçais. Talvez seja melhor dizer um
mundo travesti. O mundo hoje é travesti.

Arnaldo Jabor

A IDIOTICE É VITAL PARA A FELICIDADE

Gente chata essa que quer ser séria, profunda e visceral sempre. Putz! A vida já é um caos,
pq fazermos dela, ainda por cima, um tratado? Deixe a seriedade para as horas em que ela é
inevitável: mortes, separações, dores e afins. No dia-a-dia, pelo amor de deus, seja idiota! Ria
dos próprios defeitos. E de quem acha defeitos em vc. Ignore o que o boçal do seu chefe
disse.

Pense assim: quem tem que carregar aquela cara feia, todos os dias, inseparavelmente é ele,
pobre dele! Milhares de casamentos acabaram-se não pela falta de amor, dinheiro, sexo,
sincronia, mas pela ausencia de idiotice. Trate seu amor como seu melhor amigo, e ponto.
Quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que tem conselhos para tudo, soluções
sensatas, mas não consegue rir quando tropeça?

Hahahaha. Alguem que sabe resolver uma crise familiar, mas não tem a menor idéia de como
preencher as horas livres de um fim de semana? Qto tempo faz que vc não vai ao cinema? É
bem comum gente que fica perdida quando se acabam os problemas. E dai, o que elas farão
se já não têm pq se desesperar? Desaprenderam a brincar. Eu não quero alguém assim
comigo. Vc quer? espero que não. Tudo o que é mais difícil é mais gostoso, mas... a realidade
já é dura, piora se for densa. Dura, densa e bem ruim.

Brincar é legal. Entendeu? esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo de não
brincar com comida, não falar besteiras, não ser imaturo, não chorar, não andar descalço, não
tomar chuva. Pule corda! Adultos podem (e devem) contar piadas, passear no parque, rir alto
e lamber a tampa do iogurte. Ser adulto não é perder os prazeres da vida - e esse é o único
"não" realmente aceitável. Teste a teoria. Uma semaninha, para começar. Veja e sinta as
coisas como se elas fossem o que realmente são: passageiras.

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Acorde de manhã e decida entre duas coisas: ficar de mau humor e transmitir isso adiante ou
sorrir... Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração! Alias,
entregue os problemas nas mãos de Deus e que tal um cafezinho gostoso agora? "a vida é
uma peça de teatro que não permite ensaios" "por isso cante, chore, dance e viva
intensamente antes que a cortina se feche".

Arnaldo Jabor

O amor impossível é o verdadeiro amor

Outro dia escrevi um artigo sobre o amor. Depois, escrevi outro sobre sexo.

Os dois artigos mexeram com a cabeça de pessoas que encontro na rua e que me agarram,
dizendo: "Mas... afinal, o que é o amor?" E esperam, de olho muito aberto, uma resposta
"profunda". Sei apenas que há um amor mais comum, do dia-a-dia, que é nosso velho
conhecido, um amor datado, um amor que muda com as décadas, o amor prático que rege o
"eu te amo" ou "não te amo". Eu, branco, classe média, brasileiro, já vi esse amor mudar
muito. Quando eu era jovem, nos anos 60/70, o amor era um desejo romântico, um sonho
político, contra o sistema, amor da liberdade, a busca de um "desregramento dos sentidos".
Depois, nos anos 80/90 foi ficando um amor de consumo, um amor de mercado, uma
progressiva apropriação indébita do "outro". O ritmo do tempo acelerou o amor, o dinheiro
contabilizou o amor, matando seu mistério impalpável. Hoje, temos controle, sabemos por que
"amamos", temos medo de nos perder no amor e fracassar na produção. A cultura americana
está criando um "desencantamento" insuportável na vida social. O amor é a recusa desse
desencanto. O amor quer o encantamento que os bichos têm, naturalmente.
Por isso, permitam-me hoje ser um falso "profundo" (tratar só de política me mata...) e falar de
outro amor, mais metafísico, mais seminal, que transcende as décadas, as modas. Esse amor
é como uma demanda da natureza ou, melhor, do nosso exílio da natureza. É um amor quase
como um órgão físico que foi perdido. Como escreveu o Ferreira Gullar outro dia, num genial
poema publicado sobre a cor azul, que explica indiretamente o que tento falar: o amor é algo
"feito um lampejo que surgiu no mundo/ essa cor/ essa mancha/ que a mim chegou/ de detrás
de dezenas de milhares de manhãs/ e noites estreladas/ como um puído aceno humano/
mancha azul que carrego comigo como carrego meus cabelos ou uma lesão oculta onde

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ninguém sabe".

Pois, senhores, esse amor existe dentro de nós como uma fome quase que "celular". Não
nasce nem morre das "condições históricas"; é um amor que está entranhado no DNA, no
fundo da matéria. É uma pulsão inevitável, quase uma "lesão oculta" dos seres expulsos da
natureza. Nós somos o único bicho "de fora", estrangeiro. Os bichos têm esse amor, mas nem
sabem.

(Estou sendo "filosófico", mas... tudo bem... não perguntaram?) Esse amor bate em nós como
os frêmitos primordiais das células do corpo e como as fusões nucleares das galáxias; esse
amor cria em nós a sensação do Ser, que só é perceptível nos breves instantes em que
entramos em compasso com o universo. Nosso amor é uma reprodução ampliada da cópula
entre o espermatozóide e óvulo se interpenetrando. Por obra do amor, saímos do ventre e
queremos voltar, queremos uma "reintegração de posse" de nossa origem celular, indo até a
dança primitiva das moléculas. Somos grandes células que querem se re-unir, separados pelo
sexo, que as dividiu. ("Sexo" vem de "secare" em latim: separar, cortar.) O amor cria
momentos em que temos a sensação de que a "máquina do mundo" ou a máquina da vida se
explica, em que tudo parece parar num arrepio, como uma lembrança remota. Como disse
Artaud, o louco, sobre a arte (ou o amor) : "A arte não é a imitação da vida. A vida é que é a
imitação de algo transcendental com que a arte nos põe em contato." E a arte não é a
linguagem do amor? E não falo aqui dos grandes momentos de paixão, dos grandes
orgasmos, dos grande beijos - eles podem ser enganosos. Falo de brevíssimos instantes de
felicidade sem motivo, de um mistério que subitamente parece revelado. Há, nesse amor, uma
clara geometria entre o sentimento e a paisagem, como na poesia de Francis Ponge, quando
o cabelo da amada se liga aos pinheiros da floresta ou quando o seu brilho ruivo se une com o
sol entre os ramos das árvores ou entre as tranças da mulher amada e tudo parece decifrado.
Mas, não se decifra nunca, como a poesia. Como disse alguém: a poesia é um desejo de
retorno a uma língua primitiva. O amor também. Melhor dizendo: o amor é essa tentativa de
atingir o impossível, se bem que o "impossível" é indesejado hoje em dia; só queremos o
controlado, o lógico. O amor anda transgênico, geneticamente modificado, fast love.

Escrevi outro dia que "o amor vive da incompletude e esse vazio justifica a poesia da entrega.

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Ser impossível é sua grande beleza. Claro que o amor é também feito de egoísmos, de
narcisismos mas, ainda assim, ele busca uma grandeza - mesmo no crime de amor há um
terrível sonho de plenitude. Amar exige coragem e hoje somos todos covardes".

Mas, o fundo e inexplicável amor acontece quando você "cessa", por brevíssimos instantes. A
possessividade cessa e, por segundos, ela fica compassiva. Deixamos o amado ser o que é e
o outro é contemplado em sua total solidão. Vemos um gesto frágil, um cabelo molhado, um
rosto dormindo, e isso desperta em nós uma espécie de "compaixão" pelo nosso desamparo.

Esperamos do amor essa sensação de eternidade. Queremos nos enganar e achar que
haverá juventude para sempre, queremos que haja sentido para a vida, que o mistério da
"falha" humana se revele, queremos esquecer, melhor, queremos "não-saber" que vamos
morrer, como só os animais não sabem. O amor é uma ilusão sem a qual não podemos viver.
Como os relâmpagos, o amor nos liga entre a Terra e o céu. Mas, como souberam os grandes
poetas como Cabral e Donne, a plenitude do amor não nos faz virar "anjos", não. O amor não
é da ordem do céu, do espírito. O amor é uma demanda da terra, é o profundo desejo de
vivermos sem linguagem, sem fala, como os animais em sua paz absoluta. Queremos atingir
esse "absoluto", que está na calma felicidade dos animais.

Arnaldo Jabor

DAR NÃO É FAZER AMOR

Dar é dar.
Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido.
Mas dar é bom pra cacete.
Dar é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca...
Te chama de nomes que eu não escreveria...
Não te vira com delicadeza...
Não sente vergonha de ritmos animais. Dar é bom.
Melhor do que dar, só dar por dar.
Dar sem querer casar....
Sem querer apresentar pra mãe...

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Sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo.
Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral...
Te amolece o gingado...
Te molha o instinto.
Dar porque a vida é estressante e dar relaxa.
Dar porque se você não der para ele hoje, vai dar amanhã, ou depois de amanhã.
Tem pessoas que você vai acabar dando, não tem jeito.
Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos, sem
esperar ouvir futuro.
Dar é bom, na hora.
Durante um mês.
Para os mais desavisados, talvez anos.

Mas dar é dar demais e ficar vazio.


Dar é não ganhar.
É não ganhar um eu te amo baixinho perdido no meio do escuro.
É não ganhar uma mão no ombro quando o caos da cidade parece querer te abduzir.
É não ter alguém pra querer casar, para apresentar pra mãe, pra dar
o primeiro abraço de Ano Novo e pra falar:
"Que que cê acha amor?".
É não ter companhia garantida para viajar.
É não ter para quem ligar quando recebe uma boa notícia.
Dar é não querer dormir encaixadinho...
É não ter alguém para ouvir seus dengos...
Mas dar é inevitável, dê mesmo, dê sempre, dê muito.

Mas dê mais ainda, muito mais do que qualquer coisa, uma chance ao amor.
Esse sim é o maior tesão.
Esse sim relaxa, cura o mau humor, ameniza todas as crises e faz você flutuar

Experimente ser amado...

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"A vida é a arte de tirar conclusões suficientes de dados insuficientes"

Luís Fernando Veríssimo

OS HOMENS DESEJAM AS MULHERES QUE NÃO EXISTEM

Está na moda - muitas mulheres ficam em acrobáticas posições ginecológicas para raspar os
pêlos pubianos nos salões de beleza. Ficam penduradas em paus-de-arara e, depois, saem
felizes com apenas um canteirinho de cabelos, como um jardinzinho estreito, a vereda
indicativa de um desejo inofensivo e não mais as agressivas florestas que podem nos
assustar. Parecem uns bigodinhos verticais que (oh, céus!...) me fazem pensar em... Hitler.
Silicone, pêlos dourados, bumbuns malhados, tudo para agradar aos consumidores do
mercado sexual. Olho as revistas povoadas de mulheres lindas... e sinto uma leve depressão,
me sinto mais só, diante de tanta oferta impossível. Vejo que no Brasil o feminismo se
vulgarizou numa liberdade de "objetos", produziu mulheres livres como coisas, livres como
produtos perfeitos para o prazer. A concorrência é grande para um mercado com poucos
consumidores, pois há muito mais mulher que homens na praça (e-mails indignados virão...)
Talvez este artigo seja moralista, talvez as uvas da inveja estejam verdes, mas eu olho as
revistas de mulher nua e só vejo paisagens; não vejo pessoas com defeitos, medos. Só vejo
meninas oferecendo a doçura total, todas competindo no mercado, em contorções eróticas
desesperadas porque não têm mais o que mostrar. Nunca as mulheres foram tão nuas no
Brasil; já expuseram o corpo todo, mucosas, vagina, ânus.
O que falta? Órgãos internos? Que querem essas mulheres? Querem acabar com nossos
lares? Querem nos humilhar com sua beleza inconquistável? Muitas têm boquinhas tímidas,
algumas sugerem um susto de virgens, outras fazem cara de zangadas, ferozes gatas, mas
todas nos olham dentro dos olhos como se dissessem: "Venham... eu estou sempre pronta,
sempre alegre, sempre excitada, eu independo de carícias, de romance!..."
Sugerem uma mistura de menina com vampira, de doçura com loucura e todas ostentam uma
falsa tesão devoradora. Elas querem dinheiro, claro, marido, lugar social, respeito, mas posam
como imaginam que os homens as querem.
Ostentam um desejo que não têm e posam como se fossem apenas corpos sem vida interior,
de modo a não incomodar com chateações os homens que as consomem.

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A pessoa delas não tem mais um corpo; o corpo é que tem uma pessoa, frágil, tênue,
morando dentro dele.
Mas, que nos prometem essas mulheres virtuais? Um orgasmo infinito? Elas figuram ser
odaliscas de um paraíso de mercado, último andar de uma torre que os homens atingiriam
depois de suas Ferraris, seus Armanis, ouros e sucesso; elas são o coroamento de um
narcisismo yuppie, são as 11 mil virgens de um paraíso para executivos. E o problema
continua: como abordar mulheres que parecem paisagens?
Outro dia vi a modelo Daniela Cicarelli na TV. Vocês já viram essa moça? É a coisa mais linda
do mundo, tem uma esfuziante simpatia, risonha, democrática, perfeita, a imensa boca rósea,
os "olhos de esmeralda nadando em leite" (quem escreveu isso?), cabelos de ouro seco, seios
bíblicos, como uma imensa flor de prazeres. Olho-a de minha solidão e me pergunto: "Onde
está a Daniela no meio desses tesouros perfeitos? Onde está ela?" Ela deve ficar perplexa
diante da própria beleza, aprisionada em seu destino de sedutora, talvez até com um vago
ciúme de seu próprio corpo. Daniela é tão linda que tenho vontade de dizer: "Seja feia..."
Queremos percorrer as mulheres virtuais, visitá-las, mas, como conversar com elas? Com
quem? Onde estão elas? Tanta oferta sexual me angustia, me dá a certeza de que nosso
sexo é programado por outros, por indústrias masturbatórias, nos provocando desejo para me
vender satisfação. É pela dificuldade de realizar esse sonho masculino que essas moças
existem, realmente. Elas existem, para além do limbo gráfico das revistas. O contato com elas
revela meninas inseguras, ou doces, espertas ou bobas mas, se elas pudessem expressar
seus reais desejos, não estariam nas revistas sexy, pois não há mercado para mulheres
amando maridos, cozinhando felizes, aspirando por namoros ternos. Nas revistas, são tão
perfeitas que parecem dispensar parceiros, estão tão nuas que parecem namoradas de si
mesmas. Mas, na verdade, elas querem amar e ser amadas, embora tenham de ralar nos
haréns virtuais inventados pelos machos. Elas têm de fingir que não são reais, pois ninguém
quer ser real hoje em dia - foi uma decepção quando a Tiazinha se revelou ótima dona de
casa na Casa dos Artistas, limpando tudo numa faxina compulsiva.
Infelizmente, é impossível tê-las, porque, na tecnologia da gostosura, elas se artificializam
cada vez mais, como carros de luxo se aperfeiçoando a cada ano. A cada mutação erótica,
elas ficam mais inatingíveis no mundo real. Por isso, com a crise econômica, o grande
sucesso são as meninas belas e saradas, enchendo os sites eróticos da internet ou nas
saunas relax for men, essa réplica moderna dos haréns árabes. Essas lindas mulheres são

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pagas para não existir, pagas para serem um sonho impalpável, pagas para serem uma
ilusão. Vi um anúncio de boneca inflável que sintetizava o desejo impossível do homem de
mercado: ter mulheres que não existam... O anúncio tinha o slogan em baixo: "She needs no
food nor stupid conversation." Essa é a utopia masculina: satisfação plena sem sofrimento ou
realidade.
A democracia de massas, mesclada ao subdesenvolvimento cultural, parece "libertar" as
mulheres. Ilusão à toa. A "libertação da mulher" numa sociedade ignorante como a nossa deu
nisso: superobjetos se pensando livres, mas aprisionadas numa exterioridade corporal que
apenas esconde pobres meninas famintas de amor e dinheiro. A liberdade de mercado
produziu um estranho e falso "mercado da liberdade". É isso aí. E ao fechar este texto, me
assalta a dúvida: estou sendo hipócrita e com inveja do erotismo do século 21? Será que fui
apenas barrado do baile?

Arnaldo Jabor

Chegou o verão!

Verão também é sinônimo de pouca roupa e muito chifre, pouca cintura


e muita gordura, pouco trabalho e muita micose.

Verão é picolé de Kisuco no palito reciclado, é milho cozido na água


da torneira, é coco verde aberto pra comer a gosminha branca.

Verão é prisão de ventre de uma semana e pé inchado que não entra no


tênis.

Mas o principal ponto do verão é.... A praia!

Ah, como é bela a praia.

Os cachorros fazem cocô e as crianças pegam pra fazer coleção.

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Os casais jogam frescobol e acertam a bolinha na cabeça das véias.

Os jovens de jet ski atropelam os surfistas, que por sua vez, miram a
prancha pra abrir a cabeça dos banhistas.

O melhor programa pra quem vai à praia é chegar bem cedo, antes do
sorveteiro, quando o sol ainda está fraco e as famílias estão
chegando.

Muito bonito ver aquelas pessoas carregando vinte cadeiras, três


geladeiras de isopor, cinco guarda-sóis, raquete, frango, farofa,
toalha, bola, balde, chapéu e prancha, acreditando que estão de
férias.

Em menos de cinqüenta minutos, todos já estão instalados, besuntados


e prontos pra enterrar a avó na areia.

E as crianças? Ah, que gracinhas! Os bebês chorando de desidratação,


as crianças pequenas se socando por uma conchinha do mar, os
adolescentes ouvindo walkman enquanto dormem.

As mulheres também têm muita diversão na praia, como buscar o filho


afogado e caminhar vinte quilômetros pra encontrar o outro pé do
chinelo.

Já os homens ficam com as tarefas mais chatas, como furar a areia pra
fincar o cabo do guarda-sol.

É mais fácil achar petróleo do que conseguir fazer o guarda-sol ficar


em pé.

Mas tudo isso não conta, diante da alegria, da felicidade, da

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maravilha que é entrar no mar!

Aquela água tão cristalina, que dá pra ver os cardumes de latinha de


cerveja no fundo.

Aquela sensação de boiar na salmoura como um pepino em conserva.

Depois de um belo banho de mar, com o rego cheio de sal e a periquita


cheia de areia, vem àquela vontade de fritar na chapa.

A gente abre a esteira velha, com o cheiro de velório de bode, bota o


chapéu, os óculos escuros e puxa um ronco bacaninha.

Isso é paz, isso é amor, isso é o absurdo do calor!!!!!

Mas, claro, tudo tem seu lado bom.

E à noite o sol vai embora.

Todo mundo volta pra casa tostado e vermelho como mortadela, toma
banho e deixa o sabonete cheio de areia pro próximo.

O shampoo acaba e a gente acaba lavando a cabeça com qualquer coisa,


desde creme de barbear até desinfetante de privada.

As toalhas, com aquele cheirinho de mofo que só a casa da praia


oferece.

Aí, uma bela macarronada pra entupir o bucho e uma dormidinha na rede
pra adquirir um bom torcicolo e ralar as costas queimadas.

O dia termina com uma boa rodada de tranca e uma briga em família.

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Todo mundo vai dormir bêbado e emburrado, babando na fronha e
torcendo, pra que na manhã seguinte, faça aquele sol e todo mundo
possa se encontrar no mesmo inferno tropical...

Luís Fernando Veríssimo

EU TE AMO... NÃO DIZ TUDO!

Você sabe que é amado(a) porque lhe disseram isso?

A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e palavras.

Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida,

Que zela pela sua felicidade,


Que se preocupa quando as coisas não estão dando certo,

Que se coloca a postos para ouvir suas dúvidas,


E que dá uma sacudida em você quando for preciso.

Ser amado é ver que ele(a) lembra de coisas que você contou dois anos atrás,

É ver como ele(a) fica triste quando você está triste,


E como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo
d'água.

Sente-se amado aquele que não vê transformada a mágoa em munição na hora da discussão.

Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente inteiro.


Aquele que sabe que tudo pode ser dito e compreendido.

Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é,

120
Sem inventar um personagem para a relação,
Pois personagem nenhum se sustenta muito tempo.

Sente-se amado quem não ofega, mas suspira;


Quem não levanta a voz, mas fala;
Quem não concorda, mas escuta.

Agora, sente-se e escute: Eu te amo não diz tudo!

Arnaldo Jabor

SEJA FELIZ E PRONTO...

A idiotice é vital para a felicidade. Gente chata essa que quer ser séria, profunda e visceral
sempre.

A vida já é um caos, por que fazermos dela, ainda por cima, um tratado? Deixe a seriedade
para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações,
dores e afins.

No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota! Ria dos próprios defeitos. E de quem acha
defeitos em você.

Milhares de casamentos acabaram-se não pela falta de amor, dinheiro, sexo, sincronia, mas
pela ausência de idiotice. Trate seu amor como seu melhor amigo, e pronto.

Quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que tem conselho pra tudo, soluções
sensatas, mas não consegue rir quando tropeça?

Ha ha ha ha ha ha ha ha!

Alguém que sabe resolver uma crise familiar, mas não tem a menor idéia de como preencher
as horas livres de um fim de semana?

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É bem comum gente que fica perdida quando se acabam os problemas. E daí, o que elas
farão se já não têm por que se desesperar?

Tudo que é mais difícil é mais gostoso, mas... A realidade já é dura; piora se for densa. Dura,
densa, e bem ruim.

Brincar é legal. Entendeu?

Esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo de não brincar com comida, não falar
besteira, não ser imaturo, não chorar, não andar descalço, não tomar chuva.

Pule corda! Adultos podem (e devem) contar piadas, passear no parque, rir alto e lamber a
tampa do iogurte.

Ser adulto não é perder os prazeres da vida - e esse é o único "não" realmente aceitável.
Teste a teoria.

Uma semaninha, para começar. Veja e sinta as coisas como se elas fossem o que realmente
são: passageiras.

Acorde de manhã e decida entre duas coisas: ficar de mau humor e transmitir isso adiante ou
sorrir...

Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração!

Aliás, entregue os problemas nas mãos de Deus, confie e espere só NELE e pra relaxar que
tal um cafezinho gostoso agora?

"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios". "Por isso cante, chore, dance e viva
intensamente antes que a cortina se feche".

122
Seja você mesmo sempre e VIVA A VIDA!!!!

Arnaldo Jabor

O cara faz um esforço desgraçado para ficar rico pra quê?

O sujeito quer ficar famoso pra quê?

O indivíduo malha, faz exercícios pra quê?

A verdade é que é a mulher o objetivo do homem.

Tudo que eu quis dizer é que o homem vive em função da mulher.

Vivem e pensam em mulher o dia inteiro, a vida inteira.

Se a mulher não existisse, o mundo não teria ido pra frente.

Homem algum iria fazer alguma coisa na vida para impressionar outro homem, para
conquistar sujeito igual a ele, de bigode e tudo.

Um mundo só de homens seria o grande erro da criação.

Já dizia a velha frase que 'atrás de todo homem bem-sucedido existe uma grande mulher'.
O dito está envelhecido. Hoje eu diria que 'na frente de todo homem bem-sucedido existe uma
grande mulher'.

É você, mulher, quem impulsiona o mundo.

É você quem tem o poder, e não o homem

É você quem decide a compra do apartamento, a cor do carro, o filme a ser visto, o local das

123
férias.

Bendita a hora em que você saiu da cozinha e, bem-sucedida, ficou na frente de todos os
homens.

E, se você que está lendo isto aqui for um homem, tente imaginar a sua vida sem nenhuma
mulher.

Aí na sua casa, onde você trabalha, na rua. Só homens.

Já pensou?

Um casamento sem noiva?

Um mundo sem sogras?

Enfim, um mundo sem metas.

ALGUNS MOTIVOS PELOS QUAIS OS HOMENS GOSTAM TANTO DE MULHERES:

1- O cheirinho delas é sempre gostoso, mesmo que seja só xampu.

2- O jeitinho que elas têm de sempre encontrar o lugarzinho certo em nosso ombro, nosso
peito.

3- A facilidade com a qual cabem em nossos braços.

4- O jeito que tem de nos beijar e, de repente, fazer o mundo ficar


perfeito.

5- Como são encantadoras quando comem.

124
6- Elas levam horas para se vestir, mas no final vale a pena.

7- Porque estão sempre quentinhas, mesmo que esteja fazendo trinta graus abaixo de zero lá
fora.

8- Como sempre ficam bonitas, mesmo de jeans com camiseta e


rabo-de-cavalo.

9- Aquele jeitinho sutil de pedir um elogio.

10- O modo que tem de sempre encontrar a nossa mão.

11- O brilho nos olhos quando sorriem.

12- O jeito que tem de dizer 'Não vamos brigar mais, não..'

13- A ternura com que nos beijam quando lhes fazemos uma delicadeza.

14- O modo de nos beijarem quando dizemos 'eu te amo'.

15- Pensando bem, só o modo de nos beijarem já basta.

16- O modo que têm de se atirar em nossos braços quando choram.

17- O fato de nos darem um tapa achando que vai doer.

18- O jeitinho de dizerem 'estou com saudades'.

19- As saudades que sentimos delas.

20- A maneira que suas lágrimas tem de nos fazer querer mudar o mundo para que mais nada
lhes cause dor.

125
Arnaldo Jabor

pra mim.
Você é inteligente. Lê livros,revistas,jornais. Gosta dos
filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica
também tem seu valor. É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de
xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no
banco. Gosta de
viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível. Você tem
bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse , criatura, por
que está sem um amor?
Ah, o amor, essa raposa...
Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação
matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.
Não funciona assim. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se
justamente pelo que o Amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos
têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, ta assim, ó!
Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é!
Pense nisso".

Arnaldo Jabor

Não acredito em pessoas que se complementam. Acre"Ninguém ama outra pessoa pelas
qualidades que ela tem, caso contrário, os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma
fila de pretendentes batendo a porta.
O amor não é chegado em fazer contas, não obedece à razão.
O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.
Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são

referênciais.
Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.
Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam,
pela fragilidade que se revela quando menos se espera.
Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas

126
que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.
Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você
abomina o Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam.
Então?
Então que ela tem um jeito de sorrir que o deixa mobilizado, o beijo dela é mais viciante do
que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você.
Isso tem nome.
Você ama aquele cafajeste.
Ele diz que vai ligar e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não
emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a
menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.
Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito
manteiga.
Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas.
Por que você ama este cara? Não pergunte dito em pessoas que se somam.
Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar
cem por cento do outro?
Existe gente que precisa da ausência para querer a presença.
O ser humano não é absoluto. Ele titubeia, tem dúvidas e medos, mas se a pessoa
REALMENTE gostar, ela volta.
Nada de drama.

Arnaldo Jabor

Cinema é melhor pra saúde do que pipoca!


Conversa é melhor do que piada.
Exercício é melhor do que cirurgia.
Humor é melhor do que rancor.
Amigos são melhores do que gente influente.
Economia é melhor do que dívida.
Pergunta é melhor do que dúvida.
Sonhar é melhor do que NADA!

127
Luís Fernando Veríssimo

NOSSOS DIAS MELHORES NUNCA VIRÃO?

Ando em crise, numa boa, nada de grave. Mas, ando em crise com o tempo. Que estranho
"presente" é este que vivemos hoje, correndo sempre por nada, como se o tempo tivesse
ficado mais rápido do que a vida, como se nossos músculos, ossos e sangue estivessem
correndo atrás de um tempo mais rápido.

As utopias liberais do século 20 diziam que teríamos mais ócio, mais paz com a tecnologia.
Acontece que a tecnologia não está aí para distribuir sossego, mas para incrementar
competição e produtividade, não só das empresas, mas a produtividade dos humanos, dos
corpos. Tudo sugere velocidade, urgência, nossa vida está sempre aquém de alguma tarefa.
A tecnologia nos enfiou uma lógica produtiva de fábricas, fábricas vivas, chips, pílulas para
tudo.

Temos de funcionar, não de viver. Por que tudo tão rápido? Para chegar aonde? A este
mundo ridículo que nos oferecem, para morrermos na busca da ilusão narcisista de que
vivemos para gozar sem parar? Mas gozar como? Nossa vida é uma ejaculação precoce.
Estamos todos gozando sem fruição, um gozo sem prazer, quantitativo. Antes, tínhamos
passado e futuro; agora, tudo é um "enorme presente", na expressão de Norman Mailer. E
este "enorme presente" é reproduzido com perfeição técnica cada vez maior, nos fazendo
boiar num tempo parado, mas incessante, num futuro que "não pára de não chegar".

Antes, tínhamos os velhos filmes em preto-e-branco, fora de foco, as fotos amareladas, que
nos davam a sensação de que o passado era precário e o futuro seria luminoso. Nada. Nunca
estaremos no futuro. E, sem o sentido da passagem dos dias, da sucessibilidade de
momentos, de começo e fim, ficamos também sem presente, vamos perdendo a noção de
nosso desejo, que fica sem sossego, sem noite e sem dia. Estamos cada vez mais em
trânsito, como carros, somos celulares, somos circuitos sem pausa, e cada vez mais nossa
identidade vai sendo programada. O tempo é uma invenção da produção. Não há tempo para
os bichos. Se quisermos manhã, dia e noite, temos de ir morar no mato.

128
Há alguns anos, eu vi um documentário chamado Tigrero, do cineasta finlandês Mika
Kaurismaki e do Jim Jarmusch sobre um filme que o Samuel Fuller ia fazer no Brasil, em
1951. Ele veio, na época, e filmou uma aldeia de índios no interior do Mato Grosso. A
produção não rolou e, em 92, Samuel Fuller, já com 83 anos, voltou à aldeia e exibiu para os
índios o material colorido de 50 anos atrás. E também registrou, hoje, os índios vendo seu
passado na tela. Eles nunca tinham visto um filme e o resultado é das coisas mais lindas e
assustadoras que já vi.

Eu vi os índios descobrindo o tempo. Eles se viam crianças, viam seus mortos, ainda vivos e
dançando. Seus rostos viam um milagre. A partir desse momento, eles passaram a ter
passado e futuro. Foram incluídos num decorrer, num "devir" que não havia. Hoje, esses
índios estão em trânsito entre algo que foram e algo que nunca serão. O tempo foi uma
doença que passamos para eles, como a gripe. E pior: as imagens de 50 anos é que pareciam
mostrar o "presente" verdadeiro deles. Eram mais naturais, mais selvagens, mais puros
naquela época. Agora, de calção e sandália, pareciam estar numa espécie de "passado"
daquele presente. Algo decaiu, piorou, algo involuiu neles.
Lembrando disso, outro dia, fui atrás de velhos filmes de 8mm que meu pai rodou há 50 anos
também.

Queria ver o meu passado, ver se havia ali alguma chave que explicasse meu presente hoje,
que prenunciasse minha identidade ou denunciasse algo que perdi, ou que o Brasil perdeu...
Em meio às imagens trêmulas, riscadas, fora de foco, vi a precariedade de minha pobre
família de classe média, tentando exibir uma felicidade familiar que até existia, mas precária,
constrangida; e eu ali, menino comprido feito um bambu no vento, já denotando a insegurança
que até hoje me alarma. Minha crise de identidade já estava traçada. E não eram imagens de
um passado bom que decaiu, como entre os índios.
Era um presente atrasado, aquém de si mesmo. A mesma impressão tive ao ver o filme
famoso de Orson Welles, It's All True, em que ele mostra o carnaval carioca de 1942 - únicas
imagens em cores do País nessa década. Pois bem, dava para ver, nos corpinhos dançantes
do carnaval sem som, uma medíocre animação carioca, com pobres baianinhas em tímidos
meneios, galãs fraquinhos imitando Clark Gable, uma falta de saúde no ar, uma fragilidade
indefesa e ignorante daquele povinho iludido pelos burocratas da capital. Dava para ver ali

129
que, como no filme de minha família, estavam aquém do presente deles, que já faltava muito
naquele passado.

Vendo filmes americanos dos anos 40, não sentimos falta de nada. Com suas geladeiras
brancas e telefones pretos, tudo já funcionava como hoje. O "hoje" deles é apenas uma
decorrência contínua daqueles anos. Mudaram as formas, o corte das roupas, mas eles, no
passado, estavam à altura de sua época. A Depressão econômica tinha passado, como um
grande trauma, e não aparecia como o nosso subdesenvolvimento endêmico. Para os
americanos, o passado estava de acordo com sua época. Em 42, éramos carentes de alguma
coisa que não percebíamos. Olhando nosso passado é que vemos como somos atrasados no
presente. Nos filmes brasileiros antigos, parece que todos morreram sem conhecer seus
melhores dias.

E nós, hoje, nesta infernal transição entre o atraso e uma modernização que não chega
nunca? Quando o Brasil vai crescer? Quando cairão afinal os "juros" da vida? Chego a ter
inveja das multidões pobres do Islã: aboliram o tempo e vivem na eternidade de seu atraso.
Aqui, sem futuro, vivemos nessa ansiedade individualista medíocre, nesse narcisismo brega
que nos assola na moda, no amor, no sexo, nessa fome de aparecer para existir. Nosso
atraso cria a utopia de que, um dia, chegaremos a algo definitivo. Mas, ser subdesenvolvido
não é "não ter futuro"; é nunca estar no presente.

Arnaldo Jabor

DAR NÃO É FAZER AMOR

Dar é dar.
Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido.
Mas dar é bom pra cacete.
Dar é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca...
Te chama de nomes que eu não escreveria...
Não te vira com delicadeza...
Não sente vergonha de ritmos animais. Dar é bom.
Melhor do que dar, só dar por dar.

130
Dar sem querer casar....
Sem querer apresentar pra mãe...
Sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo.
Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral...
Te amolece o gingado...
Te molha o instinto.
Dar porque a vida é estressante e dar relaxa.
Dar porque se você não der para ele hoje, vai dar amanhã, ou depois de amanhã.
Tem pessoas que você vai acabar dando, não tem jeito.
Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos, sem
esperar ouvir futuro.
Dar é bom, na hora.
Durante um mês.
Para os mais desavisados, talvez anos.

Mas dar é dar demais e ficar vazio.


Dar é não ganhar.
É não ganhar um eu te amo baixinho perdido no meio do escuro.
É não ganhar uma mão no ombro quando o caos da cidade parece querer te abduzir.
É não ter alguém pra querer casar, para apresentar pra mãe, pra dar
o primeiro abraço de Ano Novo e pra falar:
"Que que cê acha amor?".
É não ter companhia garantida para viajar.
É não ter para quem ligar quando recebe uma boa notícia.
Dar é não querer dormir encaixadinho...
É não ter alguém para ouvir seus dengos...
Mas dar é inevitável, dê mesmo, dê sempre, dê muito.

Mas dê mais ainda, muito mais do que qualquer coisa, uma chance ao amor.
Esse sim é o maior tesão.
Esse sim relaxa, cura o mau humor, ameniza todas as crises e faz você flutuar

131
Experimente ser amado...

"A vida é a arte de tirar conclusões suficientes de dados insuficientes"

Luís Fernando Veríssimo

UNIDADE 10

INTERPRETAÇÃO DE ENUNCIADOS - VERBOS DE COMANDO

Antes de iniciar o uso desta apostila, pergunte-se: VOCÊ FAZ O QUE REALMENTE SE
PEDE? Para medir o nível do aproveitamento e o desenvolvimento dos alunos em sala
de aula, o professor pode utilizar vários instrumentos de avaliação. Entre esses
instrumentos, é muito comum o emprego de provas e/ou testes dissertativos, nos quais
os alunos têm um espaço para mostrar, sobre algum assunto determinado, a sua
capacidade de análise, criação, comparação, identificação, conceituação etc.

É muito comum nas discussões entre professores comentários sobre a


dificuldade que os alunos têm diante do momento de dissertar numa prova, mesmo
que ela seja composta por questões breves. Essa dificuldade pode ocorrer, muitas
vezes, porque eles não conseguem compreender exatamente o que é pedido em uma
questão. Se observarmos com atenção, todas as questões se iniciam ou se
desenvolvem tendo como base um verbo-comando (geralmente na forma do
imperativo) que especifica para o aluno a forma como ele deve responder a uma
questão. A tabela abaixo demonstra alguns dos verbos-comando mais utilizados.

132
Verbos de Definição dos verbos Especificação dos
comand (adaptada do Moderno Dicionário da procedimentos
o Língua Portuguesa Michaelis e Aurélio)

Analise Determinar os componentes ou Exige a elaboração de um


elementos fundamentais de alguma texto como resposta.
idéia, teoria, fato etc.; determinar por
discernimento natureza, significado,
aspectos ou qualidades do que está
sendo examinado.

Justifique Explicar ou demonstrar a veracidade ou Exige a elaboração de um


Explique não de algum fato ou ocorrência por texto como resposta.
meio de elementos/argumentos
plausíveis. Tornar claro e coerente os
elementos levantados.

Transcreva Reproduzir, extrair, copiar algum trecho A resposta não pode ser
Cite de algum texto sem qualquer tipo de elaborada e sim apenas
Destaque modificação. recortada utilizando-se
sinais adequados com
aspas

Compare Examinar, simultaneamente, as Exige a elaboração de um


Confronte particularidades de duas ou mais idéias, texto como resposta.
fatos, ocorrências.

Critique Examinar com muito critério alguma Exige a elaboração de um


(“faça um idéia, noção ou entendimento tentando texto como resposta.
comentário perceber qualidades e/ou defeitos,
Importante observar que
crítico”) pontos negativos e/ou positivos etc. criticar não é somente
levantar aspectos negativos
do que se está observando
– a crítica pode ser também
de caráter positivo.
Reescreva Tornar a escrever; escrever uma segunda Exige a reelaboração de um
vez. texto, consertando os
defeitos do primeiro texto.

Sugestões para responder melhor às questões dissertativas :


• Leia atentamente, se necessário várias vezes, os enunciados das questões
detectando os verbos-comando que estruturam as questões.
• Responda exatamente o que está sendo pedido, não tente “complementar” suas
respostas com informações desnecessárias achando que elas irão compensar o que
você não souber responder.

133
• Não se esqueça de que uma resposta a uma questão dissertativa, por menor que
seja, é sempre um texto, sendo assim, seja claro, coeso, coerente.
• Suas respostas deverão ter, como em qualquer outro texto, um início, um
desenvolvimento e, quando necessário, uma conclusão.
• Não responda às questões utilizando frases inteiras de textos, leia atentamente o
material que está sendo analisado e construa a resposta com o seu próprio
discurso. Os recortes de frases devem ser feitos apenas quando se tratar de
verbos-comando como “transcreva”, “retire” etc.
• Respeite o número de linhas especificado para as suas respostas. Não seja muito
sucinto nem muito prolixo – responda de maneira que você dê conta do que está
sendo pedido.
• Toda boa resposta geralmente se inicia com traços da questão que a originou.
Ex.: Pergunta: De acordo com o texto, qual o nível financeiro daquela população?
Resposta: De acordo com o texto, o nível financeiro daquela população é muito baixo.
• Não use em suas respostas gírias e/ou construções típicas da linguagem coloquial.

Nesta apostila, e nas provas/avaliações que serão dadas para você elaborar,
muitos destes verbos serão solicitados. Fique atento!

(Fonte: Profs. Patrícia Quel e Jorge Luís Torresan)

EXERCÍCIOS

1-UNICAMP 1993 - A leitura literal do texto a seguir produz um efeito de humor.

"As videolocadoras de São Carlos estão escondendo suas fitas de sexo explícito. A
decisão atende a uma portaria de dezembro de 91, do Juizado de Menores, que proíbe
que as casas de vídeo aluguem, exponham e vendam fitas pornográficas a menores de
18 anos. A portaria proíbe ainda os menores de 18 anos de irem a motéis e rodeios
sem a companhia ou autorização dos pais."
("Folha Sudeste", 06/06/92)
a) Transcreva a passagem que produz efeito de humor.
b) Qual a situação engraçada que essa passagem permite imaginar?
c) Reescreva o trecho de forma a impedir tal interpretação.

2. Faça o que se pede de acordo com os textos OBESIDADE INFANTIL, e EDUCANDO O


PALADAR.

OBESIDADE INFANTIL

O papel dos hábitos sedentários, da publicidade e da educação alimentar na


globalização de uma epidemia
.
Nos últimos 20 anos, a obesidade infantil tornou-se epidemia mundial. O
número de casos pode ser atribuído à farta disponibilidade de alimentos densamente
calóricos e à vida sedentária das crianças nas cidades.
Não existe um gene único que possa ser responsabilizado pela obesidade. A
predisposição é causada por uma interação complexa de cerca de 250 genes
envolvidos no controle de peso do organismo.
Células especiais para armazenar gordura (adipócitos) surgem no feto ao redor
da 15ª semana de gestação. Durante o primeiro ano de vida elas não mais se

134
multiplicam, apenas crescem e se enchem de gordura para armazenar energia que
será utilizada quando a criança começar a andar.
À medida que a criança cresce em altura, essas reservas são consumidas até
atingir seus níveis mais baixos aos 5 ou 6 anos. Meninos e meninas que chegam
gordinhos a essa idade apresentarão maior probabilidade de desenvolver obesidade na
adolescência e na vida adulta.
Na criança de peso normal, entre 2 e 10 anos, ocorre apenas um pequeno
aumento do número de adipócitos. Já nas obesas, quando a quantidade de gordura
contida em cada célula atinge 1 grama — o limite máximo de sua capacidade —,
ocorre a multiplicação celular com formação de novos adipócitos.
Quando a criança obesa perde peso, a velocidade de formação de novas células
gordurosas diminui. Mas, ainda assim, são formadas mais células novas do que aquelas
das crianças magras.
A obesidade materna durante a gravidez interfere com a troca de nutrientes
com o feto e favorece o aparecimento de obesidade infantil. Ao contrário, má nutrição
durante a gravidez também pode levar à obesidade como mecanismo compensatório.
Crianças negligenciadas, solitárias ou deprimidas tendem a apresentar maiores
índices de obesidade quando adultas.
A falta de atividade física é fator crucial. A redução dos espaços urbanos
disponíveis para brincar em segurança, os computadores, os jogos eletrônicos e,
especialmente, o número de horas diante da tevê, expostas a comerciais de alimentos
com alta densidade calórica, são fatores de risco associados à explosão de obesidade
nas crianças.
Pesquisas conduzidas na Inglaterra e nos Estados Unidos mostram que, nesses
países, elas estão expostas, em média, a dez comerciais de alimentos por hora diante
da tevê; a maioria sobre doces, refrigerantes e salgadinhos.
Da mesma forma que nos adultos, a obesidade na infância causa hipertensão
arterial, aumento de colesterol e triglicérides, inflamação crônica, facilita a formação
de coágulos, altera a parede interna das artérias e aumenta a produção de insulina.
Esse conjunto de fatores de risco para doença cardiovascular, conhecido como
síndrome da resistência à insulina ou síndrome metabólica, tem sido descrito até em
crianças com 5 anos de idade.
Anteriormente conhecido como diabetes do adulto, o diabetes do tipo 2 é cada
vez mais encontrado na infância. Em certas populações, seus portadores chegam a
representar metade do total de crianças diabéticas.
(Drauzio Varella)

EDUCANDO O PALADAR

O sabor do leite materno não é o mesmo em todas as mamadas, pois ocorrem


modificações no decorrer do dia por causa da alimentação da mãe. Bebês alimentados
com mamadeira não experimentam tal variedade de sabores, já que o gosto do leite
em pó é sempre o mesmo.
Estudos mostram que a diversidade de sensações gustativas associadas à
amamentação facilita mais tarde a instalação de paladares mais variados.
As crianças têm preferência inata por sabores doces e salgados, rejeição pelos
amargos e azedos, e apresentam dificuldade para aceitar novas experiências
gustativas.
Calcula-se que devam ser expostas de cinco a dez vezes, em média, para
adaptar-se ao gosto de um novo alimento.
Nessa fase da vida, existe nítida predisposição para alimentos com alta
densidade calórica, como as gorduras e os doces, por causa do gosto agradável e por

135
levar à saciedade mais prontamente. Se não houver insistência na oferta, o paladar
poderá fixar-se exclusivamente em doces e gorduras, com graves conseqüências
futuras.

(In: Carta Capital, n.º 332, 08/03/2005.)

a) Cite as causas do número de casos de obesidade infantil.


b) Explique por que uma criança que é gordinha aos cinco ou seis anos de idade tem
maiores chances de desenvolver obesidade na vida adulta.
c) Analise as conseqüências da obesidade para a saúde da criança.
d) Explique a importância da amamentação no processo de desenvolvimento do
paladar da criança.
e) Compare os dois textos e explique a relação entre os dois.
3-UNICAMP 1995
Defender a língua é, de modo geral, uma tarefa ambígua e até certo ponto
inútil. Mas também é quase inútil e ambíguo dar conselhos aos jovens de uma
perspectiva adulta e no entanto todo adulto cumpre o que julga seu dever. (...) Ora, no
que se refere à língua, o choque ou oposição situam-se normalmente na linha divisória
do novo e do antigo. Mas fixar no antigo a norma para o atual obrigaria este antigo a
recorrer a um mais antigo, até ao limite das origens da língua. A própria língua, como
ser vivo que é, decidirá o que lhe importa assimilar ou recusar. A língua mastiga e joga
fora inúmeros arranjos de frase e vocábulos. Outros, ela absorve e integra a seu modo
de ser.

(Vergílio Ferreira, "Em Defesa da Língua", em: Estão a Assassinar o Português! trecho
adaptado)

a) Transcreva a tese de Vergílio Ferreira, isto é, a afirmação básica que o autor aceita
como verdadeira e defende nesse trecho.
b) Transcreva o argumento no qual o autor se baseia para defender sua tese.

UNIDADE 11

TIPOLOGIA TEXTUAL – NOÇÕES BÁSICAS - DESCRIÇÃO,


NARRAÇÃO E DISSERTAÇÃO

DESCRIÇÃO
A descrição é um texto, literário ou não, em que predominam verbos de estado e
adjetivos que caracterizam pessoas, ambientes e objetos. É muito raro encontrarmos
um texto exclusivamente descritivo. Quase sempre a descrição vem mesclada a outras

136
modalidades, caracterizando uma personagem, detalhando um cenário, um ambiente
ou paisagem, dentro de um romance, conto, crônica ou novela.

Assim, a descrição pura geralmente aparece como parte de um relatório técnico, como
no caso da descrição de peças de máquinas, órgãos do corpo humano, funcionamento
de determinados aparelhos (descrição de processo).

Dessa maneira, na prática, seja literária ou técnico-científica, a descrição é sempre um


fragmento, é um parágrafo dentro de uma narração, é parte de um relatório, de uma
pesquisa, de dissertações em geral.

Mas o estudante precisa aprender a descrever; a prática escolar assim o exige.


Geralmente pede-se u texto menor que a narração ou a dissertação. Um texto
descritivo com aproximadamente 15 linhas costuma conter todos os aspectos
caracterizados que permitam ao leitor visualizar o ser ou objetivo descrito. Para tanto,
o observador deve explorar as sensações gustativas, olfativas, auditivas, visuais, táteis
e impressões subjetivas.

O que se descreve

Podemos descrever o que vemos (aquilo que está próxima), o que imaginamos (aquilo
que conhecemos mas não está próximo no momento da descrição) ou o que nossa
imaginação cria, qualquer entid ade inventada: um ser extraterreno, uma mulher que
você nunca viu, uma futurista, um aparelho inovador etc.

Como se descreve

De acordo com os objetivos de quem escreve, a descrição pode privilegiar diferentes


aspectos:

• pormenorização – corresponde a uma persistência na caracterização de detalhes;

• dinamização – é a captação dos movimentos de objetivos e seres;

• impressão – são os filtros da subjetividade, da atividade psicológica, interpretando


os elementos observados.

A organização da descrição

No processo de composição de uma redação descritiva, o emissor seleciona os


elementos organiza para levar o receptor a formar ou conhecer a imagem do objetivo
descrito, isto é, a concebê-lo sensorial ou perceptualmente.

A descrição é fundamentalmente espacial. Eventualmente pode aparecer um índice


temporal, porém sua função é meramente circunstancial, serve apenas para precisar o
registro descritivo.

NARRAÇÃO
Definição

137
Narrar é contar uma história (real ou fictícia). O fato narrado apresenta uma seqüência
de ações envolvendo personagens no tempo e no espaço.
São exemplos de narrativas a novela, o romance, o conto, ou uma crônica; uma notícia
de jornal, uma piada, um poema, uma letra de música, uma história em quadrinhos,
desde que apresentam uma sucessão de acontecimentos, de fatos.
Situações narrativas podem aparecer até mesmo numa única frase. Exemplos: O
menino caiu. “Minha sogra ficou avó.” (Oswald de Andrade). Repare que a última frase
resume ações que envolvem o casamento, a maternidade e a transformação da sogra
em avó.

Estrutura da narração

Convencionalmente, o enredo da narração pode ser assim estruturados: exposição


(apresentação das personagens e/ou do cenário e/ou da época), desenvolvimento
(desenrolar dos fatos apresentando complicação e clímax) e desfecho (arremate da
trama).

Entretanto, há diferentes possibilidades de se compor uma trama, seja iniciá-la pelo


desfecho, construí-la apenas através de diálogos, ou mesmo fugir ao nexo lógico de
episódios.
Escritores (romancistas, contistas, novelistas) não compões um texto estritamente
narrativo. O que eles produzem é um tecido literário em que aparecem, além da
narração, segmentos descritivos e dissertativos.

As narrativas mais longas podem explorar mais detalhadamente as noções de tempo –


cronológico (marcado pelas horas, por datas) ou psicológico (marcado pelo fluxo do
inconsciente) – e de espaço (cenário, paisagem, ambiente).

O envolvimento de várias personagens e os múltiplos núcleos de conflito em torno de


uma situação também são comuns nas narrativas extensas.
Portanto, oferecer ao aluno um painel de narrações literárias (romances, novelas,
contos) como modelo é distanciar-se da finalidade prática da redação escolar, mas
alguns textos são exemplares para ilustrar procedimentos narrativos.

Elementos básicos da narração

São elementos básicos da narração: enredo (ação), personagem, tempo e espaço.

Quando a história é curta, como na narração escolar, são imprescindíveis: enredo e


personagens. A perspectiva de quem escreve é dada pelo foco narrativo ( de 1ª ou 3ª
pessoa). Os discursos (direto, indireto e indireto livre) representam a fala da
personagem.

DISSERTAÇÃO
Introdução

Produzir um texto dissertativo, ou dissertação, consiste em defender uma idéia. É a


defesa de uma tese -- proposição que se apresenta com o objetivo de convencer quem
lê, ou seja, o leitor. Para se alcançar tal objetivo, a organização da dissertação é
fundamental. Existem, portanto, algumas instruções, as quais favorecem o ato da
escrituração, que você poderá verificar agora.

138
O tema e o título são, com muita freqüência, empregados como sinônimos.
Contudo, apesar de serem partes de um mesmo tipo de composição, são elementos
bem diferentes. O tema é o assunto, já delimitado, a ser abordado; a idéia que será por
você defendida e que deverá aparecer logo no primeiro parágrafo. Já o título é uma
expressão, ou até uma só palavra, centrada no início do trabalho; ele é uma vaga
referência ao assunto (tema). Veja a diferença entre os dois nos exemplos abaixo:

Título: A cidade e seus problemas

Tema: A cidade de São Paulo enfrenta atualmente grandes problemas.

Título: A importância da Península Arábica

Tema: Entendemos que a comunidade internacional deva preocupar-se com os


acontecimentos que envolvam a Península Arábica, já que grande parte do petróleo
que o mundo consome sai desta região.

Título: A criança e a televisão

Tema: Psicólogos do mundo todo têm se preocupado com a influência que


determinados programas de televisão exercem sobre as crianças.

Título: As contradições na era da comunicação

Tema: Vivendo a era da comunicação, o homem contemporâneo está cada vez


mais só.

Note que o tema, na verdade, como já mencionamos acima, é a delimitação de


determinado assunto. Isso é necessário, pois um assunto pode ser muito extenso e,
nesse caso, ao abordá-lo, você poderá se perder em sua extensão. Peguemos o
assunto "ensino" como exemplo. Há muito o que escrever sobre ele, por isso convém
delimitá-lo. Desse modo, obtém-se o tema. Logo, para cada assunto, há inúmeros
temas.

Da mesma forma, quando os títulos são generalizados, abre-se um leque de temas


a serem desenvolvidos. Para o título "A criança e a televisão", por exemplo, podemos
definir um outro tema, como "A criança se encanta com os novos programas de TV
criados especialmente para elas", ou ainda "Os pais, envoltos com seus problemas, não
perceberam ainda o perigo da televisão para as suas crianças".

O importante é você usar a criatividade até mesmo no título de sua redação. Pense
no título após o rascunho estar ponto, fica mais fácil. Assim, o estudante não se torna
escravo do título.

OBSERVAÇÕES:

Quando você participar de algum concurso ou teste e tiver de fazer uma


dissertação, observe a proposta e/ou instruções. Muitas vezes, já vem explicitado o
tema ou título; às vezes, é sugerido apenas o assunto. O item que faltar, cabe a você
elaborar.

O aspecto estético também é avaliado em qualquer teste. Com relação ao título e


ao tema há algumas regras importantes: o título deve ser colocado no centro da folha,
logo no início de sua dissertação, com inicial maiúscula; uma linha é suficiente para
separar o título do corpo de sua redação. Nada mais deve ser acrescentado,

139
principalmente algo que seja óbvio, do tipo "Título:"; comece diretamente pelo título
(expressão escolhida por você para dar nome a sua redação), conforme orientações
acima

UNIDADE 12

IDENTIFICAÇÃO DOS OBJETIVOS, DOS ARGUMENTOS E DAS

CONCLUSÕES DO TEXTO

Algumas definições:

Assunto: de que fala o texto, idéia ampla e geral, germe a partir do qual se
desenvolverão as idéias do texto.

Tema: delimitação do assunto, aspecto a ser abordado, enfoque, tratamento especial


dado pelo autor.

Objetivo do texto: para que é escrito o texto, finalidade com que se elabora o texto.

Tese ou frase-núcleo: o que fala o texto expressão verbal de um juízo, afirmação básica,
ponto de vista do autor.

Argumentos: provas que sustentam a tese: exemplos, informações que comprovam a


tese (dados, fatos).

EXERCÍCIO

COMPUTADOR REVOLUCIONA COMUNICAÇÃO

140
A comunicação por computador ameniza as distâncias - físicas ou de hierarquias.
Um jornalista americano surpreendeu-se ao descobrir que o mais humilde empregado de
Bill Gates, o mitológico criador e presidente da Microsoft, empresa que domina o Mercado
mundial de programas de computador, pode facilmente comunicar-se com ele apenas
enviando uma mensagem para o endereço eletrônico. A tendência é cada vez mais
empresas terem as próprias redes internas de comunicação eletrônica. Pode-se prever
que haverá uma revolução nos sistemas de administração baseados em níveis
hierárquicos. A comunicação está correndo solta, livre de rédeas. Ultrapassa os
organogramas. “Isso vai acirrar a competitividade, porque a real eficiência das pessoas
poderá vir à tona”, prevê a antropóloga Claudine Bichara de Oliveira.

Como assistente de coordenação da Rede Nacional de Pesquisa, rede eletrônica


que o Ministério da Ciência e Tecnologia criou para atender as atividades de educação e
pesquisa no Brasil, Claudine está num posto privilegiado para observar essas mudanças.
Ela detecta, por exemplo, o fim do formalismo típico das atividades acadêmicas.
“Antigamente, só se tinha acesso ao resultado de uma pesquisa depois do texto pronto e
publicado numa revista científica. Só aí ele começava a ser debatido. Agora o cientista
debate o texto com outras pessoas enquanto ainda é um simples rascunho.”

E os códigos para emoções? Uma das regras da comunicação eletrônica é que


não se perde tempo usando nas mensagens expressões formais como “prezado senhor”
ou “cordiais saudações”. A regra é entrar direto no assunto, ser objetivo, conciso e
sucinto. Mas ao dispensar as sutilezas de linguagem, a comunicação por computador
dificulta a expressão de emoções e sentimentos, ainda mais porque é feita por escrito,
sem apoio do tom de voz ( como ao telefone) ou da expressão facial ( como nas
conversas ao vivo). Como ser objetivo e, ao mesmo tempo, expressar alegria, tristeza,
medo, raiva, sarcasmo, ironia?

(adaptado de JB,25/4/94(JB, 25/4/94.In: Gold, Miriam: Redação Empresarial – escrevendo com sucesso na era da
globalização, 1999)

1. Responda às questões a seguir de modo a criar pequenos textos. Observe o comando


da questão.

1. Indique o assunto discutido no texto.

141
2. Qual o objetivo do texto?

4. Destaque do texto os argumentos utilizados pela autora para comprovar sua tese.

5. Explique a frase “Claudine está num posto privilegiado para observar essas mudanças”.

IDENTIFICAÇÃO DAS PALAVRAS-CHAVE

Palavra Chave: são aquelas que estão mais de perto associadas especificamente ao
assunto do texto, podendo aparecer repetidas e algumas vezes na forma de sinônimos. A
identificação das palavras-chave através do skimming (estratégia ou procedimento que
consiste em lançar os olhos rapidamente sobre o texto, numa breve leitura para captar o
assunto geral apenas, se esse for o objetivo da leitura) leva-nos a ter uma identificação do
assunto no texto.

Normalmente as palavras-chave perpassam todo o texto podendo aparecer


modificadas ou substituídas por sinônimos.

142
143
UNIDADE 13

O PARAGRÁFO – ESTRUTURA FORMAS DE DESENVOLVIMENTO E


TÓPICO FRASAL

PARAGRAFAÇÃO E ARTICULAÇÃO ENTRE OS PARÁGRAFOS DO TEXTO

A ESTRUTURA DO PARÁGRAFO - PARÁGRAFO-PADRÃO

O parágrafo é uma unidade de composição do texto em que é desenvolvida uma


idéia central a que se agregam outras secundárias, estabelecendo entre si sentido e
lógica.

Muito comum em textos dissertativos, o parágrafo-padrão estrutura-se em tópico


frasal, desenvolvimento e conclusão.

Introdução, também conhecida denominada tópico frasal, é formada de uma ou de


duas frases curtas que expressam, de maneira sucinta, a idéia principal do parágrafo,
definindo seu objetivo.
Desenvolvimento: corresponde à ampliação do tópico frasal, à sua fundamentação ou
que o esclarecem ( exemplos, detalhes, demonstração e fatos, comparações, referências
históricas ou científicas).
Conclusão: nem sempre presente, especialmente em parágrafos mais simples e curtos, a
conclusão retoma a idéia central, levando em consideração os diversos aspectos
selecionados no desenvolvimento.

OBSERVAÇÃO: Cada um dos parágrafos do texto deve apresentar necessariamente


um tópico frasal.

Observe o parágrafo a seguir em que estão destacados cada um dos elementos


que constituem o parágrafo.

A comunicação por computador ameniza as distâncias - físicas ou de hierarquias.


Um jornalista americano surpreendeu-se ao descobrir que o mais humilde empregado de

144
Bill Gates, o mitológico criador e presidente da Microsoft, empresa que domina o Mercado
mundial de programas de computador, pode facilmente comunicar-se com ele apenas
enviando uma mensagem para o endereço eletrônico. A tendência é cada vez mais
empresas terem as próprias redes internas de comunicação eletrônica. Pode-se prever
que haverá uma revolução nos sistemas de administração baseados em níveis
hierárquicos. A comunicação está correndo solta, livre de rédeas. Ultrapassa os
organogramas. “Isso vai acirrar a competitividade, porque a real eficiência das pessoas
poderá vir à tona”, prevê a antropóloga Claudine Bichara de Oliveira.

EXERCÍCIOS

1. Divida o parágrafo em introdução, desenvolvimento e conclusão – utilize barras.


Vantagens e riscos da nanotecnologia ao meio ambiente

“A manipulação da matéria na escala nanométrica, num bilionésimo de metro, tem


produzido efeitos positivos na área ambiental. As resinas magnéticas têm a capacidade
de remover metais de um meio aquoso, o que pode ser utilizado no tratamento de
efluentes. As nanopartículas são capazes de remover contaminantes onde não há
eficácia de outros processos químicos. Há quem defenda a nanotecnologia como a
garantia de que o mundo atingirá, enfim, o desenvolvimento sustentável. Entretanto, ao
mesmo tempo que as vantagens dessa tecnologia são nítidas para o meio ambiente,
alguns especialistas começam a atentar para o impacto dos nanomateriais na saúde do
ser humano e na natureza. Tornando-se, assim, necessário o estudo contínuo desse
novo processo.”

(adaptadohttp://www.mct.gov.br/html/template/frame)

2. Leia atentamente o texto abaixo, divida-o em parágrafos e, a seguir, responda ao que


se pede.

Viver em sociedade

A sociedade humana é um conjunto de pessoas ligadas pela necessidade de se ajudarem


umas às outras, a fim de que possam garantir a continuidade da vida e satisfazer seus

145
interesses e desejos. Sem vida em sociedade, as pessoas não conseguiriam sobreviver,
pois o ser humano, durante muito tempo, necessita de outros para conseguir alimentação
e abrigo. E no mundo moderno, com a grande maioria das pessoas morando na cidade,
com hábitos que tornam necessários muitos bens produzidos pela indústria, não há quem
não necessite dos outros muitas vezes por dia. Mas as necessidades dos seres humanos
não são apenas de ordem material, como os alimentos, a roupa, a moradia, os meios de
transportes e os cuidados de saúde. Elas são também de ordem espiritual e psicológica.
Toda pessoa humana necessita de afeto, precisa amar e sentir-se amada, quer sempre
que alguém lhe dê atenção e que todos a respeitem. Além disso, todo ser humano tem
suas crenças, tem sua fé em alguma coisa, que é a base de suas esperanças. Os seres
humanos não vivem juntos, não vivem em sociedade, apenas porque escolhem esse
modo de vida; mas porque a vida em sociedade é uma necessidade da natureza humana.
Assim, por exemplo, se dependesse apenas da vontade, seria possível uma pessoa muito
rica isolar-se em algum lugar, onde tivesse armazenado grande quantidade de alimentos.
Mas essa pessoa estaria, em pouco tempo, sentindo falta de companhia, sofrendo a
tristeza da solidão, precisando de alguém com quem falar e trocar idéias, necessitada de
dar e receber afeto. E muito provavelmente ficaria louca se continuasse sozinha por muito
tempo. Mas, justamente porque vivendo em sociedade é que a pessoa humana pode
satisfazer suas necessidades, é preciso que a sociedade seja organizada de tal modo que
sirva, realmente, para esse fim. E não basta que a vida social permita apenas a satisfação
de algumas necessidades da pessoa humana ou de todas as necessidades de apenas
algumas pessoas. A sociedade organizada com justiça é aquela em que se procura fazer
com que todas as pessoas possam satisfazer todas as suas necessidades, é aquela em
que todos, desde o momento em que nascem, têm as mesmas oportunidades, aquela em
que os benefícios e encargos são repartidos igualmente entre todos. Para que essa
repartição se faça com justiça, é preciso que todos procurem conhecer seus direitos e
exijam que eles sejam respeitados, como também devem conhecer e cumprir seus
deveres e suas responsabilidades sociais.

(DALLARI, Dalmo de D Viver em sociedade. São Paulo: Moderna, 1985. p. 5-6)

a) Que idéia Dalmo de Abreu Dallari defende em seu texto?

146
b) Releia o primeiro parágrafo e responda: qual é a sua função em relação aos
demais parágrafos que formam o texto?

c) No texto, o autor nos apresenta uma série de argumentos, ordenados logicamente,


a fim de convencer o leitor. Quais são esses argumentos e como eles nos são
apresentados?

d) Qual a função do último parágrafo? Que idéias ele defende?

TÓPICO FRASAL
Um parágrafo padrão inicia-se por uma introdução em que se encontra a idéia principal
desenvolvida em mais períodos. Segundo a lição de Othon M. Garcia em sua
Comunicação em prosa moderna (p. 192), denomina-se tópico frasal essa introdução.
Depois dela, vem o desenvolvimento e pode haver a conclusão. Um texto de parágrafo:

“Em todos os níveis de sua manifestação, a vida requer certas condições


dinâmicas, que atestam a dependência mútua dos seres vivos.
Necessidades associadas à alimentação, ao crescimento, à reprodução ou a
outros processos biológicos criam, com freqüência, relações que fazem do
bem-estar, da segurança e da sobrevivência dos indivíduos matérias de
interesse coletivo”.
(FERNANDES, Florestan. Elementos de sociologia teórica 2 ed. SP: Nacional,
1974, p. 35.)
Neste parágrafo, o tópico frasal é o primeiro período (Em .... vivos). Segue-se o
desenvolvimento especificando o que é dito na introdução.

147
Se o tópico frasal é uma generalização, e o desenvolvimento constitui-se de
especificações, o parágrafo é, então, a expressão de um raciocínio dedutivo. Vai do
geral para o particular: Todos devem colaborar no combate às drogas. Você não pode
se omitir.
Se não há tópico frasal no início do parágrafo e a síntese está na conclusão, então o
método é indutivo, ou seja, vai do particular para o geral, dos exemplos para a regra:
João pesquisou, o grupo discutiu, Lea redigiu. Todos colaborando, o trabalho é bem
feito.

O PARÁGRAFO CHAVE

O primeiro parágrafo do texto deve ser criativo, deve atrair a atenção do leitor.
Assim é preciso evitar expressões desgastadas como: nos dias de hoje, hoje em dia,
atualmente, a cada dia que passa, desde os primórdios, desde épocas remotas, no
mundo de hoje, na atualidade, o mundo em que vivemos.

Para auxiliar seu trabalho, observe abaixo dezoito formas de começar um texto,
sugeridas pelo professor Antônio Carlos Viana.

Algumas formas para você começar um texto

1. Uma declaração

(tema: liberação da maconha)

É um grave erro a liberação da maconha. Provocará de imediato violenta elevação do


consumo. O Estado perderá o precário controle que ainda exerce sobre as drogas
psicotrópicas e nossas instituições de recuperação de viciados não terão estrutura
suficiente para atender à demanda.

Alberto Corazza, Istoé, 20 dez. 1995.

A declaração é a forma mais comum de começar um texto. Procure fazer uma


declaração forte, capaz de surpreender o leitor.

2. Definição

(tema: o mito)

O mito, entre os primitivos, é uma forma de se situar no mundo, isto é, de encontrar o seu
lugar entre os demais seres da natureza. É um modo ingênuo, fantasioso, anterior a toda

148
reflexão e não-crítico de estabelecer algumas verdades que não só explicam parte dos
fenômenos naturais ou mesmo a construção cultural, mas que dão também, as formas da
ação humana.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda & MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de Filosofia.
São Paulo, Moderna, 1992. p. 62.

A definição é uma forma simples e muito usada em parágrafos-chave,


sobretudo em texto dissertativos. Pode ocupar só a primeira frase ou todo o
primeiro parágrafo.

3. Divisão

(tema: exclusão social)

Predominam ainda no Brasil duas convicções errôneas sobre o problema da exclusão


social: a de que ela deve ser enfrentada apenas pelo poder público e a de que sua
superação envolve muitos recursos e esforços extraordinários. Experiências relatadas
nesta Folha mostram que o combate à marginalidade social em Nova York vem contando
com intensivos esforços do poder público e ampla participação da iniciativa privada.

Folha de S. Paulo, 17 dez. 1996.

Ao dizer que há duas convicções errôneas, fica logo clara a direção que o
parágrafo vai tomar. O autor terá de explicitá-las na frase seguinte.

4. Oposição

(tema: a educação no Brasil)

De um lado, professores mal pagos, desestimulados, esquecidos pelo governo. De outro,


gastos excessivos com computadores, antenas parabólicas, aparelhos de videocassete. É
este o paradoxo que vive hoje a educação no Brasil.

As duas primeiras frases criam uma oposição (de um lado / de outro) que
estabelecerá o rumo da argumentação.

149
Também se pode criar uma oposição dentro da frase, como neste exemplo:

Vários motivos me levaram a este livro. Dois se destacam pelo grau de


envolvimento: raiva e esperança. Explico-me: raiva por ver o quanto a cultura ainda é
vista como algo supérfluo em nossa terra; esperança por observar quantos movimentos
culturais têm acontecido em nossa história, e quase sempre como forma de resistência
e/ou transformação. (...)

FEIJÓ, Martin César. O que é política cultural. São Paulo, Brasiliense, 1985. p. 7.

O autor estabelece a oposição e logo depois explica os termos que a compõem.

5. Alusão histórica

(tema: globalização)

Após a queda do Muro de Berlim, acabaram-se os antagonismos leste-oeste e o mundo


parece ter aberto de vez as portas para a globalização. As fronteiras foram derrubadas e
a economia entrou em rota acelerada de competição.

O conhecimento dos principais fatos históricos ajuda a iniciar um texto. O leitor é


situado no tempo e pode ter uma melhor dimensão do problema.

6. Citação

(tema: política demográfica)

“As pessoas chegam ao ponto de uma criança morrer e os pais não chorarem mais,
trazerem a criança, jogarem num bolo de mortos, virarem as costas e irem embora.” O
comentário, do fotógrafo Sebastião Salgado, falando sobre o que viu em Ruanda, é um
acicate no estado de letargia ética que domina algumas nações do Primeiro Mundo.

DI FRANCO, Carlos Alberto. Jornalismo, ética e qualidade. Rio de Janeiro, Vozes,


1995. p. 73.

A criação inicial facilita a continuidade do texto, pois ela é retomada pela palavra
comentário da segunda frase.

7. Citação de forma indireta

150
(tema: consumismo)

Para Marx a religião é o ópio do povo. Raymond Aron deu o troco: marxismo é o ópio dos
intelectuais. Mas nos Estudos Unidos o ópio do povo é mesmo ir às compras. Como as
modas americanas são contagiosas, é bom ver de que se trata.

Cláudio de Moura e Castro, Veja, 13 nov. 1996.

Esse recurso deve ser usado quando não sabemos textualmente a citação. É
melhor citar de forma indireta que de forma errada.

EXERCÍCIOS

1. Seguem abaixo alguns tópicos frasais para serem desenvolvidos de acordo com
a maneira sugerida.
a) Anacleto é um detetive trapalhão. (por enumeração de detalhes: forneça a
descrição física e psicológica do personagem).
b) As novelas transmitidas pela televisão brasileira são muito mais atraentes que
nossos filmes. (por oposição)
c) As cidades brasileiras estão se tornando ingovernáveis. (por exemplo
específico)
d) Nunca diga que algum ser humano é uma ilha: tudo que acontece a um
semelhante nos atinge. (por exemplificação)

2. Dadas as idéias centrais, desenvolva os parágrafos abaixo tentando, inclusive,


concluir tais idéias.

a) Dois são os principais motivos que contribuem para o empobrecimento acelerado da


sociedade_________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_______________

b) Nos últimos dez anos, a internet tornou-se necessária a todas as pessoas que desejam
ser bem sucedidas
________________________________________________________________

151
_________________________________________________________________________
_______________________________________________________________

3. Dadas as conclusões, escreva o início do parágrafo expondo a idéia principal a


ser tratada e o seu desenvolvimento. Indique a técnica usada para iniciar os
parágrafos.

a)__________________________________________________________________
________________________________________________________________________
__________________________________________________________ por isso o Brasil
está nestas condições!

b)__________________________________________________________________
________________________________________________________________________
_______________________________________ Portanto, diante de tudo isso,
precisamos urgentemente reorganizar toda a estrutura das vias públicas da cidade de São
Paulo.

Sobre Política e Jardinagem


Por Rubem Alves
" Escrevo para você, jovem, para seduzi-lo à vocação política. Talvez haja um jardineiro adormecido
dentro de você"

De todas as vocações, a política é a mais nobre. Vocação, do latim


"vocare", quer dizer "chamado". Vocação é um chamado de amor por um "fazer". No lugar
desse "fazer" o vocacionado quer "fazer amor" com o mundo. Psicologia de amante: faria,
mesmo que não ganhasse nada.
" Política" vem de "polis", cidade. A cidade era, para os gregos, um
espaço seguro, ordenado e manso, onde os homens podiam se dedicar à busca da
felicidade. O político seria aquele que cuidaria deste espaço. A vocação política, assim,
estaria a serviço da felicidade dos moradores da cidade.
Talvez por terem sido nômades no deserto, os hebreus não sonhavam
com cidades; sonhavam com jardins. Quem mora no deserto sonha com oásis. Deus não
criou uma cidade. Ele criou um jardim. Se perguntássemos a um profeta hebreu "o que é
política?", ele nos responderia: "A arte da jardinagem aplicada às coisas públicas".
O político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos.
Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que ele poderia plantar para si
mesmo. De que vale um pequeno jardim se a sua volta está o deserto? É preciso que o
deserto inteiro se transforme em jardim.
Amo a minha vocação que é escrever. Literatura é uma vocação bela e
fraca. O escritor tem amor, mas não tem poder. Mas o político tem. Um político por vocação
é um poeta forte: ele tem o poder de transformar poemas sobre jardins em jardins de
verdade.

152
A vocação política é transformar sonhos em realidade. É uma vocação
tão feliz que Platão sugeriu que os políticos não precisavam possuir nada: bastar-lhes-ia o
grande jardim para todos. Seria indigno que o jardineiro tivesse um espaço privilegiado,
melhor e diferente do espaço ocupado por todos. Conheci e conheço muitos políticos por
vocação. Sua vida foi e continua a ser um motivo de esperança.
Vocação é diferente de profissão. Na vocação a pessoa encontra a
felicidade na própria ação. Na profissão o prazer se encontra não na ação. O prazer está no
ganho que dela se deriva. O homem movido pela vocação é um amante. Faz amor com a
amada pela alegria de fazer amor. O profissional não ama a mulher. Ele ama o dinheiro que
recebe dela. É um gigolô.
Todas as vocações podem ser transformadas em profissões. O jardineiro
por vocação ama o jardim de todos. O jardineiro por profissão usa o jardim de todos para
construir seu jardim privado, ainda que, para que isso aconteça, ao seu redor aumente o
deserto e o sofrimento.
Assim é a política. São muitos os políticos profissionais. Posso, então,
enunciar minha segunda tese: de todas as profissões, a política é a mais vil. O que explica o
desencantamento total do povo, em relação à política. Guimarães Rosa, questionado por
Günter Lorenz se ele se considerava político, respondeu: "Eu jamais poderia ser político com
toda essa charlatanice da realidade. Ao contrário dos legítimos políticos, acredito no homem
e lhe desejo um futuro. O político pensa apenas em minutos. Sou escritor e penso em
eternidades. Eu penso na ressurreição do homem".
Quem pensa em minutos não tem paciência para plantar árvores. Uma
árvore leva anos para crescer. É mais lucrativo cortá-las.
Nosso futuro depende dessa luta entre políticos por vocação e políticos
por profissão. O triste é que muitos que sentem o chamado da política não têm coragem de
atendê-lo, por medo da vergonha de ser confundido com gigolôs e de ter de conviver com
gigolôs.
Escrevo para você, jovem, para seduzi-lo à vocação política. Talvez haja
um jardineiro adormecido dentro de você. A escuta da vocação é difícil, porque ela é
perturbada pela gritaria das escolhas esperadas, normais, medicina, engenharia,
computação, direito, ciência. Todas elas são legítimas, se forem vocação. Mas todas elas são
afunilantes: vão colocá-lo num pequeno canto do jardim, muito distante do lugar onde o
destino do jardim é decidido. Não seria muito mais fascinante participar dos destinos do
jardim?
Acabamos de celebrar os 500 anos do Descobrimento do Brasil. Os
descobridores, ao chegarem, não encontraram um jardim. Encontraram uma selva. Selva
não é jardim. Selvas são cruéis e insensíveis, indiferentes ao sofrimento e à morte. Uma
selva é uma parte da natureza ainda não tocada pela mão do homem.
Aquela selva poderia ter sido transformada num jardim. Não foi. Os que
sobre ela agiram não eram jardineiros, mas lenhadores e madeireiros. Foi assim que a selva,
que poderia ter se tornado jardim, para a felicidade de todos, foi sendo transformada em
desertos salpicados de luxuriantes jardins privados onde poucos encontram vida e prazer.
Há descobrimentos de origens. Mais belos são os descobrimentos de
destinos. Talvez, então, se os políticos por vocação se apossarem do jardim, poderemos
começar a traçar um novo destino. Então, em vez de desertos e jardins privados, teremos
um grande jardim para todos, obra de homens que tiverem o amor e a paciência de plantar
árvores em cuja sombra nunca se assentariam.
Rubem Alves é educador, escritor, psicanalista e professor emérito da Unicamp.
(Folha de S. Paulo, Tendências e Debates, 19/05/2000.)

Exercícios

153
1. Podemos afirmar que o texto de Rubem Alves é uma carta argumentativa. Que
elementos estruturais nos levam a essa afirmação? Justifique sua resposta com elementos
do texto.

2. Centre sua atenção no assunto tratado pela carta. Poderíamos afirmar que há
um “tema” abordado pelo autor. Que tema é esse?

3. Com base na leitura dos quatro primeiros parágrafos, responda:

a. De qual argumento/afirmação parte Rubem Alves no primeiro parágrafo?


b. Retire do texto dois argumentos por definição empregados pelo autor para
justificar/explicar tal afirmação.
c. Há algum argumento por alusão histórica? Qual?
d. A partir daí, o autor conclui que “político por vocação
é............................................................
e. .”, abrindo mão do
“...................................................................................................................”
f. Dessa forma, o autor pretende fazer com que o leitor aceite como ( ) válida
( ) falsa a primeira afirmação sobre a “natureza política”.

4. No 5º parágrafo, o autor afirma que a “literatura é uma vocação bela e fraca”.


a. Qual o sentido dessa afirmação na estrutura argumentativa da carta?
b. Em qual parágrafo ele retoma esse argumento? Por quê?

5. Agora, volte sua atenção para as idéias que estão expostas nos parágrafos 7 e 8.
a. O autor explica a diferença entre vocação e profissão. Que diferença é essa?
b. O objetivo do autor é, a partir dessa diferenciação, definir um outro tipo de
político: o “político profissional”. O que significa, segundo o autor, ser esse tipo de político?

6. No 9º parágrafo, Rubem Alves enuncia uma outra tese, conforme ele próprio afirma. Que tese
é essa?

7. De que maneira Rubem Alves conclui seu texto?

UNIDADE 14

ORGANIZAÇÃO DO TEXTO – COERÊNCIA E COESÃO

Leia o texto a seguir e observe sua construção.

COMO SE CONJUGA UM EMPRESÁRIO


Mino
Acordou. Levantou-se. Aprontou-se. Lavou-se. Barbeou-se. Enxugou-se. Perfumou-se.
Lanchou. Escovou. Abraçou. Saiu. Entrou. Cumprimentou. Orientou. Controlou.
Advertiu. Chegou. Desceu. Subiu. Entrou. Cumprimentou. Assentou-se. Preparou-se.
Examinou. Leu. Convocou. Leu. Comentou. Interrompeu. Leu. Despachou. Vendeu.
Vendeu. Ganhou. Ganhou. Ganhou. Lucrou. Lucrou. Lucrou. Lesou. Explorou. Escondeu.
Burlou. Safou-se. Comprou. Vendeu. Assinou. Sacou. Depositou. Depositou. Associou-

154
se. Vendeu-se. Entregou. Sacou. Depositou. Despachou. Repreendeu. Suspendeu.
Demitiu. Negou. Explorou. Desconfiou. Vigiou. Ordenou. Telefonou. Despachou.
Esperou. Chegou. Vendeu. Lucrou. Lesou. Demitiu. Convocou. Elogiou. Bolinou.
Estimulou. Beijou. Convidou. Saiu. Chegou. Despiu-se. Abraçou. Deitou-se. Mexeu.
Gemeu. Fungou. Babou. Antecipou. Frustrou. Virou-se. Relaxou-se. Envergonhou-se.
Presenteou. Saiu. Despiu-se. Dirigiu-se. Chegou. Beijou. Negou. Lamentou. Justificou-se.
Dormiu. Roncou. Sonhou. Sobressaltou-se. Acordou. Preocupou-se. Temeu. Suou.
Ansiou. Tentou. Despertou. Insistiu. Irritou-se. Temeu. Levantou. Apanhou. Rasgou.
Engoliu. Bebeu. Dormiu. Dormiu. Dormiu. Dormiu. Acordou. Levantou-se. Aprontou-se...

Analisando e interpretando
1. O que nos mostra o texto?
2. Que classe de palavras foi usada no texto?
3. O que falta ao texto lido?
4. Mesmo com essa falta, pode-se entender o texto?
3. O que quer retratar o autor do texto?

ARTICULAÇÃO ENTRE OS PARÁGRAFOS

A articulação dos/entre parágrafos depende da coesão e coerência. Sem um deles,


ainda assim, é possível haver entendimento textual, entretanto, há necessidade de ter
domínio da língua e do contexto para escrever um texto de tal forma. Dependendo da
tipologia textual, a articulação textual se dá de forma diferente. Na narração, por
exemplo, não há necessidade de ter um parágrafo com mais de um período. Um
parágrafo narrativo pode ser apenas “Oi”. Já a dissertação necessita ter ao menos um
parágrafo com introdução e desenvolvimento (conclusão; opcional). Assim também
varia a necessidade de números de parágrafos para cada texto. Para se obter um bom
texto, são necessários também: concisão, clareza, correção, adequação de linguagem,
expressividade.

COERÊNCIA E COESÃO

Para não ser ludibriado pela articulação do contexto, é necessário que se esteja atento
à coesão e à coerência textuais.

Coesão textual
É o que permite a ligação entre as diversas partes de um texto. Pode-se dividir em três
segmentos:

1. Coesão referencial

É a que se refere a outro(s) elemento(s) do mundo textual.


Exemplos:
a) O presidente George W.Bush ficou indignado com o ataque no World
Trade Center. Ele afirmou que “castigará” os culpados. (retomada
de uma palavra gramatical – referente “Ele” + “ Presidente George W.
Bush”)

b) De você só quero isto: a sua amizade (antecipação de uma palavra


gramatical – “isto” = “a sua amizade”

c) O homem acordou feliz naquele dia. O felizardo ganhou um bom dinheiro


na loteria. ( retomada por palavra lexical – “o felizardo” = “o homem”)

155
2. Coesão seqüencial – é feita por conectores ou operadores discursivos, isto é,
palavras ou expressões responsáveis pela criação de relações semânticas (causa,
condição, finalidade, etc.). São exemplos de conectores: mas, dessa forma, portanto,
então, etc. (olhar a lista no final desse capítulo ). Exemplo:
a) Ele é rico, mas não paga suas dívidas.

Observe que o vocábulo “mas” não faz referência a outro vocábulo; apenas conecta
(liga) uma idéia a outra, transmitindo a idéia de compensação.

3. Coesão recorrencial – é realizada pela repetição de vocábulos ou de estruturas


frasais semelhantes.
Exemplos:
a) Os carros corriam, corriam, corriam.
b) O aluno finge que lê, finge que ouve, finge que estuda.
c)

Coerência textual é a relação que se estabelece entre as diversas partes do texto,


criando uma unidade de sentido. Está ligada ao entendimento, à possibilidade de
interpretação daquilo que se ouve ou lê.

OBS: pode haver texto com a presença de elementos coesivos, e não apresentar
coerência. Exemplo:
O presidente George W.Bush está descontente com o grupo Talibã. Estes
eram estudantes da escola fundamentalista. Eles, hoje, governam o
Afeganistão. Os afegãos apóiam o líder Osama Bin Laden. Este foi aliado
dos Estados Unidos quando da invasão da União Soviética ao
Afeganistão.
Comentário: Ninguém pode dizer que falta coesão a este parágrafo. Mas de que se
trata mesmo? Do descontentamento do presidente dos Estados Unidos? Do grupo
Talibã? Do povo Afegão? De Osama Bin Laden? Embora o parágrafo tenha coesão, não
apresenta coerência, entendimento.

Ao construir-se um texto, há palavras e expressões que garantem transições bem


feitas e que estabelecem relações lógicas entre as diferentes idéias apresentadas no
texto. Vejamos algumas palavras que ajudam a dar coesão e coerência ao texto:

RELAÇÃO LÓGICA PALAVRAS E EXPRESSÕES

Adição, seqüência de E, não só...mas também, não só...como também, bem


informações, progressão como, não só... mas ainda
discursiva
Alternativas, escolhas Ou, ou...ou, ora...ora, quer...quer, seja...seja
Oposição entre significados Mas, porém, contudo, entretanto, todavia, no entanto
explícitos ou implícitos de duas
partes do texto

Conclusão Logo,pois, portanto, por conseguinte, por isso, assim,


para concluir, finalmente, em resumo, então

Justificativa ou explicação de um Que, porque, pois, porquanto, como, pois que, uma vez

156
fato que, visto que, já que

Contradição e concessão Embora, ainda que, mesmo que, se bem que, posto que,
(admissão de um argumento por mais que
como válido pra, em seguida,
negar seu valor argumentativo)
Condição ou hipótese necessária Se, contanto que, salvo se, desde que, a menos que, a
para que se realize o fato não ser que, caso

Explicitar, confirmar ou ilustrar o Assim, desse modo


que se disse anteriormente

Introdução de argumento ou Ainda, ademais, igualmente importante, adicionalmente,


inclusão de um elemento a mais também.
dentro de um conjunto

Conformidade de um pensamento Conforme, de acordo com, como, segundo


com outro

Introdução de argumento decisivo Além do mais, além de tudo, além disso

Finalidade ou objetivo do fato Para que, a fim de que, porque, que

Tempo Quando, enquanto, assim que, logo que, todas as vezes


que, desde que, mal, sempre que, assim que, antes,
após, previamente, subseqüentemente,
simultaneamente,
Recentemente, imediatamente, atualmente
Comparação Como, assim como, tal como, como se, tão ...como,
tanto ...como, tanto quanto, tal, qual, tal qual, que
(combinado com menos ou mais)

Conseqüência De sorte que, de modo que, de forma que, sem que,


tal ...que, tamanho... que, tanto ...que

Similaridade Igualmente, da mesma forma, assim como

Causalidade Em decorrência de, devido a, por causa de

Esclarecimentos ou retificações Isto é, quer dizer, ou seja, em outras palavras

Verossimilhança Na verdade

Proporcionalidades À medida que, à proporção que, ao passo que, quanto


mais...menos, quanto mais ...mais, quanto menos... mais,
quanto menos... menos

157
Obs.: As preposições também são importantes elementos de coesão: de, em, por, a,
ante, até, após, com, contra, de, desde, em, entre, para, por , perante, sem, sobre,
sob, trás

EXERCÍCIOS
1. Use os mecanismos de coesão textual nas frases a seguir:

a) O presidente esteve na França ontem. O presidente disse na França que o Brasil


está controlando bem a inflação.

b) Comprei muitas frutas e coloquei as frutas na geladeira.

c) Acabamos de receber dez caixas de canetas. Estas canetas devem ser


encaminhadas para o almoxarifado.
d) As revendedoras de automóveis não estão mais equipando os seus automóveis a fim
de vender automóveis mais barato. O cliente vai à revendedora de automóveis com
pouco dinheiro e, se tiver que pagar mais caro pelo automóvel, terá prejuízo.

e) Eu fui à escola, na escola encontrei meus amigos que há muito tempo não via, eu
convidei alguns amigos da escola para ir ao cinema.

f) O professor chegou atrasado, e ele começou a ditar matérias sem parar um instante,
o professor é meio estranho, ele mal conversa com a classe, a classe não gosta muito
do professor.

i) Minha namorada estuda inglês. Minha namorada sempre gostou de inglês.

2. Ligue os períodos com auxílio de conjunções (conectivos):

a) Todos participaram das festas. Alguns não gostaram muito.

b) Estudamos muito para o vestibular. Conseguiremos a vaga tranqüilamente.

c) O réu não depôs. Não se sentia bem no dia.

d) É importante a contribuição de todos no revezamento de veículos. Possamos


respirar um ar saudável.

e) O tempo vai passando, vamos ficando mais experientes.

f) O fumo deveria ser proibido em locais públicos. O fumo faz muito mal à saúde.

g) Você tenha tempo, apareça aqui para tomarmos um café.

h) Ela tem bastante dinheiro. Ela viajará nas férias.

158
i) O professor de matemática é muito sério. O professor de redação é um figurão.

3. Leia o texto a seguir e responda às questões propostas:

“João Carlos vivia em uma pequena casa construída no alto de uma colina, cuja frente
dava para leste. Desde o pé da colina se espalhava em todas as direções, até o
horizonte, uma planície de areia. Na noite em que completava 30 anos, João, sentado
nos degraus da escada colocada à frente de sua casa, olhava o sol poente e observava
como a sua sombra ia diminuindo no caminho coberto de grama. De repente, viu um
cavalo que descia para a sua casa. As árvores e as folhagens não o permitiam ver
distintamente; entretanto observou que o cavalo era manco. Ao olhar de mais perto
verificou que o visitante era seu filho Guilherme, que há 20 anos tinha partido para
alistar-se no exército, e, em todo este tempo, não havia dado sinal de vida. Guilherme,
ao ver seu pai, desmontou imediatamente, correu até ele, lançando-se nos seus braços
e começando a chorar”.

(Fonte: CEREJA, R. W. e MAGALHÃES, T.C. Gramática reflexiva. São Paulo: Atual, 1999,
p. 38)

a) Além do domínio vocabular e sintático da língua, o texto também apresenta marcas


de coesão. Destaque do texto:
b) dois exemplos de coesão, nos quais uma palavra retoma um termo já expresso;
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c) dois exemplos de marcadores temporais que dão idéia de seqüência dos fatos;
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d) um conector (conectivo, conjunção) que estabeleça uma relação de oposição entre


duas idéias.
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e) Apesar de aparentemente bem redigido, o texto apresenta sérios problemas de


coerência, o que o torna inadequado. A fim de constatar os problemas de coerência
do texto, encontre pelo menos duas incoerências e explique-as.
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159
4. Reelabore as seguintes frases, usando o conectivo apropriado que está entre
parênteses:

a) Faça o trabalho prometido, ou você terá problemas. (sem que, embora, a menos
que, contanto que)
Você terá problemas...

b) Ele não teve condições de se preparar, no entanto esforçou-se em fazer uma boa
apresentação. (embora, visto que, desde que, porque)
Esforçou-se em fazer uma boa apresentação, ...

c) Insiste em entrar na reunião, ainda que não pertença à diretoria do clube. (porém,
se bem que, portanto, por isso).
Não pertence à diretoria do clube...

d) Não sabendo a resposta, quis olhar a prova do colega. (logo que, porque, para que,
por isso).
Quis olhar a prova do colega...

5. Reescreva os trechos a seguir de forma a eliminar a incoerência:


a) Fazendo sucesso com a sua nova clínica, a psicóloga Iracema Leite Ferreira Duarte,
localizada na rua Campo Grande, 159...
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b) Embarcou para São Paulo Maria Helena Arruda, onde ficará hospedada no luxuoso
hotel Maksoud Plaza.
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c) “A oncocercose é uma doença típica de comunidades primitivas. Não foi


desenvolvido ainda nenhum medicamento ou tratamento que possibilite o
restabelecimento da visão. Após ser picado pelo mosquito, o parasita (agente da
doença) cai na circulação sangüínea e passa a provocar irritações oculares até a
perda total da visão.” (F.S.P., 2/11/90)
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d) “O presidente americano (...) produziu um espetáculo cinematográfico em
novembro passado na Arábia Saudita, onde comeu peru fantasiado de marine no
mesmo bandejão em que era servido aos soldados americanos”.
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(Veja, 9/1/91)
e) “Zélia Cardoso de Mello decidiu amanhã oficializar sua união com Chico Anysio”.

(A Tarde, 16/9/94)
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6. Explique como poderíamos solucionar estes problemas:


a) O marido desconfia que sua esposa o trai com seu chefe, um colega mostra a foto
dos dois, possíveis amantes, em uma loja de roupas íntimas femininas.
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b) (Unicamp/SP) Quando o treinador Leão foi escolhido para dirigir a seleção brasileira
de futebol, o jornal Correio Popular publicou um texto com muitas imprecisões, do
qual consta a seguinte passagem:
“Durante sua carreira de goleiro, iniciada no Comercial de Ribeirão Preto, sua terra
natal, Leão, de 51 anos, sempre impôs seu estilo ao mesmo tempo arredio e
disciplinado. Por outro lado, costumava ficar horas aprimorando seus defeitos após os
treinos. Ao chegar à seleção brasileira em 1970, quando fez parte do grupo que
conquistou o tricampeonato mundial, Leão não dava um passo em falso. Cada atitude e
cada declaração eram pensadas com um racionalismo típico de sua família, já que seus
outros dois irmãos, Edmilson, 53 anos, e Édson, 58, são médicos”.
(Correio Popular, Campinas, 20.10.00)
I) O que aconteceria com Leão se ele, efetivamente, ficasse “aprimorando seus
defeitos”? Reescreva o trecho de maneira a eliminar o equívoco.
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Por que o emprego da palavra “racionalismo” é inadequado na passagem “Cada


atitude e cada declaração eram pensadas com um racionalismo típico de sua família, já
que seus outros dois irmãos, Edmilson, 53 anos, e Édson, 58, são médicos”?
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UNIDADE 15

RESUMO E RESENHA – TÉCNICAS DE CONSTRUÇÃO

“Resumo é a apresentação concisa dos pontos relevantes de um texto em seqüência


de frases articuladas. (...) O tema principal vem na primeira frase. Use a terceira
pessoa do singular, com verbo na voz ativa, de preferência em frases afirmativas. (...)
Num resumo, é necessário decidir o que é fundamental e o que é acessório. É a
procura da idéia principal.(...) Como o resumo é uma operação de síntese, pressupõe
uma análise que decompõe o texto, possibilitando agrupar os elementos semelhantes
e distinguir os que são diferentes”.
(Fonte: NADÓLSKIS, H. Comunicação Redacional Atualizada. 10. ed. São Paulo: Saraiva,
2004.)

Passos a seguir num resumo:


1. ler o texto e procurar palavras desconhecidas;
2. reler;
3. sublinhar;
4. esquematizar;
5. resumir.

Exemplo:
Aprender a escrever é, em grande parte, se não principalmente, aprender a pensar,
aprender a encontrar idéias e a concatená-las, pois, assim como não é possível dar o
que não se tem, não se pode transmitir o que a mente não criou ou não aprovisionou.
Quando nós, professores, nos limitamos a dar aos nossos alunos temas para redação
sem lhes sugerirmos roteiros ou rumos para fontes de idéias, sem, por assim dizer, lhes
“fertilizarmos” a mente, o resultado é quase sempre desanimador: um aglomerado de
frases desconexas, mal redigidas, mal estruturadas, um acúmulo de palavras que se

162
atropelam sem sentido e sem propósito; frases em que procuram fundir idéias que não
tinham ou que foram mal pensadas ou mal digeridas. Não podiam dar o que não
tinham, mesmo que dispusessem de palavras-palavras, quer dizer, palavras de
dicionário, e de noções razoáveis sobre a estrutura da frase. É que palavras não criam
idéias; estas, se existem, é que, forçosamente, acabam corporificando-se naquelas,
desde que se aprenda como associá-las e concatená-las, fundindo-as em moldes
frasais adequados. Quando o estudante tem algo a dizer, porque pensou, e pensou
com clareza, sua expressão é geralmente satisfatória.
(GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moderna. 6 ed. Rio de Janeiro: Getúlio Vargas,
1977, p. 275)

Sublinhado:
Aprender a escrever é, em grande parte, se não principalmente, aprender a pensar,
aprender a encontrar idéias e a concatená-las, pois, assim como não é possível dar o
que não se tem, não se pode transmitir o que a mente não criou ou não aprovisionou.
Quando nós, professores, nos limitamos a dar aos nossos alunos temas para redação
sem lhes sugerirmos roteiros ou rumos para fontes de idéias, sem, por assim dizer, lhes
“fertilizarmos” a mente, o resultado é quase sempre desanimador: um aglomerado de
frases desconexas, mal redigidas, mal estruturadas, um acúmulo de palavras que se
atropelam sem sentido e sem propósito; frases em que procuram fundir idéias que não
tinham ou que foram mal pensadas ou mal digeridas. Não podiam dar o que não
tinham, mesmo que dispusessem de palavras-palavras, quer dizer, palavras de
dicionário, e de noções razoáveis sobre a estrutura da frase. É que palavras não criam
idéias; estas, se existem, é que, forçosamente, acabam corporificando-se naquelas,
desde que se aprenda como associá-las e concatená-las, fundindo-as em moldes
frasais adequados. Quando o estudante tem algo a dizer, porque pensou, e pensou
com clareza, sua expressão é geralmente satisfatória.

Esquema:
Aprender a escrever = aprender a pensar
Não se transmite o que não se criou ou guardou
Temas sem roteiro = mau resultado
Não bastam palavras e conhecimentos gramaticais
Se pensar com clareza, a expressão é satisfatória

Resumo:
Aprender a escrever é aprender a pensar, encontrar idéias e ligá-las. Só se pode
transmitir o que a mente criou ou guardou. Se o professor dá o tema e não sugere
roteiros, o resultado é desanimador, mesmo que o aluno tenha as palavras e
conhecimentos gramaticais. Se pensar com clareza, a expressão será satisfatória.

EXERCÍCIOS

1) Leia e releia o texto a seguir. Sublinhe, esquematize e resuma-o.

Saúde
ESTUDO LEVA À CRIAÇÃO DE MINIFÍGADO

Cientistas britânicos anunciaram nesta terça-feira que conseguiram criar em


laboratório um fígado humano em miniatura, medindo menos de três centímetros. O
mini órgão, na verdade parte do tecido de um fígado normal, foi reproduzido
artificialmente a partir de células-tronco de um cordão umbilical, por uma equipe de
pesquisadores da Universidade de Newcastle, Inglaterra.

163
Segundo os cientistas, o tecido poderá ser utilizado para testar drogas e produtos
farmacêuticos, o que evitaria o emprego de cobaias humanas ou animais neste
processo. Em algumas décadas, eles acreditam, será possível reproduzir um fígado de
tamanho real, para ser usado em transplantes.
Os coordenadores da pesquisa, Nico Ferraz e Colin McGuckin, disseram que, em 10
ou 15 anos, a técnica que eles utilizaram poderá ser aplicada na recuperação de partes
do fígado de pacientes doentes. O tecido foi criado com um chamado biorreator,
equipamento desenvolvido pela Nasa para simular a ausência de gravidade. O efeito
da falta de peso permite que as células se reproduzam a um ritmo mais acelerado.
O professor Ian Gilmore, especialista em fígados no Royal Liverpool Hospital,
levantou também o aspecto ético do estudo. "Os pesquisadores conseguiram criar o
fígado a partir do sangue colhido no cordão umbilical, sem precisar de embriões. Isso é
um grande avanço ético", afirmou o professor à BBC.
No entanto, ainda há um longo caminho a ser percorrido até que a ciência possa
reproduzir um fígado inteiro. De acordo com Gilmore, "o fígado tem seu próprio
fornecimento de sangue, seu próprio esqueleto fibroso, e os pesquisadores estão
apenas produzindo células individuais de fígado. Mas qualquer coisa que dê esperança
aos pacientes que aguardam um transplante, mesmo em um período de dez anos, é
motivo para celebração", disse.

(Copyright © Editora Abril S.A. - todos os direitos reservados Fonte: Revista Veja On
line http://vejaonline.abril.com.br. 31.10.2006)

RESENHA
A resenha é um tipo de redação técnica que pode ser definida como um
resumo minucioso ou crítico. Há resenhas descritivas (objetivas) e resenhas críticas
(subjetivas). O objeto de uma resenha pode ser um acontecimento, uma exposição,
textos, obras culturais, como romance, peças de teatro, filmes. O resenhista terá
sempre um procedimento seletivo e o relato dependerá de sua finalidade. O objetivo é
conduzir o leitor para mensagens referenciais, por isso a linguagem deve ser objetiva,
em 3ª pessoa. Incluindo variadas modalidades de textos – descrição, narração e
dissertação – esse relato detalhado pode ser um instrumento de pesquisa ou
atualização bibliográfica.
Na resenha descritiva, é importante ressaltar a estrutura da obra (partes,
número de páginas, capítulos, assuntos, índices, nome do tradutor), o resumo do texto,
a perspectiva teórica, o gênero (crítica literária, livro de negócios, romance, teatro,
ensaio), o método adotado.
Na resenha crítica acrescentam-se comentários e julgamentos do resenhista,
comparações com outras obras, avaliação da relevância do texto.

RESENHA CRÍTICA

Resenha crítica é a apresentação do conteúdo de uma obra. Consiste na leitura,


no resumo e na crítica, através da qual se estabelece um conceito sobre o valor de um
livro. A resenha exige que o indivíduo, além do conhecimento sobre o assunto, tenha
capacidade de juízo crítico. Também pode ser feita por estudantes, neste caso, como
um exercício de compreensão e crítica. A prática social da resenha é formar a opinião
do leitor. A resenha crítica tem um marketing duplo: o primeiro é de venda da obra
resenhada e o segundo, o da competência do resenhista. A resenha crítica apresenta a
seguinte estrutura ou roteiro (nem todos os elementos podem aparecer nela):

164
1. Resumo;
2. Avaliação crítica;
3. Dados técnicos da obra;
4. Comparação com outra obra congênere;
5. Dados sobre o autor da obra;
6. Público-alvo ou destinatário;
7. Título da resenha (não deve ser o mesmo da obra resenhada);
8. Dados do resenhista (assinatura).

RESENHA DESCRITIVA

Livro
SCLIAR, Moacir e outros. Vozes do golpe. 4v. São Paulo: Companhia das Letras, 2004,
336p.

Por meio de relatos pessoais e histórias de ficção, Carlos Heitor Cony, Zuenir Ventura,
Luis Fernando Verissimo e Moacir Scliar relembram o golpe militar de 1964. Refazem o
clima da época, reconstituindo os últimos momentos do governo João Goulart e
recordando um dos períodos da história do Brasil.

Filme (cinema)
ROUBANDO VIDAS (TAKING LIVES, EUA, 2004). Suspense – 14 anos – 103 min. Direção:
D.J. Caruso. Com: Angelina Jolie, Ethan Hawke

Illeana Scott (Angelina Jolie) é uma especialista do FBI que é convocada a trabalhar na
captura de um serial killer, que age há 20 anos e assume a identidade de cada nova
vítima. Os métodos utilizados por Illeana são desprezados pelo FBI, o que faz com que
ela trabalhe sem parceiros da polícia. O único a ajudá-la é Costa (Ethan Hawke), o
funcionário de um museu que é encarregado em ajudar na busca por um professor de
artes, que está desaparecido.
Ficha Técnica:
Roteiro: Jon Bokemkamp, baseado em livro de Michaael Pye
Produção: Mark Canton e Bernie Goldmann
Música: Philip Glass
Fotografia: Amir M. Mokri
Desenho de Produção: Tom Southwell
Direção de Arte: Serge Bureau
Figurino: Marie-Sylvie Devreau
Edição: Anne V. Coates
Efeitos Especiais: Les Productions de l’Intrigue Inc.

RESENHA CRÍTICA

Livro
(Valor Econômico, 26/3/2004)

SCLIAR, Moacir e outros. Vozes do golpe. 4v. São Paulo: Companhia das Letras, 2004,
336p.

O CORO DOS PERPLEXOS

Vozes do Golpe reúne diferentes pontos de vista de quatro autores sobre o 31 de


março de 1964

165
A renúncia do presidente Jânio Quadros, em agosto de 1961, inaugurou uma grave
crise político-institucional no País. No curto prazo, ela foi contornada com a posse de
João Goulart, o Jango, vice de Jânio. Para viabilizar essa transição, foi aprovado às
pressas um regime parlamentarista que durou apenas dezesseis meses, derrubado no
plebiscito de janeiro de 1963.
Todavia, as raízes da crise eram bem mais profundas. Jango tentou conciliar seus
compromissos históricos com as chamadas “reformas de base” pregadas pelas
esquerdas, em especial a agrária; e a necessidade de apoio dos setores mais
conservadores. Sua estratégia mostrou-se inviável, pois as forças políticas se
radicalizavam, mais dispostas ao confronto que ao entendimento. Assim, no início de
1964 a ruptura da ordem institucional parecia quase inevitável.
A queda de Jango e a instauração do regime autoritário que se prolongaria por vinte e
um anos, seriam marcadas pelo golpe de 31 de março, acontecimento de triste, mas
obrigatória memória, que completa 40 anos. Se para os mais jovens este espaço de
tempo pode começar a sugerir “distância”, é necessário saber que seus reflexos
continuam presentes na vida de todos os brasileiros.
Daí a importância e oportunidade deste lançamento, Vozes do Golpe, reunião de quatro
narrativas sobre aqueles duros dias, criadas por quatro consagrados escritores e
jornalistas brasileiros contemporâneos: Zuenir Ventura, Carlos Heitor Cony, Moacir
Scliar e Luis Fernando Verissimo. São dois relatos pessoais e duas histórias de ficção.

Teatro
(Fonte: vejanoitebusca.abril.com.br; 11/4/2004)

3 VERSÕES DA VIDA. Teatro Renaissance. Censura: 12 anos. Valor: R$ 40,00 (Sex. e


dom.) e R$ 50,00 (Sáb.). Endereço: Alameda Santos, 2233. Bairro: Cerqueira César.
Telefone: 3069-2233. Lugares: 462. Horário: Sexta, 21h30; Sábado, 21h; Domingo,
19h.

Longe do teatro há sete anos, Denise Fraga volta ao palco numa corrosiva comédia. A
trama enfoca o mundo de Sônia (Denise Fraga) e seu marido, o físico Henrique (Marco
Ricca). Em um jantar não planejado com seu chefe (Mario Schöemberg) e a mulher
(Ilana Kaplan), o encontro acaba por revelar segredos profundos da vida desses casais.
Três pontos-de-vista diferentes examinam essa realidade. Direção de Elias Andreato.

EXERCÍCIOS

1. Leia as resenhas abaixo e


a) indique se são descritivas ou críticas
b) analise-as de acordo com os oito elementos da estrutura de uma resenha, quando
for crítica

1) A PAIXÃO DE CRISTO (THE PASSION OF THE CHIST, EUA, 2004). Drama – 14 anos –
127. Direção: Mel Gibson. Com: James Caviezel, Monica Bellucci.
Uma narrativa sobre as últimas doze horas de vida de Jesus Cristo (J. Caviezel), antes
de sua crucificação.
No posto de diretor, produtor e co-roteirista, o astro Mel Gibson teve a intenção de
fazer aqui um retrato ultra-realisra das últimas doze horas de Jesus Cristo – e assim
causar comoção na platéia. Mas seu drama bíblico tende a provocar repúdio. Não
apenas por responsabilizar os judeus pela crucificação do Nazareno (daí a polêmica
gerada), mas pela violência ultrajante que domina esse desnecessário e provocador
espetáculo de retalhação humana. O passado de Jesus é visto em flashbacks-
relâmpago. Gibson concentra a ação no calvário. Nas bilheterias, ele conseguiu o que

166
queria. Mesmo falada em aramaico e latim, a fita já arrancou mais de 250 milhões de
dólares nos Estados Unidos. Com Monica Bellucci, na pele de Maria Madalena. Estreou
em 19/3/200.

Ficha Técnica:
Roteiro: Mel Gibson e Benedict Fitzgerald
Produção: Brce Davey, Mel Gibson e Stephen McEveety
Música: John Debney
Fotografia: Caleb Deschanel
Desenho de Produção: Francesco Frigeri
Figurino: Maurizio Millenotti
Efeitos Especiais: Keith Vanderlaan’s Captive Audience Productions

2) Teatro
(Fonte: Vejanoitebusca, 11/4/2004)

À MEIA-NOITE UM SOLO DE SAX EM MINHA CABEÇA & FICA FRIO. Teatro Faap. Censura:
14 anos. Valor: R$ 40,00 (qui. e sex.); R$ 45,00 (dom.); R$ 50,00 (sáb.). Endereço: Rua
Alagoas, 903. Bairro: Pacaembu. Telefone: 3662-1992. Lugares: 408. Horário: Quinta a
sábado, 21h; domingo, 19h.

A montagem reúne dois textos. Em Fica Frio, sobre as diferenças entre dois
irmãos (Chico Carvalho e Renato Chocair), Raul Cortez atua como coadjuvante. Na
seqüência, ele e Mário César Camargo estrelam À Meia-Noite um Solo de Sax em Minha
Cabeça, cômica história de dois amigos, do berço à maturidade. Sérgio Ferrara e Cibele
Forjaz respondem pelas respectivas direções.

3) Arte
(Fonte: vejaonline, 11/4/2004)

Picasso na Oca. Parque do Ibirapuera, portão 2, tel. 3253-5300. Ter. a sex., 9h às 21h;
sáb. e dom., 10h às 21h. R$ 5,00 (estudantes) e R$ 10,00. Grátis para menores de 5
anos, pessoas com mais de 65, aposentados, deficientes físicos e grupos de escolas
pré-agendados (agendamento@brasilconnects.org ou tel. 3253-7007). Até 2 de maio.

Desde a década de 50, ele já atraiu mais de 1 milhão de visitantes aos museus
de São Paulo. Desta vez, não é diferente: a Oca tem recebido uma média de 4.000
pessoas por dia durante a semana e 7.000 nos fins de semana.
As telas de Pablo Picasso foram expostas, pela primeira vez, na Bienal
Internacional de 1951. Dois anos mais tarde, na Bienal que antecipava as
comemorações do quarto centenário de fundação de São Paulo, foi exposta a obra
Guernica (3,49 metros de altura por 7,76 metros de largura), que leva o nome de uma
cidadezinha bombardeada durante a Guerra Civil Espanhola. Em 1996, a sala a ele
dedicada foi eleita pelo público a melhor da 23ª Bienal. Juntas, as principais mostras do
artista do cubismo vindas para cá receberam mais de 1,2 milhão de visitantes. Desde o
último dia 28 de janeiro, o pintor malaguenho tem provocado novamente longas filas,
agora na Oca do Parque do Ibirapuera. Há a expectativa de que, em três meses, 1
milhão de pessoas vejam os 126 trabalhos emprestados pelo Museu Picasso de Paris.
Nestes primeiros dias, cerca de 4.000 pessoas passaram por lá diariamente. A média
aumenta nos finais de semana, com 7.000 visitantes diários. Essa atração faz parte dos
programas organizados para os festejos do aniversário da cidade.

167
UNIDADE 16

ESTRUTURA DO TRABALHO ACADÊMICO

Normas ABNT para trabalhos acadêmicos.

Trabalhos acadêmicos: Normas da ABNT

O objetivo destas normas é o de uniformizar a publicação de conhecimentos.


Todas as normas estão sujeitas a atualização sem periodicidade estipulada.
As FIRB utilizam as normas bibliográficas da ABNT.

NBR 14724:2001 Informação e documentação - Trabalhos acadêmicos - Apresentação


- Informações pré-textuais
- Informações textuais
- Informações pós-textuais
- Formas de apresentação
NBR 10520:2001 Informação e documentação - Apresentação de citações em
documentos
- Regras gerais
NBR 6023:2000 Informação e documentação- Referências- Elaboração

NBR 14724:2001 Informação e documentação - Trabalhos acadêmicos - Apresentação

Dissertação: muito conhecido como "tese de mestrado", o que não existe.


Tese: termo utilizado somente para trabalhos que visam o título de "doutor".
Trabalho acadêmico: trabalho de graduação ou conclusão de curso, são os trabalhos
denominados TCC, TG, TGI e outros.
A estrutura do trabalho é composta por 03 partes: Pré-textuais; Textuais e Pós-
textuais.
Para cada etapa existem informações obrigatórias e opcionais.

Pré-textuais:

Capa (obrigatório): nome do autor; título; subtítulo (se houver); número de


volumes (quando houver mais de um); local da instituição onde será apresentado; ano

168
de entrega.

Folha de rosto (obrigatório): Anverso: a) nome do autor; b) título (deve ser claro,
preciso e identificar o conteúdo do trabalho); c) subtítulo (se houver, deve evidenciar
sua subordinação, através do sinal de dois pontos; d) número de volumes (se houver
mais de um, deve constar em cada respectiva folha de rosto; e) natureza (dissetação,
tese e outros) e objetivo (aprovação em disciplina, grau pretendido e outros), nome da
instituição a que é submetido, área de concentração; f) nome do orientador e, se
houver, do co-orientador; g) local da instituição e h) ano da entrega. Verso: Deve
conter apenas a ficha catalográfica.

Errata (opcional): deve ser logo em seguida da folha de rosto, se houver erro e,
encartada ou avulsa acrescida ao trabalho depois de impresso. Ex.:
ERRATA

Folha Linha Onde se lê Leia-se


32 3 publiação publicação

Folha de aprovação (obrigatório): contém autor, título e subtítulo se houver,


local e data de aprovação, nome, assinatura e instituição dos membros componentes
da banca examinadora.

Dedicatória (opcional): o autor presta homenagem ou dedica seu trabalho.

Agradecimentos (opcional): àqueles que contribuíram de maneira relevante, ou


mesmo instituições de fomento (Fapesp, Capes, CNPq etc.)

Epígrafe (opcional): o Elemento opcional, traz a citação de um pensamento, que


de certa forma serviu de base ao trabalho, seguida de seu autor.

Resumo na língua vernácula (obrigatório): deve ser um texto claro e conciso,


não apenas tópicos. Precisa ser objetivo para não passar de 500 palavras no máximo.
E, logo em seguida, apresentar as palavras mais representativas do conteúdo do texto,
ou seja as palavras-chave.

Resumo em língua estrangeira (obrigatório): idêntico ao ítem anterior, apenas em


língua estrangeira.

169
Sumário (obrigatório): consiste na enumeração das principais divisões, seções e
outras partes do trabalho, na mesma seqüência em que aparecem. Não tem o mesmo
objetivo do índice.

Lista de ilustrações (opcional): deve apresentar na mesma ordem em que


aparece no texto. Recomenda-se uma lista para cada tipo de ilustração. Ex.: (quadros,
gráficos, plantas etc.)

Lista de abreviaturas e siglas (opcional): relação em ordem alfabética, seguida


das palavras ou expressões correspondes grafadas por extenso. Recomenda-se uma
lista para cada tipo.

Lista de símbolos (opcional): deve apresentar na mesma ordem em que aparece


no texto, com seu devido significado.

Textuais

Introdução: deve constar a delimitação do assunto tratado, objetivos da pesquisa


e demais elementos necessários para situar o tema.

Desenvolvimento: parte principal, contém a exposição ordenada e pormenorizada


do assuntos, divide-se em seções e subseções. Varia em função da abordagem do
tema e método.

Conclusão: parte final, apresentam conclusões correspondentes aos objetivos ou


hipóteses.

Pós-textuais

Referências (obrigatório): conjunto padronizado de informações retiradas do


material informacional consultado.

Apêndice (opcional): texto utilizado quando o autor pretende complementar sua


argumentação. São identificados por letras maiúsculas e travessão, seguido do título.
Ex.:
APÊNDICE A - Avaliação de células totais aos quatro dias de evolução

170
Anexo (opcional): texto ou documento não elaborado pelo autor para comprovar
ou ilustrar. São identificados por letras maiúsculas e travessão, seguido do título. Ex.:
ANEXO A - Representação gráfica de contagem de células

Glossário (opcional): lista alfabética de expressões técnicas de uso restrito,


utilizadas no texto e suas respectivas definições.

Formas de Apresentação

Formato: papel em branco, formato A4 (21,0 cm X 29,7 cm), digitados no anverso


da folha. Recomenda-se a fonte tamanho 12 para o texto e tamanho 10 para as
citações longas e notas de rodapé.Margem: esquerda e superior de 3,0 cm e direita e
inferior de 2,0 cm.

Espacejamento: todo o texto deve ser digitado com 1,5 de entrelinhas. As citações
longas, as notas, as referências e os resumos devem ser digitados em espaço simples.
Os títulos das seções devem ser separados do texto que os sucede por uma entrelinha
dupla ou dois espaços simples.

Notas de rodapé: digitadas dentro da margem, ficam separadas com espaço simples
de entrelinhas e um filete de 3,0 cm a partir da margem esquerda.

Indicativo de seção: o indicativo numérico precede seu título, alinhado à


esquerda, somente com o espaço de um caractere. Para os títulos sem indicação
numérica, ficam centralizados.

Paginação: a numeração é colocada a partir da primeira folha da parte textual, em


algarismos arábicos, no canto superior da folham a 2,0 cm da borda superior, ficando o
último algarismo da borda direita da folha. Se o trabalho tiver mais de um volume a
seqüência deve ser mantida no volume seguinte, a partir do texto principal.

Numeração progressiva: é utilizada para destacar o conteúdo do trabalho. Pode-


se usar demais recursos existentes, como caixa alta, negrito etc.

Citação: menção de uma informação extraída de outra fonte. Abreviaturas e siglas:


quando aparecem pela primeira vez, deve-se colocar por extenso e a sigla entre

171
parênteses.

Equações e fórmulas: aparecem destacadas no texto, de forma a facilitar sua leitura.


Na seqüência normal do texto, é permitido o uso de uma entrelinha maior que
comporte por exemplo, expoentes, índices etc. Quando destacadas devem ser
centralizadas. Quando fragmentadas, por falta de espaço, devem ser interrompidas
antes do sinal de igualdade ou depois dos sinais de adição, subtração, multiplicação e
divisão.

Ilustrações: Figuras: elementos autônomos que explicam ou complementam o texto.


Qualquer que seja seu tipo (gráfico, planta, fotografia etc.) deve ter sua identificação
como "Figura" seguida de seu número de seqüência de ocorrência no texto em
algarismos arábicos. A legenda deve ser breve e clara. Tabelas: de caráter
demonstrativo, apresentam informações tratadas estatisticamente. O título aparece na
parte superior, precedido da palavra "Tabela" seguida de seu número de seqüência de
ocorrência no texto em algarismos arábicos. Para tabelas reproduzidas, é necessário a
autorização do autor, mas não é preciso esta menção. Se não couber em uma única
folha, deve ser continuada na folha seguinte e, nesse caso, não é delimitada por traço
horizontal na parte inferior, sendo o título e o cabeçalho repetidos na nova folha. As
separações horizontais e verticais para divisão dos títulos das colunas e para fechá-las
na parte inferior, evitando separação entre linhas e colunas. Para os dois casos, sua
inserção deve estar próxima ao texto respectivo.

NBR 10520:2001 Informação e documentação - Apresentação de citações em


documentos

Existem 04 definições para citação:


Citação: menção, no texto, de uma informação extraída de outra fonte;
Citação direta: transcrição textual do autor consultado;
Citação indireta: transcrição livre do autor consultado;
Citação de citação: transcrição direta ou indireta em que a consulta não tenha sido
no trabalho original.

Regras Gerais

1- Quando o(s) autor(es) citado(s) estiver no corpo do texto a grafia deve ser em
minúsculo, e quando estiver entre parênteses deve ser em maiúsculo.

172
2- Devem ser especificadas, o ano de publicação, volume, tomo ou seção, se houver
e a(s) página(s).

3- A citação de até 03 linhas acompanha o corpo do texto e se destaca com dupla


aspas. Exemplos:
Barbour (1971, v.21, p. 35) descreve "o estudo da morfologia dos terrenos"
"Não se mova, faça de conta que está morta" (CLARAC; BONNIN, 1985, p. 72)

4- Para as citações com mais 03 linhas, deve-se fazer um recuo de 4,0 cm na


margem esquerda, diminuindo a fonte e sem as aspas. Exemplo:
Devemos ser claros quanto ao fato de que toda conduta eticamente
apropriada pode ser guiada por uma de duas máximas fundamentalmente e
irreconciliavelmente diferentes: a conduta pode ser orientada para uma "ética das
últimas finalidades", ou para uma "ética da responsabilidade". Isso não é dizer que
uma ética das últimas finalidades seja idêntica à irresponsabilidade, ou que a ética de
responsabilidade seja idêntica ao oportunismo sem princípios (WEBER, 1982, p.144).

5- Para citações do mesmo autor com publicações em datas diferentes, e na mesma


seqüência, deve-se separar as datas por vírgula. Exemplo:
(CRUZ, 1998, 1999, 2000)

6- Nas citações que aparecerem na seqüência do texto podem ser referenciadas de


maneira abreviada, em notas:
- apud - citado por, conforme, segundo;
- idem ou id - mesmo autor;
- ibidem ou ibid - na mesma obra;
- opus citatum, opere citato ou op. cit. - obra citada;
- passim - aqui e ali (quando foram retirados de intervalos);
- loco citato ou loc. Cit. - no lugar citado;
- cf. - confira, confronte;
- sequentia ou et seq. - seguinte ou que se segue.
Somente a expressão apud pode ser usada no decorrer do texto.

7- Para a monografia, o autor deverá escolher qual o tipo de chamada usará:


- Autor-data: quando a chamada para a citação é feita pelo sobrenome do autor e
a data de publicação, ou

173
- Numérico: quando a chamada é feita pelo número correspondente na lista de
referências bibliográficas, previamente alfabetada.

NBR 6023:2000 Informação e documentação- Referências- Elaboração

Monografia no todo
AUTOR(es)//Título:/subtítulo (se houver).//Indicação de responsabilidade se
houver).//Edição.//Local:/Editora,/Ano.//Dados complementares (características físicas,
Coleção, notas e ISBN)

1 autor:
MOTTA, Fernando C. P. Teoria geral da administração: uma introdução. 22.ed. São
Paulo: Pioneira, 2000.

2 autores:
LAUDON, Kenneth C.; LAUDON, Jane P. Management information systems: new
approaches to organization & technology. 5 th ed. New Jersey: Prentice Hall, 1998.

3 autores:
BIDERMAN, C.; COZAC, L. F. L.; REGO, J. M. Conversas com economistas brasileiros.
2.ed. São Paulo: Ed. 34, 1997.

Mais de 03 autores (nestes casos, acrescenta-se a expressão et al, após o primeiro


autor):
SLACK, N. et al. Administração da produção. São Paulo: Atlas, 1997.
________________________________________

Teses e Dissertações

MIYAMOTO, S. O Pensamento geopolítico brasileiro: 1920-1980. 1981. 287f.


Dissertação (Mestrado em Ciência Política) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo
________________________________________

Manual
BRASÍLIA. Ministério da Fazenda. Secretaria do Tesouro Nacional. Sistema integrado de

174
administração financeira do governo federal. Brasília, 1996. 162 p. (Manual SIAF, 5).
________________________________________

Parte de monografia
AUTOR(es).//Título:/subtítulo da parte(se houver).//In:/Referência completa da
monografia no todo.//informar ao final a paginação correspondente à parte.
________________________________________

Capítulo de livro
ROVIGHI, S. V. Ontologia existencial e filosofia da existência. In: ________. História da
filosofia contemporânea: do século XIX à neoescolástica. Tradução por Ana Pareschi
Capovilla. São Paulo : Loyola, 1999. Cap. 15, p. 397-412.
________________________________________

Informações retiradas da Internet


AUTOR(es).//Título:/subtítulo da parte ou do todo .//Edição.//Local:/Editora,
/Data.//Descrição física do meio ou suporte.
________________________________________

No caso de documentos online, apresentar a URL entre os sinais<> precedido das


expressão "Disponível em:" finalizando com a data de acesso como mostra o exemplo
abaixo.
ENCICLOPÉDIA da música brasileira. São Paulo, 1998. Disponível em:
<http://www.uol.com.br/encmusical/> . Acesso em: 16 ago. 2001
________________________________________

Publicação periódica
TÍTULO.//Local de publicação:/Editora,/Data de ínicio da coleção e encerramento
(quando houver).//Periodicidade.//ISSN.

REVISTA BRASILEIRA DE ECONOMIA. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1947- .


Trimestral. ISSN 0034-7140
________________________________________

Parte de publicação periódica


AUTOR(es).//Título do artigo:/subtítulo quando houver.//Título da publicação.//volume,
número,/página inicial e final do artigo.//Data de publicação.

175
REZENDE, C. S.; REZENDE, W. W. Intoxicações exógenas. Revista Brasileira de Medicina
. v. 59, n. 1/2, p. 17-25. jan./fev. 2002.

OBS: ARTIGO MERAMEMENTE INFORMATIVO (INFORMAÇÕES CONTIDAS NO SITE DA


ABNT/ E SITES VÁRIOS.)

UNIDADE 17

FICHAMENTO

1 - FICHAMENTO
(O texto abaixo foi adaptado de: LEAL, Junchem Machado e FEUERSCHÜTTE, Simone
Ghisi.
Elaboração de Trabalhos Acadêmicos-Científicos. Itajaí: Universidade do Vale do Itajaí,
2003)
• Conceito
Fichar é transcrever anotações em fichas ou folhas avulsas para fins de estudo ou
pesquisa.
O fichamento é uma técnica de trabalho intelectual que consiste no registro
sintético e documentado das idéias e/ou informações mais relevantes (para o leitor)
de obras científica, filosófica, literária ou mesmo de uma matéria jornalística.
Fichar um texto significa sintetizá-lo, o que requer a leitura atenta do texto, sua
compreensão, a identificação das idéias principais (tema, problematização, tese e
argumentação) e seu registro escrito de modo conciso, coerente e objetivo. Pode-se
dizer que esse registro escrito – o fichamento – é um novo texto, cujo autor é o
"fichador", seja ele aluno ou professor. A prática do fichamento representa, assim, um
importante meio para exercitar a escrita.
A importância do fichamento para a assimilação e produção do conhecimento é
dada pela necessidade que tanto o estudante, como o docente e o pesquisador têm de
manipular uma considerável quantidade de material bibliográfico, cuja informação
teórica ou factual mais significativa deve ser não apenas assimilada, como também
registrada e documentada, para utilização posterior em suas produções escritas, sejam
elas de iniciação à redação científica (tais como os primeiros trabalhos escritos que o
estudante é solicitado a produzir); de textos para aulas, palestras ou conferências, no
caso do professor; ou, então, de elaboração da monografia de conclusão de curso do
graduando, da dissertação de mestrado ou do relatório de pesquisa do pesquisador.
A principal utilidade da técnica de fichamento, portanto, é otimizar a leitura,
seja na pesquisa científica, seja na aprendizagem dos conteúdos das diversas
disciplinas que integram o currículo acadêmico, na Universidade.
O fichamento tem como objetivo:
a) identificar as obras consultadas;
b) registrar o conteúdo das obras;
c) registrar as reflexões proporcionadas pelo material de leitura;
d) organizar as informações colhidas.
Assim sendo, os fichamentos, além de possibilitar a organização dos textos
pesquisados e a seleção dos dados mais importantes desses textos, funcionam como
método de aprendizagem e assimilação dos conteúdos, constituindo-se em
instrumento básico para a redação de trabalhos científicos.

176
• Propósitos do fichamento

Seja como técnica auxiliar da pesquisa bibliográfica, seja como técnica auxiliar
de estudo de obras, artigos e textos teóricos, o fichamento será tanto mais eficiente
quanto mais claros forem para o estudante ou para o pesquisador os propósitos desse
trabalho.
Dependendo dos seus propósitos, podem ser considerados dois tipos de
fichamento:
a) o fichamento que é solicitado ao estudante universitário como exercício
acadêmico, com o propósito de desenvolver as habilidades exigidas para o estudo e
assimilação de textos teóricos, ou assimilar o conteúdo ou parte do conteúdo de uma
disciplina; nesse caso o fichamento consiste, em geral, no registro documentado da
síntese do texto indicado pelo professor.
b) o fichamento que é feito pelo estudante, pelo docente ou pelo pesquisador,
no contexto de uma pesquisa ou de uma revisão bibliográfica, com o propósito de
registrar sistematicamente e documentar as informações teóricas e factuais
necessárias à elaboração do seu trabalho, que tanto pode ser uma resenha, um artigo,
uma monografia, um seminário ou um relatório de pesquisa.
No primeiro caso – fichamento como exercício acadêmico –, o simples
propósito de sintetizar o texto é o propósito dominante. Assim, o critério organizador
do fichamento será dado pela própria lógica do texto.
No segundo caso - fichamento no contexto da pesquisa ou da revisão
bibliográfica –, o fichamento está a serviço da pesquisa que o estudante, o docente ou
o pesquisador se propôs. Ora, como toda e qualquer pesquisa está centrada num tema,
a decisão sobre o que retirar de um texto ou de uma obra e registrar sob a forma de
síntese ou de citação, terá como critério selecionador os propósitos temáticos dados
pelo próprio tema da pesquisa e suas ramificações. São esses propósitos temáticos
que orientarão a seleção de idéias, conceitos ou fatos que interessam sintetizar ou
registrar nos fichamentos que fará das obras selecionadas.
Dessa forma, no primeiro tipo de fichamento (a) é o raciocínio, a argumentação
do autor da obra ou do texto que "comanda" o trabalho de síntese do fichador. No
segundo tipo (b), são os propósitos temáticos de quem estuda as obras consultadas
que "comandam" a seleção das idéias, conceitos, elementos teóricos ou factuais que
integrarão a síntese.

• Procedimentos
São variados os tipos de fichas que podem ser criados, dependendo das
necessidades de quem estuda ou pesquisa.
As fichas, sejam elas de cartolina ou de papel A-4 (que substituíram as de
cartolina pelas facilidades oferecidas pela informática), devem conter três elementos:

• cabeçalho: no alto da ficha ou da folha, à direita, um título que indica o


assunto ao qual a ficha se refere; pode ser adotado o uso, após o título geral, de um
subtítulo;
• referência: o segundo elemento da ficha será a referência completa da obra
ou do texto ao qual a ficha se refere, elaborada de acordo com a NBR-6023/2002 da
ABNT;
• corpo da ficha, ou seja, o conteúdo propriamente dito, que variará conforme
o tipo de fichamento que o estudante ou pesquisador pretenda fazer.
Embora muitos tipos de fichas possam ser elaborados no contexto de uma
pesquisa ou de uma revisão bibliográfica, como já foi dito, apenas dois tipos de fichas
serão a seguir apresentados, por serem considerados os mais essenciais.

177
• Tipos de Ficha

Ficha bibliográfica
Destina-se a documentar a bibliografia relativa a um determinado assunto
(tema).
As fichas de documentação bibliográfica são organizadas de acordo com um
critério de natureza temática. No alto e à esquerda, apresenta-se a referência
bibliográfica completa. No primeiro parágrafo, apresenta-se uma visão de conjunto,
um apanhado amplo sobre a obra (esses dados podem ser obtidos a partir da leitura do
sumário, das orelhas do livro, do prefácio ou da introdução). Em seguida, faz-se
apontamentos mais rigorosos (exigem uma leitura mais aprofundada), ou seja, síntese
dos capítulos.
OBSERVAÇÃO: as informações devem ser seguidas pela indicação, entre
parênteses, das páginas a que se referem.
TEMA (título)
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA (completa)
VISÃO GERAL DA OBRA
(apanhado amplo do assunto geral da obra)
SÍNTESE DO CAPÍTULO 1
SÍNTESE DO CAPÍTULO 2
SÍNTESE DO CAPÍTULO 3
Ficha de leitura (ou Ficha de transcrição)
Fichas de leitura ou de transcrição destinam-se à reprodução fiel de trechos de
artigos, livros ou capítulos.
É importante abrir a ficha com o assunto (tema), as indicações necessárias à
identificação da obra, do autor e dos trechos transcritos.
Esse tipo de ficha destina-se ao registro sintético do conteúdo (ou de parte do
conteúdo) das obras lidas.
O corpo da ficha consistirá na síntese da obra ou da parte da obra que interessa
ao fichador. Assim sendo, deverá apresentar as características de um resumo de
qualidade, ou seja:
– ser sucinto, seletivo e objetivo,
– respeitar a ordem das idéias e fatos apresentados,
– utilizar linguagem clara, objetiva e econômica,
– apresentar uma seqüência corrente de frases concisas, diretas e interligadas.
O corpo da ficha de leitura deve apresentar a síntese do conteúdo, e as
citações, ou seja, transcrições mais significativas de trechos do conteúdo, sempre
entre aspas e com indicação da respectiva página, o que tornaria a ficha mais
completa.
A organização da ficha deve ser feita de tal modo que permita identificar
posteriormente a página da obra onde se localiza esse ou aquele conceito, idéia ou
argumento, bem como distinguir as expressões ou palavras do autor da obra – isto é,
as citações, que deverão estar sempre entre aspas – das expressões ou palavras
próprias do fichador. É importante salientar que a inclusão de citações no fichamento
não significa que este se confunda com um mero exercício de "recorte e colagem" de
trechos da obra.
Exemplo:
Ficha de Leitura ou de Transcrição
ALFABETIZAÇÃO
Educação de Adultos
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler, em três artigos que se
completam. São Paulo: Autores Associados/Cortez, 1984.

178
“Inicialmente me parece interessante reafirmar que sempre vi a
alfabetização de adultos como um ato político e um ato de conhecimento,
por isso mesmo, como um ato criador. Para mim seria impossível
engajar-me num trabalho de memorização mecânica dos ba - be - bi - bo -
bu, dos la - le - li - lo - lu. Daí que também não pudesse reduzir a
alfabetização ao ensino puro da palavra, das sílabas ou das letras. Ensino
em cujo processo de alfabetizador fosse ‘enchendo’ com suas palavras as
cabeças supostamente ‘vazias’ dos alfabetizados.” (p. 21)
......................................................................................................................
“É preciso, na verdade, que a alfabetização de adultos e a pósalfabetização,
a serviço da reconstrução nacional, contribuam para que o
povo, tomando mais e mais a sua História nas mãos, se refaça na feitura
da História. Fazer a História é estar presente nela e não simplesmente
nela estar representado.” (p. 47)

• Avaliação
As orientações para avaliação do fichamento referem-se ao primeiro tipo de
fichamento, ou seja, aquele que é solicitado como exercício acadêmico.
As seguintes perguntas poderão orientar na avaliação do fichamento:
� A síntese é sucinta e objetiva?
� as idéias principais do texto estão contidas no fichamento?
� o conteúdo do fichamento mantém fidelidade ao texto? (ou há
deturpação das idéias?)
� o fichamento respeita a ordem das idéias apresentadas pelo autor do
texto?
� a linguagem utilizada obedece a norma culta?
� a obra fichada está corretamente referenciada?
� as normas técnicas de apresentação de trabalhos acadêmicocientíficos
foram observadas.

UNIDADE 18

NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA

Texto de Douglas Tufano Guia prático da nova ortografia (adaptado) 10/7/2008


14:27:21; © 2008 Douglas Tufano; Professor e autor de livros didáticos de língua
portuguesa; © 2008 Editora Melhoramentos Ltda. Diagramação: WAP Studio; ISBN:
978-85-06-05464-2; 1.ª edição, agosto de 2008; São Paulo – SP – Brasil (Disponível em:
http://mail.mailig.ig.com.br/mail/?
ui=2&ik=4fea903c1f&view=att&th=11ee0bee069ed725&attid=0.1&disp=vah&realatti
d=0.1&zw)

Mudanças no alfabeto
O alfabeto passa a ter 26 letras. Foram reintroduzidas as letras k, w e y.
O alfabeto completo passa a ser: A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V WX Y Z
Usam-se as letras k, w, y em:
a) na escrita de símbolos de unidades de medida: km (quilômetro), kg (quilograma), W
(watt);
b) na escrita de palavras e nomes estrangeiros (e seus derivados): show, playboy,
playground, windsurf, kung fu, yin, yang, William, kaiser, Kafka, kafkiano.

179
Trema
Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a letra u para indicar que ela deve
ser pronunciada nos grupos gue, gui, que, qui. Exemplos:
Aguentar; arguir; bilíngue; cinquenta; delinquente; eloquente; ensanguentado;
equestre; frequente; lingueta; linguiça; quinquênio; sagui; sequência; sequestro;
tranquilo
Atenção: o trema permanece apenas nas palavras estrangeiras e em suas derivadas.
Exemplos: Müller, mülleriano. O trema não existe mais, mas a pronúncia permanece.

Mudanças nas regras de acentuação


1. Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas
(palavras que têm acento tônico na penúltima sílaba). Exemplos:
alcaloide; alcateia; androide; ele apoia (verbo apoiar, 3ª p.s.); eu apoio (verbo apoiar,
1ª p.s.) apoio; asteroide; boia; celuloide; claraboia; colméia; Coreia; debiloide; epopeia;
estoico; estreia; eu estreio (verbo estrear); geleia; heroico; ideia; jiboia; joia; odisseia;
paranoia; paranoico; plateia; tramoia;
Atenção: essa regra é válida somente para palavras paroxítonas. Assim, continuam a
ser acentuadas as palavras oxítonas terminadas em éis, éu, éus, ói, óis. Exemplos:
papéis, herói, heróis, troféu, troféus.

2. Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no u tônicos quando


vierem depois de um ditongo. Exemplos:
baiuca; bocaiuva; cauila; feiura
Atenção: se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em posição final (ou seguidos
de s), o acento permanece. Exemplos: tuiuiú, tuiuiús, Piauí.

3. Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem e ôo(s). Exemplos:
abençoo; creem (verbo crer); deem (verbo dar); doo (verbo doar); enjoo; leem (verbo
ler); magoo (verbo magoar); perdoo (verbo perdoar); povoo (verbo povoar); veem
(verbo ver); vôos; zoo.

4. Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/para, péla(s)/ pela(s),
pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera. Exemplos:
Ele para o carro. / Ele foi ao polo Norte. / Ele gosta de jogar polo. / Esse gato tem pelos
brancos. / Comi uma pera. /
Atenção:
• Permanece o acento diferencial em pôde/pode. Pôde é a forma do passado do verbo
poder (pretérito perfeito do indicativo), na 3a pessoa do singular.
Pode é a forma do presente do indicativo, na 3a pessoa do singular.
Exemplo: Ontem, ele não pôde sair mais cedo, mas hoje ele pode.
• Permanece o acento diferencial em pôr/por. Pôr é verbo. Por é preposição. Exemplo:
Vou pôr o livro na estante que foi feita por mim.
• Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural dos verbos ter e vir,
assim como de seus derivados (manter, deter, reter, conter, convir, intervir, advir etc.).
Exemplos: Ele tem dois carros. / Eles têm dois carros. Ele vem de Sorocaba. / Eles vêm
de Sorocaba. Ele mantém a palavra. / Eles mantêm a palavra. Ele convém aos
estudantes. / Eles convêm aos estudantes. Ele detém o poder. / Eles detêm o poder.
Ele intervém em todas as aulas. / Eles intervêm em todas as aulas.
• É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as palavras forma/fôrma.
Em alguns casos, o uso do acento deixa a frase mais clara. Veja este exemplo: Qual é a
forma da fôrma do bolo?

180
5. Não se usa mais o acento agudo no u tônico das formas (tu) arguis, (ele) argui, (eles)
arguem, do presente do indicativo dos verbos arguir e redarguir.

6. Há uma variação na pronúncia dos verbos terminados em guar, quar e quir, como
aguar, averiguar, apaziguar, desaguar, enxaguar, obliquar, delinquir etc. Esses verbos
admitem duas pronúncias em algumas formas do presente do indicativo, do presente
do subjuntivo e também do imperativo. Veja:
a) se forem pronunciadas com a ou i tônicos, essas formas devem ser acentuadas.
Exemplos: verbo enxaguar: enxáguo, enxáguas, enxágua, enxáguam; enxágue,
enxágues, enxáguem.
verbo delinquir: delínquo, delínques, delínque, delínquem; delínqua, delínquas,
delínquam.
b) se forem pronunciadas com u tônico, essas formas deixam de ser acentuadas.
Exemplos (a vogal sublinhada é tônica, isto é, deve ser pronunciada mais fortemente
que as outras):
verbo enxaguar: enxaguo, enxaguas, enxagua, enxaguam; enxague, enxagues,
enxaguem.
verbo delinquir: delinquo, delinques, delinque, delinquem; delinqua, delinquas,
delinquam.
Atenção: no Brasil, a pronúncia mais corrente é a primeira, aquela com a e i tônicos.

Uso do hífen
Algumas regras do uso do hífen foram alteradas pelo novo Acordo. Mas, como se trata
ainda de matéria controvertida em muitos aspectos, portanto ainda não é definitiva a
regra. A Academia Brasileira de Letras está elaborando uma regra mais esclarecedora
As observações a seguir referem-se ao uso do hífen em palavras formadas por prefixos
ou por elementos que podem funcionar como prefixos, como: aero, agro, além, ante,
anti, aquém, arqui, auto, circum, co, contra, eletro, entre, ex, extra, geo, hidro, hiper,
infra, inter, intra, macro, micro, mini, multi, neo, pan, pluri, proto, pós, pré, pró,
pseudo, retro, semi, sobre, sub, Bsuper, supra, tele, ultra, vice etc.

1. Com prefixos, usa-se sempre o hífen diante de palavra iniciada por h. Exemplos:
anti-higiênico; anti-histórico; co-herdeiro; macro-história; mini-hotel; proto-história
sobre-humano; super-homem; ultra-humano;
Exceção: subumano (nesse caso, a palavra humano perde o h).

2. Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal diferente da vogal com que se
inicia o segundo elemento. Exemplos:
aeroespacial; agroindustrial; anteontem; antiaéreo; antieducativo; autoaprendizagem;
autoescola; autoestrada; autoinstrução; coautor; coedição; extraescolar; infraestrutura;
plurianual; semiaberto; semianalfabeto; semiesférico; semiopaco;
Exceção: o prefixo co aglutina-se em geral com o segundo elemento, mesmo quando
este se inicia por o: coobrigar, coobrigação, coordenar, cooperar, cooperação, cooptar,
coocupante etc.

3. Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento


começa por consoante diferente de r ou s. Exemplos:
anteprojeto; antipedagógico; autopeça; autoproteção; coprodução; geopolítica;
microcomputador; pseudoprofessor; semicírculo; semideus; seminovo; ultramoderno;
Atenção: com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen. Exemplos: vice-rei, vice-almirante
etc.

181
4. Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento
começa por r ou s. Nesse caso, duplicam-se essas letras. Exemplos:
antirrábico; antirracismo; antirreligioso; antirrugas; antissocial; biorritmo; contrarregra;
contrassenso; cosseno; infrassom; ;microssistema; minissaia; multissecular;
neorrealismo; neossimbolista; semirreta; ultrarresistente.; ultrassom;

5. Quando o prefixo termina por vogal, usa-se o hífen se o segundo elemento começar
pela mesma vogal. Exemplos:
anti-ibérico; anti-imperialista; anti-inflacionário; anti-inflamatório; auto-observação;
contra-almirante; contra-atacar; contra-ataque; micro-ondas; micro-ônibus; semi-
internato; semi-interno.

6. Quando o prefixo termina por consoante, usa-se o hífen se o segundo elemento


começar pela mesma consoante. Exemplos:
hiper-requintado; inter-racial; inter-regional; sub-bibliotecário; super-racista; super-
reacionário; super-resistente; super-romântico;
Atenção:
• Nos demais casos não se usa o hífen. Exemplos: hipermercado, intermunicipal,
superinteressante, superproteção.
• Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra iniciada por r: sub-
região, sub-raça etc.
• Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de palavra iniciada por m, n e
vogal: circum-navegação, pan-americano etc.

7. Quando o prefixo termina por consoante, não se usa o hífen se o segundo elemento
começar por vogal. Exemplos:
hiperacidez; hiperativo; interescolar; interestadual; interestelar; interestudantil;
superamigo; superaquecimento; supereconômico; superexigente; superinteressante;
superotimismo

8. Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró, usa-se sempre o hífen.
Exemplos:
além-mar; além-túmulo; aquém-mar; ex-aluno; ex-diretor; ex-hospedeiro; ex-prefeito;
ex-presidente; pós-graduação; pré-história; pré-vestibular; pró-europeu; recém-casado;
recém-nascido; sem-terra.

9. Deve-se usar o hífen com os sufixos de origem tupi-guarani: açu, guaçu e mirim.
Exemplos: amoré-guaçu, anajá-mirim, capim-açu.

10. Deve-se usar o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se
combinam, formando não propriamente vocábulos, mas encadeamentos vocabulares.
Exemplos: ponte Rio-Niterói, eixo Rio-São Paulo.

11. Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam a noção de composição.
Exemplos:
girassol; madressilva; mandachuva; paraquedas; paraquedista; pontapé

12. Para clareza gráfica, se no final da linha a partição de uma palavra ou combinação
de palavras coincidir com o hífen, ele deve ser repetido na linha seguinte. Exemplos:
Na cidade, conta- o diretor recebeu os ex-
-se que ele foi viajar. -alunos
Resumo - Emprego do hífen com prefixos - Regra básica
Sempre se usa o hífen diante de h: anti-higiênico, super-homem.

182
Outros casos
1. Prefixo terminado em vogal:
• Sem hífen diante de vogal diferente: autoescola, antiaéreo.
• Sem hífen diante de consoante diferente de r e s: anteprojeto, semicírculo.
• Sem hífen diante de r e s. Dobram-se essas letras: antirracismo, antissocial,
ultrassom.
• Com hífen diante de mesma vogal: contra-ataque, micro-ondas.

2. Prefi xo terminado em consoante:


• Com hífen diante de mesma consoante: inter-regional, sub-bibliotecário.
• Sem hífen diante de consoante diferente: intermunicipal, supersônico.
• Sem hífen diante de vogal: interestadual, superinteressante.

Observações
1. Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra iniciada por r sub-
região, sub-raça etc. Palavras iniciadas por h perdem essa letra e juntam-se sem hífen:
subumano, subumanidade.
2. Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de palavra iniciada por m, n e
vogal: circum-navegação, pan-americano etc.
3. O prefixo co aglutina-se em geral com o segundo elemento, mesmo quando este se
inicia por o: coobrigação, coordenar, cooperar, cooperação, cooptar, coocupante etc.
4. Com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen: vice-rei, vice-almirante etc.
5. Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam a noção de composição,
como girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista etc.
6. Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró, usa-se sempre o hífen:
ex-aluno, sem-terra, além-mar, aquém-mar, recém-casado, pós-graduação, pré-
vestibular, pró-europeu.

REFORMA ORTOGRÁFICA: Minivocabulário

Palavras e expressões com ou sem hífen


Inez Sautchuk*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Palavras e expressões mais usadas com ou sem hífen, atualizadas conforme o Acordo
Ortográfico.
A E P
a fim de em cima pan-africano
à queima-roupa embaixo pan-americano
à toa 1 entre-eixo pan-hispânico
à vontade euro-asiático para-brisa
abaixo-assinado eurocêntrico para-choque
ab-rupto 2 ex-almirante para-lama
acerca de ex-diretor paraquedas
aeroespacial ex-presidente paraquedismo
afro-americano ex-primeiro- paraquedista
afro-asiático ministro para-raios
afro-brasileiro ex-secretária pé-de-meia
afrodescendente extra-alcance pingue-pongue
afro-luso-brasileiro extraclasse plurianual
agroindustrial extraescolar poli-hidratação
água-de-colônia extrafino pontapé

183
além-Brasil extraoficial ponto e vírgula
além-fronteiras extrarregular por baixo de
além-mar extrassolar por isso
amor-perfeito extrauterino porta-aviões
andorinha-do-mar F porta-retrato
anel de Saturno faz de contas porto-alegrense
anglomania (um ...) pós-graduação
anglo-saxão feijão-verde pospor
ano-luz fim de século pós-tônico
antessala fim de semana predeterminado
antiaderente folha de flandres preenchido
antiaéreo francofone pré-escolar
antieconômico G preexistente
anti-hemorrágico general de divisão preexistir
anti-herói geo-história pré-história
anti-higiênico giga-hertz pré-natal
anti-ibérico girassol pré-nupcial
anti-imperialista grã-fina pré-requisito
anti-infeccioso grão-duque pressupor
anti-inflacionário grão-mestre primeiro-ministro
anti-inflamatório Grão-Pará primeiro-sargento
antirreligioso guarda-chuva pró-ativo
antissemita guarda-noturno proeminente
antissocial Guiné-Bissau propor
ao deus-dará H pró-reitor
arco e flecha habeas-corpus pseudo-
arco-da-velha (o...) organização
arco-íris hidroelétrico pseudossigla
arqui-inimigo hidrelétrico Q
autoadesivo hidrossolúvel quem quer que
autoafirmação hidroterapia seja
autoajuda hipermercado R
autoaprendizagem hiper-raquítico reabilitar
autoeducação hiper-realista reabituar
autoescola hiper-requintado reaver
autoestima I recém-casado
autoestrada inábil recém-eleito
auto-hipnose indo-chinês 7 recém-nascido
auto-observação indochinês 8 reco-reco
auto-ônibus indo-europeu reedição
auto-organização infra-assinado reeleição
autorregulamentaçã infra-axilar reescrita
o infraestrutura reidratar
ave-maria infrassom retroalimentação
azul-escuro inter-hemisférico reumanizar
B inter-racial S
Baía de Todos-os- inter-regional sala de jantar
Santos inter-relacionado segunda-feira
belo-horizontino intramuscular sem-cerimônia
bem-aventurado intraocular semiaberto
bem-criado intraoral semianalfabeto
bem-dito intrauterino semiárido

184
bem-dizer inumano semicírculo
bem-estar J semi-interno
bem-falante joão-de-barro semiobscuridade
bem-humorado joão-ninguém semirrígido
bem-me-quer L semisselvagem
bem-nascido latino-americano sem-número
bem-te-vi lenga-lenga sem-vergonha
bem-vestido luso-brasileiro sobreaquecer
bem-vindo lusofobia sobre-elevação
bem-visto lusofonia sobre-estimar
bendito (= M sobre-exceder
abençoado) macroestrutura sobre-humano
benfazejo macrorregião sobrepor
benfeito madressilva social-democracia
benfeitor mãe-d'água social-democrata
benfeitoria má-fé sociocultural
benquerença mais-que-perfeito socioeconômico
benquerer mal de Alzheimer subalimentação
benquisto mal-acabado subalugar
bico-de-papagaio mal-afortunado subaquático
(planta) malcriado subarrendar
bio-histórico malditoso sub-brigadeiro
biorritmo mal-entendido subemprego
biossocial mal-estar subestimar
blá-blá-blá malgrado subdiretor
boa-fé mal-humorado sub-humano
bumba meu boi mal-informado subfaturar
C má-língua sub-reitor
café com leite mal-limpo sub-rogar
calcanhar de aquiles malmequer sul-africano
cão de guarda malnascido superestrutura
carboidrato 3 malpassado super-homem
causa-mortis (a...) malpesado super-racional
centroafricano 4 malquerer super-resistente
centro-africano 5 malquisto super-revista
circum-murado malsoante supraocular
circum-navegação malvisto suprarrenal
coabitação mandachuva suprassumo
coautor manda-lua T
cobra-d'água manda-tudo tenente-coronel
coco-da-baía maria vai com as tico-tico
coedição outras tio-avô
coeducação médico-cirurgião tique-taque
coenzima mesa-redonda tomara que caia
coerdar mestre-d'armas U
coerdeiro microcirurgia ultraelevado
coexistente microempresa ultrarromântico
coexistir microestrutura ultrassecreto
cofator micro-ondas ultrassensível
coirmão micro-organismo ultrassom
comum de dois microssistema ultrassonografia
conta-gotas minicurrículo V

185
contra-almirante minissaia vaga-lume
contra-ataque minissérie vassoura-de-
contracheque multissegmentado bruxa
contraexemplo N verbo-nominal
contraindicação não agressão vice-almirante
contraindicado não fumante vice-presidente
contraofensiva não me toques 9 vice-rei
contraoferta não violência vira-casaca
contraordem não-me-toques 10 X
contrarregra neoafricano xique-xique 11
contrassenha neoexpressionista xiquexique 12
contrassenso neoimperialista Z
coobrigação neo-ortodoxo zás-trás
coocupante norte-americano zé-povinho
coocupar O zigue-zague
cooptar olho-d'água zum-zum
cor de café
cor de café com leite
cor de vinho
cor-de-rosa
couve-flor
criado-mudo
D
decreto-lei
dente-de-leão
depois de amanhã
desumano
deus nos acuda
(um...)
dia a dia 6
disse me disse
(um...)
doença de Chagas
1 como adjetivo ou como advérbio.
2 preferível esta forma a "abrupto", também correta.
3 a forma carbo-hidrato também está correta.
4 refere-se à República Centroafricana.
5 refere-se à região central da África.
6 como substantivo ou como advérbio.
7 quando significar Índia + China; indianos + chineses.
8 referente à Indochina.
9 significando "facilidade de magoar-se".
10 planta.
11 chocalho.
12 planta.
Este quadro está apoiado nas obras:
BECHARA, Evanildo. O que muda com o Novo Acordo
Ortográfico. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2008.
INSTITUTO ANTÔNIO HOUAISS. Escrevendo pela Nova
Ortografia. Rio de Janeiro/São Paulo, Houaiss/Publifolha,
2008.

186
GOMES, Francisco Álvaro. O Acordo Ortográfico. Porto, Porto
Editora, 2008.

*Inez Sautchuk é doutora em Letras pela USP, professora universitária aposentada,


autora de livros sobre produção de texto e morfossintaxe

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