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JOAO BATISTA SENA COSTA UFPA YOCITERU HASUI UNESP ROBERTO VIZEU LIMA PINHEIRO UFPA Bacias Sedimentares Aspectos gerais da geometria, desenvolvimento, preenchimento e inversao 2 UNIV! 1A, Uso AP oA. Belém - PA 1992 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARA Reitor Nilson Pinto de Oliveira Vice-Reitor Camillo Martins Vianna Pré-Reitor de Administrag4o Marcos Ximenes Ponte Pr6-Reitor de Ensino Maria Candida Mendes Forte Pré-Reitor de Extensao Alex Bolonha Fiuza de Mello Pré-Reitor de Pesquisa Sidney Emanuel Batista dos Santos Pr6-Reitor de Planejamento Arnaldo Prado Junior Secretério Geral da UFPA Bernardino Ribeiro Prefeito do Campus Joao Pinto de Castro Filho Assessora para Assuntos de Editoragao Ruth Burlamaqui de Moraes Catalogacao: Biblioteca Central C837 Costa, Jodo Batista Sena Bacias sedimentares; aspectos gerais da geome- tria, desenvolvimento, preenchimento e inversao. Belém, UFPA, 1992 116 p. ISBN: 85-247-0072 - 6 Colaboragdo de Yociteru Hasui e Roberto Vizeu Lima Pinheiro. I. Bacia de sedimentagao. J. Hasui, Yociteru. IL. Titulo. CDD - 551.303 _. Apresentacao E parte da politica editorial da Universidade Federal do Para a publicagdo de textos diddticos que sirvam de suporte aos estudos de graduagéo e pés-graduagéo ou de complemen- tagao a bibliografia geral das diversas disciplinas. Este esforgo da administragéo tem encontrado ressonan- cia por parte de docentes, alguns j4 com trabalhos desta natu- reza, servindo néo apenas aos estudantes da UFPA, mas, igualmente, de outras universidades brasileiras. E 0 caso do presente trabalho ja usado e testado em varias instituigées de ensino e pesquisa e que agora tera uma mais ampla divulgacdo através da Editora da UFPA. NILSON PINTO DE OLIVEIRA Reitor Titulo e texto eran pela Lei n. 5 988, de 14 de dezembro de 1973. Copyright © 1992, Joo Batista Sena Costa et al. CONSELHO EDITORIAL Presidente: Ruth Burlamaqui de Moraes Membros: Amarilis Tupiassu, Marcos Ximenes Ponte, Jane Fe- lipe Beltrao, Ricardo Ishak. Representante da BC: Maria das Gragas da S. Pena Representante da Grafica e Editora: Ivan Brasil EDITORA DA UNIVERSIDADE Diretor: Ivan Brasil Editores Executivos: Ivan Brasil Maria das Dores Sarmento Revisao Editorial: Berenice Loureiro Lisbela Braga Capa: Alcindo Cavalcante Normalizagao: Maria José B. Accioli Ramos Depésito legal na Biblioteca Nacional, conforme Decreto n. 1 825 de 20.12.1907. Prefacio Nos tiltimos tempos, tem-se ampliado notavelmente o entendimento das relagdes da geometria e movimentagao das falhas com a arquitetura das bacias sedimentares e fa- ciologia do seu preenchimento. Esse progresso tem ocorrido nao incidentalmente ou como modismo, mas insere-se no quadro geral de rapido avanco das Ciéncias Geoldgicas iniciado ha trés décadas com a difusao da Teoria da Tecténica de Placas e que prossegue a largos passos. Ele decorre naturalmente das inovagoes nas bases conceituais e aperfeigoamentos de técnicas de investi- gacéo, sob o impulso da importancia econdmica que as ba- cias tem como hospedeiras de petréleo, gas e sais. O interes- se amplia-se ainda mais quando se considera 0 processo de inversdo das bacias que, nos casos extremos, as incorporam a cinturdes fortemente deformados e abrigam uma grande variedade de depésitos minerais. O presente texto 6 um apanhado das informagées sobre aspectos essenciais da geometria, desenvolvimento, preen- chimento e inverséo de bacias. O assunto 6 muito amplo e uma sintese como esta, que procura ser breve e abrangente, forgosamente nao pode ter outra pretenséo que nao a de trazer uma visdo de conjunto dessas facetas. O leitor podera encontrar maiores detalhes nos principais trabalhos citados sobre os aspectos abordados, bem como indicagées de outras fontes de consulta. : O texto foi primeiramente preparado como material de apoio para cursos de graduagéo e pés-graduagao, iniciados pioneiramente na Universidade Federal do Pard e levados para outras universidades e instituigées de pesquisa do Pats. A receptividade foi muito positiva ao longo dos ultimos anos e estimulou a busca de uma forma de divulgagéo mais am- pla: esse esforgo de disseminagao encontrou o apoio na Edi- tora da Universidade Federal do Para, que se materializa nesta publicagao. O assunto abordado ja comegou a permear 0 pensamen- to geolégico no Pais e, certamente, progressos ocorrerao ra- pidamente no futuro proximo. Esta obra procura contribuir nesse sentido e se alcancar esse objetivo, os esforgos para sua elaboracdo e edic&o estaréo recompensados. Os autores. LISTA DE FIGURAS | FIG. E 1 Falha normal. O movimento é do tipo frontal. 2 2 Falha normal e componentes de rejeito total (R). 3 3 Falha normal rotacional planar. 4 4 Sistema normal listrico. 5 5 Zona normal de descolamento, delimitando inferiormente o sistema Ifstrico. 5 6 Falhas normais sintéticas e antitéticas. 6 7 Dominios riptil e dictil da crosta. q 8 Esquemas de zonas de cisalhamento ruptil (a), raptil-dictil (b), ductil-raptil (c) e ductil (d). 8 9 Sistema de falhas normais. 9 10 Horste e grébens. 10 11 Hemigrdaben. 10 12 Hemigrdben em domind, formado por falhas planares rotacionais. 11 13 Rotacdo de blocos em domin6 (1) e desenvolvimento de segunda geragdo de falhas (2, 3). 12 14 Leque imbricado extensional com a zona de descolamento... 13 15 Desenvolvimento do Ieque imbricado por colapso do piso (A) € por colapso do teto (B). 14 16 Leque imbricado sintético (A) € leque sintético complicado por falhas antitéticas (B). 15 17 Desenvolvimento de uma segunda zona de descolamento (A). 16 18 Desenmvolvimento de um plano de descolamento em escada.... 17 19 Deslocamento € rotacdo (A) e erosao de vértices (B) de cunhas. 18 20 Leque listrico antitético desenvolvido por influéncia de anisotropias... 19 21 Descolamento e colapso por efeito gravitacional em resposta... 19 22 Volteio ou antiforma de teto conseqiente da rotagao progressiva... 20 23 Sedimentacdo e formagao de discordancia por erosdo do pacote que sofre... 21 24 Soerguimento e erosao de parte do piso. We 25 O desenvolvimento do sistema Ifstrico (A)... 23 26 Volteio (antiforma de teto) e sinforma pareados, relacionados com... 24 27 Desenvolvimento de sinforma no teto por aumento progressivo... : { t4. 25 28 Modificagdo do volteio por compactagao (A)... ea 25 43 44 46 47 48 49 50 ol py 33, 54 55 56 57 58 59 60 1 Falhas normais e inversas formadas por deslocamento oblfquo. Falhas de transferéncia ou transferentes esquematizadas em... Falhas de acomodacao. Estrutura em teclado. Falhas de acomodagdo rotacional A falha de transferéncia ou de acomodagdo, que pode configurar... Exemplo de estrutura em flor extensional... Falhas de transferéncia separando segmentos com diferentes... Falhas de transferéncia (A) e falhas transformantes (B). Principais elementos da arquitetura de uma bacia. Prismas do embasamento afetado por erosao. Falhas nos sedimentos (A) e deslizamentos gravitacionais (B)... Novos descolamentos ¢€ leques listricos nos sedimentos acomodando parte... Deslocamentos de cunhas e migragéo de depocentros na progressao da deformacao. Modelo de falhas normais na crosta superior... Padroes de falhas nos modelos de estiramento crustal. Padrao lenticularizado ou anastomético da crosta inferior... Desenvolvimento progressivo do volteio em resposta... Durante o desenvolvimento do volteio geralmente ha variagao... A tensdo criada no teto da falha Ifstrica em fungéo da ampliagao... Bacia formada por um plano de descolamento em escada. Formacdo do volteio (A) e modificagaéo do mesmo por inversdo positiva... Estruturas antiformais e sinformais... Segdo do Mar do Norte, mostrando uma bacia de afundamento... Bacia com arquitetura do embasamento em domin6... Bacia formada pela articulagdo de falhas transcorrentes e normais. Secdo de uma bacia do Mar do Norte, formada por falhas transcorrentes e normais. Exemplo de uma bacia por falhas transcorrentes e normais. Bacia instalada ao longo de uma zona de transferéncia. Bacia mista ao longo da zona de rasgamento... Principais mecanismos de subsidéncia. Adelgagamento homogéneo da litosfera segundo McKenzie (1978). : Modelo de adelpagamento litosférico e subida da astenosfera de McKenzie (1978). i 26 27 28 28 29 29 30 31 32 34 34 35 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 13 74 73 76 ay 78 79. 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 Q = Modelo de adelgacgamento litosférico, de Wernicke (1985)... Adelgagamento litosférico segundo Coward (1986). Hemigrd4ben continental com drenagem interior interagindo com corpos lacustres. Bacia continental com drenagem axial. Bacia marinha costeira do tipo golfo. Bacia marinha costeira com plataforma carbonatica. Adelgagamento simples da litosfera... Diagrama temperatura versus profundidade... Diagramas mostrando a relagao entre estiramento, quantidade... Possiveis efeitos geoldégicos da fusdo parcial. Sistemas de falhas lstricas normais... Diagrama de Mohr, com envoltérias de Coulomb-Navier... Reativacdo de varios sistemas de falhas normais. Ponto nulo. O sistema extensional (A)... Principais tipos de inverséo promovida por... Inversdo de sistemas transcorrentes. Inversao de sistema domino a partir de propagagao de cavalgamento do piso. Inversdo do sistema domin6 por retro-rotagao. Inversao de falhas lfstricas. Modelos geométricos explicando a presenca de prismas... Diagramas mostrando as relagoes temperatura versus profundidade... Relacdo entre cavalgamentos na cobertura e presenga de uma escarpa de falha normal. Intensidade de inversdo identificada... SegGes de bacias fracas e fortemente invertidas. Hemigrdben McCoor, um exemplo de bacia invertida. Determinagio do perfil de uma falha lfstrica pelo método Chevron. Variante do método Chevron utilizando a geometria de volteio. Variante do método Chevron utilizando as linhas de deslocamento. Variante do método Chevron utilizando a trajetéria do deslocamento. Comparagdo de resultados obtidos com os fornecidos pela s{smica. 99 100 101 101 Sumario APRESENTACGAO ~ PREFACIO 1 INTRODUCGAO 2 ZONAS DE CISALHAMENTO NORMAIS (ZCs) 3 SISTEMAS DE FALHAS NORMAIS 4 GEOMETRIA DAS BACIAS 4.1 ELEMENTOS GEOMETRICOS 4.1.1 Arquitetura Geral 4.1.2 Falhas Lfstricas e Zonas de Descolamento 4.1.3 Falhas Antitéticas e Volteio 4.2 TIPOS DE BACIAS 4.2.1 Bacias Formadas por Falhas com Patamares e Langos 4.2.2 Bacias Formadas por Afundamento do Teto 4.2.3 Bacias Formadas por Falhas Planares em Arranjo de tipo Dominé 4.2.4 Bacias Formadas por Feixes Transcorrentes e Normais Combinados 5 DESENVOLVIMENTO DE BACIAS 5.1 MODELO DE McKENZIE 5.2 MODELO DE WERNICKE 5.8 MODELO DE COWARD 6 MODELOS SEDIMENTARES PARA BACIAS DE TIPO HEMIGRABEN 6.1 INTRODUGAO 42 44 45 47 51 53. 66 67 59 59 6.2 MODELO DE BACIA CONTINENTAL COM DRENA- GEM INTERIOR 6.3 MODELO DE BACIA CONTINENTAL COM DRENA- GEM PRINCIPAL AXIAL ~ 62 6.4 MODELO DE BACIA COSTEIRA DE TIPO GOLFO 63 6.5 MODELO DE BACIA COM PLATAFORMA CARBONA- TICA 64 6.6 CONSIDERAGOES ADICIONAIS 66 7 FUSAO PARCIAL E ADELGACAMENTO DA LI- TOSFERA 67 8 INVERSAO DE BACIAS 72 8.1 INVERSAO 72, 8.2 REATIVACAO DE SISTEMAS EXTENSIONAIS 15 8.3 TIPOS DE INVERSAO 81 8.4 FATORES QUE CONTROLAM A INVERSAO DE BA- CIAS 84 8.5 PORCENTAGEM DE ENCURTAMENTO EM RELA- CAO A ELONGAGAO ORIGINAL 91 ANEXO 97 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS . 102 1 INTRODUCAO A Tectonica de Placas, desde sua consolidagao na déca- da de 60, acarretou profundas mudangas na visdo dos fatos geolégicos, trazendo maior coeréncia, clareza e simplicidade para o entendimento dos mesmos. No campo da Geologia Estrutural/Geotectonica, as multiplas feigdes, que antes eram imaginadas como geradas por eventos polifasicos de sucessivos e cambiantes ciclos tecténicos, sao hoje examina- das sob a luz de processos de deformagao progressiva e ino- mogénea e em termos de regimes tecténicos extensional, contracional e transcorrente, relacionados aos movimentos de placas, em manifestagdes de ciclos de Wilson, completos ou incompletos. Com isso, foi possivel avangar-se muito na compre- ensao do arcabougo e evolugdéo das bacias, um tema da mais alta relevancia nao s6 em termos das bacias fanerozdicas do nosso territério, pouco ou nada invertidas, como também para aquelas mais antigas, em geral fortemente invertidas. Nos itens seguintes séo abordados os aspectos essen- ciais do regime tecténico extensional, compreendendo a geometria dos sistemas de zonas de cisalhamento normais e desenvolvimento da arquitetura, preenchimento e inversaéo das bacias. 2 ZONAS DE CISALHAMENTO NORMAIS (ZCNs) Zona de cisalhamento normal ou de gravidade (1 normal, gravity shear zone) 6 aquela que envolve movimentos relati- vos de abatimento do bloco situado acima dela e algamento do bloco situado abaixo (figura 1). O bloco superior é 0 teto ou capa (hanging wall) e 0 inferior, 0 piso ou lapa (footwall). O deslocamento se dé segundo o mergulho da zona de cisa- Ihamento ou obliquamente ao mesmo. TETO OU CAPA PISO OU LAPA ‘ FIG. 1. Falha normal. O movimento 6 do tipo frontal. O bloco superior 6 o teto ou capa & O inferior, o piso ou lapa. «| A menor distancia entre dois pontos antes contiguos, no plano de cisalhamento, é 0 rejeito total (net slip). Este po- de ser decomposto em componentes que sao os rejeitos dire- cional e de mergulho, no plano de cisalhamento, bem como em rejeitos horizontal e vertical, no plano vertical que contém a reta de rejeito total (figura 2). R- Rejeito total ol - merguiho do rejeito d- Rejeito direcional @ - inclinagde do rejeito m- Rejeito de mergulho h - Rejeito horizontal v- Rejeito vertical £5 FIG. 2. Falha normal e componentes de rejeito total (R). De- composigéo no plano da falha: componentes direcional (d} e de mergulho (m). Decomposigio no plano vertical que contém a es- tria: componentes horizontal (h) e vertical (v} O Angulo hAR éo0 mergulho do rejeito e o Angulo df R é a inclinagho do rejeito. O tracejado representa estrias de atrito. A nao-horizontalidade do rejeito total pode ser referida em termos de Angulo de inclinagéo em relagao a um plano horizontal (figura 2): esse 6 o mergulho do rejeito (plunge). Pode também ser referida A diregao da zona de cisalhamento (figura 2): essa é a inclinagdo do rejeito (1 rake). As ZCNs tém extensdes que podem varias de escala mi- croscépica a quilométrica, com deslocamentos até da ordem. de quilémetros. O movimento é acomodado ao longo de fai- xas de espessuras submilimétricas até cuilométricas. E compreensivel que uma vasta terminologia tenha si- do introduzida para descrever variadas situagoes e arranjos de ZCNs. Os critérios mais importantes de classificagao e respectivos termos sao: 1) Quanto a forma, podem ser planares (figura 1) ecur- viplanares, estas incluindo as cilindricas, cénicas e irregulares, 2) Quanto ao mergulho, podem ser de alto ( 60 a 90°), médio ( 30 a 60°) e baixo mergulho ( Oa 30°). Predominam aquelas de mergulhos em torno de 60° (figura 1). 3) Quanto a inclinagdo do rejeito, podem ser de rejeito de mergulho (figura 1) e de rejeito obliquo, este vol- tado para a esquerda ou para a direita (figura 2), olhando do teto para o piso. 4) Quanto ao tipo de movimento, podem ser: a) translacionais ou ndo-rotacionais, em que os blo- cos sofrem translagao, isto 6, preservam 0 parale- lismo de elementos geométricos anteriormente pa- ralelos (figuras 1 e 2). Podem ser planares ou cur- viplanares; b) rotacionais ou pivotantes, em que os blocos sofrem rotacéo. O eixo de rotagaéo €é em geral perpendicular 4 ZCN (figura 3). Podem ser planares e curviplares; c) mistas, em que ha uma combinagao de translagao e rotacao. Este 6 0 tipo mais comum. FIG. 3. Falha normai rotacional planar. As estrias de atrito sho curvilfneas. 7) Quanto ao rumo do mergulho, podem ser: a) sintéticas ou homotéticas, quando tém o mesmo sentido de mergulho e deslocamento das ZCNs de primeira ordem (figura 6); b) antitéticas, quando apresentam o sentido do mer- gulho oposto ao das ZCNs de primeira ordem (fi- gura 6). yonhs DE CISALHAMENTO ZONAS DE CISALHAMENTO NORMAIS SINTETICAS NORMAIS ANTITETICAS LLET er 4 FIG. 6. Falhas normais sintéticas e antitéticas. As primeiras tém mergulhos e movimentos voltados para o mesmo sentido dos da zona de descolamento; as segundas, em sentido oposto. 8) Quanto A relagdo com a orientagao de outros elemen- tos planares (camadas, foliagdes). podem ser longitu- dinais, transversais e obliquas. A deformacéo na crosta é essencialmente ruptil até pro- fundidades da ordem de 10-15 km e temperaturas da ordem de 250-300°C; ali se passa para o dominio onde prevalece a deformagao ductil (Sibson 1977) (figura 7). Assim, as zonas de cisalhamento podem ser de tipos riptil e dictil, Como existem transigdes, em fungao do comportamento mecaénico das rochas e minerais, podem ser separados ainda os tipos dictil-riptil e réptil-dictil, conforme a prevaléncia de um ou outro mecanismo (figura 8). O termo falha é utilizado para_zona de cisalhamento raptil ou_raptil-dictil, em que a deformacao foi essencial- "mente ruptil, com desenvolvimento de rochas da série cata- cléstica (Hasui & Costa 1988). A designagéo zona de cisa- lhamento dictil é utilizada para zona de cisalhamento dictil ou ductil-raptil, em que prevalece a deformagao ductil, com desenvolvimento de rochas da série _milonttica (Hasui & Costa 1988). No caso das ZCNs, aquelas de tipo ruptil e eventualmente ruptil-dictil sao as correntemente mais in- vestigadas e, por isso, no texto que se segue as referéncias se voltam principalmente para as falhas normais. SERIE CATACLASTICA INCOESA SERIE MILONITICA FIG. 7. Dom{fnios ruptil e diictil da crosta. A transigéo ruptil- ductil d4-se a 10-15 km de profundidade, sob temperaturas de 250-300°C. Baseado em Gibbson (1977). c d FIG. 8. Esquemas de zonas de cisalhamento rdptil (a), ruptil- dtictil (b), dtctil-raptil (c) e ductil (d). Baseado em Ramsay (1980). 38 SISTEMAS DE FALHAS NORMAIS Os sistemas de falhas normais, conjugados ou nao, in- cidem em escala regional na crosta superior, de comporta- mento rigido, e decorrem de estiramento horizontal, rela- cionado com adelgacamento litosférico, na crosta inferior e manto litosférico incidem zonas de cisalhamento ductil ou deformacdéo ductil (figura 9). CROSTA OCEANICA DESCOLAMENTO DUCTIL MOHO. FIG. 9. Sistema de falhas normais. O seu desenvolvimento en- volve a propagacho das ZCNs na crosta e no manto litosférico, rotacho progressiva dos prismas do embasamento e adelgaga- mento da litosfera. 10 Como em outros tipos de falhas, as normais ocorrem geralmente em sistemas conjugados, separando blocos des- nivelados, que sdo os horstes e grabens (figura 10). O padrao simétrico nem sempre se constitui, podendo haver menor desenvolvimento ou mesmo auséncia de um dos sistemas, resultando desnivelamentos e adernamentos de blocos que configuram a estrutura denominada hemigrdben ou graben assimétrico (figura 11). GRABENS HORSTE FIG. 11. Hemigrében. 11 A rotacéo de blocos associada com falhas planares, compondo o chamado modelo dominé (figura 12), tem se mostrado como concepgao coerente para explicar os grabens. O abatimento e rotagdo de blocos limitados por falhas da-se de modo que as fatias séo rotacionadas, criando espagos na base dos blocos rigidos que seriam preenchidos por mate- riais fluindo plasticamente, ou por magma gerado pela ele- vacéo de isotermas relacionadas com o adelgacamento li- tosférico. Altas taxas de estiramento crustal propiciam des- locamentos importantes de blocos e rotagdes com decrésci- mos correspondentes no Angulo de inclinagdo das falhas; com a progressdo, o sistema tende a se tornar menos ativo, ja que sua postura sub-horizontalizada induz resisténcia a movimentacéo ao longo das falhas e inibigéo a rotagdo. Eventualmente, pode-se constituir um novo sistema de fa- Ihas, que sofre movimentacdo andloga (figura 13) e impée rotacdo no sistema formado anteriormente. FIG. 12. Hemigrében em dominé6, formado por falhas planares rotacionais. : SISTEMA EM DOMING IMPLANTAGAO OE UMA SEGUNDA ETAPA DE DEFORMAGAO EXTEN SIONAL SUPERPOSTA A ANTE- RIORMENTE FORMADA PROGRESSAO 00 EsTAGIO ANTERIOR FIG. 13. Rotaco de blocos em dominé (1) e desenvolvimento de segunda geracio de falhas (2, 3). Baseado em Ramsay & Huber (1987). Mais recentemente, com a aplicagdo de métodos geofisi- cos em terrenos extensionais, passou-se a considerar um se- gundo modelo, o chamado modelo lfstrico, Nesse modelo, as falhas normais separam as cunhas, lascas, fatias ou escamas (riders, de Gibbs 1984) paralelas de rochas que, em profun- didade, se encurvam e se justapdem formando o feixe ou le- que listrico (figura 4), inexistindo o problema de espago em profundidade. Este feixe configura, regionalmente, o leque imbricado extensional, delimitado na base pela zona de des- colamento, que pode se propagar no manto litosférico, como ilustra a figura 14 (Wernicke 1981, Wernicke & Burchfiel 1982, Jackson & McKenzie 1983, Jackson 1987, Gibbs 1987). 13 FEIXe L{sTRICO ZONA OE DESCOLAMENTO << MOHO FIG. 14. Leque imbricado extensional com a zona de descola- mento propagando-se através da crosta inferior e do manto li- tosféricc. Baseado em Gibbs (1.987). O desenvolvimento das falhas listricas sintéticas dé-se sucessivamente mediante propagagdo por colapso do piso ou Japa (footwall collapse, piggy-back structure) ou por colapso do teto ou_capa (hanging wall colapse), com o bloqueio de deslocamentos numa falha propiciando o desenvolvimento de outra vizinha. No primeiro caso, as lascas vao se abaten- do uma apés a outra, com a zona de descolamento migrando piso adentro (figura 15A); a primeira falha de descolamento torna-se uma falha de teto, delimitando superiormente o conjunto de lascas. No segundo caso, a falha de topo migra teto adentro (figura 15B); a primeira falha torna-se uma fa- tha de base, delimitando inferiormente o conjunto de lascas. O conjunto de falhas listricas e lascas isoladas forma o leque imbricado extensional sintético (figura 16A). Pode também haver o desenvolvimento de uma seqiiéncia de falhas antité- ticas (figura 16B), chegando a compor leque imbricado ex- tensional antitético, : PROPAGAGAO DE FALHAS EM PROPAGACAO DE FALHAS EM DIRECAO AQ PISO DIREGAO AQ TETO FIG. 15. Desenvolvimento do leque imbricado por colapso do pi- so (A) e por colapso do teto (B). Em A, o volteio é progressiva- mente ampliado e em B, 0 volteio inicial modifica-se com a pro- pagac&o das novas falhas. 15 FALHAS SINTETICAS FALHAS SINTETICAS FALHAS ANTITETICAS FIG. 16. Leque imbricado sintético (A) e leque sintético compli- cado por falhas antitéticas (B). Baseado em Gibbs (1984). Na progressao da deformagao, é possivel que ocorra o desenvolvimento de um segundo plano de descolamento em profundidade (figura 17A), desativando o primeiro, que pode -ser deformado em seguida (figura 17B). Esse novo plano po- ‘de ser uma rampa crustal na falha inferior ou se produzido por reativacéo de anisotropia preexistente, herdada de even- _tos de deformagao anteriores. 12 DESCOLAMENTO DESATIVADO SOERGUIMENTO P/ ROTACAO. FIG. 17. Desenvolvimento de uma segunda zona de descolamen- to (A). A primeira zona de descolamento é desativada e deforma- da (B). Baseado em Gibbs (1984). Como foi referido antes, o mergulho das falhas listricas é varidvel. No geral, elas tém tragados com mergulhos que chegam a ser altos na superficie e se tornam suaves em pro- fundidade. Os blocos, com abatimento e rotagdo, posicio- nam-se em trechos de mergulhos mais baixos. Diferencas de competéncia das rochas afetadas impoem tragados com trechos mais e menos inclinados, configurando os lancos ou rampas e degraus ou patamares (figura 18). Na progressao da deformacao, nas zonas de lango o movimento tende a ser dificultado, desenvolvendo-se falhas sucessivas 17 que isolam lascas, cujo conjunto constitui um duplex exten- sional, que pode ser sintético du antitético, conforme sejam delineados por falhas sintéticase antitéticas, respectiva- mente. ® PATAMAR A LEQUE IMBRICADO DUPLEX EXTENSIONAL © eet ere LEQUE IMBRICADO SINTETICO ANTITETICO F, ALHA DE BASE FIG. 18. Desenvolvimento de um plano de descolamento em es- cada, com volteio e sinclinal de teto associados (A). Na pro- gressho da movimentac&o, 0 leque lfstrico sintético é ampliado, ao mesmo tempo em que o sistema antitético e um deplex no lan- co sho individualizados (B). No instante seguinte os sistemas so ampliados e novas estruturas podem ser geradas (C). ~ 18 Em caso de grande deslocamento, as cunhas podem ser colocadas diretamente sobre o plano de descolamento (figu- ra 19), chegando mesmo, em casos extremos, a ficar prati- camente isoladas. Esses deslocamentos geralmente envol- vem reativacgéo de falhas mais antigas e inversdo de movi- mento ao longo de falhas de segunda ordem. As cunhas as- sim isoladas podem ser afetadas por erosdo sin-estiramento e adquirem geometria de topo chato, o que pode criar con- fusdo no que diz respeito ao mergulho verdadeiro do subs- trato ou embasamento do sistema. EROSAOQ NO VERTICE rego PRISMAS FIG. 19. Deslocamento e rotag&io (A) e eros&o de vértices (B) de cunhas. A alta taxa de movimentagfio associada pode impor grandes deslocamentos nos prismas do embasamento, isolando- os sobre o plano de descolamento. Soerguimento devido a ro- tagéo dos prismas do embasamento ou a afinamento do manto li- tosférico pode proporcionar erosfo de parte da arquitetura infe- rior da bacia. Baseado em Gibbs (1984). 19 Como seria de se esperar, outras falhas podem se de- senvolver fora dos contextos referidos. Como exemplo, po- de-se destacar aquelas resultantes de reativagdo de aniso- tropias do embasamento em funcéo de aumento de pressao imposta pela deposigéo de materiais. A figura 20 mostra um caso desses, onde falhas antitéticas se desenvolvem por in- fluéncia de anisotropias preexistentes, PROPAGAGAO EM DIREGAO AO TETO FIG. 20. Leque listrico antitético desenvolvido por influéncia de anisotropias preexistentes. Baseado em Gibbs (1984). Quanto 4 zona de descolamento, considera-se o fato de que ela pode se desenvolver por reativacéo ao longo de forte anisotropia crustal (Coward 1983, Hossak 1984) e também onde declives importantes possibilitam deslocamentos por gravidade (figura 21). FALHAS PROPAGADAS NO. PREENCHIMENTO Pane WEE Lae Xoo ae PITT FIG. 21. Descolamento e colapso por efeito gravitacional em resposta a movimentac&o nas falhas da arquitetura da bacia. 20 O pacote sedimentar acumulado nasuperficie, coma progresséo dos falhamentos, sofre abatimento e rotagao préximo 4 zona de descolamento, configurando uma ondu- lacdo anticlinal (figura 22), que 6 chamada volteio ou anti- forma do teto (roll over). As falhas listricas sao geralmente identificadas pelo volteio, cuja forma reflete a geometria das falhas em profundidade. Nao existe método seguro para de- terminacao do perfil da falha a partir da forma do volteio, sendo 0 método Chevron e suas variantes 0s mais utilizados (ver ANEXO). ANTIFORMA DE TETO FIG. 22. Volteio ou antiforma de teto conseqiiente da rotagio progressiva do bloco situado acima da falha listrica. Baseado em Gibbs (1984). Os espagos vazios gerados acima dos blocos falhados permitem a acumulagao de sedimentos e de derrames asso- ciados a manifestacdes vulcdnicas que podem ocorrer. Dis- cordancias sao feigdes que comumente aparecem nesses pa- cotes. Durante a rotacéo e abatimento progressivos dos blo- cos podem ocorrer adernamentos do pacote de sedimentos acumulados, de modo a sujeita-lo 4 erosdo e formar superil- cies de discordancia (figuras 23 e 24). 21 ZONA DE SOERGUIMENTO/EROSAO FALHA PRINCIPAL FIG. 23. Sedimentacgéo e formag&o de discordancia por eroséo do pacote que sofre soerguimento (A) ou rotagfo (B). Em A, a discordancia pode alcangar grandes freas em funcéo do perfil em escada da falha-mestra, enquanto no caso B a discordancia limita-se & drea do prisma rotacionado. Note-se que o segundo estagio, em cada situag&o, representa uma etapa envolvendo subsidéncia tecténica associada & continuacfo da movimentacgéo das falhas, seguindo-se o estabelecimento de nova superficie ero- siva. 22 BLOCOS ERODIDOS FIG. 24, Soerguimento e erosio de parte do piso. Quando os prismas do embasamento sho largos e as zonas de descolamento sho rasas, haveré soerguimento das arestas dos prismas durante a rotac&o progressiva. Baseado em Jackson et. al. (1988). Na geometria listrica, com falhas tendo perfis curvos e sujeitas a rotacdo regular a partir da falha principal, ocor- rem acomodagées por formacéo de volteio e por desenvolvi- mento de falhas antitéticas (figura 25). 23 ® ACOMODAGAO DE BLOCOS TiPICOS DE FALHAS LISTRICAS DESENVOLVIMENTO DO VOLTEIO © DESENVOLVIMENTO DE FALHAS ANTI- TETICAS ASSOCIADAS FIG. 25. O desenvolvimento do sistema listrico (A) nfo pode se dar sem acomodac§&o de blocos; a acomodac&o ocorre por for- macA&o de volteio (B) ou falhas antitéticas (C). Baseado em Ram- say & Huber (1987). No caso de falha de perfis sinuosos, com lancos e pata- mares alternados, a acomodagéo se da por formagio de vol- teio, geralmente com uma sinforma pareada (figura 26). FIG. 26. Volteio (antiforma de teto) e sinforma pareados, rela- cionados com lanco e patamar na zona de falha principal. Ba- seado em Gibbs (1984). Adjacente a falha pode se desenvolver uma sinforma por aumento do deslocamento A medida que a distancia para a falha aumenta (figura 27A) ou, ainda, devido ao desloca- mento muito acentuado nas proximidades de uma falha mais empinada (figura 27B). Assim, a forma do volteio nao é sempre a de uma simples antiforma. Pode haver também, por exemplo, modificagao da forma do volteio por compac- tacio das camadas (figura 28A) ou por inversdo (figura 28B). 25 SINFORMA es t\— SINFORMA t ® FIG. 27. Desenvolvimento de sinforma no teto por aumento pro- gressivo do deslocamento & medida em que se afasta da falha (A) e por deslocamento acentuado proéximo ao segmento empinado da falha (B). Wet 00 MAR REGIONAL ANTES DA INVERSAO FIG. 28. Modificac&io do volteio por compactag&o (A) e por in- vers&o positiva a partir de reativagfo da falha normal (B). Quando as falhas normais tém deslocamentos obliquos, as acomodagées propiciaréo o desenvolvimento de falhas com componentes direcionais ou mesmo inversas (figure. 29). FALHAS NORMAIS. FALHA INVERSA (LOCALIZADA) FIG. 29. Falhas normais e inversas formadas por deslocamentos obliquos. Baseado em Gibbs (1987). No abatimento dos blocos pode também haver movi- mentagao ao longo de falhas cruzadas, com fortes compo- nentes de deslocamento direcional ou mesmo transcorren- tes. As falhas desse tipo que afetam o pacote sedimentar e o embasamento adjacente (figuras 30A, B) séo chamadas zo- nas ou falhas de transferéncia, transferentes, compartimen- tais ou_transversais (transfer, comparimental, Harding 1983, Gibbs 1984, 1987, Sengor et. al. 1985). Podem ser transver- sais ou ter alta obliqitidade com a diregdo do sistema exten- sional. Outras falhas afetam apenas 0 teto, representado pe- lo pacote sedimentar (figura 31). Estas s4o as falhas de acomodagdo (Sengor 1987) ea presenga de varias delas, com deslocamentos diferentes, origina a estrutura em teclado (fi- gura 32). Algumas sdo obliquas e decorrem de rotagéo verti- cal (figura 33); essas sao as falhas de acomodagao rotacional _ (Sengor 1987). * 27 tess S — — — Wesel FIG. 30. Falhas de trans- feréncia ou transferentes = esquematizadas em plan- ta e em bloco-diagrama. Elas afetam o teto e o pi- so e acomodam parte da movimentac&o na direc&o do estiramento maximo. i’ Baseado em Gibbs (1984). FALHA NORMAL FALHAS NORMAIS FALHA ODE FALHA NORMAL MESTRA J ACOMODACAO FIG. 31. Falhas de acomodaga&o. Elas afetam apenas 0 teto que é limitado pela zona de descolamento ou falha-mestra. Baseado em Sengor (1987). FIG. $2. Estrutura em teclado. Graben com enchimento se- ’ dimentar (pontilha- do); delimitado por zona de_ descola- mento (tracejado) e afetado por falhas de acomodacio transversais, em te- clado. Os perfis AA’ e BB’ mostram 0 padréo em teclado, considerando o gré- ben inclinado para a esquerda. Baseado em Sengor (1987). 29 FIG. 33. Falbas de acomodaga&o rotacional. O teto (a) rotaciona em torno de eixo vertical, formando a falha de acomodacéo rota- cional (b). Na continuidade, complicagdes podem ser introduzi- das, até com formagéo de bacia de afastamento (c) e sua pro- gressfo (d). Baseado em Sengor (1987). Essas falhas podem ser listricas em profundidade ou nao, de todo modo ligando-se a patamares da zona de desco- lamento do sistema extensional (figura 34). A essas falhas com forte componente inversa ou direcional, podem se asso- ciar duplexes e outras feicdes, tornando o sistema extensio- nal intrincado. As figuras 34 e 35 ilustram duplexes ou es- truturas em flor. Eventuais mudangas temporais do sentido de movimentacao, especialmente com desenvolvimento de novas falhas, resultam em geometrias complexas (figura 36). FIG. 34. A falha de transferéncia “ou de = acomo- dagio, que pode configurar estru- tura em flor, arti- cula-se em pro- fundidade com a zona de descola- mento do sistema extensional. Ba- seado em Gibbs (1987). Qos in eS SKIT =| PERMO/TRIASSICO FIG. 35. Exemplo de estrutura em flor extens Viking (Mar do Norte). Baseado em Gibbs (1987). S CARBONIFERO PALEOZOICO INFERIOR 4km ESCALA ional ao longo de uma zona de transferéncia na Bacia de O£ 31 FIG. 36. Falhas de transferéncia separando segmentos com dife- rentes estruturacdes extensionais. Baseado em Bally et. al. (1981). Lister et, al. (1985) mostraram as relagdes geométricas existentes entre falhas de transferéncia e diversos elemen- tos estruturais associados 4s bacias interiores e margens continentais (figura 37). As zonas de transferéncia podem separar compartimentos com diferentes polaridades e cada segmento pode ter assinatura propria na evolugaéo de uma margem continental ou bacia interior. FALHA TRANSFERENTE LILY - aT LULL LY 2 wt So HEMIGRABEN ANTICLINAL dt @ MARGINAL xy EIXO DE ABERTURA NUCLEO METAMORFICO OCEANICA FIG. 37. Falhas de transferéncia (A) e falhas transformantes (B). Baseado em Lister ef. al, (1985). 33 4 GEOMETRIA DAS BACIAS 4.1 ELEMENTOS GEOMETRICOS 4.1.1 Arquitetura geral A arquitetura da bacia, condicionada essencialmente pela geometria das falhas‘normais e de transferéncia, con- trola o desenvolvimento do preenchimento sedimentar ou vulcano-sedimentar, com suas facies marginais e axiais. Uma bacia extensional é formada por um embasamento estruturado, com um padrdao estrutural, por uma cobertura deformada e por uma cobertura superior pouco deformada ou indeformada (figura 38). O preenchimento deformado 6 gerado durante a fase de subsidéncia tectOnica e 6 envolvido no processo deformativo & medida que a estruturacéo do embasamento evolui. O preenchimento indeformado ou pouco deformado relaciona-se com a subsidéncia termal, sendo posterior aos falhamentos principais (Gibbs, 1987). 34 FIG. 38. Principais elementos da arquitetura de uma bacia. 1: zona de descolamento; 2: leques imbricados do embasamento, sintético (a) e antitético (b); 3: cobertura deformada; 4: cobertu- ra pouco deformada ou indeformada, Baseado em Gibbs (1987). Nos estagios iniciais de formacdéo da bacia, as modifi- cagdes impostas pela erosdo de parte dos prismas do emba- samento soerguidos e do preenchimento sedimentar podem gerar problemas para a identificagaéo e mapeamento da geo- metria inicial (figura 39). PRISMA ERODIDO 5 km ESCALA FIG. 39. Prismas do embasamento afetados por erosfo na fase inicial de desenvolvimento da bacia. Baseado em Gibbs (1984). 35 Com a implantagéo e desenvolvimento progressivo da bacia, os prismas sedimentares podem ser abatidos ou deslo- cados por uma série de falhas (figura 40A), muitas controla- das pela presenga de camadas de baixa resisténcia. A am- pliagéo da margem da bacia pode proporcionar a formagaéo de estruturas de deslizamento gravitacional nos sedimentos que recobrem internamente o prisma falhado (figura 40b). Superficies de descolamento superiores, bem como novos conjuntos de falhas listricas, podem se formar, gerando ou- tros leques listricos (figura 41). Tais falhas na cobertura po- dem eventualmente desaparecer, assimiladas ao longo de planos de estratificagdo, ou podem se interligar 4 estrutu- racéo geral do embasamento. No caso de falhas escalonadas, o lanco pode sofrer abatimento e os prismas sedimentares, neste caso, serfo deslocados e transportados por distancias consideraveis (figura 42): esse modelo explica o complicado padrao de sedimentacdo axial e sua relagdéo com as falhas marginais maiores, envolvendo mudancas da posigéo dos depocentros. FALHAS SECUNDARIAS FIG. 40. Falhas nos sedimentos (A) e deslizamentos gravitacio- nais (B) conseqtientes das fortes movimentacées nas falhas da arquitetura da parte inferior da bacia. Baseado em Gibbs (1987). LEQUES IMBRICADOS NO FIG. 41. Novos desco- PREENCHIMENTO lamentos e leques lfs- tricos nos sent! imentos an acomodando parte da movimentacio na raiz da_ bacia. Baseado em Gibbs (1984). DEPOCENTROSL e a — FIG. 42. Descolamentos de cunhas e mi- gracho de depocentros na progressio da deformacsio. Nesse caso, tanto os prismas do embasamento quanto os sedimentares, sho transportados por grandes dist&n- cias, constituindo corpos exéticos. Ba- seado em Gibbs (1987). 9¢ 4.1.2 Falhas listricas e zona de descolamento As falhas arranjam-se em padrao listrico, unindo-se em profundidade com a zona de descolamento. Tanto as falhas., como a zona de descolamento podem apresentar langos e pa- tamares. Associam-se-lhes dobras e outras falhas, que se de- senvolvem no sentido de ajudar no processo de acomodagao das massas rochosas envolvidas. Essa complexa geometria tem sido mostrada sistematicamente por segdes sismicas, como aquelas da Provincia Basin and Range (figura 43). As falhas propagadas na crosta ruptil, de mergulhos médios a altos, tornam-se em profundidade menos inclinadas na zona raptil-dictil e sub-horizontais na zona ductil (figura 44). Em alguns casos, observa-se 0 padrao amendoado da crosta inferior (figura 45). p ESTIRAMENTO DE 20% oe es, _—— oo Si ee ng ea MOHO MANTO FIG. 43. Modelo de falhas normais na crosta superior passando para um feixe de zonas de cisalhamento na crosta inferior, com base nas variagées geométricas verificadas na Provincia Basin and Range. O aumento progressivo da taxa de estiramento am- plia os altos (metamorphic core complexes) entre as depressOes e a drea de incidéncia das zonas de cisalhamento e diminui acen- tuadamente a espessura da crosta. Baseado em Hamilton (1987). FIG. 44. Padrées de falhas nos modelos de estiramento crustal. Em A, as falhas normais sintéticas e antitéticas da crosta supe- rior convergem em profundidade para uma zona de descolamen- to, que pode desaparecer na interface crosta-manto ou penetrar no manto litosférico. No caso B, as falhas normais da crosta su- perior juntam-se a um feixe de zonas de cisalhamento na crosta intermediaria-inferior, o qual imp6e o padrio fortemente anas- tomdtico & fragdo assismica da crosta. Baseado em Allmendinger et, al, (1987). (km) FIG. 45. Padrao lenticularizado ou anastomético da crosta infe- rior, caracterizado por refletores sub-horizontais envolvendo | areas transparentes, provavelmente pouco deformadas e com formas que variam de faixas irregulares a elfticas. Baseado em Reston (1988). 39 A reativagéo dessas zonas de descolamento, durante a evolucéo de regimes extensionais, parece ser comum, pas- sando entao para um sistema francamente contracional. 4.1.3 Falhas antitéticas e volteio O volteio, como ja foi dito, 6 uma conseqiiéncia do fa- Ihamento listrico e sua ampliagdo é fungéo dos deslocamen- tos nas falhas durante a progresséo da deformagao (figura 46). O comprimento de uma camada deve aumentar no vol- teio, o que causard, evidentemente, diminuigdo da espessura da mesma, se a Area da segdéo permanecer constante (figura 47A). Somente nos casos que envolvem deslocamentos inter- leitos, a espessura poderda se manter (figura 47B). ee Ts coer 7, | > (Te aa. FIG. 46. Desenvolvimento progressivo do volteio em resposta a rotacio anti-horaéria do teto de uma falha Ifstrica. Baseado em Wernicke & Burchfiel (1982). & ® CAMADAS AFINADAS NO VOLTEIO @® ESPESSURA DAS CAMADAS MANTIDAS NO VOLTEIO “ E —> ata DESLOCAMENTO FIG. 47. Durante o desenvolvimento do volteio geralmente ha variagio de espessura das camadas envolvidas na deformac&o (A), mas, se acontecerem movimentag6es intraestratais, as es- pessuras das camadas podem ser mantidas (B). Baseado em Gibbs (1984). O adelgacamento da secdo no volteio e a propria for- macao deste propiciam o desenvolvimento de falhas antitéti- cas rasas com mergulhos variaveis (figura 48). Estas falhas antitéticas sao geralmente listricas e podem se interligar com uma zona de descolamento antitética. Pode ocorrer mi- gracdéo de falhas antitéticas em diregéo ao teto, se 0 deslo- camento continuar na falha sintética principal e se o com- primento de onda do volteio for ampliado com progressivo estiramento. Falhas antitéticas podem também se formar como simples respostas ao cisalhamento sintético principal. 41 ® FALHAS ANTITETICAS RASAS FALHAS ANTITETICAS DO VOLTEIO ® ig govah FIG. 48. A tensfo criada no teto da falha listrica em fungéo da - ampliagao do volteio é acomodada, em parte, pelo desenvolvi- mento de falhas antitéticas, que podem ser superficiais (A) ou se juntar ao descolamento sintético (B). Baseado em Gibbs (1984). 4.2 TIPOS DE BACIAS Bacias se formam As custas de uma variedade de feixes de falhas que devem se interligar a zonas de cisalhamento nas partes intermedidria a inferior da litosfera. A diversida- de de feigdes estruturais rasas e seus efeitos na sedimen- tacéio e deformacdo da cobertura sedimentar pode ser usada como ponto de partida para a compreensdo dos elementos estruturais principais e dos padrdes de feixes de falhas em profundidade, Perfis sismicos profundos permitem comple- tar e testar modelos. 42 Tais modelos séio importantes na andlise dos sistemas deposicionais, porque eles mostram como a estratigrafia po- de evoluir em fungéo da estrutura e como os sedimentos po- dem se distribuir no tempo, com implicagdes econdémicas, como na distribuigéo e exploracdo de hidrocarbonetos. Os quatro modelos reconhecidos sdo descritos em se- guida (Gibbs 1987). 4.2.1 Bacias formadas por falhas com patamares e langos A geometria geral desse tipo de bacia pode ser visuali- zada pela segéo mostrada na figura 49. A secéo encerra uma zona de descolamento de baixo mergulho, com lancos e pa- tamares, bem como falhas normais sintéticas e dobras. HEMIGRABEN BACIA DO TETO BACIA TIPO "SAG" -SEM ESCALA- FIG. 49. Bacia formada por um plano de descolamento em esca- da. No teto, imediatamente acima do lanco e da drea que corres- ponde ao manto litosférico adelgacado, podem se formar bacias isentas de arquitetura extensional. Modelo derivado da secaéo do Mar do Norte. Baseado em Gibbs (1987). A bacia é preenchida e modificada A medida em que o teto se move para baixo através da falha basal; os pacotes depositados mostram-se afetados por deformacaéo decorrente dessa movimentacaéo. Essas bacias so de tipo hemigrdben e geralmente asso- ciam-se a regides anteriormente afetadas por zonas de ca- valgamento antigas. Considera-se que as zonas de descola- mento de baixo mergulho so condicionadas por anisotro- pias preexistentes e se mantém ativas durante todo o desen- 43 volvimento da bacia, passando para zonas de cisalhamenta ductil sub-horizontais em profundidade. As falhas sintéti- cas, da mesma forma, sao condicionadas por anisotropias preexistentes. Nao se tem exemplos de tais bacias desenvol- vidas em 4reas nao afetadas por tecténica de cavalgamento anterior, pelo que ainda ndo esté claro se elas podem se de- senvolver fora desse tipo de dominio. Essas bacias sao facilmente invertidas, como se esque- matiza nas figuras 50 e 51. @_ TTT Tt MODIFICACAO DO VOLTEIO FIG. 50. Formac&o do volteio (A) e modificagio do mesmo por inversio positiva, reativando, em parte, a falha normal lfstrica (B). Observa-se que a propagacho da movimentag&o por baixo do segmento mais empinado da falha normal proporciona a colo- cagio de uma fracio do embasamento no meio dos sedimentos. Baseado em Gibbs (1987). PATAMAR FIG. 61. Estruturas antiformais e sinformais ligadas a langos e patamares suavemente inclinados (A) e invers&o positiva com reativac&o total da falha normal (B). Baseado em Gibbs (1987). 4.2.2. Bacias formadas por afundamento do teto Tais bacias tem formas de pires e se superpdem ao dom{nio da capa, podendo ser muito extensas. Elas envolvem estiramentos discretos do piso, 0 que implica em algum processo de remogao de material da parte inferior da litosfera sem acarretar elongacao na crosta rigi- da. Em escala regional, esse processo ocorre se o adelgaga- mento da crosta ruptil e da porgéo dictil subjacente se asso- ciar a um descolamento de baixo mergulho. Também podem se formar sobre lancos na porgéo intermediaria da crosta e sobre prismas deslocados tectonicamente. Assim, tais bacias poderiam ter tamanhos bastante variados. Por isso, o reco- 45 nhecimento delas requer perfis sismicos profundos, que permitam definir com clareza sua geometria e movimen- tagao. A secao do Mar do Norte na figura 52 mostra trés tipos de bacias ligadas a uma Unica zona de descolamento: da es- querda para a direita, aparecem um hemigrében marginal, uma bacia relacionada a um lango da zona de descolamentc (tipo sinclinal) e uma bacia instalada sobre o prisma em des- locamento para a direita (tipo sag). As duas ultimas, especi- ficamente, sdo do tipo em pauta. Bafa BERYL GRABEN VIKING SUL ESCALA APROX.S5km FIG. 52. Seco do Mar do Norte, mostrando uma bacia de afun- damento do teto desenvolvida sobre um lango do plano de desco- lamento. Baseado em Gibbs (1987). Uma zona de descolamento de baixo mergulho pode produzir bacias extensionais ou falhadas na crosta superior e bacias termais acima da litosfera adelgacada (figuras 49, 52). A inverséo do embasamento e o seu recobrimento por pacotes sedimentares simples séo os melhores diagndsticos para identificagao desse tipo de bacia; os falhamentos limi- tam-se a feicdes de compactagaéo no preenchimento sedimen- tar, ou representam feicgdes menores dentro da bacia. 4.2.3 Bacias formadas por falhas planares em arranjo de tipo domin6é A existéncia de falhas planares em arranjo de tipo do- miné (fig. 53) foi sugerida por Jackson & McKenzie (1983), 46 Jackson (1987) & Jackson et al. (1988), em algumas bacias extensionais ativas, FIG. 53. Bacia com arquitetura do embasamento em domin6, com as falhas planares secundarias ajustadas ou nfo a um plano de descolamento Suavemente inclinado. Baseado em Gibbs (1987). A movimentagao das falhas planares nesse arranjo pro- porciona rotacao progressiva das fatias e adelgacamento ra- pido da crosta, de modo que o sistema tende a se bloquear ou desativar na continuidade do estiramento. Uma vez desati- vado, novo conjunto de falhas em dominé poderd se desen- volver, seccionando o conjunto anterior (figura 13). Uma observagdo importante é que apenas essas Ultimas falhas serao reveladas pela sismica, enquanto as anteriores apare- cerao como feicées do embasamento. A cobertura sedimentar sofrera rotacdéo acima dos blocos, sem adquirir significativa complexidade estrutural. Feixes de falhas em dominé, que nao passam para pa- drao listrico em profundidade, devem estar limitados por 47 zonas transcorrentes mais complexas, cuja movimentagéo permite reativagdo deles e geragdéo de novas falhas. 4.2.4 Bacias formadas por feixes transcorrentes e normais combinados Muitas bacias desenvolvem-se 4s custas de feixes de fa- Ihas normais em padrao listrico ou em domin6, associadas a falhas transcorrentes. Sao as bacias mistas. Os casos mais simples sao representados pelas bacias de afastamento (pull-apart basins) ou bacias rombéides, articuladas a curva- turas de falhas ou a dominios entre falhas transcorrentes, respectivamente. Em alguns casos, as falhas séo muito profundas e al- cancam a Descontinuidade de Moho; em outros, a estrutu- ragéo profunda parece néo envolver a zona transcorrente, que se ajusta a um descolamento na parte intermedidria da crosta. O adelgacamento crustal sob uma bacia do tipo afasta- mento envolve um sistema de “‘folhas estratigraficas”’ limi- tadas por falhas, que se interligam a zonas transcorrentes profundas, estas Ultimas nao proporcionando adelgacamen- to ou espessamento durante a deformacdo. A figura 54 es- quematiza o caso:de uma falha transcorrente profunda ajus- tada a uma falha normal inclinada, esta correspondendo ao soalho da bacia. cc FIG. 54. Bacia for- mada pela articu- lagao de falhas transcorrentes e normais, Esse tipo de bacia € generi- camente designado de misto ou de afastamento. Ba- seado. em Gibb , (1987). scegcs & 24 48 Neste arranjo a falha basal permanece ativa durante o crescimento da pilha sedimentar e 0 processo continua com o desenvolvimento de uma falha superior, que atuara como base para a seqiiéncia estratigrafica seguinte. As sequéncias tardias experimentarao taxas de rotacéo menores do que aquelas formadas inicialmente na bacia de afastamento. As figuras 55 e 56 mostram exemplos que ilustram essa geome- tria. NORTE Baia DE, SANNOX asia BRODICK SUL APROX. 2km FIG. 55. Sec&o de uma bacia do Mar do Norte, formada por fa- Jhas transcorrentes e normais. Baseado em Gibbs (1987). NORTE SUL HARTHILL 5Skm . ESC, APROX. FIG. 56. Exemplo de uma bacia formada por falhas transcorren- te e normais. Secho do Mar do Norte. Baseado em Gibs (1987). Ainda nesse tipo de geometria, a cobertura, como um to- do, tende a ser envolvida no processo de deformag&o, & me- dida que a bacia se desenvolve. Isso contrasta com a bacia extensional pura (dip-slip), na qual a deformagéo se concen- tra praticamente nas adjacéncias do piso. Uma outra dife- renca entre a bacia de afastamento e uma extensional é que, embora a primeira se adelgace nos langos e patamares, as fa- Ihas que penetram a crosta sao essencialmente transcorren- tes. Em ambas, o embasamento e a cobertura sedimentar de- formam-se pelo mesmo processo, envolvendo falhas de alto Angulo e falhas compartimentais associadas. Bacias com essas caracteristicas podem aparecer ainda ao longo de zonas de transferéncia e de langos laterais, associa- dos a sistemas extensionais e contracionais, respectivamen- te, bem como ao longo de falhas de rejeito obliquo com gran- des componentes direcionais (figuras 57 e 58). ‘BACIA DESENVOLVIDA AO LONGO DE UMA FA LHA TRANSFERENTE. FIG. 67. Bacia instalada ao longo de uma zona de transferéncia. Nesse caso, trata-se de uma sub-bacia de afastamento transversal & bacia principal. 50 BACIA MISTA FIG. 58. Bacia mista ao longo de zona de rasgamento associada a lango lateral de cinturdo de cavalgamento. O exemplo retrata a Bacis de Viena. Baseado em Royden (1985). 51 5 DESENVOLVIMENTO DE BACIAS Bacias sedimentares ou vulcano-sedimentares podem ser formadas por: a) subsidéncia associada com arrefecimento litosférico (figura 59A), b) por estiramento litosférico (figura 59B) ou c) por efeito da carga de sedimentos (figura 59C). © SUBSIDENCIA a ~—— © ° ° © SUBSIDENCIA a T—eTEMPO DE ESFRIAMENTO —————> BACIA TERMAL Oo ee ee | BSIDENCIA_TERMAL MOHO z A fy RESI LITOSFERA VD PLLZEEL ILL 9/,] Co ESPESSURA INICIAL DA CROSTA Lo ESPESSURA INICIAL DA LITOSFERA © ESPESSURA DA GROSTA ADELGACADA L. ESPESSURA DA LITOSFERA ADELGACADA SOBRECARGA SOBRECARGA eit oSFERA | Lt FIG. 59. Principais mecanismos de subsidéncia. Subsidéncia * termal (A), estiramento litosférico (B), efeito de carga de sedi- mentos (C). TS Diversos modelos de desenvolvimento de bacias tém si- do apresentados, dentre os quais so destacados em seguida os trés mais consagrados. 5.1 MODELO DE McKENZIE A relacdo entre o estiramento crustal e o desenvolvi- mento de bacias foi discutido por McKenzie (1978). Quando uma porgéo da litosfera continental é estirada segundo um fator B , induz-se uma fase de subsidéncia inicial 5}. Tal processo acarreta a elevagao da astenosfera quente, que, na fase de esfriamento, produz subsidéncia adicional. A primei- ra fase é chamada subsidéncia tecténica e a segunda, sub- sidéncia termal. _ Como a compensagao isostatica é mantida, a subsidén- cia inicial 6 dada por: 4 Seely 1 8 ) onde C é uma constante que depende da espessura da litos- fera e da crosta, e das densidades médias da crosta e do man- to. Para uma espessura crustal inicial de 30-31,5 km e uma espessura litosférica de 125 km, o valor de C esta entre 3,25 e 3,6. Durante a fase termal, a litosfera readquire gradual- mente a sua espessura inicial por esfriamento e a subsidén- cia total é dada por: 1 §,=C,1- =) O modelo de McKenzie assume adelgagamento ho- mogéneo da litosfera. Nesse modelo é previsivel a ocorréncia de uma superficie de descolamento na transigdo ruptil/dactil da crosta, abaixo da qual as rochas se deformam por acha- tamento homogéneo ligado a cisalhamento puro (figura 60). Essa transigdéo pode se situar na interface crosta-manto, reativando a descontinuidade de Moho, ou no interior da crosta. Genericamente, para uma litosfera adelgagada por 54 um fator B (figura 61), a subsidéncia inicial pode ser calcu- lada pela seguinte equacéo: 1 Cz Cz. T Tq fb) PAeupe dh wee ent ee . a ( Bp) LIPo py pines at 05} 4 — Tan ao ee oe ee ee PU el ees onde S, = subsidéncia inicial durante o estiramento litosférico uniforme, : Cz = espessura crustal, Lz = espessura da litosfera, densidade do manto = 3,33 g/em? ; = densidade da crosta = 2,8 g/em?® w = densidade da dgua = 1,0 g/em? ‘ coeficiente termal de expansdo = 3,28 x 10? cm” temperatura da astenosfera = 1.333°C = fator de estiramento. Il 1 wmrieiltitt | ZONA DE BLOCOS r— ABATIDOS —— FIG. 60. Adelgacamento homogéneo da litosfera segundo Mc- Kenzie (1978). Nesse modelo é previsfvel uma zona de descola- mento na transicéo ruptil-dictil ou dentro da camada dictil da crosta. 55 ry NIVEL 00 MAR BOD FaToR OE ESTIRAMENTO MOHO. “ac> ADELGACAMENTO BASE DA LITOSFERA : = MASSA DA is MASSA DA LITOSFERA LITOSFERA ESTIRADA NAO-ESTIRADA FIG. 61. Modelo de adelgagamento litosférico e subida da aste- nosfera, de McKenzie (1978). Os par&metros utilizados para cal- cular a subsidéncia inicial ou tectOnica e a subsidéncia termal est&o indicados na secho. Ver explicagéo no texto. A subsidéncia total 6 dada por: 1 Cz 0 ca 1 Cz Oe fad | socal LE natok Whigs aCe llasame Cece Bp Be Po (1-T)- Py Assim, variagdes nas espessuras da crosta e da litosfera causam mudangas em S,. Existe um valor critico da relagao Cz:Lz, de 1,38, acima do qual ocorre subsidéncia e abaixo, soerguimento. Tal situagdo pode ser demonstrada através da equacao: 4 P ee 1 oe 2 cae PEP, a Para espessura inicial da litosfera de 115 km, se a cros- ta fosse inicialmente mais fina do que 17,2 km, o estiramen- to causaria soerguimento. Se os adelgagamentos da crosta e da litosfera forem tomados independentemente, o adelgaca- mento crustal leva a subsidéncia e o adelgagamento litosfé- rico leva a soerguimento. 56 5.2 MODELO DE WERNICKE Um outro modelo de estiramer™to litosférico foi propos- to por Wernicke (1981), embasado 7248 caracteristicas das fa- lhas da Provincia Basin and Ran?8°®- Ele envolve desloc.:- mento através de uma zona de cisa!/hamento que atravessa a crosta (figura 62) e transfere o esttiramento da crosta supe- rior para a crosta inferior e manto ee Nesse modelo, a zona de soerguimento astenosfeeTlco 180 coincide com a zona principal de estiramento crus?tal. ' ATENSIO Limite o€ ex! CRUSTAL SIGN 1 COMPORTAMENTO RUPTIL DA CROSTA INTE ‘ ZONA piscrEpaf © Toros “F SUPERIOR BLOCOS REGIAO ALOCTONOS PROXIMAL io REGIAO DISTAL cRrosTa ADELGAGADA a a rar LiTosFERA. 120 EF enosreR® suasiogncia — recréntcact> TERNAL > ZONA 0 ZONA _E ZONA A ZONA 8 ZoNa_¢ [Brit Bet! Be Amt Bai ov Ac et APL ame ed ae ee do NANTO LITOsFERICO BMI © FATOR DE EXTENSAO crusTaL pri pe * FATOR OF EXTENSKO FIG. 62. Modelo de adelgacament!0 litosférico, de Wernicke (1985), com uma andlise dos efeitos’ isostAticos associados ao sis- tema extensional. Note-se que a gitbsidéncia e o soerguimento estfio associados com adelgacamer'© 44 crosta e do manto li- tosférico, respectivamente. Para Wernicke, a zona de «isalhamento inclui trés zo- nas principais, cada qual com u/™4 histéria propria de sub- sidéncia: of 1) zona onde a crosta superior adelgaca e existem abundantes falhas acima da superficie de descola- mento; 2) zona discrepante, onde a crosta inferior adelgaca, enquanto ha adelgagamento desprezivel da crosta superior; 3) zona onde a superficie de descolamento penetra no manto litosférico. Os efeitos isostaticos associados a um sistema exten- sional estao resumidos na parte inferior da figura 62. Ha- ver‘é alguma subsidéncia tecténica abaixo da 4rea estirada, mas, onde o adelgagamento afeta a crosta inferior e 0 manto, podera ocorrer soerguimento tecténico da ordem de algumas ceritenas de metros. Durante o arrefecimento subseqtiente da astenosfera, abaixo da zona discrepante, haverd sub- sidéncia termal, restaurando a litosfera ao seu nivel inicial. Se houver erosdo da zona soerguida, entao se desenvolvera uma bacia termal rasa. Abaixo da zona estirada da crosta superior, nao ha efeito da subsidéncia termal. 5.3 MODELO DE COWARD Um modelo alternativo, apresentado por Coward (1986), considera evidéncias de cisalhamento simples em es- cala crustal, envolvido na historia de subsidéncia de uma bacia (figura 63). O modelo envolve concentracdo de estira- mento na litosfera inferior, abaixo de uma zona também es- tirada e longa na crosta superior. O desenvolvimento da ba- cia, segundo este modelo, pode acontecer durante um tnico periodo de estiramento ou seguir por uma evolugdo que en- volve dois estdgios: o primeiro onde a elongacdéo no manto litosférico e na crosta inferior é confinada a uma érea relati- vamente estreita, mas na crosta superior alcanca dreas maiores; o segundo corresponde a subsidéncia termal. 58 I ESTAGIO PROPAGACAO DF FALHAS NORMAIS ~ i 22 ESTAGIO INVERSAO, SOERGUIMENTO E EROSAO ot — SSS ee ae EX- eal” TRA NA CROSTA INFERIOR 32ESTAGIO SUBSIDENCIA TERMAL f —j DISvOKL .NCIA ns ZZ PPR CSI RAIOE T4500 FIG. 63. Adelgagamento litosférico segundo Coward (1986). Esse modelo inyoca um fator 8 para acyostae §’ para o manto li- tosférico, O soerguimento associado com o afinamento do manto litosférico pode impor eros&io nos sedimentos depositados na fase inicial da evOlucao da bacia. De acordo com esse modelo, novas geracées de falhas podem se formar a partir do rifte inicial, alargando a zona estirada na crosta superior. A presenca de anisotropias an- tigas, suavemente inclinadas dentro da crosta, pode facilitar a expansdo da zona estirada. Muitas falhas normais retraba- Ilham falhas antigas; nesse caso, os cavalgamentos suaves a moderadamente inclinados controlam a orientacdo e posicao das estruturas extensionais posteriores e, portanto, permi- tem que o estiramento seja transferido das zonas rupteis na crosta superior para as zonas dicteis em profundidade. Uma bacia pode ter uma zona extensa na qual a crosta superior 6 estirada segundo um fator g , enquanto a crosta inferior experimenta estiramento segundo um fator p’. O estiramento e 0 desenvolvimento de falhas na crosta supe- rior nao precisa se dar de forma simétrica através da bacia, especialmente se sao fortemente controlados pelos mergu- lhos de anisotropias preexistentes. 59 6 MODELOS SEDIMENTARES PARA BACIAS DE TIPO HEMIGRABEN 6.1 INTRODUCGAO Deslocamentos ao longo de falhas normais causam desniveis e basculamentos que se refletem na morfologia e induzem processos de erosao, transporte e deposigao. Diversos componentes morfoldgicos contribuem de ma- neira diferenciada para o estabelecimento do preenchimento e dos sistemas sedimentares em bacias extensionais. De grande importancia sao: 1-os sistemas de transporte lateral que depositam se- dimentos provenientes do piso e teto, em leques e cones com altos e baixos gradientes respectivamen- te, que se colocam transversalmente a diregdo das falhas principais que limitam a bacia; 2.- os sistemas de transporte axial que acumulam sedi- mentos paralelamente a direcdo das falhas que defi- nem parte da arquitetura da bacia. Os efeitos do basculamento da superficie nesses siste- mas provocam variagées na largura da bacia, litologia, facies e espessuras de sedimentos. E oportuno lembrar que ha outras varidveis, além das tectono-sedimentares, que influem no mecanismo de distri- 60 buigdo de facies. Nesse contexto enquadram-se principal- mente o clima e a geologia da drea-fonte, que, combinados, determinam a natureza dos clasticos e o seu fluxo para a ba- cia. Obviamente, compensacées se estabelecem entre a taxa de deposicdo e a taxa de subsidéncia, que decorrem, por sua vez, da taxa de elongagao. A posigao do nivel do mar em re- lacdo ao soalho da bacia é também importante. Basculamen- tos tém efeitos catastroficos e instantAneos sobre lagos, rios e zonas litoraneas; eles originam marcos no preenchimento da bacia, separando ciclos sedimentares distintos. No estudo do preenchimento das bacias, é essencial a integragdo de informagoes de mudangas de facies com a in- formacéo estrutural/tecténica. Os modelos apresentados a seguir sao propostas de situagoes basicas para tais estudos, de acordo com Leeder & Gawthorpe (1987). 6.2 MODELO DE BACIA CONTINENTAL COM DRENAGEM INTERIOR Esse modelo esta ilustrado na figura 64 e corresponde a um tipo de bacia caracteristico da Provincia Basin and Ran- ge, no oeste dos Estados Unidos. Depressdes isoladas por fa- Ihas formam bacias com drenagem essencialmente interior, sem ligacgdes com os sistemas adjacentes. Os declives princi- pais sao representados pelo gradiente relativamente baixo do teto, tendo extensos cones aluviais associados, e pelo gra- diente também relativamente alto da escarpa do piso, que alimenta os pequenos leques aluviais no sopé da escarpa. Sistemas de drenagem maiores, freqtientemente, encaixam- se em zonas de transferéncia ou em dreas entre terminagoes escalonadas. Cones aluviais de grande porte podem se insta- lar nesses locais. Se as condigées climaticas forem favora- veis, podem ocorrer lagos na regiao de subsidéncia maxima. Dentro deste contexto, A medida que a tecténica permitir, -ocorrerd uma significativa interagdo entre o sistema lacus- _ tree o do leque, marcando-se em intercalagdes no registro evertical da seqiiéncia. 61 LEQUES ALUVIAIS PROCEDENTES DO PISO /=Ss HEMIGRABEN CONTINENTAL COM DRENAGEM INTERIOR. FIG. 64. Hemigrdben continental com drenagem interior intera- gindo com corpos lacustres. Baseado em Leeder & Gawthorpe (1987). Movimentagées periédicas das falhas impdem constan- tes variacdes no gradiente tecténico regional e com isso permite a ampliagéo da escarpa que projeta o piso, propi- ciando a superposigdo de novos leques sobre os mais antigos. Pode haver migragao répida do sistema lacustre em diregaéo as porcdes distais dos leques, limitando assim a expansao destes. Se ocorrer subseqiiente progradagdo do leque, a fa- cies transgressiva tenderé a se intercalar na base do conjun- to de leques. Com o soerguimento progressivo do teto, de- terminado pela taxa de movimentagao da falha, novos cones se formam e gradam em diregéo aos lagos. Nao deve ser esquecido que a instalagio e desapareci- mento de um ciclo cone-lago-leque podem estar ligados a flutuacdes climaticas, independentemente dos fendmenos tectdnicos. 62 6.3 MODELO DE BACIA CONTINENTAL COM DRENAGEM PRINCIPAL AXIAL Esse modelo esta ilustrado na figura 65 e exemplos re- centes so conhecidos nas regides do Egeu, Anatdélia, Novo México e Montana. ESCARPA DE FALHA ¢ S CONES "EN-ECHELON” ASSOCIADOS Ao PISO ON LAP" PROGRESSIVD (DURANTE A EXTENSAQ DRENAGEM EM POSICAO AXIAL. FIG. 65. Bacia continental com drenagem axial. Baseado em Leeder & Gawthorpe (1987). A caracteristica fundamental desse modelo diz respeito a migragaéo de um rio axial em resposta a basculamentos episédicos. A movimentac&o progressiva da falha proporcio- na o empilhamento de corpos de areia preferencialmente no eixo principal da bacia. Outros fatores séo também importantes no desenvol- vimento desse modelo, como: 1) a migragdo progressiva do rio axial, em relacéo ao eixo de subsidéncia maxima, com a instalacao de le- ques aluviais a partir da projecdo da escarpa no pi- SO; 63 2) formacdo de minigrdbens dentro da estrutura prin- cipal, 4 custa de falhas normais intrabacinais, os quais tendem a trapear o rio principal, proporcio- nando a deposigéo de corpos de areia ou cascalho empilhados e com limites bruscos,; 3) migragdo lateral gradativa do rio principal, em res- posta ao basculamento, depositando cinturées de areia anomalamente largos; e 4) migracdes rapidas de trechos do rio principal, em resposta ao continuo basculamento. Algumas feicées do modelo anterior séo também obser- vadas aqui, tais como os cones e leques provenientes do teto e piso, respectivamente. 6.4 MODELO DE BACIA COSTEIRA DO TIPO GOLFO Esse modelo esta ilustrado na figura 66 e um bom exemplo pode ser encontrado no.Mar Egeu. A morfologia do golfo esta diretamente ligada 4 morfologia do hemigraben, com as falhas normais principais determinando a posigao ea configuracéo da linha de costa. HEMIGRABEN MARINHO COSTEIRO DO TIPO GOLFO. FIG. 66. Bacia marinha costeira do tipo golfo. Baseado em Leeder & Gawthorpe (1987). 64 Freqiientemente, associa-se a este modelo um sistema de drenagem axial ativo, com a bacia se assemelhando a do modelo descrito anteriormente. Os sistemas de drenagem migram preferencialmente rumo ao eixo de maxima sub- sidéncia, propiciando o empilhamento de sucessivos corpos de areia; leques transversais e cones sao frequentes. : Avangos repentinos do mar sobre os sistemas continen- tais podem acontecer, em fungao dos movimentos nas falhas durante a progressio da deformacao, resultando no desen- volvimento de uma seqiéncia transgressiva abrupta e uma regressiva gradual. Os cones do teto e os leques do piso, implantados na periferia das regides soerguidas, interagem dinamicamente com as facies marinhas costeiras. Isto se da via de regra apés os periodos de movimentagao das falhas responsdveis pela subsidéncia. Os leques aluviais implantados no piso sujei- tam-se a efeitos instantaneos das transgressoes marinhas notadamente nas suas partes distais. Eventualmente, leques ativos progradam sobre tais superficies transgressivas. Leques aluviais instalados no piso podem, principal- mente nos casos de linhas de costa abruptas, penetrar no golfo marinho, definindo sistemas de leques deltaicos, que podem passar para complexos leques submarinos através de canais que penetram na margem falhada do golfo. No soalho da bacia, esses leques transversais podem interagir com le- ques axiais, estes formados a partir de frentes deltdicas axiais. Nesse contexto, 6 comum também haver fluxo de ma- terial turbiditico e escorregamentos. Basculamentos episd- dicos e sub-bacias internas, formadas por falhas intragra- ben, controlam a deposigao de areia e cascalho. 6.5 MODELO DE BACIA COM PLATAFORMA CARBONATICA Considerando a submersao da parte interna do hemi- graben, a bacia passa a integrar uma plataforma ativa e ex- tensa (figura 67), onde a taxa de suprimento de detritos re- duz-se substancialmente. Se o graben estiver localizado em 65 regido de baixa latitude e de alta produgéo organica, haverd deposigéo de rochas carbonaticas, possivelmente superpos- tas a pacotes anteriormente depositados em ambientes di- versos, podendo mesmo acompanhar alguns dos modelos acima expostos. Como a deposigdéo de carbonatos e a distri- buigdo de facies dependem fortemente da profundidade e do declive do substrato deposicional, pode-se esperar grandes variacoes no estilo deposicional ao longo do hemigraben. Es- tas variagdes decorrem da relagdo entre a taxa relativa de subsidéncia e a taxa de deposigaéo de carbonatos. RIA /DEPGSITOS 0 ZAREIA su RR EXPOSTAS HEMIGRABEN MARINHO COSTEIRO COM PLATAFOR- MA CARBONATICA. FIG. 67. Bacia marinha costeira com plataforma carbonatica. Baseado em Leeder & Gawthorpe (1987). Este modelo admite que o declive da escarpa projetada no piso permite 4 margem limitada pela interface teto-piso desenvolver-se como uma margem do tipo secundario. A es- carpa principal esta sujeita a ser esculpida por franjas de ta- lus periplataformal, enquanto a parte superior, formada pe- lo prolongamento desse declive, pode ser recortada por vales que alimentam o fluxo de detritos e originam correntes den- sas transportando sedimentos em diregao ao soalho da ba- 66 cia, Unidades detriticas mais extensas podem também se formar a partir de deslizamentos de franjas de talus, parti- cularmente quando ativados por movimentacdo de falhas. A area correspondente ao piso 6 caracterizada pela de- posigdo de facies de d4guas relativamente rasas, envolvendo bancos de areia e de areia carbondtica. Soerguimentos pe- riddicos do piso podem originar ciclos menores, com a possi- bilidade de emers6des esporddicas, permitindo a formacéo de superficies carsticas. A morfologia da area referente ao teto pode correspon- der a uma rampa inclinada no sentido da escarpa do piso. Esta inclinagéo da-se em conseqiiéncia de basculamentos tecténicos. A margem da plataforma pode incluir platés de recifes e bancos de areia; pode ainda se desenvolver, even- tualmente, sobre uma margem secundaria, limitada, declive abaixo, a custa de leques dé talus. As duas margens sao marcadamente diferentes. A mar- gem teto-piso é predominantemente controlada por tecto- nismo e a rampa do teto, por processos sedimentares. O soalho axial da bacia em geral recebe pouco sedimen- to, a menos que seja possibilitado o seu transporte axial a partir da drea-fonte. 6.6 CONSIDERACOES ADICIONAIS Durante o desenvolvimento de uma bacia extensional, sequéncia de enchimento pode comecar com facies interiores continentais e terminar com facies plataformais. Assim, as varias caracteristicas de preenchimento das bacias, descritas para os modelos acima, podem se suceder estratigraficamen- te. Qualquer sistema de tipo hemigrdben pode tornar-se inativo em qualquer estdgio de sua evolucdo em decorréncia de mudanga na posigao das falhas crustais que definem a arquitetura da bacia. Se um novo sistema de falhas crustais se propagar em direcéo ao teto da primeira bacia, a conti- nuidade do soerguimento do piso, leva 4 implantagao de no- vos sistemas de facies e provoca a erosdo dos depésitos mais antigos. 4 67 7 FUSAO PARCIAL E ADELGACAMENTO DA LITOSFERA Qualquer processo que produza adelgacamento litosfé- rico pode ser acompanhado por fusao parcial do manto aste- nosférico, que constitui a fonte do vulcanismo observado em muitos ambientes extensionais. Volumes expressivos de fundidos se acumulam quando a taxa de adelgacamento é al- ta. Considere-se um modelo extensional simples (figura 68), no qual a litosfera se adelgaca segundo um valor qual- quer de g . Na medida em que a litosfera se adelgaga, a aste- nosfera ascende abaixo da regiao estirada. Se o processo for bastante rdépido, a ponto de ser considerado adiabatico, a as- tenosfera soerguida sofrerd decréscimo de pressao, enquan- to a temperatura se mantém alta; a diminuigdo da pressao impée fusdo parcial, separando fragées basalticas das rochas dé manto. A quantidade de fundido produzida depende da taxa de elongacao e de adelgacamento (Keen 1987). 68 ESTAGIO INICIAL i . ve a - LITOSFERA ane a ne \/ So al se saga 7 “NSTENOSFERA \, ' Hy Tid | ey ee 7 Agoah tar se. Py ieee mes NX ESTAGIO DE EXTENSAO SIMPLES Te TOS oe Tahini GO a. ee FIG. 68. Adelgacamento simples da litosfera e subida da astenos- fera. Le L/B: espessuras da litosfera; c, d; espessuras da crosta; B : fator de estiramento; X; largura do rifte. Baseado em Keen (1987). A relacao existente entre a ocorréncia de fundidos e 0 seu volume sdo mostrados na figura 69. A distribuigaéo de temperatura na base da litosfera e na astenosfera pode ser relacionada com diversos valores de B . A curva solidus in- ‘tercepta o gradiente termal astenosférico (Ta) a uma pro- 69 fundidade de 75 km, de modo que nao ha produgao de fundi- do até que o limite litosfera/astenosfera, no adelgagamento, alcance esse nivel. As zonas de ocorréncia de fundidos estao representadas pelas dreas sombreadas na figura 69. TEMP (°C) 202 100 1200 1300 1400 PROFUNDIDADE (km) FIG. 69. Diagrama temperatura versus profundidade, mostrando © volume de fundido para diferentes valores de B . Z,: nfvel a que a base da litosfera deve se elevar para iniciar a fusio; as li- nhas de 8 indicam diferentes taxas de estiramento; as linhas so- lidus e paralelas indicam porcentagens de fundidos. Quando B for igual a 1,62, a base da litosfera alcangara 75 km e os primel- ros produtos igneos serdéo gerados. Baseado em Keen (1987). A figura 70 mostra a relagéo entre a subsidéncia no estdgio rifte e a espessura de uma camada basiltica (hy) que poderia ser produzida pelo volume de fundido disponivel (Keen 1987). A espessura da camada produzida depende da taxa de elongacgéo, assumindo que a deformacdo nao é ins- tantanea e que acontece com taxa contante (V,), sem perda de calor durante o rifteamento. O grafico superior mostra que a subsidéncia no estdgio rifte é rdpida no inicio e tor- na-se gradualmente mais lenta com o tempo. Enquanto os modelos que envolvem produgéo de fundido mostram sub- sidéncias menores nos estégios tardios, naqueles, onde nao hé fusdo, a correlacéo se faz com maiores valores de sub- sidéncia inicial do rifte. A redugaéo na produgao de fundido é 70 fungéo da menor densidade do mesmo, que provoca mudan- gas na compensagao isostatica. Quando o fundido migra, a subsidéncia é maior do que quando ela permanece no local de formagdo, por causa das diferencas de densidades entre o basalto sdlido e fundido. Em naéo havendo migragdo, pode mais facilmente haver soerguimento. O grafico inferior da figura 70 mostra que enquanto o coeficiente de estiramento cresce progressivamente com o tempo, a quantidade de fun- dido (expressa por hy) aproxima-se de um maximo equiva- lente a 5 km. Essa é a espessura da crosta ocednica que seria produzida no caso da ruptura completa da litosfera. = x ° z FUNDIDO o Ne oe z i IS eae = : ‘an oF < Rese MIGRACAO DO FUNDIDO oO —~ Rs eae ee z (ly 5.2 Y a 3 gi ° | 2 3 TEMPC Nb - espessura da camada basdltica gerada @ - coeficiente de estiramento o B z w = aa a B ao w TEMPO FIG. 70. Diagramas mostrando a relac&o entre estiramento, quantidade de fundidos, 8 e tempo. Grdfico superior: curvas pa- ra os casos em que n&o ha fus&o, em que ha migracdo de fundido e em que nfo ha migracéo de fundido. Gr&fico inferior: variacho de hy, e 8 . Baseado em Keen (1987). 71 Duas conclusédes importantes podem ser esbocadas a partir das curvas de subsidéncia apresentadas na figura 70 (Keen 1987): 1) todas as curvas tém forma exponencial no estagio de subsidéncia tecténica, similares em alguns aspectos a da subsidéncia termal. Tal caracterfstica tem sido usada como argumento para a hipétese de que a mudanga de fase é a causa primaria da subsidéncia, mas os modelos extensionais simples fornecem os mesmos resultados; 2) fusdo parcial durante a elongagdo pode causar soer- guimento relativo no final do estégio rifte. Como se mostra na figura 71, o fundido pode subir através da litosfera inferior, alojar-se na interface crosta- manto e penetrar em seguida na crosta. Alternativamente, se o fundido ficar retido na astenosfera, ele pode migrar pa- ra a superficie quando da ruptura continental nas margens rifteadas, produzindo grandes quantidades de basaltos pr6- ximo ao limite continente/oceano (Keen 1987). RMS EXTENSAO COM FUSAO PARCIAL NA ASTENOSFERA. SSS —_ soe RGUIMENTO RELATIVE DEviD0 “0 FUNDIDO MENOS DENSO SSS SOERGUIMENTO RELATIVO COM MIGRAGAO DO FUNDIDO E ADICAO O77 ae NA CROSTA INFERIOR. ABERTURA DE FUNDO OCEANICO ESTASELECIDO Apés EXTENSAO CONTINUA E MIGRAGAO DO FUNDIDO. CROSTA OCEANICA ESPESSADA COM O FUNDIDO RETIDO NA AS TENOSFERA ATE A ABERTURA DO FUNDO OCEANICO. FIG. 71. Possfveis efeitos geolégicos da fuséo parcial. Baseado em Keen (1987). q2 8 INVERSAO DE BACIAS 8.1 INVERSAO O termo inversdo foi usado ja nas primeiras décadas ‘do século para se referir a mudanga de regime passando de ex- tensional para contracional em bacias implantadas em re- gides intraplaca. Tal mudanca é marcada pela presenga de feicdes estruturais impostas por ambos 0s regimes. Esse termo foi depois ampliado para se referir 4 passagem de uma etapa inicial de subsidéncia para uma etapa de orogénese em cinturées orogénicos. No presente, considera-se como inversao a mudanca de regime tecténico inicialmente extensional para contracional, levando em conta que sua intensidade possa variar muito. Tal regime pode ser analisado em bacias de diferentes ori- gens, estendendo-se até a cinturdes orogénicos. O resultado da inversdo envolve, entre outros aspectos, soerguimento e extrusao do preenchimento das bacias, pelo que ela é referi- da também como inversdo positiva. Pode-se considerar como inversao também a mudanga de regime contracional para extensional. Esse tipo parece ser menos comum e apenas parte do sistema estrutural ini- cial 6 retomado, provocando a subsidéncia e abatimento de blocos, sendo, por isso, referida como inversao negativa. Al- 13 guns autores preferem nao considerar esse tipo de inversdo (Cooper et al., 1989) e as consideragdes seguintes nao a le- vam em conta. Até ha pouco tempo, admitia-se que os sistemas de fa- Thas normais eram dominantemente empinados e com pouca ou nenhuma participagéo durante o encurtamento sub- seqiiente. A partir da constatagao de que os sistemas de fa- Ihas ativas no regime extensional sao geometricamente ana- logos aos dos sistemas de cavalgamento, avangou-se subs- tancialmente no entendimento do processo de reativagao das feicdes estruturais que compoem a arquitetura da bacia, du- rante o encurtamento. A movimentagéo das falhas pode ser referenciada em relacdo ao nivel regional de um horizonte-guia selecionado: as porgoes dele abaixo desse nivel devem indicar movimen- tos extensionais e aqueles acima, movimentos contracionais. Dessa abordagem emerge 0 conceito de ponto nulo (nul point), que sera explicitado mais adiante. Pode-se reconhecer trés seqiiéncias estratigraficas dis- tintas associadas 4 evolugao de um sistema de falhas nor- mais com geometria listrica, ditas seqiiéncias pré-rifte, sin- rifte e pés-rifte (figura 72A), Com a inverséo cinematica das falhas, os enchimentos pré- e sin-rifte da capa sao elevados e expelidos, dobrando-se e cavalgando a lapa. Em alguns casos podem surgir retrocavalgamentos na capa. Pode-se observar que, em profundidade, as seqiiéncias podem indicar deslo- camentos extensionais, enquanto em niveis mais rasos mos- tram deslocamentos inversos envolvendo a seqiiéncia pds- rifte (figura 72B). 74 FIG. 72. Sistema de falha listrica normal e seqiiéncias pré-rifte (A), sin-rifte (B) e p6és-rifte (C) em 1, sofrendo deformac&o por invers&o positiva em 2. Baseado em Williams et. al. (1989). As falhas normais sin-sedimentares observadas em muitos cinturées de cavalgamento sugerem que grande par- te da deformagéo é acomodada mediante reativacdéo de es- truturas pré-formadas. Os fatores que controlam a inversdo de uma falha normal sao: —a diregéo e mergulho da falha em relagéo aos eixos de tensao atuantes; — a geometria da falha, se listrica ou planar; — 0 perfodo de tempo apés a elongacéo e —a relagdéo entre a taxa de encurtamento e a taxa de estira- mento. 1S Falhas normais de baixo Angulo de mergulho sao freqiientemente transformadas em cavalgamentos durante o encurtamento. Falhas normais de mergulhos altos dificil- mente séo invertidas a partir de movimentacéo frontal; elas geralmente funcionam como anteparos para os deslocamen- tos que ocorrem ao longo de falhas normais de baixo mergu- Iho na cobertura ou no embasamento. A deformagéo nos te- tos de tais anteparos propicia encurtamento paralelo a es- tratificagéo, gerando dobras suaves e fechadas na cobertura. Dependendo da taxa de encurtamento, nestas condicées, po- dem se formar retrocavalgamentos e imbricacdées, isolando fracdes de falhas normais. Por outro lado, falhas normais de alto mergulho. sao fa- cilmente reativadas com movimentos obliquos ou transcor- rentes e freqiientemente reorientam o encurtamento sub- seqiente para diregdes particulares. As falhas de trans- feréncia geralmente experimentam movimentacdo direcional quando reativadas. 8.2 REATIVACAO DE SISTEMAS EXTENSIONAIS Nos terrenos que sofreram elongacéo, dominam trés conjuntos de falhas: — falhas normais rotacionais de mergulhos altos a baixos; ~ descolamentos suavemente inclinados e _falhas de transferéncia de mergulhos altos e transversais as falhas normais de altos 4ngulos de mergulho. Esses sistemas podem atingir expressivas porgdes da crosta e, portanto, devem controlar a evolucdo tecténica subseqiente. ~ No regime ruptil, a reativagdo ou retomada de atividade ao longo desses sistemas pode ser avaliada através da com- paracdo dos parametros de Coulomb-Navier (coesdo e coefi- ciente de atrito internos) das zonas de cisalhamento e da massa rochosa nao-cisalhada. Se a zona de falha contém brecha ou farinha, sua resisténcia (S na figura 73) sera mui- to menor do que a da rocha nao fragmentada, o que favorece a reativacdo. A alteragéo hidrotermal ao longo da zona de 716 falha, principalmente quando envolve silicificagao, pode aumentar a resisténcia da zona, a ponto de exceder a da ro- cha naéo-fragmentada. A figura 73 mostra que 0 colapso na zona de falha se dé sob valores de tensdo cisalhante inferio- res aos exigidos pela rocha intacta. Observa-se ainda que a zona de falha torna-se mais resistente do que as roclias nao-deformadas, com o aumento da profundidade no campo da deformagao ruptil. On Ge FIG. 73. Diagrama de Mohr, com envoltérias de Coulomb-Navier para rochas intactas (linhas tracejadas) e para as zonas de falha (linhas cont{nuas). S é a resisténcia (coesio). Baseado em Ethe- ridge (1986). No regime ductil, as zonas de cisalhamento sao si- tios de fluxo plastico. A resisténcia delas e das rochas nao- afetadas sao controladas basicamente pela mineralogia, ta- manho dos graos e textura. A presenca de rochas de granu- lacgéo mais fina, comumente retrometamorfizadas e forte- mente foliadas nas zonas de cisalhamento, favorecem as rea- tivagdes de falhas no regime dictil, nado havendo, porém, métodos para quantificar a sua resisténcia. Zonas dicteis 77 sdo também sitios de intensa percolacdo de fluidos e podem sofrer deformacgéo por mecanismos de transferéncia de mas- sa sob tensoes cisalhantes inferiores As exigidas pelas rochas nao-afetadas. Além da resisténcia relativa entre a zona de falha ou de cisalhamento dictil e a rocha adjacente nao-afetada, a reati- vacéo é controlada também pela orientagéo da zona em re- lacgéo ao campo de tensao local. A figura 74 resume qualita- tivamente as possibilidades de reativacéo de varios conjun- tos de falhas normais em relagéo as orientagdes dos campos de tenséo mais comuns na superficie da Terra. A figura 74A ilustra a reativacdéo envolvendo falhas normais de mergu- lhos médios e altos. A figura 74B mostra a forte tendéncia de as falhas normais de baixo mergulho, incluindo descola- mentos, se reativarem em cavalgamentos durante o encur- tamento horizontal subseqiiente, formando Angulo alto com a direcdo delas. A figura 74C mostra a reativacgao de falhas de transferéncia, com deslocamentos transcorrentes. 78 ® estiver MOVINENTAS AO oe. MOVIMENTACAO DIRECIONAL FAciL INVERSA OIFICIL A on e = -~oX PACIL MOVIMENTACAO NORMAL a ee MOVIMENTACAO LLL a — EN FALHAS NORMAIS or COM A MUDANGA DE SENTIDO DO CAMPO DE ESFORGOS BACIA DE AFASTAMENTO COM FALHA INVERSA MARGINAL fay i : ZONA TRANSFERENTE OEFORMANOO PARTE DA BACIA FIG. 77. Inversio de sistemas transcorrentes. Baseado em Gillerist et. al. (1987). £8 84 8.4 FATORES QUE CONTROLAM A INVERSAO DE BACIAS Diversos fatores controlam a inversdo de bacias. A orientacaéo das falhas normais em relagdo & tensao compressiva 6 o primeiro deles. Como se vé na figura 74, um plano de falha com mergulho igual ou maior que 60° dificil- mente sera reativado por regime de compressao horizontal com o, perpendicular a direcdo da falha; tais falhas sao, no entanto, facilmente reativadas por movimentagao obliqua. As falhas normais de baixo mergulho so transformadas sem dificuldades em cavalgamentos, a partir de compressao horizontal. A orientacaéo das falhas normais em relagdo as compo- nentes de encurtamento, como ja foi dito anteriormente, é outro fator de controle da inverséo. Durante a inversao, os descolamentos de baixo Angulo sao reativados e as falhas mais empinadas podem ser empurradas para cima, depen- dendo de suas orientagdes em relagdo a diregéo de com- presséo mdxima. Durante a inversao de sistemas planares, as falhas podem funcionar como cavalgamentos individuais ou 0 conjunto de blocos pode rotacionar. Falhas suavemente inclinadas sdéo transformadas em cavalgamentos, resultando no empilhamento de blocos do embasamento a partir da propagacao da reativagao no piso (figura 78). No caso da ro- tagao dos blocos se dar conjuntamente, os sedimentos dos hemigrdbens subordinados serdéo soerguidos, encurtados, dobrados e transportados (figura 79). Uma pilha de lascas imbricadas pode ser produzida, com os cavalgamentos ligan- do-se, para cima, com zonas de baixo mergulho. Os pacotes sedimentares superiores podem experimentar encurtamento expressivo, enquanto os inferiores permanecem pouco de- formados. 85 FALHAS NORMAIS REATIVADAS POR CAVALGAMENTO FIG. 78. Inversio de sistema domin6 a partir de propagacdo de cavalgamentos do piso. Baseado em Gillcrist et. al. (1987). FIG. 79. Invers&o de sistema domin6 por retro-rotacéo. Baseado em Gillerist et, al, (1987). 86 A inversaéo de falhas Ifstricas pode inicialmente acen- tuar o volteio e a reativagaéo ser4 mais intensa nos segmen- tos mais suaves (figura 80). Onde a inversao 6 fraca, forma- se uma dobra suave e, na reativacéo mais intensa, 0 teto da falha normal poderé sofrer imbricamento. Alternativamen- te, o piso das falhas normais pode ser abatido, originando um prisma triangular do embasamento contornado por se- dimentos (figura 81). FALHA LISTRICA ee FALHA LISTRICA C/ INVERSAO (12 POSSIBILIDADE) FALHA LiISTRICA C/ INVERSAO (2% POSSIBILIDADE) FIG. 80. Invers&io de falhas Lstricas. Baseado em Gillcrist et. al. (1987). 87 FIG. 81. Modelos geométricos explicando a presenca de prismas de embasamento isolados no meio de sedimentos. Baseado em Gillcrist et. al. (1987). 88 No caso de descolamentos de baixo mergulho, como os invocados por Wernicke (1985), eles podem funcionar como descolamentos para quaisquer dos modelos discutidos. Outro fator a se considerar 6 a resisténcia da litosfera. A figura 82 mostra o provavel perfil de resisténcia da crosta e manto superior, considerando a reologia do quartzo para a crosta e da olivina para o manto. A resisténcia aumenta com a profundidade: ela é baixa na interface crosta-manto, em funcdo do contraste reolégico, bem como em outras regides semelhantes na crosta. TEMPERATURA ESTIRAMENTO b COMPORTAMENTO ELAsTico GROSTA INFERIOR OUCTIL en ;-MOHO PROFUNOIDAGE- --— =~ —\ - MODELO DE MCKENZIE TEMPERATURA ESTIRAMENTO ESTIRAMENTO d MODELO DE WERNICKE ESTIRAMENTO ESTIRAMENTO MANTO DELGACADO FIG. 82. Diagramas mostrando as relagdes temperatura versus profundidade e resisténcia versus profundidade, através da litos- fera superior. Baseado em Gillerist et. al, (1987). 89 Se a litosfera for estirada de acordo com o modelo de McKenzie (1978), a curva de resisténcia sera modificada, de modo que a resisténcia total da litosfera estirada sera menor do que a da litosfera néo-deformada. Quando a litosfera re- cuperar o seu gradiente geotérmico, sua resisténcia sera maior do que a da litosfera ndo-estirada. O perfil de re- sisténcia nao sofrerd grandes modificacées abaixo da bacia, mas, na regido onde o manto litosférico 6 adelgacado, haverd aumento no grau geotérmico e, conseqiientemente, um au- mento de resisténcia. Por outro lado, o perfil de resisténcia volta 4 posigao original com o tempo. Como se vé, a resistén- cia litosférica depende do fluxo térmico original, da porcen- tagem de estiramento e do tempo apés cessado 0 estiramen- to. Assim, algumas bacias podem se inverter ainda durante a histéria contracional, mas essa inversao pode ser atenuada na medida em que elas vao se tornando mais espessas e a li- tosfera esfria. Com o tempo, a resisténcia da bacia pode se tornar tao acentuada quanto a da litosfera adjacente ndo- afetada. As falhas normais funcionando como anteparos consti- tuem outro fator. Devido & presenga de falhas de alto Angulo de mergulho no embasamento, desenvolve-se uma zona de alta concentragao de tenséo na frente da falha (figura 83A). Pode haver formagao de um cavalgamento a partir dessa zo- na ou, alternativamente, as camadas da cobertura podem ser fortemente dobradas ou seccionadas por retrocavalga- mentos (figura 83B). Na progressdo da deformacdo, caval- gamentos podem ser projetados sobre a pilha dobrada, com retrocavalgamentos associados (figura 83C) e, nesse caso, eles constituem o teto do sistema. Os cavalgamentos podem se desenvolver a uma certa distancia do anteparo, isolando fragées de hemigrébens nao deformadas (figura 83D). A reativagaéo do segmento empinado ou a eliminacdo do anteparo implica a formagao de dobras com topo chato ou nado na cobertura (figura 83K, F). ; 90 ss ~ FIG. 83. Relac&éo entre cavalgamentos na cobertura e presenca de uma escarpa de falha normal. Baseado em Gillcrist et. al. (1987). 91 8.5 PORCENTAGEM DE ENCURTAMENTO EM RELACAO A ELONGACAO ORIGINAL A andlise da geometria resultante do processo de in- versdo, bem como a localizagéo relativa do ponto nulo, per- mite a identificagéo, em fungéo da intensidade, de inversdo fraca, moderada, forte e total (Cooper et al, , 1989). A figura 84 ilustra cada um desses casus. Hemigrdben Extensional FIG. 84. Intensidade de invers&o identificada de acordo com a geometria e posic&o relativa do ponto nulo em um hemigrében. Baseado em Cooper ef. al. (1989). 2, Em nivel regional, é possivel distinguir bacias forte e fracamente invertidas (figura 85). As bacias fortemente in- vertidas séo caracterizadas por crosta espessada e consti- tuem os cinturées orogénicos, associados ou nao a zonas de coliséo continental. BACIA FRACAMENTE INVERTIDA BACIA FORTEMENTE INVERTIDA FIG. 85. SegSes de bacias fraca e fortemente invertidas. Baseado em Gillcrist et. al. (1987). No regime de coliséo de placas, a margem continental adelgagada deforma-se primeiro, e os cavalgamentos e as dobras evoluem gradativamente a partir da margem da pla- ca. O tipo de estrutura que se desenvolve depende do inter- valo de tempo entre a elongagao e o encurtamento, bem co- mo da taxa de encurtamento imposta. _..« A cinematica da inversao nem sempre parece obedecer a regras impostas pela geometria preexistente gerada nos 93 dominios extensionais-transtensionais. Um bom exemplo para ilustrar a complexidade do caminho seguido pela de- formacgdo durante o processo de inversao esta registrado no Hemigrabem McCook, localizado na regiaéo oeste das Mon- tanhas Rochosas, nos dominios tecténicos da Fossa Kechika, no norte do Canada (McClay ez. al., 1989). A Fossa Kechika como um todo esteve sob a agdo de movimentos crustais extensionais pelo menos desde o Ko- cambriano até o Devoniano, recebendo seu preenchimento sedimentar ao longo de um sistema de hemigrabens, confi- gurando bacias e sub-bacias. Durante o Devoniano, em particular, a fossa Kechika sofreu marcante movimentacdo extensional, resultando na formacdo de diversas depressdes, dentre as quais a Bacia McCook. Esta implantou-se com uma arquitetura francamente assimétrica controlada por uma falha normal principal com diregdo aproximada NE-SW. O processo de inversdo desta bacia, que teve inicio no Mesozéico, principiou com a reativagaéo das falhas normais de borda e a implantagéo de um cavalgamento proveniente do piso, a sudoeste, que posteriormente se propagou ao lon- go do preenchimento sedimentar, no teto (figura 86). Como primeira resposta a este empurr4o, ocorreram dobramentos consecutivos nas rochas localizadas no piso da falha normal principal, cujo plano passou a ser usado como anteparo para a deformagdo, enquanto que na regiao de teto o preenchi- mento sofria encurtamento controlado pela gradativa pro- pagacdo desse empurrao. Com a progresséo da deformagao implantaram-se, de modo distinto, dobras nas rochas do piso e teto da antiga falha normal interceptada pelo cavalgamen- to proveniente da zona de descolamento produzida na in- versdo. Aos poucos, 0 segmento da antiga falha normal, si- tuada no teto do empurrao principal, foi rotacionado e reuti- lizado como plano de cavalgamento, responsdvel pela imbri- cacao de rochas do substrato da bacia com o pacote de pre- enchimento. 94 SW NE GRUPO LOWER EARN GRUPO ROAD RIVER ALAA 4 tat AE FIG. 86. Hemigraében McCook, um exemplo de bacia invertida. A: geometria pré-inverséo; B: infcio da inversio, envolvendo reati- vac&o da falha principal, aparecimento do empurr&o A esquerda e dobramento; C: rotag&o da falha principal, que passa a funcio- nar como cavalgamento, juntamente com outras falhas de caval- gamento, gerando imbricaco6es, e incidéncia de dobramentos; D: geometria atual. Baseado em McClay et. al. (1989). 95 A geometria atual é configurada por cavalgamentos conjugados em leque imbricado, do qual faz parte o antigo plano de falha normal principal da bacia, que se projeta para nordeste, transladando as litologias do embasamento em conjunto com aquelas do preenchimento. Dobras foram de- senhadas tanto nas rochas internas como externas da bacia. ANEXO: O METODO CHEVRON E VARIANTES 9] 98 O Método Chevron assume que a componente horizon- tal de deslocamento h (heave) 6 constante e que a compo- nente vertical ¢ (throw) e o deslocamento (d) variam com a mudanea de inclinacéo da falha (figura 87). Conhecido o vol- teio, os pontos A e A’ e tendo sido determinado d na superfi- cie com base em algum referencial estratigrafico, para achar o perfil da falha: 1) projeta-se o volteio de A’ para L’; 2) tragam-se retas verticais paralelas com espagamento h a partir de A’, determinando os vetores-deslocamento BB’, CC’ etc.; 3) traca-se a reta A’B” a partir de A’, para baixo e com comprimento equivalente a BB’, determinando o pon- 1o'B": 4) traca-se a reta B’’C” a partir de B’’, para baixo e com comprimento igual a CC’, determinando 0 ponto C’’; 5) e assim por diante. Os pontos A, A’, B’”’, C’’, D’’... delineiam o perfil da fa- tha (figura 87A). hedcosx tedsenc dthton . CONSTANTE METODO CHEVRON FIG. 87. Determinag&o do perfil de uma falha lfstrica pelo méto- do Chevron. Pelas relag6es mostradas no grafico da figura 87B, h=d.cos , t=dsen ,e 1 —hte *

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