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Resumo
Neste trabalho, delimita-se uma rede de informação para subsidiar as análises e reduzir custos dos
planejamentos energéticos que se implementem na Amazônia.
A Amazônia é uma região abundante em recursos energéticos, onde se destacam o gás natural, cujas
reservas provadas eram de 54,06 bilhões de m3 cúbicos em 19971, e a energia hidráulica, que
apresenta potencial total de 133 GW2, que corresponde a 51,22% de todo potencial hidrelétrico
brasileiro.
Os baixos índices de acesso aos serviços energéticos, observados na região Amazônica, são
conseqüência de um contexto complexo, determinado por fatores como: modelos de atendimento
que negligenciam as peculiaridades locais, a pouca importância dada à problemática energética
regional, economia pouco desenvolvida e com injustiças na distribuição de renda, características
geográficas que tornam dispendiosa a distribuição de energia, endividamento do Estado, falta de
vontade política.
Com os atuais debates envolvendo desenvolvimento e meio ambiente, algumas diretrizes estão
sendo propostas para promover o desenvolvimento da região e solucionar a problemática energética
amazônica. NORGAARD (1981) apud REDCLIFT (1994) sugere uma “co-evolução” entre o
sistema ecológico e os sistemas cultural e social regionais. FREITAS et al (1996) afirmam que o
processo de desenvolvimento da Amazônia deve incorporar a preservação da cobertura florestal, a
∗
Este artigo deve ser citado da seguinte forma: SILVA, Marcos Vinicius Miranda da ; ARAÚJO, R. B. . Rede de
informação para o planejamento energético na Amazônia. In: I Encontro de Ciência e Tecnologia para a Amazônia,
1999, Belém. Anais do I Encontro de Ciência e Tecnologia para a Amazônia, 1999.
1
Informação cedida pela Petrobras em 1998.
2
Informação obtida junto à Eletrobras, referente a 1996.
geração de empregos e o aumento do fluxo monetário para o bem-estar da população amazônica,
onde a biomassa e os sistemas descentralizados de produção de energia podem ter contribuição
relevante.
Esse sistema, em operação até hoje, tem como objetivo central agregar, armazenar, gerenciar e
disseminar informações científicas e tecnológicas sobre a Amazônia, estando estruturando em duas
bases de dados bibliográfica e referencial. Desta forma, o Informam pode fornecer aos usuários
listagens de bibliografias, incluindo localização, bem como informações sobre projetos de pesquisas
e pesquisadores3.
No que diz respeito a área energética e afins, mais especificamente ao planejamento energético
regional, percebe-se que tanto o Informam quanto o Siamaz não estão estruturados de forma a
subsidiar mais efetivamente o processo de planejamento energético, porque esses sistemas estão
desprovidos de uma base de dados, que agregue, armazene e dissemine informação sobre
indicadores específicos para o planejamento energético. No máximo eles fornecem a relação de
bibliografia técnico-científica, onde esses indicadores podem ser encontrados, sendo essa a grande
limitação desses sistemas.
O espaço cada vez maior ocupado pela questão energética nos debates sobre desenvolvimento
regional e a constatação da inexistência de uma ferramenta, capaz de subsidiar efetivamente o
planejamento energético na Amazônia, levaram à aprovação, em 1995, do projeto “Banco de Dados
de Fontes Energéticas da Amazônia (FEA)”, junto ao Programa do Trópico Úmido (PTU).
O FEA tem como objetivos subsidiar as atividades de planejamento energético regional, através de
indicadores energéticos e sócio-econômicos, bem como facilitar a localização de referências
bibliográficas, projetos de pesquisa e especialistas relacionados à área energética e afins.
Atualmente, o FEA possui três bases de dados: específica, bibliográfica e referencial.
A base específica possui duas entradas de dados: energética e sócio-econômica. A primeira fornece
aos usuários informações sobre potencialidades e reservas energéticas, produções e consumo de
energia por setor, além de perdas, exportação, importação de energia. A segunda dissemina dados
sobre demografia, mortalidade infantil, índice de desenvolvimento humano, taxa de alfabetização,
emprego, PIB, renda familiar.
Encontra-se em fase de desenvolvimento uma nova entrada de dados que levará aos usuários
informações sobre as relações existentes entre os indicadores energéticos e sócio-econômicos:
energia e PIB, energia e emprego, energia e demografia, energia e indicadores de qualidade de vida.
As bases bibliográficas e referencial diferenciam-se das bases do Informam e Siamaz por serem
específica à área energética e afins. Neles os usuários têm à disposição informação sobre
bibliografias, com padronização pelo Energy Technology Data Exchange (ETDE), da Agência
Internacional de Energia, projetos de pesquisa e especialistas, que atuam na Amazônia.
Embora o FEA represente uma mudança na tendência dos sistemas de informação observada na
década de 80, principalmente por ser um sistema de dados específicos, ele apresenta alguns
problemas de ordem estrutural e gerencial, que o deixam distante de ser uma ferramenta ideal para o
planejamento energético regional. Entre os quais, destacam-se: limitação da base de dados
específicos, abordagem a nível de macro-escala, centralização do sistema e ausência de recursos
financeiros para sua manutenção e gerenciamento.
A limitação da base de dados específicos pode ser notada pela ausência de informações sobre
tecnologias de produção de energia, infra-estrutura, legislação, políticas de desenvolvimento e meio
ambiente, impactos ambientais da produção e consumo de energia.
Para satisfazer a essa meta, o sistema de informação deve possuir 7 bases de dados principais:
energética, sócio-econômica, tecnológica, fisiográfica, de impactos sócio-ambientais, de infra-
estrutura e de políticas de desenvolvimento e meio ambiente. Como bases secundárias, esse sistema
pode incluir a relação de pesquisadores atuantes na região e bibliografia especializada, além de
trabalhos científicos (relatórios, artigos) sobre a questão energética regional e áreas afins (figura 1).
Banco de Dados
Base Política
Base Fisiográfica
Abaixo, são especificadas as bases de dados principais, bem como as entradas de cada base e
algumas informações que podem ser trabalhadas nesse sistema.
Base Energética
• Potencial e reservas energéticas: renováveis e não-renováveis
• Balanço energético: Produção, consumo setorial, importação, perdas de energia
• Preço da energia: Tarifas, preço de derivados de petróleo
Base Sócio-econômica
• Demografia: População, domicílios, migração
• Emprego: Setores de serviços, industrial, agropecuário
• Indicadores de qualidade de vida: Alfabetização, expectativa de vida, mortalidade infantil
• Produção: Industrial, agropecuária, extrativista
• Produto Interno Bruto: Total, por setores da economia
• Renda familiar: Por domicílio
Nesta base devem ser incluídos índices que correlacionam indicadores sociais e econômicos, como:
Índice de Desenvolvimento Humano - IDH
Base Tecnológica
• Equipamentos: Produção, transmissão, distribuição, conservação de energia, incluindo
especificações técnicas, preço e fabricantes desses equipamentos.
• Tecnologia de produção industrial: Utilizadas pelos setores produtivos e disponíveis no mercado,
incluindo especificações técnicas, preço e fabricantes.
• Técnicas de monitoramento e mitigação de impactos ambientais: Equipamentos para controle de
emissão de poluentes, incluindo especificações técnicas, preço e fabricantes desses equipamentos,
técnicas de reflorestamento, contento informações sobre capacidade de fixação de carbono e
produtividade.
Nesta base devem ser incluídos parâmetros que relacionem tecnologia e emprego.
Base de Infra-estrutura
• Transportes: Frota de veículos, capacidade de transporte (carga e passageiro), malha de transporte.
• Energia: Plantas de geração, redes de transmissão e distribuição de energia.
• Pólos de Desenvolvimento: Localização, tipo
Base Fisiográfica
• Vegetação: Tipo, distribuição, áreas de tensão florestal, produtividade florestal
• Relevo: Tipo, altitudes, distribuição espacial
• Bacias Hidrográficas: Características dos rios, fauna aquática, rede hidrográfica
• Clima: Temperatura, índice de precipitação pluviométrica, radiação global, nebulosidade
• Solos: Tipo, distribuição espacial
A estruturação do sistema de informação deve ser concebida de tal forma que seja possível a
inclusão, tanto de novas bases quanto de novas entradas de dados, uma vez que o conhecimento está
em constante evolução. Um bom exemplo da importância dessa flexibilidade diz respeito a questão
ambiental, que foi incorporada ao planejamento energético a partir da década de 70. Hoje, “é
portanto necessário incorporar aspectos de qualidade ambiental e desenvolvimento regional nas
análises energéticas regionais” (HAFKAMP, 1986 apud NIJKAMP; VOLWAHSEN, 1990).
A experiência proporcionada pelo FEA mostra que os sistemas de informação para serem
completamente eficientes, devem agregar e armazenar informações que permitam o
desenvolvimento de análise de planejamento energético, tanto de macro-escala (regional, estadual)
quanto de micro-escala (local: comunidades rurais e indústrias). Neste sentido, é imperativo que
essas informações sejam trabalhadas de forma descentralizadas.
A descentralização da informação exige que cada estado da Amazônia Brasileira possua o seu
sistema de informação, uma vez que isso favorece o levantamento e a coleta de informações mais
pontuais, como exemplo: a identificação de autoprodutores e seus consumos de energia, grande
barreira encontrada pelo FEA, no que diz respeito à coleta de informação em outros estados.
Esses sistemas estaduais deverão estar interconectados a um sistema central, formando uma rede de
informação regional sobre energia e áreas afins, que permitirá o desenvolvimento de planejamentos
energéticos de macro-escala para a Amazônia.
Conclusões
Uma rede de informação ideal para a Amazônia seria formada por sistemas localizados em cada
estado, que trabalhariam os dados sobre energia e áreas fins, referentes ao estado, aos municípios e,
se possível, a nível local. Esses sistemas deveriam estar conectados a um sistema central, capaz de
agregar e armazenar as informações sobre a região.
É imperativo que esses sistemas de informação possuam recursos financeiros próprios para
gerenciamento e manutenção, caso contrário, há o risco de defasagem das informações.
Referências Bibliográficas
ARAÚJO, J.L.R.H. Modelos de energia para planejamento. Rio de Janeiro, 1988. p. 94 -127.
Tese (prof. titular) – COPPE / UFRJ.
BRINKMANN, P. C. Towards descentralization: energy planning in Guangdong. Energy Policy, v.
13, n. 4, p. 204-214, jun.1985.
FOELL, W. K. Energy planning in developing countries. Energy Policy, v.13, n.4, p.350-354,
aug. 1985.
FREITAS, M. A.V.; DI LASCIO, M. A.; ROSA, L. P. Biomassa energética renovável para o
desenvolvimento sustentável da Amazônia. Revista Brasileira de Energia. SBPE, v.5, n.1, p.
71-97, prim. sem. de 1996.
NIJKAMP, P.; VOLWAHSEN, A. New directions in integrated regional energy planning. Energy
Policy, v.18, n.8, oct. 1990.
REDCLIFT, M. Sustainable energy policies for the brazilian Amazon. Energy Policy. v.22, n.5,
p. 427-431, may 1994.