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Os formatos discursivos: texto

científico, texto jornalístico, texto


literário e outros textos em seus
contextos

Marcos Palacios

FACOM/UFBA
UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR
UBI PT
Variedades de discursos e critérios
heterogêneos de classificação

a) Por Funções de Linguagem (Roman Jakobson): Referencial


(informativa , denotativa), emotiva, conativa (convencimento), fática
(busca de reforço de compreensão), metalinguística, poética;

b) Por Funções Sociais: de contato, lúdica, religiosa, legal, etc

Problemas: sobreposições, fronteiras pouco claras entre cada tipo


Gêneros? Tipos? Formatos
Discursivos?

• Trata-se de uma área de estudo que se


caracteriza por alto grau de polêmica entre
autores, correntes, escolas, com pouco ou
nenhum consenso terminológico.
• Nesta Oficina não entraremos sequer na
polêmica e trataremos apenas de adotar uma
terminologia, para facilitar nossas discussões.
• Nesse sentido, estabeleceremos - de fato –
algumas Definições Operacionais, com base em
fundamentalmente dois autores: Norman
Fairclough e Dominique Maingueneau.
Concepção Tridimensional do Discurso

TEXTO

PRÁTICA DISCURSIVA
(Produção, Distribuição, Consumo)

PRÁTICA SOCIAL

FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e Mudança Social, Ed. UNB:Brasilia, 2001


Gênero e Tipo
Alguns autores empregam indiferentemente
“gênero” e “tipo”. Adotaremos a terminologia
de Maingueneau:
“os gêneros pertencem a diversos tipos de
discursos associados a vastos setores de
atividade social.

Assim, por exemplo, uma telenovela constitui um gênero de


discurso no interior do tipo discursivo televisivo, que por sua vez
faz parte de um conjunto mais vasto , o tipo de discurso midiático,
em que figuram também o tipo do discurso radiofônico e o da
imprensa escrita.
Tipos, sub-tipos e gêneros
Tipo Midiático
Sub-Tipos: Televisivo, Radiofônico, Impresso
Gêneros:
Tipo Televisivo: talk show, telenovela, telejornal, etc
Tipo Radiofônico: radionovela, radiojornal, entrevista, etc
Tipo Mídia Impressa: editorial, notícia, reportagem
investigativa, etc

Tipo Jurídico:
Gêneros: petição, pareceres, intimações, leis, decretos, etc

Tipo Científico:
Gêneros: artigo, comunicação, relatório, resenha, etc
“As tipologias dos gêneros de discurso se contrapõem, desse
modo, às tipologias comunicacionais por seu caráter
historicamente variável. Em toda sociedade, seja qual for a época,
encontramos categorias tais como “didático”, “lúdico”, “prescritivo”,
etc., enquanto o ‘talk show’ ou o editorial nada têm de eterno.
Poderíamos, assim, caracterizar uma sociedade pelos gêneros de
discurso que ela torna possível e que a tornam possível”

“O gênero relatório de estágio, por exemplo, supõe a existência de empresas e de


estudantes que buscam experiência profissional, de professores para aplicar e
avaliar as tarefas escritas e, acima de tudo , de todo um sistema de ensino aberto
ao mundo do trabalho. Poderíamos dizer coisas da mesma ordem a respeito do
gênero ‘fait divers’ que aparece nas sociedades em que há uma imprensa escrita
de grande tiragem: num vilarejo o boato é suficiente para divulgar notícias”.

(D. Maingueneau)
Para um locutor, dominar vários gêneros discursivos é
um fator de considerável economia cognitiva:
“Aprendemos a moldar nossa fala pelas formas do
gênero e a, ao ouvir a fala do outro, sabemos logo,
desde as primeiras palavras, descobrir seu gênero,
advinhar seu volume, a estrutura composicional usada,
prever o final, em outras palavras, desde o início somos
sensíveis ao todo discursivo. Se os gêneros não
existissem e se não tívessemos domínio sobre eles e
fôssemos obrigados a inventá-los a cada vez no
processo da fala, se fôssemos obrigados a construir
cada um de nosso enunciados, a troca verbal seria
impossivel”

(M. Bakhtin)
Contrato, Papel, Jogo
Para caracterizar os gêneros discursivos, costuma-se recorrer a
metáforas tomadas de empréstimo essencialmente de três
domínios: jurídico(contrato), lúdico (jogo) e teatral (papel).

Dizer que o gênero de discurso é um contrato significa afirmar que


ele é fundamentalmente cooperativo e regido por normas.
Todo gênero de discurso exige daqueles que dele participem que
aceitem um certo número de regras mutuamente reconhecidas e
sanções previstas para quem as transgredir.

Falar de papéis é insistir no fato de que cada gênero discursivo implica


parceiros sob a ótica de uma uma condição determinada e não de todas as
suas determinações possíveis. Quando um policial examina documentos de
um cidadão ele o faz enquanto agente da ordem pública e não como pai de
uma família de tres crianças, moreno, de bigode e com um sotaque sulista.
Tampouco o faz como um evangélico praticante, participante de uma
comunidade batista, localizada em um bairro da zona norte, onde ele canta
no coro.

Falar de jogo é cruzar metáforas de contrato com as do teatro.


CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das Mídias, Editora Contexto: São Paulo, 2006
Discurso e Legitimidade
Apesar da pretensão à universalidade e à formação de consensos assemelhar
os princípios da legitimidade do campo dos media aos do campo científico, a
natureza da legitimidade do campo dos media distingue-se , no entanto, da
que predomina no campo científico, pelo facto de prevalecerem naquele os
valores da transparência e da publicidade sobre os do rigor e de adequação ao
real. Embora os valores da adequação e da transparência persistam em
ambos os campos, a relação hierárquica entre eles é, no entanto, invertida,
prevalecendo a transparência no campo dos media e a adequação no campo
científico. Daí a natureza tensa e problemática que caracteriza as relações
entre os detentores da legitimidade institucional de um e de outro campo,
manifestada, nomeadamente, pela mutua desconfiança e sedução”

(Adriano Duarte Rodrigues)


FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e Mudança
Social, Editora da UNB: Brasilia, 2001

MAINGUENEAU, Dominique. Análise de Textos


de Comunicação, Cortez Editora: São Paulo,
2000.

RODRIGUES, Adriano Duarte. Estratégias da


Comunicação, Editorial Presença: Lisboa,
1990.

CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das Mídias,


Editora Contexto: São Paulo, 2006

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