Você está na página 1de 10
CAPITULO I: TEORIAS DA TRADUGAO 1Na época contemporanea, a traducao foi dotada de uma teoria pr6pria, Tanto quanto para a literatura cx para a linguistic, existem vias teorias da tradu- do. Mais que abordé-las uma a uma, buscaremos fa zer uma apresentacdo tematica, 1. Lingua-fonte ¢ lingua-alvo Quando abrimos uma tradugio, geralmente lemos 1a mengio: “Traduzido do italiano por..” ou “Tradu- ‘ido do hxingaro..” ete. Com efeito, sempre se traduz 4ée uma lingua pera outa (as vezes se trata da mesma Tingua, mas de épocas diferentes: a Cangio de Roland pressupde uma traduedo para o franeés modemno para aqucles que desconhecem o franeés antigo). Também vimos surgirem no século XX expressdes como “source language (61)” (traduzida por “lingua-fonte” ou “Iin- qua de partida” {.x]") e “target language (r.) (trade vida por “lingua-alvo” ou “lingua de chegada” [.c?) [Nas obras de tradutologia, vemos esquemas, por ‘veres de uma grande complexidade, que, na realidade, derivam da formula fundamental: st "TRADUxO - stom, roms € wétoo0s wi A flecha simboliza a transferéacia linguistica constituida pela tradugdo € que confirma a etimologia [straduzir” = “conduzir” (“ducere"), “levar para 0 ‘outro lado” (“trans”)]. Mesmo assim, a oposi¢do entre a letra eo espitito nao desapareceu por completo, mas tende a se focalizar na questo da lingua: de um lado, 08 “pré-fonte”; de outro, os “pré-alvo™, Uns privile, giariam 0 “texto fonte”, os outros, o “texto alvo” (ou “a cultura fonte” ¢ a “cultura slvo” ete). Levada ao extremo, a perspectiva pré-alvo visa a transparéneia absoluta: “T see translation as the attempt to produce 4 text so transparent that it does not seem to be trans- lated” (Norman Shapito): Qualquer intruszo de uma estrutura da we é per= cebida como inabilidade, ou até mesmo como falta de dominio da re, do mesmo modo como um professor deverd, aos poucos,levar seus alunos a suprimirem as ‘areas de “interferéncia” da Kingua materna (.r) sobre 4 lingua estrangeira (ic). Voltamos a topar com a pro. ‘Ver Jean René Ladmiral Souris et elites. Rewe ds: {hétque, 12. Tlowse:Psvat, 198, 9. 38-42, £__ Nootiginal *sourcistes” e “liste, que deci tradunie sistematicamente por “pré-fonte”e “pralvo” com 0 "pro cot ‘ois ents: volta para ingusfonte ou para Kngu-vo out Dattidrio/defensor da lingua Fonte ou da lingua. Agradevo a “Marcos Bagno, a Sabine Gorovte ew Alice Maria de Araijo Ferret ‘4, do LET-UnB, gla conversa que levou a esta deci proposts terminolgie fm do Bair). 2 gLite Bor Lawrence Venu, op. cl, pL “Veo a tradgao ono atentativa de produzic um texto to tansperente gue tern Pate te sido tadida eons 94 TA0UGIO At La elegincia das blemitica de Dryden, segundo a qual ae 4 talus reside na conferndade com o “bom us? mo sentido em que Vaugelas 0 entendia. Como proceder de rmaneira diferente?, pensara o leigo no assunto. Contudo, seria uma inconsequéncia pretender que Chateaubriand ou Goethe, que defendem outra manta de tradi, tvessem um dominio snsufcien te da lingua, o que prova que a simples oposicio entre “pré-alvo” e “pré-fonte”, por mais comoda que seja, se smonstra insuficiente ; emante das, dena de ser necessriopostla ue cexistiria apenas uma tinica modalidade de traducio aunties, Em um texto mito famoso de 1813; her die verschiedenen Methoden des Ubersetzens ("Sobre os diferentes métodos para traduvis”), Friedrich Sch- leiermacher distingue dois métodos: osivel @ 120 tradutor dei 0 esritor 0 mais tanquilo pe Pas scone ‘mais tanguilo que ele pssa eFax com que oescitr via seu eneontr A depender da natureza do texto aser traduzido, o tradutor atuaré pré-fonte ou pré-alvo. © ie importa mesmo € a noc de movimento que a tradugao é uma operacao de natureza dind- tron, mea esi. Wilhelm on Huo 8 dud squilo (traducdo pu introdugio ao Agamemnon de Esq bblicada em 1816 e & qual cle tera consagrado quinze anos), propde a seguinte distingéo fundamental: Fads po oursde Babel op. city TFraduzido por Antoine Berman, Les tours de Babe op 308. se exougso - stem, Tams € wéroo0s Quando nio se sent a esranhesa, mas oetranho, a trad 0 cumpriu seu papel supremo; mas quando a estranheza parece em si mesma etalvex obsuneg até mesmo 0 este no, quando otradutordeiraesapar qu no est altura de seu orignal’, Isso é caminhar no sentido oposte a0 das tradu- Bes francesa da época, mas essa concepeio conecta- se com elas no estabelecimento de um limite, aquele ue talver consista em “recusar a estranheza do es ‘tanho tio profundamente quanto o etnocentrismo do classicismo francés”. Entre os roménticos, apenas Hélderlin vencer esse limite, prfigurando assim um Fzra Pound”, Cont do, 0s arguments dos ‘préalvo” no carcoem de orca, Un dos mais importantes é aquele que decorre da equi valencia, Em Toward A Science of Translating (1964), Engene E, Nida distingue duas formas de equivaléncia. « eguivaléneia formal, que consiste em verter mecani camente a forma do original; a equivaléncia dindmica, que transforma o “texto fonte” de manieira a produit © mesmo efeito na “lingua-alvo". Bugene E. Nida é um especialista em traduo bblice. Confrontado com civi- Tizagies diversas da nossa, o angumento da equivaléncia de eeito assume a dianteira sobre qualquer outra consi- 7 Wctn on ambos, Serato ean tans isa elena Tad: Die Thour ath se, Stoop re hatin Betas, Lane de ran onc, 248 Yer Amine Toru Hole o talon ee tin tome p18 gee Ni Tne A Slee f Teatng,Leie Brill, 1964. i Mw te Tomas pa TROUGH 3 deragio: como fazer entender a pardhola da boa semente ‘edo joio a indianos do deserto, para 0s quais todo gra deve scr cuidadosamente enterrado e protegido ¢ no semeado ao vento? Aferrar-se &Tetra faz cotter 0 risco deuma distorgdo radical do sentido: naquela civilizagio, semear 6 em si um ato aberrante. Nao se poderia, entio, segundo ele, utilizar as mesmas palavra. ‘A “equivaléneia dindenica” 6 um conceito proprio de Eugene E, Nida, que s6 faz sentido quando reporta- do a sua propria teoria da tradugao. Em contrapartida, a eqquivalencia de efeito é uma nogio central que vai além da divisdo entre “pré-fonte” e “pré-alvo”: cla pre- cisa ser levada em conta em um quadro mais amplo, ‘@ comecar por suas implicagdes de ordem linguistica, 2. Linguistica e tradugao ‘A contribuicio da linguistica para a teoria da (adugio é considersvel, tanto quanto para 0 campo dos estudos literdrios (influéncia de Hjelmslev sobre Roland Barthes, por exemplo) ou para as ciéncias hu- rmanas, como a etaologia (Lévi-Strauss, por exernplo) ‘ou a psicandlise (Lacan e “o inconsciente estrutura- do como uma Iinguagem”). A importancia de que se reveste a tradugdo no que diz respeito & linguistica é primordial, de maneira que Roman Jakobson enfatiz: A equivaléncia na diferenca ¢ 0 problema cardeal da linguagem ¢ 0 principal objeto da linguistica”. 7 Foman Jolobson, Aspets ingustiques dele tradueton, op. se 98.

Você também pode gostar