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4.9 | A GEOMETRIA DA EXCLUSAO JORGE L. B. ALVES JUNIOR RESUMO As teorias da relacio processual e do proceso como instrumento da jurisdicao s4o assimé- tricas aos principios e regras constitucionais da sociedade democritica, mas amplamente aceitas como doutrina dominante. O presente trabalho objetiva demonstrar que a legitimidade da tese nao decorre do contetido e valor de suas palavras, mas da ideia de imparcialidade do juiz, cujo simbolo construido geometricamente sinaliza a ideologia do salvo-conduto & discricionariedade Palavras-chave: geometria, simbolo, legitimidade, ideologia. ABSTRACT ‘Theories of procedural relationship and process as an instrument of jurisdiction are asym- metric to the constitutional principles and rules of democratic society, but widely accepted as the dominant doctrine. This paper aims to demonstrate the legitimacy of the thesis does not follow the content and value of his words, but the idea of impartiality of the judge, whose symbol constructed geometrically signals the ideology of laissez-passer to the discretion. Word-keys: geometry, symbol, legitimacy, ideology. LINTRODUGAO A ideia de processo como relacio juridica e instrumento da jurisdicao no escopo de paci ficagio com justica é amplamente aceita na pritica e como teoria dominante. A Constituigio Federal de 1988 trouxe regras e princ{pios processuais que reverberam em oposi¢ao a concep¢ao tida por retrograda por representar a submissio das partes ao juiz no processo, A legislagao por necessidade, em respeito ao pluralismo juridico ¢ iberdade filoséfica, reli- giosa e politica dos membros da nagao, com protecao na propria Constituigao, edita hoje normas abertas, langando mio de conceitos juridicos indeterminados, bem como surgem novos direitos, De forma que o judiciério ao sujeitar as partes a um locus de passividade a luz da teoria da relagao processual, assume ¢ admite 0 monopélio da interpretacao da vida pelo dominio das subjetivi- dades em prejuizo da liberdade de pensamento e do direito de autodeterminasao do individuo, Em pleno século XX1, na graca de possuir uma das Constituigdes mais festejadas em termos de igualdade pelos hermencutas juridicos do mundo, estranha a referida tese gozar de legitimidade com ampla atuagao na pritica forense. presente trabalho identifica que a ampla aceitagao nao é fruto nem da prova dos efeitos benéficos da justica social prometida, muito menos de processo democritico, mas do aprisiona- “Aavogad, 45 pe9p94 oypsung etary Sp wep 190050 mento das subjetividades em torno da ilusio da imparcialidade do juiz. geometricamente criada ¢ petrificada em um simbolo destinado a funcionar como o espelho que reflete a identidade, alcunhada de principio, a partir da qual todos os consumidores da justica devem pautar suas demandas. Ab initio o trabalho expord brevemente as principais revelagdes da doutrina dominante para pré-compreensio da problematica necesséria 4 situagao da questao e critica. O desenvolvimento se dé principalmente com base nas ideias lecionadas pelo professor Pierre Bourdieu acerca do poder simblico e dos espelhos sociais de Boaventura de Sousa Santos, passando pela filosofia . Acesso em: 30 out, 2014. BOURDIBU, Pierre. O Poder Simbdlico. Sao Paulo, Bertrand Brasil, 2004 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant, Acesso a Justiga, Porto Alegre, Fabris, 2002, ‘CHAUI, Marilena. Convite & Filosofia. 14* ed., Sao Paulo, Atica, 2012, DURKHEIM, Emile, As Regras do Método Socioligico. Colegio Os Pensadores, Rio de Janeiro, Editora Abril, 1972. HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Princfpios da Filosofia do Direito, Sao Paulo, Martins Fontes, 1997. HESPANA, Ant6nio Manoel. A cultura juridica europs Almedina, 2012, : sintese deum milénio. 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