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ial da Presidéncia da Republica Portuguesa Pagina | de 2 2a Pagina oficial da =~ Presidéncia da Republica Portuguesa Presidente da Republica devolveu ao Parlamento, para reapreciacéo, diploma relativo a normas sobre a adocao por casais do mesmo sexo (0 Presidente da Repiblica devolveu & Assemblela da Repablica, para reapreclaglo, o Decreto n.* 7/XIl da Assemblela, que altera norma relativas 8 adoca0 por casais do ‘mesmo sexo, Lela adiante o texto integral da Mensagem que, @ propésito, o Presidente da Repablica cenviou & Assemblela da Repibica: “Senor Presidente da Assembleia da Repiblica Exceléncta, “Tendo recebido, no dia 4 de janeiro de 2016, para ser promulgado como le, 0 Decreto n.°7/Xil| da Assembteia da Repiblica que «Elimina as discriminagdes no acesso a adoro, apadrinhamento civil e demais relagdes juriicas familiares, procedendo & segunda alteracio & Lei n.* 7/2001, de 11 de maio, & primeira alteracdo & Lein.° 9/2010, de 31 de maio, & vigésima terceiraalteracdo ao Cédigo do Registo Civil, aprovado pelo Decreto-Lein.° 131/95, de 6 de junho, e & primeira alteracio a0 Decreto-Lel n° 121/2010, de 27 de outubro» decid, nos termos do artigo 136° da ConstituicSo, no ‘promulgar aquele diploma, com os fundamentos seguintes: 1-0 Decreto em causa altera diversas normas que impediam a adocao por casats do mesma sexo. 2- Com efeito, tanto o regime da unido de facto - aprovado pela Lei n.* 7/2001, de 11 de maio - como o regime do Casamento de pessoas do mesma sexa - aprovaco pela Lei n.* 9/2010, de 31 de maio - exciuiam a possibilidade de adogao por casais do mesmo sexo. Sem prejutzo da contravérsia que a aprovagao desses diplomas gerou, esta opcao resultou da onderacio que fol feita pelo legisiador dos diversas interesses em presenca e, muito em especial, da imperiosa ecessidade de salvaguarda, em todas as circunstancias, do superior interesse dos menores. 3--Na verdade, é consensual que, em materia de adoglo, o superior interesse da crianga deve prevatecer sobre todos os ‘demais, designadamente o dos préprios adoptantes, 0 interesse da crianga éa linha-mestra condutora que deve guiar no ‘apenas as op¢des legislativas sobre adaco como a prépria Gecls2o dos pracessos administrativos a ela respeitantes, 4~N&o por acaso, a lei em vigor determina que seja observado um rigoroso processo de controto relativamente aos pedidos de adoro, assim procurando garantir a solidez e estabilidade dos novos lagos parentais em situacGes de grande fragilidade para as criangas, muitas vezes sujeitas a maus-tratos ou abandono em idades muito precoces. 5 - O pressupasto de que parte o Decreto em causa é o da existéncia de uma discriminacdo entre casals de sexo diferente €e casats do mesmo sexo no que respeita 3 adocio. Ora, como se viu, 0 Instituto da adocio deve reger-se pelo superior Interesse da crianca 6- Aeste respeito diga-se que o argument segundo o qual a soluco normativa agora aprovada resultaria de uma ‘Iimposigao constitucianal ou legal € desprovido de sentido, uma vez que o principio da igualdade nao impbe necessariamente a solucio agora consagrada. 7- Em sltuagae andloga, sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, 0 Tribunal Constituctonal, nos acérdos '359/2009 e 717/2010, afirmou o seguinte: “se estas consideracées s3o em geral pertinentes, mais 0 serdo ainda quando na ‘Comunidade juridica tenham curso perspectivas dferenciadas e pontos de vista dispares e no coincidentes sobre as decorrénclas ou implicacbes que dum princ/plo aberto» da Constituiggo devem retirar-se para determinado dominio au para a solucdo de determinado problema juridico. Nessa sitvacae sobretudo - em que haja de reconhecer-se e admitir-se ‘com legitimo, na comunidade juridca, um “pluralismo” mundividencial ou de concecdes - sem duvida cumpriré a0 legislador (a0 legislador democratico) optar e decir” '8- Tal significa, pois, que, de acordo com a jurisprudéncia do Tribunal Constitucional, a igualdade de tratamento entre casals de sexo diferente e do mesmo sexo é materia, essencialmente, do dominio da liberdade de conformagio do legislador, no podendo dai retirar-se uma qualquer imposicio constitucional. 9 Esta, ainda, por demonstrar em que medida as solugdes normativas agora aprovadas promover o bem-estar da crianca, se orientam em fungao do seu Interesse. Com efeito, um grupo de reputados juristas e professores de Direito que remeteu uma exposicdo sobre o Decreto em causa 3 Presidéncia da Repablica, sustenta que 0 regime foi aprovado “com base em fundamentos descentrados da tutela juridica destas criancas”. 410- Independentemente das soluges legislativas consagradas, as alteracées legats em matéria de adoro tém merecido da parte do legislador um amplo debate pilbico, procurando envolver a sociedade civil no seu todo e, bem assim, ‘auscultando a opinido de técnicos e especlalistas dos mais diversas quadrantes ideol6gicos ou mundividenciats. CCompreende-se que assim seja em éreas de grande sensibilidade social, éticae politica. 11 Assim, por exemplo, no decurso da anterior legislatura fot iniciado 0 procedimento legislativo relative & co adogao, 0 ‘qual envolveu perto de Vinte audicbes de assaciagéese especialistas, no tendo sido concluido o referida processo. O&idi=1004508&action=7 25-01-2016 http:/Avww.presidencia.pt/?id Pagina Oficial da Presidéncia da Republica Portuguesa Pagina 2 de 2 12 Esse amplo debate acorreu, recorde-se, a propésito da pessblidade de co adogéo, a qual, embora controversa, possut lum conteddo muito mats circunscrito do qué o da presente iniciativa legislativa, uma Vez que se limita aos casos de dogo pelo cdnjuge relativamente a Lagos paternas pré-existentes 13 - Ora, e contrariamente ao que sucedia no caso da co adoco, 0 Decreto em apre¢o introduz uma alteracio radical e ‘muito profunda no nosso ordenamento jurigico, permitindo a adocao plena e irestrita a casals do mesmo sexo, 0 que sempre havia sido excluido pela legislacao em vigor, mesmo naqueta que, sualinhe-se, aprovou a possibiidade de casamento entre pessoas do mesmo sexo. Assim, independentemente de um juizo de fundo sobre as solugbes lepslativas constantes do presente diploma, importa assegurar que uma alteracéo tao relevante numa matérla de grande sensibilidade social nfo entre em vigor sem ser recedida de um amplo e esciarecedor debate piiblico, que envolva miltiplas correntes sociais e especialistas em dlversos ‘dominios com vista & consagragio da solusdo normativa que, consensualmente, garanta que nos pracessos de adacla seja ‘acautelado prima facie o superior interesse dos menores. Por essa razio, deci devolver 8 Assemblela da Repibice, sem promulgacao, o Decreton.* 7/Xi. Com elevada consideracao, Palicio de Belém, 23 de janeiro de 2016 (0 Presidente da Replica Anibal Cavaco Silva” 25.01.2016 http://www presidencia.pt/Mide=108%e\ O&idi=100450&action=7 25-01-2016

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