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OS ESTUDOS DA COMUNICACAO NA AMERICA LATINA Situadasa meio caminho entre o "subdesenvotvimento acele- rado" ea" modernizagéo compulsiva", como jé bem destacou lestis Martin Barbero. as sociedades latino-americanas tém produzido geragoes de pes- ulsadores preocupados com problemas sociais e comprometidos com solugdes politicas jf que a heranga cultural fuso-espanhola, @ constante Instablidade poitico-econémica ea pobreza ni forjaram uma realidade ‘na qual a neutrafidade cientfica defendida pelos norte-americanos pues. se encontrar terreno fer Ahist6ria da pesquisa comunicacional na América Latina pode set dividida, para fins didaticos, em quatro periods.” © primeiro de . marcado por estudos histéricos e documentais, pelo inicio | Instituctonallzagdo da pesquisa clentfica na rea, pelo réipido.e desordenado | ‘rescimento urbano e industria pela dsseminagio dos meiosde comunt- cacao de massa entre ura populaco majoritariamente analfabeta, es. tende-se do final do século XIX até 0 ano de 1959, quando foi fundado.o Ciespal Centro Internacional de Estudos Superioresde Comunicagio para 2 América Latin Oseg( Jp, que vai de 1960 a meadios da décadta seguinte, tem como pglagjpais marcosa influéncia do Ciespal eo embate entre as teorias dlifusioq\ Jf — que tinham inspiracéo norte-americana e se baseavam na dlifusio de inovag6es do centro pagap periferia — e as que defendiam solugSes proprias para os problemal\)pis, com base no marxismo euro- peu, na agdo de grupos comunitérios e movimentos populares que viam nna comunicacéo um instrumento de democratizacio etransformacaoe, fem certos casos. em uma indisfarcada militincia politica 1_Bsta sistematizagdo fol felta com base na divisdo em trts perlodos roposta por HerscOvll (1995, 111138), os Mion Cae Daa Camm Rt Cas Mucus De Sn Otter periodo, que comeca em meadas de 1970 eval até o tna dos anen a eeecterorse pele enrmogio do bcs de tava métodos ayiscrones capazes de dar conta da especificidade e da diversi- taeda Jsinoamerca omens esenecnenas cn némicos ¢ politicos em diversos paises do continente e, jé em seus ultimos anos, pela autocritica e pela tentativa de deixar para tras o excesso de realsmo polico que caraceizoua pesguaealand nas dca de Tose 70 Wo quarto peiodo, por im. que na verdad sper Je tens da fase nterorgeiam corpodspesgulss de ecepyabean base nos estudos das mediagSes e da hibridizacéo cultural, intensifica-se 0 duestonamento ds paradigas que norterom pesca continent durante osccadss anteriores vstumbram seo est campos nova realidade trazida pela expansao vertiginasa do fluxo internacional de informagées, pela globalizacio econémica e pela consegtiente necessida- de de integragao dos paises latino-americanos. Os primeiros passos No final do século XIX e no inicio do XX. a pesquisa na érea da comunicagio fimitave-se. na América Latina, a doctimentagao ceo das principais atividades da imprensa, Foi somente a partir da déca Je 1930, com a criagao dos primeitos cursos de graduagao em Jornalismoe Propaganda, que a atividade comecou. lentamente. a ganhar algur im- pulsoe organizacéo. Em 1954, a publicagéo académica Journalism Quartely, dos Estados Unidos, jé apresentava uma coleténea de estudos latino-ame- ricanos na érea, inciuindo uma conferéncia do jornalista brasileiro Danton, Jobim sobre a influéncias francesa e norte-emericana nosmeios de comu- nicagao do continente (O querealmente deu impulso a pesquisa comunicaclogr¥fati no-americana, contudo, foi a dinémica das transformagoes historitd}ue, em meados do século XX, comecavam a redesenhar a organizagao—mas niio a estrutura ~ da sociedad de diversos paises da América Latina, A partirda Segunda Guerra Mundial, os principype-ypises do continente pas- saram por um acelerado processo de industridcao e urbanizacéo, que Tevou para as cidades grandes contingentes populacionais oriundos de ‘umazona rural pobre, sem tecnologia e completamente marginalizadia do sistema econémico mundial, Ao mesmo tempo em que a sociedade de consumo comegava a tomar forma em centros urbarios como Cidade do Teno Camec M dn Lam tu eran ctrl coraeago Ge me Mente pepe México, Séo Paulo, Rio de Janeiro, Buenos Aires, Santiago e Lima, intensifi- cavam-se as diferencas sociais. Noscentros urbanos,a populacdo pobre, majoritariamenteanal- Tabeta e até entio Isolada dos principals acontecimentos do mundo, pas- soua ter contato didrio com 0 rédio e, em sequida. com a televiso, que catalisouo foraecimgrye ‘uma inddstria cultural calcada em grande Parte no american wale. £ esse acesso aos meios de comunicacio eletrénicos sem um contato prévio com os meios impressos, em socieda- desaltamente excludentese sem tradigao democritica, que peta o fend tneno da comuncagio massive na Amea ane quedo boa medida, os rumos que a sua pesquisa seguiria ao fongo dos anos se- guintes, Accriagao do Ciespal Alnesco, agéncia da Organizacdo das Nagdes Unidas para a educagio ea cultura, destacou-se como uma grande fonte de estimulo aos debates sobre os melos de comunicagao na América Latina. Asua iniciat- vva mais notével, e que acabou por se consttuir em um marco para a Besquisa comunicacionalno continentefoiacriaglo em 959, do Clespl © Centro Internacional de Estudos Superiores de Comuni . = Con le iperiores de Comunicacéo para a Sediado em Quito, no Equador. o Ciespal tinha como qf jfoo propor um novo modelo e sugerir contetidos para ensino universitariona, rea através do treinamento dle professores ejornalistas da América Lati- ’na por especialistas europeus e norte-americanos. Com isso, dissemina- rams¢ inicialmente dois modelos de pesquisa no continente-estudos de morfologia e contetido da imprensaeestuddos sobre o comportamento do pblico consumicor dos meio de comunicagéo. (GOMES, 1995, p. 22) lowe inicio do segundo perottta pesquisa latino-americana, que vai de 1960 até meadiosila década seguinte. Uma das linhas de atuacao da enti- dace era o estim[{)} pesquisas sobre a aplicacéo, na América Latina, de modelos que haviam sido moldacios em realidades muito diferentes da ‘nossa e que por isso, néo enccontravam soleaaeppiclo no continente. Essa Postura funcionalista,acritica e contormi{\)pi combatida por meio da ‘emergéncia da pesquisa-fentincia de inspiracao frantfurtiana, que detec- ou expansio des empresas multinacionais eo avancoda ideotogiado 99 ~ consumoe apontou, como conseaiiéncia, aameaca a soberania cos paises latino-americanos. Em um primeira momento, porém, o alcance dessa os ns Caco Das Cc, are Cost Nha xD Sa reagdio fol bastante restrito ¢ as modelos inspirados pelo Ciespal continua ram predominando nas escolas de comunicacio do continente. ‘As transformagoes politicas ocorridas na década de 1960 em paises como Chile e Peru exerceram importante influéncia sobre alguns pesquisadores, que passaram a f@Fypr a pesquisa académica como um instrumento do processo ce muds social, sempre em colaboragaocom, ‘0s movimentos populares, e ndo uma atividade abstrata e sem compro- isso coma realidade. O belga Armand Mattelart, que na época vivia no Chile do socialista Salvador Allende, criticou duramente, por exemplo, a utilzagao do modelo norte-americano de comunicagio entrea populacéo rural, Na mesma linha, o educador brasileiro Paulo Freire, que seexilou no Chile depois do golpe militar de 1964 no Brasil, contestou 0 modelo da 2 x | dadiores do Centro de Cultura Cor de formas culturais dependentes do sistema industial, precede o resto do Continente também no que diz respeito a teorizacio dessas questoes. Segundo 0s autores, a introducéo dos estudos ingleses nos cur- sos das universidades de Oxford @ Cambridge se dé no periodo entre as dduas guerras munciais aravés de {Q }fssores de Literatura oriundos de ca- ‘madas mais pobres da populacio. Omprmeico dees ¢ Frank Raymond Leavis, aque na década de 30 é 0 organizador da revista Scrutny, que se opée 20 apitalismo industrial como sistema e 20 papel desempenhado pelos met 0s de comunicacio de massa no seu desenvolvimento na Gra-Bretanha. ‘A partir daf, com uma grande preocupacéo educativa, 0 pro- duzidos varios estudos relativos a cultura ltedria, sua andlise textual, seu sentido ¢ seus valores socioculturais. A obra de Richard Hogeart, The Uses of Literacy, de 1957, 6 um dos marcos dessa escola e descreve as mudancas que revolucionaram © modo de vida e as praticas culturais das classes trabalhadoragmyprabalho, a vida sexual, a familia, 0 lazer). Nela, Hoggart conclui que Udder de inluéncia dos meios de comunicacio de massa fe em especial dos folhetins impressos) junto aos trabalhadores ingleses & proporcional eficicia de outras insttuigées sociais como a escola, a igreja, 0 Estado e 2 comunidade de pertencimento do individuo, seja 0 bairro ou a familia, Em seguida, Raymond Williams, professor de uma instituigao de formagdo de professores, publica Cultura e sociedade, no qual critica a dissociacao freqdente entre um termo e out. Hoggart, Williams e Eduard P. Thompson s60, ta yntemparanea de Birmingh{\_) ultura cc 001, p. 52) Para Williams, a cultura é "um sistema de significacdes medi ante 0 qual necessariamente urpe-sada ordem social € comunicada, reproduzida, viven estudad WILLIAMS, apud PAULINO, 2001, . 52). Ja Thompson 10: 'a necessidade de se considerar a pluralidade da cultura, ow seja, as cultures, propondo que os estudos em torno dessa problematica considerem a profundidade e assumam as decorréncias de tomésla no plural, ressaltando os conflitos, os modos diferenciados de vida, ligados as diferentes culturas e as classes sociais." (PAULINO, 2001, p.53) Os estudos culturais, assim, enfatizam a complexidade das ques- roesJurais e apontam a necessidade de serem relacionados as estruturas TIAL] sociais exteriores ao sistema da midia ¢ as condicdes histricas especif ‘a, num processo dialético entre sistema cultural, conflita e contrale so- cial. Como “reconhecem a capacidade dos sujeitos sociais de manitestar diferentes prticas simbdlicas, situadas em um determinado contexto his- I Tom Coscia Lim ‘range cual conte de ma Ment rp ‘6rico.” (ESCOSTEGUY, 1999, p. 05), eles vao diretamente [ZJncontro dos estudos em comunicagao realizados na América Latina S¢pbrtir dos ‘anos 80, nos quais o objeto preferencial se concentra no espago do populor € das préticas da vida cotciana, em forte ligagdo com as relacoes de poder @ com conotagéo politica. Vale ressallar aqul que neste periodlo © conte niente latino-americano passava a ter novos contornos culturals, marcados pela entrada massiva dos meios de comunicacao de massa nos fares {espe Cialmente a televisio), pelos processos de migracao das populagbes do ‘campo para a cidade e por fortes mobilizacoes socaise poltticas Contra os fezes, miley presents em diversos pases. Dal decor, segundo Escosteguy (IA), uma tencéncia sécie-politca desses estudos culturais na passagem dos anos 70 para os 80, que ainda & presente em algumas das Pesquisas realizadas atualmente Ainda de acordo com a autora, diversos estudiosos latinowame- ricanos podem ser associados a essa tradicdo de estudos culturais no con. tinente, Dois deles, porém, merecem destaque e exercem, pop sua vex influéncia nas pesquisas brasileira realizadas sob esta perspectf® Néstor Garcfa Cancini, que nos traz a nogao de hibrismo cultural, © eS artis Barbero, que prioriza a andlise dos meios a partir das mediagoes Sto as obras desses dois autores em especial, mas de outros também, como 0 mexicano Guillermo Orozco, por exemplo, alguns europous como David Morley, Pierre Bourdieu, Michel Foucault e Michel de Certeau, que passaram a exercer forte ifluéncia nos estudos de recep- {0 desenvolvides no Brasil a partir da década de 90 por autores come Vassalo de Lopes, Denise Cogo, Pedro Gilberto Gomes, Roseli Figaro Paulino e Mauro Wilson de Sousa i fm suas pesquisas aparece o resultado cle uma ar equi libra ene a contibuicao dos extus clas eliadon WG cou Nente e as especiticidades das implicacées locals da relagao sociedad india e cultura, 0 que por sua vez representa o amadurecimento © @ ute, rnomia da pesquisa em comunicagdo no Brasil e na América Latina 105"

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