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ame TRIBUNAL DE JUSTICA =Su= PODER JUDICIARIO Sao Paulo Registro: 2013.0000063924 ACORDAO Vistos, relatados c discutidos estes autos do Apelagio n° 0012405- £66.2009.8.26.0224, da Comarca de Guarulhos, em que € apelante JOSE ROQUE SANTOS DA SILVA, € apelado MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE SAO. PAULO. ACORDAM, em 3* Camara de Diteito Criminal do Tribunal de Justiga de Sao Paulo, proferir a seguinte decistio: "Por maioria de votos, negaram provimento a0 recurso, vencido o E, Relator, Des. Femando Simao, que dava provimento ¢ declara voto. Relatoria com o E. Revisor, Des. Ruy Alberto Leme Cavalheito.", de conformidade com voto do Relator, que integra este acbrdsio. julgamento teve a participagaio dos Exmos. Desembargadores RUY ALBERTO LEME CAVALHEIRO, vencedor, FERNANDO SIMAO, vencido, RUY ALBERTO LEME CAVALHEIRO (Presidente) e AMADO DE FARIA. Sao Paulo, 29 de janeiro de 2013 RUY ALBERTO LEME CAVALHEIRO- RELATOR DESIGNADO, Assinatura Eletronica TRIBUNAL DE JUSTIGA =a PODER JUDICIARIO Sao Paulo voro Ww 17097 APELACKO| 0012405-66.2009.8.26.0224 COMARCA: GUARULHOS — 6° VARA CRIMINAL APELANTE: JOSE ROQUE SANTOS DA SILVA APELADO : - MINISTERIO PGBLICO DO ESTADO DE SAO PAULO APELACAO ~ VIOLACAO DE DIREITOS AUTORAIS - Provas dos autos que demonstram a autoriae materalidade elitiva ~ Laudo pericial que atesta a falsidade das midias apreendidas ~ Conduta que nai & socialmente aceta, artigo de lei mao revogado ~ Estado de necessidade © inexigibilidade de conduta diversa afastados ~ Incabivel desclassificagdo para o “caput do art. 184 do CP, em raztio do tucro auferido ~ Incabivel fisagdo da pena nos termos do art. 12 da lei 9.609/98 e consequente proposta de suspensto condicional do processo, por falta de modificagio legislativa, sendo invivel a fusio de leis - NEGADO PROVIMENTO AO APELO. N&o se conformando com a r. sentenga de fle. 53/55 dos autos, contra ela recorre JOSE ROQUE SANTOS DA SILVA0O, pedindo sua reforma. © apelante foi condenado por fato ecorrido em 14 de janeiro de 2009, como incurscs no artigo 184, §2°, do Cédigo Penal, a pena de 2 anos de reclusdo, em regime inicial aberto e ao pagamento de 10 dias-multa, substituida a pena privativa de liberdade por duas restritivas de direito consistentes em limitagéo de fim de semana e prestacéo de servicos 4 comunidade, ambas pelo mesmo pericdo de pena. Recurso tempestivo e processado, vos ROQUE apela requerendo a sua absolvicéo, tendo em vista que a confissdo perante a autoridade policial nao é Prova plena e que, em Juizo, o réu usou de seu direito de permanecer calado, o que no pode ser interpretado em seu desfavor, sendo o depoimento dat policial ineuficiente para embasar 0 decreto condenatério Aduz, ainda, a atipicidade da conduta, ‘Apelagdo n’ 0012405-66.2000 8.26,0224 - Guarulhos - varo x" RD 17097 TRIBUNAL DE JUSTIGA == PODER JUDICIARIO Sao Paulo tendo em vista que o laudo pericial nao analisou todo o material apreendido, listando apenas por amostragem, bem como néo hé nos autos mencdo de quem sejam os titulares dos direitos autorais supostamente violados pelas midias analisadas. Alega, também, que a conduta de vender cépias “piratas” ¢ socialmente aceita, devendo ser reconhecida a sua atipicidade. Sustenta, ainda, a ocorréncia de estado de necessidade e subsidiariamente, inexigibilidade de conduta diversa, tendo em vista que o apelante encontrava-se desempregado e passou a vender os produtos falsificados para se sustentar. Requereu a desclassificagdo para o “caput” do art. 184 do Cédigo Penal, vez que o réu visava © préprio sustento e ndo o lucro. Por fim, requereu que a fixacdo da pena, nos termos do art. 12 da Lei 9.609/98, vez que o bem juridicamente tutelado é o mesmo do art. 184 do Cédigo Penal, apenas com a particularidade de tratar exclusivamente de programas de computador, com pena minima de 1 ano de reclusao. Feito isso, requer a conversdo do julgamento em diligéncia para oferecimento de proposta de suspensao condicional do processo (fls. 64/82). Contrarrazdes de apelacéo (fs. a4/aa). Manifestando-se nos autos neste Grau a Procuradoria Geral de Justica se posicionou pelo nao provimento do apelo £ © RELATORIO. A materialidade delitiva esta comprovada pelo auto de exibicdo e apreensdo de fls. 5 (apreensao de 621 CD’s e 583 DVD's) e pelos laudos periciais de fls. 16 e 21, os quais indicaram que: “Os discos examinados e descritos, nao apresentam caracteristicas de originalidade, tais como: midia n&o gravavel, embalagem e impressos no padrao do fabricante, encartes com qualidade e nitidez e cédigo Apelaio n? 0012405-66.2009.8,26,0224 - Guarulhos - VOTON RO 17097 TRIBUNAL DE JUSTICA == PODER JUDICIARIO dio Paulo TEPr.” © laudo, portanto, é claro no sentido de que as midias apreendidas nao sao originais, mas sim, falsificadas. Perante a autoridade policial, José ROQUE disse que na época dos fatos, estava desempregado ha mais de um ano e que vendia os CD’s e DVD's para ajudar no sustento da familia. Acrescentou que comprava os CD's @ DVD's nas imediacces da Rua 25 de Narco, em Sdo Paulo, nado possuindo um vendedor definido, pois a cada vez que ja ate 14, comprava de uma pessoa diferente (fls. 8 ¢ 28/29). Ainda, na delegacia de policia, o policial civil Marcos Quaresma dos Santos disse que em diligéncias pelo local dos fatos, com a finalidade de combater a pirataria, deparou-se com um individuo desconhecido, identificado posteriormente, como JOSE ROQUE, comercializando CD's e DVD's pirateados. oO indiciado informou que comprava tal material na regiao da rua 25 de Marco e os revendia no bairro, visando lucro, por estar passando por problemas financeiros (€ls. 10) Em Juizo, JOSS ROQUE permaneceu em siléncio. A testemunha de acusacéo Marcos Quaresma dos Santos, policial civil, nado se xecordou da diligéncia efetuada, apenas xreconhecendo o réu como participante de alguma ocorréncia policial A testemunha de defesa Ronaldo disse que, na época, © réu possuia uma banquinha onde vendia CD's ¢ DVD's que pertenciam a uma pessoa de nome “Ceara”, nao sabendo informar se os produtos eram “piratas”. Bm certa data, a policia esteve no local e levou o réu (fls. 101). Em que pese JOSE ROQUE haver confessado a pratica do delito somente perante a autoridade policial @ a testemuha de acusacéo no haver se recordado, em juizo, da diligéncia efetuada, o certo é que a confissao do xréu foi corroborada pelos laudos periciais, dando conta da falta de autenticidade do material apreendido e pelo depoimento do investigador de policia, ainda na fase extrajudicial. Apelagdo n° 0012405-66.2000,8.26.0224 - Guarulhos - VOTO N* RD 17097 oa TRIBUNAL DE JUSTICA == PODER JUDICIARIO Sao Paulo © delito aqui se configura com o simples fato do agente expor 4 venda as midias ilegais Saliente-se que o réu, na fase policial, admitiu que comprava os CD’s e DVD's na regiao da Rua 25 de Margo, em Sa Paulo, local popularmente conhecido por vender muitos itens falsificados, sendo piblico © notério que vendedores ambulantes de diversos locais do estado vem comprar CD's e DVD's “piratas” nessa regiao. Além disso, conforme a pericia técnica, o material apreendido constituia produto de contrafacao e € © que basta para comprovacéo da violagéo de direito autoral e, caberia ao apelante, que os expunha a venda, demonstrar 0 contrario, ou seja, que o houvera adquirido de maneira licita e regular, o que néo ocorreu no caso dos autos. Assim tem sido o entendimento de nossos Tribunais. “G..) nao € possivel cogitar-se de atipicidade por falta de especificagéo do sujeito passivo, uma vez que para a caracterizagéo do delito, que é classificado como crime formal, basta a ocorréncia da violagao, que, como j& mencionado, se d& de variadas formas, independentemente de resultado naturalistico, ou seja, perda patrimonial. Ademais, como bem salientou a douta Procuradoria Geral de Justica, ‘exigir a identificaciéo e oitiva dos artistas, com todo o respeito, 6 inviabilizar de vez a luta contra a pirataria. Ndo é dificil imaginar como seria dificil trazer a Jufzo um famoso como Roberto Carlos ou mesmo o quase ignoto 'Lima', autor de 'Gatinha Manhosa’, cuja imagem aparece as fls. 32 do laudo'. Como bem lembrou a Promotora, trata-se de crime perseguivel mediante acdo penal publica incondicionada, dispensando a manifesta¢ao da vitima. Cabia ao réu demonstrar que possuia autorizagao para explorar as obras, e néo ao Ministério Piblico fazer prova negativa” (Extraido do v. acérdao do Eminente Des. Sérgio Coelho, quando do julgamento da Apelacao n° 990.09.147720-6, 9* Cam. Crim, TJSP). “Penal — Violagdo de Direito Autoral Fitas de video piratas — Adquirir, ter em depésito e alugar ~ Proprietaério de videolocadora — Dolo comprovado — Impreciséo de laudo pericial — Nao ocorréncia Mantida a condenag3o — Recurso conhecido e improvido — Apelagio n® 0012405-66,2009 8 6.0224 - Guarulhos - voTON® RD 17097 — TRIBUNAL DE JUSTICA =Se= PODER JUDICIARIO. _ von Sao Paulo Nao h4 que se falar em laudo pericial omisso quando o mesmo € minucioso e descreve que as caracteristicas em desacordo com a padronizagéo da unio Brasileira de Video sao as caracteristicas da caixa de suporte magnético, da impresséo grafica e dos selos. Nao aproveita o agente da alega¢do de desconhecimento da falsificagdo se atuava na condigao de proprietario de uma videolocadora, sendo, portanto, responsdvel pela aquisicéo dos produtos —comercializades pelo estabelecimento” (TIMG — 5* Cam. Criminal; ACr n° 1.0016.02.022091-5/001 — Alfenas-MG; Rel. Des. Pedro Vergara; j. 21/7/2009; m.v.). & piblico e notério a sociedade que tais Produtos embalados da maneira que estavam, como descrito no laudo, sao falsos, nao podendo o acusado eximir-se da responsabilidade, sob a alegacdo de que nao sabia da procedéncia, bem como que, diante das inimeras apreensdes ocorridas no estado, os famosos “rapas”, notadamente, nos grandes centros, ndo poderia JOSE ROQUE, que j4 trabalhava na rua hd certo tempo, dizer que ndo sabia desse risco. © fato de a pericia nao ter especificado os artistas, as gravadoras, ou seja, as vitimas da violagao do direito autoral nao desconfigura o delito, pois a apreensdo um Gnico CD ou DVD falsificado e que estivesse & venda, j4 tornaria a conduta tipica. Incabivel, também, o argumento de que a conduta de comprar e vender CD’s e DVD's falsificados é fato socialmente aceitdével, uma vez que a figura ¢ tipica e o artigo que prevé tal conduta como crime, em momento algum, foi revogado ou modificado Nessa esteira, nio hi que se falar, ainda, na aplicagio da Lei 9.609/98, diminuindo-se a pena aplicada, uma vez que na referida lei a protecio destina-se aos programas de computador e, mesmo que o bem juridico seja o mesmo, o delito nao é, entendendo o legislador que em se tratando de violacio de direito autoral em programas de computador, a penalidade deveria ser menor. A pretendida modificagao somente poderia ser efetuada na hipétese de alteracao legislativa, o que nao ocorreu, nao sendo permitida a fusio de dispositivos legais Apelago n? 0012405-66.2000,8.26.0224 - Guarulhos - VOTO N" RD 17097 TRIBUNAL DE JUSTICA == PODER JUDICIARIO Sao Paulo Quanto ao argumento de que o réu agia em estado de necessidade, tal nao se sustenta, bem como o pedido de reconhecimento de inexigibilidade de conduta diversa, uma vez que iniimeros brasileiros encontram-se desempregados e desenvolvem outros tipos de atividades, sem ter que praticar qualquer delito para manter o seu sustento. Por fim, no que se refere ao pedido de desclassificagéo para o “caput” do art. 184 do Cédigo Penal, posto que o réu nao teria intencdo de lucro, mas apenas de seu sustento, saliento que este o préprio JOSE ROQUE admitiu que comprava o material falsificado por um valor o revendia por valor superior, lucrando, portanto com tal venda. Nao importa dizer que o lucro tivesse destinacao nobre, como quer fazer crer a defesa, uma vez que o lucro mencionado no art. 184, $2° do Cédigo Penal nao distingue o seu destino. Desta forma, NEGO PROVIMENTO ao apelo. RUY ALBERTO LEME CAVALHEIRO Revisor Apelago n? 0012405.66.2009,8.26.0224 - Guarulhos - voroN* RD 17097

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