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Cee a eee) Bie Ue are et Primeira parte de trabalho técnico sobre a avaliagao do trincamento de cima para PEO nS uC OS ric cre Asfalto Poroso no Japao A experiéncia que comprova a eficiéncia da técnica do pavimento poroso. no Japao poroso < Por Luiz Henrique Teixeira populagao do Japao é de cerca de 128 milhdes A pessoas. O nimero de japoneses com 65 janos ou acima atingiu 24,3 milhdes, represen- tando 19% da populacdo, e a maior parte do territério Japonés € montanhoso, o que o torna inadequado para se viver em boas condicdes. Portanto, a populacdo s6 pode viver em uma 4rea limitada, o que leva as altas, densidades populacionais, sendo as maiores cidades Téquio, Yokohama, Kobe e Osaka. A parte ocidental do Japao tem um ciima frio, com inver 1s rigorosos e muita neve. Na parte oriental do Japlo, o cl- ma é subtropical, O volume de tréfego das rodovias no Japao é muito ele- vado e, portanto, a alta durabilidade das rodovias 6 um fator exigio pelo 6rgdo regulador. 0 Japao tem grandes variagdes de temperaturas do pavimento, com o gradiente de superft cie entre -30°C a +60°C. 0 petréleo bruto é importado a partir do Oriente Médio. No Japéo, tuffes e terremotos podem destruir grandes, teas e, na construgdo de edificios e infraestruturas, isso deve ser levado em conta nos projetos construtivos enas me- didas emergenciais para a recuperacao dos danos causados por tais eventos. Infraestrutura de transporte rodovidrio'no Japao ‘© modal rodoviario no Jape corresponde a 20%, ea ma- tha rodoviéria total é de cerca de 1,2 milhao km. A extensao das estradas nacionais administradas pelo Ministério de Ter- 12, Infraestrutura e Transporte 6 de 21.900 km. (Jano tem uma rede de autoestradas total de 6.900 km pavimentadas com ligantes asféltioos, e apenas 500 km so pavimento de conoreto. As grandes éreas metropolitanas do Japao ao redor de Téquio, Osaka e Nagoya sao servidas por sistemas de transporte piblco altamente eficientes. Conse. 12 quentemente, muitos moradores no possuem carro nem mesmo carteira de habilitacao. Mas, fora dos grandes centros, as pessoas necessitam de carros para se locomoverem. Amaioria das rodovias no Japao sao toll free (sem peda- gio] com excecdo de vias expresses. As condigdes das rodovias séo boas, embora alguns acessos laterais nas cidades possam ser bastante estreitos, @ 0S congestionamentos de trénsito sao um problema fre- quente em tomo de centros urbanos, mas nada se compara com 0 que temos no Brasil. Desempenho das estradas no Japao Devido @ uma populagao cada vez mais idosa, 0 lapéo dota o ruido gerado pelo contato pneu/pavimento nas rodo- vias e vias municipais como sendo um padréo de qualidade ambiental. O padrdo de qualidade ambiental referindo-se & poluicdo sonora durante o dia é de 70 dBe a noite, de 6508, medidas aximas tolerdveis sem necessidade de intervengdes.. Em 2003, 0 Ministério da Terra, Infraestrutura e Trans- Porte conclui que o nivel de poluigdo sonora das rodovias arteriais no havia alcancado os padres de qualidade no quesito ruido e passou @ buscar solugdes em pavimentos que pudessem melhorar esses indicadores. Desde entao,, varios estudos foram realizados até encontrarem solugSes ‘que atendessem a varias condigées, envolvendo seguranga e conforto nas rodovias e nas vias de grandes centros. So elas: aumentar a seguranga do tréfego, melhorando a resis- téncia & derrapagem; ampliar 0 conforto para motoristas € pedestres nas cidades em periodo chuvoso, retirando a agua dda superficie do pavimento; reduzrorisoo de inundagdes em periodos com chuvas fortes, direcionando as aguas para os [Sl sistemas de drenagemn; melnorar 0 microoima nas grandes cidades durante 0 periodo noturno, retendo a égua da chuva ‘com uma evaporagéo mas lenta da via, com isso reduzindo a temperatura e o volume de tréfego. No Japa, 0 6rgo que estuda, especifica e normatiza 0 ‘segmento rodoviério é 0 Instituto de Pesquisa de Obras Pa- blicas (PWREPublic Works Research Institute), que é uma instituigdo de pesquisa com 80 anos de idade baseada na Cidade de Tsukuba. 0 Instituto tem cerca de 200 funcionérios, ue realizam pesquisa e desenvolvimento em tecnologias de engenharia civil e infraestrutura rodoviéria, tendo muitas ins- talagées de testes de grande escela, incluindo grandes pistas Para, por exemplo, testes acelerados de pavimentos. PWR tem ligagdes estreitas com organizagdes nacionais e interna- cionais, que constroem e gerenciam obras de infraestrutura fe muitas vezes cooperaram com a academia, Tem também varias instalagdes para testar pavimentos rodoviérios, entre elas, um teste em grande escala, um tinel para testes de ne- voeiro € chuva e uma pista circular automatizada para contro- le de caminhdes de trés ebxos pesados com uma carga de 16 toneladas por evo. Os primeiros testes com pavimentos porosos na area de Téquio foram realizados em 1987. 0 desempenho foi um de- sastre, durou apenas um ano. Isso levou ao desenvolvimento dos ligantes de alta viscosidade para fazer frente aos danos ‘causaclos ao pavimento poroso com ligante convencional Durabilidade dos pavimentos asfélticos no Japa Adurabilidade estrutural dos pavimentos porosos no Jap0 égeralmente a mesma que a de misturas asfélticas densas, Nas regiées quentes, a durabilidade estrutural dos avimentos porosos € de dez anos ou mais, ¢ nas regides frias, entre sete e dez anos. Os danos estruturais no pavi- mento poroso € um problema grave em regiées frias. A re- ‘mogao da neve provoca grandes danos, e a ruptura ocorre depois de alguns anos. Para diminuir esse impacto, opta- ram pela utilizagao de asfaltos altamente modificados com polimeros SBS na ordem de 8% e com alta viscosidade para © desenvolvimento de um pavimento ‘hibrido’ com duas ca- madas executadas simultaneamente, sendo que a primei- ra, dependendo do volume de tréfego, pode ser um SMA ou uma combinagao de uma estrutura densa e uma textura de superficie aberta. Tal mistura é produzida a uma tempera- tura em torno de 180°C e aplicada a 160°C com Som de ce pessura total. Os pavimentos porosos foram padronizados @ ‘sd0 amplamente usados no Japao, tanto em autoestradas como em 4reas urbanas, totalizando uma area de 50 mi- Indes de metros quadrados. Pavimentos porosos s40 usados também em Areas Uurbanas, até mesmo nas intersecgdes e nos pontos de Onibus. Em algumas intersegdes, um tratamento espe-_ | cial com base epoxi de superficie € aplicado 8 mao, a fim de melhorar a durabilidade (Figura 1) Autiizagdo de ligantes asfésiticos altamente modificados No Jano € considerada uma pratica padrao e de bao custo para obter pavimentos drenantes, silenciosos e duréveis. 0 conforto acistico € uma preocupacdo dos japoneses. Estudos apontam que a técnica reduz os ruidos de 24B até 5dB para caminhdes e de 4dB até 748 para automéveis, ‘num pavimento de referéncia no qual o diametro maximo do agregado de 13mm, Os estudos demonstram também que, aapés quatro anos de uso desse pavimento, essa redugdo so- nora desaparece em fungdo do preenchimento dos vazios or material particulado originado pelo téfego. Para resolver esse problema, as vias so pulverizadas, uase que semanalmente, com gua em alta pressio e com equipamentos que se movimentam a 20km/h. Esse proces- ‘80 6 0 mais econdmico e aumenta a vida titi do pavimento. Ocoeficiente de atrto dos pavimentos porosos é medido or um veiculo especial, numa pista de ensaio com a mesma uantidade de agua pulverizada sobre diferentes tipos de pa vimento @ exposto ao congetamento. Em pavimentos permeéveis, a gua escoa principaimen- ‘te para baixo da estrutura do pavimento até atingir o sistema de drenagem. Em misturas densas, a agua corre sobre a su- Perficie do pavimento. 1 As experiéncias japonesas demonstraram que 0 coet- ciente de atrto para pavimentos porosos, medido pelo veicu- lo. e com 17 € 20% de vazios, € cerca de 0,86 a 0,90, para misturas densas convencionais, fica em tomo de 0,18. 0 pavimento poroso é geralmente executado em duas camadas simultaneamente, mas, em obras de restauracdo, apenas a camada de rolamento, em tomo de 2am, é remo- vida e executada novamente em camada Unica. A camada removida e executada anteriormente com ligante altamente modificado gera um material ainda tao nobre que, dependen- do do projeto, 6 100% reciclado em usinas de asfalto gravi- métricas e aplicado em vias ieterais. Duas empresas europeias, Wirtgen ¢ BAM, desen- volveram vibro-acabadoras que aplicam simultanea- mente duas camadas, Paver Double Layer (DL Paver), sendo uma mistura densa, que serve como base, € @ mistura porosa, que fica como a camada de rolamen- to com indice de vazios de 17% a 23% e os diémetros maximos dos agregados de 5mm até 13mm (Figura 2). Duas camadas de pavimentos porosos so construt da: uma camada de 20mm de espessura sendo de 5mm a 10mm o tamanho méximo do agregado da camada su- perior e 30mm de espessura na camada inferior, sendo de 13 milimetros o tamanho maximo do agregado. A largura de aplicagdo pode variar de 2,5m até 4,75m, numa veloci- dade de 4.a 5 m/min (Figura 3). A integracdo da parte superior € @ camada inferior em uma Unica aplicagao melhora a durabilidade do pavimento e reduz 0 tempo de execugdo € os custos; por isso, também ‘corre uma tinica interrupgo do fluxo de tréfego. No Japo,, ‘s contratos para obres rodoviarias seguem severas especif cages de desempenho desde 1998, Entre os dados avaliados, 0 ruido emitido pelo contato pneu/pavimento 6 um dos indicadores de desempenho. © ruido pneu/pavimento medio por um veiculo espe- cial japonés chamado “Verificador Actistico de Pavimertos”, que é padronizado no Japo. O veicuilo tem um pneu de me diggo com um padrdo especial de piso que diferencia pavi- mentos e suas graduagdes relacionando 0 nivel de ruido. A execudio de uma camade de pavimento poroso em Téquio, tem espessura de Sem, e uma dimensao maxima de agre- gado de 13mm, com volume de vazios de 20%, A redugéio de ruido inicial obtido foi de 6,1 dB. Até agora, 400km de ppavimentos porosos foram construidos em Téquio (Figura 4), ee Em Téquio, 0 ruido do contato pneu/pavimento 6 me- dido com uma van equipada com um pneu especial mon- tado sobre uma estrutura para tras do eixo traseiro, e um icrofone é colocado ao lado do pneu. Com essa medicao, Identifica-se que 0 pavimento denso com 20mm de diéme- tro maximo do agregado gera um nivel de ruido da ordem de 100 dB; 0 asfalto poroso imediatamente apés sua exe- cucdo gera ruido na ordem de 87 dB a 89 dB. Durabilidade do pavimento poroso A durabilidade dos pavimentos porosos é testada través de ensaios Cantabro e Wheel Tracking Test (Figu- ra 5). A permeabilidade 6 testada em laboratério sobre amostras Marshall e, no local, sobre o pavimento recém executado, é feita a medieao do tempo que a Agua preci- ‘sa para escorrer para fora de um tubo padronizado até o sistema de drenagem. Se 0 parametro ndo for atendido, a executora é punida financeiramente e em alguns casos mais extremos o servigo deve ser refeito (Figura 6). & Objetivos alcancados pelo asfalto poroso no Japao Os efeitos sobre a seguranga do tréfego com a utilizagao de pavimentos permedveis tém sido mui- to estudados pelos japoneses. Pavimentos porosos tém efeitos positivos sobre a seguranca do tréfego e 0 conforto em se dirigir sobre essa estrutura. Uma parte da malha rodovidria japonesa que tem mistura asfaltica densa foi monitorada num perfodo chuvoso, e foram registrados 2981 acidentes num ano. ‘Apés a remogao da camada densa e aplicagao do as- falto poroso, 0 ntimero de acidentes para as mesmas condigées caiu para 488 registros por ano, reduzindo dessa forma em 85% as ocorréncias. Em outre pesquisa, estudou-se o nimero de aciden- tes de transito em uma rodovia de alto tréfego um ano antes € um ano apés @ construgao de um pavimento Poroso. Antes da construgao, o nivel anual de acidentes de trénsito foi de 248, sendo reduzido para 206 com Pavimentos porosos. Nao houve alteracdo na taxa de acidentes sob condigdes de pavimento seco, ‘A mudanga ocorreu em condigdes de pavimento molhado, quando o niimero de acidentes foi reduzido de 76 para 36, sendo 0 indice de redugaio maior com automéveis do que com caminhées. ‘Com esses indices, os japoneses comprovam a eficiéncia da técnica do pavimento poroso, cabendo a industria quimica de ligantes asféiticos e polimeros buscar o aumento do de- ‘sempenho dos seus produtos. Cabe também aos 6rg0s ro- dovidrios e projetistas brasileiros criar estruturas adequadas 8 técnica, principalmente buscar altemativas em sistemas Inovadores de drenagem dos pavimentos. Esse conjunto de ‘ages poderd tornar os pavimentos no Brasil mais duréveis, mais confortéveis e muito mais seguros. Luiz Henrique Teixeira Engenheiro civil da CBB Asfaltos

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