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CRIMINOLOGIA CULTURAL: CONTRIBUICOES, PARA O ESTUDO DO CRIME E CONTROLI DA CRIMINALIDADE NO BRASIL (CULTURAL CRIMINOLOGY: CONTRIBUTIONS TO THE STUDY OF CRIME AND CRIME CONTROL IN BRAZIL A ape Oxuey pa Rocha’ grfica sobre as pro- inalidade, ‘de modo a SUMARIO: Introdusio; 1 Criminologia cultea cia 2 Algumas proposigdes em criminologia cultural; Conclusio. Jntegra os resultados do desenvalvimento cle pesquisa em criminalogia| rente de Pos-Doatorado em Criminolog! INTRODUCAO Inicialmente, pode-se dizer da criminologia cultural que se trata de co- locar o crime em seu contexto cultural, o que implica ver tanto o crime como as organizacées de controle como produtos culturais, os quais devem ser li- dos a partir dos significados que carregam. Além disso, a criminologia cul- tural procura aclarar a dindmica entre dois elementos-chave nessa relacao: a ascensio ¢ o declinio desses produtos culturais. O que se busca 6 focar a con- tinua geracao de significados que surgem: regras sio criadas ou quebradas, em uma constante interacio entre iniciativas moralizantes, inovagao moral ¢ transgressao. Em razao da complexidace dese foco, a criminologia cultural Gessencialmente interdisciplinar e se utiliza de uma grande variedade de fer- ramentas de andlise, que se inicia com uma interface direta, no apenas coma criminologia, a sociologia e o diteito penal, mas com perspectivas e metodo- logias advindas dos estudos culturais, midiaticos e urbanos, filosofia, teoria critica pos-moderna, geografia humana e cultural, antropologia, estudos dos movimentos sociais e abordagens de pesquisa ati Entretanto, no sentido destacado por Hayward, é bastante grande o complexo de inter-relagies ¢ homologias que ligam crime e cultura, as tem sido, ao longo dos anos, uma grande fonte de inspiracdo para os crimi- nologistas. Entretanto, apesar de esse complexo haver possibilitado a exis- téncia de alguns dos trabalhos fundamentais da criminologia’, a trajetéria do chamado “foco cultural”, nessa a, tem pasado por fases alternadas de interesse e de esmorecimento, por parte de seus estudiosos. O que resulta dessa cindmica ¢ que, hoje, aproximar-se desse conhecimento significa tomar ciéncia de uma disciplina na qual se cruzam e competem muitos paradigmas tedricos € ideolbgicos. Isso se toma ainda mais perceptivel no que concer- ne a relagao entre crime e cultura. Ha pouco mais de uma década, porém, iniciou-se uma retomada da tradicao cultural, com o surgimento de um flu. Xo mais consistente de trabalhos, que gravitam em torno de um movimento intelectual conhecido como criminologia cultural’, no qual se destacam os trabalhos cle Ferrell ¢ Sanders (1995), Ferrell (1999), Banks (2000), Presdee 1 HAYWARD, Keithy YOU Handtook of Press, 2007. p. 102, 2 -se como exemplo, nesse senticlo, a obra socioldgica classica de Frmile Durkheim. (ota de tradugao) 46 Nas palavras Hayward e Young', “a responsabilidade da criminolo- manter ‘girando o caleidoscépio’ sobre as maneiras pelas quais| pensamos sobre o crime, e mais importante, sobre as respostas juriciicas ¢ sociais a quebra de regras”. Deve-se destacar ainda que, apesar dos avancos jd procluzidos no desenvolvimento do pensamento criminol6gico (ou “ima winacdo criminol6gica’), a criminologia cultural esta trabalhando para esta- belecer mais firmemente suas trajet6rias e métodos, Contraditoriamente, essa busca pode ser seu ponto fraco, mas também pode ser seu ponto mais forte, ciado que esta procura ser menos um paradigma definitivo, e mais uma ma- triz de perspectivas sobre o crime e o controle da criminalidade’, o que evita a centralizacao e a limitacdo das propostas conhecidas. 1 CRIMINOLOGIA CULTURAL: REFERENCIAS INICIAIS Em seus primeiros desenvolvimentos, nos Estados Unidos, a crimino- logia cultural se apresentava mais como uma referéncia operacional de pes- «quis ligada aos studios de imagem, significados einteragbes entre crime e controle, especialmente voltada para as estruturas sociais emuladas e as di- namicas de experiéncia relacionadas as subculturas ilieitas, a criminalizagao simbolica das formas culturais populares, a construgae mediada do crime ¢ dos temas ligados ao seu controle, além das emogdes incorporadas a coletivi- dade, as quais moldam o significado do crime, A criminologia cultural, entre- tanto, ganhou forca no Reino Unido, onde se procurou introduzir uma estru- tura mais consistente em sua base tedrica’. © nome “criminologia cultural”, em acordo com O'Brien e Yar", pode ser visto como uma designacao para um 4 HAYWARD, Keith; YOUNG, Jock. Op. cit, p. 103, 5 FERRELL, J. Crimes of Style: Urban Graffiti and the Polities of Criminality. Boston, MA: Northern ity Press, 1996. p. 396. 6 O'BRIEN, M. "What's Cultural about Ci 45(6): 599-612, 2005, p, 608. cecritico para o estuco da criminologga em todo 8 O'BRIEN, M YAR, M. Ci the Key Concepts, London: Routledge, 2008. a | Aantt/duane 8018 de entre ura”, tomados em seu Sobre as zelagdes entre crime e cultura, Ferrell’ estabelece alguns para- metros, afirmando que, nas sociedades contemporaneas, a intersecgao entre atos criminosos e dinémica cultural est inserida na vida daria; e que muitas das formas do crime emergem de subculturas, moldadas por convengdes s0- ciais dle significado, simbolismo e estilo. Essas subculturas, entao, devolvem intensamente ao grupo social experiéncias coletivas e emogdes que definem, as identidades de seus membros e reforcam o slatus social marginalizado destes. O autor destaca que, ao mesmo tempo, aqueles que se encarregam de empreendimentos culturais, como miisica popular, fotografia artistica, fil- mes ¢ programas de televisdo, com frequéncia sao acusados de promover comportamento infracional ou mesmo criminoso; e comumente enfrentam, dentincias ¢ inquéritos policiais, além de processos, em nome da moralidade coletiva. Hoje todos esses fendmenos, desde identidades criminosas, contro- vérsias populares, campanhas para o controle de crimes, experiéneias de vi- ‘Go cada vez mais oferecidos e exibidos para 0 consumo pitblico. Além disso, segundo 0 autor, todos esses fendmenos ganham forma dentro de um grande universo de mediacdo, no qual subculturas. priam das imagens populares, e criam suas préprias formas de comunicagio mediaday lideres politicos iniciam campanhas publ Panico sobre o crime e os criminosos, ¢ os cidadaos tem consumido o crime diariamente, como noticias e entretenimento. Em razao diss que os criminologistas, hoje, entendem que uma consciéncia critica da dina- mica cultural das sociedades modernas é necessaria se quisermos entender até mesmo algumas das dimensées mais fundamentais dos fendmenos do crime e do controle da criminalidade™ A criminologia cultural foi inicialmente desenvolvida por Jeff Ferrell ¢ ‘Clinton Sanders", Essa abordagem pode ser, entretanto, rastreada no passa- do, até escolas sociol6gicas e criminolégicas bem anteriores, O proprio Ferrell ime and culture, In: HALE, Chtis et 5 2007. p. 138, © FERRELL, J. Optamos por nao ocupar o reduzido espaco de um artigo para © las em torno das defn) nlgoes es de crime e cultura, o que implicaria longas incurstes 11 FERRELL, J; SANDERS, C. R. (Ba). Cu Press, 1995, Boston MA: Northeastern “8 Aunacidunne #018 | da sociologia, em especial os trabalhos de le Durkheim, Talcott Parsons e Robert Merton. Ao mesmo yward e Young” avancam no que se refere a antropologia soci sociologia urbana de Jonathan Raban e Michel de Certeau. Esses desenvol- imentos, € em especial as referencias aos precursores intelectuais, conven 1m Ferrell a sugerir que a criminologia cultural “é menos um paradigma initivo do que uma matriz.emergente de perspectivas”, preocupadas com presentacoes, imagens e significados do crime. E importante notar que muitos criminologistas atuais pesquiisam as laces entre dimensdes de cultura e crime, mas sem se consiclerar crimino- istas culturais, Esse dado nao facilita a tarefa de produz: » criminologia cultural, Entretanto, pode-se citar Rafter”, que tem pesqui- sado o crime apresentado nos filmes de Hollywood e também McLaughlin’, que esbocou as construgdes populares do tipico policial inglés, 0 “bob! ha Inglaterra do pos-guerra; enquanto Winlow e Hall” investigaram cui dlosamente a cultura da violencia na chamada “economia noturna”. Todos ses trabalhos e autores levam muito a sério a nogio de cultura na pesquisa crime e do controle da criminalidade, embora nenhum deles se intitule bertamente como criminologistas culturais. Além disso, algumas aborda- yyens criminol6gicas, que se afirma langarem luz sobre o crime e o controle da y. New York: Harper & Row, 1973 the Crisis: Mugging, the State, and Law, and Order, London: of Crime, London: Routlealge, 208 some notes on the script, Theoretical HAYWARD, K. J. (Fd). Cu Criminology, 8 (3), 2008 and Society. Oxford: Oxfort University Reel to Ideal: the Blue Lamp and the Popular Cultural Construction me, Media, Culture 1(1):11-30, 2005. HALL, 8, Violent Night: Urban Leisure and Contemporary Culture. Oxford 0 O que se busca destacar, até aqui, é que as caracteristicas de preocupa- ‘do ou compromisso com a anilise das relac6es entre crime e cultura nao sho suficientes para uma definicao satisfatéria de criminologia cultural, visto que seu objetivo, na realidade, nao se insere em nenhuma tradicao, e se define, no mais das vezes, mais pelo que combate do que por aquilo que apoia. Os seus adeptos rejeitam, particularmente, a criminologia administrativa, a preven- cao situacional do crime ea teoria da escotha racional. Destaca-se Presdec”, que acusa a criminologia administrativa de ser apenas uma “fabrica de da- dos’, que nada mais faz do que produzir estatfsticas que sao “demandadas ¢ devoradas” por seus chefes politicos. Hayward e Young” afirmam que tal criminologia desenvolve “teorias doentias ¢ andlises retrogradas, geralmente seguidas de resultados inconclusivos”. Deve-se destacar que muito dessas hostilidades e criticas sobre escolas e teorias conhecidas indica que a crimi- nologia cultural parece se posicionar mais como uma abordagem politica do que analitica ao entendimento do crime e do controle da criminalidade. Basta citar Ferrell et al”, que afirmam que o ataque da criminologia cultural contra a “chatice”®' da criminologia “empirico-abstrata” deriva mais da “politica de seus métodos e teorias” do que de seu objeto em si mesmo. Para fins de localizacao temporal, mas também como um bom exem- plo da proposta da criminologia cultural, destaca-se a obra Crimes of Style, de Jeff Ferrel, na qual o autor relata sua experiéncia entre os grafiteiros de Denver, Colorado (USA), movimento no qual o pesquisador se inseriu, espe- cialmente entre o grupo de grafiteitos conhecidos como “Syndicate”. A obra aponta algumas das fontes culturais do estilo hip-hop de grafite, as conexdes e distingdes entre grafite e a arte “oficial” e a de vanguarda, Descreve as rea- Bes das autoridades e da midia locais ao grafite, e conclui com uma anslise ‘Sociological Ri 21 PRESDEF, M. Op. cit, p.276. 22, HAYWARD, K. J. & YOUNG, Jock In FERRELL, J. etal. Cul London, Glasshouse Press, 2008. p. 262. 2 py 25 Em portuguo’s, “Crimes de Estilo", em versa em lingua portuguesa (NT), 26 FERRELL, J. Crimes of Style. ‘COU TRREA FARIS ‘Annu /dunne 2008 \4o S20 apresentados como vandalos, antissociais onvenientes, e sim como individuos de estilo criativo, os quais aceitam arriscar a softer sangOes legais a fim de expressar sua individualidade ar- ca, Ferrell afirma que o sentido do grafite é menos depredar a paisagem ‘bana ou marcar territ6rio, com seus simbolos coloricios, © muito mais uma 1sca subcultural pela “adrenalina da criacao ilfcita”, um desafio e uma cele- ago da imensa ilegalidade do ato de escrever, no sentido da transgressivi- we presente nessa acdo. Essa diltima referéneia destaca uma das principais racterfsticas da criminologia cultural: um forte interesse pelo primeiro pla- 9, ou pelo momento “experiencial” do crime; nesse sentido, a criminologia tural se preocupa com o “sentido localizado da atividade criminosa”™ ou 1m os quadros interpretativos, l6gicas, imagens e senticos através dos quais nos quais o crime apreenclido e realizado™. O interesse no “sentido locali clo” e nos “quadros interpretativos” pode ser referido a obra de Jack Katz, sductions of Ci in Doing Evil®. Nessa obra, © autor estabelece uma distincao entre o que chama de “emocées morais” jumilhagao, arrogancia, desejo de vinganea, indignacao, etc.), espreitando » primeiro plano do crime, e “condigies materiais” (especialmente genero, nicidade e classe social) como antecedentes do crime. O argumento cen al de Katz 6 0 de que uma criminologia que procura entender os crimes normais” ~ agressio, assalto, coacao, rufianismo, e assim por diante ~, deve estar especial atencao as recompensas morais ¢ emocionais que essas aces, yecem para aqueles que as cometem. Com frequéncia, esses crimes nao (0 simplesmente explicaveis a partir de eventuais recompensas materiais, estacando-se especialmente a violencia doméstica, incluindo homicidio. Ao mntrario, tais crimes surgem no contexto de profundas necessidades emocio- e sensoriais; e ¢ somente pela apreensao dessas profundas sensacbes que variagées nos fatores antecedentes podem ser explicadas: por exemplo, por 1e 08 homens cometem mais crimes do que as mulheres; por que algumas FENWICK, M. New Directions in Cultural Criminology, Theorctica! Criminology 8 (3): 377-86, 2004. p. 385. 18 KANE, S.C. ional Methods of Cultural Criminology’ Theoretical Criminclogy, 8 (3) 303-21, 2004, p. 303 1 do crime: atrativos morais e sensoriais na pratica do mal”, sem Birnie Hacrona pessoas. a pobreza se voltam para o ‘do; € por que existem variacoes na participagdo étnica em diferentes tipos de crimes. Para Ferrell, esse foco no primeiro plano das sensacdes ligaclas ao crime leva a ateneao da criminologia para longe das colunas de estatisticas, que mostram propositalmente a extensdo do “problema do crime”, ¢ a leva (a criminologia) para as “imediatas ¢ incandescentes integracdes entre risco, Perigo ¢ habilidade que moldam a participagao nas subcuituras desviantes ¢ criminosas”™, Finalmente, o autor escreve que 0 foco no primeiro plano do crime serve para “resgatar 0 empreendimento criminolégico de uma ctimi- nologia aprisionada no edificio da racionalizagao cientifica © da objetivagio metodologica”™. Um outro importante avango para a criminologia cultural, que deve ser ‘ado, foi o produzido por Stephen Lyng”, o qual juntou 0 conceito de agao- -limite® ao interesse pelo primeiro plano do crime. Esse conceito é utilizado para descrever © comportamento de risco voluntario. Embora nao tenha sido desenvolvide, pelo menos inicialmente, para os interesses da criminologia cultural, esse conceito tem sido aceito para significar a ligacao entre compor= tamentos criminais e desviantes na aceitacao voluntaria de riscos em esferas. de atividade mais convencionais como, no caso do autor, o paraquedismo, A acdo-limite esta referida a experiéncia subjetiva que decorre da pratica de atividades que contenham riscos pessoais inerentes: essa seria uma forma de “acto proposital, baseada no emocional e no visceral”, e na “excitacso imediata’, que provém da acao arriscada, em si mesma”, Embora aparente- mente restrita a experiéncia subjetiva e ao significado da aceitacao de tiscos, Lyng ¢ seus colegas argumentam que tais significados estao sempre relacio. nados a um contexto subcultural: os participantes aprendem o significado do seu comportamento pela interago com outros, engajados nas mesmas atividades. Além disso, eles desenvolvem distintas estruturas linguisticas e simbolicas: codigos especificos, imagens e estilos, pelos quais comunicam e entendem suas experiéncias. Desse modo, o sentido de correr riscos esta inva- 30 isk Taking and Research Process, In: FERREL, J: (Ed. Ethnography at the Edge: Crime, Deviance and Field Research, Boston, eastern University Press, 1998, Meat e valores do grupo o qual, por sua vez, ambos jual aqueles que si 10 qual, : ve taeiam para desafiar a cultura mais ampla, na qual eles estio situados. Por esse ponto de vista, destaca-se que uma das mais importantes preo- cupacdes da criminologia cultural ¢ estabelecer em que medida o comporta- mento desviante ou criminoso desafia subverte ou resiste aos valores, simbo- s € codigos da cultura dominante, Nesse sentido, a preocupacao em inves- tigar as subculturas desviantes, nos termos precisos de desafios eae que clas oferecem, é a principal linha ch série entze a chankel alae! as que levam a cultura a sério, mas ndo repres © aquelas criminologias que levam a ae as 0 facam de maneiza consciente ou direta, Embora Ferrell, em especial, nha se dedicado @ detalhada exploragio dos grupos outsiders™, incluindo afiteiros, anarquistas urbanos, e grupos distintos de catadores de lixo, al- suns criminologistasculturas estdo mais preocupados em expor 0 contexto «alturale social no qual esses grupos de outsiders agem, Nesse sentido, é ele- inte a obra de Jock Young, cujo interesse em criminologia cultural é descre- er como “as intensas emogées associadas & maioria dos crimes urbanos esta Jacionada a problemas significativos e draméticos da grande sociedade””, que 0 autor descreve como se constituindo de inseguranca, pessoal e econd- ica, em uma combinagao de inclusao cultural ¢ exclusio social, e perda das lentidades conhecidas (baseadas em classes sociais), por meio das quais se ode compreender coletivamente 0 mundo social. Embora esses problemas Jo possam ser tomados em si mesmos como causas diretas do crime, eles rnecem as condigdes de possibilidade, nas quais o crime e a transgressio desenvolvem. Em uma cultura que promete prazeres imensos e liberdade ara todos, pelos meios de comunioao ce massa, a realidade da margina- agdo economics e da exclusdo socal conduzem a sensagbes goneralizadas + humilhacao, Em contrapartida, segundo o autor, é a experiéneia de hu- ilkacao que fundamenta uma parte significativa do crime, na contempo- ‘Kem, p.179. ssa palavra ing VW YOUNG, Jock. Merton with Energy, Kat s and the criminology of Transgression. Theoretical Criminology 7(3):389-14, 2003. p. 391 53 AES SET UCU SE UNIMINAIGRS 2012 | oad ‘urn Naciona gas, Yo raneidade, Ao deserever criminosos viol afirma que esses “transgressores so movicios por energias de humilhaciio”, Da mesma forma, Hayward” também procura ligar inseguranca e exclusa0 aos problemas do crime, argumentando que muitas formas de crime e desvio sao respostas psicoldgicas as experiéncias de impoténcia e marginalizacao las pelos pobres do meio urbano, Hayward e Young", ao deslocar o foco da discussao do individuo para o grupo, propdem que “¢ através das quebras de regras que os problemas subculturais procuram solucao”. Em outras pa- lavras, formas de crime e desvio sao os sinais visiveis de problemas coletivos profundos: os criminosos aprendem a quebrar regras no contexto de subcul- turas especificas, que mais tarde aparecem precisamente como respostas aos grandes problemas coletivos. Por essa via, esses autores procuram ligar os sentimentos individuais de impoténcia e exclusio aos estilos subculturais, c6digos e valores que caracterizam de forma central o trabalho de Ferrell, Lyng e outros autores, _ 2 ALGUMAS PROPOSICOES EM CRIMINOLOGIA CULTURAL Ferrell destaca que, entre as muitas intersegoes entre crime e cultu- a, portanto entre as principais referencias da criminologia cultural, podem ser destacadas cinco, que aparentemente apresentam os insights" mais signi- ficativos para a compreensao da complexa dinamica social, dentro da qual a pritica criminosa e 0 controle da criminalidade tomam forma. Sio elas: 1) subcultura e estilo; 2) acao-limite, adrenalina e compreensio criminolégi- ca‘; 3) cultura como crime; 4) crime, cultura e exibicao ptblica; ¢ finalmente 5) midia, crime e controle da criminalidade. Apresentaremos a seguir, de for- ma condensada, cada um desses pont 38 Idem, p. 408. 39 HAYWARD, K. J. The ondon: Cavendish, 2008, p. 165, 40 HAYWARD, K. J. The City London: Cavendish, 2004, p. 266, 41 FERRELL, J. Crime and culture. In: HALE, Chis etal 42 Nao ha tradugao direta para o portugues. Poder ichado", que no carregam, ent 1, mais préximo do metaférico lo” mental da compreensio sibita, comona sensagaoda descoberta, classico “eureka” Crime, Consumer Culture and the U Crime, Consumer Culture and the Urban Experience, 4B erstehen, inglés e alemao, no original (NT) 4 Doves Mannan wo 2092 aw auto na que m as estuciam sao organizados e definidos jornecem um repositorio de habilidades, do membros obtém 0 “aprendizado” que Ihes permitiré ter sucesso goes criminosas, como, por exemplo, o uso correlo das ferramentas ade- adas para furto de veiculos ou de residéncias, ou 0 manejo de armas € nicas para a violéncia efetiva. Destaca, entretanto, que o mais importante que essas subculturas criam um etfos coletivo, que pode ser descrito como um conjunto de valores e orientagoes (ou “regras”) que cefinem 0 compor- lamento criminoso de seus membros como adequado ou mesmo louvavel. esses meios sociais, também surgem as contraculluras criminosas, cujo es- tilo de vida se opde e conilita com os conceitos convencionais de legalidade, motalidade e realizagao. Na maioria dos casos, essas orientagdes ¢ valores vém incorporados no estilo que distingue cada subcultura, como, por exem- plo, o modo de vestir, comportar-se, uso de codigos linguisticos muitas vezes incompreensiveis aos estranhos ¢ rituais didrios criados para definir os limi- tes da adesao. Esses aspectos, porém, vao muito além da simples associacao, simbélicas, que definem para seus mem- (0s 0 sentido da criminalidade, muito mais do que o crime em si mesmo. tos d Segundo esse autor, ainda sobre essa relacao, dois aspectos importan- les se destacam, Primeiro, a difusdo desses simbolos subculturais, exibidos vida diaria de seus membros, em atividades como danga e musica, como hip-hop americano, em comportamento social e roupas, e em suas marcas ictoricas nas ruas, nao soaria também como um “convite” a uma maior vi- syilancia e controle por parte das autoridades? Entretanto, como se trata, na verdade, de marcas de estilo e identidade subculturais, seria adequada a uti- acio desses simbolos como indicadores de criminalidade? Segundo, seria adequado que os simbolos de estilos de subculturas ilfcitas, a partir da difu- 10 mididtica e da apreensao desses simbolos por grandes empresas, sejam -gamente utilizados para a venda de produtos no mercado, especialmente 2 0 puiblico jovem? Ao mesmo tempo, de e autoridades esco- fes se preacupar com o fato de os jovens comecarem a usar roupas, lingua- me produtos culturais associados a subculturas criminosas"? Mf FERRELL, J. Idem, p. 143. e compreen am doa es citados, as vidas dos ; Criminosas também sio moldadas por alto m uma variedade de expriénciascoletivas intensamente signet ones Senaiet Ao examinar uma ampla gama de atividades ciminosas, dese by Simcoe cman criminotcs, esses criminologists pereeberam que os inosos com frequénciaaceitamo periga.e os altes riceon a esas ages, Em verde evita eses isos, ou vée-kos come ang ee afrcta de seus aos eles passam a desruté-los, pont de el afirmarem estar “viciados” em experiéncias perigosz, ou na aby i . a8, ou na “adrenalina” d crime. Bssas afitmagbes contrariam a ideia peicare i esele dst g sugerem, no discurso dos agentes, a referencia simboli vide dividida pelos membros dessa sucul as possi es as prekades a pesquls, © autor prope uma reviso dos metedos > qu ilo ele, nae poclem fica ai tng, qu, 0 p ar apenas na organizacao d dos estatisticose de questionirios” Arma que métedos coe ae Poclem penetrar nos significados transacionados das experieneias vives to Brimeiro plano. Ao coniréio, fazem-se necessérios métedos que coloraon, Sraceminologistas to perto quanto possivel do imediatismo dos fatos da Sates criminesas Inco além da pesquisa le campo convencionl sta seria a aproximacdo, no sentido de obtench satpesecr peta sera pros ia obtencao da chamada “compreen. Rerigoses experioncias que definem a ciminalidade, como uma forma de ob s criminol6gicos inacessiveis & pesquisa convene e mscamin inane: : ‘eneional, Tra Assumir ricos que trazem ao criminologista-pesquisador desafios relatives as convencces sobre “objetividade” da pesquisa cientifica, sobre crime nl Bia como “seciologia” clo crime e do controle da cr Sevafios envolvendo moralidade e legalidade. Entretanto, segundo o auton © 0 significado do crime é em grancle medida construido ro momenta ng sua experiencia, de que outra maneia po iminologi borat ee ia podem os criminologistas investiga nalidade, e também. E, caso existam, como dil crimes daqucles definidos pela agao-limite? im limites sobre a pesquisa entre criminosos, sual Attractions. In; Doing Evi FERRELL, J. Op. cit, 1996, ; Stephen. Op. ¢ wed, op. cit, 2004, p, 61-63. 56 a suposta negativa, Sobre a cultura como crime, o autor principalmente sobre as questoes e se relacionam a agao da midia. Referindo o conceito de cultura pelo seu nificado de complexo de imagens e simbolos, 0 autor refere todos os agen- les ligados & produgao desse ambiente cultural mididtico, ou seja, artistas, mtisicos, fotografos, cineastas e diretores de televisdo, por exemplo. Muitos ies produzem e se relacionam com o que se identifica como “alta cultura”, nes, musica, fotografia, ete. que é apreciada pelas elites instrufdas, surge muses, galerias de arte, etc. Outros se dedicam as chamadas formas po- pulares da cultura, como programas de televisao, filmes comerciais, méisica popular, etc,, em geral referidas como “cultura popular”. Mas nao importan- do em que nivel atuem, nunca eles estio livres de terem seus produtos rede- finidos como criminosos, e serem, conforme a época, acusados de disseminar obscenidades, pornografia, violencia, estimulando © comportamento social in0so, influenciando, especialmente os jovens, a cometer estupros, con- sumir drogas, cometer assaltos, homicidios ou suicidios, ou, ainda, a cometer crimes copiando™ ou imitando os contettdos disseminados pela midia, Em {a8 acusacées apenas circulam; em outros, chegam a se tornar queixas, inquéritos e processos judiciais. Todo esse proceso mobiliza em- preendimentos morais, movimentos de individuos ou grupos sociais, para redefinir o que surge na cultura como crime, os quais, no entanto, ocupam os mesmos espacos de midia (especialmente a televisao) pelos quais se veicula- 1am os conteticlos considerados indutores da criminalidade, O autor se pro- pe um caso como pergunta®: se em um proceso judicial alguém ¢ acusado por um crime, ¢ a defesa alega ter sido este provocado por excessiva exposi- cdo a imagens violentas, transmitidas pela midia, quer dizer, que 0 acusado simplesmente imitou o que vin, e desse modo nao seria pessoalmente res- svel, que tipo de prova se poderia usar para apoiar essa alegacao? E que ova se poderia apresentar em contrério? Ao mesmo tempo, que diretrizes poderiam ser desenvolvidas para amenizar o potencial dano decorrente de imagens violentas transmitidas pela midia, contrariando valores humants- ticos de liberdade de expressio? A midia deveria ser limitada a partir das preocupacées sobre seus danos sociais em potencial? alguns caso 48 Octime que decorte da imitacSo de conteddo midiico€chamaco copycat crime em ingles wn, 49 FERRELL, J. Crime and culture. ln: HALE, Chri 8 Cr egtfan BA Ao pi a ee tabelece que o comunicagao de massa produzem e expdem um mero incontavel de imagens relacionadas a crime e controle da criminalidade diariamente, pata o consumo puiblico, mas essa no é a tinica maneira pela aval os temas da criminalidade so exibidos na sociedade contemporanea cles também sao exibidos como parte da movimentagao social das interagoee dlidrias, como parte do ambiente construido dentro do qual a vida da serie dade continua. Nesse sentido, uma série de outros elementos sie exibi relacionados ao crime: objetos piiblicos depredados, pessoas maltrapilhas ¢ Ruallratadas, criangas abandonadas, lixo, paredes sujas, janclas quebrad Fssas consideragdes inspiraram 0 modelo das janelas quebradas", utiieade Por grupos politicos conservadores para exigir e justificar agdes dutas contra mendigos, sem-tetos, grafiteiros e outros grupos visiveis, relacionados aos crimes contra a “qualidade de vida” nas dreas urbanas, concentrando-se na ache policial na vida dria. O autor considera* que a fim de melhor pensar sobre essa relacio seria dtil questionar, ao nos movermos em nosso ambiente urbano, quantos simbolos relacionados ao crime, controle da criminelidade aga0 so identificéveis? E como os interpretamos no sentido de nossa seguranca ou vulnerabilidade? E como se pode esperar que vatiem a interpretacdes das pessoas sobre esses simbolo 0s, com base em seu género, Orientagao sexual, classe social, idade ou origem étnica? Finalmente, o autor procura relacionar midia, crime e controle da cri- Iminalidade, Destaca que, na sociedade contempornea, a midia detém a pre. Ponclerdncia sobre o crime e o contzole da criminalidade. Desse modo, para compreender temas como 0 apoio pablico a disseminacio das empresas de Seguranca privada, ou as preocupacées sobre a criminalidade no dia a dia, as Varias formas dos meios de comunicagao de massa devem ser examinadas EB desse exame, segundo o autor, resulta um padrao significative: a midtia de ‘massa transmite ndo apenas informacio, mas também emogao. Tanto nas no. ticias quanto em programas de entretenimento, a midia superentatiza, com regulatidade, o crime de rua, muito mais do que os crimes empresariais fo. caliza a criminalidade entre estranhos mais do que a violéncia doméstica, a ctiminalicade violenta mais do que os crimes nao violentos e silenciosos cone ta a propriedade. Enquanto parte desses padrdes de sensacionalisimo resulta om parte da manipulagao politica da midia, e confianca da midia nas fontes . G. 1982, Broken Wi March: 29.38, 2003, St FERRELL, J. Crime and culture, In: HALE, Chris et al. Cr es: The Police and Community Safety, nology P.O. Devruma Namena, etanto, quaisquer que sejam suas ermanece claramente : to cumalativo dessas distorgoes permane n : bs migelasmonteampliam e agavam 0 meo pablico do crime, etal i iapropskedamente agendas alias punitive, vsando a controle da alidade, e preparam 0 piblico para a crise seguinte de paico moral breo crime ea criminalidade. No énenhuma surpresa que objeto dessas Bes individios e grupos criminosose criminelizados, também partcper ip proceseo intermmindvel de negociagio mediada. Eases grupos, por exe plos gags derua, skinheads, grafiteirose outros, com frequéneia possuem ne js, construidos para apresentar seus proprios pontos de vista 0 ime ciedade, ou produzem videos de suas acbes criminosas, no mesmo se nid, wea disputa “vera sobre wcrime usta a eises de pi moral eos movimento de “empreendedorismo” moral, adminiseados pela Iida, qu envolveo pablico « medi a negciato sobre o significado do crime em si mesmo, Essas negociacdes necessitam, segun jo autor de mas pesquisa criminoldgica, pois sdo de extremo relevo para a comp: mnudangas na sensibilidade socal ai er feito para ge a questao sobre © que pode se: Nessa linha, entao, surge a que: s¢ rrigir as distorgdes da midia de massa, ea superdramatizagto dos fers io i c it up ado: co crime, Além diss, seria adequado a riminosos grupos eriminalizados a vod ‘de seus proprios websites e videos? Deveria haver limites para esse tipos de mila ilcita? Finalmente, o autor observa: As ier entre crime cln et hoje emer cme ana ren extiemamente relevante da crise politica e moral edad conte E nele que 0s temas fundamentais da identidade hum ee cu osne onenaay © objetivo da vigilincia edo conte ent dos pfs riminosos 0 equilbrio entre tv expressto eo poten de danes soca a nagocaco dos init que separam alee obscenidade pel adquacl das vray formas de mica no controle da sociedad Countess oo sma tse eae sine “ummero exerci ntlocta abstato; el antes de tudo um exeretio de Ciladaniaengajaaeativismo informad, (Freel, 2007, p15) ilo como uma érea tica social esto O autor, desse modo, reafirma o papel politico do estudo cientifico EA dade, i rata a as de cximinaidade, assumio pela critminologia cultural: Nao se fata apenas de rever e reconstruir 0 pensamento ¢ metodologia criminol ee ins de tabelecer parametros para avangos reais, levandlo em considerac ie cimento sociolégico, mas sem se afastar da realidade social contemp: 9 [Anna /nio 2042 que © 0p. ar, hoje, pelo avango lento de outras metodologias, em contrast a forte demanda por respostas consistentes das ciéncias sociais sobre os pro- blemas objetivos do crime e do controle da criminalidade. CONCLUSAO. Nao se pode negar que a criminologia cultural se apresenta como uma mente carregada, para a pesquisa ea teoria também que ela pode ser wologia critica, na medida em evidente que wentos sobre em que medida as no- ses de subcultura, subversio e transgressao fornecem pontos de referencia adequados para explicar © comportamento desvian Entretanto, como antes afirmado, es desenvolvimento; e, por sua postura mi realidade, ndo podendo seus avangos e questionamentos serem simplesmen- te transpostos para a obtencao de anallises adequadas a real artigo teressados, no sent modos pelos quai , posicionamentos e métodos da cri cultural podem se tornar referéncias valiosas e/ou de auxilio na produgao e ‘operacionalizacao de instrumentos de anélise adequados ao contexto brasi- leiro de estudos crimin DEFENSORIA PUBLICA, PRAZO EM DOBRO E.0 ST pTERM, ;BLIC DEFENDER OFFICE, DOUBLE. PUBLIC ND BRAZILIAN SUPREME COU wigan a pelo Tribunal nee one um toro do ABSTRACT: The paper ai ‘le term given to the Public Defender, spe eae empeially due othe positioning ot ur comeing the cree {iment ned poplin vate anda jpraenl researc, ina cea (HepSln of he Brovilan Supreme Court is questioned Jranda em Direito pela rofessor do Programa ck Universidade de Fortaleza, Professor do ‘Gears, Assessor do Tsibunal de a Estado do Cear

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