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http.alexandriacatolica blogspot.com PRIMEIRA CONFERENCIA Senhores! Que dnsia de viver palpita no homem! Quanta preocupacao pelos problemas da vida! Problema internacional gravissimo: desarmamento, intercambio comercial. Problema nacional: produgao, orgamento etc. Problema familiar: emprego, manutencao do lar, futuro dos filhos. Problema individual. trabalho, doenga... Havera aqui um sé homem que nao seja atormentado por qualquer preocupagao? Quantas preocupagées cientificas! A constituigéo da matéria! Problemas psiquicos... 0 enigma da psicose; problemas histoldgicos... Qual sera a patogenia do cancer? Problemas quimicos... histéricos... Os problemas da Bolsa e da técnica industrial... + Como esses problemas inquietam os homens! Como absorvem sua atividade! O mundo se agita como um possesso! Terei, por acaso, de me alongar para dizer que o mundo se acha profundamente preo- cupado com o problema do existir? 9 JESUS CaIsTO DEUS? Eo problema religioso? Como constrastam com aquelas preocupa- + GGes a despreocupagao religiosa e o descuido do problema religioso! Para muitos ele nem existe. Nao tomam conhecimento dele nem lhe dio a menor importancia... E assunto ultrapassado, que ndo merece atencdo! Quantos o desprezam... ¢ quantos 0 odeiam! Nao conheceis, senhores, pessoas que desprezam e até odeiam o problema religioso? Dirigindo-me aos homens — a grande vantagem de dirigit-me aos homens € poder falar ao seu caracteristico, a inteligéncia —, de- sejava, simplesmente, 4 maneira de introdugdo, fazer umas reflexdes sobre essa terrivel despreocupacio religiosa. Convido-os, senhores, nao a ouvir, mas a pensar, a se voltar para o interior de si mesmos e a meditar. Homens dotados de inteligéncia; homens em pleno uso da razio — os senhores os conhecem, quem sabe algum deles esta aqui, nao sei onde —, este preocupado com as investigagdes de scu laboratério © com © seu comércio; aquele, absorvido em seus negécios; um ter ceiro, aborrecido por niio ter com que se preocupar; homens, enfim, que dao de ombros, que adotam um ar de suficiéncia ¢ dizem depre- ciativamente: “O' problema religioso? Nao me interessa absolutamen- te; deixa-me completamente indiferente. Se fosse um problema ma: terial ou de valores, se fosse...” E este ser humano que eu desejaria fazer pensar. Homem que esta aqui. Homem que poderia estar ndo esti: pensa! Es homem? Compreendes aquilo que dizes? Que nio te interes- sa o problema religioso, que nao te preocupas com ele? Entio julgas que, por nio te interessar, o problema deixa de existir? Teriamos um meio muito comodo de nos descartarmos dos grandes problemas que nos fustigam. Se, por nao nos interessarem, os problemas desaparecessem, que meio espléndido para que a tuberculose ¢ 0 cancer, problemas da humanidade e da Medicina, deixasssem de existir! 10 DESPRDOCUPAGHO RELIGIOSA. Para que ligas antituberculosas, para que a luta anticancerosa, para que tantos laboratérios, tantas investigagées, tantos homens de saber que empregam sua ciéncia ¢ sua vida no estudo dos problemas desencadeados pela tuberculose ¢ pelo céncer? Se, por falta do interesse de alguns, desaparecessem os proble- ‘mas, como seriam féceis as suas solugées! Sacudiriamos os ombros € perguntariamos: “E a mim, que importam o cdncer e a tuberculose?* E acabariam por encanto os flagelos da humanidade. Homem: raciocina, pensa... Se a bacilo de Koch, de 1,5 a 3,5 microns de comprimento e de 0,3 a 0,5 microns de largura, deixasse de existir apenas porque saco- des os ombros e nao queres nele pensar, se a celulinha cancerosa Prossegue, impertérrita, a sua luxuriante proliferagdo, sem se deter diante de qualquer obstaculo apesar de teu desinteresse por ela, 0 problema, que é essencialmente problema, deixaria de existir porque nao The das atencao? Se és humano, nao podes deixar de lado 0 problema religioso nem despreocupar-te e desinteressar-te dele. E proprio do homem, digno de sé-lo, investigar os grandes pro- blemas, dedicar-lhes essa atencdo serena € grave que todo homem sério sabe conceder, durante sua vida, a problemas de menor enver- gadura. Senhores, pensemos... A omissao € uma atitude passiva. Nao és 0 tipo de homem que sacode os ombros. _ Eso tipo que julga possuir um temperamento indomito, rebelde. Es mogo, e algo palpita em teu interior. E com temperamento de homem rebelde ¢ de homem que vi- bra, como exprime bem tua personalidade esta frase que te enche _ todo, impregnando-te totalmente: “Eu sou livre para pensar 0 que quiser... € nfo quero aprisionar meu pensamento com dogmas!” Ah! E como te empolgas ao dizer isto! u JESUS custo. DEUS? E com que énfase repete o jovem que se julga consciente: “Li- vre; cada um é livre para pensar © que quiser!”, diz ¢ torna a dizer E aquele que jamais ouviu se desfazerem as falacias do entendi- mento, que tantos danos esto causando, aquele que nao esti acostu- mado ao rigor da légica, ouve que é livre e repete: “Eu sou livre...” E 0 operario inconsciente vai repetindo como eco: “Livre... livre...” Gostaria de estar a tua frente, de olhar-te fixamente, de alto a baixo, sem pestancjar, © dizer: “Olha-me bem, fita-me... E agora, ouve-me! Livre para pensar o que quiser? Isto ¢ falso!” “Entdo eu nao sou livre?...” “Ouve-me. Nao és livre para pensar o que quiseres.” Além disso, advirto-te de que irés compreender perfeitamente que nao és livre para pensar segundo o teu capricho. Eis aqui a prova da minha afirmacao. “Diga-me, dois e dois, quanto é?* Espera, eu mesmo vou responder: “dois ¢ dois sao quatro”. Nao tens liberdade para afirmar que sio trés ou cinco. Tens que dizer-me, queiras ou no queiras, que dois e dois so quatro. Ouve-me bem, doutor, tu que constantemente clamas por uma ampla liberdade de idéias: que dirias se eu pedisse tua assinatura, mas, seriamente falando, observa bem, para, de acordo com o teu critério de “ampla liberdade de idéias”, obter permissio para a cria- cdo de uma cdtedra de Fisiologia em que se ensinasse que o drgio da visio 6 0 coragéo e 0 da disgestio os olhos? Ougo-te dizendo: “Mas isto é um despautério. Nego meu con- sentimento a semelhante absurdo”. Pois eu pergunto: por que ¢ despautério? Por que ¢ absurdo? “Porque essas afirmacées, para as quais pedes a minha assinatu- 1a, sio falsas!” 12 DESPREOCURAGAO RELIGIOSA “Falsas?! E 0 que significa falso?” “Que no & verdade.” *E por que uma coisa nie é verdade?” “Porque ndo é uma realidade objetiva.” “Ah!... Agora sim deste uma boa resposta.” Tu que exigias “ampla liberdade de idéias”, tu mesmo nao con- sentes que seja dito que o coragao € o drgio da visio e que o da digestao sao os olhos. E afirmas nao poder consentir em tal afirmacao porque a realidade objetiva nao é essa, e sair da objetividade ¢ fal sidade, Eis aqui o obstaculo da “liberdade de pensar”: a realidade ob- jetiva. Eis aqui o aprisionamento da “ampla liberdade de pensar”. A razio tem que se unir & realidade objetiva, pois querer trans- por 0 fosso dessa realidade nao é liberdade e sim loucura. Isso 6 ser louco, pois louco é o que finge um “eu” e um mundo fora da realidade objetiva. sébio, a0 contrério, € aquele que mais desvenda e mais se * amolda a realidade objetiva. Cajal nao ¢ Cajal porque procurou dar largas a sua imaginacdo € encerrou-se num laboratério para sonhar livremente e, assim, for- mar, arbitrariamente e sem peias, 0 conceito de meurdnio e das rela- ges entre as células nervosas; ou porque teve a idéia de descobrir e estabelecer a estrutura do cértex cerebral ¢ da retina. Nao. Cajal & Cajal porque pacientemente investigou a constituigio celular e histolégica e, & forga de trabalho e de estudo, chegou a deseobri-la. Cajal 6 quem é na Histologia porque, pacientemente, ano 4 ano, corte a corte, microtomia a microtomia, observacdo a observagao, desenhou e anotou, chegando a surpreender a realidade objetiva para apresenta-la ao mundo, Por isso Cajal é quem é. Medita sobre tudo isso. JESUS CRISTO & DEUS? Todos os grandes progressos cientificos, sejam biolgicos, quimi- cos ou fisicos, tém como fundamento sérios estudos da realidade objetiva, de onde nasceram suas leis ¢ os seus integrantes, O médico que melhor souber adaptar-se a realidade objetiva de uma patogenia seré 0 melhor médico. O histologista que melhor souber adaptar-se a realidade objetiva dos tecidos sera o melhor histologista. Nao o que fantasia, nao o que inventa, nao o que é livre. E isso porque a liberdade racional esta presa a realidade obje- tiva. Prisio, alias, que nao oprime, mas que eleva. Nao me oprime, senhores, ter que afirmar que os olhos sio 0 6rgio da visio e nao o estomago, Nao me oprime ter de afirmar que Buenos Aires fica as margens do Prata. Nao me oprime ter que afir- mar que Cicero foi um orador e Napoledo um guerreito. Isso € a liberdade, nobre sujeicao a realidade objetiva. Somos obrigados a diz@-lo, tu e eu. E, se tenho que afirmd-lo, nao sou livre. Nao e mil vezes nao. “Eu sou livre para pensar o que quero” é um absurdo cientifico. A liberdade racional esta encadeada pelo objetivo. Ea acomodaciio intelectual ao objetivo 6 a verdade. E a verdade jamais tortura a razio. tee Padre, poder alguém dizer-me que a realidade objetiva de dois ¢ dois so quatro e de que os olhos sio 0 érgio da visio e nio o coragio, e eu admito, porque a vejo e a entendo; mas... no dogma religioso hi coisas que no vejo nem entendo... francamente, no 0 admito. Entdo, aquilo que ndo vés nem entendes, nao admites? Nao existe para ti? Sabes o que 6a eletricidade? Sabes o que é a matéria? Sabes 0 que 6 a vida? DESPREOCUPACRO RELIGIOSA Vamos, dize depressa e assim seras 0 homem mais célebre do mundo. Nao sabes? Nao é 0 unico a ignora-lo. Na verdade, nenhum homem compreende o que é a vida, a matéria; e repara bem, presta atencao, todos os homens, e tu com eles, admitem a existéncia da matéria e da vida, embora nada entendam sobre a matéria e sobre a vida. Compreendeste? Por acaso sabes — que paradoxo! — 0 que é morrer? Em aulas de Citologia, quando se trata do problema da morte, indaga-se freqiientemente se ele é um problema do protoplasma ou um problema do nicleo ou um problema do micélio ou um proble- ma de coldides! Uma interrogacao imensa! Ninguém sabe o que é morrer ¢ mais de 100 mil homens vao diariamente deste mundo. Perceberds que ninguém entende o que é viver ¢ ninguém entende o que é morrer ¢, nlio obstante, existe a vida, ceifada pela morte? E natural; mesquinhos seriamos se apenas existisse aquilo que compreendemos. Nada, absolutamente, existiria, pois nao ha coisa cuja esséncia conhegamos. | Nao sabemos o que é a vida celular, e a célula vive com seus milhares de miiltiplas evolugdes. Nao sabemos 0 que é a matéria, ¢ ai estio as massas solares e estelares, com seus volumes e suas velacidades assombrosas. E tu te refugias no “eu nao entendo” para negar 0 dogma reli- gioso! Pobre compreensio humana! Nao sei se estas percebendo a soberba de insano que tal subterfiigio supde no homem! Mas existe ainda outro tipo de homem, aquele que afirma “nao quero discutir”, tipo muito em voga, respeitoso, bem-posto, fino, educado. 15 JESUS CRISTO DEUS? “Padre”, diz-me ele, “por técnica e por ideologia, s6 admito 0 tangivel, o experimentavel. Fui educado na Alemanha e, de acordo com minha formagio intelectual, s6 aceito © que realmente possa tocar ou chegar a comprovar experimentalmente.” Esse nao nega: imp&e condi¢des. Enquanto nao tocar... enquan- to nao experimentar... Quando tocar, entdo sim. Realmente? Terei que ser 4spero e duro contigo, mas nao por querer-te mal. O cirurgiao, na sala operatéria, é duro: corta e abre, mas ndo corta e abre como um assassino, para cravar um punhal. Corla para curar. Neste momento, quero assim proceder contigo, homem que me escutas. Rogo-te que me perdoes a pergunta que vou fazer-te: bem sabe ‘Deus que ndo é para importunar-te. O nome de tua mae... qual 6? Dize-me, como se chama tua mae? Todos vés lembrais de um nome, de uma fisionomia. Tha mae, Como se chama ela’... Ea tua?... E a tua’... Como conservais em vosso coragio € em vossa mente a imagem de vossa mae? Como vos lembrais de algumas de suas palavras! Q que acon- tece é que daqueles conselhos que ouvistes, afastou-vas a existéncia... A recordagao de vossa mae, esta sim, vos a tendes bem profunda! E, agora, um momento, E esta tua mie? Ela é mesmo tua mie? Como podes saber? Viste-a, por acaso? Tocaste nela? “Padre!” “Sinn?” “Minha mae é uma santa!” “Muito bem! Mas que queres dizer com isso?” “Minha mie me enganaria? E nao saberia, realmente, se me deu @ luz ou no?” DESPREOCURAGKO RELIOLOSA “E dai?” “Disse- me ser minha me. E com ela, meu pai, meus parentes, meus conhecidos, todos afirmaram ser cla minha mae. E. podiam saber 0 que me afirmavam, pois ndo posso imaginar que, bons como séo, quisessem enganar-me.” ‘Nao raciocinas mal, Esta ¢ tua mie, porque outros assim te disseram. Repara bem: nem tu nem ninguém possui outro fundamen- to para saber quem é a prépria mae, sendo o que te disseram. Assim como tu, esteve ¢ estara todo o género humano. O ser mais querido do homem, a mae, é uma realidade que nao foi vista pelo homem, que nao pode tornar a experimenti-la; é uma realidade admitida pela totalidade do género humano “porque assim o disseram”, ‘Ha instantes dizia que raciocinavas bem. Afirmaram-te nao qualquer um, mas sim os que estavam cientes do que afirmavam e de quem néo tens motivo para acreditar poderem enganar-te. Eram testemunhas verdadeiras ¢ dignas de fé. Como é razodvel erer em quem possui conhecimento e veracidade! Acreditas que esta mulher ¢ tua mie, acreditas que este homem 6 teu pai por meio do testemunho baseado na ciéncia e na verdade, Acreditas na situago dos povos situados entre paralelos ¢ meridianos, baseado na ciéncia e na veracidade dos que o afirmam, embora nada disso houvesses comprovado. Acreditas na existéneia de determinados corpos, nas massas este- lares, baseado na ciéncia e na veracidade dos que procederam a estu- dos espectograficos, mas que nem todos pessoalmente comprovaram. _ Para que continuar? Acreditas nos quilometros quadrados que a Asia e a Africa possuem e nos habitantes que vivem na América. Homens que aqui estao, que provavelmente nao fizeram pes- soalmente a medigao dos quilometros quadrados de vossa patria, mas que acreditais porque assim vos afirmaram, um dia, os agrimensores, ter ela tantos quilmetros quadrados... Homens que aqui estiio, JESUS CuusTO & DEUS? médicos que jamais viram as eamadas retinianas, mas que, por havé- -las estudado em autor famoso, nelas acreditam por ter esse autor ciéncia e veracidade... Quimicos que aqui est4o, que nao descobri- ram a formula da cafeina, mas que a consideram boa, por provir de um homem de ciéncia e autoridade... A humanidade toda sabe que acreditamos, mas que exigimos ciéncia e veracidade. Nao acreditamos no papelucho indocumentado de dez centavos; acreditamos na obra razoavel, porque prova ser séria por sua ciéncia e veracidade. E fazemos muito bem em acreditar. E.0 mais razoavel. Ademais, € a tinica coisa possivel. Se nao se admitisse o testemunho alheio, a vida seria impossivel. Tu, porém, nio admites um testemunho qualquer; nfo acredi- tas, sem mais nem menos, em todas as afirmagées, E ages, por isso, muito bem. Para admitir um testemunho, exiges ciéncia e veracidade De nada vale o testemunho se quem o afirma nao sabe o que diz ou se lhe falta veracidade. Mas se, ao contrario, possui conhecimento e veracidade, 0 mais razoavel € acreditar naquilo que ele afirma. E, se 6 razoavel acreditar em quem tem conhecimento e 6 ver- dadeiro, dize-me, nao sera muito mais l6gico acreditar naquele que possui a Ciéncia Infinita e 6 a Infinita Verdade? E esta e nao outra a conduta do crente: crer na Infinita Sabedoria e na Infinita Verdade. O que € preciso é ter certeza de que Deus falou, para poder Ele acreditar. Nao é suficiente ter apenas probabilidade, por maior que esta seja. Quando te dispuseste, homem que me escula, a investigar se Deus, Infinita Sabedoria ¢ Infinita Verdade, falou? Queria ter-te mais préximo a mim, para perguntar-te: jé fizeste alguma vez na vida tal investigago? Responda-me. Depressa. Melhor dizendo; responde a ti mesmo, 18 DDESPREOCUPAGAO RELIGIOSA ‘ ‘A f@ te diz: “Abre os olhos, investiga com toda a seriedade e com espirito de critica, se Deus falou”. Quando, apés séria e profun- da pesquisa, te convenceres de que Deus falou, nao mais dirés que acreditar nao € coisa razoavel. Quando predentemente ndo possas duvidar de que Deus haja manifestado algo, o mais légico sera dares assentimento firméssimo a essa autoridade de Deus, infinita na Ciéncia ¢ na Verdade! B isio’0 que fiz o crente: Crer na autoridade de Deus que falou, crer com certeza, sem a menor diivida prudente de que, na. verdadeira realidade, Deus falou a nos, Repito minha pergunta: Ja te puseste seriamente, com toda di- ligéncia e sinceridade, a investigar se é ou nao verdade que algo foi revelado por Deus? Isso deves sabé-lo melhor que ev. Es médico? Quantos anos de estudo para colar grau: seis no curso secundario, sete na escola superior. Depois a especializacao; mais tarde, ainda, estudos no estrangeiro e, finalmente, j contas com uns trinta e tantos anos de pratica nao em Medicina, mas s6 numa parcela — tua especialidade da Medicina. E se eu te pedisses para, dentro do assunto de tua especialidade, escreveres um sério trabalho de investigagao para uma dessas revistas intemacionais, dessas que s6 publicam 0 mais seleto da investigagio cientifica, tu te lancarias ao trabalho? ‘Jé ougo tua resposta: “Agora é impossivel realizar tal trabalho. Estou assoberbado em minha clinica; apenas tenho tempo para ler 0 que ha de mais importante nas revistas profissionais. Um trabalho verdadeiramente sério exigitia o conhecimento de tudo aquilo que foi publicado recentemente sobre a matéria, além do manuseio de traba- Thos e bibliografia em revistas mais cotadas na minha profissio. Sem fazer tudo isto, seria imprudéncia arriscar-me a tarefa que me pede”, 19 JESUS CRISTO f DEUS? Foi étima tua resposta, Ela revela um homem sério, que sabe que sem um estudo profundo, sem um vasto conhecimento biblio- grafico, somente espiritos wazios ¢ superficiais se atreveriam a formu- lar afirmagées no dominio cientifico. Esse isso acontece com o especialista, no ambito de sua especia- lidade, que sucederia se se tratasse de outro ramo da Medicina que ele nao cultiva ou, pior ainda, se o trabalho versasse sobre uma ciéncia da qual ele sé conhecesse 0 nome e€ a existéncia! Com que prudéncia se procede no campo de que agora falo! Ninguém arrisca 0 crédito de seu nome e de sua reputagio cientifica atrevendo-se a afirmar algo em ciéncia sem um profundo estudo e ‘uma sélida informagao bibliografica! Em contraposigao, como contrasta essa conduta equilibrada com ‘a que geralmente é usada no problema religioso! Sobre religido todos falam, todos discutem, todos afirmam ou negam, todos dogmatizam, Por estar alguns meses atrasado: na leitura de suas revistas, um médico julgava imprudéncia publicar um estudo de alta investigacao. No entanto, com que énfase e petulancia tu, médico, tocas no proble- ma religioso e langas, uma ap6s outra, as mais audazes afirmagdes! Se tu te recolhesses em ti mesmo e, num quarto de minuto, fizesses um exame de consciéncia, ver-te-ias obrigado a dizer: “Sou um farsante”. Esta minha atitude € séria? E ela digna de um homem? E, no entanto, os que assim proce dem com o problema religioso sio os mesmos que, nas questes cientificas, sio tao cautelosos e circunspectos. Tu, operario, atreves-te a dogmatizar sobre problemas de calculo diferencial e integral? E tu, negociante ou industrial, acaso podes falar sobre o papel das mitocondrias? E vés, advogado, engenheiro, arquiteto, tereis coragem de dissertar e discutir a respeito do neurotropismo e das neurobionas? DESPREOCUPAGAO RELIGIOSA Respondei. Respondei a vés mesmos! E, diante de tua resposta, a minha pergunta: tu que dogmatizas sobre questOes religiosas, negando e afirmando a teu bel-prazer, quanto tempo estudaste religiio? Sabemos muito bem o que julgar de médicos ¢ engenheiros que estudaram medicina e engenharia por meio de jornais, revistas ou romances. E tu, quanto estudaste sobre religiio? Que sabes de exegese? De hermenéutica? Nem tais nomes sabes repetir, pois ignoras o que significam. Mas mesmo assim continuas dogmatizando sobre religi iio! Sabes quais so os tratados de Tologia? A Teologia é integrada pela Propedéutica, com seus tratados de Raligido © de Ecclesia. * Teologia dogmdtica: a positiva e a escolastica. * Teologia Biblica ow Escrituristica. * Teologia Patristica. * Teologia Prética, com a Moral e a Ascética, * Direito Candnico. * Historia Eclesidstica. Sabias isso? Mas isso so apenas titulos dos ramos da Teologia, titulos que nao te transfundem a idéia da matéria que cada um deles contém. Para teres uma idéia da amplitude do assunto, basta saberes que 86 da Teologia Patristica a edigdo Migne (Paris) contém 221 volumes de Padres latinos e 161 de Padres gregos. A Berolinense (Berlim), 34 volumes de Padres gregos (s6 dos trés primeiros séculos, e ainda nao esta terminada). A Vindebonense (Viena), 65 volumes dos Padres lati- ai JESUS CRISTO £ DEUS? nos (dos seis primeiros séculos). A Oriental, de Paris, 72 volumes dos Padres arménios, sirios e coptas (e ainda nao esta terminada). Sobre a ologia Escrituristica, posso esclarecer-te que 86 na Biblio- teca do Instituto Biblico, de Roma, existem mais de 90 mil volumes de sua especialidade e mais de 300 revistas periddicas, A respeito do progresso geral da Teologia, da uma idéia 0 Ca- talogo de Volgelsang, segundo o qual somente na Alemanha apare- ceram mais de 100 revistas de alta teologia. Sabias algo a respeito? Estudaste, por meio dessa bibliografia, 0 problema religioso? Néo quero induzir-te a nada... Dize-me mesmo o que deves pensar de ti préprio. Se és serio, pois assim te considero, verifiearés nio poder despreacuparse do problema religioso, pois as despreocupages néo tem o poder de fazer desaparecer as realidades objetivas Se és sério, verificaris que nao possuis liberdade de pensar a teu bel-prazer, mas sim que a verdade te junge & realidade objetiva. Se és um homem sério, verificarés que existem, em tua vida, realidades cuja compreensdo ¢ entendimento te escapam. Se és sério, verificards que nem tua propria mie sabes quem é, nao ser porque acreditas nos que te disseram quem ela era. Se és sério, compreenderds quao logico é dar crédito a uma Pessoa que tem ciéncia e veracidade em seus testemunhos. Se és sério, vers como ¢ racional investigar, com diligéncia profundidade, se Deus realmente revelou algo aos homens! F, se és sério, terés que confessar que a atitude mais racional deste mundo ¢, se Deus disse algo aos homens, acreditar em sua mensagem, infinitamente digna de ser crida, por ser a Infinita Sabe- 22 DESPREOCUPACAO RELIGIOSA doria, que nao se pode enganar, e a Infinita Verdade, que nao pode enganar. Nao desejas ocupar-te com o problema religioso? Nao quererés investigé-lo seriamente? Ent&o, nao ages racionalmente... Mas, ouve-me, se a celulinha cancerosa ¢ a infinitesimal bactéria nao desaparecem porque nao lhes prestas atengado, Deus e sua men- sagem deixarao de ter existéncia porque com eles nao te preocupas? Se és um homem, deixo-te com tuas meditacdes, ‘Mais de dois mil homens aqui se acotovelam. Convido-vos, a todos, & meditacao. Compreendo perfeitamente o estado espiritual de todos; por isso, nao me indignarei contra ninguém. Disse Santo Agostinho que arduo the foi o caminho para a verdade'. Enfurecam-se consigo préprios, continuou Santo Agostinho, aque- les que ignoram quo penoso é encontrar a verdade come dificil é evitar o erro. Eu, acrescenta Agostinho — e eu também o poderia repetir aqui —, eu, que tantas vezes jogado de um lugar para outro, de engano em engano, de erro em erro, pude avaliar quanto custa encontrar a verdade, mas, eu, contra vés, jamais me encolerizarei Oxalé pudesse conduzir-me convosco — fala Agostinho — como se portaram comigo aqueles que, com tanta paciéncia e amor, me supor- taram quando, cego e raivoso, vivia mergulhado no erro. tee Finalizo, abrindo o Evangelho. Saindo, certa vez, de Jeric6, Jesus Cristo teve sua atengdo volta- da para um cego que, esmolando junto a estrada e tendo ouvido falar em Jesus de Nazaré comecara a clamar: “Jesus, filho de Davi, tem compaixio de mim”, 1. Santo Agostinho, ME, VIII, c. HIE, 15, 23 JESUS CRISTO £ DEUS? Ordenou Jesus Cristo que o trouxessem, ¢ quando o cego, inun- dado de alegria, aproximou-se, perguntou-lhe o Senhor: “Que desejas que eu te faga?” “Mestre, devolve-me a visio, quero ver.” “Ve", respondeu Jesus, “tua £6 te salvou” E nesse mesmo instante 0 cego viu e acompanhou Jesus pelos caminhos. Desejaria que, quando te recolhesses, recordando esse cego, a quem Jesus Cristo devolveu a visio, apagasses tua lampada, ja que te sentiras invadido pelo medo de ti mesmo, e murmurasses: “Jesus Cristo, eu quisera ver”. Asseguro-te que verds. ‘Jesus Cristo é sempre o mesmo. Aquele que devolveu a visio ao cego. Noutra casio, caminhando Jesus Cristo por uma estrada, foi abordado por um leproso que, envergonhado, ocultando com andra- jos sua came ulcerada e podre, lhe rogou: “Se quisesses...” E Jesus Cristo simplesmente murmurou “quero” e no mesmo instante 0 le- proso se viu limpo Ha a lepra do corpo ¢ hé a lepra da alma. Aproximai-vos de Jesus Cristo: ¢ 0 nico que cura lepra. hitto:alexandriacatolica. blogspot.com SEGUNDA CONFERENCIA JESUS CRISTO NA PROFECIA Senhores! E proprio de todo homem prudente estudar ¢ investigar com seriedade qualquer problema que se Ihe apresente. Mas, se para esse estudo exige-se critica e seriedade, mais seriedade ¢ critica deve ser exigida na abordagem do problema religioso. E proprio da criatura consciente de seus atos no se deixar levar por cargas afetivas préprias do psiquismo inferior, mas sim utilizar a qualidade essencial do homem, a inteligéncia, aplicando-a com serie- dade critica ¢ cientifica na investigagdo da verdade. Procedamos seriamente, néo com essa leviandade que causa cala- frios, muito propria do homem que, ja pela maneira de apresentar- -se, ainda mais pelo proprio tom de voz, claramente revela, mesmo ao leigo em psicologia, sua carga afetiva. “Padre...” ¢ reformula uma pergunta de religito Apés dez minutos de conversa, eis que ele se despede: “O se- nhor néo me convence...” JESUS CRISTO £ DEUS? Fico pensando: 0 que diria um professor da Faculdade de Me- dicina se alguém completamente ignorante das coisas da Medicina certo dia o chamasse de lado ¢ Ihe pedisse: “Queria que o senhor, em dez minutos, me esclarecesse sobre Medicina...” “Em dez minutos?! Apés muitos anos de estudos sétios, chega- mos a conclusao de que pouco ou nada sabemos de Medicina. E em dez minutos?” Poderemos julgar com seriedade, senhores, um homem que pretende ventilar questdes de tal transcendéncia em dez minutos ou em quatro conferéncias? Nao, senhores; minha aspiracio é muito mais modesta. Somente Pretendo ser suficientemente discreto para apontar as suas inteligén- cias, com toda seriedade, problemas que provoquem esta reflexdo de um homem sério: “Ignorava tudo isso. Vou estudar a matéria”, Se consigo tal desiderato, haverei conseguido muito. Nao pre- tendo, entretanto, convencer-vos, Desejo apenas que estudeis. wae Suponho desejarmos, todos nés, encontrar a verdade. Se, de antemao, ha quem deseje excluir de seu animo a vontade sincera de achar a verdade, a ele ndo me dirijo. Volto-me aos que anelam fundear no porto da Verdade. Mas onde esti a verdade no problema religioso? Poderemos, com seguranca, navegando pelo mar da vida, revol- vido pelos furacdes das paixdes, sacudido pelos agitados vagalhées das tendéncias ¢ cruzado por vertiginosas correntes de doutrinas, depararmo-nos com 0 porto da Verdade Religiosa? Quantos que me ouvem ja navegaram pelos mares reais do globo, de costa a costa ou de continente a continente, em viagens de cabotagem ou transatlanticas... © barco que o Atlantico atravessa, obedecendo & rota certa, prefixada, pode servir-nos de imagem fiel e de modelo para encon. trarmos, navegando pelos mares da vida, o porto da Verdade. 6 JESUS CRISTO NA PROFECLA O barco que navega pelo Allintico tem um rumo tragado, nio navega a deriva, porque se a deriva navegasse jamais alingiria o porto de seu destino, situado além, no outro continente- Existe um téenico nesse navio, um técnico acompanhado por muitos outros, eujo niimero aumentaré quanto maior for a categoria dessa embarcagio ¢ quanto mais transcendente for a viagem. Na ponte de comando, capitio e pilotos tém, a disposicao, a carta de marear e a biissola perfeita, isolada de quaisquer e estranhas influéneias magnéticas. Ali, nas horas de guarda, fazem célculos observagées... Juntos, em reunides oficiais e obrigatérias, capitdo e pilotos conferem seus dados e suas observag6es... determina exatamente a posigéo do navio na imensidao dos mares. A carta de marear a vista determina a precisa posigdo do barco. Eles sabem onde se encontram. O porto esta a tantas milhas; o rumo certo é este. Ainda nao se avista a costa, mas ela esta proxima. Eis o momen- to da arribada. capitio permanece na ponte de comando. Tal posicao, tal velocidade... Olha a costa... A direita, um farol deve surgir... Observa. Observam. E noite escura. Além, na vastidao escura... uma cintilacdo; mais aten¢do; outra ver. Eis o farol esperado. Além, desenha-se a costa. Entre a tripulacdo e os passageiros exclama-se: “Costa! Costa!” Esse, porém, nao € 0 farol do porto. Este possui caracteristicas diferentes de luz ¢ 0 periodo de cintilagdes também é outro. Recomega-se a navegar, de olhos fixos na costa. Perscruta'se. Sim, é aquele. Luz. mais potente.. 7 JESUS cuisto & pus? Observam-se atentamente as caracteristicas de luz ¢ do periodo de cintilagdes. Exato, tudo certo. Sim, esse é 0 farol do porto. A majestosa nave sulca as aguas. Entre as infinitas direces em que pode navegar pelo Atlantico, entre os infinitos pontos em que podia haver ancorado, 0 barco, de maneira precisa e justa, entra em seu porto de destino. ‘As Ancoras fundam-se nas aguas. Viagem feliz! Chegou ao porto de seu destino. wee Quantos de vés que me ouvis navegais a deriva das paixdes e ao ulular do furacdo das doutrinas! A deriva e a mercé do furacio nem o barco que navega pelo Atlantico chega a seu ancoradouro. Reiteradas observagées feitas pelos técnicos, buissola, carta de marear & frente ¢ mao firme no leme sio indispensiveis para evitar a rota incerta. Na carta de marear com duas coordenadas — longitude e latitu- de, paralelos e meridianos —, localiza-se matematicamente a situagaio do porto. Nao ha outra maneira de bem navegar. Cintilacoes do farol, regulares, precisas, peculiares, concretizam os dados do mapa de navegar. Obedecem-se aos dados do mapa de navegacao? Sao essas as cintilagSes proprias de determinado farol? Sim? Que ninguém duvi- de, Esse € 0 porto, Se alguém, navegando em demanda do porto da Verdade, depa- rar com coordenadas que mostram, com preciso (duas sao suficien- tes para isso), as balizas de um porto; se reconhecer as cintilaces precisas peculiares do farol indicando-o, nfo hi por que duvidar: Mavegue nessa diregio; ancore nesse porto. Eo porto da Verdade. 28 JESUS CRISTO NA PROPECIA EXISTENCIA E AUTENTICIDADE DO PLANO Desenvolvamos diante de nds um plano que, por sua precisio ¢ origem, e por estar elaborado precisamente para balizar o porto da Verdade, devemos estudar com cuidado. Se tal plano fosse posterior & vinda de Nosso Senhor Jesus Cris- to, ndo teria o valor demonsirativo que possui. Se tal plano fosse de data desconhecida, poder-se-ia falar em falsificacio. Aqui esta, entretanto, a forga probatéria, de todo iniludivel, que possuem as indicagdes contidas nesse plano. Séculos anteriores a vinda de Jesus Cristo, encontrava-se esse plano total e detalhadamente delineado. E estava ele custodiado pre~ cisamente pelos inimigos originarios do Cristianismo: Fato criticamente certo. Séculos antes da vinda de Jesus Cristo, tinham os judeus, em suas Escrituras, uma série de vaticinios concre- tos, de caracteristicas especificas, concernentes a0 Messias que cles aguardavam — o Legado Divino — o Filho de Deus. Antes de os samaritanos se separarem dos judeus (722 antes de Cristo}, fato certo era a admissio, por parte dos judeus, dos vaticinios fundamentais (no Pentateuco) relativos ao Mesias. A versio do Antigo Testamento, elaborada pelos 70, do hebreu ao grego, terminou aproximadamente dois séculos antes de Jesus Cristo, pois ja em 130 antes de Cristo era encontrada no Egito. Nessa versio dos 70 encontram-se os vaticinios messidnicos integros, tal como atualmente os lemos. Durante onze séculos, século sucedendo século, foram vaticina~ das as peculiaridades do Legado Divino, umas por meio de um Pro- feta, as demais pelos outros Cinco séculos (no final do século V) antes de sua vinda, termi- nada se encontrava a descrigao dos tragos do Mesias. 29 JESUS CRISTO # DEUS? Ninguém tem o direito de duvidar da genuidade de tais vaticinios. Antes da vinda de Jesus Cristo, possuia-os a Sinagoga. Ainda atualmente essa mesma ‘Sinagoga os conserva intactos, mercé de providencial ¢ sapientissima disposicao de Deus, “Propterea autem judaei sunt, ut libros nostros portent ad confu- sionem suam. Quandoenim volumus ostendere prophetatum Christum, proferimus paganis istas litteras. Et ne forte dicant duri ad fidem, quia nos illas christiani composuimus, et cum Evangelio, quod praedicamus, finxerimus prophetas: hinc eos convincimus, quia omnes ipsae litterae, quibus Christus prophetatus est, apud judaeos sunt, omnes ipsas litteras habent judaci. Proferimus codices ab inimicis, ut confundamus alios inimicos.., Codicem portat judaeus, unde credat christianus. Librarii nostri facti sunt, quomodo solent servi post dominos codices ferre, ut ill portando deficiant, ili legendo proficiane...”! Como comenta bem Santo Agostinho esse excerto! “No nés, mas 05 judeus, sio os conservadores desses livros que sio nossos, Quando queremos demonstrar que. Jesus Cristo foi profetizado, apre- sentamos esses livras aos pagtos. E a fim de que os obstinados em do crer nao viessem dizer-nos que tais livros foram por nds compos- tos ¢ adaptados ao acontecido, agindo, assim, como falsificadores, ‘hinc eos convicimus’, precisamente por isso podemos convencé-los, com evidéncia, de que tal nao assim, porque todos esses livros em que Jesus Cristo esta profetizado ‘apud judaeos sunt’, tados estavam, séculos antes da vinda de Cristo, em poder dos judeus: eles sdo seus guardides.” Apresentamo-lhes os cédices que nossos inimigos possuem, para com cles confundir outros inimigos. “Codicem portat judaeus, und credat christianus.” © judeu leva o eédice para que o cristo creia, “Librari nostri faeti sunt...” Eles sio os nossos arquivistas. E os documentos que conservam para nés remontam de quinze séculos, antes da vinda de Jesus Cristo, até cinco séculos antes da sua chegada. Bela imagem a que Santo 1, Santo Agostinho, in Ps. LXI, 2° 9. 30 JESUS CRISTO NA PROFECIA Agostinho acrescenta: quando 0 escravo est sustentando o livro para que © senhor leia, o pobre servo segura o livro mas nio pode Ié-lo, porque o segura por tris; é 0 senhor quem o le Eles, 0s judeus, conservam para nés os eseritos que durante onze séculos consecutives iam enfeixando os vaticinios do futuro Mesias. ‘Todos esses vaticinios — feito histérico inegavel om ciéncia — esta- ‘vain ja publicados séculos antes da vinda de Cristo. CONTEUDO DESSE PLANO Alguns vaticinios sio0 de um profeta; outros, de outro. Estes foram redatados num local; aqueles noutro. Uns versam sobre uma matéria, outros, sobre outra... Cada profeta descreve wm trago ou uma circunstincia do Messias vindouro. Cada profeta o anuneia solenemente. E todos esses tragos fragmentarios e separados converge para um ponto concreto: a Pessoa Integra do Messias. Vaticinios no periodo patriarcal, judicial, no periodo real, no profético. Foi anunciado: vird o Messias e nascerd da estirpe de Abrado’. E descendera de Isaac’ e, dentre os filhos de Isaac, outro vati- cinio anuncia que descendera de Jacé'; e outro novo vaticinio deter- mina que das doze tribos procedentes dos filhos de Jacé descendera a tribo de Juda’; e, finalmente, outra profecia indica, concretamente, que, dentre as numerosas familias da tribo de Juda, nascera o Messias da familia de Davi’ 2 Ga 2218; 264 3. Gn 26,4 4 Gn 28,04 5. Ga 498. 6. S188 ef passim. JESUS CRISTO f DEUS? “Nao cessaré o poder supremo da tribo de Judi enquanto nao vier 0 Messias”, predisse categoricamente Jacé. i PE Daniel, em termos coneretos de tempo, predisse que, ao findar i: stfenta semanas (de anos) dar-se-ia a prevaricacio do povo judeu, sobrevindo a morte do Messias. “Seri morto o Cristo, ¢ 0 povo que o ha de negar ndo sera mais seu. E um povo, com seu capitdo, que ha de vir, destruird a cidade e 0 santuario; ¢ 0 seu fim seré uma ruina total e, depois do fim da guerra, ali se implantara a desolacao. E (0 Cristo) confirmara a sua (nova) alianga... com muitos”. Quantas recordacdes da Igreja, senhores! Quando todos estavam mergulhados em tristeza porque, ao voltar do cativeiro de Babilénia, encontraram o seu primeiro templo, o de Salomao, destruido © destrogado 0 seu povo%, Ageu consolou-os, anunciando-lhes que um novo templo, embera menos suntuoso que 0 de Salomao, sera mais glorioso que o primeiro, pois nele penetraré © Messias, Malaquias"’ confirmou a predicao dizendo que o Messias viria para o segundo templo e, apés sua vinda, permaneceria para sempre destruido o templo. ‘Miquéias" observou que o local em que nasceria 0 Messias chama-se Belém. Tsaias™ predisse que o Messias doutrinaria especialmente na Galiléia, tratando os pecadores com benignidade ¢ mansidao. Zacarias! predisse a venda do Messias por trinta moedas ¢ que o traidor as langaria no templo, e com elas se compraria uma olaria. 7 Gn 49,10. 8.92607, 9.278 10.3. IL 52. 12 91-2; 421s, 13. 1412 a2 JESUS CRISTO NA FROFECIA Isaias, contrariando a crenga do povo judeu sobre 0 Mesias, predisse que: a) O Mesias iria ser apontado como malfeitor e entre eles co- locado! b) que haveria de ser condenado morte’; ) que haveriam de agoité-lo, esbofeteé-lo ¢ nele escarrar's E essas cenas da Paixio do Messias estio — por sua transcen- déncia — expostas com tal firmeza de detalhe que, assim como cau- sam espanto, inundam a alma de luz. Vejamos. © Mesias serd despojado de sua tinica, dividida, por sorteio, entre os soldados”. Nao se predisse apenas a morte do Messias, mas até o modo pelo qual seria morto, com maos ¢ pés transpassados por cravos”, No suplicio da cruz, sofreria cle 0 tormento da sede, a lingua ressecada como uma telha (que imagem tao viva a da telha secada ao sol abrasador do Oriente!), colada ao paladar®. Para alivié-lo da sede, apresentar-lhe-iam uma esponja embebida em vinagre”. ‘Todos quantos o viam cravado na cruz iam escarnecer dele e, arreganhando os labios e meneando a cabeca, diriam: “Esperou no Senhor: livre-o, salve-o agora, se é que o ama”, Completando a cena, disse Zacarias “que permaneceriam a olhar 0 cadaver aqueles mesmos que o haviam atravessado com suas lanas”™. Predigoes, senhores, concretas, concretas no tempo, concretas no espaco, concretas no fato. 42. 15. 538, 16, 506. 7, SL 2119, 18, SL 21,17 19, SL 21,16 20. SI 68,22, 21. $121,758, 22. Ze 120. JESUS CRISTO DEUS? Nao s4o meras conjeturas nem enunciados equivocos, vagos ¢ imprecisos. Sio predicdes & distincia de séeulos. A duragio histérica da instituicéo pré-profetismo em Israel abrangeu o espago de muitos séculos, e todos os tragos da figura estavam concluidos antes da finalizagao do século V antes do Messias. Nao s&o predigdes a curto prazo, em que talvez se pudesse prever alguma probalidade. Predigdes sobre complicadissimos e miiltiplos acontecimentos, em cuja realizacao teriam de intervir um sem-niimero de vontades ‘humanas, ainda inexistentes, que sé haveriam de intervir na Historia apés o fluir de muitos séculos. Nao predigdes na ordem comum das coisas dependentes de causas necessdrias, como terremotos e cataclismos. Predigées contra todo o pensar e o sentir dos judeus, tais como a destruicao do templo, o fim de sua religio, a vocacao dos gentios, as ignominias que 0 Messias sofreria e a maneira pela qual se verifi- caria a esperada redengio. Predigées de tal sorte banhadas de doutrina que néo hé, atual- mente, racionalista sério e cientifico que ndo reconheca que suas idéias e os preceitos, por sua sabedoria e elevacao, superam em ab- soluto todas as doutrinas de qualquer pove, mesmo dentre os mais cultos dos gentios. Indice, senhores, de sua origem e exclusio do inconsciente charlatanismo. Predigées nao raro em contradi¢ao com as préprias idéias do pe prdpri profeta’, Predigdes de profetas que receberam 0 dom do vaticinio contra a prépria vontade™, pois conheciam e temiam os males que, por isso, haveriam de sofrer. 23, Natanael, 2Rs 7; Is 4; 4Rs 20,15; Jr 43, 24, Am 38; LES; jr 2079. 34 {JESUS CRISTO NA FROFECIA Predigdes em que, como se observa meridianamente, se elimina © fator afetivo, ao qual se poderia atribuir a aceitacéo dos desejos do profeta como revelacdes divinas. Predigdes que, se houvessem sido fruto da mente dos profetas, jamais teriam sido cumpridas, muito menos todas as predigdes de ‘todos 0s profetas no mesmo e nico personagem a que se referiam, REALIZAGAO NO CONTEUDO DO PLANO Essas predigdes concretas, senhores, proclamadas séculos antes de sua realizagio, ao dealbar do tempo preciso e prefixado, cumpri- ram-se exatissima e plenamente. E da estirpe de Abraao descendeu Isaac, e da estirpe de Isaac descendeu Jacd, ¢ da estirpe de Jaco descendeu a tribo de Juda, e da familia de Davi... tudo exatamente como previsto por Daniel cinco séculos antes... Deixou de existir 0 cetro de Jud, como anunciara Jacé, e na insignificante povoagio de Belém, tal como predissera Miquéias, nasceu Nosso Senhor Jesus Cristo, numa preciso de crono- logia ¢ local absoluta. E... Jesus Cristo entrou no segundo templo, como o predisse Ageu, templo esse que, apés a vinda de Jesus Cristo, permaneceu aruinado ¢ derruido, como o profetizou Malaquias. E... a Galiléia transformou-se no lugar principal de suas prega- ses; e... acolheu a adiltera, a samaritana, Zaqueu, Madalena e 0 ladrao,.. com aquela mesma benignidade por Ele descrita no Pai do Filho prédigo e no Bom Pastor, tal como predissera Isaias oito sécu- los atras. Profetizaram-se com abundancia de detalhes os momentos cul- minantes da vida do Mesias, a fim de tornar-se inconfundivel — com 4 mais rigorosa certeza que se possa imaginar — a pessoa do Legado Divino. E tal multiplicidade, e tal minuciosidade de pormenores ti- veram, em Nosso Senhor Jesus Cristo fidelissimo cumprimento na JESUS CRISTO E DEUS? 70* semana de anos, segundo profetizara Daniel; apés haver sido vendido por 30 moedas, como o predissera Zacarias; apontado como malfeitor, condenado 4 morte a pedido do povo, acoitado, esbofeteado, cuspido como, oito séculos antes, o assinalara Isafas em suas profe- clas; despojado de sua tiinica, que os algozes dividiram pela sorte dos dados; cravadas suas mos e pés no lenho do suplicio; atormentado pela secura (“tenho sede!”, exclamava), mas saciado pelo vinagre; escamecido ¢ insultado pelo povo, ao desfalecer nas vascas da ago: nia... como fora previsto, minuciosamente, ponto por ponto, nos Salmos, morria Nosso Senhor Jesus Cristo, cujo corpo lanceado, ja cadaver, como Zacarias o vaticinara, foi enterrado no sepulcro de um homem opulento, José de Arimatéia, como Isafas 0 consignara, PredigSes indubitdveis, de rigorosa exaiidao histérica. Seu cumprimento foi exatissimo; to rigorosamente fiel que, se por acaso nio existisse a prova auténtica de sua veracidade, conser- vada e custodiada pela religiéo judaica desde muitos séculos antes dos fatos, as predigdes mais pareceriam cépias fidelissimas do origi- nal histérico do que meros vaticinios. Pensemos, senhores, sobre todos esses fatos indiscutiveis: a exis- tencia ¢ © cumprimento dessas predicdes. Tao categéricas, to afirmativas, tio abundantes, t4o ricas nos minimos detalhes, cumpridas com a mais fiel exatidio no fluir de séculos apés séculos e no momento preciso por elas assinalado, tais Predigdes jamais poderiam ser fruto da inteligéncia humana, nem qualquer homem sério e de critica cientifica atrever-se-ia a assim supor. Ao homem de estudo, 20 homem que reflete, que é preciso na cigncia, jamais sera necessério ponderar a dificuldade da previsio. Quio dificil, senhores, é predizer! 36 {JESUS CRISTO NA PROFECIA E evidente que nao aludo a uma predi¢ao do género “vamos ver se da certo”, a um predizer puramente conjetural e aventuroso. Va- ticinar dessa forma 6 muito facil, mas esse prognéstico longe esti da predigdo precisa, categoricamente afirmada e matematicamente cumprida da profecia. Predizer, senhores... qué difieuldade! Claro esti que nao falo de um predizer enfittico e presungoso, que anuncia em vio, sem que 0 acontecimento anunciado seja transformado na realidade predita, Predizer! Mesmo os fendmenos meteorolégicos, ferreamente concatenados em suas causas, sio impossiveis de, pelo entendimento humano, serem preditos com longa ou curta antecedéncia, com exa- tidio de temperatura, direcdo e velocidade do vento... milimetros de pluviémetro. Prediges com séculos de antecedéncia seriam, em Meteorologia, o que é o Calendario Saragocence em ciéncias exatas. Havera aqui alguém, senhores, que seriamente possa informar- -me que tempo faré em tal dia e tal hora de 2000? Hi alguém que ‘me diga que tempo teremos em tal dia e tal hora de 2000? Ha alguém aqui que possa me dizer quantos milimetros exata- Mente cairéo no pluvidmetro num determinado dia? Predizer, senho- ites! Prestai atencio! E isto em Metereologia, em que os fendmenos, todos cles, ja estéo contidos em causas naturais, Tudo quanto vai acontecer provém de causas determinantes, que atualmente existem. Mesmo assim, quiio penoso é predizer estas coisas! Predizer! Predizer, nos fendmenos sismicos o local do movimen- to, a designacao do epicentro, a intensidade do terremoto, suas con- Seqiiéncias, e predizé-lo com seguranca e com certeza de realizacdo, a séculos de distancia, nem sequer de dias nem de horas, mas de séculos, é superior 4 compreensio cientifica da inteligéncia humana. Oh! Se no espago de um dia fosse possivel predizer os terremo- tos, nfo aconteceriam as desgragas ocasionadas pelo de Messina, pelo do Japio, pelo da California, Senhores, dificil é a previsio, Reparai: as causas dos abalos ter- restres, todas as que desencadeiam comagées € terremotos, so atual- a7 JESUS CRISTO & DEUS? mente conhecidas, ¢ no desenvolvimento dessas causas est precisa- ‘mente contido 0 terremoto. Pois, apesar de tudo isso, o entendimento humano... que dificil € predizer! Predizer! Predizer 0 sexo de um futuro ser, suas tendéncias, seus estados nosologicos, com sua etiologia exata, com sua sintomatologia € seu prognéstico, dizei-me v6s que sois médico se tal predicdo seria propria do homem de ciéncia que, cem vezes na vida, é impotente para predizer, embora auxiliado por todos os modernos meios de diagnéstico, a evoluco da enfermidade sobre a qual se debruca. Predicées nesse dominio seriam predicdes de cartomante que “deita as cartas” ou de ciganas que, observando as linhas da mio, “tiram a sorte”. Quem isso predissesse com tanta seguranga e tanta serieda- de... tanto mais néscio seria. Predizer! Quio dificil, senhores, sendo impossivel, o profetizar categérico, sério, concreto, com matemiitica realizagao da predicio, mesmo quando se trata de fendmeno como os meteorolégicos, os sismicos, ndo poucas vezes os patol6gicos, que sio fendmenos cuja existéncia esta ferreamente contida em suas causas atualmente conhe- Cidas! E, se tal predizer é impossfvel ao entendimento humano, que se dira da predicéo de futuros dependentes da vontade humana, fu- turos no ferreamente contidos em suas cauisas, como a chuva ou 0 frio que vamos ter amanhii? Predizer, onde a vontade humana intervém! Se sobre nds mesmos € impossivel predizer o que faremos daqui a tantas horas ou dentro de quatro anos! Antes de mais nada, vive- remos tal dia como hoje, dentro de quatro anos? Nao morreu nin- guém, repentinamente, de angina péctoris? As chamadas leis estatisticas jamais predisseram fatos concretos, determinando o local, o tempo e as pessoas. Expressam apenas, segun- do 0 calculo das probabilidader — nada mais que probabilidades —, alguns acontecimentos humanos. Nunca, com 0 auxilio de leis estatisticas, poder-se-A predizer que “no ano de 2000 haveré no mundo tal niimero exato — e ndo pouco 38 {JESUS CRISTO NA FROFECIA mais ou menos — de homicidias; que © primeiro desse ano dar-se-a em tal lugar, em tal rua, de tal maneira, cometido por tal pessoa... (© segundo... o milésimo...” Com antecedéncia de anos, quanto mais de séculos, como & Arduo predizer com exatidéo fendmenos dependentes da vontade humana (e sobretudo quando entra em jogo um sem-mimero de vontades) e predizé-los com pormenores precisos, concretos € milti- plos; excusado € intentar provar, senhores, que, em ciéncia pura, tudo isso € absurdo. Estou diante de um auditério culto, capaz de compreender essa palpitante verdade, sem necessidade de que eu entre em detalhes. Ninguém que possua seriedade cientifica atrever-se-4 a supor a inteligéncia humana possa vaticinar, com absoluta exatidao, através dos séculos, acontecimentos que dependam do miiltiplo con- curso de vontades humanas. Essas previsdes, com as notas de afirmagao categdrica, determinagiio concreta ¢ exata, cumprimento de preciso absoluta sio proprias somente daquele entendimento que, por ser Infinito, esté presente em todos os tempos e perscruta o futuro livre, ainda inexistente, mas que teré realidade fisica em seu tempo. Pertence unicamente a Deus 0 poder de predizer o futuro livre com séculos de antecedéncia e com afirmacio absoluta, determina- io precisa e cumprimento exato de tudo quanto foi predito. Vemos isso com evidéncia. Mais de trinta predigdes foram aqui expostas, feitas durante onze séculos, por varios profetas, de tragos ¢ de detalhes tio minuciosos ¢ pormenorizados quanto variadissimos em seu conteaido, e todas elas perfeita e pontualmente cumpridas, exatamente como foram profeti- zadas, na Pessoa a quem se referem, e somente a Deus podiam ter como Autor. 39

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