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Texto
Era uma vez uma jovem alde, a mais bonita que fosse dado ver; a sua me era
louca por ela e a av mais ainda. Esta boa mulher mandou fazer-lhe um capucho
vermelho, que lhe ficava to bem que em todo o lado lhe chamavam Capuchinho
Vermelho.
Um dia a me, tendo cozido po e feito blas1, disse-lhe: Vai ver como est a tua
av, porque me disseram que est doente; leva-lhe uma bla e este potinho de
manteiga.
Capuchinho Vermelho partiu imediatamente para a casa da av, que morava numa
outra aldeia. Ao passar num bosque encontrou o compadre Lobo, que tinha muita
vontade de com-la, mas no se atrevia a tal por causa de alguns lenhadores que
estavam na floresta. Perguntou-lhe aonde ela ia; a pobre criana, que no sabia que
perigoso deter-se para escutar um Lobo, disse-lhe:
Vou ver a minha av e levar-lhe uma bla com um potinho de manteiga que a
minha me lhe manda.
Ela mora muito longe? perguntou o lobo.
! Sim, disse Capuchinho Vermelho, para l do moinho que v l mesmo ao
fundo, ao fundo, na primeira casa da aldeia.
Pois bem, disse o Lobo, eu tambm quero ir v-la; vou por este caminho e tu
vai por aquele, a ver quem chega l primeiro.
O Lobo desatou a correr com toda a fora pelo caminho mais curto e a jovem foi
pelo caminho mais longo, entretendo-se a colher avels, a correr atrs das borboletas e
a fazer ramos com as florezinhas que encontrava.
O Lobo no demorou muito a chegar a casa da av; bate porta: Toc, toc.
Quem est a?
a sua pequena, Capuchinho Vermelho, disse o Lobo disfarando a voz, que
lhe traz uma bla e um potinho de manteiga que a minha me lhe manda.
A boa av, que estava de cama por se achar adoentada, gritou-lhe: Puxa a cavilha,
que o trinco cair.
A expresso francesa en son dshabill introduz o duplo sentido da camisa de noite que se
esperaria ver numa av e do corpo despido (sentido literal de dshabill) revelador do lobo
selvagem.
tantas delas coma. Digo o lobo, porque nem todos os lobos so do mesmo tipo. H-os
de um humor gracioso, subtis, sem fel e sem clera, que familiares, complacentes e
doces seguem as jovens at s suas casas, at mesmo aos seus quartos; mas ai!
Quem no sabe que estes lobos delicodoces so de todos os lobos os mais perigosos.3
Includo em 1695 num manuscrito intitulado Contes de ma mre Loye e depois publicado, em
1697, em Contes et histoires du temps pass, Avec des moralits sob o nome autoral de Pierre
Darmancour, filho de Charles Perrault, membro da Academia Francesa.