Você está na página 1de 68
CONSTITUIGAO DE 23 DE SETEMBRO DE 1822 EM NOME DA SANTISSIMA E INDIVISIVEL TRINDADE As Cortes Extraordindrias e Constituintes da Nagao Portu- guesa, intimamente convencidas de que as desgracas publicas, que tanto a ttm oprimido ¢ ainda oprimem, tiveram sua origem no des- prezo dos direitos do cidadio, e no esquecimento das leis funda- mentais da Monarquia; e havendo outrossim considerado que somente pelo restabelecimento destas Ici, ampliadas ¢ reformadas, pode conseguir-se a prosperidade da mesma Nao ¢ precaver-se que ela nfo torne a cair no abismo, de que a salvou a herdica vir- tude de seus filhos; decretam a seguinte Constituigiio Politica, a fim de segurar os direitos de cada um, e o bem geral de todos os Portugueses, TITULO I DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS DOS PORTUGUESES CAPITULO UNICO ARTIGO 1.9 ‘A Constituicdo politica da Nacio Portuguesa tem por objecto manter a liberdade, seguranca, ¢ propriedade de todos os Portugueses. ARTIGO 2.9 A liberdade consiste em nJo serem obrigados a fazer o que a lei ndo manda, nem a deixar de fazer o que ela ndo proibe. A conserva- ¢ao desta liberdade depende da exacta observancia das leis. ARTIGO 3° A seguranga pessoal consiste na pratecgSo, que o Governo deve dar a todos, para poderem conservar os scus direitos pessoais. ARTIGO 4° Ninguém deve ser preso sem culpa formada, salvo nos casos, ¢ pela maneira declarada nos artigos 203.° e seguintes. A lei designard as penas, com que devem ser castigados no sé o Juiz que ordenar a prisio arbitrdria e os oficiais que a executarem, mas também a pes- soa que a tiver requerido. ARTIGO 5° A casa de todo o Portugués ¢ pare ele um asilo. Nenbum oficial ptiblico poderd entrar nela sem ordem escrita da competente Auto- Tidade, salvo nos casos, e pelo modo que a lei determinar, ARTIGO 69 A propriedade é um direito sagrado e inviolével, que tem qual- quer Portugués, de dispor a sua vontade de todos os seus bens, segundo as leis, Quando por alguma razo de necessidade piiblica urgente, for preciso que ele seja privado deste direito, serd primeira- mente indemnizado, na forma que as leis estabelecerem. ARTIGO 7° A livre comunicag&o dos pensamentos é um dos mais preciosos direitos do homem. Todo o Portugués pode conseguintemente, sem dependéneia de censura prévia, manifestar suas opinides em qual- quer matéria, contanto que haja de responder pelo abuso desta liberdade nos casos, ¢ pela forma que a lei determinar. ARTIGO 8." As Cortes nomearao um Tribunal Especial, para proteger a liberdade da imprensa, e coibir os delitos resultantes do seu abuso, conforme a disposig&io dos artigos 177.° € 189.9. Quanto porém ao abuso, que se pode fazer desta liberdade em matérias religiosas, fica salva aos Bispos a censura dos escritos publicados sobre dogma e moral, ¢ 0 Governo auxiliard os mesmos Bispos, para serem punidos os culpados. No Brasil haveré também um Tribunal Especial como o de Portugal. 5, ARTIGO 9.° ‘A |ei é igual para todos. Nao se devem portanto tolerar privilé- gios do foro nas causas civeis ou crimes, nem comissdes especiais. Esta disposigéo no compreende as causas, que pela sua natureza pertencerem a julzos particulares, na conformidade das leis. ARTIGO 10° Nenhuma lei, e muito menos a penal, sera estabelecida sem absoluta necessidade. ARTIGO 11." Toda a pena deve ser proporcionada ao delito; ¢ nenhuma pas- sard da pessoa do delinquente. Fica abolida a tortura, a'confiscagao de bens, a infamia, os agoites, 0 baraco e preg&o, a marca de ferro quente, ¢ todas as mais penas cruéis ou infamantes. ARTIGO 12% Todos os, Portugueses podem ser admitidos aos cargos publi- cos, sem outra distingao, que nio seja a dos seus talentos c das suas virtudes. ARTIGO 132 Os oficies piiblicos ndo so propriedade de pessoa alguma. O nimero deles sera rigorosamente restrito ao necessdrio. As pessoas, que os houverem de servir, jurario primeiro observar a Constitui- ¢Go ¢ as leis; ser fidis ao Governo; e bem cumprir suas obrigacées. ARTIGO 14° Todos os empregados publicos serio estritamente responsdveis petos erros de oficio ¢ abusos do poder, na conformidade da Consti- tuigo ¢ da lei. ARTIGO 15° Tado o Portugués tem direito a ser remunerado por servigos importantes feitos A pAtria, nos casos, e pela forma que as leis determinarem. ARTIGO 16° Todo o Portugués podera apresentar por escrito 4s Cortes e ao poder executivo reclamag&es, queixas, ou petigGes, que deverdo ser examinadas. ARTIGO 17. Todo o Portugués tem igualmente o direito de expor qualquer infracgo da Constituigio, e de requerer perante a competente Autoridade a efectiva responsabilidade do infractor. ARTIGO 18° O segredo das cartas ¢ inviolavel. A Admnistragdo do correio fica rigorosamente responsdyel por qualquer infracgfo deste artigo. ARTIGO 19.4 Todo o Portugues deve ser justo. Os seus principais deveres so venerar a Religio; amar a patria; defend@-la com as armas, quando for chamado pela lei; obedecer 4 ConstituicHo e as leis; respeitar as Autoridades pUblicas; e contribuir para as despesas do Estado. TITULO 11 DA NACAO PORTUGUESA, E SEU TERRITORIO RELIGIAO, GOVERNO, E DINASTIA CAPITULO UNICO ARTIGO 20° A Nac&o Portuguesa € a unifo de todos os Portugueses de ambos os Kemisférios. O seu territério forma o Reino Unido de Portugal, Brasil ¢ Algarves, © compreende: 1 —Na Europa, o reino de Portugal, que se compde das provincias do Minho, Tris-os-Montes, Beira, Extremadura, Alen- tejo, ¢ reino do Algarve, e das Ilhas Adjacentes, Madeira, Porto Santo, ¢ Agores; Tl — Na América, o reino do Brasil, que se compée das pro- vincias do Par e Rio Negro, Maranhao, Piaui, Rio Grande do Norte, Ceard, Paraiba, Pernambuco, Alagoas, Bahia e Sergipe, Minas Gerais, Espirito Santo, Rio de Janeiro, $. Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goids, Mato Grosso, ¢ das Hhas de Fernando de Noronha, Trindade, e das mais que so adjacentes aquele reino; 3 HI —Na Africa Ocidental, Bissau ¢ Cacheu; na Costa de Mina, o forte de S. Jo&o Baptista de Ajudé, Angola, Benguela e suas dependéncias, Cabinda e Molembo, as [has de Cabo Verde, ¢ as de S. Tomé e Principe ¢ suas dependéncias; na Costa Oriental, Mocambique, Rio de Sena, Sofala, Inhambane, Quelimane e as Mhas de Cabo Delgado; IV — Na Asia, Salscte, Bardez, Goa, Damdo, Diu, e os esta- belecimentos de Macau e das Ilhas de Solor ¢ Timor. A Nagiio no renuncia o direito, que tenha a qualquer porc&io de tertitério no compreendida no presente artigo. Do territério do Reino Unido se fara conveniente divisao. ARTIGO 21° Todos os Portugueses sto cidadiios, ¢ gozam desta qualidade: 1 — Os filhos de pai Portugués nascidos no Reino Unido; ou que, havendo nascido em pais estrangeiro, vieram estabelecer domicilio no mesmo reino: cessa porém, a necessidade deste domici- lio, se © pai estava no pais estrangeiro em servigo da Nagao; II -- Os filhos ileg{timos de mac Portuguesa nascidos no Reino Unido; ou que, havendo nascido em pais estrangeiro, vicram estabelecer domicilio no mesmo reino. Porém se forem reconhecidos ou legitimados por pai estrangeiro, e houverem nascido no Reino Unido, tera lugar a respeito deles o que abaixo vai disposto no n.° Y; ¢ havendo nascido em pais estrangeiro, o que vai disposto no n° VI; III — Os expostos em qualquer parte do Reino Unido, cujos pais se ignorem; TV — Os escravos que alcangarem carta de alforria; V — 0s filhos de pai estrangeiro, que nasceram e adquirirem domicilio no Reino Unido; contanto que chegados a maioridade declarem, por termo assinado nos livros da Camara do seu domici- Jio, que querem ser cidad&os Portugueses; VE — Os estrangeiros, que obtiverem carta de naturalizacdo. ARTIGO 22° Todo o estrangeiro, que for de maior idade ¢ fixar domicilio no Reino Unido, poderd obter a carta de naturalizagdo, havendo casado com mulher Portuguesa, ou adquiride no mesmo reino algum esta- belecimento em capitais de dinheiro, bens de raiz, agricultura, comércio ow indiistria; introduzido, ou exercitado algum comércio ow industria til; ou feito A Nagao servigos relevantes. Os filhos de pai Portugués, que houver perdido a qualidade de cidadio, se tiverem maior idade ¢ domicilio no Reino Unido, po- derdo obter carta de naturalizagio sem dependéncia de outro requisito. ARTIGO 23° Perde a qualidade de cidadao Portugués: 1—O que se naturalizar em pafs estrangeiro; 11 —O que sem licenga do Governo aceitar emprego, pen- so, ou condecoracao de qualquer Governo estrangciro. ARTIGO 24° O exercicio dos direitos politicos se suspende: 1 — Por incapacidade fisica ou moral; Il — Por sentenga que condene a prisdéo ou degredo, enquanto durarem os efeitos da condenagio. ARTIGO 252 A Religiio da Nac&o Portuguesa & a Catélica Apostélica Romana. Permite-se contudo aos estrangeiros o exercicio particular de respectivos cultos. ARTIGO 26" ‘A soberania reside essencialmente na Nagio. Nao pode porém ser exercituda sendo pelos seus representantes legalmente eleitos. Nenhum individuo ou corporagio exerce autoridade publica, que sc no derive da mesma Nagfo. ARTIGO 27° A Nagao é livre e independente, ¢ ndo pode ser patriménio de ninguém. A ela somente pertence fazer pelos seus Deputados juntos em Cortes a sua Constituigao, ou Lei Fundamental, sem dependén- cia de sangdo do Rei. ARTIGO 28.2 - A Constitui¢do, uma vez feita pelas presentes Cortes extraordi- nérias e constituintes, somente poderd ser reformada ou alterada, depois de haverem passado quatro anos, contados desde a sua publicagao: ¢ quanto aos artigos, cuja execugdo depende de leis regu- lamentares, contados desde a publicacdo dessas Icis. Estas reformas e alteragées se faréo pela maneira seguinte: Passados que sejam os dités quatro anos, se poderd propor em Cortes a reforma, ou alteragiia que se pretender. A proposta serd lida trés vezes com intervalos de oito dias, e se for admitida A dis- cussdo, ¢ concordarem na sua necessidade as duas tergas partes dos Deputados presentes, sera reduzida a decreto, no qual se ordene aos eleitores dos Deputados para a seguinte legislatura, que nias procura- Ges Ihes confiram especial faculdade para poderem fazer a preten- dida alteragéo ou reforma, obrigando-se a reconhecé-la como constitucional no caso de chegar.a ser aprovada, A legislatura, que vier munida com as referidas procuragées, discutira novamente a proposta; e se for aprovada pelas duas tercas partes, sera logo havida como lei constitucional; incluida na Consti- tuig%o; e apresentada ao Rei, na conformidade do artigo 109.9, para ele a fazer publicar ¢ executar em toda a Monarquia. ARTIGO 29.2 O Governo da Nagio Portuguesa é a Monarquia constitucional hereditria, com leis fundamentais, que regulem o exercicio dos trés poderes politicos. ARTIGO 30.2 Estes poderes so legislativo, executivo e judicial. © primeiro reside nas Cortes com dependéncia da sangao do Rei (arts, 110.9, 111.° e 112.°). O segundo esta no Rei € nos Secretarios de Estado, que o exercitam debaixo da autoridade do mesmo Rei. O terceiro est ‘nos Jutzes. Cada um destes poderes é de tal maneira independente, que um no poderd arrogar a si as atribuigdes do outro. ARTIGO 31° A dinastia reinante é a da serenissima casa de Braganca. O nosso Rei actual ¢ 0 scnhor D. Jodo VI. TITULO III DO PODER LEGISLATIVO OU DAS CORTES CAPITULO T ELEICAO DOS DFPUTADOS DE CORTES ARTIGO 32° ‘A Nag&o Portuguesa é representada em Cortes, isto é, no ajun- tamento dos Deputados, que a mesma Nagio para esse fim elege com respeito A povoagiin de todo o territério Portugues. ARTIGO 33° Na eleigéo dos Deputados t¢m voto os Portugueses que estive- rem no exercicio dos direitos de cidaddo (artigos 21.°, 22.°, 23.¢ 24.), tendo domicilio, ou pelo menos residéncia de um ano no con- celho onde se fizer a cleig&io. O domicilio dos Militares da primeira linha e dos da armada sc entende ser no concelho, onde tém quartel permanente os corpos a que pertencem. Da presente disposig&o se exceptuam: 1 — Os menores de vinte ¢ cinco anos; entre os quais con- tudo se no compreendem os casados que tiverem vinte anos; os oficiais militares da mesma idade; os bacharéis formados; ¢ os eléri- pos de ordens sacras; Il — Os fithos-familias, que estiverem no poder ¢ companhia de seus pais, salvo se servirem oficios ptiblicos; III -— Os criados de servir, nfo se entendendo nesta denomi- nagdo os feitores ¢ abegdes, que viverem em casa separada dos lavradores seus amos; IV — Os vadios, isto €, os que’ ndo tém emprego, oficio, ow modo de vida conhecido; V — Os Regulares, entre os quais se nao compreendem os das Ordens militares, nem os secularizados; VI — Os que para o futuro, em chegando & idade de vinte ¢ cinco anos completos, ndo souberem ler ¢ escrever, se tiverem menos de dezassete quando se publicar a Constituigio. ARTIGO 34" Sto absolutamente inelegiveis: 1—Os que nfo podem votar (artigo 33.%); 11 — Os que nao tém para se sustentar renda suficiente, pro- cedida de bens de raiz, comércio, ou emprego; III — Os apresentados por falidos, enquanto se no justificar que © sao de boa fé; IV — Os Secretdrios ¢ Consclheiros de Estado; V —Os que servem empregos da casa Real; VI — Os estrangeiros, posto que tenham carta de natura- lizacio; VII — Os libertos nascidos em pais estrangeiro. ARTIGO 35° Sao respectivamente inelegiveis: IOs que ndo tiverem naturalidade ou residéncia conti- nua ¢ actual, pelo menos de cinco anos, na provincia onde se fizer a eleigao; II — Os Bispos nas suas dioceses; III — Os Pérocos nas suas freguesias; IV — Os Magistrados nos distritos, onde individual ou cole- gialmente exercitam jurisdi¢fio; 0 que se no entende todavia, com ‘os membros do Supremo Tribunal de Justiga (artigo 191.°), nem com outras Autoridades cuja jurisdig#o se estende a todo o reino, nao sendo das especialmente proibidas, V — Finalmente nio podem set eleitos os comandantes dos corpos da primeira e segunda linha pelos Militares seus siibditos. ARTIGO 36° Os Deputados numa legislatura podem ser reeleitos para as seguintes. ARTIGO 37" As eleigdes far-se-do por divisées eleitorais. Cada divisio se formaré de modo, que Ihe correspondam trés até seis Deputados, regulando-se o numero destes na razio de um por cada trinta mil habitantes livres; podendo contudo cada diviséo admitir 0 aumento ou diminuigio de quinze mil, de maneira que @ divisdo, que tiver entre 75 000 e 105000, dar trés Deputados; entre 105 000 ¢ 135 000 dar4 quatro; entre 135000 e¢ 165.000 dara cinco; entre 165000 € 195.000 dard seis Deputados. ARTIGO 38.° A disposigdo do artigo antecedente tem as excepgSes seguintes: I—A cidade de Lisboa e seu termo formara uma s6 divi- 840, posto que o niimero de seus habitantes exceda as 195 000; II — As Ilhas dos Acores, formario trés divisdes, segundo a sua actual distribuigto em comarcas, ¢ cada uma delas dara pelo menos dois Deputados: : III—A respeito do Brasil a lei decidira quantas divisoes dever&o corresponder a cada provincia, e quantos Deputados a cada divistio, regulado o nimero destes na razio de um por cada trinta mil habitantes livres; IV — Pelo que respeita: 1.° — ao reino de Angola e Ben- guela; 2.° — as Ihas de Cabo Verde com Bissau e Cacheu; 3. as de S. Tomé ¢ Principe e suas dependéncias; 4.° — a Mocambique e suas dependéncias; 5.° — aos estados de Goa; 6.° — aos estabeleci- mentos de Macau, Solor e Timor, cada um destes distrites formard uma divisdo, e dari pelo menos um Deputado, qualquer que seja 0 numero de seus habitantes livres. ARTIGO 39° Cada divisdo eleitoral elegeré os Deputados que lhe couberem, com liberdade de os escolher em toda a provincia, Se algum for eleito em muitas divisdes, prevalecerd a eleig&o que se fizer naquela, em que ele tiver resid@ncia; se em nenhuma delas a tiver, serd prefe- rida a da sua naturalidade; se em nenhuma tiver naturalidade nem residéncia, prevaleceré aquela, em que obtiver maior némero de votos; devendo em caso de empate decidir a sorte. Este desempate se fard na Junta preparatéria de Cortes (artigo 77.9). Pela outra ou outras divisdes serio chamados os substitutos correspondentes (artigo 86.°). ARTIGO 40° Por cada Deputado se clegerd um substituto. ARTIGO 41.9 Cada legislatura durard dois anos. A eleigio se fara portanto em anos alternados. ARTIGO 42° A eleigdio far-se-A directamente pelos cidaddos reunidos em assembleias eleitorais, 4 pluralidade de votos dados em escrutinio secreto; no que se proceder pela maneira seguinte: ARTIGO 43° Havera em cada freguesia um livro de matricula rubricado pelo Presidente da Camara, no qual o Péroco escreverd ou fara escrever por ordem alfabética os nomes, moradas, e ocupacées de todos 03 afregueses» que tiverem voto na eleigdo. Estas matriculas serdo veri- ficadas pela Cémara e publicadas dois meses antes da reuniio das assembleias eleitorais, para se poderem notar ¢ emendar quaisquer ilegalidades. ARTIGO 44° A CAmara de cada concelho designara com a conveniente ante- cipacdo tantas assembleias primArias no seu distrito quantas convier segundo a povoag&o ¢ distancia dos lugares; quer seja necessério reunir muitas freguesias em uma s6 assembleia, quer dividir uma freguesia em muitas assembleias; contanto que a nenhuma destas corresponderfio menos de dois mil habitantes, nem mais de seis mil. No Ultramar, se for muito incémodo reunirem-se em uma sd assembleia algumas freguesias rurais pela sua grande distAn podera em cada uma delas formar-se uma sé assembleia, posto que no chegue a ter os dois mil habitantes. ARTIGO 45° Se algum concelho nao chegar a ter dois mil habitantes, for- mara contudo uma assembleia, se tiver mil; ¢ nao os tendo, se unira a0 concelho de menor povoagio que Ihe ficar contiguo. Se ambos unidos ainda nfo chegarem a conter mil habitantes, se unirfo, a outro ou outros; devendo reputar-se cabega de todo aquele que for mais central. Esta reuniao seri designada pelo respective Adminis- trador geral (artigo 212.°). Nas provincias do Ultramar a lei modificara a presente disposi- gdo, como exigit a comodidade dos povos. ARTIGO 46.9 A CAmara designara também as igrejas, em que se hé-de reunir cada-assembleia, ¢ as freguesias ou ruas e lugares de uma freguesia, que a cada uma pertengam; ficando entendido que ninguém seré admitido a votar em assembleia diversa. Estas designagées langaré 0 Escrivao da CAmara num livro de eleigao, que nela haverd, rubri- cado pelo Presidente. ARTIGO 47° Nos concelhos, em que se formarem muitas assembleias, 0 Pre- sidente da Camara presidira Aquela que se reunit na cabega do con- celho; ¢ rcunindo-se ali mais de uma, aquela que a Camara designar. As outras serdio presididas pelos Vercadores efectivos; niio bastando estes, pelos dos anos antecedentes; uns ¢ outros a Camara distribuird por sorte. Nos concelhos, em que os Vereadores efectivos ¢ os dos anos antecedentes nao preencherem o namero dos Presidentes, a Camara nomearé os que faltarem. Na Cidade de Lisboa, enquanto ndo houver bastantes Vereado- res clectivos, serd esta falta suprida pelos Ministros dos bairros € pelos Desembargadores da Relag&o, distribuidos pela Camara. Porém estes Presidentes, reunidas que sejam as assembleias na forma abaixo declarada (artigo 53.°), Ihes proporfio de acordo com 08 Pérocos duas pessoas de confianca publica, uma para entrar no sen lugar, outra para um dos dois Secretdrios (artigo 53."), ¢ feito auto desta eleigio, sairao da mesa. ARTIGO 48.° Com os Presidentes assistirao nas mesas de eleigdo os Parocos das igrejas onde se fizeram as reuniGes. Quando uma freguesia se dividir em muitas assembleias, o Péroco designard sacerdote que @ elas assistam. Os ditos Pérocos ou sacerdotcs tomarfo assento @ mio direita do Presidente. ARTIGO 49° ‘As assembleias eleitorais serio publicas, anunciando-se pre- viamente a sua abertura pelo toque de sinos. Ninguém ali entrar armado. Ninguém tet precedéncia de assento, excepto o Presidente ¢ 0 Paroco ou sacerdote assistente. ARTIGO 50° Em cada assembleia estar presente o livro ou livros de matri- cula, Quando uma freguesia formar muitas assembleias, haverd nelas relagées auténticas dos moradores que as formam, copiados do livto da matricula. Haverd também um caderno rubricado pelo Presidente, em que se escreva 0 auto da cleiciio. ARTIGO 51° ‘As assembleias primarias em Portugal e Algarve se reunirio no primeiro domingo de Agosto do segundo ano da legislatura; nas Ithas Adjacentes no primeiro domingo de Abril; no Brasil ¢ Angola no primeiro domingo de Agosto do ano antecedente; nas Ithas de Cabo Verde no primeire domingo de Novembro também do ano antecedente; nas Ihas de S. Tomé ¢ Principe, Mocambique, Goa © Macau no primeiro domingo de Novembro dois anos antes. ARTIGO 52* No dia prefix no artigo antecedente, & hora determinada, se reunirdo nas igrejas designadas os moradores da cada concelho, que tém voto nas eleicdes, levando escritos cm listas os nomes e ocupa- g6es das pessoas, em quem votardo para Deputados. Cada uma des- tas listas deve encerrar o numero dos Deputados que tocam aquela divisio eleitoral, ¢ mais outros tantos para os substituirem. No reverso delas irdo declarados os concelhos e freguesias dos votantes, sendo estes Militares da primeira ou segunda linha, também os corpos a que pertencem, Tudo isto sera anunciado por editais, que as Camaras mandarao afixar com a conveniente antecipacio, ARTIGO 53° Reunida a assembleia no lugar, dia e hora determinada, celebrar-se-d uma Missa de Espirito Santo, finda a qual, 0 Paroco, ou o sacerdote assistente, fara um breve discurso andlogo ao objecto, ¢ lerd o presente capitulo das eleicdes. Logo o Presidente de acordo com 0 Paroco, ou sacerdote, propord aos cidados presentes duas pessoas de confianga publica para Escrutinadores, duas para Secretarios da eleicio, e em Lisboa uma para Presidente, ¢ outra para Secretario, nos termos do artigo 47.°, Propord mais trés para revezarem a qualquer destes. A assembleia as aprovaré ou desapro- vara por algum sinal, como o de levantar as maos direitas; se alguma delas ndo for aprovada, se renovard a proposta € a votaco quantas vezes for necessdrio. Os Escrutinadores e Secretério eleitos tomaro assento aos lados do Presidente ¢ do Paroco. Esta eleigfio sera logo escrita no caderno e publicada por um dos Secretarios. ARTIGO 54° Depois disto o Presidente ¢ os outros mesatios langardo as suas listas numa urna. Logo se irfio aproximando da mesa um a um todos 0s cidadios presentes; ¢ estando seus nomes escritos no livro da matricula, entregardo as listas, que sem se desdobrarem, serio langadas na urna, depois de se confrontarem as inscrigdes postas no reverso delas com as pessoas, que as apresentarem. Um dos Secretd- rios iré descarregando no livro os nomes dos que as entregarem. ARTIGO 55.° Finda a votagio, mandar4 o Presidente contar, publicar, ¢ escrever no auto o nimero das listas. Entéo um dos Escrutinadores ird lendo em voz alta cada uma delas, bem como as inscrigées pos- tas no seu reverso (artigo 52.°), riscando-se das listas os votos dados nas pessoas proibidas nos nimeros II, III, IV e V do artigo 35.°, Como o Escrutinador for lendo, irdo os Secretarios cscrevendo cada um em sua relagSo, 0 nomes dos votados ¢ o numero dos votos que cada um for obtendo; o que fario pelos nitmeros sucessivos da numeragiio natural, de sorte que o titimo nuimero de cada nome mostre a totalidade dos votos que ele houver obtido; e, como fo- rem escrevendo estes ntimeros, os iro publicando em voz alta. ARTIGO 56" Acabada a leitura das listas, e verificada a conformidade das suas relagGes pelos Escrutinadores ¢ Sccretrio, um destes publicara na assembleia os nomes de todos os votadas, ¢ o numero dos votos que teve cada um. Imediatamente se escreverao no auto por ordem alfabética os nomes dos votados, ¢ por extenso o nimero dos votos de cada um. O auto sera assinado por todos os mesarios, ¢ as listas se queimariio publicamente. ARTIGO 57° Os mesérios nomearZo logo dois de entre si, para os dias abaixo declarados (artigos 61.° e 63.°) irem apresentar a copia do auto na Junta que se ha-de reunir na casa da Camara, se no conce- Tho houver muitas assembleias primarias, ou na que sc bé-de reunir na cabeca da divisfo eleitoral, se houver uma s6. A dita copia sera tirada por um dos Secretérios, assinada por todos os mesarios, fechada e lacrada com selo, Entdo se haver4 por dissolvida a assem- hleia. Os cadernos ¢ relagdes se guardariio no arquivo da Camara, dando-se-lhe a maior publicidade. ARTIGO 58.° No auto da eleig&o se declarar que os cidaddos, que formam aquela assembleia, outorgam aos Deputados que sairem eleitos na Junta da cabega da divisdo eleitoral, a todos e a cada um, amplos poderes para que, reunidos em Cortes com os das outras divisées de toda @ Monarquia Portuguesa, possam, como representantes da Nagdo, fazer tudo 0 que for conducente av bem geral dela, ¢ cum- prir suas fungdes na conformidade, e dentro dos limites que a Cons- Lituigdo prescreve, sem que possam derrogar nem alterar nenhum de seus artigos; e que os oulorgantes se obrigardo a cumprir, e ter por vilido tudo 0 que os ditos Deputados assim fizerem, em conformi- dade da mesma Constituigao. ARTIGO 59° Se ao sol posto nao estiver acabada a votacdo, o Presidente mandard meter as listas ¢ as relagdes num cofre de trés chaves, que sero distribuidas por sorte a trés mesdrios, Este cofre se guardara debaixo de chave na mesma igreja, ¢ no dia seguinte sera apresen- tado na mesa da eleigao, ¢ ai aberto em presenca da assembleia. ARTIGO 60.° Se o Presidente, depois de entregues todas as listas, previr que © apuramento delas nao poderd concluir-se até 4 segunda-feira seguinte, propora de acordo com 0 Péroco aos cidadaos presentes, como no artigo 53.°, Escrutinadores ¢ Secretarios para outra mesa. Para esta passard uma parte das listas, ¢ nela se praticard simulta- neamente o mesmo que na primeira, onde finalmente se reunirdo as quatro relagées, e se procederd como fica disposto no artigo 56.°. ARTIGO 61° Quando no concelho houver mais uma assembieia priméria, os portadores das cépias dos autos da elei¢do (artigo 57.9) se reunirdo no domingo seguinte. e no Miramar naquele que abaixo vai decla- rado (artigo 74.9), A hora indicada nos editais, em Junta piiblica na casa da Camara com o Presidente desta, ¢ o Péroco que com ele assistiu na agsembleia antecedente. Logo elegeriio de entre si dois Escrutinadores e dois Secretarios, e abrindo-se os ditos autos, 0 Presidente os fara ler em voz alta, ¢ 0s Secretérios irio escrevendo os nomes em duas relagdes. Dai cm diante se praticaré o mais que fica disposto nos artigos 55.° ¢ 56.°. Na diviso de Lisboa fica cessando a presente Junta, ¢ sé tem lugar a que vai determinada no artigo 63.°, que soré formada dos portadorcs das listas das assembleias primérias. ARTIGO 62° Os mesérios sucessivamente elegerfo dois de entre si, que no dia abaixo declarado (artigo 63.°) apresentem a cépia deste auto na Junta da cabega da divisio eleitoral. A respeito desta cépia, da dissolugdo da Junta, e da guarda ¢ publicidade do caderno e rela des, se fara o mesmo que fica disposto no artigo 57.°. ARTIGO 63° No terceiro domingo de Agosto, ¢ nas Ilhas Adjacentes ¢ Ultra- mar -naquele que abaixo vai declarado (artigo 74.9), se congregaro em Junta piblica na casa da Camara da cabega da divisio eleitoral 08 portadores das cépias dos autos de toda a divisio com o Presi dente da mesma Camara e o Péroco que com ele assistiu na asse bleia antecedente. Procederfio logo a eleger Escrutinadores ¢ Secretarios; praticar-se-4 o mesmo, que fica disposto nos artigos 61.° ¢ 55.°. Como o escrutinador, e apurados os votos sairfo elcitos Deputados, assim ordindrios como substitutos, aqueles que obtive- rem pluralidade absoluta, isto €, aqueles cujos nomes se acharem escritos em mais de metade das listas. De entre eles serio Deputa- dos ordinarios os que tiverem mais votos, ¢ substitutos os que se The seguircm imediatamente; ¢ por essa ordem se escreverfio seus nomes no auto. Em caso de empate decidiré a sorte. Depois se pra~ ticara o mais, que fica disposto no artigo 56.°, ficando entendido que as relagdes sc hdo-de guardar, como dispde o artigo 62.°. ARTIGO 64° Se nfo obtiverem pluralidade absoluta pessoas bastantes para preencher o numero dos Deputados ¢ substitutos, se fara uma rela~ Go, que contenha trés vezes o niimero que faltar, formada dos nomes daqueles que tiverem mais votos, com declaragéo do numero que teve cada um. Esta relac&o sera lida em voz alta, e copiada no auto, Feito isto, a Junta se havera por dissolvida. ARTIGO 65. © Presidente fard logo publicar a dita relagio, e, tiradas por um Tabelifio tantas c6pias dela quantos forem os concelhos da divi- sSo eleitoral, assinadas por ele e conferidas pelo Escrivio da Camara, as remeteré as CAmaras dos ditos concelhos, Os Presiden- tes destas imediatamente remeterfo cépias tradas pelos Escrivies das mesmas e por ambos assinadas, aos Presidentes que foram das assembleias primarias, para as fazerem logo registar nos cadernos de que trata o artigo 50.°, ¢ thes darem a maior publicidade. ARTIGO 66." No mesmo tempo as CAmaras convocaro por editais (artigo 52.°) os moradores do concelho para nova reunigo das assembleias primarias, anunciando: 1.° — que esta se fara no terceiro domingo depois daquele em que se congregou a Junta da cabega da divisio eleitoral ¢ nas Ilhas Adjacentes e Ultramar naquele que abaixo vai declarado (artigo 74.%); 2.° — qual é 0 ntimero dos Deputados ordi- nérios ¢ substitutos que falta para se eleger; 3.° — que os votantes hdo-de formar suas listas tirando o dito némero de entre os nomes incluidos na relagdo, que foi remetida da dita Junta, a qual seré transcrita nos editais. ARTIGO 67° Nesta segunda reunitio das assembleias primarias se procederd em tudo como fica disposte nos artigos 54.°, 55.9, 56.°, 57.9, 59.°, 60.°, 61.9, 62.° © 63.%; com declarago: 1.° — que os mesarios sero os mesmos, que foram na primeira reunido; 2.° — que as relacdes vindas da cabeca da divisio eleitoral se guardardo nos arquivos das CAmaras; 3.° — que apurados os votos em nova Junta da cabeca da divisio, sairdo cleitos Deputados ordindrios ¢ substitutos aqueles, ‘em que recairem mais votos (artigo 63.°), posto que no obtenham a pluralidade absoluta; devendo em caso de empate decidir a sorte. Na falta ou impedimento de algum dos mesiirios se elegeré outro, como na primeira vez. ARTIGO 68° Ent&o se haverd por dissolvida a Junta. O livra da eleigio se guardara no arquivo da Camara depois de se Ihe haver dado a maior publicidade. ARTIGO 69.2 No auto desta eleig&o se declarara haver constado pelos autos remetidos de todas as assembleias primarias da divisio cleitoral, que os moradores dela outorgarao aos Deputados agora eleitos os pode- res declarados no artigo 58.°, cujo teor se transcrevera no mesmo auto. ARTIGO 70° Conclufdo este acto, a assembleia assistiré a um solene Te Deum, cantado na igreja principal, indo entre os mesarios aquelas Deputados, que se acharem presentes. ARTIGO 71° A cada Deputado se entregaré uma cépia do auto da cleigdo, € se remeteré logo outra 4 Deputagio permanente (artigo 117.9), tira- das por um Tabeligo, ¢ conferidas pelo Escrivio da CAmara. ARTIGO 72° ‘As davidas que ocorrerem nas assembleias primArias serao decididas verbaimente e sem recurso por uma comissfo de cinco membros, cleitos na ocasido, e pelo modo por que se procede 4 formagao da mesa (artigo 53.9). Porém esta comissao nao conhecerd das diividas relativas 4 ele~ gibilidade das pessoas votadas, salvo nos termos do artigo 55.°, por pertencer agucle conhecimento 4 Junta preparatéria de Cortes (artigo 77.9). ARTIGO 73° Nas assembleias eleitorais s6 podera tratar-se de objectos relati- vos as eleigdes. Sera nulo tudo 0 que se fizer contra esta disposigao. ARTIGO 74° Nas lihas Adjacentes ¢ Ultramar se observard 0 disposto neste capitulo com as modificagdes seguintes: 1 —Nas Iihas Adjacentes a reunido da Junta da cabega da divisio eleitoral (artigo 63.9), se faré no primeiro domingo depois que a ela chegarem os portadores dos autos das elei¢ées de toda a divisdo, Para o segundo escrutinio as assembleias primdrias se reunirfo no terceiro domingo depois que em cada concelho se hou- verem recebido da Junta da cabega da divisdo as cépias (artigo 65.°), as Juntas de cancelho no domingo seguinte ao dito terceiro domingo; as de cabeca de divisdo no primeiro domingo depois que a cla chegarem os portadores dos autos das eleigdes de toda a divisio; 11 —No Ultramar as Juntas de concelho, as de cabega de divisio, ¢ no segundo escrutinio as assembleias primérias ¢ as Jun- tas de concelho ¢ de cabeca de divisdo, se reunirao no domingo que designar a Autoridade civil superior da provincia, ¢ scré o mais préximo poss{vel; IIL — As reuniées para o segundo escrutinio em Angola, Cabo Verde, Mocambique, ¢ Macau, nao dependem da votagio dos habitantes dos lugares remotos de cada uma destas divisdes; devendo votar nelas somente os que se acharem presentes num prazo tal que nfo se retarde consideravelmente 0 complemento das eleigdes. CAPITULO II DA REUNIAO DAS CORTES ARTIGO 75° Antes do dia quinze de Novembro os Deputados se apresenta- rio A Deputagdo permanente, que fara escrever scus nomes num livro de registo, com declaragdo das divisées eleitorais a que pertencem. ARTIGO 76° No dia quinze de Novembro se reunirdio os Deputados em pri: meira Junta preparatdria na sala das Cortes, servindo de Presidente 0 da Deputagio permanente, ¢ de Escrutinadores ¢ Secretirios os que ela nomear de entre os seus membros, Logo se procederd na verificagio das procuragées, nomeando-se uma comissAo de cinco Deputados para as examinar, e outra de trés para examinar as dos ditos cinco. ARTIGO 77° Até ao dia vinte de Novembro se continuard a reunir uma ou mais vezes a Junta preparatéria, para verificar a legitimidade das procuragdes ¢ as qualidades dos eleitos; resolvendo definitivamente quaisquer davidas, que sobre isso se moverem. ARTIGO 78° No dia vinte de Novembro a mesma Junta elegera de entre os Deputados por escrutinio secreto a pluralidade absoluta de votos, para servirem no primeiro més, um Presidente ¢ um Vice- Presidente, ¢ A pluralidade relativa quatro Secrctdrios. Imediata- mente irgo todos a igreja catedral assistir a uma Missa solene do Espitito Santo; ¢ no fim dela o celebrante deferird o juramento seguinte ao Presidente, que pondo a mio direita no livro dos santos Evangelhos dird: Juro manter a Religido Catélica Apostdlica Romana; guardar e fazer guardar a Constitui¢ao politica da Monar- quia Portuguesa, que decretaram as Cortes extraordindrias ¢ consti- tuintes do ano de 1821; e cumprir bem e fielmente as obrigacées de Deputado em Cortes, na conformidade da mesma Constituigdo. O mesmo juramento prestara o Vice-Presidente ¢ Deputados, pondoa mio no livro dos Evangelhos e dizendo somente: Assim 0 juro. ARTIGO 79.° Acabada a solenidade religiosa, os Deputados se dirigirao 4 sata das Cortes, onde o Presidente declarard que estas ‘se acham instaladas. Nomearé logo uma Deputagdo composta de doze Depu- tados, dois dos quais Secretarios, para dar parte ao Rei da referida instalacio, e saber, se hd-de assistir & abertura das Cortes. ‘Achando-se o Rei fora do lugar das Cortes, esta participagao se Ihe faré por escrito, e 0 Rei responderd pelo mesmo modo. ARTIGO 80° No primeiro dia do més de Dezembro de cada ano 0 Presidente com os Deputados que se acharem presentes em Lisboa, capital do Reino Unido, abrird impreterivelmente a primeira sessiio de Cortes. Neste momento cessara em suas funges a Deputag&io permanente. O Rei assistira pessoalmente se for sua vontade, entrando na sala sem guarda, acompanhado somente das pessoas que determinar a regimento do governo interior das Cortes. Fara um discurso ade- quado a solenidade, a que o Presidente deve responder como cum- prir. Se ndo houver de assistir, irao em seu nome os Secretarios de Estado, ¢ um deles recitard o referido discurso, e o entregard ao Presidente. Isto mesmo se deve observar quando as Cortes se fecharem. ARTIGO 81° No segundo ano de cada legislatura ndo havera Junta prepara- téria nem juramento (artigos 76.°, 77.° ¢ 78.°), ¢ os Deputados, reunidos no dia vinte de Novembro na sala das Cortes, servindo de Presidente o ultimo do ano passado, procederdo a eleger novo Pre- sidente, Vice-Presidente ¢ Sccretarios; ¢ havendo assistido A Missa do Espirito Santo, proceder’o em tudo o mais como no primeiro ano. ARTIGO 82° As Cortes com justa causa, aprovada pelas duas tergas partes dos Deputados, poderdo trasladar-se da capital deste reino para outro qualquer lugar. Se durante os intervalos das duas sessdes de Cortes sobrevier invasfio de inimigos, peste, ou outra causa urgen- tissima, podera a Deputacdo permanente determinar a referida tras- ladagdo, e dar outras quaisquer providéncias que julgar convenientes, as quais ficardo sujcitas A aprovagdo das Cortes. ARTIGO 83° Cada uma das duas sessées da legislatura durard trés meses consecutivos, ¢ somente poderd prorrogar-se por mais um: I —Se o Rei o pedir; Tl — Se houver justa causa aprovada pelas duas tergas partes dos Deputados presentes. ARTIGO 84" Aquele, que sair cleito Deputado, no sera escuso sendo por impedimento legitimo ¢ permanente, justificado perante as Cortes. Sendo alguém reeleito na eleig&o imediata, The ficard livre o escusar- se; mas no poderd, durante os dois anos de legislatura de que se escusou, aceitar do Governo emprego algum, salvo se este Ihe com- petir por antiguidade ou escala na carreira de sua profissio. ARTIGO 85° A justificagio dos impedimentos dos Deputados residentes no Ultramar se fard perante a Junta da cabega da respectiva divisio cleitoral, se ainda estiver reunida; ¢ no o estando, perante a Junta preparatéria (artigo 77.°), ou perante as Cortes. Por divisio respectiva se entende aquela em que foi eleito o Deputado de cuja escusa se tratar; ¢ sendo eleito em muitas, aquela que prevalecer, segundo 0 artigo 39.° ARTIGO 862 Quando algum Deputado for escuso, a Autoridade que 0 escu- sar chamaré logo o seu substituto segundo a ordem da pluralidade dos votos (artigo 63.°). ARTIGO 879 Com os Deputados de cada uma das divisées eleitorais do Ultramar vird logo para Lisboa o primeiro substituto, salvo se em Portugal ¢ Algarve residir algum; no qual caso entrard este em Jugar do Deputado que faltar. Se forem reeleitos alguns Deputados efecti- vos, virio logo tantos substitutos quantos forem os reeleitos, des- contados os que residirem em Portugal e Algarve. ARTIGO 88° As procuragdes dos substitutos, ¢ bem assim as dos Deputados que se no apresentaram no dia aprazado, serio verificadas em Cor- tes por uma comissilo, ¢ assim, a uns como a outros o Presidente deferira juramento. ARTIGO 89.2 Se os Deputados de alguma provincia nao puderem apresentar- se nas Cortes, impedidos por invaso de inimigos ou bloqueio, con- tinuardo a servir em sev lugar os Deputados antecedentes, até que os impedidos se apresentem. ARTIGO 90° ‘As sess6es serio publicas; ¢ somente poderd haver sessio seereta, quando as Cortes na conformidade do seu regimento inte- rior entenderem ser necessdrio; 0 que nunca teré lugar tratando-se de discussio de lei. ARTIGO 91" Ao Rei nfo é permitido assistir As Cortes, excepto na sua aber- tura e conclusdo. Elas nao poderdo deliberar em sua presenga. Indo porém os Seeretérios de Estado em nome do Rei, ou chamados pelas Cortes, propor ou explicar algum negécio, poderiio assistir & discussio, e falar nela na conformidade do regimento das Cortes; ‘mas nunca estardo presentes 4 votacdo. ARTIGO 92° © Sceretdrio de Estado dos negécios da guerra na primeira ses- so depois de abertas as Cortes ird informd-las do nimero de tro- pas, que se acharem acantonadas na capital, ¢ na distancia de doze léguas em redor; ¢ bem assim das posig6es que ocuparem, para que as Cortes determinem 0 que convier. ARTIGO 93° Sobre tudo o que for relativo ao governo, e ordem interior das Cortes, se observard 0 seu regimento, no qual se poderdo fazer para o futuro as alteragées convenientes. CAPITULO IIT DOS DEPUTADOS DE CORTES ARTIGO 94° Cada Deputado ¢ procurador e representante de toda a Nagao, e nfo o é somente da divisio que o elegeu. ARTIGO 95° Nao & permitido aos Deputados protestar contra as decisées das Cortes; mas poderio fazer declarar na acta o seu voto sem o motivar. ARTIGO 96° Os Deputados so invioldveis pelas opiniées, que proferirem nas Cortes, ¢ nunca por elas serfo responsaveis. ARTIGO 97° Se algum Deputado for pronunciado, o Juiz, suspendendo todo o ulterior procedimento, dard conta as Cortes, as quais decidirao se 9 processo deva continuar, e 0 Deputado scr ou nao suspenso no exercicio de suas fungées. ARTIGO 98° Desde o dia, em que os Deputados se apresentarem Deputa- gio permanente, até aquele, em que acabarem as sessées, vencerfo um subsidio pecunidrio, taxado pelas Cortes no segundo ano da legislatura antecedente. Além disto sc lhes arbitrara uma indemniza- co para as despesas da vinda e volta. Aos do Ultramar (entre os quais se nfo entendem os das IIhas Adjacentes) se assinard de mais um subsidio para o tempo do intcrvalo das sessGes das Cortes: 0 que no se entende dos estabelecidos em Portugal e Algarve. Estes subsidios e indemnizagdes se pagardio pelo tesouro piiblico. ARTIGO 99° Nenhum Deputado desde o dia, em que a sua cleigao constar na Deputagiio permanente até ao fim da legislatura, podera aceitar ow solicitar para si nem para outrem pensio ou condecoracho alguma, Isto mesmo sc entender& dos empregos providos pelo Rei, salvo s¢ Ihe competirem por antiguidade ou escala na carreira da sua profissio. ARTIGO 100° Os Deputados, durante o tempo das sessdes das Cortes, ficaro inibidos do exercicio dos seus empregos eclesidsticos, civis, e milita- res, No intervalo das sess6es no podera o Rei empregé-los fora do reino de Portugal e Algarve; nem mesmo irdo exercer scus empre- gos, quando isso os impossibilite para se reunirem no caso de con- vocacio de Cortes extraordindrias; ARTIGO 101° Se por algum caso extraordindrio, de que dependa a seguranga piblica ou o bem do Estado, for indispensivel que algum dos Deputados saia das Cortes para outra ocupagio, clas 0 poderao determinar, concordando nisso as suas tergas partes dos votos. CAPITULO IV DAS ATRIBUICOES DAS CORTES ARTIGO 102° Pertence as Cortes: I — Fazer as leis, interpreté-las, e revogi-las; II — Promover a observancia da Constituigiio ¢ das keis, ¢ em geral o bem da Nagdo Portuguesa. ARTIGO 103. ‘Competem as Cortes, sem dependéncia da sangfo Real, as atri- buigdes seguintes: I — Tomar juramento ao Rei, ao Principe Real, e 4 Regen cia ou Regente; Il — Reconhecer o Principe Real como sucessor da Coroa, ¢ aprovar o plano de sua educacdo; 111 — Nomear tutor ao Rei menor; IV — Eleger a Regéncia ou o Regente (artigos 148.° 150.%); V — Resolver as dividas que ocorrerem sobre a sucesso da Coroa; VI — Aprovar os trabalhos da alianga ofensiva ou defensiva, de subsidios, ¢ de comércio, antes de screm ratificados, VII — Fixar todos os anos sobre proposta ou informagio do Governo as forcas de terra e mar, assim as ordindrias em tempo de paz, como as extraordinarias em tempo de guerra; VIII — Conceder ou negar a entrada de forcas cstrangeiras de terra ou mar, dentro do reino ou dos postos dele; IX — Fixar anualmente os impostos, ¢ as despesas piiblicas; repartir a contribuicdo directa pelos distritos das Juntas administra- tivas (artigo 228.%); fiscalizer o emprego das rendas piblicas, ¢ as contas da sua receita ¢ despesa; X — Autorizar o Governo para contrair empréstimos. As condigScs deles thes serio presentes, excepto nos casos de urgéncia; XI — Estahelecer os meios adequados para o pagamento da divida publica; XII — Regular a administragdo dos bens nacionais, e decretas a sua alienagio em caso de necessidade; XLIL -~ Criar ou suprimir empregos ¢ oficios piblicos, ¢ estabe- lecer os seus ordenados; XIV — Determinar a insorig&o, peso, valor, lei, tipo, e denomi- nagéo das moedas; XV — Fazer verificar a responsabilidade dos Secretarios de Estado, ¢ dos mais empregados pablicos; XVI — Regular o que toca ao regime interior das Cortes. CAPITULO V DO EXERCICIO DO PODER LEGISLATIVO ARTIGO 104° Lei é vontade dos cidad@os declarada pela unanimidade ou plu- ralidade dos votos de seus representantes juntos com Cortes, prece- dendo discussfio publica. A lei obriga os cidad&ios sem dependéncia da sua aceitagao. ARTIGO 105° A iniciativa directa das leis somente compete aos representantes da Nagio juntos em Cortes. Podem contudo os Secretérios de Estado fazer propostas, as quais, depois de examinadas por uma comissdo das Cortes, poderao ser convertidas em projectos de lei. ARTIGO 106° Qualquer projecto de lei sera lido primeira ¢ segunda vez com intervalo de oito dias. A segunda leitura as Cortes decidiriio, se hi- -de ser discutido: neste caso se imprimirao e distribuirao pelos Depu- tados os exemplares necessdrios, e passados oito dias, se assinard aquele em que hd4-de principiar a discusséo, Esta durara uma ou mais sessdes, até que o projecto parega suficientemente examinado. Imediatamente resolveriio as Cortes se tem lugar a votacdo: deci. dido que sim, procede-se a ela. Cada proposigéio se entende vencida pela pluralidade absoluta de votos, ARTIGO 107° Em caso urgente, declarado tal pelas duas tergas partes dos Deputados presentes, poderé no mesmo dia, em que se apresentar 0 projecto, principiar-se, ¢ mesmo ultimar-se a discusso; porém a lei serd ent&o havida como proviséria. ARTIGO 108° Se um projecto nao for admitido a discusso ou a votagio, ou, se admitido, for rejeitado, néo poderd tornar a ser proposto na mesma sessio da Icgislatura. ARTIGO 1099 Se o projecto for aprovado, serd reduzido a lei, a qual, depois de ser lida nas Cortes, ¢ assinada pelo Presidente ¢ dois Secretarios, sera apresentada ao Rei em duplicado por uma Deputagio de cinco dos seus membros, nomeados pelo Presidente, Se o Rei estiver fora da capital, a lei Ihe seré apresentada pelo Secretario de Estado da respectiva repartico, ARTIGO Nos Ao Rei pertence dar a sango a lei: 0 que fard pela seguinte férmula assinada de sua mao: Sanciono, e publique-se como lei, Se o Rei, ouvido 0 Conselho de Estado, entender que ha razdes para a lei dever suprimir-se on alterar-se, poder suspender a sanco por esta férmula: Volte as Cortes, expondo debaixo da sua assina~ tura as sobreditas razdes. Estas serdo presentes as Cortes, e, impres- sas, se discutirdo. Vencendo-se que sem embargo delas passe a lei como estava, seré novamente apresentada ao Rei, que lhe daré logo a sangao. Se as razdes expostas forem atendidas, a lei sera suprimida ou alterada, ¢ no poderd tornar a tratar-se dela na mesma sessfio da legislatura, ARTIGO 111° O Rei deverd dar ou suspender a sangéo no prazo de um més. Quanto as leis provisérias feitas em casos urgentes (artigo 107.9), as Cortes determinar&o 0 prazo dentro do qual as deva sancionar. Se as Cortes se fecharem antes de expirar aquele prazo, este se prolongaré até aos primeiros oito dias da seguinte sesso da Icgislatura. ARTIGO 112° Nao dependem da sango Real: I-A presente Constituigdo, ¢ as alteragSes que nela se fizerem para o futuro (artigo 28.°); II — Todas as leis, ou quaisquer outras disposigdes das pre- sentes Cortes extraordinarias e constituintes; Ill — As decisées concernentes aos objectos de que trata o artigo 103.9. ARTIGO 113." Sancionada a lei, a mandaré o Rei publicar pela formula seguinte: «Dom F... por graca de Deus e pela Constituigdo da Monarquia, Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves daquém e d’além mar em Africa, etc. Fago saber a todos os meus stibditos, que as Cortes decretaram, e eu sancionei a lei seguinte (aqui o texto dela). Portanto mando as todas as Autoridades, a quem o conhecimento e execugdo da referida lei pertencer, que a cumpram e executem tao inteiramente como nela se contém. O Secretdrio de Estado dos negécios d... (o da respectiva repartigo) a faga imprimir, publicar, e correr.» O dito Secretrio referendara a lei, ¢ a fara sclar. com o selo do Estado, ¢ guardar um dos originais no arquivo da Torre do Tombo, © outro (artigo 109.9), depois de assinado pelo Rei ¢ referendado pelo Secretdrio, se guardara no arquivo das Cortes. As leis independentes de sangio serio publicadas com esta mesma formula, suprimidas as palavras: ¢ eu sancionei. ARTIGO 114° Se o Rei nos prazos estabelecidos nos artigos 110.9 ¢ 111.°, ndo der sancdo a lei, ficard entendido que a deu, ea lei se publicaré. Se porém recusar assind-la, as Cortes a mandardo publicar em nome do Rei, devendo ser assinada pela pessoa em quem recair o poder executivo, ARTIGO 115° A Regéncia, ou Regente do Reino tera sobre a sango, e publi- eacdo das Icis a autoridade que as Cortes designarem, a qual nao serd maior que a que fica concedida ao Rei. ARTIGO 116." As disposigdes sobre a formagiio das leis se observariio do mesmo modo quanto a sua revogagdo. CAPITULO VI DA DEPUTACAQ PERMANENTE, E DA REUNIAQ EXTRAORDINARIA DE CORTES ARTIGO 1172 As Cortes, antes de fecharem cada uma das suas sessées da legislatura, clegerdo sete de entre os seus membros, a saber, trés das provineias da Europa, irés das do Ultramar, ¢ 0 sétimo sorteado entre um da Europa e outro do Ultrmar. Também eleyerao dois substitutos de entre os Deputados europeus ¢ ultramarinos, cada um dos quais respectivamente scrvird na falta de qualquer dos Deputados. Destes sete Deputados se formard uma Junta, intitulada Depu- tagdo permanente das Cortes, que ha-de residir na capital até o momento da seguinte abertura das Cortes ordindrias. A Deputagio elegerd em cada més de entre seus membros um Presidente, a quem nflo poderd reeleger em meses sucessivos, ¢ um Secretério, que podera ser sucessivamente reeleito. Se algumas provincias do Reino Unido vierem a perder o direito de ser representadas em Cortes, proverdo estas sobre o modo de se formar a Deputagio permanente, sem contudo sc alterar 0 mimero de seus membros, ARTIGO 118.° Pertence a esta Deputacio: 1— Promover a reunido das assembleias elcitorais no caso de haver nisso alguma negligéncia; HH — Preparar a reuniao das Cortes (artigos 75.° ¢ seguintes); Ill Convocar as Cortes extraordinariamente nos casos declarados no artigo 119,%; IV — Vigiar sobre a observancia da Constituigao ¢ das leis, para instruir as Cortes futuras das infracgdes que houver notado; havendo do Governo as informagées que julgar necessdrias para esse fim; V — Prover A trasladacdo das Cortes no caso do artigo 82.°; VI — Promaver a instalagio da Regéncia provisional nos casos do artigo 149.°, ARTIGO 119. A Deputagéo permanente convocard extraordinariamente as Cortes para um dia determinado, quando acontecer algum dos casos seguintes: I —Se vagar a Coroa; I —Se o Rei a quiser abdicar; Hl — Se se impossibilitar para governar (artigo 150.°); IV — Se ocorrer algum negécio Atduo e urgente, ou circuns- tncias perigosas ao Estado, segundo o parecer da Deputagdo per- manente, ou do Rei, que nesse caso o comunicaré 4 mesma Deputacao, para ela expedir as ordens necessdrias. ARTIGO 129.9 Reunidas as Cortes extraordinarias, tratario unicamente do objecto para que foram convocadas; separar-sc-Ao logo que o tenham concluido; e se antes disso chegar o dia quinze de Novem- bro, acresceré s novas Cortes o ulterior conhecimento do mesmo abjecto. Durante a reunido das Cortes extraordindrias, continuard a Deputacdo permanente em suas fungdes, TITULO IV DO PODER EXECUTIVO OU DO REI CAPITULO I DA AUTORIDADE, JURAMENTO, E INVIOLABILIDADE DO REI ARTIGO 121° A autoridade do Rei provém da Nag4o, e é indivisivel e inalienavel. ARNIGO 122° Esta autoridade geralmente consiste om fazer executar as leis; expedir os decretos, instrugdes e regulamentos adequados a esse fim; e prover a tudo o que for concernente & seguranga interna ¢ externa do Estado, na forma da Constituicao. Os ditos decretos, instrugdes ¢ regulamentos serio passados em nome do Rei. ARTIGO 123° Especiatmente competem ao Rei as atribuicdes seguintes: 1 Sancionar e promulgar as leis (artigos 110.° e 113.°); If — Nomear e¢ demitir livremente os Secretarios de Estado; IT — Nomear os Magistrados, precedendo proposta do Con- selho de Estado feita na conformidade da lei; IV — Prover segundo a lei todos os mais empregos civis que no forem electivos, e bem assim os militares; V — Apresentar para os bispados, precedendo proposta tri- pla do Conselho de Estado. Apresentar para os beneficios eclesidsti- cos de padroado Real curados ou ngo-curados, precedendo concurso e exame piblico perante os Prelados diocesanos; ‘VI — Nomear os comandantes da forga armada de terra ¢ mar, ¢ empregi-la como entender que melhor convém ao servigo publico. Porém quando perigar a liberdade da Nagao ¢ 0 sistema consti- tucional, poderfio as Cortes fazer estas nomeagées. Em tempo de paz nfo haverd comandante em chefe do exército nem da armada; VII — Nomear os Embaixadores e mais Agentes diplomaticos, ouvido o Conselho de Estado; ¢ os Cénsules sem dependéncia de o ouvir; VIL — Dirigir as negociagdes politicas e comerciais com as nagées estrangeiras; IX — Conceder cartas de naturalizacdo, e privilégios exclusi- vos a favor da industria, cm conformidade das Icis; X —Conceder titulos, honras e distingSes, em recompensa de servigos, na conformidade das lei Quanto a remuneragées pecunidrias, que pela mesma causa entender se devam conferir, somente o fard com anterior aprovagdio das Cortes; fazendo-Ihes para esse fim apresentar na primeira sesso de cada ano uma lista motivada; 5 XI — Perdoar ou minorar as penas aos delinquentes na con- formidade das leis; XII — Conceder ou negar o seu beneplacito aos decretos dos Concilios, letras pontificiais, ¢ quaisquer outras constituigdes ecle- sidsticas; precedendo aprovacao das Cortes, se contiverem disposi- Bes gerais; ¢ ouvindo 0 Conselho de Estado, se versarem sobre negécios de interesse particular, que no forem contenciosos; pois quando o forem, os remeterd ao conhecimento e decisio do Supremo Tribunal de Justiga; XIII — Declarar a guerra, e fazer a paz; dando as Cortes conta dos motivos que para isso teve; XIV — Fazer tratados de alianga ofensiva ou defensiva, de sub- sidios, e de comércio, com dependéncia da aprovagio das Cortes {artigo 103.9, n.° VD; XV — Decretar a aplicac&o dos rendimentos destinados pelas Cortes aos diversos ramos da administragio publica. ARTIGO 124° O Rei nao pode: I — Impedir as eleigées dos Deputados; opor-se a reuniao das Cortes; prorrogé-las, dissolvé-las, ou protestar contra as suas decisdes; II — Impor tributos, contribuicdes, ou fintas; IIT — Suspender Magistrados, salvo nos termos do artigo 197.9; andar prender cidadao algum, excepto: 1.° — quando o exigit a seguranga do Estado, devendo entdo ser 0 preso entregue dentro de quarenta e oito horas ao Juiz competente; 2.9 — quando as Cortes houverem suspendido as formalidades judiciais (artigo 211.9; V — Alienar porgao alguma do territério Portugués; VI — Comandar forga armada. ARTIGO 125" O Rei pode sem consentimento das Cortes: 1 -~ Abdicar a Coroa; {I — Sair do reino de Portugal e Algarve; ¢ se o fizer, se entenderd que a abdica; bem como se, havendo saido com licenga das Cortes, a exceder quanto ao tempo ou lugar, ¢ nao regressar a0 Teino sendo chamado, A presente disposigdo ¢ aplicdvel ao sucessor da Coroa, 0 qual contravindo-a, se entendera que renuncia o direito de suceder na mesma Coroa; Ill — Tomar empréstimo em nome da Nag&o. ARTIGO 126° © Rei antes de ser aclamado prestard perante as Cortes nas méos do Presidente delas o seguinte juramento: Juro manter a Reli- sido Catélica Apostélica Romana; ser fiel @ Nacdo Portuguesa: observar e fazer observar a Constituigéo polttica decretada pelas Cortes extraordindrias e constituintes de 1821, e as leis da mesma Nagao; e prover ao bem geral dela, quanto em mim couber. ARTIGO 127." A pessoa do Rei é inviolvel, ¢ ndo est sujeita a responsabi dade alguma. © Rei tem o tratamento de Majestade Fidelissima. CAPITULO DA DELEGACAO DO PODER EXECUTIVO NO BRASIL ARTIGO 128° Haveré no reino do Brasil uma delegagio do poder executivo, encarregada duma Regéneia, que residiré no lugar mais conveniente que a lei designar. Dela poderdo ficar independentes algumas pro- vincias, ¢ sujeitas imediatamente a0 Governo de Portugal. ARTIGO 129° ‘A Regéncia do Brasil se compord de cinco membros, um dos quais serd o Presidente, ¢ de trés Secretérios; nomeados uns ¢ outros pelo Rei, ouvide o Conselho de Estado. Os Principes ¢ Infantes (artigo 133.°) nfo poderao ser membros da Regéncia. ARTIGO 130° Um dos Secretérios trataré dos negécios do reino ¢ fazenda; outro dos de justiga e eclesidsticos; outro dos de guerra ¢ marinha. Cada um tera voto nos da sua repartiglo: o Presidente o tera somente em caso de empate. O expediente se faré em nome do Rei. Cada Secretario referendaré os decretos, ordens, ¢ mais diplomas pertencentes A sua reparticfo. ARTIGO 131° ‘Assim os membros da Regencia, como os Secretérios serfio res- ponsiyeis ao Rei. Em caso de prevaricacio de algum Secretério, a Regéncia o suspenderd, ¢ provera interinamente o seu lugar dando logo conta ao Rei. Isto mesmo faré quando por outro modo vagar 0 lugar de Secretério. ARTIGO 132° A Regéncia nio podera: I —Apresentar para os bispados; porém, propor ao Rei uma lista de trés pessoas as mais idéneas, ¢ referendada pelo respec- tivo Secretério; 11 — Prover lugares do Supremo Tribunal de Justiga, ¢ de Presidentes das Relacies; III — Prover 0 posto de Brigadeiro e os supetiores a ele; bem como quaisquer postos da armada; IV — Nomear os Embaixadores e mais Agentes diplométicos, ¢ os Cénsules; V — Fazer tratados politicos ow comerciais com os estran- geiros; ‘VI — Declarar a guerra ofensiva, ¢ fazer a paz; VII —Conceder titulos, mesmo em recompensa de servigos; ou outra alguma mere®, cuja aplicagto no esteja determinada por lei; VIII — Conceder ou negar beneplicito aos decretos dos conei- lios, letras pontificias, e quaisquer outras constituicSes eclesidsticas, que contenham disposigdes gerais. CAPITULO U1 DA FAMILIA REAL E SUA DOTACAQ ARTIGO 133." filho do Rei, herdeiro presuntivo da Coroa, tera o titulo de Principe Real; o fitho primogénito deste tera 0 de Principe da Beira, es outros filhos do Rei e do Principe Real terfio o de Infantes. Estes titulos nao podem estender-se a outras pessoas. ARTIGO 134° Os Principes ¢ os Infantes no podem comandar forga armada. Os Infantes no servirdo nenhum emprego electivo de piblica administragdo, excepto 0 de Conselheiro de Estado, Quanto aos empregos providos pelo Rei, podem servi-los, salvo os de Secretério de Estado, Embaixador, e Presidente ou Ministro dos tribunais de justiga. ARTIGO 1352 © herdeiro presuntivo da Coroa ser reconhecido tomo tal nas primeiras Cortes, que se reunirem depois do seu nascimento. Em completando catorze anos de idade, prestaré em Cortes nas maos do Presidente juramento de manter a Religido Catdlica Apostdlica Romana; de observar a Constituicéo politica da Nagdo Portuguesa; e de ser obediente as leis ¢ ao Rei. ARTIGO 136.2 As Cortes no principio de cada reinado assinaro ao Rei ¢ familia Real uma dotagio anual, correspondente ao decoro de sua alta dignidade. Esta dotagGo nfo poderé alterar-se enquanto durar aquele reinado. ARTIGO 137.0 As Cortes assinaro alimentos, se forem necessiirios, aos Prin- cipes, Infantes, e Infantas desde os sete anos de idade, ¢ a Rainha logo que enviuvar. ARTIGO 138° Quando as Infantas houverem de casar, lhes assinarfio as Cor- tes o seu dote, e com a entrega dele cessario os alimentos. Os infan- tes, que se casarem, continuarao a receber seus alimentos enquanto residirem no rcino; se forem residir fora dele, se hes entregara por uma sé vez a quantia que as Cortes determinarem. ARTIGO 139° A dotacSo, alimentos, e dotcs, de que tratam os trés artigos antecedentes, sero pagos pelo tesouro publico, ¢ entregues a um Mordomo nomeado pelo Rei, com o qual se poderdo tratar todas as acgées activas e passivas, concernentes aos interesses da casa Real. ARTIGO 140.2 As Cortes designardo os paldcios ¢ terrenos, que julgarem con- venientes para habitagiio e recreio do Rei ¢ da sua familia. CAPITULO IV DA SUCESSAO A COROA ARTIGO 141° ‘A sucessfio A Coroa do Reino Unido seguira a ordem regular de primogenitura, ¢ representacfo, entre os legitimos descendentes do Rei actual 0 senhor D. Jodo VI, preferindo sempre a linha ante- rior as posteriores; nas mesma linha o grau mais préximo ao mais remoto; no mesmo grau 0 sexo masculino ao feminino; no mesmo exo a pessoa mais velha A mais moga. Portanto: I—Somente sucedem os filhos nascidos de legitimo matriménio; Il — Se © herdeiro presuntivo da Coroa falecer antes de haver nela sucedido, seu filho prefere por dizeito de representagao ao tio cam quem concorter; III — Uma vez radicada a sucesso em uma linha, enquanto esta durar nao entra a imediata. ARTIGO 142° Extintas as linhas dos descendentes do senhor D. Joao VI, sera chamada aquela das linhas descendentes da casa de Braganga, que dever preferir segundo a regra estabelecida no artigo 141.°. Extintas todas estas linhas, as Cortes chamarfio ao trono a pessoa, que entenderem convir melhor ao bem da Nagfo; ¢ desde entéio conti- nuara a regular-se a sucessdo pela ordem estabclecida no mesmo artigo 141.°, ARTIGO 143° Nenhum estrangeiro poderd suceder na Coroa do Reino Unido. ARTIGO 144° Se o herdeiro da Coroa Portuguesa suceder em coroa estran- geira, ou se o herdeiro desta succder naquela, néo poderd acumular uma com outta; mas preferiré qual quiser; c optando a estrangeira, se entenderé que renuncia 4 Portuguesa. Esta disposigo sc entende também com o Rei que suceder em coroa estrangeira. ARTIGO 145° Se a sucesso da Coroa cair em fémea, n&o poderd esta casar sendo com Portugués, precedendo aprovacao das Cortes. O marido no ter parte no Governo, e somente se chamaré Rei depois que tiver da Rainha filho ou filha. ARTIGO 146." Se 0 sucessor da Coroa tiver incapacidade notéria e perpétua para governar, as Cortes o declarario incapaz. CAPITULO V DA MENORIDADE DO SUCESSOR DA COROA E DO IMPEDIMENTO DO REI ARTIGO 1472 O sucessor da Coroa é menor, ¢ nfo pode reinar antes de ter dezoito anos completos. ARTIGO 148.2 Se durante a menoridade vagar a Coroa, as Cortes, estando reunidas, elegerfio logo uma Regéncia, composta de trés ou cinco cidadios naturais deste reino, dos quais seré Presidente aquele que as mesmas Cortes designarem. Nao estando rcunidas, se convocardo logo extraordinariamente para eleger a dita Regéncia. ARTIGO 149." Enquanto esta Regéncia se nflo eleger, governaré o reino uma Regéncia provisional, composta de cinco pessoas, que sero a Rai- nha mic, dois membros da Deputago permanente, ¢ dois Conse- Iheiros de Estado, chamados assim um como outros pela prioridade da sua nomeagio. Nao havendo Rainha méec, entraré em lugar dela o irmao mais velho do Rei defunto, e na sua falta o terceiro Conselheiro de Estado. Esta Regéncia sera presidida pela Rainha; em falta dela pelo irmiio do Rei; e nfo o havendo, pelo mais antigo membro da Depu- taco permanente. No caso de falecer a Rainha reinante, seu marido serd Presidente da Regéncia. ARTIGO 150° A disposig#o dos dois artigos antecedentes se estenderi ao caso, em que o Rei por alguma causa fisica ou moral sc impossibi- lite para governar; devendo logo a Deputagio permanente coligir as necesséirias informag&es sobre essa impossibilidade, e declarar pro- visoriamente que ela existe. Se este impedimento do Rei durar mais de dois anos, ¢ o suces- sor imediato for de maior idade, as Cortes 0 poderdo nomear Regente em lugar da Reg@ncia. ARTIGO 151° Assim a Regéncia permanente e a provisional camo o Regente, se o houver, prestario o juramento declarado no artigo 126.; acrescentando-se-the a cldusula de fidelidade ao Rei, Ao juramento da Regéncia permanece se deve acrescentar, que entregard o Governo, logo que o sucessor da Coroa chegue a maioridade, ou cesse o impedimento do Rei. Esta Gltima clausula de entregar o Governo, cessando o impedimento do Rei, sc actesecntarA também ao juramento do Regente; bem como ao da Regéncia provisional se acrescentard a de entregar o Governo & Regéncia permanente. A Regéncia permanente e o Regente prestardo o juramento perante as Cortes; a Reg@ncia provisional perante a Deputag&o permanente. ARTIGO 152° A Regencia permanente exercera a autoridade Real conforme o regimento dado pelas Cortes, desvelando-se mui especialmente na boa educagiio do Principe menor. ARTIGO 153° A Regéncia provisional somente despachard os negécios, que no admitirem dilado; ¢ no poderd-nomear nem remover empre- gados piblicos senfo interinamente, ARTIGO 154° Os actos de uma e outra Regtneia se expedirao em nome do Rei. ARTIGO 155° Durante a menoridade do sucessor da Coroa ser seu tutor quem o pai Ihe tiver nomeado em testamento; na falta deste a Rai- nha mfe enquanto nfo tornar a casar; faltando esta, as Cortes 0 nomearao. No primeiro e terceiro caso deverd o tutor ser natural do reino. Nunca poderd ser tutor do Rei menor o seu imediato sucessor. ARTIGO 1562 O sucessor da Coroa durante a sua menoridade nfo pode con- trair matriménio sem o consentimento das Cortes. CAPITULO VI DOS SECRETARIOS DE ESTADO ARTIGO 1572 As Cortes designario por um regulamento os negécios do Reino, da Justiga, da Fazenda, da Guerra, da Marinha, e Estrangeiros. As Cortes designario por um regulamento os negdcios perten- centes a cada uma das Secretarias, e poder3o fazer nclas as varia- gGes que o tempo exigir. ARTIGO 158° Os estrangeiros naturalizados ndo poderio ser Secretarios de Estado. ARTIGO 159° Os Secretarios de Estado ser&o responsdveis 4s Cortes: I — Pela falta de observancia das leis; II — Pelo abuso do poder que lhes foi confiado; II ~-Pelo que obrarem contra a liberdade, seguranca, ou propriedade dos cidadios; IV — Por qualquer dissipagio ou mau uso dos bens puiblicos. Esta responsabilidade, de que os ndo escusaré nenhuma ordem do Rei verbal ou escrita, ser regulada por uma lei particular. ARTIGO 160° Para se fazer efectiva a responsabilidade dos Secretarios de Estado procederd decreto das Cortes, declarando que tem lugar a formagio de culpa. Com isto o Secretério ficard logo suspenso; € 08 documentos relativos 4 culpa se remeterdo ao tribunal competenté (artigo 191.°). ARTIGO 161° Todos os decretos ou outras determinagées do Rei, Regente, ou Regéncia, de qualquer natureza que sejam, serdo assinadas pelo res- pectivo Secretdrio de Estado, ¢ sem isso ndo se thes dard cumprimento. CAPITULO VII DO CONSELHO DE ESTADO ARTIGO 162° Haveré um Consetho de Estado composto de treze cidadaos, escolhidos de entre as pessoas mais distintas por seus conhecimentos ¢ virtudes, a saber, seis das provincias da Europa, seis das do Ultra- mar, ¢ o décimo terceiro da Europa ou do Ultramar, como decidir a sorte. Se algumas provincias do Reino Unido vierem a perder o direito de serem representadas em Cortes, proverfo estas sobre o modo por que neste caso se deva formar o Conselho de Estado, podendo diminuir o ntimero de seus membros, contanto que no fiquem menos de oito. ARTIGO 1632 N&o podem ser Conselhciros de Estado: I — Os que ndo tiverem trinta € cinco anos de idade; IL — Os estrangeiros depois de naturalizados; III — Os Deputados de Cortes enquanto o forem; e se obtive- rem escusa nfo poderdo ser propostos durante aquela legislatura. ARTIGO 164° A eleigao dos Conselheiros de Estado se fara pela forma seguinte: as Cortes elegerfo a pluralidade absoluta de votos dezoito cidadSos europeus, para formarem uma lista de seis ternos, em cada um dos quais ocupem o primeiro lugar os seis que tiverem maior mimero de votos; o segundo os seis que se Ihes seguirem; ¢ os seis restantes 0 terceiro. Por este mesmo modo se formar outra lista de dezoito cidadaos ultramarinos. Ent&o se decidird pela sorte, se 0 décimo terceiro Conselheiro ha-de ser curopeu ou ultramarino; ¢ se formard um novo terno de cidadfos europeus ou ultramarinos, que se ajuntaré & lista respectiva. Estas duas listas ser’o propostas ao Rei, para escolher de cada terno um Conselheiro, ARTIGO 165° Os Conselheiros de Estado servirfo quatro anos, findos os quais se propordo ao Rei novas listas, podendo entrar nelas os que acabaram de servir. ARTIGO 166.° Antes de tomarem posse dardo nas mios do Rei juramento de manter @ Religido Catdlica Apostdlica Romana; observar a Consti- tuicdo e as leis; ser fitis ao Rei: e aconsethd-lo segundo suas cons- ciéncias, atendendo somente ao bem da Nato. ARTIGO 167.5 O Rei ouvird 0 Conselho de Estado nos negécios graves, ¢ par- ticularmente sobre dar ou negar a sancHo das leis; declarar a guerra ou a paz; ¢ fazer tratados. ARTIGO 168. Pertence ao Conselho propor ao Rei pessoas para os lugares da magistratura e para os bispados (arligo 123.°, n.°* III e V). ARTIGO 169. So responsdveis os Conselheiros de Estado pelas propostas que fizerem contra as leis, pelos conselhos opostos a elas ou mani- festamente dolosos, ARTIGO 170° Os Conselheiros de Estado somente serao removidas por sen- tenga do tribunal competente. Vagando algum lugar no Consetho de Estado, as Cortes logo que se reunirem propordo ao Rei um terno conforme o artigo 164.°. CAPITULO Vit DA FORCA MILITAR ARTIGO 171.” Haveré uma forga militar permanente, nacional, ¢ composta do mtimero de tropas ¢ vasos que as Cortes determinarem. O seu destino é manter a seguranca interna e externa do reino, com sujciggo ao Governo, a quem somente compete empregé-la como Ihe parecer conveniente. ARTIGO 172. Toda a forga militar é essencialmente obediente, e nunca deve reunit-se para deliberar ou tomar resolugées. ARTIGO 1732 Além da referida forga haveré em cada provincia corpos de Milicias. Estes corpos nfo devem servir continuamente, mas sé quando for necessario; nem podem no reino de Portugal ¢ Algarve ser empregados em tempo de paz fora das respectivas provincias sem permissio das Cortes. A formagio destes corpos’ sera regulada por uma ordenanga particular. ARTIGO 174° Criar-se-4o Guardas nacionais, compostas de todos os cidadfios que a lei nao exceptuar; serdo sujeitas exclusivamente a Autoridades civis; seus oficiais serdo electivos e tempordrios; nfio poderao ser empregadas sem permissio das Cortes fora dos scus distritos. Em tudo o mais uma lei especial regulard a sua formacdo e servico. ARTIGO 1752 Os oficiais do exército ¢ armada somente poderiio ser privados das suas patentes por sentenga proferida em juizo competente. TITULO V DO PODER JUDICIAL CAPITULO 1 DOS SIZES E TRIBUNAIS DE JUSTICA ARTIGO 176° © poder judicial pertence exclusivamente aos Juizes. Nem as Cortes nem o Rei o poderdo exercitar em caso algum. Nao podem portanto avocar causas pendentes; mandar abrir as findas; nem dispensar nas formas do pracesso prescritas pela lei. ARTIGO 177" Haverd Juizes de Facto assim nas causas times como nas civeis, nos casos ¢ pelo modo, que os cédigos determinarem. Os delitos de abuso da liberdade de imprensa pertencerao desde JA ao conhecimento destes Juizes. ARTIGO 178° Os Juizes de facto serdo eleitos directamente pelos povos, formando-se em cada distrito lista de um determinado numero de pessoas, que tenham as qualidades legais. ARTIGO 179° Haverd em cada um dos distritos, que designar a lei da divisto do territério, um Juiz letrado de primeira insténcia, 0 qual julgard do direito nas causas em que houver Juizes de facto, ¢ do facto ¢ direito naquelas em que 0s ndo houver. Em Lisboa, ¢ noutras cidades populosas, haveré quantos Jutzes, Ietrados de primeira instincia forem necessdrios. ARTIGO 180° Os referidos distritos sero subdivididos em outros; ¢ em todos eles haverd Juizes electivos, que serio eleitos pelos cidadaos directa- mente, no mesmo tempo, ¢ forma por que se elegem os Vereadores das Camaras. ARTIGO 181° As atribuigées dos Juizes electivos sto: I — Julgar sem recurso as causas civeis de pequena impor- tancia designadas na lei, ¢ as criminais em que se tratar de delitos eves, que também sero declarados pela lei. Em todas estas causas procederdo verbalmente, ouvindo as par- tes, e mandando reduzir 0 resultado a auto publico; Il — Exercitar os juizos de conciliag&o de que trata o artigo 195.9, IN — Cuidar da seguranca dos moradores do distrito, ¢ da conservagio da ordem piiblica, conforme o regime que se Ihes der. ARTIGO 182.° Para poder ocupar o cargo de Juiz letrado, além dos outros requisitos determinados pela lei, se requer: I — Ser cidadao Portugués; 11 — Ter vinte € cinco anos completos; Il — Ser formado em direito. ARTIGO 183° Todos os Juizes letrados sero perpétuos, logo que tenham sido publicados os cédigos ¢ estabelecidos os Juizes de facto. ARTIGO 184° Ninguém serd privado deste cargo sendo por sentenga proferida em razio de delito, ou por ser aposentado com causa provada e conforme a lei. ARTIGO 185° Os Juizes letrados de primeira instancia serio cada trés anos transfcridos promiscuamente de uns a outros lugares, como a lei determinar. ARTIGO 186.° A promocio da magistratura seguird a regra da antiguidade no servigo, com as restrigdes, ¢ pela maneira que a lei determinar, ARTIGO 187" Os Juizes letrados de primeira instancia conhecerdo nos seus distritos: 1 — Das causas contenciosas, que nado forem exceptuadas; II — Dos negacios de jurisdig&io voluntdria, de que até agora conheciam quaisquer Autoridade, nos casos, e pela forma que as leis determinarem. ARTIGO 188° Os Juizes letrados de primeira instancia decidirdo sem recurso as causas civeis, até a quantia que a lei determinar. Nas que excede- rem essa quantia, se recorrerd das suas sentengas e mais decisées para a Relag#o competente, que decidiré em tiltima instancia. Nas causas crimes também se admitira recurso dos mesmos Juizes nos casos, € pela forma que a lei determinar. ARTIGO 189.° Das decisées dos Juizes de facto se poderd recorrer A compe- tente Relacio, sé para o efeito de se tomar novo conhecimento ¢ decisio no mesmo ou em diverso conselho de Juizes de facto nos casos, ¢ pela forma que a lei expressamente declarar. Nos delitos de abuso da liberdade da imprensa pertencerd o recurso ao Tribunal especial (artigo 8.°) para o mesmo efeito. ARTIGO 190.2 Para julgar as causas em segunda ¢ ultima instancia haveré no Reino Unido as Relag6es, que forem necessdrias para comodidade dos povos, ¢ boa administragao da justiga. ARTIGO 191" Haverd em Lisboa um Supremo Tribunal de Justica, composto de Juizes letrados, nomeados pelo Rei, em conformidade do artigo 123.9, As suas atribuigées sfo as seguintes: I — Conhecer dos erros de oficio, de que forem arguidos os seus Ministros, os das Relac&es, 0 Secretdtios ¢ Conselheiros de Estado, 0s Ministros diplomaticos, e os Regentes do Reino. Quanto a estas quatro derradeiras classes as Cortes previamente declarardo, se tem lugar a formacio de culpa, procedendo-se na conformidade do artigo 160.%; II — Conhecer das ditvidas sobre competéncia de jurisdigio, que recrescerem entre as Relactes de Portugal e Algarve; I — Propor ao Rei com o seu parecer as diividas, que tiver ou Ihe forem representadas por quaisquer Autoridades, sobre a inte- ligencia de alguma lei, para se seguir a conveniente declaragio das Cortes; IV — Conceder ou negar a revista. © Supremo Tribunal de Justiga nfo julgaré a revista, mas sim a Relagdo competente; porém tendo esta declarado a nulidade ou injustiga da sentenga, de que se concedeu revista, ele fard efectiva a responsabilidade dos Juizes nos casos em que pela lei cla deva ter lugar. ARTIGO 192.9 A concessiio da revista sé tem lugar nas sentengas proferidas nas Relagdes quando contenham nulidade ou injustiga notéria; nas causas civeis, quando 0 scu valor exceder a quantia determinada pela lei; nas criminais nos casos de maior gravidade, que a lei tam- bém designar. S6 das sentengas dos Juizes de direito se pode pedir revista, e nunca das decisdes dos Juizes de facto. Qualquer dos litigantes, e mesmo o Promotor de justiga, podem pedir a revista, dentro do tempo que a lei designar. ARTIGO 193° No Brasil haveré também um Supremo Tribunal de Justiga no lugar onde residir a Regéncia daquele reino, e teré as mesmas atri- buicdes que o de Portugal, cnquanto forem apticdveis. Quanto ao territério Portugues de Africa ¢ Asia, os conflitos de jurisdig&o que se moverem nas Relagdes; a concessdo das revistas, ¢ ‘a responsabilidade dos Juizes neste caso; e as fungdes do tribunal protector da liberdade da imprensa (artigo 8.%), serdo tratadas no mesmo territério, no juizo e pelo modo que a lei designar. ARTIGO 194° Nas causas civeis e nas penas civilmente intentadas é permitido As partes nomear Juizes drbitros, para as decidirem. ARTIGO 195° Haverd Juizos de conciliagdo, nas causas, ¢ pelo modo que a lei determinar, exercitados pelos Juizes electivos (artigo 181.°). CAPITULO 1 DA ADMINISTRACAQ DA JUSTICA ARTIGO 196° Todos os Magistrados e oficiais de justiga serdio responsavcis pelos abusos de poder, e pelos erros que cometerem no exercicio dos seus empregos. Qualquer cidad&o, ainda que nao seja nisso particularmente interessado, poder acusd-los de suborno, peita, ou conluio; se for interessado, poderd acush-los por qualquer prevaricagdo a que na lei esteja imposta alguma pena, contanto que esta prevaricacio nao consista em infringir lei relativa a ordem do processo. ARTIGO 197° © Rei, apresentando-se-Ihe queixa contra algum Magistrado, podera suspendé-lo, precedendo audiéncia dele, informagiio necessi- ria, e consulta do Conselho de Estado. A informagio sera logo remetida ao juizo competente para se formar o proceso, e dar a definitiva decisfio. ARTIGO 198.9 A Relagio, a que subirem alguns autos, em que se conheca haver o Juiz inferior cometido infracgdo das leis sobre a ordem do process, 0 condenaré em custas ou em outras penas pecuniarias, até A quantia que a Ici determinar; ou mandard repreend@-lo dentro ou fora da Relag&o. Quanto aos delitos ¢ erros mais graves de que trata o artigo 196.%, Ihe mandaré formar culpa. ARTIGO 1992 Nos delitos, que nfo pertencerem ao oficio de Juiz, somente resultard suspensdo, quando ele for pronunciado por crime que merega pena capital ou a imediata, ou quando estiver preso, ainda debaixo de fianga. ARTIGO 200° A todos os Magistrados ¢ oficiais de justica se assinario orde- nados suficientes. ARTIGO 201. A inquirigéo das testemunhas e todos os mais actos do pro- cesso civel serao piiblicos; os do processo criminal o serdo depois da pronincia. ARTIGO 202." Os cidadaios arguidos de crime a que pela lei esteja imposta pena, que nao exceda a pristio por seis meses, ou o desterro para fora da provincia onde tiverem domicilio, nfio serao presos, € se livrardo soltos. ARTIGO 203° Sendo arguidos de crime que merega maior pena que as do artigo antecedent, nio poderd verificar-se a priséo sem preceder culpa formada, isto é, informacao suméria sobre a existéncia do delito, ¢ sobre a verificagdo do delinquente. Devera também preceder mandado assinado pela Autoridade legitima, ¢ revestido das formas legais, que seré mostrado ao réu no acto da priséo. Se o réu desobedecer a este mandado, ou resistir, sera por isso castigado conforme a lei. ARTIGO 204° Somente poderio ser presos sem preceder culpa formada: 1 — Os que forem achados em flagrante delito; neste caso qualquer pessoa poderd prend@-los, € serio conduzidos imediata- mente a presenga do Juiz: Tl — Os indiciados 1.° de furto com arrombamento, ou com violencia feita a pessoa; 2.° de furto doméstico; 3.° de assassinio; 4.° de crimes relativos seguranca do Estado nos casos declarados nos artigos 124.9, n.° 1V, e 211°. ARTIGO 205° © que fica disposto sobre a pristo antes de culpa formada niio exclui as excepgdes, que as ordenancas militares estabelecerem como necessitias A disciplina e recrutamento do exército. Isto mesmo se estende aos casos, que nao sdo puramente crimi- nais, ¢ em que a lei determinar todavia a prisdo de alguma pessoa, por desobedccer aos mandados da Justiga, ou nfo cumprir alguma obrigagdo dentro de determinado prazo. ARTIGO 2062 Em todos os casos 0 Juiz dentro de vinte e quatro horas, conta- das da entrada na prisiio, mandaré entregar ao réu uma nota por ele assinada, em que declare o motivo da prisdo, e os nomes do acusa- dor e das testemunhas, havendo-as. ARTIGO 207 Se o réu, antes de ser conduzido a cadeia ou depois de estar nela, der fianca perante o Juiz da culpa, seré logo solto, néio sendo crime daqueles em que a lei proiba a fianga. ARTIGO 208° As cadeias serio seguras, limpas, ¢ bem arejadas; de sorte que sirvam para seguranga, e nio para tormento dos presos. Nclas haverd diversas casas, em que os presos estejam separa dos, conforme as suas qualidades e a natureza de seus crimes; devendo haver especial contemplagao com os que estiverem em sim- ples custédia, ¢ ainda no sentenciados. Fica contudo permitide ao Juiz, quando assim for necessdrio para a indagacHo da verdade, ter © preso incomunicavel em lugar cémodo ¢ idénco, pelo tempo que a lei determinar. ARTIGO 209° As cadeias serfio impreterivelmente visitadas nos tempos deter- minados pelas leis. Nenhum preso deixara de ser apresentado nes- tas visitas. ARTIGO 210° O Juiz ¢ o Carcereiro, que infringirem as disposigSes do pre- sente capitulo relativas 4 prisio dos delinquentes, serao castigados com as penas que as leis declararem. ARTIGO 211° Nos casos de rebelidio declarada ou invasdo de inimigos, se a seguranga do Estado exigir que se dispensem por determinado tempo algumas das sobreditas formalidades, relativas & prisdéo dos delinquentes, sé poderd isso fazer-se por especial decreto das Cortes. Neste caso, findo que seja o referido tempo, o Governo reme- terd A Corte uma relagdo das prisdes a que tiver mandado proceder, expondo os motivos que as justificam; e assim os Secretarios de Estado como quaisquer outras Autoridades sero responsdveis pelo abuso, que houverem feito do poder, além do que exigisse a segu- ranga publica. TITULO VI DO GOVERNO ADMINISTRATIVO E ECONOMICO CAPITULO I DOS ADMINISTRADORES GERAIS, F DAS JUNTAS DE ADMINISTRACAO ARTIGO 212° Haverd em cada distrito um Administrador geral, nomeado pelo Rei, ouvindo o Conselho de Estado. A lei designara os distritos ¢ a duracio das suas fungdes. ARTIGO 2132 © Administrador geral sera auxiliado no exerciio de suas fun- Ses por uma Junta administrativa, Esta Junta sera composta de tantos membros, quantas forem as Camara do distrito; porém as cidades populosas, que tiverem uma s6 Camara, corresponderio tantos membros quantos a lei designar. ‘A eleig&o deles se fard todos os anos no tempo, € pelo modo por que se elegem os oficiais das Camaras. ARTIGO 214° A Junta se reunird todos ox anos nos meses de Margo e Setem- bro no lugar mais capaz e central do distrito. Em casos extraordind- rios poderé o Governo mandar que se retinam mais vezes, Cada uma das reunides durard s6 quinze dias, os quais poderdo ser pror- rogados pela Junta até outro tanto tempo, se assim o exigir a afluéncia dos negécios. ARTIGO 2152 A Junta tem voto decisivo nas matérias da sua competéncia. A execugiio destas decisées, bem como a das ordens do Governo, per tence exclusivamente ao Administrador geral. Nos casos urgentes, que exijam pronta resolugo, poderé o Administrador decidir ¢ executar, dando depois conta & Junta. ARTIGO 216° So da competéncia do Administrador geral ¢ da Junta todos 05 objectos de publica administrag4o. Deles conhecerdo por via de recurso, inspecgio prépria, consulta, ou informagao, como as Ieis determinarem. Por via de recurso, conhecerdo de todos os objectos que so da competéncia das Camaras; por inspeceo prépria, da execugiio de todas as leis administrativas; por consulta ao Governo, ou informagao as Direcgdes gerais, de todos os outros negécios de administragao. Por Direcedes gerais se entendem as que forem criadas pelas leis para tratarem de objectos privativos de administragio; e bem assim quaisquer DirecgGes administrativas de interesse geral, orde- nadas pelo Governo, ainda que o seu objecto ou plano seja limitado aum sé distrito. Tamhém pertence ao Administrador geral e 4 Junta distribuir pelos concelhos do distrito a contribuic&o directa (artigo 228.9), € os contingentes das recrutas. ARTIGO 217. A lei designard explicitamente as atribuigées dos Administra- dores gerais e Juntas de administragdo; as formulas dos seus actos; © niimero, obrigagées € ordenados de seus oficiais; e tudo o que convier ao melhor descmpenho desta instituigdo. CAPITULO DAS CAMARAS. ARTIGO 218° © governo econémico e municipal dos concelhos residira nas Camaras, que o exercerdo na conformidade das leis. ARTIGO 219.° Haveré Camaras em todos os povos, onde assim convier ao bem piblico. Os seus distritos sero estabelecidos pela lei, que mar- car a divisio do territério, ARTIGO 220° As CAmaras seréo compostas do numero de Vereadores que a lei designar, de um Procurador, e de um Escrivio. Os Vereadores ¢ Procurador serdo eleitos anualmente pela forma directa, a plurali- dade relativa de votos dados em escrutinio secreto e assembleia publica. Podem votar nestas eleigGes os moradores do concelho que t8m voto na dos Deputados de Cortes, excepto 1.° — os Militares da primeira linha, néo compreendidos os que tiverem naturalidade no concelho, nem os reformados; 2.° — os da segunda linha quando estiverem reunidos fora dos respectivos concelhos. Nao sio porém excluidos de votar os filhos-familias de que trata o artigo 33.°, n.° Il, sendo maiores de vinte ¢ cinco anos; nem os cidadios, que ndo souberem ler, ¢ escrever, nos termos do mesmo artigo, n.° VI. Seri Presidente da Camara o Vereador que obtiver mais votos, devendo em caso de empate decidir a sorte. Os Vereadores € Procurador terfo substitutos, eleitos no mesmo acto e pela mesma forma. ARTIGO 221° O Escrivdo sera nomeado pela Camara, tera ordenado sufi- ciente, ¢ servira enquanto néo se Ihe provar erro de oficio ou inca- pacidade assim moral como fisica. ARTIGO 222° Para os cargos de Vereador ¢ Procurador somente poderdo ser escolhidos os cidadaos, que estiverem no exercicio de scus direitos; sendo maiores de vinte ¢ cinco anos; tendo residido dois anos pelo menos no distrito do concelho; no thes faltando meios de honesta subsisténcia; e estando desocupados de emprego incompativel com 08 ditos cargos. Os que servirem um ano nfo serdo reeleitos no seguinte. ARTIGO 223° As CAmaras pertencem as atribuigées seguintes: 1 — Fazer posturas ot leis municipais; Il — Promover a agricultura, 0 comércio, a industria, a satide ptiblica, e geralmente todas as comodidades do concelho; Ill — Estabelecer feiras ¢ mercados nos lugares mais conve- nientes, com aprovacdo da Junta de administragdo do distrito; IV — Cuidar das escolas de primeiras letras, ¢ de outros esta- belecimentos de educagdo que forem pagos pelos rendimentos publi- cos, ¢ bem assim dos hospitais, casas de expostos, e outros estabelecimentos de beneficiéncia, com as excepgdes ¢ pela forma que as leis determinarem; V — Tratar das obras particulares dos concelhos e do reparo das piblicas; e promover a plantag&o de drvores nos baldios, e nas terras dos concelhos; V — Repartir a contribuigSo directa pelos moradores do concelho (artigo 228.), ¢ fiscalizar a cobranca ¢ remessa dos rendi- mentos nacionais; VII — Cobrar e dispender os rendimentos do concetho, e bem assim as fintas, que na falta deles poderao impor aos moradores na forma que as leis determinarem. No exercicio destas atribuigdes haverd recurso para a Autori- dade competente (artigo 216.°), CAPITULO TIT DA FAZENDA NACIONAL ARTIGO 224° Cumpre as Cortes estabelecer, ou confirmar anualmente as contribuigdes directas, & vista dos orgamentos ¢ saldos que Ihes apresentar 0 Secretdrio dos negécios da fazenda (artigo 227.°). Fal- tando o dito estabelecimento ou confirmagiio, cessa a obrigacdo de as pagar. ARTIGO 225. Nenhuma pessoa ou corporagio poderd ser isenta das contri- buigdes directas. ARTIGO 226° As contribuigées sero proporcionadas as despesas puiblicas. ARTIGO 227.2 © Sceretério dos negécios da fazenda, havendo recebido dos outros Secretdrios os orgamentos relativos as despesas de suas repartigdes, apresentard todos os anos as Cortes, logo que estiverem reunidas, um orcamento geral de todas as despesas publicas do ano futuro; outro da import4ncia de todas as contribuigées e rendas piblicas; ¢ a conta da receita e despesa do tesouro puiblico do ano antecedente. ARTIGO 228° ‘As Cortes repartir’o a contribuigio directa pelos distritos das Juntas de administragiio, conforme os rendimentos de cada um, O ‘Administrador em Junta repartira pelos concelhos do seu distrito a quota que Ihe houver tocado; e a Camara repartira a que coube ao concelho por todos os moradores na proporcdo dos rendimentos que eles ¢ as pessoas, que residirem fora, ali tiverem. ARTIGO 229." Em cada distrito, que a lei designar, haveré um Contador de fazenda, nomeado pelo Rei sobre proposta do Conselho de Estado, ‘que terd a seu cargo promover e fiscalizar a arrecadagao de todas as rendas piiblicas, ¢ sera directamente responsavel por cla ao tesouro publico, ARTIGO 230° As CAmaras deverfo remeter anualmente a0 Contador certi- des dos langamentos de todos os impostos directos; participar-Ihe a escolha que fizeram de Exactores e Tesoureiros; ¢ dar-Ihe quais- quer explicagdes que ele pedir, ou seja para conhecer a importincia das rendas pablicas do concelho, ou para saber o estado da sua arrecadagiio. Esta mesma obrigagdo se estende a todos os que admi- nistrarem alfandegas ou outras casas de arrecadagGes fiscais. ARTIGO 231° Todos os rendimentos nacionais entrario no tesouro publico, excepto os que por lei ou pela Autoridade competente se mandarem pagar em outras tesourarias. Ao Tesoureiro-mor se ndo levard em conta pagamento que nao for feito por portaria assinada pelo Secre- tério dos negécios da fazenda, na qual se declare o objecto da des- pesa, € a lei que a autoriza. ARTIGO 232° A conta da entrada ¢ saida do tesouro puiblico, bem como a da receita ¢ despesa de cada um dos rendimentos nacionais, se tomard e fiscalizard na contadorias do tesouro, que sero reguladas por um regimento especial. ARTIGO 233° A conta geral da receita e despesa de cada ano, logo que tiver sido aprovada pelas Cortes, se publicar4 pela imprensa. Isto mesmo se fara com as contas, que os Secretarios de Estado derem das des- pesas feitas nas suas repartigoes. ARTIGO 234° Ao Governo compete fiscalizar a cobranga das contribuigdes na conformidade das leis. ARTIGO 235° A lei designara as Autoridades, a quem fica pertencendo 0 poder de julgar ¢ executar em matéria de fazenda nacional; a forma do proceso; e o niimero, ordenados, ¢ obrigacdes dos empregados na repartigao, fiscalizagZo, e cobranca das rendas piiblicas. ARTIGO 236.9 ‘A Constituicfo reconhece a divida piiblica. As Cortes designa- rio os fundos necessérios para o seu pagamento ao passo que ela se for liquidando. Estes fundos serio administrados separadamente de quaisquer outros rendimentos piblicos. CAPITULO IV DOS ESTABELECIMENTOS DE INSTRUCAO PUBLICA E DE CARIDADE ARTIGO 237" Em todos os lugares do reino, onde convier, haverd escolas suficientemente dotadas, em que se ensine a mocidade Portuguesa de ambos os sexos a ler, escrever, ¢ contar, ¢ catecismo das obri- gagées religiosas e civis. ARTIGO 238° Os actuais estabelecimentos de instrugdo piblica serio nova- mente regulados, ¢ se criarfio outros onde convier, para o ensino das cigncias ¢ artes. ARTIGO 239." E livre a todo o cidadao abrir aulas para o ensino publico, contanto que haja de responder pelo abuso desta liberdade nos casos, ¢ pela forma que a lei determinar. ARTIGO 240° As Cortes ¢ 0 Governo terao particular cuidado da fundagio, conservacdo, e aumento de casas de misericérdia e de hospitais civis e militares, especialmente daqueles que so destinados para os sol- dados e marinheiros invélidos; ¢ bem assim de rodas de expostos, montes pios, civilizagdo dos indios, e de quaisquer outros estabele- cimentos de caridade. Lisboa Pago das Cortes em 23 de Setembro de 1822. Agostinho José Freire, Deputado pela Estremadura, Presidente, ‘Agostino de Mendonca Falco, Deputado pela Beira. Agostinho Teixeira Pereira de Magalhies, Deputado pelo Minho. Alexandre Gomes Ferro, Deputado pela provincia da Bahia. ‘Alexandre Tomas de Morais Sarmento, Deputada pela provincia da Beira. Alvaro Xavier da Fonscca Coutinhe ¢ Pévoas, Deputado pela provincia da Estremadura, ‘André da Ponte de Quintal da Cémara ¢ Sousa, Deputado pela ilha de S. Miguel. Antonio Camelo Fortes de Pina, Deputado pela Beira. Anténio José Ferrcira de Sousa, Deputado pela Beira. Antonio José de Morais Pimentel, Deputado por Trés-os-Montes. ‘Anténio Lobo de Barbosa Ferreira Gitte, Deputado por Trés-os-Montes. Anténio Maria Osério Cabral, Deputado pela Beira. Anténio Pereira, da Congregagio do Oratério, Deputado pelo Minho. Anténio Pereira Carneiro Canavarro, Deputado pela provincia de ‘Trés-os- Montes. Antonio Pinheiro de Azevedo ¢ Silva, Deputado pela Beira. Anténio Ribeiro da Costa, Deputado pela provincia do Minho. Arcebispo da Bahia, Deputado pela provincia do Minho. Baro de Molelos, Deputado pela provincia da Beira. Bento Ferreira Cabral Pais do Amaral, Deputado pela provincia do Minho, Bento Pereira do Carmo, Deputado pela provincia da Estremadura. Bernardo Anténio de Figueiredo, Deputado pela provincia da Beira. Bernardo Correia de Castro ¢ Septilveda, Deputado pela provincia de Trés-os- Montes. Luis, Bispo de Beja, Deputado pela Beira. Joaquim, Bispo de Castelo Branco, Dcputado pela Beira. Reinaldo, Bispo do Pard, Deputado pelo Pard. Cactano Rodrigues de Macedo, Deputado pela provincia da Beira. Carlos Honérie de Gouveia Duro, Deputado pelo Alentejo.

Você também pode gostar