O Reflexo de Narciso nas Águas da Internet: Consumo e Narcisismo nas Sociabilidades em Rede
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O Reflexo de Narciso nas Águas da Internet - Juliana Correia Almeida
Sergipe
Sumário
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1
A VIDA PÚBLICA E O INDIVIDUALISMO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
1.1 O indivíduo e as práticas sociais
1.2 O espectro do narcisismo na cultura contemporânea
1.3 Globalização, transculturalidade e influência dos "mass media"
1.4 Sociabilidades em rede na representação do indivíduo
1.5 Espaço público e isolamento nas cidades contemporâneas
CAPÍTULO 2
SOCIABILIDADES EM REDE E PAISAGENS URBANAS
2.1 Virtual e real: uma perspectiva sociológica
2.2 Cibercidades ou cidades digitais
2.3 Comunidades em rede e cultura urbana
2.4 Consumo e simulacro nas sociabilidades em rede
CAPÍTULO 3
CONSUMO E NARCISISMO NO SOFTWARE SOCIAL FACEBOOK
3.1 Facebook: criação e estrutura
3.2 Representação por meio de imagens: selfie e braggie
3.3 O Facebook visto de dentro
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
As sociabilidades em rede têm um papel importante na sociedade contemporânea, principalmente em um contexto em que se verifica uma potencialização dos comportamentos relacionados ao consumo, ao narcisismo, e promove novas formas de habitar¹. Mais do que um lugar de encontro dentro de um ambiente de ciberespaço, essas novas interações têm sido locais profícuos para se perceber a mudança de comportamentos em um possível quadro adverso à vida pública no que diz respeito à falta de uma dimensão perceptível entre a vida pública e a privada.
Esta obra tem o objetivo de identificar como as sociabilidades em rede manifestam-se na realidade contemporânea. Por sociabilidades em rede entendo aqui as formas de relacionamento e comunicação mediadas pela internet, sejam redes digitais próximas ou que estabelecem algum tipo de conhecimento e interação de acordo com a finalidade proposta. Essa reconfiguração do espaço público², por meio das redes sociais digitais (utilizando como principal referente empírico o Facebook) e das cibercidades, é analisada no campo discursivo que envolve as abordagens relacionadas às paisagens urbanas contemporâneas, ou seja, as formas como as cidades e os indivíduos se ordenam e promovem o convívio com as novas formas de comunicabilidade com a cibercultura.
O consumo e o narcisismo foram utilizados como objetos de análise, porque são características que se apresentam com muita frequência na cultura urbana que reforçam o caráter superficial de inserção dos consumidores-cidadãos, isto é, como as práticas de consumo estão relacionadas aos aspectos comunicacionais do direito à cidadania.
O livro fundamenta-se em alguns conceitos que são apresentados como uma referência teórica na sustentação do modelo de análise. Esses conceitos estabelecem definições de teóricos sobre os principais pontos tratados nesta obra. Primeiramente, as discussões sobre espaço público numa perspectiva tradicional, como local de manifestação das interações humanas, por meio de Jürgen Habermas, depois as discussões sobre visibilidade, sociabilidade e pluralidade, por Hannah Arendt, e os estudos que reivindicam o declínio do espaço público em função de uma sociedade que se torna cada vez mais intimista, individualizada pelas análises de Richard Sennett.
Habermas defende um espaço público como um espaço de reflexão sobre a natureza social do homem e este mesmo homem depende de uma cultura pública compartilhada intersubjetivamente com outros parceiros. É aí onde nascem as interações humanas, permitindo a criação de uma opinião pública sobre temas de assuntos gerais. Já Hannah Arendt enquadra o trabalho e a produção no domínio privado e a ação como uma característica que depende da interação, ou seja, é no espaço público que os homens agem e interagem – uma manifestação da liberdade.
O conceito de sociabilidade está baseado nas concepções de Georg Simmel na compreensão da sociedade como o conjunto dos indivíduos em interação. Assim, a interação constitui-se a partir de dois escopos centrais: determinados impulsos ou em busca de certas finalidades. Para Simmel, os impulsos religiosos, os objetivos de defesa, o ataque, o jogo, a conquista, a ajuda, a doutrinação, os instintos eróticos, os interesses objetivos e inúmeros outros fazem com que o ser humano entre em uma relação de convívio.
Já o conceito de sociabilidade em rede foi baseado na definição desenvolvida por Manuel Castells, a qual diz que uma rede social digital é interpessoal, em sua maioria baseada em laços fracos (diversificados ou especializados), e são capazes de gerar reciprocidade e apoio por meio da dinâmica de interação sustentada. A observação da população estudada de usuários do Facebook, a partir desse conceito de Castells, possibilitou a análise das relações sociais, em aspectos que envolvem consumo e narcisismo, dentro de um ambiente que se autoconstrói em grande escala.
Uma das principais características da cibercultura diz respeito a uma nova percepção e dimensão de espaço e tempo, desse modo, as noções tradicionais de espaço-tempo são reconfiguradas pelas sociabilidades em rede, pós-analógica e de fluxo contínuo, ou seja, estamos diante de sociabilidades em grande alcance, cuja mediação digital, pela internet, está a todo o momento sempre à disposição. Isso muda significativamente as paisagens urbanas que, de acordo com Zygmunt Bauman, criam um sujeito social que não se identifica com o lugar onde mora e seus interesses estão em outros locais.
A compressão do tempo-espaço
, segundo David Harvey, está diretamente ligada a um novo conjunto de experiências que caracteriza a chamada pós-modernidade. Nessa perspectiva, as maneiras de agir são geridas por essa necessidade de uma sociedade sempre com pressa, globalizada e, acima de tudo, com acesso às diversas formas de comunicação imediata.
A abordagem central do livro diz respeito ao consumo e ao narcisismo. A observação crescente de um narcisismo na sociedade contemporânea foi trabalhada por Richard Sennett, e usamos o conceito desenvolvido por ele. O narcisismo³ surge na medida em que esse novo tipo de sociedade encoraja o crescimento da valorização do eu
e anula o senso de contato social significativo fora dos seus limites. Portanto, na sociedade intimista, os atores são mais importantes do que as ações, ou seja, o que é mais relevante não diz respeito ao que a pessoa fez, mas ao como se sente a respeito do feito. Sennett destaca que esse narcisismo atua nas relações sociais, porque há uma cultura privada de uma crença no público e que é orientada por um sentimento intimista como parâmetro de significação da realidade. Com relação à população adulta, objeto deste trabalho, o autor observa uma mudança na relação com a realidade, pois esta só interessa quando, de alguma forma, prenuncia espelhar necessidades