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Carlos Fico Ronald Polito A HISTORIA NO BRASIL (1980 - 1989) ELEMENTOS PARA UMA AVALIAGAO HISTORIOGRAFICA ai UFOP Carlos Fico Ronald Polito Professores de Metodologia da Historia Departamento de Historia - UFOP A Historia no Brasil (1980 - 1989) elementos para uma avaliagao historiografica volume 1 Pretacio de Carlos Guilherme Mota UFOP Ouro Preto 1992 Copyright 1992 by Carlos Fico e Ronald Polito ISBN: 85-288-0006-7 Catalogagao preparada pela Bibliotecdria Neide Nativa Fash Fico, Carlos 'A Historia no Brasil (1980-1989): elementos para uma avaliagio_historiografica (Carlos Fico, Ronald Polito. Ouro Preto: UFOP. 1992. vA: il 1. Historiografia - Brasil - 1980/1989 2. Teoria da Historia 3. Histéria do Brasil - 1980/1989 I. Polito, Ronald. II. Titulo CDU: 930(81)"198" Este livro inicia a implantagio do projeto Centro Nacional de Referéncia Historica UFOP Rua Diogo de Vasconcelos, 122 3540-000 - Ouro Preto, MG Ilustragio da capa: relégio de sol mével. Revisao: Deisa Chamahum Chaves Depésito legal efetuado junto 4 Biblioteca Nacional conforme Decreto mimero 1.825 de 20 de dezembro de 1907. 1992 Impresso no Brasil/Printed in Brazil SUMARIO NOTA DO EDITOR, PREFACIO. AGRADECIMENTOS, LISTA DE TABELAS, FIGURAS E GRAFICOS. T= Introducio. 2 Trabalhos da Historia. 2.1 - Os cursos de pés-graduacdo em Historia e seus trabalhos. 2.2 - Periddicos e artigos. : 2.3 -Instrumentos de pesquisa, obras de referencia e transcrigdes. 2.4- Instituigdes, associagdes e programas especiais 2'5 = Congressos, seminérios, outros eventos. 2.6 Historia académica e outras areas, 3 - Editoras e Livros de Historia, 4- Repercussies. $ - Notas para um Debate Tedrico. 6 - Conclusio, BIBLIOGRAFIA. INDICE GERAL. 31 6 5 85 101 ny 141 1ST 7 183 199 NOTA DO EDITOR Razées diversas nos levaram a publicar o presente trabalho em dois volumes. O primeiro, ora langado, apresenta 2 parte analitica da pesquisa. O segundo, contendo as séries de informagdes coletadas, sera editado brevemente. PREFACIO A nova critica historiografica © historiador de oficio sabe que a anilise historiografica constitui a tarefa mais dificil dentre as quantas é obrigado a enfrentar para a consecugio de seu trabalho. Para ser, bem realizada, o historiador deve estar munido de amplo conhecimento da matéria, dominando as metodologias utilizadas nos estudos em apreciagao, e conhecendo na pratica as técnicas experimentadas pelos autores selecionados. Enfim, deve saber que nao se conhece boa anélise histérica sem’ competente critica historiogréfica. Neste estudo dos jovens historiadores Carlos Fico e Ronald Polito, impressiona a capacidade que revelam de articular a problematica que presidiu a produgao do conhecimento de nossa historia na década passada. Com efeito, nos anos 80 os estudos histéricos ganharam mais espago tanto institucional como na midia. Apesar dos aspetos patoldgicos desse crescimento - alguns cursos de pés-graduagio des- necessérios ou sem: nivel, por exemplo ~ assistiu-se a uma revalorizagio da Histéria e do trabalho do historiador. Varios historiadores desapareceram - Sérgio Buarque, José Honério, Caio Prado Jinior, Gilberto Freyre - mas surgem novos grupos- geragdescom trabalhos de peso, conduzidos com metodologias modemas e banhados na erudigao. Essa avaliagao historiografica de uma década de transigdéo é 0 que nos oferecem os dois jovens historiadores, calgados num rigoroso levantamento das pesquisas realizadas no periodo, de estudos de outros historiégrafos (como Amaral Lapa e Francisco Iglésias), de instituigdesde ensino e pesquisa e de agéncias de-financiamento, de congressos, de editoras, de periddicos. Do cruzamento criterioso dessas informagoesnasce este livro inaugural de uma histéria da historiografia brasileira conduzida segundo critérios por assim dizer cientificos. E um livro de pesquisa sobre a pesquisa, com método, cor teoria, sem resvalar para_o cientificismo ingénuo e tecnocratico de certas agéncias de financiamento, Agéncias que submetem por vezes cursos inteiros de pés-graduagio a seus critérios “técnicos", sempre bastante pitorescos. , Livro de historiadores empenhados, preocupados com nossa contemporaneidade talvez ainda nao perdida, nele o leitor encontrara conclusdes que nos obrigam a parar para pensar. Entre elas, a de que sem cursos de graduagao de bom nivel, sa- litios dignos, bolsas idem, bibliotecas e arquivos decentes nao se faz pesquisa. Mais: se nem todos os cursos de pés-graduagao témtazao de ser e alguns mesmo deviam set desativados - como quer Iglésias, corretamente alias - os Autores constatam que seu miimero tendeu a diminuir com o passar dos anos. ___ Preocupantes sobremaneira so as conclusdes de que as agéncias de fomento “orientam” os benditos enfoques regionais, notando os Autores que o “regional em cada area do conhecimento néo € a mesma coisa... Claro, a constatagio seguinte revela que as pesquisas sobre temas de Histéria nao brasileira sao de fraco desempenho, quando comparadas com 0 periodo anterior (73/79). Metafora de nossa historia recente, em que petdemos nossa identidade no plano internacional. Mas 0 recado é claro, neste petiodo em que corremos o risco de nos perdermos em posmodemnidades de periferia. Deve- se atentar sobretudo para as profundas caréncias e lacunas no campo da histéria social, aquela que estuda “a composigao dos grupos e classes sociais em diversas partes e épocas”. E para a hist6ria dos comportamentos culturais. __Nasce aqui uma nova critica historiogrifica no Brasil, ais exigente, menos autocomplacente. Carlos Guilherme Mota SP, outubro de 92 AGRADECIMENTOS Esta pesquisa s6 péde ser tealizada gragas ao auxilio de muitas pessoas, is quais agradecemos. Prof. José Guilherme Ribeiro, do Departamento de Histéria da UFOP, criou os programas de computagao que utilizamos para a sistematizagao dos dados. © Prof. Karl Marx de Medeiros, da Divisio de Divulgagio da Capes, nos fomeceu grande parte do material sobre cursos de pés-graduagio em Histéria. Os Professores Ciro Flamarion Santana Cardoso e José Roberto do Amaral Lapa comentaram uma comunicagao sobre 0 desenvolvimento deste trabalho. ‘A Profs Maria Thereza Ferraz Negrio de Mello, Coordenadora do Curso de Pés-Graduagio em Historia da UnB, nos forneceu dados sobre as dissertagdesali defendidas. A Prof’ Maria Liicia de Vilhena Garcia, Superintendente substituta de Ciéncias Humanas e Sociais do CNPq, nos enviou dados sobre os cursos de pés-graduagao em Historia Tita, do CNPq, nos remeteu informagdes estatisticas sobre financiamento de pesquisas. O Prof. Fernando Spagnolo, Chefe da Divisio de Estudos e Metodologia da Capes, nos cedeu informagées sobre 0 tempo despendido para a obtengio de titulos de pés-graduagao em Histéria e outras areas. O Embai- xador Sérgio H. Nabuco de Castro, Coordenador do Instituto de Pesquisa de Relagdes Inteacionais da Fundagao Alexandre de Gusmio do Ministério das Relagdes Exteriores, nos foreceu informagées sobre trabalhos nos EUA sobre o Brasil. A Bibliotecdria Jutta Meurer, do Instituto Géethe, do Rio de Janeiro, nos cedeu uma publicagao. Valéria Maria Morse Alves, do Arquivo Nacional, nos remeteu dados sobre a freqiiénciados pesquisadores académicos a esta instituigdo, onde contamos também com a costumeira atengao de Eliseu de Araijo Lima. Prof. Emesto Anibal Ruiz, Coordenador da Pés-Graduagao em Historia da UFSC, nos remeteu lista de dissertagdes defendidas naquela instituigao entre os anos de 1987 e 1989. ‘A Prof Deisa Chamahum Chaves fez. a revisio do texto ea Bibliotecdria Neide Nativa normalizou a bibliografia. © Departamento de Letras da UFOP nos permitiu a utilizagdo de seus microcomputadores. O Prof. Joaci Pereira Furtado nos ajudou na resolugio de intimeros problemas e no levantamento de alguns dados. Os alunos do Departamento de Histéria_ da UFOP, Jardel Dias Cavalcanti e Carlo Guimaries Monti, foram ‘nossos auxiliares de pesquisa para o levantamento e a sistematizagao informatizada dos dados. O Prof. Cristovam Paes de Oliveira, Reitor da UFOP, providenciou recursos para a pesquisa e sua pliblicagao. Mariana, outubro de 1992. LISTA DE TABELAS, FIGURAS E GRAFICOS TABELAS Tabela ne 1 - Brasil. Relagio de cursos de pés-graduagio em Histéria, suas areas de concentragao e respectivas linhas de pesquisa - 1971/1989. 34/35 Tabela ne 2 - Brasil. Niimero de cursos de pés-graduagao em Historia por unidades da Federacio - 1979 e 1989’...... 39 Tabela ne 3 - MEC/SESu. Capes. Avaliagao dos cursos de pés- graduagao em Histéria (dados levantados entre 1987 e 1989) 7 40 Tabela ne 4 - MEC/SESu. Capes. Avaliagio dos cursos de pés- graduagao nas areas de Ciéncias Humanas e Sociais. Porcentagem de conceitos Ae A- em relagao ao total de cursos (dados levantados entre 1987 € 1989) jn 41 Tabela ne 5 - Brasil. Numero de dissertagsesde mestrado pot curso de pés-graduagao em Historia - 1973/1979 wn. 43 Tabela ne 6 - Brasil. Niimero de dissertagéesde mestrado pot curso de pés-graduagao em Histéria - 1980/1989 ....... 43 Tabela ne 7 - Brasil. Numero de teses de doutorado por curso de pos-graduacao em Historia - 1975/1989 a 44 Tabela ne 8 - Brasil. Tempo despendido com a obtengao do titulo de mestre nos cursos de pés-graduagio em Historia - 1980/1989 . 46/47 Tabela no 9 - Brasil. Perfil de geneto dos titulados nos cursos de pos-graduagio em Historia e de livres-docentes = 1973/1979 = 1980/1989 49 Tabela n2 10 - Brasil. Numero de artigos publicados nos principais periddicos que editam _sistematicamente trabalhos de Histéria - 1980/1989 0... 67 Tabela ne 11 - Brasil. Numero de artigos publicados nos principais periddicos que _editam —eventualmente trabalhos de Histéria - 1980/1989 67 Tabela ne 12 - Numero de artigos por alguns temas e abordagens publicados em periddicos brasileiros que editam trabalhos de Histéria - 1980/1989 71 Tabela nz 13 - Niimero de congressos, semindrios e outros eventos em Histétia - 1980/1989 .ecnsngsennnnnees 93 Tabela ne 14 - Niimero de congressos, seminarios © outros eventos de Historia por alguns temas e abordagens - 1980/1989 a este on 94 Tabela ne 15 - Comunicagdes de Historia apresentadas “nas Reunides Anuais da SBPC - 1980/1989... 102 Tabela n2 16 - Artigos de Histéria publicados pela revista Ciéncia e Cultura - 1980/1989... seeseee 104 Tabela ne 17 - Brasil. CNPq. Demanda ¢ atendimento de todas as modalidades de bolsa para estudo no exterior em Historia, Sociologia, Ciéncia Politica, Antropologia Economia - 1987/1990 (niimero de bol$@) vce. 107 Tabela ne 18 - Brasil. CNPq. Demanda e atendimento de todas as_modalidades de bolsas para estudo no pais em Historia, Sociologia, Cigncia Politica, Antropologia e Economia - 1987/1990 (mimero de bolsas) 108 Tabela ne 19 - Brasil. CNPq. Demanda e atendimento de todas as modalidades de auxilio pesquisa em Historia, Sociologia, Ciéncia Politica, Antropologia e Economia - 1987/1990 (mimero de projetos) 109 Tabela n2 20 - Brasil. Relagio anual das 10 editoras com maior n, de edigdes de livros em geral - 1980/1989... 118/119 Tabela ne 21 -'Relagao das 20 editoras que mais publicaram livros de Historia - 1980/1989 es 120 Tabela ne 22 - Total anual de livros de Historia editados - 1980/1989 sevens eaeeeeeee 27) Tabela ne 23 - Autores que mais resenharam livros de Historia ~ 1980/1989 145 FIGURAS Figura ne 1 - Distribuigao de teses e dissertagdessobre Historia do Brasil quanto ao periodo histérico abordado - 1980/1989... ae 54 Figura n2 2 - Distribuigao dos artigos pul periddicos brasileiros sobre Histéria_do Brasil quanto ao periodo histérico abordado - 1980/1989 sensnnsensenne 69 Figura ne 3 - Artigos de Historia Antiga, Medieval, Moderna, Contemporanea e da América - 1980/1989 w.cmo+ 70 Figura ne 4 - Distribuigao dos artigos publicados em periddicos brasileiros sobre Histéria do Brasil quanto ao estado da federagao tematizado - 1980/1989 sevens TB Figura ne § - Brasil. Total de primeiras edigdese de reedigoesde Historia Antiga, Medieval, Moderna, Contemporanea e da América - 1980/1989 134 Figura ne 6 - Brasil. Total de edigdesde Historia do Brasil por periodo histérico abordado = 1980/1989 nrc 136 Figura ne 7 - Brasil. Edigesde Historia do Brasil por estados da federagio tematizados - 1980/1989 ...ewsnnseenes 37 Figura ne 8 - Resenhas de livros de Historia segundo o perfil do periédico - 1980/1989 143 Figura ne 9 - Resenhas de livros de Historia segundo o perfil académico ou nao académico dos periddicos em que foram publicadas - 1980/1989 sone, 143 GRAFICOS Grafico ne 1 - Evolugio do ntimero de teses e dissertagdes defendidas nos cursos de pos-graduagio em Historia’ no pais - 1973-1989 46 Grafico ne 2 - Evolugao anual dos livros de Historia editados - 1980/1989 . a ow 128 1. Introdugio Temos consciéneia de que este é um trabalho especialmente dificil. Nem se trata de supervalorizar os obsticulos da pesquisa em si, da penosa coleta de dados, aspecto que sera abordado logo. a seguir. Trata-se da percepgao de alguns problemas, de certas caracteristicas deste livro Como se admite entre os historiadores, a historiografia & um géneto considerado bastante complexo. Exige do analista conhecimentos de teoria, de metodologia e de Historia. Por outro lado, nao sera abusivo afirmar que ha sempre o tisco de este tipo de andlise resvalar para o terreno da_presungio, mormente se tudo nao for feito a partir de parametros criteriosos que afastem qualquer possibilidade de pedantismo. (Ora, Nao nos consideramos eruditos nem presungosos e, por isso mesmo, buscamos nos ampatar numa massa de dados que, ao menos, garantisse uma base empirica suficiente para ossas afirmagses. Mas nfo podiamos nos furtar a sustentar todas as interpretagdesque nos parecessem corretas, nem mesmo aquelas que nio facilitassem 0 convivio com a comunidade de historiadores que temos orgulho de integrar. ‘Sao estas, precisamente, as caracteristicas que tomam este um trabalho dificil. De um lado, a necessidade de arrolar uma massa de dados, tabelas e grificos cuja leitura nem sempre é estimulante. De outro, a andlise por vezes polémica, que certamente encontraré criticos e sublinhara 0 carter de pro- posta deste livro. 16 A Histéria no Brasil Nao poderia ser de outra forma. Deixar de compulsar todos os dados relatives a produgio, circulagao e consumo da Historia no Brasil nos anos 80, seria trair nossos mais elementares anseios. Por outro lado, nao abordar questdes como a fragilidade da reflexio sobre Teoria da Histéria no Brasil ou a precariedade dos nossos periddicos, por exemplo, expressaria um bom-mocismo hipécrita que a ninguém interessa Talvez fosse desnecessério dizer tudo isso caso tivéssemos, no Brasil, uma larga tradigao de critica de alto nivel (alto nivel de emissao e de recepgo), mas nao é preciso elencar exemplos para se constatar que nao é assim. Dentre os historiadores, especialmente, é ainda recente 0 habito do debate académico e da resenha critica e pode-se até dizer que ainda persiste algum resquicio de regionalismo e personalismo. Desta forma, nao foi apenas uma atitude previamente defensiva que nos levou a evitar 20 maximo os argumentos baseados numa “autoridade” que ndo_pretendemos possuir: ‘buscamos nos amparar numa pesquisa solida e globalizante para que nossas reflexes pudessem se expressar através de parame- tos dialégicos que permitam o debate. Foram varios os motivos que nos levaram a empreender este estudo de natureza historiogrifica relative ao Brasil nos anos 80, Em primeiro lugar, constatamos que os trabalhos mais sélidos de andlise historiogréfica de que se dispde, como os livros de J. R. do A. Lapa e os textos de varios autores, dentre os quais F. Iglésias eC. G. Mota, remontam 4 década de 70 ou aos primeiros anos da década seguinte*, Ainda que, durante os anos 1 LAPA, J. R. do A. Historiogratia brasileira contemporénea: a hstéria em uestio. 2 6: Petpols: Vozes, 1981. 286p. Polo que se doprearde do prelacioa 28 edigao, 0 utoratualzou parte dos dados 8 part de 1979, dentre os quals algumas incleagbes sobre novos penidcieos crados até 1979 (p. 35), indicagdessobre usuarios do Arauivo Nacional tambsm ats 1979 (p63), pubicados no Mensaro do Arquivo Nacional, v. l,m. Ditev. 1960, « ndicagaeseobre o numero de rabalhos de hstongraia por decadaaieo na biblografia. de textos hstorogricos snexa, enhurs s lambemLAPA, 3. Rco A. Histoea @ hictorografia Brash poses ‘Terra, 1985, 1i0p. (Estudos Brasleros, 87)-Os textos a fue os telerimos, sdo: (GLESIAS, F. A pesquisa historica no Basi, Revista oo Fisténa, S80 Paulo, v. XLII, n. 88, p. 979-415, outjdez. 1971; MOTA, C. G. A histonograia brasieia ‘nos Uiimos quarenta ange. tenlaiva de’ avaliagdo citca Debate 2 Critica, Séo Paulo, .§,p. 126, 1975, O texto de C. G. Mota fol spresentado no Primer Encuartre de Hisioiadores Latinoamericenos, no México, em 1874, Foram Introduggo 17 80, tenhamos assistido a um aumento consideravel do niimero de trabalhos de historiografia em sentido estrito, é possivel constatar que os mesmos sempre se debrugaram sobre un aspecto, um tema ou um problema setorial da produgio de conhecimento histérico como, pot exemplo, a Historia republicana ou demogréfica no Brasil. A falta de andlises historiograficas gerais se explica pela complexidade propria 20 género, como ja foi dito por mais de um autor. ‘Observamos que os historiadores _brasileitos se ressentem da falta de um instrumento de pesquisa efetivamente geral capaz de rastrear a produgao histérica atual no Brasil, circunstincia especialmente negativa se se percebe que os anos 80 se caracterizaram por intensa produtividade nesta area. ‘Assim, mesmo se pensarmos em termos meramente catalograficos e nao analiticos, ha enorme dificuldade em se localizar teses, dissertagdes, livros e artigos, perdendo-se desta maneira um precioso tempo da pesquisa com a reuniao de bibliografia pertinente. Os instrumentos de pesquisa publicados nos anos 80 ou se testringem a cobrir um tinico tipo de informagao, como um catilogo de teses, ou um tinico campo ou setor da produgao histérica, como uma bibliografia sobre escravismo?, Em terceiro lugar, este trabalho nasceu de uma relativa insatisfagao com o debate sobre o significado da produgio histérica’ no Brasil atual. As informagdesveiculadas pela grande imprensa, bem como as andlises de alguns historiadores, surgem perpassadas pot fortes conotagdes subjetivas, escassa base de comprovagao empirica ou mesmo auséncia de esclarecimento sobre 0 universo de trabalhos escolhido para andlise, resultando em imagens telativamente distorcidas do movimento real da Historia wbjgados,n0 mesmo perédeo, coments a ese texto que passamos a relerencar: FStESAS’ E°A"Gropeeo ca hstorogratiabraslera.p. 119-108, FERNANDES, HF. G intelectal, urn personagem stor, 127-131; SILVEIRA, P. Acontecimento 6 Gatulure 6136-141, Outs tabalhos de carder hisirograeo pybieados durante 0s Shos 29’ din ‘geal so, na vordade, pequenos ensaioe. que Wao referenciasos No mento opodtuno, Yor GORREA'C. H, org. Catdiogo das dlssontagdese tases dos cursos oe pss. ‘gatuogia om Neto (1879-1989), Ponandpots: UESG, 1987. 4009, Como exerele So inckumortos e_ posqusa lemétens velase SOUZA, N. M, de S, Toso: @ Sesertaqsossobre a escrandio no Bras, Acai, Flo Go Jane, V. 8,0 1, p. 129-190, iandun 1968. 18 A Historia no Brasil Por fim, desejivamos realizar uma _andlise historiogrifica que se diferenciasse da tradiga0, que nos parece restritiva, da “lista de livros mais importantes” e que acaba por nao considerar as condigdes em que os trabalhos foram produzidos, reproduzidos, ‘Vveiculados, discutidos e criticados pela comunidade de historiadotes e pela sociedade em geral?. A principal restrigao desse género de anilise consiste, por um lado, em nao considerar todos os trabalhos existentes em toro de um assunto especifico e, por outro, em apenas interpretar © co- mhecimento histético Sob o ponto de vista do produto final, nao atentando para_as condiges em que o mesmo surgiu e posteriormente foi disseminado. E claro que esses aspectos estdo inter-relacionados e se desdobram em diversos outros. Eles ainda se esclarecem melhor 4 luz do conceito de historiografia com 0 qual pretendemos trabalhar. Partimos de um conceito de historiografia que nao considera apenas a efetiva produgo do conhecimento historico mas, também, na medida do possivel, a sua disseminagao social. Pata isto, nfo 36. compulsamos os trabalhos de Historia mas, igualmente, aqueles registros que, de alguma forma, ex- pfessavam sua repercussio. Consideramos todo 0 circuito que integra 0 processo de disseminagio do conhecimento histérico, dos cursos de pds-graduagao a0 mercado editorial, dos eventos e entidades ctiadas ao leitor de Histéria. Dessa forma pensamos em dar prosseguimento a orientagdessemelhantes a de alguns raros trabalhos historiograficos do Brasil, como os de J. R. do A. Lapa, ainda que com um grau de detalhamento visivelmente maiot. Assim épossivel, inclusive, verificar o acerto ou nao de alguns prognésticos feitos ha algum tempo. Buscamos, portanto, uma andlise historiogréfica tendo em vista as vicissitudes da dinamica econémica, politica, social e cultural do Brasil no periodo em pauta. Afinal, todos esses aspectos de alguma maneira condicionam a atuagao do historiador e, conseqiientemente, a produgio do conhecimento ‘assim, uma orlaniagdo somelhante aos objetvos de LAPA, J. A. do A, Hiatorograta brasiera contemporinea. Op. ct. p. 24 "A Historografia no deve ser Borants mera enumeragae de acres ceras, Ruma ambicosa Gosco co qe to Introdugéo 19 histérico, E assim que diversos quadros conjunturais tiveram que ser levados em conta para a anilise do movimento historiografico, como a dindmica editorial, a criagao de revistas, © montante de verbas para pesquisa, os eventos realizados, as instituigdes criadas, as linhas de pesquisa privilegiadas pelas pos-graduages, as efemérides comemoradas no petiodo ¢ as modas teoricas. Dispensdvel notar que nos preocupames também com a abordagem das relagdes e dos desdobramentos intemos a propria historia da historiografia, cumprindo este que também é um encaminhamento tipico dos textos na area, ainda que nao com as mesmas implicagdes teoricas, Cremos que ha algumas diferengas entre esta pesquisa ¢ 0 principal trabalho historiografico ‘dos anos 70, 0 livro Historiografia brasileira contempordnea, de J. R. do A. Lapa que, em certa medida, nos serviu de parimetro. Embora concordemos, em linhas gerais, com a perspectiva do Autor no que tange ao conceito de historiografia, nao langamos mao das nogéesde "proceso de produgao” (do conhecimento historico) & de “pritica social” (relativa ao papel dos “agentes, grupos classes sociais” envolvidos no mesmo proceso no qual circula 0 conhecimento) por nos parecerem constituir analogias um tanto fluidas com aparatos tedricos cabiveis em outras esferas*. Por outro lado, supomos que a efetivagio do conceito em pauta implique em tarefas empiricas que visam levantar_dados especificos (como a percepgao de questdes editoriais, comerciais, repercussio de trabalhos via resenhas, ete.) e que, de certo modo, buscamos cobrir com maior abrangéncia. Estamos entendendo, entio, por historiografia, nio sé_a andlise da producio do conhecimento histérico e das condigdes desta produgao, mas, igualmente, o estudo de suas condigsesde reprodugao,_' circulago, "consumo —e_— tic O momento da produgao do conhecimento, portant, nao se confunde com o de sua disseminagao social, ainda que sejam evidentes as possibilidades de ambos se relacionarem. Outro problema é aquele que diz. respeito aos “polos” indicados pelo Autor, a saber: de um lado o historiador como 4g, p. 19.20, 20 A Historia no Brasil produtor de conhecimento, de outro o sujeito que se apropria deste conhecimento. Entendemos que, ao longo de seu trabalho, 0 primeiro polo, do historiador que produz conhecimento historico, é visivelmente mais. tratado. Neste sentido, as anclises da disseminagao social deste conhecimento, come, por exemplo, a andlise do mercado editorial, sio muito ligeiras e pouco conectadas a ele. Buscamos, nesta pesquisa, articular ao maximo todas estas dimensoes, tentando evitar o carater fragmentario do livro de J. R. do A. Lapa que, efetivamente, se constituiu a partir de trabalhos realizados pelo Autor em periods distintos, que visavam a objetivos particulares, sem que sua reuniao conferisse @ obra uma unidade estrutural, em nosso entendimento, imprescindivel neste género de andlise. Finalmente, verifica-se que a idéia de “crise” da Historia do Brasil, apresentada na introdugao a primeira edigdo do livro e ausente da introdugao 4 segunda edicaos, nao ¢ utilizada como vetor analitico no corpo mesino da obra, sendo impossivel aos leitores virem a saber gual o significado da questio para o conjunto das observagdes do Autor. Com respeito ao segundo livro mencionado de Lapa’, caberia a mesma observagio acerca da falta de unidade dos trabalhos reunidos, ainda que os mesmos tenham sofrido modificagdes, por vezes substanciais, em relagio a sua primeira versio. Vale notar que os levantamentos do Autor até o periodo de 1984 incidem sobre um campo nao muito amplo de informagées, levando em conta alguns subperiodos para cada série considerada No que diz respeito aos problemas que este nosso trabalho busca responder, partimos de algumas hipsteses gerais. Pressupomos, para efeitos de nossa andlise, que a produgao do conhecimento histérico no Brasil atingix, nos anos 80, um patamar de maior complexidade que vem a configurar uma efe- tiva especializagio deste campo do conhecimento no pais. Com isto se quer dizer que tal produgio se da abordando uma pluralidade de temas, enfoques tedricos ¢ procedimentos Sibi. 2 Sioa p13, 71g Hbea © historogratia: Bras pés-64. Op. ct introdugéo 21 metodolégicos muito grande, notadamente em comparagio com os anos anteriores ao periodo desta pesquisa. Da mesma forma, nos anos 80 assistiu-se 4 consolidagio definitiva dos diversos cursos de pos-graduagio, a0 aumento dos _periddicos especificos e 4 ampliagio do interesse ptiblico pelos temas historicos. Pensamos ainda que tal especializagao, de cunho mais profissional, mesmo que diga respeito em grande medida a0 desenvolvimento préprio, auténomo, do campo do conhecimento hist6rico no Brasil, explica-se em grande parte pela consolidagao de uma universidade em termos moderos, & qual coube A fungio produtora e em grande medida disseminadora do conhecimento anteriormente pulverizado ou reunido em tomo de nticleos tradicionais, nacionais e locais, ou sob sua influéncia Em termos gerais, a metodologia adotada para a realizagio deste trabalho’ expressa nossa preocupagao em considerar o fendineno historiogrifico em sua globalidade, isto 6, nio apenas como conhecimento produzido, mas ¢omo conhecimento que, de alguma maneira, se realiza em outros niveis, a saber, os da publicagio, da leitura ou da critica Por isso optamos, numa primeira etapa, pelo Ievantamento de diversos dados sem que _tivéssemos estabelecido, previamente, delimitagdes teméticas, tedricas ou metodolégicas. Isto é, a percepgio de que um enfeque, abordagem ou tema é recorrente, muito ou pouco privilegiado, inovador ou tradicional deriva do levantamento dos dados e no © precede. Os critérios e definigdes sobre quais dados foram coletados é que sio efetivamente importantes. A petcepeao aciina mencionada, portanto, é a segunda etapa _do método adotado: a classificagio e a anilise das principais areas de interesse ou de atuagio dos historiadores & dos dados relativos a repercussio do conhecimento histérico produzido, que permitiram a delimitagio dos.problemas e sua interpretagao_historiogrifica mais detalhada. Neste sentido, inclusive, todas as séries de informagées puderam ser visuali- zadas a luz da periodizagao clissica e das disciplinas académicas da Histéria. Embora estes recortes se constituam em convengoes mais ou menos discutiveis, eles facilitam uma apreensio do conjunto dos dados. 22 A Historia no Brosil Como se trata de resgatar a produgao, a reprodugao, 0 consumo ea critica do conhecimento histérico no periodo escolhido, buscamos constmuir séries de informagdes que nos orientassem precisamente no sentido de obter elementos para cada um destes aspectos, embora uma série possa informar sobre varios deles. E assim’ que, para consideramos a produgio historica, levamos em conta as teses de livre-docéncia, as teses de doutorado e as dissertagdes de mestrado defendidas no periodo em pauta, além dos artigos, instrumentos de pesquisa e transcrigdes publicados. No que diz respeito a disseminagao social deste conhecimento efetuamos, sobretudo, uma andlise detalhada do mercado editorial da area de Historia. Para avaliarmes a repercussio do conhecimento produzido ou veiculado pelo mercado editorial, consideramos as resenhas e os ensaios bibliograficos publicados, as entrevistas e polémicas envolvendo historiadores, os prémios recebidos por membros da comunidade, sua presenga na midia e os livros de Historia que freqiientaram as listas dos mais vendidos. Cada uma destas séries de informagao, afora algumas outras que virao especificadas, demandou cuidados especificos. Sao estes cuidados que, em seguida, passaremos a expor observando antes que, nem sempre, foi possivel obter dados que nos pareciam importantes para melhor demonstragio de nossas hipéteses, simplesmente porque estes dados nio’se encontram disponiveis nas bases de informagao consultadas. Para a constituigéo do levantamento dos trabalhos defendidos nos cursos de pés-graduagio em Historia no pais consultamos 56 catilogos, na maioria produzidos pelas proprias universidades que abrigam esses cursos, além do principal banco de teses do pais, sediado na Capes®, Foi possivel obter, para grande niimero dos registros, os seguintes dados: nome do orientando e do orientador do trabalho, titulo do trabalho, nivel (mestrado, doutorado, livre-docéncia), instituigao em, que foi defendido, més e ano de ingresso do autor e més e ano de defesa do trabalho, mimero de paginas do trabalho e 0 resumo do mesmo. Alguns dados significativos, como a idade dos autores e orientadores ¢ a vinculagao institucional dos autores, ® Ver na biblogcaia deste wabaho os tens 2.1, ‘Catdlogos de teses e dissoragées"e 23,"inlormagdes sabre evaos do pes graauaga ae Introdugéo 23, nao pudemos obter. Estamos supondo que este levantamento é completo, exaustivo. Claro que falhas podem ocorrer, principalmente com respeito a cada elemento tomado de forma isolada, o que se explica em fungao da relativa precariedade dos instrumentos de pesquisa que pudemos acessar: por vezes, dois catdlogos de uma mesma instituicio nfo apresentavam os mesmos dados no que se refere ao nome de um autor, de um orientador ou outro detalhe. levantamento dos artigos se deu com base em uma sélida amostragem construida a partir dos critérios que passamos a delimitar. Em primeiro lugar, consideramos 17 titulos de periédicos que editam sistematicamente trabalhos de Historia, bem como 14 titulos de periddicos que editam eventualmente trabalhos de Histéria. Desses periodicos foi feito o levantamento total dos artigos de pesquisa ou de revisio neles publicados. Entendemos que estes titulos representam os periddicos de divulgagao mais importantes do pais *. Além destes periddicos, consideramos 37 outros, académicos ou nio, a titulo de exemplificagao, afora algumas hemerotecas, como a do Jornal do Brasil e da Biblioteca da Camara dos Deputados*?, Dentre os periédicos nao académicos, tomamos como exemplo especial a totalidade da revista Ciéncia Hoje, para uma visualizagao do que e em que mimero os historiadores publicam em um periddico de divulgagao cientifica sem um perfil estritamente académico. | ‘Um outro modo de verificarmos a qualidade e sofisticagio da produgao histérica do periodo foi através da consideragzo de um’ levantamento, por amostragem, dos instrumentos de pesquisa e das’ transcrigdes, em geral referenciados nos periddicos cujas_coleges_completas conseguimos cruzar e nas listas de livros publicados. Nao levamos em conta, a nao ser residualmente, os instrumentos de pesquisa produzidos pela rede de arquivos e bibliotecas nacio- nais porque isto demandaria um levantamento especifico, afora © fato de que estas informagdes podem ser parcialmente 2,Ver na Biblograiao tem 2.21. "Perisdicos considerados no todo" ‘Yor na Bibhogratiao tom 2.22. “Outs” 11 Agencia JB de Notas. Pesgulsa Extrna. Sistema Jornal do Brasil, Rio de Janeic. Centro de. Dooumentagas Informacao da Bibloteca Pedro Alexo da Cémara. dos pulados - Congreso Nacional 24 A Historia no Brosil encontradas a partir de pesquisa ja concluida no periodo 32. ‘A amostra de eventos, reunides, congressos e simpdsios teve por base o mesmo’ elenco ’de periédicos citado anteriormente, através de suas segdesde informes ou noticiarios, bem como os repertérios especializados*? e os anais encontrados nas bases de dados acessadas. A constituigo desta série de dados foi bastante problemética por causa da dificuldade de obtengéo desse género de informagées, do fato de que a maioria dos eventos nao resulta na publicagao de seus anais e da precariedade de sua distribuigao as bibliotecas brasileiras. ‘A amostra de associagdes e grupos de estudos especificos criados durante 0 periodo teve por base os mesmos elencos de periddicos e serviu para que verificdssemos 0 grau de especializagio que vem sendo atingido pelos estudos historicos no pais. ____ No que se refere ao mercado editorial, pautamo-nos, em primeiro lugar, pelo levantamento e andlise do que se publicou de livros de Histéria durante os anos 80. Para este levantamento procedemos a uma amostragem com base nas seguintes fontes: a colegao completa do periédico Leia, representando esta colegio aproximadamente 50% dos titulos ’ elencados; a Bibliografia Brasileira e 0 Boletim Bibliogrdfico editados pela Biblioteca Nacional; 0 acervo da Biblioteca “Alphonsus de Guimaraes”, do Instituto de Cigncias Humanas e Sociais da UFOP, em razao da mesma ser de constituigio recente ¢ ter adquirido macigamente livros editados no periodo em pauta, e os trabalhos de historiografia, por listarem geralmente bibliografia extensa e atualizada sobre o seu tema. Ainda para a anilise da editoragio do periodo _fizemos 0 levantamento das editoras que mais publicaram por ano, cotejando o volume de suas publicagdes com aquelas 1 rquvo nacional Guia basi de fontes pare a Hist da At visto ula brasileiro de fontes para a Histéra da Atic, da esc negra 9 00 negro. da sosedade atiel 2 v. Flo de. vanero: ArauNo \aconaDepartamerto. de Inprensa Raciona, 1966. Ainda que o tle. supra um Igiate meen im Ga psa 60 mas a aS wavs pe 3s» prvadoe So pals. Tnetita Braslavo. do Inlormagéo em Ciéncia@ Tecnologia (ICT). Calendévo de svoigs tm stn «teen Pago de congo sping ‘conforéncas, feunlbes,ncontos © simposts” a serem realzadss no Bash Feramh ‘consutades ase todos. volumes. Ver indizagSos complotas ra Bblegratia, tem 2:4. “Ouvas gine. wizagSes complotas na Sblograta, tem 2:4. "Oh Introdugdio 25 estritamente de Historia. Foi possivel também isolar, do interior da listagem dos livros, os autores que mais publicaram, 605 livros que tiveram 0 maior nimero de edigdes,os livros reedi- tados no periodo mas publicados pela primeira vez antes de 1980, o mimero de autores masculinos e femininos, afora as obras coletivas ou em colaboragao, as teses e dissertagdesque se tomnaram livros, as colegdesde Historia e seu perfil, 0 numero de paginas dos livros nacionais e traduzidos, os principais tradutores na area de Histéria e ainda outros elementos. No que diz respeito a repercussio dos livros editados e trabalhos em eral do periodo, levamos em conta, principalmente, as resenhas publicadas sobre os mesmos. Consideramos que as resenhas nos permitiriam delimitar, em alguma medida, um perfil dos leitores de Histéria_no- Brasil. A amostragem das resenhas teve por base, principalmente, os mesmos periédicos considerados no todo, o jomal Leia, a re- vista Ciéncia Hoje e as hemerotecas anteriormente citadas, além da evista Isto E - Senhor considerada em parte e outros periédicos que porventura pudemos consultar. As resenhas nos permitiram, dentre outras verificagdes, considerar os livros mais tesenhados, o ntimero de livros resenhados em relagao ao total de livros publicados, o mimero de livros nacionais e livros estrangeiros resenhados, os livros resenhados pot historiadores, 0s periddicos que mais publicaram resenhas, os ensaios bibliograficos editados, as resenhas de estrangeiros acerca de livros nacionais e os principais resenhadores do perfodo. ‘Ainda tendo em vista a esfera da repercussao, levamos em conta os livros mais vendidos, mesmo que estes dados nao aptesentem um perfil estatistico muito seguro*s, as entrevistas concedidas ou realizadas por historiadotes ’ brasileiros estrangeiros, as polémicas que se tomaram piblicas e os livros especializados que ganharam espago na imprensa mais geral, afora os prémios e as efemérides. Cada uma destas séries de dados, no entanto, sé adquire 14 Uttizamos, basicamente, as materias® os levantamentos publicados anvalmente por Leia'a espero cas malores edoras do Brasi. Estas materas e levantamentos tém,em Pe ge Cue em ne ede wo eg iizamos os levantamentos mensais © aruals dos livros de ndovtogso mais vendidos, publeados por Lea. As images para seu Uso serao expicadas quando ‘nalsarmigs este aspect, no fom sobre eutoracao. 26 A Historia no Brasil toda sua clareza quando pensada em relacio as outras. E nesta Perspectiva que se toma possivel utilizar, efetivamente, © conceito de historiografia com o qual estamos trabalhando. A primeira vista, por exemplo, o enorme volume de artigos en- contrados talvez permitisse supor uma intensa produao de pesquisa original, 0 que nao se verifica quando observamos que grande mimero deles é, na realidade, parte de um trabalho anterior nao publicado e do qual é dado a publico o fragmento que certamente seu autor considera mais importante.’ que se observa neste caso é apenas uma duplicagéo de informagao sem que a mesma represente ampliago do campo do conhecimento, ainda que isso nao seja desimportante para a disseminagao das pesquisas, ___ Desta forma, ao longo deste trabalho, buscamos cor- telacionar estas séries de informagées, tentando obter uma visio mais clara do movimento da Historia’ no pais, comparando-as, quando possivel, com levantamentos presentes em trabalhos historiograficos anteriores ou mesmo com levantamentos que também tivemos que efetuar para o periodo anterior. A partir da andlise relacional desses dados é que foi possivel detectar algumas tendéncias historiograficas para o periodo, entendidas como abordagens mais _tecorrentes. Observe-se que recorrente, aqui, nao significa estritamente um grande numero de livros editados ou teses defendidas, mas um balango da presensa de tal abordagem ou tema em relagao a todas ‘as séries observadas. Ainda que os aspectos ligados produsio por vezes sejam mais importantes, como nao poderia deixar de ser, nao foram os unicos que consideramos para definir aqueles setores ou aquelas frentes de pesquisa que tiveram maior significagao durante estes anos. Por vezes, um tema ou abordagem objeto de poucas pesquisas inéditas teve. apesar disto, que ser destacado, exatamente em funcao do seu grande impacto na comunidade de leitores ou mesmo na im prensa em geral. _ Todas estes dados sé puderam ser trabalhados com maior agilidade porque contamos com um programa de banco de dados informatizado que permitiu a contagem e cruzamento dos mesmos. ‘A coleta das informagées, que se iniciou em julho de Introdugdo 27 1991 e foi concluida em junho de 1992, levou em conta um mimero relativamente alto de bibliotecas e bases de dados em alguns estados do pais 36. O que mais salta aos olhos é0 cariter incompleto das colegdesde periédicos ou instrumentos de pes- quisa, como catalogos de trabalhos académicos, em todos os acervos consultados, e a precariedade dos suportes de informagao adotados que sio, usualmente, ultrapassados. Por vezes foi simplesmente impossivel obter um determinado numero de periddico porque 9 mesmo nio se encontrava disponivel em nenhum acervo. Ede se lamentar, também, que nao exista, até hoje, nenhum sistema nacional de coleta de dados da area de Historia ou mesmo publicagdesque retinam dados, tanto mais quando se pensa que isto vem ocorrendo em areas afins, como em Antropologia ou em Letras, E essencial, por fim, antes de apresentarmos as partes em que 0 trabalho foi dividido, um esclarecimento acerca de todos os aspectos que foram deixados de lado nesta pesquisa. Em principio, reafirmamos que o levantamento efetuado nos parece consistente, Consideramos que os dados que recolhemos sio suficientes para as afirmativas constantes neste trabalho e, neste sentido, tenderiam a ser confirmados por outros levantamentos ainda mais exaustivos. Sem diivida, este trabalho possui um perfil especifico em virtude daqueles elementos que deixou de fora. Nestes termos, a disseminagao social do conhecimento histérico pode ser visualizada em parte pois, afinal, nio nos detivemos no levantamento e andlise de todo o material didatico de Historia referente ao ensino de primeiro e segundo graus, nem nas pesquisas especificas em toro do ensino e da veiculagio, hestes niveis escolares, do conhecimento produzido. Trata-se, portanto, de uma anélise da disseminagao socisl do conhecimento em seus extratos mais especializados ou junto “opinido publica” em geral. Diversas foram as razées que nos levaram a deixar de lado a produgao didatica em Historia. Em primeiro lugar, eremos que a veiculagao de conhecimento especializado em textos didaticos da maioria das areas de conhecimento ocorre com relativo atraso. Levantamentos nestas, a oem 2.5. “insttukgbes consulads”, 28 A Historia no Brasil reas provavelmente demostrariam que o que hoje é divulgado pela produgao didatica em Histéria nos primeiro e segundo graus nao equivale ao que é lido e discutido pelos grupos mais especializados e pelos leitores em geral. Haveria, portanto, pelo menos dois movimentos de disseminagio do conhecimento com cronologias proprias. Em segundo lugar, uma pesquisa que visasse reconstituir a assimilagao do conhecimento histérico pelo ensino bisico teria que langar mio de procedimentos metodologicos bem distintos, dentre os quais a observacao da realidade do ensino, as fontes orais e a avaliaga0 dos conhecimentos adquiridos por parte dos alunos, o que é um longo trabalho que demandaria uma pesquisa tio ou mais ampla do que esta, Por outro lado, no abordamos neste trabalho 0s cursos de graduagio em Histéria. Ainda que alguns sejam produtotes de pesquisa e preparem candidatos aos cursos de pés-graduagio em Histéria, optamos por privilegiar, como ja foi dito, as esferas mais especializadas de produgio do’ conhecimento histérico ». Nao consideramos igualmente os projetos de uisa publicados nos periédicos da area de Historia. Como nosso interesse era observar os produtos acabados, pareceu-nos de menor importincia abordar as intengdesde pesquisa formuladas por pesquisadores € instituigdesem relasao as quais seria dificil saber se foram concluidas. Os artigos escritos por historiadores estrangeiros nao tadicados no Brasil, traduzides ou nio, publicados nos periédicos com os quais trabalhamos, também foram deixados de lado na medida em que nosso interesse era obter uma imagem a mais precisa possivel da produgao de intelectuais brasileiros ou efetivamente aqui radicados!*. Cremos também que tal amostragem daria um perfil muito pélido do que, em realidade, é publicado nos periddicos das mais diversas partes do mundo sobre temas da Historia do Brasil. Por outro lado, 0 17 ‘aires iformagées sobre cursos. de graduacto poderiam sor oblidas através da publeacie Avalapso 8 vas (1989) do CNP que nia fol ectaga, mbora 30a ‘erséo breliminar_tenha sido dlscutda por cerios setores da comunidade. Tivemnos 98e380 & esl texto soba condigdo de ndo divigaro, ara © levantamento do lodas as senes, consderamos os trabahos de Hisria roduzidos por historiadores @ po outos protisionalsqualficades Introdugéo 29 levantamento de textos sobre Historia do Brasil em periddicos estrangeiros seria invidvel, jé que os mesmios nao se encontram disponiveis no Brasil em mimero suficiente para tal empreendimento e porque nao dizem respeito ao movimento da Historia no pais durante o periodo. Nao levamos em conta, também, a ndo ser de forma episédica, os livros de Histéria da Literatura, brasileira ou estrangeira, publicados no. periodo. Este levantamento demandaria todo um trabalho a parte e, possivelmente, produziria um desvio no interior de nossos dados pois, afinal, a maioria das historias literdrias nao é escrita por historiadores. ‘Um outro rol de trabalhos que raramente foi considerado 60 de textos de divulgagio histérica ou de historia imediata escritos, via de regra, por jomalistas e que, em nosso entendimento, pouca’ contribuigio fornecem para 0 conhecimento especializado da ares, ainda que possam ser titeis para uma percepgao dos temas, enfoques e problemas que pas- sam a ser disseminados para o grande publico pelos nao profissionais em Historia Por fim, tivemos também que deixar de lado, na quase totalidade dos’ casos, as biogra‘ias editadas no periodo. Percebemos que seria praticamente impossivel isolarmos da enorme massa de biografias anvalmente editadas no pais aqueles trabalhos que tivessem um maior significado historico em relagao a grande maioria de biografias romanceadas, escritas pot historiadores ou por profissionais habilitados a tal. Um estudo das biografias escritas e editadas no periodo demandaria, tambem, uma pesquisa muito extensa que precisaria abordar diversos problemas especificos a este género de trabalho. Esta decisio decorreu ainda da nossa percepgao de que a grande maioria da comunidade de historiadores nao desenvolve trabalhos na area, sendo dificil indicar muitos bidgrafos no periodo que sejam igualmente historiadores}?, ‘Alem disto, néo foram considerados os livros de memérias, 49 Tal como observa F. Novas, a biogratia Gum dos génerosmais dlceis da Histéia, Conform ele nota, biograos profssionais anvammente vimam algumas personagens Sa'Histeria, com soras normalmente rechedas da lustragies" NOVAIS, FA univer Sidade © a'peaguisa historea: apontamentos. Estudos Avangadcs, v. 4,.n.8, p. 108, jandabr. 1980. Um exempio de vabaho estrancero de sucesso #GAY, P. Freud: uma ‘ida para nosso tompo, 30 Historia no Brasil ainda que possain ter interesse para historiadores, porque mesmos no se configuram ea obras de Hitorle a sentido estrito. Alguns outros elementos também foram deixados de lado, © que se justificara no momento oportuno. Resta ainda expor, brevemente, as partes em que dividimos 0 trabalho, a modo de um roteiro para que o leitor se informe acerca da estrutura geral do livr 0 texto foi dividido em dois volumes. No primeiro foi efetuada uma andlise do movimento da Historia no periodo; no segundo vémn dispostos os dados coletados, servindo o mesmo como um vasto instrumento de pesquisa, A andlise contida neste primeiro volume seguiu, em linhas gerais, a ordem em que as séties de informagéesforam apresentadas anteriormente, através de trés t6picos ‘principais sobre a producio (Capitulo 2, Trabalhos da Historia), a editoragéo (Capitulo 3. Editoras ¢ Livros de Histéria) e a'tepercussio (Capitulo 4. Repercussoes). Incluimos, também, um capitulo sobre alguns problemas teéricos que nos parecem esclarecet certos aspectos da di- namica da produgio em Histéria no periodo. Supomos que estes capitulos possuam certa autonomia, o que possibilita a leitura em qualquer ordem. 2. Trabalhos da Historia 2.1. Os cursos de pés-graduagio em Historia e seus trabalhos A. consolidagio dos cursos de pés-graduagio em Histéria no Brasil é'um fendmeno dos anos 80. Ainda que os mesmos, em sua maioria, tenham sido criados na década anterior, uma avaliagio mais detalhada de seu perfil, bem como do montante dos trabalhos realizados naquele periodo pelos mesmos, indicaria 0 seu carter incipiente. Instalados os cursos de pos-graduagio, seus frutos mais efetivos ficariam para os anos 80, tanto quanto um fluxo mais continuo e permanente das pesquisas e uma definigio de perfil institucional um pouco mais precisa. Porém, mesmo esta consolidagio, vista de outra perspectiva, apresenta diversos problemas. Pense-se, por exemplo, nos acervos bibliogrificos com que estes centros de pesquisa podem contar. | E comum dizer-se que a pesquisa em Historia no Brasil nio 6 feita apenas pela Universidade. No principio dos anos 70 algumas interpretagdes chegariam mesmo a negar, dentre outros, NOVAIS, FA. A unversidade @ a pesquisa histrica apontemenios, Estudos Avangades, Sto Paulo, v. 4 . 8, p. 108, jan abr. 1990; SILVA, MB. Naa, A pesquisa historea no Brasil Cidnciae Cultura, So Paulo, v.35, n. 1.6 45, [an 1980) 1d. Pumas da pesquisa histérca no Brasil Anais do il Aounié ‘Soeledade Grastova de Pesquisa Histrca. Sao Paulo, 1984p. 207; IGLESIAS, F. Histora. CNB4. Avalardo & Porspectivas. v.7. Ciéncias Humanas e Socias, Brasil: GNPaCoorsenagde Edtoial, 1982. p. 199.200. 232A Historia no Brosil veementemente, o papel desempenhado pelas Faculdades de Filosofia na pesquisa em Historia 2, adotando uma posigao que, 4 propria época, ja seria dificil de ser sustentada. Existem, Portanto, outros nticleos de produgao de conhecimento na area e que também devem ser levados em conta. Longe de nds negarmos esta evidéncia. Mas supomos caber a universidade, apesar dos pesares, 0 papel principal na produgio de conhecimento historico no periodo objeto deste trabalho. __ Apesar de uma maior profissionalizacao da area de Historia durante os anos 80, as condigdes de trabalho e de pesquisa nao foram das melhores. Além disso, a meméria da pés-graduagao em Histétia nao esté organizada. Ainda nao constituimos bases de dados minimas, tal como ja pode set observado, ha um bom ntimero de anos, em outros setores das Ciéncias Humanas. Propostas que datam no minimo de 20 anos ainda continuam com toda a atualidade, no sentido da constituigo de um bane de dados de Historia do Brasil. A situagto pouco ou nada mudou nestas tltimas décadas, cabendo retomar a avaliagéo que F. Iglésias, em 1982, apresentou quanto a obtengao de dados: “nao é facil a desejada’quantificagao, pois 0s Orgaos responsaveis - 0 MEC, a Capes, 0 CNPq - nao os possum, ou possuem com impreciso, que provocam diividas em sua credibilidade”*, Sem diivida, estas condigéeslimitam 0 campo da avaliacao. Observando o desenvolvimento dos cursos de pés- graduagio em Historia no pais durante os anos 80, uma primeira constatagio é a de seu relativo crescimento em relagao 4 década anterior. Nao que os cursos de pés-graduagao tenham acres ma ce Anais oe | Sainte Estudos Histéricos (set. 1971 - USP), Fotolia ne desenvolvimento do etude hslacos'“ MOTA'CG. A istorogratia bet Sle nog uitmes quarena anos: tntaiva de svasaceocrice’ Bocas Res Si Baulo.n. 5, p24, 197 mmoemee, Oeese 9 s et as Tfopostas de F._ Ilésias constanies em MEQUELUSSE’s. Estage atil 8a pesquisa hstorca ho Sasi Revise co Hitriet Sto Paula v. Mtl, n 88, p. 250, outloen. T1071, SILVA, WB. N. da. & poses histiica no Brasil Op. cp 208, Neste texto foram apresentadas dues proporie ¢ frimeta sugeta que a Sicieca Nacional over langar analmente ame Sohogeais histones brasleta. Entencemos que a BBlogrefa Brasiora da Biloteca Naconel {tada desde 1983, vem cumprnso esa tun. outa propia, Oe ques Capes ‘istiuise “es olagBesde tabahos Selendis, nao to rplomeniads igo fim bet es 80. TBLESIAS, F. Op. ot. p. 213, Trabolhos da Historia 33 proliferado descontroladamente, ainda que alguns tenham surgido e atestem também este relativo crescimento. Mas houve um amadurecimento interno dos cursos ja existentes e uma certa estabilizagao, para a maioria, de um fluxo de pesquisas © dotagdes orgamentirias. ‘A pos-graduagao em Historia, nos termos em que ela hoje se apresenta no pais, iniciou sua implantagao em 1971. Nos anos 70 ¢ que se estabeleceu a maioria dos cursos até hoje existentes. Entre 1971 e 1974, foram instalados 8 cursos de pés- graduagio, na USP, UFF, UFPR, PUC-SP, UFGO, PUC-RS, FECLSCJ/Bauru_ (posteriormente’ desativado) e UFPE (ver Tabela ne 1). Todas estas pds-graduagoes eram cursos de mestrado, a excegao da USP, com doutorado em Histéria Social e Historia Econémica. Na segunda metade dos anos 70, iniciaram suas atividades mais 4 cursos de mestrado, na UFSC, UnB, UNICAMP e UFRJ. Os anos 80 tiveram um numero bem menor de cursos de mestrado criados, apenas 5, 2 entre 1980/1984 e 3 entre 1985/1989: UNESP/Assis (1980), UNESP/Franca (1980), UFRGS (1985), UNISINOS (1987) © PUC-RI (1988). Houve uma expansio dos cursos de doutorado, com a criagao de mais quatro, na UFSC (1981), na UFF (1984), na UNICAMP (1984) e na PUC-RS (1986). Temos, portanto, funcionando no fim “dos anos 80, 16 cursos de mestrado e 5 de doutorado em Histéria, o que representa um aumento de 75% em relagao aos anos 70. O mais expressive destes dados foi a ctiagdo de 4 novos doutorados, decisivos, ainda que em seus primérdios, para a profissionalizagao da area, Do ponto de vista geral, a dominancia nestes cursos éa pesquisa em Hist6ria do Brasil, como nao poderia deixar de ser. E, no que se refere as suas dteas de concentragao, a ténica é dada pela Historia Social e Econémica, vindo em segundo plano a Historia Demografica e da Cultura. Quanto as liahas de pesquisa, predominam os enfoques regionais. Embora possa-se questionar a inexisténcia de linhas de pesquisa que, tal como na pés-graduacio em Histéria de outros paises, poderiam estar presentes (como no caso da Historia da Arte), 0 fato ¢ que, também no Brasil, se verifica um movimento comum na dinimica da pesquisa histérica no mundo ocidental: 0 desenvolvimento das abordagens sécio-econémicas (em 34 A Historia no Brasil detrimento das politicas) ¢ 2 cousolidago do predominio da Histéria Social O perfil particular dos cursos de pés-graduagao também esclarece melhor suas principais tendéncias e 0 tipo de desenvolvimento por que passaram desde que forain criados, conforme se pode observar na Tabela ne 1. Se, geralmente, as areas de concentragao sofreram alteragdes ou foram modestamente ampliadas, as linhas de pesquisa, no entanto, conheceram uma mudanga mais freqiiente, 0 que é compreensivel, ainda que nem sempre os resultados tenham sido eficazes. A-USP, em certa medida, parece ter servido de modelo para muitas outras pos-graduagées, inclusive se levarmos em conta os titulados por aquela instituigio que se tomaram professores de outros cursos de pés-graduagéo. no pais. Desde que instituiu a forma atual de sua pés-graduagao, em 1971, ela no alterou sua estrutura que, a0 que parece, continua sendo eficaz para abrigar o espectro de pesquisas mais largo do pais. Nao obstante parega ter reivindicado, em dado momento, wina terceira area, a de Historia Politica, tal nao se efetivou 5, Na definigao do perfil da pés-graduagio em Historia da UFF, influia decisivamente, durante os anos 70, a presenga do grupo de brazilianisis que para 1é se dirigiu®, o que se observa inclusive pelo rol de pesquisas e temas da época. Com a contratagao de diversos professores no principio dos anos 80 ¢ a redefinigao das linhas de pesquisa, 2s areas de concentragao foram novamente alteradas em 1982/1983. Neste momento, © destaque, tanto do mestrado quanto do doutorado, era 0 do “espaco-tempo correspondente a0 Rio de Janeiro”?, ainda que isto nio afetasse a pluralidade dos temas de pesquisa naquela instituigdo. Posteriormente, em 1989, os cursos de mestrado e de doutorado passaram por nova alteracao. A novidade principal foi a ctiagio de dois setores temiticos, a saber, Historia Social Antiga e Medieval, em que se privilegiava 0 Egito Antigo, a Mesopotamia e a Baixa Idade Média, e Historia Social Modema 5 MESGRAVIS, LO curso de pos-gacyacio do Departamento de Histia da FFLCH g USP, RovstaBrasiora oe Haters, Ste Paulo, v.31 5p. 9D, mar 1083 UEP” Memoria Gos cursos co pos giaduepao.Hlestado 6m Hstara: Nir EDUFF, 4986, 0.72 ibd p. 1. repela 221 DRASIL. RELAGKO DE CUESOS DE POG-GRADUAGKO EM HISTORIA, SUAS AREAS DE COMCENTEAGKO E RESPECTIVAS LINKAS DE PESouies “izea de Concentrapéo Limhas de Fesqsiea (ano de inteto) @, Sort ‘poonoadca aeort Historia Social Materia da Anorica “aa América Latina Soe Batadoe Unido 0 araail Histgria do Mexico Mietsria Regional do Bstado do Ric de ganeiro (1976/77) Historia Politica de Anrice Latina (1976/70) odo ve hk e xx, het. jetéria Regional (13 ndetoria social eo Metéria Sockal © Econdaica 3 3 # edo mestrado Roemer ar (over) exayr oureqeas ov odyeuezs wu aN ou oxpraezosa ¥ ue “eragastn agen sever * Trseza op erzoasTH x8 2 8 cederiuscten 9p voxy SR ————___— (zist) seotmagzequz sogteton vorxoieyH Ceyabsed wp 750 TopodeH at aay ee acer eee vorspitone orspeert evade (et9er op onn) wernt ep err so : See ne nae se ‘wruousr# - sisey/aeaxa 29287H ep eFI08L ‘e}BoTOPoIEH viugasta can (4961) oweqia obedez op opstnarzeuc ¥ Coser) exayy oureaesa ov onetong ovtygesa) op Oper nea (ese) evo 0 = ouvazn opeyzt (ee (oF9;Uy ep cue) veynbseg op sexuyT ondezauestog op 2) otned os Treezg op erzoaeTH op vorastod eFs93sFit ‘Trevaa od vrwoasra gua 11261/ sooywouo>s /usst/ syemaqho sogsyaayasur feast 45 user) aeayaston (cusp) Ter005 (See (set) euyreaes waues Wruousia = 3640 eqeopzon op eyz738TH Treexa op eFro2aH (oust) waren eortandow eu oaBePION O (orosup op cue) eeynbeeg op eeuurt optezqusoucn ep wozy Minhas de Pesquies (ane de infeto) ikres de Concentragéo conelusio curso Trabaines da Historia 35 e Contemporinea, com énfase em Historia do Brasil, Tal como USP. a tendéneia da UFF éconsolidar uma pés-gtaduacao que permita um leque © mais amplo possivel de pesquisas ¢ inte- Reeses, 0 que nao € 0 encaminhamento da grande maioria dos Dutros cursos de pos-graduago, por vezes excessivamente a ao 5 5 regionais. ‘Um dos trés principais cursos de pés-graduagao_ em Historia do Brasil tem um perfil diferenciado, A UNICAMP, ao 7 mio abordar os enfoques metodoldgico-tematicos tradicionais =e = = da Historia Sécio-Econémica, como na USP, ou ao nao pretender cobrir os amplos "recortes espago-temporais da Piistoria (como na UFF), optou por abordagens mais especifi- cas, como se vé na Tabela n= 1 "A andlise desta tabela sugere algumas observagdes. Uma delas diz respeito aos problemas enfrentados pela Historia da ‘América, Muitas areas de concentragéo, neste campo, foram eatintas durante © periodo, como as da UFF, da PUC-SP, da PUC-RS, da UFSC e da UNESP (Assis), esta ultima criada ainda em 1980, A rigor, os inicos cursos que oferecem estudos em Historia da América so os da UNESP (Franca), com trabalhos ja defendidos, da UFRGS ¢ da UNISINOS, ambas ‘ainda em estruturagao. A area, portanto, encontra-se bem pouco representada no pais © acabou por ser ‘considerada pela Capes, em 1989, como "earente” ‘Outra observagao diz. respeito a uma certa dificuldade, apresentada pela maioria dos cursos, em. definir-se acerca de sone areas de concentragao. Segundo F. Tglésias, relator da sub- Grea de Historia junto ao CNPg em 1982, alguns curses "se perdem no genético: o éutso é de Historia, ov de Histéria do Basil, tour court, sem qualquer caracterizagao”*. Esta situagao teve uma pequena melhora, ainda que © problema continue se apresentando. Em realidade, o que parece ocorrer, por um lado, € arolativa incipiéncia da drea de Historia, ainda Jovem, frente a jim campo por demais extenso de pesquisa a ser preenchido. Por Suto, ardificuldade na definigao de areas de concentragao diz também a possivel intadequagao deste tipo de Capes, junto a area de Ciéncias sobre cursos de pée-graduacho* i a # 3 3 dno de recredenciamente vrnos - ureréera re exigéncia, por parte da pico 2.2. da Bibiiogratia *informagée gules 8 IGLESIAS, F, Op cit p. 208, Populagdee Indigenas Tbero-Americana®, 11907) Teoria e Metodelogie da Miatéria /1989/ re76Rx0, Wetoria da América tatina colonial Whetéria da Regito Platina /1989/ tietéria da América tating Mietéria doctal da Cultura ‘uwrsP/rpaNca Puc Ra, Ia 1 Yen senpre fo! possives obts ‘i sopre fs vel obter a date de implantagio das Linhas de 36 A Histéria no Brosil Humanas. Se as dreas de Ciéncias Exatas e Biolépicas apresentam um perfil mais nitido neste sentido, isto diz respeito também a uma definigao mais clara de seus diversos setores & sub-setores, 0 que nao se verifica com as Ciéncias Humanas. Foi esta busca de uma definigao que talvez tenha levado cursos de pés-graduagao em Historia do pais a alterarem, em tao pouco tempo, suas éreas de concentragao, em certos casos mais de uma vez, como a UFF. Apenas alguns cursos, como os da USP, da UFPR, da UnB e da UFRJ, criados nos anos 70, permaneceram com as mesmas areas de concentragao, sendo que todos os outros sofreram alteragdes significativas, para 0 que concorreu também a especificicade de seus respectivos corpos docentes. Neste sentido, as observagdesconstantes no relatério da UNESP (Assis), apresentado a Capes em 1988, servem de exemplo para uma situagao que é comumente vivida pelos historiadores: rigides produsido le cothectnenta, ‘Toda detinidos Oey agusto gu hunanidades, en ‘partie Bigniticado. "A Sobre as linhas de pesquisa adotadas nao faltaram criticas contundentes nos tiltimos anos. G. Velho, relator geral da area de Ciéncias Humanas para a publicacao Avaliagao & Perspectivas do CNPq (1982), afirmou que "o destaque e 0 estabelecimento de linhas de pesquisa pode pecar tanto pelo excesso de patticulerismo como pelo excesso de generali- zagio"}, F. Iglésias, relator da sub-area de Historia, no mesmo documento, dizia ‘que alguns cursos de pés-graduago confundiam “linhas de pesquisa com determinada pesquisa”, certamente a pesquisa individual de um dos integrantes do corpo 8 MEC/SESu. Capes. Sistema de ioformapses sobre cursos de pés-graduagéo. 1afdes complementares UNESP (Assis). Histta, 1887, VELHO, G. invocusdo as Ciéndas Humanae e Socials, CNPG. Avalagdo & razeatas Op ot 9. TELESIAS, F Op: di. 204 Trabathos da Histéria 37 nda mais veementes, como docente, Outros come; M. B.N, da Silva, quando salienta duagas. autordtarics gee neo per Pires Pesquisa e nse perm Certamente ha uma dose de exagero nesta ultima proposigiio, visivel para quem conhece as formas reais de funcionamento e os espagos de liberdade reservados ao corpo docente das _pos-graduagoes. Entretanto, ela expressa_ um problenia de fundo: a dificuldade de uma definigao transparente de linhas de pesquisa em Historia, dada a particularidade do perfil curricular dos docentes envolvidos neste trabalho, Sio igualmente perceptiveis, em diversos relatorios das _pos- gtaduagdes, as dificuldades enfrentadas pelos cursos no montento do estabelecimento de suas linhas de pesquisa, a partir das exigéneias da Capes de uma “definigao precisa’? "A reconstituigio das linhas de" pesquisa & wm. trabalho penoso, pois, aqui, Como em geral, se repele © problema da fidedignidade dos dados. Como ressalta F, Iglésias, os questionsrios foram com freqiiéncia al respondidee, ov por falta de entendinento de seve Soneulentes sere= prejudica nce ou pele tecelon de ‘ria uma andlise detalhada do de- la curso de pos- E desnece: senvolvimento das linhas de pesquisa em ¢: graduagao em Historia. A mera observago da Tabela ne 1 indica que a quase totalidade dos cursos teve suas linhas de pesquisa constantemente alteradas, nem sempre com coeréucia, diga-se, havendo inclusive casos-limite, dada a impropriedade de determinados temas, de dimens6es mnicroscdpicas, em cursos de pos-graduagao. Algumas linhas de pesquisa sao anteriores aos cursos e foram a eles incorporadas quando eriados. A consulta aos relatorios enviados a Capes pertnite observar que 12 SILVA, M. B.N. da. A pesquisa histoviea no Brass, Op. ci. p 48 13 UFF, Op. a 033, 14 {GLéSIAS, F/Op. cit p.204 38 A Historia no Brasil um ntimero muito elevado de linhas de pesquisa é integrado por um Unico professor, numa confusio de interesses individuais com institucionais. Igualmente pode ser observado que nem sempre as linhas de pesquisa possuem afinidades clatas con. as areas de concentragio, ou melhor, nem sempre ¢ justificavel que se tenha privilegiado tais linhas de pesquisa como aspectos particulares de uma determinada area de concentragao. Cabe, no entanto, a ressalva de que algunas instituigéesconseguiram wma definigao mais segura de suas linhas de pesquisa, como a UFF e a UNICAMP. Um aspecto positive do comportamento. das linhas de pesquisa foi a tendéncia, visivel nos anos 80, de se constituirem abordagens em Teoria e Metodologia da Historia, Por vezes direcionadas para campos particulares da pesquisa. Considerando as condigoesinfra-esiruturais desses cursos © diagnéstico nao é promissor. Do ponto de vista de suas instalagdese bases de dados o conjunto nao ultrapassa 0 nivel de suficiente, embora sobressaiam algumas ilhas de certa exceléncia, ainda que nunca paradisfacas. Convivefn alguns centtos mais bem aparelhados com outros de perfil francisco. Inexistem, em geral, bibliotecas razosveis de livros, periddicos € instrumentos de’ pesquisa. Faltam bases informatizadas, circulagao de especialistas, publicagio dos trabalhos defendidos, indices’ ou abstracts dos mesmos © daqueles ainda em elaboragio. nl termos de acervos, por exemplo, tem-se uma biblioteca como a da USP, sem duvida acima do razoivel, mas Jonge de ser exaustiva e’ sem lacunas incompreensiveis, ou come a da UNICAMP, com 70.000 titulos e mai de 500 assinaturas de periddicos estrangeiros:+. Ou, por outro lado, uma biblioteca como a da UFGO que, segundo relatério enviado 4 Capes em 1989, nao assinou nenhum periodico desde 198026. ‘Aspecto mais positivo dos cursos é, sem dtivida, o movimento de publicagao mais regular, com a criagio’ de diversas revistas, boletins, cademos de divulgagao e de pesquisa. 15 Vero lometo de propaganda dos programas de mestrado & doutorado da UNICAMP gg 1208, UNIGAMP "Histone Mestredo © Doutersco”p 4 MECISESu Capes. ‘Sistema de inlormapoes Sobre cursos de_pés-giaduacdo, 'nformagaes complementares. UFGO. 1988. & data do relat 6 15/05/63, Trabalhos da Histéria 39 Outro bom indicador foi a proliferago de nticleos, centros & Iaboratdtios de pesquisa e documentagio, afora a continuidade dos trabalhos naqueles ja existentes antes de 1980, contribuindo visivelmente para a reuniao de pesquisadores e de material minimo_ indispensével as pesquisas, como equipamentos audio- visuais, obras de referéncia e fundos documentais publicos privadds. A disposigao geogrifica desses cursos também nos da algumas indicagSesimportantes. Comparando 0 total de cursos existentes em 1989 com o total em 1979, tem-se que a predominancia de cursos de pés-graduagio na regio Sudeste, especialmente em Sao Paulo e no Rio de Janeiro, permanece incontestvel em mimeros absolutos, 0 que se'toma mais critico pelo fato da concentragao atualmente envolver os cursos de doutorado, tal como se pode ver na tabela seguinte. O Rio Grande do Sul também apresentou consideravel crescimento. tabelan® 2 BRASIL. WMERO DE CURSOS DE P6S-GRADUAGKO EM HISTORIA POR ‘UNTDADES. DA PEDERAGRO Sho Paulo > 2 5 2 ‘Janeiro 2 : 3 i Rio Grande do sul i : 3 i Parand. £ i i Banca. Catarina z 2 : Diserite Federal i i : Golks i 3 Legendas: Fonte: MEc/sEsu A avaliagao da Capes dos cursos de pés-graduagio_em Histéria no pais, com base em dados para 0 periodo’ 87/89 (ver Tabela n® 3), indica uma situagdo razoavel dos mesmos. Quanto aos 17 cursos considerados, 13 receberam notas entre A e B- e apenas 2 receberam C, além de 2 sem credenciamento. Dos cursos de doutorado, quatro deles tiveram avaliagio A- e um ainda estava’ sem credenciamento. Note-se que todos os cursos que obtiveram conceito A em seus 40 A Histéria no Bras mestrados e doutorados estio local 0 nei sestados ¢ #80 localizados no Rio de Janeiro e Comparando-se o desempenho da Historia com o de outros cursos da ‘rea de Cigncias ~Humanas e Sociais, e Tevando-se em conta as avaliagdes A e A- recebidas por estes Cursos, tem-se que a posigio da Historia émediana, conforme se vénaTabela me 4 . Tabela 29 3 WEc/aEnu. caPés. avALIAGRO™ 008" CUREOS DE Rbs-oRADURGKO mH (aados levantados entre 1987 @ 1989) ures = USP (s0c.) x USP (Bes) nt UMESP/a = wese/? é a Legendas: « - cursos de vestrade Yonte: Folhs des. Paulo. 24/6/91. B. 4-4. Evidentemente, nao é apenas nos cursos de pés- graduag3o em Historia que se realiza a produgio do conhecimento historic, conforme ja foi dito, ainda que seja hestes cursos que se localize o maior volume dos trabalhos. Ein alguns outros centros universitaries importantes também sao acolhidos historiadores, tanto na condigao de docentes quanto de discentes. Contudo, é ainda impossivel obter uma indicagio mais precisa dos demais cursos de pés-graduagio que atraiam graduados na area e onde os mesmos desenvolvam pesquisas com evidente carter histérico. Trabalhos da Histéria 41 tabela 12 ¢ ‘ vac/arge. caras. avacacho Gos. cunsod ve. ros-onanuncho wag Ants "EH RELAGKO AO TOTAL BE CURSOS (dadoe Tevantadse entre 2987 = 1909) Filosofia 20 a0 Latrae/Ling. 6 Geogratta 2 4 Wieeoria a w Er politica rey 4 Fonte: Folha de 5. Paulo. 24/6/91. p 4-4 E perceptivel, no entanto, a atragao que alguns centros tm exercido sobre’ historiadores, como o Mestrado em ‘Antropologia do Museu Nacional’e o IUPERI, no Rio de Janeiro, ou 0 DCP na UFMG. Localizamos também trabalhos ‘com significativa vinculagéo com a Histéria nas mais diversas instituigdes brasileiras, destacando-se as pds-graduagdes em Ciéncias Sociais, Letras e Literatura, Comunicagdes e Artes, Psicologia, Ciéncias da Informagao, Multimeios e Saude. Cabe ainda mencionar os diversos cursos de especializagao (pés-graduagao lato sensu) na area de Historia, antes de abordarmos os trabalhos produzidos nos mestrados & doutorados. Como exemplos de especializagio cite-se 0 Programa Regional de Especializagao de Professores do Ensino Superior (PREPES), da PUC-MG, funcionando desde 1974, com 205 cursos ministrados em’ varias areas e 5.438 es- pecializados até 1989, e o Curso de Especializagaio em Cultura e Arte Barroca, oferecido pela UFOP em Ouro Preto, afora outros ocasionais, como o Curso de Especializagio em Historia das Relagdes Exteriores do Brasil, promovido pelo Ministério das Relagdes Exteriores, no Itamaraty, Rio de Janeiro, apenas durante o ano de 1984. Ha ainda informagoes sobre diversos outros cursos27, com predominancia em Historia do Brasil. 17 ASSOCIAGAO CATARINENSE DAS FUNDAGOES EDUCACIONA'S. Pés.gradvagio 42 A Historia no Brasil Tal como se ampliou 0 mimeto de cursos de mestrado & doutorado em Historia, 0 de trabalhos defendidos também cresceu significativamente nos anos 80. Este crescimento nao ocorreu apenas ou principalmente em fungio dos trabalhos defendidos nos novos cursos criados, mas se deu como mani- festagio do ritmo de produgao que foi se consolidando naqueles Ja existentes. Apenas a USP apresentou um ritmo de produgao acentuado desde os anos 70, seguida pela UFF e pela UFPR. O crescimento do mimero de trabaihos por ano, entre 1973 e 1979, ‘ocorreu numa progressio expressiva que se estabilizou nos anos 80, com a manutengao de um volume de produgao que os anos anteriores prepararam. A andlise das Tabelas ne 5, 6 e 7 permite observar o comportamento geral dos trabalhos produzidos desde a criagio, nos moldes atuais, das pés-graduagoes em Historia no pais. Do que foi possivel reunir de dados, entre 1973 e 1979 foram defendidos 309 trabalhos nos cursos’ de pés-graduagio em Historia no pais, 275 dissertagdese 34 teses. A USP ficou tepresentada por 132 destes trabalhos defendidos, incluindo as 34 teses, perfazendo 41,3% do total de 309. Em seguida véma UFF, com 18,1%, a UFPR com 10,9%, a UFSC com 7,1% e outras com petcentual menor. Quatro mestrados e um doutorado concederam, portanto, 77,4% dos titulos do periodo. A oscilagao do numero de trabalhos defendidos por ano é telativamente alta pois, ultrapassado o ano de 1973, com apenas 3 trabalhos, ha um salto numérico e uma relativa estabili- zagao entre 1974 e 1977, e novamente um salto nos dois tltimos anos. Conclui-se que a média anual, de aproximadamente 44 trabalhos, nao expressa de forma adequada o perfil desses anos JA que, por exemplo, o ano de 1979 alcangou o mimero de 92 trabalhos defendidos. Os anos 80 apresentaram um ntimero bem mais elevado de trabalhos, com 665 dissertagées de mestrado e 152 teses de doutorado (ver tabelas seguintes). Duplicou o niimero de dissertagdese quadruplicou o nimero de teses. A média anual ficou em tomo de 81 trabalhos, sem fortes oscilagdes no lato @ stricto sensu: catélogo~ 68. Floianépols: ACAFE, 1988. Nas tabelas &s paginas 226-227, sho indicados 10 cursos de especialzagio m Histéria, Naturamonte, 0 numero dos que exstiam fi bem mal. Trabalhos da Historia 43 periodo, com ligeito crescimento para o fim da década. mabeta 2° 5 . BRASIL, NGWERO DE DISSERTAGSES. DE MESTRADO FOR CURSO DE POS: (GRADUAGAO EX HISTORIA zabela 22 6 BRASIL. NOMERO DE nISSERTAGDES DE MESTRADO POR CURSO DE POS: ‘GRADUAGHO. EM HISTORIA tear /a i303 cream 223 5 Fo 6 3 romars B23 a a8 3 G Fonte: material menctonado nos tépicos 2.1. scat! alusertagSee" © 2-5. "intornagsee sobre eu ‘gradsagiow da Bibliogratia O total de trabalhos por ano, se no apresenta variagdes acentuadas, por outro lado anula’ algumas fortes variagdes internas aos cursos quanto ao nimero de trabalhos defendidos, repetindo um comportamento ja observavel nos anos 70. Em quase todos os cursos a variagao anual chega a ser abrupta em alguns anos, © que relativiza a consolidagao do ritmo de 44 A Histéria no Brasil produgao referido anteriormente. As razdes para este compor- tamento so varias mas, certamente, ele em boa parte se explica pelo menos por duas: a necessidade dos cursos, em determinados momentos, apresentarem uma maior produgio para solucionar suas demandas junto a agéncias de fomento e 0 esgotamento do tempo concedido a grande parte dos alunos para a Tealizagio do curso, 0 que os obriga a defenderem seus trabalhos ou abandonarem a pés-graduagao, como acontece com ‘um mimero mais que representativo de casos. ‘A. predominancia da USP no total de trabalhos defendidos persiste ainda durante todos os anos 80. Mesmo que tenha diminuido sua participagdo no numero total de dissertagdes(131 trabalhos, 19,7%), ela foi proptiamente a tinica que possuiu uma produgao ‘regular de teses de doutorado, perfazendo 149 dos 152 trabalhos do periodo © quadruplicando, portanto, sua produgao em relagao aos anos 70. Ver Tabela n® 7. BRASIL. MIMERO DE TESES DE DOUTORADO POR CURSOS DE PO3-ORADEAGKO Be wrarORrA Fonte: material mencionade nos tépicos 2.1. *catélogos det ‘© dissertagsee" @ 2-3. “InformagSes sobre cursos de pbs ‘ptaduagio" da Bibiiogratia incremento do doutorado pode ser interpretado como uma op¢o do curso, ao mesmo tempo que uma condigao que Ihe é imposta pelas presses da demanda. Dos 817 trabalhos, portanto, 280 sio da USP, o que Trabaihos da Histéria 45 significa 34,2% do total, no minimo equivalente em importincia aos 41,3% que obteve nos anos 70. A UFF igualmente se encontra bem representada nos anos 80, ainda que diminuindo sua participagio em relagao aos anos 70, com 93 trabalhos, 11,3% do total. Seguem-se a UFPE, com 79 trabalhos (0,6%), a PUC-SP, com 54 trabalhos (6,6%) e a UFRJ, com 50 trabalhos (6,1%) (a lista completa de teses e dissertagdes dos anos 80 encontra-se no segundo volume), A partir do comportamento dos dados sobre o mimero de teses e dissertagdesdurante os anos 70 e 80 (ver Grifico ne 1) é possivel indicar uma ampliagio razodvel do ntimero de trabalhos que serao defendidos nos anos 90, principalmente com © montante de pesquisas que advirao dos 9 novos cursos criados, os 5 mestrados e, sobretudo, os 4 doutorados, tendendo 0 niimero anual dos trabalhos defendidos a atingir um patamar ainda mais alto. Se as petspectivas sio animadoras no que diz respeito a0 crescimento do mimero de cursos e de trabalhos, 0 tempo despendido com a obtengao do titulo de mestre nos cursos chega a ser desconcertante (ver Tabela ne 8). S6 foi possivel obtermos 436 registros de informagao do total de 665 trabalhos defendidos no periodo, que, contudo, nao invalida algumas observagdes possiveis. © tempo gasto é um visivel ponto de estrangulamento nos cursos de pés-graduagio. Nao foi verificavel, inclusive, nenhuma melhora significativa em nenhum dos cursos ‘considerados mas, pelo contrério, um agravamento do problema com o passar dos anos. Apenas a UnB apresenta um comportamento mais razodvel com relagao 20 aspecto do tempo, onde a variagéo entre o tempo maxinio e 0 minimo é pequena (de’3 anos ¢ 1 més a 3 anos ¢ 11 meses), Todos os outros cursos apresentam mimeros minimos e méximos bem mais distantes, com alguns casos graves. Porém, é © ediculo ano a ano do tempo despendido que toma estes dados mais alarmantes. De 1980 a 1989, 0 que se observou foi o crescimento paulatino do tempo despendido pelos mestrandos, abandonando-se o patamar de 4 anos e 9 meses do principio, por outros geralmente mais altos. A média, portanto, que obtivemos, é alta, indicando cinco anos e oito meses para}os 46 A Historic no Brasil anos 80+, Os nimeros mais altos pertencem 4 UFPE, onde foi despendido em média 7 anos para a efetivagao de 54 trabalhos. wvowgfo Do wingno ox vests E‘DiseEtThyGes DErENpIDAS Nos CURSOS DE POS-GRADUAGAO EM HISTORIA NO PATS Este niimero sera maior com a criagao de outros cursos de pés- graduag3o em Historia, jé que ‘ainda no se concluiu a instalagao da area no pais. ‘© doutorade também nao presenta um quadro animador, com uma média de 6 anos e 5 meses em 65 trabalhos defendidos na USP, ainda que nao se configure um movimento ascendente como no caso do mestrado. Mesmo que nossos dados tenham devidamente o tempo gasto, ¢ perceptivel acentuado in- © desnivel 18 Ha outs jev 8 que deve ser consutados. Ver MEC/SESU. Ci ‘Situapao da pés-grecuapac, 1980, Brest, 1980. p. 72. A tabela apresentada pga ear o orga masa de thio uses faa on curaos 8 ecm mado spectica aque periodo corresponds. Provavelmente pars 0 periodo anterior a 1979, |iiquo 2 pubiicagao ede 1880. Ver, ainda, IGLESIAS, F- Op. i, tabela & pagina 222, uo -apresenta alguns dadcs somotnantes, com’ a maicria’ ncicando numeros Supedores aos que obtivemes. Outtos dados complementam lacunas que nao preen- Jabela n2 BRASIL, TEMPO DESPENDIDO CoM A OBTRGKO DO THTULO DE MESTRE NOS CURSOS DE POS-GRADUAGKO EM HISTORIA Trabalhes da Historia 47 os apresentado pela Historia, e mais genericamente pelas Ciéncias oR cic eee se 398 Humanas e Sociais, com relagio as Ciéncias Exatas (cujo tempo 33 meédiono periodo 81/84 foi de 4 anos) e & sirea de Satide (com agy tempo médio de 3 anos para 0 mesmo periodo), como indicam oe q 6 ay outros levantamemos'®. 1, portanto, uma morosidade exces- : sts siva na realizagao dos trabalhos na area de Histéria que mio se gis justifica por um possivel grau elevado de exigéncia apresentado et eee: Bans hestes cursos mas, por certo, pelo despreparo dos mestrandos, a e wel Tangados na pos-graduagio sem nenhuma ou quase nenhuma Phas experiéneia de pesquisa, tendo em vista o perfil dominante das : eet eae $288 gtaduagdes do. pais, | preocupadas precipuamente com a 5 sia ae o Shad formagao de docentes para o ensino de 12 e 2 us. Deve-se TERE também ter em conta o valor das bolsas de estudo que wages eee o a3 porventura os mestrandos e doutorandos tenham recebido, Sieetseeees e 25% obrigando-os a outras atividades para se manterem. Com relagio gage ao doutorade, o niimero elevado de anos nao se explica weege¢ea ge eaas principalmente pelo despreparo deste grupo de pos-graduandos. ° ° . * rir Outras razdes tém que ser aventadas, como o funcionamento gakh mesmo do doutorado na USP, que permite a extensao do tempo. aeeeve ce 3383 ‘Além disso, ha que se considerar a estrutura curricular de muitos p75 ce e ad cursos, que obriga o mestrando ou doutorando a cumprir varias gE REE disciplinas, que, geralmente, nfo guardam relages com sua serge gg #2883 pesquisa, ar 3 OEE a8 E certo que os anos 90 nao assistirio 20 aumento do ge feck tempo despendido para a obtengio de titulos, até porque os aeae ge 3g “hes cursos geralmente ja funcionam dentro de prazos-limite. Sente- 3 = 33 s"2e se wma tendéncia ao estabelecimento de prazos regimentais oe gds8 menores para a obtengao de titulos, 0 que certamente poder’ sweet a ae ag trazer bons resultados apés 1989, ainda que talvez a custa de PE RS gs se uma relativa diminuigao do nimero de trabalhos defendidos 2°. 3 Bes = = “cog ag $b SEE dn ee es ers Ps SESS cites ato ne sence Coscustoomanes 7 * gh tee poets fo'de 5 ance. 3 meses (mesa) © anos e 10 meses (dUtoredo), 2 90% gas fo de 5 ance 6 8 meses (mesa aeuiamants Ge. 1008 provb.a durayio do NO & G8,3 minrno "9 ¢ no maximo® semestus Para a concusse do curso. MEC. Capes. Sistema Cee ee Bo iormasses sobre cursos Ge pos gradaeao. informarBescomplementares. UFCO. ae gles Gp"ek" pregiama de seesto para o mesvado e 6 dovloradg da UFPR, de 1989 Be tpettica os tempos minmos e maximospara.o mesiado (1 4.4 anos) © @ doutorads. eo 5 * Boe a's ros) AUPE provd 3 ance comma tempo mamo para concede da pbs gg 3 ed cree eas see tant ens ae er aro de praropagto ero rogrema de selegSo de e & g 2 Sess aa)" USE abel ee manmade Bo io. oe dl sameaige fae 8 Pogo: 3 2 § BSRe Conclisae do mestaco (ver programa de seeydo de 1968). A UFRGS prevoo tu 8 5 8 a 3 gabe 48 A Historia no Brosil Esta situagao certamente seria ainda mais desoladora se tivéssemos obtido dados sistematicos referentes 4 evasio dos cursos de pos-graduagio em Histéria que, bem provavelmente, nao arrefeceu durante os anos 80. Os dados relativos 4 UFGO, ¢ que tememos no sejam uma aberragio gritante, ainda que uma excegao, acusam 80% de evasio dos alunos inscritos 2. Aspecto curioso é que, em 309 trabalhos defendidos nos anos 70, o género feminino esteve representado por 186 autores (fotalizando 60,1%), o masculino por 112 autores (36,2%), afora 11 registros (3,5%) impossiveis de serem classificados através do nome do autor. Os anos 80 nao assistiram a uma alteragao significativa deste quadro em termos percentuais. Considerando © universo de 812 registros de genero que obtivemos das dissertagdes, teses de doutorado e teses de_livre-docéncia defendidas entre 1980 e 1989, tem-se que o género feminino esta representado por 486 autores (59,8%), 0 masculino por 315 autores (38,7%), restando 11 registros (1,3%) de classificagao inviavel. Ha, geralmente, uma pequena predominancia do género feminino sobre o masculino em todos os cursos, havendo apenas um caso, o da UFPE, em que prepondera suavemente 0 género masculino durante os anos 70 e uma outra excesao, a UNESP (Assis), em que se verifica 0 predominio masculino nos anos 80. Na UFSC e na UFGO a presenca das mulheres maior nos anos 80, como se nota na tabela seguinte. Como se observa no conjunto dos dados, ha um aumento muito pequeno do género masculino entre os ands 70 e 80, 0 que inclusive pode ser atribuido 4 diferenga percentual dos registros de identificagao invidvel entre os’ periodos —comparados. Portanto, nao se trata de uma indicagio segura, tomados os niimeros em sua globalidade. Considerando, no entanto, os totais anuais, o que se nota é um relativo aumento dos homens em contraste com a estabilizagao das mulheres entre 80/89, inuindo 0 intervalo que os separa jé nos tiltimos anos do petiodo. E possivel que nos anos 90 se verifique um equilibrio entre homens e mulheres em vez de um predominio frinimo do 18 meses © 0 maximode 36 meses para concuséo do curse. UFAGS. Setloge dos cure de pus raduarso. Mestracoo douoraco, 19901991, p. 170 MECISESu. “Capes. Sistema ce. informapses sobre cursos de. pés-graduaréo, Informagbes complamentares. UFGO. 1987, Trabaihos da Histéria 49 masculino. ten eae " BRASIL, PERPIL, DE OBWERO FOS TITULADOS NOS CURSOS DE POS- GRADUAGKO. HMC HISTORIA DE LIVRES-DOCENTES 1973/2979 > 1980/1909 as7a/a979 0/3909 " a ” « , x “o » sno 2 5 0 . BY i i ‘ > i ‘ : é BY > Py 3 ° i 7 23 : : a yore, a3 6 ake a Legendas: M + masculine P : feminine Mo AdenetFtcago tnviéver Fontes: NEC/SESu. Capes. Diversas razdes podem ser aventadas para explicar este comportamento. Um aspecto importante que deve ser levado em conta é aquele que diz respeito a0 predominio de determinado género em certos campos profissionais, como o masculino em cursos de Engenharia ou o feminino em cursos de Enfermagem e de Letras, ou melhor, das Ciéncias Humanas e Sociais em geral, com excesao possivelmente da Economia. Compreender estas afinidades eletivas entre determinados géneros e profissdes implica © entendimentd dos papéis social e culturalmente atribuidos aos mesmos. Mais de um analista jé chamou a atengo para um certo predominio das mulheres nos cursos de graduagio em Historia 22, ainda que nao se encontre uma interpretagao mais detalhada ‘deste aspecto. Em nosso entendimento, a pé graduagio apenas reproduz © comportamento da graduagio, tanto mais pelo mimero superior de graduadas em relagao a 22 LAPA, J. do A. Historiogratia brasleira contempordinea (a histéria em questio). 2 ‘ed, Petropolis: Vozes, 1903-9 206; IGLESIAS, F- Op. ov 1.1982. p. 962. 50 A Histéria no Brasil graduados, o que permite identificd-las como piiblico potencial maior para as pos-graduagoes. A ampliagdo da presenca masculina na_graduagao e pds-graduagio expressaria, talvez, uma diminuigao de preconceitos sociais acerca da profissio do historiador, ja que em termos econémicos ela continua nao valendo a pena. Tendo em vista 0 demorado reconhecimento public, reservado apenas a alguns poucos, a profissao igualmente parece desinteressante a quem busque uma rapida aquisigao de prestigio social. Este quadro relativo aos orientandos chama ainda mais a atengio pelo fato dos otientadores apresentarem um comportamento oposto. Dos 189 orientadores, 115 sio homens (63,8%), 61 sio mulheres (33,8%) e 4 registros nao puderam ser classificados (2,2%). Tem-se que, em termos petcentuais, 0 predominio masculino entre orientadores € inclusive mais acentuado que o predominio feminino entre autores, ampliando ainda mais as difetengas. Somente um estudo detalhado permitiria reconstituir a eventual absorsio, pelas universidades, dos pés-graduados em Historia. Se, desde 1973, é inconteste o predominio masculino nos corpos docentes dos cursos de pés- graduagio em Historia, nos ancs 80 esta situagao, ainda que se mantenha, jé nao é exatamente a mesma, Nossos levantamentos nao s4o exaustivos, mas temos alguns indicadores de que as vagas surgidas com aposentadorias no periodo, geralmente de homens, foram supridas por homens e mulheres, 0 que ampliou a presenga feminina no quadro de professores. Considerando-se 0 total dos trabalhos defendidos, tem-se que 0s 115 otientadores masculinos orientaram 58,0% dos trabalhos e os 61 femininos 40,0% dos trabalhos (4 de classificagéo invidvel, 2,0% dos trabalhos). Apesar (ou, talvez por causa) da predominancia masculina, observa-se uma produ- tividade ligeiramente maior por parte das orientadoras. A telagao orientadorjorintando continua concentrada, ainda que menos aguda em relegio aos anos 70. Enquanto 48 professores orientaram apenas 1 trabalho e outros 37 orientaram apenas 2, 24 orientaram 10 ou mais, Tem-se que somente estes 24 professores sio_responsiveis por 36,1% dos trabalhos no periodo 80/89. Nao ha tendéncia a alterago deste quadro quando se observa o comportamento do mimero de orientadores Trabolhes da Histério 51 ano a ano??, Este 6 um problema complexo de ser abordado pelas pés-graduacées do pais, pois, se por uin lado no ha diivida de que esperado que um pequeno conjunto de professores exerga um impacto maior sobre a comunidade académica (a propria demanda tende a ser seletiva neste sentido, ptessionando os que possuem maior experiéncia em pesquisa), por outro resta sempre como problematico que este conjunto seja ainda tao pequeno. Outro aspecto que chama a atengao sobre 0 conjunto dos trabalhos é a relativa extensio do mimero de paginas dos mesmos, patticularmente dos trabalhos de mestrado. Este comportamento decorre, certamente, do tipo de orientagao implementada pelos orientadores, a exigir um tratamento muito detalhado de cada aspecto. Mas, infelizmente, o que se perde em anélise ganha-se em descrigao. Das 665 dissertagdes defendidas no periodo, 267 sio volumes com miais de 200 paginas e apenas 99’ com menos de 100. Tal esforgo de escritura, evidentemente, explica em parte o longo tempo despendido para a conclusio dos trabalhos. Ha instituigdes com um perfil dife- rente, como a UnB, onde o reduzido mimero de paginas das dissettagdesdefendidas certamente colabora para o tempo gasto, ‘© menor do periodo. Impée-se, portanto, uma rediscussio do que se espera de uma dissertagao de mestrado para que se chegue a um “formato” mais adequado que, evidentemente, nao se traduzira num nimero padrio de paginas, mas também nao assimilard, a nao ser como raras excess6es, casos extremos.. (© proprio tamanho desses trabalhos é um empecilho a sua divulgagdo, afora o aspecto nao comercial e pouco atrativo dos mesmos para um publico consumidor mais amplo. As editoras comerciais nao parecem interessadas em sua publicagao "pelo carater erudito que afasta o grande piiblico” 24, Este carater erudito, por outro lado, nao ¢ sintoma necessario de qualidade dos trabalhos em geral, ainda que 0 padrao dos mesmos tenha 23 ar a este respeio o8 dados frnecidos por CORREA, C. M. og. Catélogo cas cissoagées oases Gos ciTsoe Se porraccario on Hsia’ Gara tage) Flotancpots: UFSC. 1967 _p. 11-12. Segundo seus levantamentos (periogo 197% 1505)" ce. Um Total do. 146 oraniadores, mals oo. 100 crentaram apenas 1 OU 2 frabalhos eS onentaram maize 100 wabathos, A médiade 5 Wabalhos por erntador 6 uc teladora da stagao fa TGLESIAS,F Op. ot 211 82 A Histério no Brasi softido uma pequena methora nos anos 80. Em 1982, F. Iglésias foi taxativo caracterizando “o nivel mediano’ de quase totalidade das dissertagdese teses”, ou, ainda, analisando 0 surto de estudos brasileiros, considerando "muitos - a maioria", fracos?5. Cremos que os anos 80 apresentam um melhor comportamenio, com uma diminuigao dos casos realmente fracos e uma ‘sensivel ampliagio ‘dos trabalhos de maior qualidade, principalmente entre as teses de doutorado. A ob- tengio de titulos nao deixou de ser um ritual académico que confere ao titulado (quando docente do magistério superior) 0 direito de progredir na carreira, 0 que explica tantas pesquisas feitas com este objetivo. Mas a tendénciaa uma definigao mais clara_das exigéncias teérico-metodolégicas e técnicas de pesquisa dificulta, cada vez mais, a defesa de textos sem niveis minimos de rigor. Caberia as universidades um programa editorial mais incisivo, visando selecioiar € publicar trabalhos significativos, bem coino informar sobre a existéncia de outros, divulgando resumos, catdlogos ou capitulos dos mesmos em periddicos, Entre as universidades, a UNICAMP é uma das poucas a manter um movimento de publicagdesdos trabalhos defendidos na pés- graduagao em geral, com raros titulos de Historia. Ha que se considerar, contudo, que um pequeno niimero de trabalhos, a maioria de bom nivel, foi publicado pelas editoras no’ periodo. Foi possivel ‘registrar 65 teses dissertagdes que se tomaram livros editados, totalizando menos de 8,0% dos trabalhos defendidos. Este numero tende a ser ampliado se considerados os trabalhos defendidos nos tiltimos anos que virdo a ser publicados apés 1989. Sem diivida, alguns outros _mereceriam ser _publicados, ao menos _ elas universidades, j4 que seu contetido muito especializado atrai um. piblico efetivamente reduzido. No capitulo sobre editoragio encontra-se um comentario mais extenso sobre estes trabalhos. Por fim, falta interpretar, em linhas gerais, os temas destas pesquisas, para a detecgio dos agrupamentos mais representativos na produgo histérica do period, cotejando-os com as principais tendéncias do periodo anterior. 25 tha. p. 205 0 197 Trabalhos da Historia 63 O universo temético dos trabalhos confirma, em parte, a tendéncia que jé vinha sendo indicada por diversos_ analistas, principalmente por J. R. do A. Lapa, acerca do crescimento de estudos sobre os periodos da Reptblica, em primeito lugar, e do Império, em detrimento do periodo colonial. A andlise tematica das teses de doutoramento da USP, até 1973, indica 0 periodo colonial como o mais representativo (43,5% das pesquisas), seguido pelo periodo imperial (com 32,6%) e republicano (15,2%)26. Esta disposigio se inverteu profundamente num primeiro momento. De 1973 a 1979, as pesquisas sobre Historia do Brasil representaram, aproximadamente, 75% dos 309 trabalhos defendidos, sendo que a participagio do periodo colonial caiu para "13,0%, crescendo 0 periodo imperial para 40,9% e subindo vertiginosamente o periodo republicano para 46,0%. Os anos 80 tiveram um comportamento semelhante. Do total de 835 teses de doutorado, de livre-docéncia e dissertagdes de mestrado, a Historia do Brasil representa aproximadamente 85% dos trabalhos, um pouco acima do periodo anterior. O perfodo colonial apresentou um crescimento minimo (14,1%), © periodo imperial caiu (266%) e 0 periodo republicano continuou crescendo acentuadamente (59,2%). Ha uma certa estabilidade do mimero de pesquisas sobre © period colonial, que est a merecer uma revisao integral de sua bibliografia. Com respeito aos estudos sobre 0 periodo republican, mantém-se geralmente estaveis os _niveis percentuais de interesse entre os periodos de 73/79 e 80/89, mesmo que se verifique. um crescimento de trabalhos sobre a Historia do Brasil pés-64, segmento, contudo, com baixa representatividade numérica’ nos dois periodos. Ou seja, dos trabalhos sobre a época republicana, 42,8% teferem-se 28 LAPA, J. A. do A. Op, it. p. 46, Vor ainda 0 Quadro n® 4 sobre of projetos em Histona do Brasil financiados pela FAPESP [periodo | 1983/1972), onde fa se toma mais clara_a ascensao do periodo. republican no numero. de pesqusas. Ver também Thea, JR do A. Hisiéna 6 hsteriograia Brael pos-64. Rio de Janovo: Paz e Tera, 1985." Sao. mapsadas as tendencias da area, em termos de especialzagao oo conhecimento histonco e dos periodos.poliicos ‘da Mistora do Brasi, luz dos datos Ge" pesquisadores ‘que frequentaram 6 Arquivo Nacional no periodo. 1970/1078 Segundo este. levartamento, 0. periodo Go Impéno airai 50%” dos pesqusadores brasiletos © 49%» dos estrangelos, sendo © periage “com maior procul, © interess® pelo periods colanial decal e palo epubheane cresce, 84 A Historia no Bras Primeira Repiiblica (1889-1930), 23,2% ao periodo 1930-1964 € 7,5% ao periodo pés-64, além dos que abordam fases miiltiplas do periodo republicano. Para 73/79 os indices sao semelhantes. DIsTRIBUIGKO DE TESES x DISSERTAGDES SOBRE NISTERIA DO BRASIL ‘Quanto Ao ‘PERIOD WISTORICO ABORDADO Colonia a. Republics 39.2% Fonte: material citade nos tépicos 2.3. tones od 3 Graduagéot de Bibliogratia. Ainda a respeito dos trabalhos do periodo 80/89 sobre a Republica no Brasil, tem-se que 15,5% abordam de 1889 a 1964, 7,3% se estendem de 1930 a:é a contemporaneidade e 3,4% sao trabalhos sobre todo o period republicano. A rigor, foi © espago-tempo da Reptiblica Velha o principal objeto de estudo nos cursos de pés-graduagio, onde predominaram os trabalhos sobre as regides de Sio Paulo e Rio de Janeiro. De toda a Repiiblica, destacou-se, também, um bom ntimero de trabalhos sobre a Revolugio de 30 e sobre o Estado Novo. Um niimero muito elevado destes trabalhos em Histéria do Brasil nos anos 80 é em Histéria Regional, compreendida tanto como tema quanto como enfoque metodoldgico. Sao Paulo e Rio de Janeiro sao os espacos mais estudados, cobrindo Trabalhos da Histéria 55 quase metade das pesquisas de recorte regional ou de tematica local. Seguem-se os trabalhos sobre o Parana, Rio Grande do Sul, Pemambuco, Minas Gerais e Santa Catarina. Afora Minas Gerais, que nao possuia pos-graduagao no periodo, os outros trabalhos esto geralmente ligados aos cursos das’ regides ou localidades respectivas. Aliés, Minas Gerais é um bom exemplo de que se pode e se deve fazer pesquisa regional fora de sua regiao. Indubitavelmente, é possivel detectar certo excesso de regionalismo, ou “paroquialismo’, na denominagio de F. Iglésias??. Via de regra, estados que nao possuem pés- graduagSesnio sio estudados, havendo rarissimas dissertagSes sobre Sergipe, Alagoas ou Pari. Neste sentido, nossos dados no conferem com a afirmagio de M. B. N. da Silva, de 1982, para quem a preocupago com uma "visio nscional” é uma constante na produgao histérica brasileira, pouco se fazendo em Histéria Regional?*, ainda que a mesma Autora tenha razao, aquela altura, ao afirmar o desinteresse das editoras em publicar livros de recorte regional. Até 1989 esta situagio editorial também parece ter se alterado. Mesmo & época de seu artigo, o quadro ja apresentava uma mudanga acentuada em relagao aos anos 70, do ponto de vista do niimero de trabalhos produzidos em Historia Regional. Durante os anos 80, houve cursos onde, praticamente, sO se realizaram pesquisas ‘vinculadas, de alguma forma, & tematica regional, dificultando, inclusive, a presenga de outros interesses em seu. espago institucional. Este quadro, embora tome homogéneo determinado seto: de investigagao e amplie sua qualidade, igualmente contribui para empobrecer estes centros de pesquisa do ponto dé vista do debate historiogrifico mais amplo e de sua participagio no mesmo. ‘A maioria dos cursos segue a orientagio dada_pelas agéncias de fomento e que, em certos casos, tende a privilegiar alguns enfoques regionais?*. Mas o “regional” em cada area de conhecimento nao ¢ a mesma coisa. Em outros termos, os estudos regionais poderiam ser apenas uma faceta, sem divida imprescindivel, das diversas pés-graduagdes em Historia, que, 27 IGLESIAS, F, Op. cl. v. 7, p. 204. Ver ainda. 199. 28 SILVA, MBN. da Op. chp. 456, 29 Ver, entre cuties, CNPq. Avalagdo & Perspectivas, v. 1. 1982.p.6. 56 A Histéria no Brasil contudo, deveriam ampliar seu leque de opgdes,como a USP e a UFF, por exemplo. Ademuais, sinteses historicas nao decorrem do somatério de pesquisas paniculares e podem mesmo prescindir de algunas. ‘As pesquisas em tomo da Histéria nao brasileira continuam apresentando fraco desempenho e diminuiram em termos relativos quando comparadas com 0 periodo 73/79. Foi possivel encontrar apenas 11 trabalhos em Historia Antiga, 20 em Historia Medieval, 9 em Historia Moderna, 16 em Histéria Contemporinea e 20 em Historia da América, perfazendo um total de 76 (9,3% do total de 817 trabalhos classificados). Comparando este quadro com 0 periodo 73/79, que apresenta um indice acima de 15,0% de trabalhos em Historia nao brasileita, observa-se a diminuigao relativa dos trabalhos em Historia “Antiga e Historia da América, em contrasie com a ampliagao dos estudos em Histéria Medieval e Modema e 0 avango mais acentuado de estudos em Histéria Contemporinea. ‘A diminuigao dos trabalhos em Histéria da América é, sem diivida, decorréncia de diversos cursos terem abandonado esta rea de concentragao, e, particularmente, da alteragao, feita pela UFF, de sua orientagao de pesquisa no principio dos anos 80, ja que 0s trabalhos de Historia da América do periodo 73/79 foram majoritariamente defendidos naquela instituigio. ‘Além dos trabalhos de Histéria Regional, os enfoques metodolégicos mais recorrentes sto em Historia Secial, Histéria Econémica e Histéria Politica, nesta ordem. Para efeito deste momento da exposigio, estamos trabalhando com uum conceito amplo de Historia” Social, que engloba estudos sobre estrutura social, condigdesde vida de determinados grupos sociais, movimentos Sociais, cotidiano, artes, literatura, familia, mulheres, criangas, sexualidade, mentalidades, temas que Perpassam aproximadamente 150 trabalhos. Neste grupo, ao menos metade dos estudos gira em tomo do movimento operirio, grupos de trabalhadores, sindicatos e mundo do trabalho. Entre pesquisas com tematicas novas os ntimeros mais, expressivos sio das que tratam do cotidiano, da mulher, da familia e da doenga. Foram localizados aproximadamente 70 trabalhos_em Histéria Econémica, a maioria sobre a industrializagio, 0 escravismo e temas ageirios, & clamente 53 trabalhos de Historia Politica, dos qui » partidos. A Historia Econdmiea, tal como previram al gun cnos significativa no perioddo 1980/1989 do que nas decadas anteriores. A’ Historia Politica continua bastante representada, ainda que nin apresente renows temiticas ot metodologicas. Estudos demogriticos populacionais apresentam igualmente um numero elevado de trabalhos, com cerea de 45 titulos. © tema do eseravismo & também abordado em aproximadamente 45 trabalhos, relacio- nado principalmente a Historia Econémien e Social e 4 Aboligio. Outros temas mais localizados também surgem com alguma freqiigneia, como estudos sobre relagdes internacionais, geralmente ligados UnB, e estudos sobre a Historia das Religioes, prineipalmente no Brasil, predominando as pesquisas sobre a Igreja Catdlica e os judeus. Diversos assuntos nio foram pesquisados, a0 menos no que se_refe dissertagoes, tais como a Conjuragio Mineira, Canndos, Fasroupilha, Cabanos ¢ Sabinada, Do ponto de vista temstico © metodologico ha uma ampliagio do leque de opgoes nos anos 80 em relagio ao periodo anterior, ainda que Sejam muito reduzidos, em termos huméricos, os trabalhos especificamente ligados a novas tematicas, como bruxaria, sexualidade, corpo, loucura ow imagindirio, Ao todo nao representam 5,0% do ntimero total de trabalhos, ndo chegando, portanto, a atingir 40 pesquisas. Estas hovas preocupagdestetniticas e metodologicas afetam, contudo, um numero bem maior de trabalhos, a partir da renovagao metodolégica de antigas tematicas. E assim que, tanto ‘os estudos sobre escravismo, quanto aqueles sobre 0 movimento operirio, acolheram em seu interior novos problemas Ha tambéin um pequeno crescimento de trabalhos de historiografia em relagio a0 periodo 73/79. Foi possivel identificar 11 trabalhos de historiografia sobre temas diversos, como movimento operario e escravidio. A maioria aborda o periodo republicano, seja através de um autor, como C. Prado Jiinior, seja através de um tema, como o tenentismno. 05 trabalhos sobre Metodologia da Historia sio ainda mais raros. Da mesma forma, localizamos apenas um trabalho que pudesse ser classificaclo como de Teoria da Historia, A analistas, & © as teses e 58 A Histéria no Brasil propria orientagéo dos cursos bloqueia a efetivagio deste campo de preocupagao histérico-filossfica. E, possivelmente, mais que em pesquisa empirica, conhecimento produzido em Teoria da Historia atesta a maturidade da area. E curioso ressaltar 0 predominio de autores masculinos ow femnininos em algumas tematicas. Assim, o espago de pesquisa sobre familia, mulher, crianga e” casamento 6, sobretudo, feminino, exemplo talvez ‘tepresentativo dos condicionamentos culturais e sociais dos pesquisadores. Fazendo um balango deste amplo painel que tragamos, seria conveniente observar os resultados do periodo a luz dos problemas aventados por outros autores no principio dos anos 80. Para F, Iglésias, apesar de uma verdadeia profissionaliza "distante do amadorismo que até ha pouco dominou de modo incontestivel (...) tem-se que a situagio da Historia nao é boa hos proximos anos", Cremos que nio apenas a distancia do amadorismo se ampliou, como a profissionalizagio seguiu no sentido de uma especializagaio mais rica. Continua felativamente atual a_proposigio de que, dos cursos de pos-graduagio, nem todos "tém razio de ser e alguns mesmo deviam ser desativados”, por nao oferecerem “condigoes minimas” *, Mas entendemos que seu ntimero. tendeu a diminuir com 0 passar dos anos. O quadzo geral de insuficiéncias®? permanece estruturalmente inalterado, ainda que determinados setores tenham sofrido melhoras. Com efeito, sem bons cursos de graduagio, sem salirios condignos, sem bibliotecas sdlidas, sem bolsas de estudo, sem tantas ‘outras coisas, nao se faz pesquisa. A situagio ainda se agrava mais pela ampliago das disparidades entre os cursos, alguns cada vez mais bem instalados e com fluxo de recursos permanente. Hai lacunas enormes a indicar a necessidade de muitos trabalhos em praticamente todo e qualquer assunto. Mas chamam a atengao algumas auséncias, como a de estudos minuciosos, a nivel regional e nacional, das estruturas socisis e econdmicas. Pouco se fez em temas como o da estratificagao 2S 2 Bone 08 salarios, das bibliotecas & divulgagéo dos trabaihos, srasnges Trabalhos da Historia 59 social, da composigao dos grupos e classes sociais em diversas partes e épocas. Pouco se estudou, também, do comportamento cultural dos diversos segmentos sociais, aspecto importante em um pais imerso numa profunda diversidade de erencas, valores, habitos e padroes de gosto. © miimero reduzido de trabalhos em Histéria_nio brasileira também atesta um outro comportamento problematico da area, Se nao temos muitos recursos para pesquisar temas que nao sejam em Histéria do Brasil, de forma sistematica e maciga®?, ampliam-se as alternativas de pesquisa neste sentido, com coneessdes de bolsas para estudos no exterior que, espera- se, passem a dar frutos ja nos primeiros anos 90. ‘Mas ja vao longe os anos 70. Se contrapusermos o quadro da pesquisa universitaria no pais, em 1989, com aquele de 1971, as diferengas sio brutais. Pode-se dizer que ja foram superadas em grande parte as expectativas dos historiadores Aquela altura, O relatério apresentado por E. S. de Paula, em 1971, em uma mesa-redonda sobre o estado geral da pesquisa histérica_naquele momento, indicava quatro conclusdes gerais: 1, a maior parte dos pesquisadores nao era brasileira, mas sobretudo norte-americana e inglesa; 2. as instituigdes dedicavam-se @ docéncia, néo pesquisa; 3. os pesquisadores nacionais no possuiam _sdlida formagéo cientifica e orientagio segura; 4. nao havia ainda um érgao centralizador de pesquisas no pais, “capaz de racionalizar as pesquisas e melhor dispor dos poucos recursos destinados 4 pesquisa histérica” >. Quanto a0 primeiro aspecto, os anos 80 superaram em grande parte os “impasses da dependéncia’s5 de uma pés- graduagao marcada pelos brazilianists nos anos 70. Com efeito, est4 consolidado, em grande medida, um corpo docente nacional. Quanto aos aspectos dois e trés, a mudanga de comportamento dispensa maiores comentérios. E, sobre o iiltimo, parece inclusive positivo que o mesmo nao tenha se efetivado, pois éno minimo discutivel a constituigao de um Srgo com todas estas prerrogativas. Mas a velha proposta de J. H. Rodrigues, tantas vezes retomada por F. Iglésias, da Shyer novais,F. & Op ot p11 34 WESTPHALEN, C, # MEQUELUSSE, J. Op. ot. p. 356. 85 MOTA, C.G. Op. cit p. 2.

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