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CAPA | O Brasil vai gastar em 2015 | mais de 10% do PIB com satude, i) ea maior parte | dessa conta é paga pelo setor privado. Seria uma boa noticia se os recursos fossem usados de forma eficiente — mas eles nao sao DANIEL BARROS uca.areportagem na versdo digital de EXAME ‘A.VIROU ROTINA: TODO FIM DE ANO, ASEMPRESAS, RECEBEM DE SUAS operadoras de pad de saiide propostas para reajustes de precos ndl@aga dos dois dligitos A variaga0 em 2015 deve atingiEl@s no Bra- sil, segundo a previsio de uma das mioRes gestoras debeneficios do mundo, inglesa Aogudiestimativa para a inflagao é, mesmo rompendo gjfgto da meta do Banco Central, ficar abaixo da nietae disso. A contagihg especialmente dificil defigerir no mo- ‘ment akiila economia brasileirafemmque familias, empres SB @yernos estio apegtdiads ynstos. Mas a explosio ROCUERdassaGe RATE um fendmeno novo — ele s6 estameomed clo mais agora. Nos tiltimos dez anos, esse gasto quadruplicou no Brasil A maior parte do aumento recaiu sobre o setor pri- vado, responsivel por quase 6 de cada 10 reais des: pendidos. Em 2015,0 Brasil deve ultrapassar'a mar ca dos 10% do PIB gastos com satide (em 2013 foi 97%). Proporcionalmente, é mais do que despen dem Reino Unido, Austria e Coreia do Sul. Acha- mada inflacdo médica ficou, em média, 7 pontos percentuais acima da inflagao geral na dltima déca da. lista de paises em que a subida de precos ul- assaa do Brasil é cada vez menor: s6 Vene la, Sérviae Libano produziram reajustes maiores do que a taxa brasileira de 16% de inflagio médica em 2014.0 mal nao & s6 financeiro: o descontrole esti enraizado na cadeia produtiva do sistema privado de satide, com efeitos negativas para o bem-es mithdes de brasileiros que sio segurados e empresas, que bancam 80% dos planos. A agéncia de publicidade Ogilvy, com 1000 fun cionarios no pais, resolveu mudar de plano de sat de depois de receber a fatura de 2014: 25% de re juste sobre valor pago no anoanterior. Emapenas trés anos, 0 gasto da Ogilvy com esse beneficio au. mentou 30% mais que os salrios, “Eo item que mais cresceu na nossa tabela de custos nos tltimos s anos’, diz Ricardo Silva, diretor inanceiro da Ogil: vy. A rede Fogo de Chao, que tem churrascarias no Brasil e nos Estados Unidos, gasta 50% mais com fe malo de 2015 | 55 CAPA | saude satide na operacto brasileira do que na americana, “0 tiltimo reajuste reduziu nossa margem de lu- 10", diz Marcelo Macedo, diretor financeiro da Fogo de Chio. “Nao da para vepassar ao cliente no momento.” A consultoria Towers Watson, que aconselha empresas na gestio de beneficios ao tra- balhador, fez um levantamento com seus client @ mostrou que © gasto com saiide privada saiu de uma média de 7.6% da fotha salarial, em 2004, pa- ra 114%, em 2014 — uma elevagao real de 50%. AS principais montadoras de earros do pais jé gastam 15% da folha com saiide, Se nos proximos 20 anos atendéncia de alta a Towers Watson prevé que o gasto médio poderd chegar a 25%. que faz a conta com satide crescer tanto? Como ‘ocorre no mundo todo em resposta a0 anseio das pessoas de viver nifica ter acesso ao que ha de mais novo e eficaz em Je remédios, equipamentos e tratamentos fF para que os avancos da medicina e da ia ndo cessem. No caso do Brasil, além de se sabe, is e pag teenolo tudo sso, hé uma peculiaridade da estrutura de as sistencia médica privada: ela estévoltada para que haja mais procedimentos, mais exames complexos eo maior uso possivel dos materiais caros,indepe cemente do beneficio que os pacientes o aais claras esto dentro dos as ope de fe sham, As eviden hospitais, Pelo menos metade dos gastos radoras €com internagBes. Quando um paciente dé entrada em tum pronto-socorro ou ¢ internado para uma cirurgia,o hospital ganha uma espécie de che- que ha: délares no sistema de saud privado dos Estados Unidos {que em branco. O tipo de traramento a trado fica a critério dos médicos e do estabeleci- ‘mento, Além das disrias dos leitos, o hospital cobra do plano de satide por insumo aplicado no pacien: te, Entio, quanto mais procedimentos fizer, mais, dinheiro receberd. Essa forma de cobranga por procedimento é comum nos Estados Unidos, pais que mais gasta com satide (17% do PIB por ano, en quanto o Reino Unido gasta 9%). Estudos apontam que os americanos desperdicam 500 bilhdes de dlolares por ano com gasto ineficiente em satide. N3o existe o mesmo edleulo para o Brasil porque: nos transparéncia aqui, mas a légica ndo muda 36 | vewwexemecom GASTOS EM ALTA © Brasil é um dos campedes om inflacio médica no Brasil Turquia Colbmbla TASH Wx We x Ts WOK Tee lu oh 2013 2014 2015" 2018 2014 2015 2015 2014 2015, ‘Como a maioria dos planos de saide ¢ corporativa, alta afeta sobretudo as empresas nn eunull 2004 «2020192024204 Ree ae pees ere ed for a mesma dos uitimos dez anos, @ quadeo Cee ape et a (0s stents usados em cirurgias eardiacas serve, de exemplo do exagero no Brasil. Pacientes com diabetes ¢ com vasos coronérios muito fines costu- mavam ter algumas lesdes no local em que era co locado o stent. Para resolver o problema, os fabri- .acolé- cantes desenvolveram o chamado stent f .édio que impede o surgimen to de less. Custa até seis vezes mais que o stent convencional. Os di finos representam 25% dos casos de cir rgd, Entretanto, $0% dos tents usados no sistema, de satide suplementar s Juco da medicina nao é0 vilio”, diz Martha Rocha, gico.Elesoltaumre! }bétieos ou pacientes com vasos de co- macolégicos. “A evo- Em tempos de corte de despesas, a escalada nos precos dos planos de satide tem impacto crescente sobre as empresas mundo, segundo levantamento da consultoria Aon Africa do Sul 98 Ie 65% Estados Unidos 982% 9% oe MN teu China 1S Ts chile mo Se Ea tendéncia de aumento de precos muito acima da inflaco geral no Brasil jé vem de longa data Inflacéo médica Bi Incice Nacional de P Bas ee lier streermeape ini kere acer soe seunuissose GE Gad 200822013 Internacoes Consultas Outros’ presidente interina da Agéncia Nacional de Satide Suplementar (ANS), reguladora dos planos de sat de, “A forma de incorporar as novas tecnologias é que &” Os médicos do Hospital Albert Einstein,em Sio Paulo, reavaliaram a condic&o de quase 1500 wradora Bradesco Satide que estavam. clientes da prestes a fazer uma cirurgia de coluna, Conclusio: dois tercos deles nao precisariam da operacio. 0 Instituto de Estudos da Saude Suplementar (IESS), uma entidade privada, acompanhou durante cinco anos um plano de saide para descobrir os fatores {quemaisinfluem nos custos.O: "2,0 dobro da inflacdo astos do plano com internacdes cresceram 5: Intlacd0 (PCA) Consults | Internacbes Dentro da rubrica internacSes, 0 pior vilfo 0 custo dos materials, que vao de gases ‘© esparadrapos a stents corondrios e proteses Materiais edicamentas Distas ™ Texas ———_.™ Honerévos Tm Exames * outros & acumulada no periodo, dos nos pacientes internados cresceu 129%, “Muitos hospitais precos bem mais altos do que pagam por eles”, diz Luiz Augusto Carneiro, superintendente do institu to, A Associacio Nacional de Hospitais Privados (Anahp) reconhece o fato, “A maior parte de nosso firma Francisco Bales presidente da associacio.“O g ham dinheiro vendendo insumos a lucro esti nos insumos anho com tax: Pitalarese disriasestacionow porque elas est geladas pelo governo desde os anos 90. As tabelas que os hospitais e clinieas usam para cobrar dos planos também esto defasadas tanto ‘amentos, Como para materiais quanto para medi a Agencia Nacional de Vigilincia Sanitaria, a ponstivel pela recorrente, operadoras, empresas e pacientes p: gam 0 pato, Os quimioterépicos para o tratamento de cancer ilustram a pritica. Um dos mais vendidos €o Paclitaxel, produzido desde a década de 70 usado para tratar cancer de mama e de ovario. A dose de 100 miligramas do remédio é vendida a clinicas oncol6gicas por cerca de 25 reais, mas as clinicas cobram até 200 por dose, seguindo a ta revistas cientificas. > caso dos quimio jecidiu descreden- bela de precos publicada pe As operadoras tentam terdpicos, a Unimed ciar as clinicas que prestavam servico para seus planos e concentrou o tratamento de cancer e' tum centro préprio, Com isso, economizou 40% do gasto nessa area de 2009 a 2014. Mas, durante 0 periodo de enfrentamento com asclinicas oncolé gicas, outro custo subiu o da judicializacio. Em 2009, a Unimed Campinas gastou 600 000 reais com acées judiciais dos clientes. Jem 2013 o valor proliferacao do uso ex. as, como ado stent farmacolégico — que custa seis vezes mais. Isso ocorre frequentemente com oamparo da Jus tiga: como o tema ¢ especifico dem costumam aceitar liminares requisitando o uso do passou de 12 milhdes. On 38lv (0 hospitals precisam ser mais transparentes para cada tipo de doenca 1 apos cada tipo de cirurgia, Com is a tendéncia ¢ que operadoras e empresas estimulem lentes ase tratar em prestadore vicas mais eficazes As ope! joras pagam os hospitals nas de pagamento, como um valor fix por tipo de diagnéstico e de paciente, invertem o incentivo econdmico Algumas medidas que podem aumentar expressivamente a eficiéncia dos gastos da satide privada nal americana GE complem ros dos médicas que atendem oho seus funcionérios Nos sistemas de sauce mais eficiente como 05 de Reino Unido, Holanda Iso proporciona 20 longo do ten reduz exageros nos pediios de exa sso fica anos eaddos, “No inicio, material mais caro. Depois 0 pr consumindo dinheiro com adv perdemos muitos processos, mas depois cons mos mostrar na Justica que o atendimento em nos- saclinica acabava sendo melhor e mais barato”, diz, José Windsor, presidente da Unimed Campinas. Em 2014, ogasto da operadora com a Justi¢a dimi- nuit pela primeira vez, na contramio do mercado, Para comecara frear os custos galopantes do sis tema de satide ¢ preciso mudar 0 modo de rem: neracao de hospitais e clinieas. Ha diversos mode- los pelo mundo, mas o que mais se espalha com bons resultados ta asco quanto em melhora dos indicadores de satide ¢ o sistema ‘em que os hospitais se especializam: recebem uma quanta fixa para tratar um tipo de patologia, como uma pneumonia ou um ataque cardiaco, O valor varia de acordo com as caracteristicas do paciente sua idade, se fuma, se tem outras doencas eré. niicas etc. Nesse caso 0 incentivo se inverte. Quan: to mais eficiente o hospital for no tratamento maior seria margem de luero. Osistema funciona na maioria dos paises europeuse na Africa do Sul O pais afticano se parece com o Brasil porque tam: bém tem um sistema de saiide piblico univer a popu parcela daqui. A taxa de crescimento dos custos arede privada cobre amesn em satide baixou fortemente la desde 201 de maio de 2015 139 CAPA | do mudou o modo de remuneracio dos hospitais privados pelas seguradoras. inflacio médi tuimava ser o dobro da inflagdo geral — em média 6 nos tiltimos anos. Em 2015, a pre- visio da consultoria Aon é que a diferenca seja de 07 ponto percentual. “Agora até o setor publico comecou a adotar o mesmo tipo de pagamento diz Etienne Dreyer, sécio da consultoria de Piw€ na Africa do Sul. O risco do modelo é que 0 hospital economize demais e fal os tratamentos. A Suéeia ea Finlandia estio resol- vendo esse problema com cléusulas de desempe- préxima de mos para ‘nho: quanto menos complicagdes o paciente tiver pds o tratamento, maior serd a remuneracao. (© PODER DOS CLIENTES © momento ¢ propicio para promover reformas como essas aqui no Brasil, Em janeiro, a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que permite a en- ada de capital estrangeiro como sicio de hospi tais. A expectativa é que um movimento de conso: lidagio do setor se acentue com a chegada de di- nnheiro de fora. Um aperitivo foi o investimento de 17 bilhdo de reais do fundo americano Carlyle na rede D'Or em abril. A empresa, que possui 27 hos- pit ida em 20 bilhdes de reais. Em 2010, quando recebeu investimento do banco BTG Pac- -ompras.a rede D'Or tinha seis hos pitaise valia um décimo do que vale hoje. A forma: ‘upos deve melhorar a gestio dos hospitais, mas também vai fortalecer suas posigdes ‘ual para ira nna negociagio de precos com as operadoras. Sendo rem es ara que a negociagao leve em conta também 0 interesse dos pacientes,o problema do alto custo pode se A Agéncia Nacional de S: ras em 2013 para tentar mudancas na forma como os servigos sio pagos. Mas até agora nao houve avan- gos. “Nao houve emp nessa negociago”, diz Mércio Coriolano, presiden- te da Bradesco Saiide e da Federacio Nacional de Satide Suplementar. O fato é que paraasadministra- belecidas bases re redes de hospitais ¢ operado- doras de planos de satide a situagao também é c6- moda. “Como apenas os precos dos planos indivi nilados pela ANS, as operadoras sim- plesmente distribuem seus aumentos de custo pela carteira de planos coletivos”, diz Marcia Agosti -gerente de gestio de risco em saiide da multinacio: nal GE, Como principais clientes, so as empresas que tém o poder de mudar a légiea da satide suple- ‘mentar no Brasil. Afinal, elas tém na mio uma va- liosa variavel dessa equagio: a demanda. A GE no Bi 2009, quando criow a vaga ocupada por Marcia, contratada para duais slo r 40 | wuwexame: reduzir as perdas com doencas. A equipe de 14 pro: fissionais montads por ela passou aabordar os fun- ciondrios apés cada consulta ou internagao com perguntas como “o que vocé achou do atendimento dico que recebeu?” e “o que vocé entendeu da esplicagdo do médico sobre sta condigiode satide?” Muitos funcionzrios tinham queixa. fazer de mé- dicos e hospitais e raramente compreendiam quais ceram os préximos passos do tratamento de sua doen- ‘¢a—embora o gasto com exames fosse alto, A equi- peda GE passotiase reunir comos médicos e propés a eles até 170 reais por consulta, quando o pl satide costuma pagar 40. A condigao: 0 atendimen- 10 do funcionario teria de ser mais cuidadoso. A ambé 1 por terapias que o plano de satide nao autorizava porque nao era obrig: brir, como ondas de chogue para tratar tendinites ano de n passou a pag. doaco- ~ 0 que pode, muitas vezes, evitar cirurgias. Em O11, para cada délar investide no programa, 4,38 de cobran¢a dos servicos élares foram economizados por cirurgias evitadas, empregados que deixaram de faltar por doenca e ganho de produtividade. Nos tltimos cinco anos, a GE economizou, em média, 8% por ano em gasto com satide na subsidisiria brasileira Nos Estados Unidos, grandes empregadores es ‘Go interferindo fortemente na légica de funciona- mento da saiide privada, Empresas como a vare- jista Walmart, a transportadora FedEx e a fabri- cante de avides Boeing pagam adicionais por de- sempenho para os hospitais que tém os melhores indicadores em cada tipo de cirurgia ou tratamen- to. O Walmart escolheu seis centros de referéncia pelo pais para cirurgias de colunae coragao, as mais, comuns entre seus mais de 2 milhdes de funcions: rios, e direciona os pacientes para lé. Os custos da viagem e do procedimento s cados pela empresa. A ideia é ir atrds dos hospitais de exceléncia para evitar erros médicos. Um estudo o inteiramente ban- OO Africa do Sul transformou ty estima que 210000 americanos morram por ano por cai médicos — seja na escolha do tratamento, seja na sua aplicagao, Outras centenas de milhares sobre- vvivem, mas ficam impedidos de voltar a trabalhar Empregadores esto aprendendo que eles preci sam ir além da simples conten: a promogao da said we o guru de gestio Michael Porter, professor da Universidade Harvard. “Um caminho ¢ premiar ‘com mais pacientes os hospitais de melhor desem- penha” Porter tem se dedicadio a0 estudo da refor: ma do sistema de satide americano, Uma de suas 10 de despesas e fo bandeiras é que os hospitais se especializem em tipos de procedimento, como cirur porque com isso vao ganhar escala e proficiencia, Um movimento nesse sentido est em curso nos Estados Unidos. Os hospitais esto ampliando a transparéncia e publicando dados de desempenho para que operadoras, empregadores eo piblico em eral saibam quem tem as taxas de mortalidade infeccio e reinternacio mais baixas. Essa é uma das exigéncias do Obama Cs aprovadono primeiro mandato do presidente ame- ricano, A maior transparéneia deve guiar os enor mes fluxos de pacientes no pais. O Brasil esta longe de fazer isso. O que faz um hospital brasileiro ser de referéncia? Apenas rep ade coluna, re, 0 pacote de leis, fe 2015 144 CAPA | taco, Nao & possivel saber qual é o hospital mais eficiente em cirurgia cardiaca no Brasil porque os daados nao sio publicos. Nos Estados Unidos, a ta- xa de sucesso de fertilizacio in vitro subiu de me~ nos de 10%, em 1997, quando as clinicas de repro~ ducio comecaram a publicar seus dados, para mais de 25%,em 2011. “Hoje, seeu precisar de um trans- plante de medula éssea nos Estados Unidos, sei {que &em Seattle que encontrarei os melhores cen- tros médicos especializados nesse procedimento” diz Patricia Medina, diretora médica da consulto~ ia Evidéncias, especializada em dados da satide. “Aqui nio, Precisariamos de um novo arcabougo legal, que deve envolver 0 Ministério da Sade ea Anvisa, para que medidas de qualidade sejam di vulgadas obrigatoriamente.” A Anvisa esti com duas das cinco vagas de sua diretoria em aberto. A ANS, que cuida dos planos de satide, est com uma presidente interina, que pode ter qualquer de suas ages contestadas na Justiga depois. S ineficiéncia do gasto comasaide suplementar no Brasil se deve também 20 fato de que aqui,como nos Estados Unidos, existe uma espécie de cultura do especialista Se o paciente tem uma dor de beca, geralmente ele procura direto um neurolo- sista, Por essa légica poderia também procurar um oftalmologista, um otorrinolaringologista ou até uum dentista, Cada um faz. uma série de exames visa esta com duas das dona abertura da Olimpiada'de Londres, esse mé- dico é conhecido como o “guardiio dos portées' porque é por meio dele que o paciente entra no sistema de saiide. Isso torna o sistema britanico tum dos mais eficientes do mundo. O gasto per ca: pita com satide é 3500 délares por ano no Reino Unido, enquanto nos Estados Unidos ultrapassa 9000. Nao & toa, os ingleses inspiram novos mo~ delos de operadoras privadas nos Estados Unidos, ‘com destaque para a californiana Kaiser Perma- nente (veja mais sobre a Kaiser na pag: 44). De olho em exemplos internacionais de eficién- cia no gasto com satide, operadoras brasileiras co- ‘mo Unimed, Bradesco Satide e Prevent Senior tém tateado novos modelos de atendimento nos con- sultérios. Em Vitoria, a Unimed local montou uma categoria de plano em que o paciente é atendido emclinicas proprias por um médico de familia que cuida de todos os aspectos de sua satide, da alimen: tagdo A utilizagao de remédios para doen« nicas. A inspiracio é 0 modelo inglés. *O médico nfo ganha por consulta, mas pelo nimero de vidas de que cuida”, diz, Paulo do Bem, superintendente da Unimed Vit6ria, responstivel por essa modali- dade. “E parte do pagamento ¢ varidvel. Quanto melhor a satide daquelas pessoas, mais o médico ganha.” Apds dois anos de programa, os resultados io animadores. A quantidade de exames por pa- } cinco diretorias vagas e a ANS i tem uma presidente interina { ha mais de cinco meses parainvestigar o problema, Uma frase muito repe tida entre médicos é que, “quando um pacient¢ tscolhe um especialista ele escolhe uma doenca” 4 peregrinagao entre médicos contribui para que | __parncada 1000 habitantes por ano, o dobro do que lB eito em paises como Reino Unido, Holanda e | Canada. O modelo nesses paises é majoritariamen | te pilblico, eo paciente procura um médico gene- ralista ou de familia para se consultar toda vez que sente que hi algo de errado. Esse médico acompa- nha os indieadores de saiide da populagio de uma regio a0 longo do tempo e encaminha as pessoas | a especialistas ou hospitais quando avalia que & necessério. No Reino Unido, onde o sistema nacio- ' nal de sate é tao tradicional que foi homenagea- 421 wnweramecom transformagoes forem inevitiveis.« 27 de mato de 2015, CAPA | UM EFICAZ i Como a operadora de saude americana Kaiser Permanente se tornou um exemplo | de frugalidade e eficiéncia num pais | com um dos sistemas de sade mais nchados, caros e perdularios do mund: SERGIO TEIXEIRA JR., DE SAN LEANDRO, CALIPSRNA UM GALPAO DE 3500 METROS em um computador, e um cubo metilico de mais QUADRADOS NA CIDADE dle San ou menos I metro e meio de altura comeca eandro, perto deSio Francisco, _ movimentar sozinho pelo corredor. “E um r Costa Oeste americana, Sean para transportar roupas de cama da lavanderia Chai aponta para umaestrutura para os quartos, tipo de tarefa que nao deveria devigas de madeira peladas, sem tomar o tempo dos enfermeiros”, diz. Chai, diretor par Gum — docentrode inovagses. Esse é 0 negécio da Kaiser determinarmos c im qusrto de hospital", diz Chai -O pessoal do cantospossveis do negdcio da sade, Em um pais com um dos sistemas de satide mais mas também temos de ouvir os médicos eos en- _inchados, caros e perdularios do mundo, a Kaise! | fermeiros que vio trabalhar aqui.” Estamos no évistacomo um exemplod alidade eeficién Centro de Inovagies Garfield, onde a Kaiser Per- manente, um dos planos de satide mais eficientes admirados dos Estados Unidos, faz testes e si aplicados mais tarde em sua red ospitais, Uma area reproduz a recepedo tipica de um hospital. A ideia trara disposigao étima do mobilirio. Chai mexe mulaedes que sera declinicas e bi cia sem par. A empresa, que nao tem fins lucrat vos, adota um modelo integrado. Toda a estrutura oferecida aos clientes é propria: hospitais, clinicas é mesmo farmacias. A ideia é que os leitos hos. pitalares e 0s carissimos equipamentos de exames nao sejam considerados adores de receita, 0 que € a norma quando se conta com o pagamento mais eficiente é a ope da Kaiser Permanente dos seguros de satide tradicionais, Pelo contrétio, quanto menos tempo o paciente fica internado, mais eficiente é a operacio da Kaiser. Os mais de 17000 médicos também so funcioniios assala- riados, 0 que reduz o incentivo i mareacio de consultas desnec mula 0 comparti Ihamento de informacdes entre os colegas. Quan. to mais bem-feito o acompanhamento preventivo —emoutras palavras, quanto maior o cuidado com ientes —, melhor. “Nao tenho di- acao Vidas de que o sistema de satide vai evoluir does- tado atual de ‘consertar’ (os pacientes) para um modelo futuro de sistema preocupado com a sat geral”, disse a EXAME Bernard Tyson, presi dente da Kaiser Permanente A empresa foi fundada em 1945 como uma ges- tora de hospitais hoje atende 96 milhoes d tes emoito estados,a grande maioria na California. As receitas do ano passado foram de 56,4 bilhdes de délares. Existem outras segurador no pais, mas nenhuma é tio admirada quanto a Kaiser. Uma das na de prontuarios eletronicos, investimento de 6 bilhdes de délares ealizado ao longo de uma década, Quando um paciente pede para mare lien: ‘ico pertinente: resul- nédicos, remé- e. A tecnologia permite que o acompanhamento seja mais fre naio de 2015 | 45 CAPA | sauce Entenda 0 modelo integrado da Kaiser Permanente A ideia ¢ fazer um ‘acompanhamento geral da saiide dos lientes. A medicina preventiva é um onto-chave para baixar os custos Tedos os médicos s80 funcionarios sganhar por consulta realizada, recebem saléro, Isso Incentiva a eficiéncia Informacéo compattihada {As informacées médicas dos clientes ficam guardadas num sistema eletrénico acessivel a todos os médicos, o que permite diagndsticos mais rapidos e precisos Rede propria er Os hospitas, 33]! >) clnieas elooertes pre actr elaboratiios noveseenelogias Stopeapries Niceio® |e mumemaraeicincla A KAISER PERMANENTE EM NUMEROS” Clientes. Hospitals | Consutérios | Méuicos. | Enfermeiros eclincas 9,6 25 cis GB 64 | 12% masencene 17% maisefciene ‘quando comparada ‘0s planas de sade 2008 204 | tradicionais 46 | wn wexamecom quente, mesmo sem a necessidade de presenca no consultério, “Os pacientes podem trocar e-mails e er teleconferéncias com seus médicos”, diz Jack Cochran, diretor da Kaiser responsivel pelos mé- dicos da empresa. “Os dados sugerem que os pa- cientes que usam o sistema de prontuarios el niicos acabam indo a menos consultase esto mais satisfeitos com o atendimento recebicdo.” Os mé- dicos da Kaiser realizam mais de 10 milhées de consultas a distancia por ano. A anilise dos dados gerados pelo sistema tem outro impacto ainda mais importante. A Kaiser es tima que a probabilidade de morte de'um paciente em um de seus hospitais seja 26% menor do que a média nacional americana informagoes € apontada como agrande responsével por isso, 0 banco de dados também permite a presa identificar uma epidemia de gripe duas se- ‘manas antes do que os Centros de Prevencio ¢ Controle de Doengas, drgzos do governo america: no que fazem esse tipo de acompanhamento. Mas nem todo tipo de inovacao esti na fronteira da tec nologia. Uma das solugdes desenvolvidas no centro de inovagdes da Kaiser é uma simples faixaamare- lo-fluorescente usada pelas enfermeiras. A faixa serve para indicar que elas estio separando e orga: niizando os remédios para os pacientes endo devem. ser interrompidas. “Um pequeno erro na entrega dos medicamentos pode ter consequéncias gravis- simas”, diz Sean Chai. “Com essa inovagao, que envolve zero tecnologia, reduzimos 82% dos erros.” Umestudo da empresa Aon Hewitt indica que a Kaiser Permanente ¢ 12% mais eficiente em termos de custos em comparacao com planos de satide «radicionais, Por mais impressionantes que sejam, 608 beneficios do modelo da empresa nao podem ser replicados com facilidade. Um dos obsticulos €osistema integrado — tanto do lado dos médicos quanto dos pacientes. Muitos né atuar de forma independente, por mais atraentes que sejam os salirios de uma empresa como a Kai- ser. Do outro lado do baledo, uma parcela impor: tante dos consumidores faz questiio de escolher os ‘médicos que quiser, um traco especialmente im- portante da cultura americana no que diz respeito & medicina. “Mesmo que custe mais earo, muita gente faz questio de ter o poder de escolha’, diz Lawrence Baker, professor da Universidade Sta ford especializado em politicas de saiide. Ag cchave para baixar ocusto da saide e gerar eficién: cia no sistema, porém, esta nas maos dos indivi- duos: dieta saudavel, exercicias fisicos, acompa- hamento preventive. “Todo mundo sabe que vai gastar menos caso se cuide melhor”, diz. Baker. Mas é um caso clissico de ‘falar € eacentralizacio das -os preferem re

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