Você está na página 1de 3

DICAS PRÁTICAS PARA O USO DE COMPRESSOR

Noventa por cento de uma mixagem consomem dez por cento do tempo. Você vai levar os
outros noventa por cento do tempo pra resolver os dez por cento finais.

>>>Comprimindo

De todos os aspectos envolvidos em gravação e mixagem, acredito que seja a compressão e o


uso dos compressores o que mais apresenta dificuldades para o pessoal iniciante. É o que
percebo nas mensagens de e-mail que constantemente recebo. Por isso acho interessante fugir
um pouco ao padrão deste guia e rever os aspectos teóricos e práticos do uso desses
importantes equipamentos.

Acho que o problema com os compressores já começa no nome: embora comprimir esteja cheio
de boa vontade, convenhamos que dá uma idéia negativa pra função. Tudo bem que redutor de
dinâmica também não ajuda muito, então vamos convivendo com o nome infeliz. Vejamos o caso
dos expansores, por exemplo, que são o inverso dos compressores. Qualquer cantor vai adorar
a idéia de ter sua voz expandida, mas experimente falar que vai comprimir e prepare-se para os
olhares enviesados.

O que o compressor faz é justamente reduzir a faixa dinâmica de um sinal de áudio. Portanto a
primeira pergunta deve ser se devemos ou não comprimir um determinado sinal. Por que é
necessário reduzir a dinâmica? Comprimir torna mais fácil estabelecer um volume mais
constante no equilíbrio.

Por que comprimir?

Existem dois motivos básicos para comprimir:


1. Para reduzir as variações de volume do track;
2. Para efeitos especiais.

Quando o sinal tem excesso de diferença entre seus momentos mais altos e mais baixos, fica
difícil fazer esse instrumento ficar presente na mix. Lembra do nosso arqui-inimigo, o
Mascaramento? Pois é, lá vem ele entrando em ação de novo. Quando o volume de um track
varia muito, ele é ora mascarado, ora não, fazendo com que fique entrando e saindo da mix.
Comprimir reduz a diferença entre pianíssimos e fortíssimos, tornando mais fácil pra gente
estabelecer um volume mais constante pra ele no equilíbrio.
É claro que, com as facilidades de automação de volumes disponíveis hoje em dia, alguém pode
argumentar que é possível substituir os compressores por uma boa e cuidadosa automação de
volume, mas isso só em parte é verdade. Teoricamente isto bastaria para manter a dinâmica do
canal, mas cada compressor ao lado de meramente controlar o volume imprime também suas
próprias características sonoras ao material gravado, adicionando um colorido único que acaba
se tornando um efeito por si só.

Pois é, se já não bastasse a gente ter que decidir quando comprimir e como ajustar os
parâmetros de compressão, agora ainda temos a chance de escolher que compressor (marca e
modelo) se adapta melhor ao som.

Mais à frente voltaremos ao qual. Por enquanto, se decidimos que vamos comprimir um canal,
vejamos como obter bons resultados.

Uma relembrada
Só para sacudir a poeira dos neurônios, vejamos rapidamente a função dos controles típicos de
um compressor.

Por princípio de funcionamento, um compressor é um equipamento que reduz o nível de um sinal


quando ele ultrapassa um determinado volume. Assim, precisamos antes de mais nada de:

Threshold - especifica que volume é esse a partir do qual o nível deve ser reduzido.

Ratio - diz de quanto deverá ser esta atenuação. É estabelecido na forma de uma proporção. Por
exemplo, quando um sinal entra no compressor e seu volume está acima do threshold, se
escolhemos uma ratio de 2:1, então para cada incremento de 2 dB no sinal que entra, na saída o
incremento será de apenas 1 dB.

Um caso mais prático: normalmente os compressores arranjam um meio de nos mostrar qual é a
redução de ganho em dB que estão realizando a cada instante. No caso acima, se o nosso
threshold foi colocado em 0 dB e chegou um sinal com intensidade de +6dB, na saída a
intensidade será +3dB e o medidor de redução de ganho mostrará -3dB, pois foi quanto volume
foi roubado do sinal. Se mudássemos a Ratio para 3:1, a saída cairia para 2dB e a redução de
ganho subiria para 4dB.

Attack - é o tempo que um compressor leva para reagir ao fato de o sinal ter ultrapassado o
ponto de Threshold. Ou seja, o quanto ele leva para de fato começar a comprimir. Com valores
de Attack muito lentos, por exemplo, a baquetada de uma caixa de bateria passará sem
compressão mesmo que seu volume ultrapasse o Threshold.

Release - o inverso, o tempo que o compressor leva para deixar de atuar uma vez que o sinal
caia abaixo do Threshold.

Muitos compressores nos fornecem a função auto, que ajusta para nós esses dois parâmetros
de acordo com a característica do sinal. O botão de Auto não deve ser discriminado, pois não
indica que você foi preguiçoso ou não quer ajustar Attack e release, mas sim um importante
aliado, pois normalmente oferece um comportamento natural ao compressor.

Casos Práticos
Vejamos algumas sugestões de compressão:

1) Contrabaixo: Juntamente com os vocais, são os instrumentos que mais se beneficiam da


compressão. Ela vai permitir um plano de graves mais estável na mixagem e diminuir a diferença
entre a intensidade das cordas graves e das agudas. Normalmente usam-se ratios na casa de
4:1, comprimindo por RMS e com redução de ganho na casa de 3 a 6 dB. Para evitar o pumping
(aumento de chiado entre notas longas), basta aumentar o tempo de release. Para slap bass os
tempos de Attack e Release deverão ser ajustados para deixar o compressor sensível às rápidas
variações do sinal.

2) Voz: É o instrumento com maior variação de dinâmica e, ao mesmo tempo, o que deve ficar
audível o tempo todo em uma mixagem. Por isso é comum comprimirmos na gravação e na
mixagem. Além disso é um dos poucos instrumentos em que a distância ao microfone varia
constantemente. Uma aplicação típica envolve ratios de 1,5 a 2:1, com o Threshold bem baixo.
Um ajuste típico é do tipo leveler, em que se usa o Threshold muito baixo e uma ratio bem leve
(1,5:1).
Se a compressão puxar ruídos de baixa freqüência, experimente filtrar o sinal antes da
compressão. Muitas vezes os compressores de resposta mais lenta como os valvulados acabam
aumentando a sibilância (pois esta recebe o aumento de ganho sem ser comprimida). Nestes
casos é conveniente aplicar um de-esser depois do compressor. O ruído de respiração
(breathing) pode ser controlado a partir do ajuste do release.

3) Bateria:
A caixa da bateria pode se beneficiar bastante da compressão, se bem usada. Ouça todas as
caixas das mixes do Tom Lord-Alge (tipicamente o Wallflowers, a Sarah MacLachlan, Avril
Lavigne e Blink 182), por exemplo, e veja o que um compressor pode fazer para ajudar.
Para a caixa (e também para os tons), a função básica do compressor será aumentar a
ressonância do tambor e as ghost notes em relação ao pico inicial da baquetada. Para isso deve-
se ajustar o tempo de Attack para valores mais altos e o Release deve ser suficientemente curto
para liberar o sinal antes da próxima nota.
No bumbo pode-se usar a mesma filosofia da caixa. Em muitos casos precisamos deixar o nível
do bumbo constante e para isso podemos usar um limitador. Variando o tempo de attack
podemos controlar a presença da maceta em relação à ressonância. Nos pratos, pode-se usar
um compressor estéreo para aumentar a duração da ressonância na mixagem.
Para instrumentos de percussão em geral, pode-se aplicar a mesma filosofia, usando o
compressor para puxar as ressonâncias e detalhes como os efeitos de mão nas congas. Mais
adiante iremos dedicar uma boa parte de nossa atenção ao uso dos limiters.

4) Instrumentos em Geral: Instrumentos de base - guitarras, pianos, violões, etc. - irão se


beneficiar de compressões leves e médias, pois manterão níveis mais constantes. Instrumentos
solistas podem receber valores maiores de compressão para garantir que se projetem na mix. O
cuidado básico será evitar o exagero para não comprometer a dinâmica da música.

Você também pode gostar