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Organizagao Keila Grinberg e Ricardo Salles O Brasil Imperial - Vol. | - 1808-1831 CIVILIZAGROBRASILEIRA Rio de Janeiro, 2009 COPYRIGHT © 2008, Keila Grinberg Ricard Sales (orgs) cara, Sergio Campante PROJETO GRAFICO DE MIOLO Evel Grumach e Joao de Sonas Leite CIRBRASIL. CATALOGACAO.NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ 83 O Beil ner volume 1808-1851 organzeso Kells Grinberg Ricardo Sales — Hi de Jano: Ciao Bras, 203, Inca biogas BBN 978-85-207.0863.8, 1 Basil ~ Hina =D Jota VI 408-1831, 2 Bras Mimiia tmpevio "Reina, 1822-1831} Basi= Hira Impeo, 18221989 [Grier Kea 1971 IL Sl, Kiar, 1980 cpp: 981.05, opsaie (CDU 9081) 1422/I889 Todos os direitos reservados. Proibida a reproducio, amazsnamento ou transmisto de partes deste livo, aravés de quaisquer mice, em previa Aaulorizagio por esr Est live fi revisado segundo o novo Acordo Ortogfico da Lingua Portuguesa Diretos desta edigio adquirdos pela EDITORA CIVILIZACAO BRASILEIRA Um selo da EDITORA JOSE OLYMPIO LTDA. 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Neves capitulo w © Primeiro Reinado em revisio 137 Gladys Sabina Ribeiro e Vantuil Pereira cavity Politica indigenista no Brasil imperial 175 Iuricia Melo Sampaio 54. 55. 56, 57. 58. $9. 60. 6 2. 63, 64, (© BRASIL IMPERIAL — VOLUME + Para as citagbes ver Carta ao sachristzo de Tabi, sobre a necesidade da reunizo de Cortes no Brasil, Rio de Janeiro, Imp. de Silva Porto & Cia. 1822, p. 2-3, € “Unio do Brasil com Portugal”, Correo Brazliense on Armazem Literdri, v.28, 1° 165, fverero de 1822, p. 165-172, respecivamente. Didrio das Cortes, sessio de 22 de maio de 1822, p. 246, 27 de unho de 1822, p. $90-591, Ditrio das Cortes, sessio de 25 de abil de 1822, p. 951-952. 0 Eepelho, Rio de Janeieo, 1? 88, 20 de setemibro de 1822 Arquivo Nacional, Independencia do Brasil aixa 740, pac 1, doc. 4, 22 de mar- go de 1822 Para a ctaio, ef Arquivo Nacional, Independencia do Brasil caixa 740, pac. ty doc. 4, 22 de marco de 1822. Para o intereste dos portugueses enraizados no posta de homens nascidos no pais e que teriam alcangado a idade legal:” E interessante notar que os parlamentares defensores das restrigdes dos direitos de cidadio 20 mesmo tempo em que ampliavam os limites de exclusao para os filhos de escravas, incorporavam também os princ pios existentes na Antiguidade, ao estabelecer a separagio entre livres e escravos. Isso contaminaria 0 cotidiano da populacio porque estabele- cia uma distancia entre a camada mestica e o poder piblico. As proposigées excludentes, contudo, incomodayam uma parcela de deputados influenciados pela forte presenica nas rues e nas galerias da populagio dita de cor. O deputado Nicolau de Campos Vergueiro afirmava: Diteitos Civis e Direitos Politicos sio expressGes sinénimas, que que- rem dizer Direito de Cidade; porém os Publicistas, para enriquecer a nomenclatura da ciéncia, thes tém dado significagio diversa, to: mando a primeira pelos direitos que nascem das relagbes de indivi- duo com individuo, e a segunda pelos direitos que nascem das, Telagbes do individuo com a sociedade.** (© PRIMEIRO REIKADO EM REVISAD Vergueiro passou.a estabelecer um critério mais amplo e includente. Segun- do ele, admitir-se-ia a igualdade diante da lei de todos os membros da so- ciedade, 0 direito de gozar de todos os direitos politicos “ainda que 0 goz0 efetivo dependa de alguma outra circunstdncia”, tais como arenda. Quem nio tivesse renda, nao poderia exercitar esse direito, mas proibi-lo a quem adquirisse essa condigio financeira parecia-Ihe uma grande injustica.” Ao ser yotada, a proposigao de ampliacao dos direitos de cidadao aos libertos foi rejeitada. Seu resultado fez aflorar a preocupagio que se ti- “nha com a escravaria, sobretudo com os bosais eos ladinos. O deputado Muniz Tavares conclamou seus pares a deixar o artigo como estavas lem- brou que, por ocasiio da Constituinte de 1791, alguns discursos célebres de oradores franiceses teriam produzido efeitos desastrosos na Ilha de Sto Domingos. Entretanto, demarcavam a posigio dos escravos como sujeitos a outrem, posigo também insistentemente externada pelo depu- tado José de Alencar: Segundo esse ‘iltimo parlamentar, os escravos, pot exemplo, ndo se incluiam nessa lista, pois eram propriedade de alguém, <0 que afetaria os interesses de Estado, que eram caleados na agricultura, ‘Alem disso, abrir-se-ia 0 foco da desordem, caso se concedesse direitos de cidadios a um bando de homens recém-saidos do cativeigo e que mal poderiam se guiar por princfpios da bem entendida liberdade. No mais, afirmava que para a boa politica do pats dever-se-ia cessar 0 trifico de esctavos e, como consequéncia, outargar-se dircito, facultando logo aos “Iibertos 0 foro de cidadao brasileiro. Podemos, entdo, constatar que a movimentagdo nas ruase nas galerias da Assembleia Constituinte jd indicava a preocupacao de varios setores com as decisdes tomadas pelos constituintes. Ao longo das votagdes, a con- corréncia na plateia foi aumentando, a ponto de as galerias serem pequenas para tamanha participaglo, Chegava-se ao momento de maior radicalizagao da Assembleia, gradativamente pautada pelo cotidiano, situagio que che- {g0U120 paroxismo na ocasio da representacao de David Pamplona Corte Real, portugués de nascimento que se julgava brasileiro e que reclamava de “bordoadas desferidas por dois militares de origem lusitana”, Dias mais tarde, ao proceder ao fechamento da Assembleia, d. Pedro aparentemente encerrava um capitulo do intenso conflio instalado no © BRASIL IMPERIAL — VOLUME 1 interior da Assembleia, e que certamente se confundia e misturava com (© que estava acontecendo rias riias. Futuramente, a Constituigo outor- ¢gada criou uma aparéncia de normalidade que subjugava a realidade, visto pela prépria resisténcia por parte dos pernambucanos* e pelas novas e constantes ages nas ruas do Rio de Janeiro. Em 1823 e 1824, o intendente de Policia da época, Estevao Ribeiro de Resende, preocupou-se em perscrutar as ruas e as vielas atrés de par péis e proclamagées “incendidrias” e de perigosos ajuntamentos de “ne~ gros”. 1824 procurarami coibir esses panfletos “insidiosos” e punir com rigor desordens ¢ ajuntamentos.** Em 3 de janeiro do ano seguinte, um edital tentava sanar a intranquilidade piiblica mediante 1 itens que visavam controlar a populagéo.* Em julho, reafirmou-se com mais veeméncia a nao concessao de licencas para tavernas, lojas e botequins que continuas- sem abertos ao ptiblico em horas indevidas, mesmo se vendessem secos ¢ molhados.* Nesse mesmo més, Clemente Ferreira Franca, secretario de Estado dos Negécios do Império, envioti ao corregedor do Civil ordem. para que as tipografias mandassem todo 0 material que imprimissem para seu exame.® Tentava pOr limites 8 liberdade de imprensa. No final do ano, em portaria de 5 de novembro de 1825, para concretizar ainda mais as medidas de reptessio, estabeleceu comissirios de policia nos distritos da provincia do Rio de Janeiro. Mediante estreita vigilancia, controlava-se a populagao, e a onda de revoltas ia sendo contida até comegar a crescer novamente, no ano seguinte, Dessa forma, a segunda onda politica foi marcada pela volta paula na das contestag6es de rua e pelo continuo e crescente conflito politico entre a Camara dos Deputados e o imperador d. Pedro I. Lembremos 4 que o crescimento dos movimentos de rua quase se fundem com a din’ mica do parlamento. Em 1826, a Assembleia Geral foi reaberta. Os parlamentares posi- cionavam-se com cautela. Temiam desfecho igual ao da Assembleia Cons tituinte de 1823. Nos primeiros meses de funcionamento, pregavam a harmonia eo entendimento. As tarefas a cumprit nao eram pequenas. O Um Decreto de 26 de fevereiro uma portaria de 8 de marco de_ © PRINEIRO REINADO EM REVISAO Senado, em levantamento preliminar, constatou a necessidade de regu- lamentacao de mais de 30 artigos da Constituigao. Coube & Camara dos Deputados a iniciativa na confecgao de projetos. Dois projetos de envergadura foram apresentados: 0 de responsabilida- de dos ministros e 0 que versava sobre os abusos da imprensa. O primes ro propunha-se a resguardar 0 cidadao dos abusos das autoridades politicas ¢ garantia-Ihe o direito de dentincia. Caso se constatasse o abu- so, haveria a instauragao de um provesso de responsabilidade. O segundo, proposto por Gongalves Ledo, tinha como objetivo regulamentat 0s cti= mes de abuso da liberdade de imprensa. Os projetos ocuparam a pauta da Cimara por pelo menos um ano e meio. Depois seguiram para o Senado, que, por questées politicas, 0 con- _gelou até 1828, quando a Camara dos Deputados pressionou os senado- es a encaminhar as matérias, Qutra discussio acalorada foi a que estabeleceu os juizes de paz. Havia entre os deputados 0 entenditienio dé que a administragio municipal precisava passar por reformas. Segundo pensavam, as cimaras munici pais deviam adequar-se aos preceitos da Constituigdo. No entanto, deci- diram desmembrar a discussio quando chegaram a conclusio de que 0 principio das reformas deveria ser o debate do projeto sobre os juizes de paz.® Essa discussdo incidia profundamente sobre a rotina das localidades, pois significava o rebaixamento e a extingao dos corpos de ordenancas. Com fungies policiais, os juizes atuavam sobre o sistema repressivo do “Estado: tinham a tarefa de supervisionar contratos de trabalhos ¢ eram encarregados do recrutamento militar. Além disso, 0 juiz de paz tinha poderes para, entre outrasatribuigdes, mandar prender, ordenar diligén- ciase comandar mandados de busca e apreensio em quaisquer residéncias, -incidindo seus atos diretamente sobre o cotidiano da populacio e sobre os direitos individuais dos cidadaos. Dois fatos novos foram colocados nessa discusséo. O primeiro dizi respeito 3 ilusto dos jufzes pelas localidades. Devido & concentragio de poderes, que outrora estivera nas maos das cémaras municipais ¢ dos ca- “Pities de ordenangas, a matéria despertou atengao para a readequagao nos poderes locais. Do mesmo modo, com papel ativo nas contendas © BRASIL IMPERIAL — VOLUME 1 locais, 0 iz de paz tornava-se uma espécie de conciliador politico; acima de tudo, um magistrado com fungdes que o podiam algar As esferas mais clevadas do poder. Sobre esse aspecto, o depurado Calmon comentavaz Nao se entenda, Sr. Presidente, que um juiz de paz é em razio de ‘seu Homie, tim magistrado exclusivamente dedicado a peegar a paz € a harmonia entre as familias, como talvee algaém presuma, ou como talvez.o entendeu alguém na Assembleia Constituinte de Franga, onde o juiz de paz foi enfaticamente denominado—o altar da concérdia —e comparado ao bom pai entre seus filhos, a cuja Vor desapareceriam injusticas, queixase diversées entre os cidaddos: tum juiz de paz, Sr. Presidente, € um magistrado na extensio da palava e serve para muito mais do que conciliador.* A consequéncia direta era os poderes locais ficarem menos sujeitos aos designios do poder central, sobrando para este apenas a indicagao dos juizes de direitos, que teriam atuagao mais voltada para as questoes de justica propriamente dita, Dessa maneita, 0 projeto apontaya para a abo- ligio das instituig6es juridicas do Antigo Regime e para o reordenamento do sistema judicidrio. Sob esse enfoque, representava uma visio liberal e inovadora, 4 medida que propunha um sistema duplo nas localidades, com jufzes de paz e de direito ocupando papéis determinantes no siste- ma, A reforma da Justiga foi, entio, ganhando contornos mais nitidos até desembocar nos Cédigos Criminal (1830) ¢ Penal (1832). Com relagio as municipalidaces, o segundo ponto fundamental foi a regulamentagio das cimaras municipais; a tarefa coube ao Senado, que Passou a discutir a matéria em 1827, Havia 0 entendimento de que ca- beria ds cémaras as matérias ligadas 8 economia e as jurisdigdes especificas do ordenamento local. Os demais ivens, até ento atribuidos as localida- des, passariam aos cuidados da Assembleia Geral. Até entdo, as cAmaras ham tendo papel central no jogo politico. Foi por seu intermédio que se celebrou 6 novo pacto sobre o qual se fundou o Primeiro Reinado, com d, Pedro imperador. Também Ihes coube cozroborar a promulgacao dda Constituigéo de 1824. Desse modo, as localidades receberam duro (© PRIMEIRO REINADO EM REVISAO -olpe e passaram a ocupar papel terciério no sistema politico: a legisla- ‘fo sobre as cémaras municipais auxiliou o desmonte da importincia de d, Pedro e do Executivo, A Camara perdeu sua fungao politica e passou ter papel administrativo, Ficou proibida de destituir aucoridades ou de nomeé-las sem © aval do governo provincial. No futuro, os presidentes “Provinciais passaram a contar com conselhos consultivos, também eleitos. Ao longo das discusses e dos debates rotineiros da Camara dos De~ putados, paulatinamente um grupo passou a rivalizar com o imperador ea desencadear dura oposigio a0 Senado (que se constituiu em uma es pécie de anteparo para o monarca) ¢ a0 Ministério. Com frequéncia, ori- ginavam-se crises dentro do governo, que nio conseguia criar fatos que as deslocassem para fora de suas raias ou as neutralizassem. O primeito problema politico internacional de vulto que os minis- ttos enfrentaram foi a Guerra da Cisplatina. Logo apés a assinatura do - Tratado de Paz ¢ Amizade com Portugal, em 29 de agosto de 1825, 0 Brasil meteu-se em um conflito com as Repiblicas Unidas do Rio da Pra- ta pelo controle da regio da Cisplatina com 0 objetivo claro de firmar ‘sua soberani hagio, Aparentemente o conilito apontava para uma delle Fapida solugao bélica. O Brasil, porém, subestimou a capacidade dos portenhos, ¢ 0 conflito arrastou-se por mais de trés anos, o que trouxe grande desgaste para 0 governo.*! Diante dos impasses ¢ das sucessivas derrotas ¢ reveses do exército imperial, o governo foi obrigado a assinar tum tratado com Buenos Aires e admitir a criago de um novo pats na regio, o Uruguai. Tal como ocorreu com o tratado de reconhecimento de nossa emancipagio politica, foi grande a participacio politica da In- slaterra nesse acontecimento. A partir de 1827, os resultados da guerra comecaram a trazer sérios problemas para as finangas, para a economia do império para a vida “dos cidadios. Na discussio do orgamento desse ano, anunciou-se um rombo, cuja solugao seria a cobranga de impostos ou novos pedidos de ‘empréstimo. A primeira hipétese foi rejeitada pelos deputados de Minas Gerais, Ceara, Bahia, Par ¢ Maranhao. A segunda foi apoiada apenas como meio paliativo, pois se temia o atrelamento cada vez maior do im- pério com a praga de Londres. A guerra, contudo passou também a re- © BRASIL IMPERIAL — VOLUME 1 percutir na “liberdade, sangue ¢ vida” dos cidadios comuns, que frequen- temente se viam na iminéncia do recrutamento para a frente de combate. Em pelo menos duas ocasiées assistiu-se 4 mortandade de soldados cearenses, 0 que produziu consternagdes na Camara dos Deputados ¢ nas localidades.*? Os deputados da oposigao usavam 0 orgamento como meio de bar ganha e como forma de influenciar os ramos da guerra, uma vez que nao se podiam posicionar declaradamente contra o conilito, sob risco de se ver em desajuste com o inicio do nascente sentiment nacional, ‘Temiam também incentivar resisténcias aos recrutamentos e as idas de individuos para a drea conflagrada. Agiam, portanto, procurando limi. tar 0 ntimero de soldados e impondo limites para a aquisicao de navios, ‘© que indiretamente representava interferéncia nas reais possibilidades. de o pais obter sucesso no combate. Faziam erfticas com base no desempenho dos homens situados no cendtio da guerra, mas no isentavam de erros os comandantes estacio- nados na corte. Segundo o deputade Custédio Dias, declarado republi cano, nio faltava dinheiro ao governo, porque a Camara dos Deputados. em momento algum se recusara a cumprir seu papel. No entanto, a mi administragao e os desastres na conduso da guerra levaram o pafs& ruina © a0 desastre. - Na discussio do primeiro orgamento do império, os gastos da guetta ocuparam posigio central na dura disputa entre o imperador, a Camara dos Deputados e 0 Senado. A polémica situava-se no desejo da Camara dos Deputados de reunir a Assembleia Geral (Camara dos Deputados mais Senado) para a votagao de matérias que estavam emperradas pelo veto do Senado — as mais importantes eram a Lei de Responsabilidade dos Ministros e Conselheiros de Estado ¢ a Lei dos Abusos da Imprensa, O segundo problema a ser resolvido pelo governo foi a repercussio. _ negativa do Tratado de Paz e Amizade, assi io por Brasil e Portugal _-Para o reconhecimento da Independéncia, eo tratadode Cessagio do tré " fico de escravos, acordado entre Brasil ¢ Inglaterra, em 1826. - (0 Tratado de Paz e Amizade foi criticado por nao ter sido discutida pelos parlamentares porque coincidiu com as dificuldades de o Tesouro (© PRIMEIRO REINADO EM REVISAO honrar seus compromissos: um rombo nas contas piblicas havia sido “anunciado fecentemiente. Surgiram desse episédio as primeiras insinua- §6es de que a liberdade do Brasil teria sido comprada. Soma-se a isso a insisténcia do governo em buscar o reconhecimento da independéncia brasileira nas cortes estrangeiras.® A disseminagao de legagées por toda a Europa foi outro motivo de acirradas criticas, ora porque em alguns pafses foram contratados representantes estrangeiros, ora por julgarem 0s parlamentares que tais representacdes eram desnecessirias. A disc io sobre as embaixadas no exterior € igualmente reveladora de posi- ‘es distintas no Parlamento e dos diferentes apoios ou oposigdes quee d Pedro encontrava, Quanto ao tratado de cessagio do tréfico de esctavos, o governo re- cebeu severas reprimendas. Para alguns parlamentares, o Executive ha- _tia logrado os interesses da nagdo ao colocar em risco toda a economia do império. Nesse ponto, era aventada a incapacidade de 0 governo co- locar-se de pé ou falar no mesmo tom coma Inglaterra, o que teria forgado esse acordo € 0 anterior, 0 da Independencia, Na votacao do parecer da comissio de diplomacia ¢ estatistica, o deputado e membro da comissio Cunha Mattos assim se referiu: A Convengiio celebrada entre 0 Governo do Brasil eo britanico para a final aboligao do comércio da escravatura, ou ela seja considera da desde, a sua primordial proposigao feita por Sir Charles Stuart, ou pelo Hon, Robert Gordon, € derrogatéria da honra, interesse, dignidade, independéncia e soberania da nagio brasileira Baseava seus argumentos em alguns pontos cardeais. O tratado, segun- #0 opinio do deputado, atacava a Constituigio do impétio, a medida _que 0 governo arrogava-se o direito de legisla, “direito que s6 pode ser ‘exercitado pela Assembleia geral coma sangao do Imperador”, O gover- no cedia aos ingleses 0 direito de sujeigdo dos brasileiros aos tribunais ¢ _listigas ingleses, que segundo o tribuno eram incompetentes para tal. Um “segundo ponto nevrélgico, e que pode explicar o descontentamento maior dos grandes proprietétios com relacio ao Poder Executivo, dizia respeito © BRASIL mMFERIAL — VOLUME 1 (© PRIMEIRO REINADO EN REVISAO na agricultura, comércio e fabricas. Também desejava povoar de gente E Sbranca” e “livre” um império “onde (sic) o ntimero de escravos esti em proporgao dobrada”.® O Batalhio de Estrangeiros em si ja gozava de mi fama: a antipatia devia-se, entre outras coisas, ase atribuirem regalias “aos alemées, stiditos da primeira imperatriz, Velhas tixas igualmente se |

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