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ENTREVISTA COM MICHAEL PARSONS JORO PEDRO ROIS JOAO PEDRO FROIS: seu Departamentona Uni- versidade do Ohio, com 0 ‘do Getty Education Institute for the Arts, desenvolve, desde hi alguns anos, 0 modelo Education - DBAE». Em {que medida € que 0 vosso trabalho € diferente das accdes, neste Ambito, desenvolv Universidades dos BUA, por exemplo, no North ‘Texas Institute for Educa- Universidade do North particularidades do Partnership forthe Visual Arts? MICHAEL PARSONS: A ‘Ohio Partnership forthe Visual Ans" temtido o apoio dio “Getty Intute for Ea cation inthe Ans" desde ha tuitos anos. Tem desenvol- vido 0 modelo DBAE em escolas do Ohio, ue & um, Estado dereconhecda ep tagdo no ambito da Arte- Edocagto. uma acgio de partenariado dirigida pelo Departamento de Ane-Edu- cagio da Universidade do Ohio, que inclu diversas escoasdistitais e museus, assim como outs institu hes atstias, Quem é Michael Parsons Michael Parsons é, com Brent Wilson Eliot Eisner, Arthur Efland, uma das personalidades mais importantes da Arte-Educacdo nos Estados Unidos. Nasceu em Inglaterra. Doutorou-se em Filosofia e Educacéo no Universidade do Ilnois. A sua actividede académica centra-se no ensino da Filosofia da Educacdo e da Psicologia da Arte. Lecciona, desde 1987, no Departamento de Arte Educacio do Universidade do Ohio. E editor da revista da National Art Education Association “Studies in Art Education”. 0 professor Michael Parsons é conhecido pelos estudos sobre a Educacdo Estética e Artistica na rea das artes visuois, Publicou, em 1987, «How we Understand Art: a Cognitive Development Account of Aesthetic Judgment» e, em 1993, com Gene Bloker, «Aesthetics and Education». Recentemente, esteve ‘em Lisboa onde partcipou na Conferéncia Educacio Estética e Artistica-Abordagens Transdisciplinares, organizada pelo Servico de Educagio da Fundacdo Calouste Gulbenkian. subsidio da Annenberg Challenge e 0 apoio do Getty Institute, Comegéimos ‘a tabalhar de uma maneira mais sistematizada e com lum menor niimero de esco- las no Ohio: mais com a intengio de influenciar 0 ceuricuto escolar do que de ‘mudar a maneira como se ensinam as Artes, Temos adoptado uma tendéncia que procura evoluir da mudanga, do ensino das Artes para a reforma de toda a escola, no obstante seguirmos ambas as vias. em que a seguncla & sempre uma con io da primeira, mais de doze anos tém colaborado de um modo fle- Xivel nestes projectos seis sgionais nos Esta- dos Unidos, adoptando -métodos de acgo semelhan- tes e estabelecendo entre si uma boa comunicagio, Todos eles tém 0 apoio da ‘Getty Institute" e contam actualmente com os subsf- dios concedidos pela ‘Annenberg Challenge". A ‘Ohio Partnership" ¢ 0 "Noth Texas lastiute" tém liderado este grupo, embora tenha havido também outros, Ccontributos importantes. Os seus programas so basica- mente semelhantes e de “objectivos idénticos. Ambos, promovem o modelo DBAE, “Temos trahalhadio em estreta colaborago com muitas escolas, dirigindo Cursos de Verdo para professores, desenvolvendo materiais curriculares, estudando maneiras de avaliara aprendizagem artstica dos alunos, nomeadamente através do uso de novas teenologias. Recentemente, entrimos numa nova fase, com um. ce ambos pretendem que os Museus de Arte taballem. em coluboraglo com as escolas para melhorar a Arte- Biucagdo. Toxtavia, o "North Texas Institute” tem pro- ccurado estabelecer uma colaboragdo mais estreta com. ‘os Museus de Arte e com os seus Servigos Educativos, enquanto a "Ohio Partnership” tem trabalhado mais | com as escolas com 0s seus pro: fessores. A “Ohio Partnership" tem também seguido uma tendéncia mais "pés-moder ‘na com respeito as Aes e & interpre- tagio artistica”, 0 que se deve, em parte, a um efeito geogritico e dos recursos locais Na actual fase, a ‘Ohio Partnership” eolabora com determinadas esco- Taso sentido de desenvolver a maneira como as Artes so ensinadas,ineluindo a promogio do ensino da His {ria da Arte e da Critica da Arce. Procuramos ensinar ‘estas matérias em moldes de «indagagdon, em que as ‘eiangas fazem perguntas e procuram elaborat as res- postas tl como os historiadores e os erticos de Arte 0 fariam. Procuramos também estabelecer a ligagio do estudo das obras de arte, assim como as discussbes dai resultantes, com mundo real dos alunos, com as ‘comunidades onde vivem e com os meios que os influ- tenciam, As obras de arte seleccionadas para estudo baseiam-se em ten Na actual fase, um segundo objectivo importante con- siste em integraro ensino das Artes na globalidade do ccurriculo escolar e em mudar, a partir dat, a escola no seu conjunto, Trata-se, com efeito, de um esforgo diff cil que tem exigido uma maior concentrago num ‘menor nero de escolas.e num maior niimero de pro- fessores dentro de cada escola. Onganizamos Cursos para todos os professores de uma escola, relacionados ‘com as Artes ¢ temas de toxo 0 curriculo escolar, emt ver. de dirigidos somente a professores interessados (essencialmente professores de Arte) em todo um dis trto escolar, basicamente sobre as Artes, como era nossa pita A énfase colocada na integragio das Artes a0 longo de todo um curriculo é porventura a caracter 15 que So do seu interesse, volvemos curriculos que envolvem as Artes num. «estudo holistico de amplos temas em toda a escola, Por ‘exemplo, as escolas optaram por estudar a comunidade ‘onde se inserem, integrando nesse estudo os seus Valo~ res, Economia, Histriae legado antistico, produzindo diversos trabalhos plisticos representativos dessas temiticas, De modo semelhante, outras escolas dedi- ccaram-se ao estudo de «herds» em todo © mundo, a0 ‘modo como foram representados nas Artes Visuais ena Literatura e & maneira como reflectem as sociedades ¢ sua relagio com os meios de comunicagio social ‘Outras escolas optaram pelo estudo do ambiente natu ral suas mutagSes eds Factores que contribuem para. ‘essa muda, Em todos estes casos, verifica-se um csforgo para estabelecer a ligago entre importantes {questdes relacionadas com o "mundo dos estudantes € 0 modo como estas questies se reflectem nas Arts. Quais as influéncias do DBAE no Sistema Educa ‘nos BUA principalmente nas escolas onde tem sido praticado? (O modelo DBAE tem tido uma notavel influéncia em. grande parte dos Estados Unidos. Tem feito evoluir o ensino das Artes de uma forma de auto-expressio, 20 fazer arte, para uma forma de estudaras obras de arte, dde aprender Historia da Arte Critica de Arte e Filoso- fia da Ane. Tem influenciado a Associago Nacional de Arte-Educagio e a maior parte das directizes Cur riculares Estatais Federais. Tem contribuido para ‘aumentar o respeito de muitos educadores pelo canic: ter intelectual dos estudlos sobre Act, embora as Artes em sino estejam ainda manifestamente reconhecidas ‘como disciplinas curricular Iisicas que todas as cri- ‘ancas deveriam aprender © que é que pensa sobre os estudos desenvolvidos pelos investigadores associados ao Projecto Zero da "Graduate School of Education" da Universi dade de Harvard, nomeadamente do Arts Propel? Considero que 0 "Ans Propel” do Projecto Zero tem sido muito til por chamar a atenco para a importan- cia daavaliagio no ensino das Artes e sua equiparagio. ‘com o que se passa na avaliagio noutros dominios do actual euriculo, Nao considero que aabordagem espe- ciica que utiliza para esta questio seja a melhor. Além do DBAE que tipo de projectos esto a ser desenvolvidos no Departamento de Arte-Educagio dia Universidade do Ohio? © meu deparumento 6 consierado como mais abran- mec somo 0 maior Department de Tnvestgag0 de wala qualidade nos Estidos Unidos. E espcial- mente econhecid pela Enfasecolocadana Arte Co- temporanea, na tori pos-moders, no ensino do modelo DBAE, nos métodoscopnitivos de aprendiza gem, na metodologia de investigagdo, no uso das Novas Tecnologia eno esto das Polticas Eaicat ‘vas sobre Arte, Somos também conhecids plo inte resse que dedcamos ao desenvolvimento internacio- nal em Arte-Educagio e recebemos visitantes de faculdaes ¢ alunos universiirios de muitos paises Dispomos actulmente de uma diversdade de progra- mas de invesigaslo sobre este pénero de questcs Que tipo de «ligagio» mantém com as escolas € «quais sio o(s) modelo(s) de formagio de professo- res utilizados? Trabalhamos em estreita colaborago com uma série de escola prtcularese com todo 0 seu corpo docente (actual Projecto Getty). Preparamos Cursos para gru- pose professors ce At. Trabalhamos como Depar- tamento de Estado e com a Associagao Nacional de ‘Aree-Educagao em matéria de politicas a adoptar. “Temos muitos professores nos nossos programas de ‘Mestrado ¢ de Doutoramento vindos de todo o pais (e de todo 0 mundo) ¢ ainda um programa de formagio pra professores de Arte que estio no inicio da sua car- reira docente, ‘Temos procurad substituir os métodos que implicam (Cursos de Verio destinados a professores, om fase de formago, por um sistema de visitas ao longo do ano feitas a escolas e por cursos mais pequenos ¢ mais fre quentes de um a dois dias de duragdo, Estes cursos teméticns tam dedicado maior énfase aos curriculos © problemas especificos das escolas. A ajuda dada aos professores tem sido mais sustentada, o que tem pro- vado ser mais eficaz na promogio de uma mudanga ccontinuada, Como consequencia negativa, temos de admitir que temos menor capacidade para influenciar um nimero alargado de pessoas com os mesmos recur $0 fnaneeitos. ‘Como é que as artes tém sido integradas no curri- ‘eulo das escolas com que trabalha’? A integragdo das Artes no curricula das escolas €ares- posta pergunta I. Pessoalmente, tenho-me envolvido ros curriculos que se dedicam a0 estudo de «hess» e do ambiente natural e sua ligagdo ao estudo das Artes. ‘Qual a maior dificuldade para os investigadores do ‘seu Departamento quando trabalham com asescolas? A principais dificuldades com as escolas diem res- peito a questies relacionadas com 0 tempo que os pro fescoresdedicam ao planeamentoe ao desenvolvimento profissional, comas exigéncias dos politicos para que as escolas concentrem 05 seus curriculos nas Ciencias, Matematica e Linguas, com a falta de recursos para as novas tecnologia e,relativamente aos professores, um. dos principas problemas tem consistdo na adopt de formas altemativas de avaliagdo dos alunos, Desde a altura em que publicou How We Unders- tand Art (1987), que dados novos encontrou para ‘este campo? Acha que, desde a publicacio do seu ‘estudo, ocorreram mudangas signiffeativas quanto waliagio nesta dea? Lembro que em Lisboa vemos a oportunidade de ouvir um relato porme- norizado sobre 0s estudas de Abigail Housen. Desde que publiquei o meu livro sobre o "estos" da ‘compreenso da Arte, continuo a pensar que o livro se ‘concentra na questo mais importante para a Arte- Educae0, ou seja, na ajuda dada aos alunos para terem ‘uma melhor compreensio das obras de arte. Consi dero que estes objectivos da Arte-Educagio tm len- tamente evoluido nessa ditecgio, Nao $6 0 modelo DBAE tem tido uma maior aceitagio, mas, mais, importante ainda, dentro do préprio movimento do DBAE, as nogtes de percepcio artistica sensivel tém. Jentamente mudado no sentido de uma nogio da com- preenslo artistca. A Critica da Arte tem-se transfor- ‘mado mais numa questo de interpretagio ¢ os con- fextos tém-se tornado mais importantes na discussiio das obras de arte, de modo que 0s objectivos esto mais em conformidade com 0 tor do meu liv. Simultancamente na Psicologia da Arte, o modelo de Rudolf Amineim, pela pouca relevancia dada &relagio Pensamento visual/lingwagem, perdew o seu dominio, tomando assim possivel a compreensfio da Arte de forma mais integrada, Na década, passada no houve livros decisivos sobre este tpico, nl obstante haver ‘muitos estudos neste contexto, Um estudo que gostaria de referir€ 0 cle Norman Freeman, em Inglaterra, ( pensamento "vygotskiano”, que enfatiza a importa cia da influéncia educativa e cultural no desenvolvi- ‘mento infantil tem tido uma importante influéncia na Psicologia, Tenho-me sentido seduzido por esta ten- déncia e considero-a extremamente concilisvel com ‘muito do meu livro original, Levou a interessar-me ‘mais pelas influgncias que a Cultura ¢ os adultos tm, ‘no pensamento das criangas e menos na ideia de "est dios", Considero que a nogio de sequéncia é ainda essencial no estuda do desenvolvimento, mas a de "estidio" & menos importante. A nogo de "estidio” implica, embora ndo exija, que © desenvolvimento ‘ocorra ao mesmo tempo sobre os diferentes conceitos das anes, Considero que actualmente o desenvoh ‘mento pode ocorrer em conexao com uma ideia de cada veze com um género de obra de arte de cada vez, no influenciando directamente o desenvolvimento de ‘outas ideias, Por exemplo, eu considero que a ideia de expresso da emogao é crucial em determinado tipo de arfe e nio noutro. Existem, consequentemente, mais _metas possiveis desejiveis de desenvolvimento do que aquelas que o meu ivro prope. O desenvolvimento da compreensio nfo conduz apenas a uma tinica direceo. Esta ideia foi razio da comunicacdo que eu fiz na Conferéneia da Fundac0 Gulbenkian sobre © papel das “eaixas de fetramentas" no desenvolvimento, Achei a comunivagio de Abigail Housen interessante Ela é uma boa investigadora, com um interesse sus- tentado em investigagdes a Tonge prazo e que revela um trabalho sério ao procurar classificar niveis de pe ssamento nas Artes. Tenho admiraglo pelo seu traba- Tho. Gostaria queela publicasse 0s seus resultados com mais frequéneia, porque ndo so muito avessfveis. Foi para mim um prazer falar com ela, A sua metodotogia 6 ciferente da minha, mas os resultados a que ela chews ‘io muito consistentes com os meus. Esta consistén- cia tem sido referida por virios comentadores e édigna de se notar, porque 0 seu trabalho e o meu priprio Sio (programas mais sustentados conduzidos nesta drea até hoje. Nao estou certo se ela foi fortemente infu eenciada pelo pensamento de Vygotsky. embora consi- dere 0 seu trabalho extremamente conciliével com 0 meu proprio pensamento, Considera que as pesquisas que tém vindo a ser desenvolvidas tiveram implieacdes na alteracio de ‘comportamentos nas actividades educativas, por ‘exemplo, nos Museus de Arte? E nas Escolas? ‘Considero que tanto os dados de Abigail Housen como ‘0s meus prdpris, incluindo o meu recente trabalho ‘com as escolas no Ohio, sugerem que os museus pre- cisam de estabelecer relagdes e programas por prazos mais longos com as escolas, se querem ter uma influ- {ncia mais decisiva no pensamento das criangas sobre as Amtes ea Arte-Edueapdo, As curas visitas a museus so tteis e podem servit para transmitir determinados cconhecimentos, mas raramente influenciam o desen- Volvimento ou a maneira como as eriangas pensam sobre as Artes, Podem ter um maior efeito quando se inserem no contexto de programas de prazos mais {extensos que so organizados em sintonia com os pro Fessores e com as escolas. Actualmente, quais so para si os paradigma(s) ‘dominante(s) do pensamento nas Artes? Considero que, relativamente & questo de pensar nas Antes, 0 velho paradigma perdeu a sua influéncia. Existe um conjunto de métodos alternatives possiveis, ‘embora no haja uma tnica altemativa nesta matéria ‘que seja amplamente aceite. O paradigma mais antigo 0 de Rudolf Amheim, Nelson Goodman ¢ do Pro- Jecto Zero, que entenderam 0 pensamento das Artes ‘como essencialmente restrito ao visual, 2.compreensio {do visual” de uma forma bastante simples. Mudancas mais recentes no mundo artisticn e na Psicologia tém

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